GEONOVAS_V34_N1-2

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Editorial

Finalmente! É verdade, apesar de há muito estar praticamente pronto, por vicissitudes de vária ordem, só agora foi possível trazer ao prelo este número 34 da GEONOVAS.

Antes de mais quero expressar o meu agradecimento ao nosso editor, Telmo Santos, que, de forma muito profissional e extremamente zelosa, conduziu com enorme sucesso a GEONOVAS desde o número 29. Para que conste, aqui deixo o testemunho que este atraso na impressão não lhe pode de forma alguma ser-lhe imputado, antes pelo contrário. Telmo, muito obrigado pelo empenho e pelo legado! Infelizmente para nós, não poderemos continuar com a sua colaboração pois decidiu abraçar outros projectos para os quais lhe desejo boa sorte e onde, com certeza, será bem-sucedido.

Os meus sinceros agradecimentos, e o devido pedido de desculpas, aos autores que generosamente colocaram nas nossas mãos o seu trabalho. Bem-hajam e que este atraso não vos impeça de continuarem a colaborar connosco, os vossos contributos serão sempre bem-vindos e esperados.

Impõe-se ainda uma explicação e esclarecimento aos nossos estimados sócios. Efetivamente, com a saída do Telmo e depois de alguns convites pessoais sem resposta positiva, decidimos lançar um apelo público à comunidade geológica para que nos enviassem manifestações de interesse para editor-chefe, com apresentação de uma proposta e de um plano de ação/atividades a desenvolver a curto-médio prazo, que obviamente seria posto em prática em coordenação com a comissão diretiva. Infelizmente, mais uma vez e apesar de algumas manifestações de interesse e até selecção de uma candidatura, infelizmente, acabámos onde começámos… Assim, informo que continuamos recetivos a propostas de colegas que queiram desenvolver e elevar a GEONOVAS para outro patamar que, sem dúvida, merece. Não se trata de a transformar numa revista indexada a qualquer base de dados, não cremos que seja essa a sua função, mas sim, que se constitua como uma extensão e um repositório complementar às restantes atividades e iniciativas que a Associação Portuguesa de Geólogos desenvolve ao longo do ano e onde, ativamente envolve centenas de colegas em todo território nacional e além-fronteiras. Entretanto, e como muitas vezes aconteceu no passado, a comissão diretiva assumirá as tarefas editoriais.

Assim, mais uma vez, aqui deixo o apelo a todos para submeterem trabalhos e colaborarem connosco. Podem ser artigos, notas técnicas, artigos de opinião e/ou comentários sobre um episódio, imagem, mensagem, enfim, qualquer situação que tenham vivenciado e que de algum modo vos tenha alertado enquanto geólogos. Mensagens com carácter otimista e positivo serão sempre valorizadas…

“Há só uma Terra”, lembram-se? Muito de vós, seguramente que não! Este era o título de um programa televisivo dos anos setenta do Séc. XX da autoria de Luís Filipe Costa que, já nesse tempo, alertava para crimes ambientais e ecológicos, com imagens chocantes e retratando situações reais, não para “salvar a Terra” mas para preservar o meio ambiente e as condições para a sobrevivência das espécies. Muito mudou, entretanto a população mundial duplicou, milhares de espécies foram extintas e o Homem enquanto espécie, mais do que nunca é vítima do seu próprio sucesso. Apregoa-se que “Não Há Planeta B”, o que é verdade e que “Temos de Salvar a Terra” quando não é a Terra que tem de ser salva e se isto não for entendido, então o ponto de partida está errado e comprometido. É verdade que na História do Planeta Terra nunca houve uma espécie cujas atividades tivessem um peso capaz de condicionar e alterar os sistemas geodinâmicos externos, é o que a Ciência nos diz! Independentemente dos ciclos naturais que a várias escalas operam na Terra e sobre os quais muito pouco ou nada o Homem pode fazer, tudo aponta para que os ciclos de curta duração e que de forma direta afetam a vida das pessoas, estejam intimamente relacionados com a atividade antropogénica. Mas, não nos enganemos, a Terra vai sobreviver à extinção do Homem. Como geólogos sabemos que extinções à escala global já aconteceram múltiplas vezes no passado, por vezes de forma catastrófica onde, pelo menos a sobrevivência dos vertebrados na Terra esteve em risco, isso não é novidade! O que agora há de novo é que, desta vez, há uma espécie que tem consciência de uma catástrofe que se aproxima, está à beira do abismo e teima em dar passos em frente…

Situações como a guerra na Ucrânia, o conflito interminável no Médio-Oriente e tantas outras situações de injustiça, guerra, exploração e tráfico de seres humanos, que ocorrem um pouco por todo o Mundo e onde as questões de sobrevivência no dia-a-dia são emergentes e não se compadecem com a “salvação do planeta”, aos olhos do Mundo Ocidental que teima em viver numa bolha, continuam a parecer “casos de estudo”… aqui a “Sustentabilidade” como inicialmente definida no texto de 1987, “Our Common Future”, de Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra Norueguesa, já está a falhar. Não estamos a “pedir a Terra de empréstimo aos nossos filhos, mas estamos efetivamente a gastar a herança dos nossos pais”!

Como exemplo, há dias, em Goa, que fruto do legado português pelo Mundo é ela própria uma bolha nesse imenso e fascinante país que é a Índia, um habitante local confessava-me que na Índia não se vive, sobrevivesse o dia-a-dia. O país mais populoso do Mundo conta hoje com 1,428 milhões de habitantes, tendo mesmo ultrapassado a China. Não sendo caso único, muito pelo contrário, e ainda que neste caso sejam toleradas, as desigualdades sociais imperam. Será legítimo ao Ocidente “evoluído e rico” negar a todas estas pessoas o alcançar dos níveis mínimos de conforto e bem-estar a que de forma natural nos habituámos?

Será a extinção do Homem a curto prazo inevitável? Penso que não!

O alerta é claro e vem da Comissão Europeia, se queremos mais justiça social, desenvolvimento verdadeiramente sustentável e um “Futuro mais Verde”, a solução está na exploração racional dos Recursos Geológicos. Ao negarmos o dever nacional de conhecer o verdadeiro potencial mineiro de Portugal, adiando ou impedindo a realização de campanhas de prospeção e pesquisa, também estamos a falhar na Sustentabilidade uma vez que não sabendo o que temos nunca poderemos planificar convenientemente o Futuro. Esta é uma decisão política onde, seguramente, o Estado tem falhado, pior que uma decisão contrária, a falta de decisão compromete e mina a credibilidade nacional junto de potenciais investidores estrangeiros que, curiosamente acreditam mais no nosso potencial mineiro, mas sobretudo no potencial e qualificação dos nossos recursos humanos, que nós próprios enquanto Sociedade.

A pregar em casa própria, todos reconhecemos o papel determinante dos geólogos não só na pesquisa e exploração de todos os recursos geológicos, mas também em todas as questões relacionadas com o ordenamento do território. O que tem falhado é a comunicação para o exterior e para concretizar este objetivo não posso deixar de sublinhar o nascimento da “MINERAL – Plataforma Colaborativa de Comunicação dos Recursos Geológicos”, cujo Memorando de Entendimento foi assinado no dia 23 de novembro de 2023, no auditório da sede nacional da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa. Esta plataforma é constituída por nove instituições que atuam em diferentes etapas da cadeia de valor do setor dos recursos naturais, nomeadamente a Associação Cluster Portugal Mineral Resources (ACPMR), a Associação Nacional da Indústria Extrativa e Transformadora (ANIET), a Associação Portuguesa de Geólogos (APG), a Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e Cristalaria (APICER), a Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais (ASSIMAGRA), a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), a Ordem dos Engenheiros (OE) e a Sociedade Geológica de Portugal (SGP).

Iniciativa inédita em Portugal, a MINERAL – Plataforma Colaborativa de Comunicação dos Recursos Geológicos, é uma iniciativa que pretende comunicar a importância dos recursos geológicos para o desenvolvimento sustentável da sociedade e para a concretização da transição energética, digital e climática. A MINERAL pretende também incentivar o aumento da responsabilidade ambiental e social das empresas que atuam neste setor, promovendo a sua descarbonização e a redução da sua pegada ambiental.

Como sempre tenho feito, reitero o convite a todos vós para serem mais interventivos e críticos, a Associação Portuguesa de Geólogos existe para defender os geólogos portugueses e a sua profissão. Só o poderemos fazer de forma mais assertiva com a vossa cumplicidade. Assim, é muito importante que consigamos aumentar o número de sócios, não só para nos dar mais força interventiva, maior autonomia para desenvolvermos e ampliarmos as iniciativas em curso, mas também para estarmos sempre presentes quando as circunstâncias assim o obriguem.

Termino fazendo o apelo aos não sócios para se associarem, esta é uma ótima altura para o fazerem!

Se já forem sócios, melhor ainda, aqui fica o convite para trazerem mais amigos.

E não se esqueçam, fiquem atentos às nossas mensagens e comunicação nas redes sociais, porque, temos para vós novas e boas surpresas que a pouco e poco iremos desvendar.

Évora, 20 de dezembro de 2023

Luís Lopes | Sócio O677

Presidente da Comissão Diretiva

Homenagem ao Professor António Galopim de Carvalho

Dia da APG  -

Reunião Anual

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

As melhores homenagens são feitas em vida. E a vida homenageada no dia 25 de setembro de 2021, durante o Dia da APG 2021 - 13ª Reunião Anual, é porventura a mais querida e humana no seio da comunidade geológica portuguesa.

A Sessão de Homenagem ao professor António Galopim de Carvalho decorreu em formato híbrido (online e presencial) a partir da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a gravação está disponível no canal de Youtube da APG.

Além da conferência especial “Divulgação científica, Parte Importante de uma História de Vida”*, proferida pelo professor António Galopim de Carvalho, os participantes puderam assistir aos discursos de Nuno Pimentel, Abílio Dias Fernandes, Fernando Barriga e António Ribeiro, expressivos da gratidão e admiração por uma das figuras mais proeminentes da sociedade portuguesa.

Registamos aqui o discurso que o professor António Galopim de Carvalho preparou para a sessão de homenagem e também as transcrições dos discursos dos seus colegas e amigos. Vale a pena ler.

Fotografias de José Alexandre Gandum *disponível no site da APG, em ‘Especial Galopim-Apresentações’

Divulgação Científica, Parte Importante de uma História de Vida

Este texto, que aqui vos deixo, era para ser lido ontem no auditório da Faculdade de Ciências de Lisboa, na simpática e afetiva homenagem que a Associação Portuguesa de Geólogos entendeu fazer-me. Acontece que comecei a falar de improviso, mostrando diapositivos de um “PowerPoint”, e nunca mais olhei para o papel.

«Antes de abordar o tema anunciado no programa, ocorre-me dizer que, quando era novo, foram muitas as vezes que me interroguei se chegaria à viragem do século, uma meta que se me afigurava algo de bom poder atingir.

Setenta anos era então o horizonte de vida média dos portugueses e quando chegasse o século XXI, eu já teria uma idade a rasar esse horizonte.

Já ganhei, portanto, vinte e um anos, o que foi e é muito bom.

Não sei quantos anos mais poderei desfrutar desta bela condição de poder sentir a vida. Serão certamente muito poucos, mas isso não me incomoda absolutamente nada. Incomoda-me, sim, a ideia de não poder vivê-la em condições mínimas de saúde e em alegria.

Estou perfeitamente consciente das limitações físicas que os anos me impuseram, mas feliz, de bem comigo, com os outros e com o mundo.

Quem me conhece sabe que sou solidário, frontal e transparente, leal, lutador e persistente nas causas cívicas que abracei, afetivo e sempre bem-disposto.

Já o disse várias vezes e volto a dizer que conservo comigo a criança irrequieta, curiosa de tudo e alegre que fui, o adolescente, inconformado, contestatário, audacioso e irreverente, próprio desses anos. Conservo também o adulto na força da vida, lutador e persistente nas muitas lutas cívicas que travei (e continuo a travar) e o velho que, a tudo isso, acrescenta a paciência, a ponderação e a tolerância que os muitos anos ensinaram.

Na divulgação científica, no ensino, como em tudo na vida, o afeto é um fator fundamental e decisivo. Muitos anos como aluno, muitos mais como professor e mais uns tantos a escrever nas redes sociais e em livros, convenceram-me que assim é.

No seu último livro “Sentir & Saber – A Caminho da Consciência”, António Damásio, veio reforçar esta convicção muito enraizada em mim.

Diz ele que “as capacidades afetivas são fundamentais porque são as primeiras”. E acrescenta dizendo que “é sobre as capacidades afetivas que se vão colocar as capacidades cognitivas”.

Para Damásio “aquilo que é a nossa vida, aquilo que é a nossa história e a nossa identidade, não é

puramente cognitivo. É cognitivo misturado com o afeto. A vários níveis”.

Damásio deu-me, pois, a imensa alegria de confirmar esta muito minha convicção. Posso dizer que aquilo que foi e ainda é fundamental no meu trabalho e no meu pensamento tem a ver com a mistura do que é afetivo com o que é puramente racional. Posso ainda dizer que todas as distinções de que fui alvo, e foram muitas, tiveram, por parte de quem me as concedeu, uma componente afetiva que não pude deixar de reconhecer.

Passo agora ao tema anunciado no programa.

Divulgar, do latim divulgare, é dar a saber a muitos, tornar público, repartir entre o vulgo, vulgarizar.

O meu gosto, quase um vício, por saber coisas começou cedo, em criança, não na escola, que recordo como um lugar e um tempo de aflição e algum sofrimento, mas sim na rua e em tudo o que nela se passava e em todas as oficinas, lojas e artesanias de portas abertas.

O meu gosto pela divulgação de saberes começou mais tarde, durante a adolescência, no mundo rural, um mundo que conheci como praticante de um campismo selvagem nos campos em redor da cidade (Évora).

Foi no convívio com os camponeses que, em trocas de saberes, nasceu este meu interesse por divulgar conhecimento.

Muito do que aprendia no Liceu era tema das nossas conversas. Eu falava-lhes, por exemplo, de angiospérmicas e gimnospérmicas e eles ensinavam-me os nomes de todas as árvores, arbustos e ervas que nos rodeavam. Eu falava-lhes do solo, como me havia ensinado o meu professor, e eles mostravam-mo nas suas mãos calejadas e ensinavam-me muito mais do que eu havia aprendido.

Foi com eles que iniciei este modo de falar simples e esta preocupação de descodificar (trocar por miúdos) todas as palavras novas que surgem no discurso.

Dito de outra maneira, foi durante esses anos que ganhei experiência e gosto de divulgar o conhecimento científico que os professores e os livros me iam ensinando.

Mais tarde, como adulto, a oportunidade de exercer este meu gosto surgiu-me durante a minha prestação de serviço militar.

Com os soldados a quem tinha de dar instrução militar, foram muitas as oportunidades em que, em

vez de lhes falar de espingardas, canhões e outras noções próprias da guerra, partilhei conceitos simples de ciência que iam ao encontro das suas profissões. Entre analfabetos e letrados com a instrução primária, rapazes do campo e da cidade, os recrutas eram esponjas de ouvidos e olhos escancarados.

Durante os 40 anos de docência na Universidade de Lisboa (entre 1961 e 2001, na Faculdade de Ciências, e entre 1965 e 1981, na Faculdade de Letras, em Geografia), mantive estreita ligação com as escolas, quer como orientador dos estágios exigidos nas licenciaturas do ramo educacional, quer a seu convite, do pré-primário ao secundário, divulgando conhecimentos, adequados aos respetivos níveis de escolaridade, em torno de temas das Ciências da Terra, falados no mesmo tom e estilo, simples mas rigoroso e sempre alegre, que usei nas muitas palestras que fui fazendo em sociedades recreativas, centros culturais, bibliotecas municipais e outros estabelecimentos que num “passa palavra” entre os professores, no caso das escolas, e entre outros interessados, fazia com que me chegassem convites de todo o lado e a todo o tempo. Era e é do conhecimento geral que não cobrava honorários e que apenas precisava de ter o transporte assegurado. Esta atividade de palestrante foi-se intensificado com o passar do tempo, tendo-se alargado a todo o território, quer no continente quer nas ilhas. A par destas conversas, lições ou palestras como se lhes quiser chamar, aceitei, com o mesmo empenho e a mesma alegria, os convites que me chegaram de quase todas as Universidades nacionais.

Quando, em 1977, o saudoso Prof. Rocha Trindade me convidou para integrar o grupo de professores do igualmente saudoso Ano Propedêutico, confrontei-me com a necessidade de escrever, semana a semana, capítulo a capítulo, os textos de apoio (os ap) que marcaram uma geração de portugueses agora a raiarem os 60 anos. Foi mais como divulgador do que como académico, usando de toda a liberdade que o sistema consentiu, que redigi as 455 páginas desses três livrinhos, um êxito editorial com muitos milhares

de exemplares vendidos.

Também as lutas que travei (e continuo a travar) pela defesa e valorização do nosso património geológico, e foram muitas, difíceis e prolongadas no tempo, tiveram sempre uma componente de divulgação através da comunicação social.

Nos 20 anos que exerci funções de direção no Museu Nacional de História Natural (1983 a 2003), o meu gosto e empenho em divulgar conhecimento teve plena realização nas muitas exposições que ali tiveram lugar, com destaque para as organizadas em torno do tema dinossáurios. Devo dizer que, no conjunto com os funcionários deste Museu, todos nós sem qualquer formação teórica na área da museologia e aprendendo uns com os outros, concebemos e realizámos algumas das mais espetaculares e concorridas exposições de que temos memória.

As Feiras de Minerais Gemas e Fósseis, iniciadas no Museu Nacional de História Natural, em 1989, nas quais me envolvi empenhadamente, foram outra via de divulgar conhecimentos em domínios da mineralogia e da paleontologia. A aceitação do público, das crianças aos adultos foi, desde a primeira, muito grande, testemunhada todos os anos por milhares de visitantes, tendo-se alargado ao Porto e a Coimbra, com regularidade anual, e a outras cidades com realizações esporádicas.

O gosto pessoal que sempre tive pela divulgação, atividade que sinto como uma forma feliz de conviver e confraternizar com gente de todas as idades, fez com que nos vinte anos que se seguiram à minha aposentação, mantivesse o mesmo ritmo que trazia da chamada “vida ativa”.

A pandemia que nos últimos tempos nos atingiu levou-me a recorrer à modalidade de videoconferências via “zoom”. E é neste ponto que nos encontramos».

Lisboa, 25 de setembro de 2021

António Marcos Galopim de Carvalho

Intervenção de Nuno Pimentel

Preâmbulo

Não sou seguramente das pessoas que tenha sido mais próxima do professor Galopim ao longo da sua longa e intensa carreira. Nunca trabalhámos juntos em projetos, reuniões, ou conversas sobre investigações científicas em curso, não ajudei a montar as exposições, não andámos no campo dias a fio a discutir afloramentos. Apenas fui seu assistente na lecionação prática de algumas disciplinas. Não serei, portanto, sequer o que se chama “um colaborador próximo”. Ainda assim, por alguma razão que desconheço (mas agradeço), convidaramme para falar sobre a sua “Vida e Obra” e faço-o com enorme prazer e honra. A minha conversa irá girar em torno de três tópicos que enquadram a minha visão do que foi, é e continua a ser, o trabalho do professor Galopim – a Escola, a Universidade e a Sociedade.

Que Escola construiu o professor Galopim? Fui ver o que significa essa palavra, qual a sua origem. E curiosamente não é aquilo a que costumamos associá-la, no sentido escolar e académico. O termo “Escola” vem da Antiguidade, em que havia dois tempos tradicionais, o do Trabalho e o do Descanso, surgindo um terceiro tempo para o lazer, no sentido, pensar na vida, nas coisas, com curiosidade e na busca de conhecimento - isso era a Escola. E eu creio que foi isso que o professor Galopim fez toda a sua vida, pensou sobre a Geologia, pensou sobre a sociedade, pensou sobre o mundo que o rodeia. E transmitiu-nos essa sua maneira de pensar. Ou seja, criou uma Escola de curiosidade, de interesse, de pessoas que querem ver, pensar, conhecer. E como é que nasceu esta “Escola Galopim”? Esta é uma Escola que vem da sua carreira, do seu trabalho académico e que se inicia com a sua formação noutras paragens, enquanto doutorando em Paris. Aí contactou com grandes mestres da Sedimentologia, como André Cailleux, e com ele

Escola

desenvolveu a sua Thèse de 3ème Cycle. Começou então a formar-se na Sedimentologia tal como hoje a conhecemos e trouxe-a para o nosso país. Em Portugal, foi aprendendo com outros mestres, nomeadamente o geógrafo Orlando Ribeiro, de onde bebeu a capacidade de ler e analisar a paisagem e as suas relações com a morfogénese e os sedimentos. Essa abordagem integrada seria depois aplicada e desenvolvida na sua tese de Doutoramento, baseada em trabalho de campo e laboratório, na Bacia Terciária do Tejo. E como nos foi depois transmitida essa Escola? Ensinando durante décadas na Universidade de Lisboa, durante 50 anos até à sua jubilação; principalmente durante a fase mais ativa em termos académicos, os anos 70 e 80, depois do seu Doutoramento e antes da sua passagem para o Museu. Mas é importante realçar que também ensinou durante 16 anos em Geografia, na Faculdade de Letras, instalando lá um Laboratório de Sedimentologia e fortalecendo assim as ligações entre a Geologia Sedimentar e a Geografia Física, laços que até hoje perduram, em ambos os lados.

Nos anos 80, depois do grande incêndio de 1979, relançou o Museu da Rua da Escola Politécnica, primeiro o Museu Geológico, depois o de História Natural. Aí foi diretor durante 20 anos, no decorrer dos quais teve uma atividade extraordinária, de que os dinossauros serão a faceta mais conhecida. Mas eu diria que o Prof. Galopim relançou também a própria Museologia Geológica em Portugal. Até então, tínhamos museus antigos, clássicos, formais e o Professor lançou uma nova ideia do que é um museu vivo e ativo, não só dentro de portas, mas também aberto para as pessoas, para a rua, para a sociedade, e até fora de portas, com o seu conceito de “exomuseu”.

O Prof. Galopim lançou também as bases da Geologia Marinha, com o professor António Ribeiro (aqui presente) e o professor João Alveirinho Dias, com a ideia dos Projetos DISEPLA I e II. O Professor era um geólogo de ambientes e paisagens continentais, mas teve a visão de se juntar a colegas de outras especialidades para olhar o mar, para também aí estudar os processos da dinâmica sedimentar. A Geologia Marinha que temos hoje em Portugal, muita dela, resultou certamente desta Escola.

Na comunidade académica, o professor Galopim é conhecido principalmente pela sua Escola de Sedimentologia, muito ligada à Geografia Física, à paisagem e ao território. Uma Sedimentologia que olha em seu redor, para os relevos, as superfícies, as bacias, as formações, e que não se fica pelo laboratório ou pelo computador, para tentar

compreender a dinâmica sedimentar. Essa foi a Escola que nos transmitiu, não só em terra como também no litoral e no mar. Muitos dos colegas que trabalham hoje nestas temáticas e aplicam métodos sedimentológicos, são inquestionavelmente o resultado dessa “Escola Galopim”.

Como é que essa Escola chegou até mim, por exemplo? Indiretamente, pela orientação que tive da professora Teresa Azevêdo para o meu Doutoramento, tendo ela própria sido orientada pelo professor Galopim, o que me torna uma espécie de neto científico do professor (ele que é o “avô dos dinossauros”). Diretamente, bebi muito desta Escola nas suas aulas de Faculdade, aulas extraordinárias e que me atraíram definitivamente para a Geologia Sedimentar. Eram aulas em que não conseguia tirar apontamento. Tudo era tão encantador, lógico e interessante, que eu me limitava a ouvir e a compreender. Eram aulas que soavam a conversas, em que tudo fazia sentido, tudo cá ficava e assim a informação era passada. Outra via de aprendizagem foi a leitura crítica que o professor fez do meu Relatório de Estágio (1987), da minha Tese de Mestrado (1989) e da minha Dissertação de Doutoramento (1997), lidas linha a linha e alvo de inúmeros comentários construtivos. Isto quando era diretor do Museu, não era meu professor, nem orientador, apenas alguém interessado em ler e contribuir para a minha formação científica. Esse cuidado e atenção ficarão comigo para sempre e para sempre lhe ficarei grato.

Universidade

Universitas significa etimologicamente “o que verte para além do um” ou seja, algo coletivo, um grupo ou uma associação. Este termo, que hoje associamos à instituição académica em que nos encontramos, provém de uma expressão medieval “universitas magistrorum et scholarum” aplicada ao conjunto de mestres e alunos que, fora do círculo eclesiástico, se organizavam para ensinar e aprender. O professor Galopim sempre fez isso, sempre encarou o ensino como uma ligação pessoal entre quem está a ensinar e quem está a aprender. Nunca se colocou num magistério, num púlpito, sempre apostou na associação íntima e afetiva entre professor e aluno… E quanto mais aulas nós vamos dando mais nos apercebemos de que isso é importante. Para o professor Galopim, ensinar nunca foi apenas transmitir o muito que se sabe, mas sim partilhar também aquilo que se pensa e o modo de ver as coisas à nossa volta, sejam elas geológicas ou não. Por outro lado, Universidade também nos

remete para o que é universal e aberto. O professor Galopim nunca se fechou dentro das portas da Universidade, na sua hierarquia rígida de cargos e posições, antes funcionou com todos numa atitude tu-cá-tu-lá, com o seu enorme conhecimento e experiência, mas sempre com abertura e recusando encaixar-se no funcionamento por vezes um pouco “monástico” que instituições tão antigas como as universidades por vezes ainda cultivam. O professor Galopim sempre tentou combater esse enclausuramento e tentou ser aberto aos outros, às outras áreas do conhecimento e à sociedade. Esta atitude demonstra uma abertura de espírito, um ecletismo que se manifestou também nas suas atividades fora da Universidade. É exemplo desse ecletismo uma espécie de “museologia popular” (expressão minha) preconizada por ele, em rutura com os museus universitários e as suas “coleções de preciosidades”. Ou a sua visão e aposta no mar, inovadora e seminal de muito do que hoje se investiga na plataforma continental e para além dela. Ou a sua aposta no património geológico, que começou a difundir e a teorizar nos anos 80, lançando o bê-á-bá do património geológico e paleontológico em Portugal. Nessa área, esteve envolvido na criação de 15 Monumentos Naturais e Geomonumentos, no que isso implica de reuniões, ofícios, pareceres, etc. E fê-lo no meio de muitas outras coisas. Eu diria até que os geoparques portugueses são hoje uma excelente montra dessa atitude moderna perante a Geologia que nos rodeia.

Mas talvez a sua principal aposta, aquela que hoje se mantém como a sua principal atividade intelectual, tenha sido (desde há muito) a divulgação – divulgar a Geologia, mostrar à sua volta, à sociedade, o que é essa área da Ciência. O meu primeiro contacto com o nome do professor Galopim, foi quando um dos meus irmãos chegou ao Propedêutico em 1977, e levou para casa uns pequenos fascículos agrafados, da disciplina de Geologia. Esses textos deram depois origem aos livrinhos de 12º Ano pelos quais estudei em 1980 e a vários outros manuais escolares que se foram sucedendo ao longo dos anos. Para quem conhece, em todos eles (até hoje) se encontra aqui e ali a marca ou a “assinatura digital” desses textos e figuras originais do professor Galopim.

A divulgação tem sido feita principalmente através da escrita, escrevendo livros. O Professor já escreveu e publicou trinta livros (!) sobre os temas mais diversos. De Geologia “pura e dura”, incluindo Sedimentologia, Magmatismo, Orogénese, Mineralogia, etc. já publicou dez; não creio que alguém nesta sala tenha escrito tantos livros de Geologia. Alguns de nós terão escrito um ou dois

da nossa área de especialidade, o Prof. Galopim escreveu dez, não sendo especialista em todos (nem teria de o ser). Mas também escreveu outros tantos livros sobre as relações da Geologia com outros assuntos: Cultura, Arte, História de Portugal, História da Ciência, Geologia para Crianças, etc. E ainda mais uns quantos sobre assuntos diversos, como a gastronomia regional ou as memórias e tradições da sua juventude alentejana.

Outra faceta da divulgação têm sido as palestras que sempre foi dando em escolas de todos os níveis de ensino, em museus ou em associações como a APG, Ciência Viva, etc. Nos últimos anos, o professor tem vindo a construir um conjunto de apresentações em PowerPoint, sobre diversos temas geológicos. E tem tido a extraordinária humildade de os mostrar (a mim e a alguns outros colegas) para recolher críticas e sugestões, antes de os finalizar. Pois, esses PowerPoints vão agora ser apresentados a partir do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, on-line para todo o público, em 30 sessões semanais dirigidas em particular aos professores do Ensino pré-universitário. Qual de nós já fez, está a fazer ou vai fazer isto? Muitos de nós, bem que o poderíamos fazer, mas não o fazemos, eu não estou a fazê-lo, mas o professor Galopim está!

Todos os dias o professor Galopim escreve e “publica” alguma coisa sobre Geologia (e não só) na plataforma Facebook. O Facebook sabemos bem o que é, mas a verdade é que o Professor tem mais de vinte mil “seguidores” e uns cinco mil “amigos”. Cada texto que quase diariamente lá é “postado” tem centenas de “gostos”, mas principalmente tem sempre dezenas de pessoas que comentam, a dizer que gostaram, que não sabiam, que vão partilhar, etc. Ou seja, todos os dias dezenas de pessoas “usam” os seus escritos e também deste modo o professor é um divulgador de Geologia, como hoje não temos outro em Portugal. Muitos de nós procuram fazer o que hoje se chama “outreach”, no meio de tantas outras atividades, mas a verdade é que o Professor acaba por ser o mais ativo divulgador da Geologia, inclusive nas redes sociais modernas e que chegam a todos os públicos e a todas as regiões do país (e não só).

Sociedade

A Sociedade é um grupo de pessoas, mais ou menos organizadas, que rege por um conjunto de regras ou valores partilhados. E é isso que o professor tem procurado fazer na sociedade –mostrar os seus valores, mostrar aquilo que tem para dar à sociedade. Mas não tenta mostrá-lo

“vindo de fora” ou como visitante: “vocês são a sociedade, eu hoje estou aqui e agora vou-vos dar isto, porque acho que é isto é importante”. Ele faz isto “por dentro”, como as pessoas que querem transformar o mundo - a melhor maneira é fazê-lo por dentro. Ele interage com a sociedade, estando dentro dela - não a visita, não vai lá apenas passear e “vender o seu peixe”. Ele vive em sociedade, escrevendo, publicando, visitando, falando. É um membro ativo dessa sociedade e nela vai espalhando os seus valores que traz da sua longuíssima carreira e do seu enorme ecletismo de tudo quanto tem vindo a fazer. Que valores é que o professor tem colocado e difundido no seio da sociedade? Eu escolheria três: o Património da Terra, a Geologia e a Literacia Científica.

O professor Galopim tem defendido e promovido, de muitas formas, o valor do “Património da Terra”. Não no sentido estrito da preservação deste lugar ou desta rocha, porque é importante para a Ciência ou interessante para o turista, mas sim o valor da Terra no seu conjunto, com lugares importantes, paisagens importantes e fenómenos importantes. O professor tem conseguido difundir na sociedade a ideia de que aquilo que existe à nossa volta, na nossa Terra, no nosso planeta, é nosso Património – é por isso algo que todos nós devemos usar, preservar, usufruir e transmitir. A Terra é para ser usufruída e o professor tem-nos passado essa mensagem através de toda a sua atividade ao longo destas décadas. E nós, como membros da sua Escola, de algum modo, tentamos desenvolver este conceito – a nossa Terra, o nosso planeta, aquilo que nós trabalhamos, usamos e usufruímos, cientificamente, paisagisticamente, turisticamente. O professor Galopim transmitiu-nos esse gosto pelo planeta em que habitamos, por aquilo que está à nossa volta. Não só a nós, mas também a uma boa e cada vez maior parte da sociedade.

Se a nossa sociedade hoje sabe o que é o valor da Geologia, como funciona e para que é que serve, em boa parte deve-o ao professor Galopim. E não, não é só por causa dos dinossauros, isso já foi há 30 anos e já teria passado. É porque continuou ativo, continuou a fazer palestras, a ir às escolas, a promover atividades connosco, convosco, com a sociedade. A Geologia existe hoje na nossa sociedade, em boa parte graças ao professor Galopim. E agora, nestes tempos mais recentes, tem-no feito principalmente através dos professores do ensino básico e secundário, em que ele tem apostado repetidamente. É isto que tem de ser feito, transmitir através dos professores, aos miúdos, aos jovens, aos futuros cidadãos adultos, o gosto pelo planeta Terra, o gosto por aquilo nos rodeia.

O professor Galopim tem sempre dito que a nossa sociedade (em geral) tem pouca Literacia Científica - sabe pouca Ciência, e não é apenas pouca Geologia, conhece mal os princípios e os processos científicos. Como ele muitas vezes tem dito, um político é suposto saber de Leis, de Economia, de Gestão, eventualmente de Engenharia (mais técnica e formal), mas não de Ciência. É que não existe a noção generalizada de que a Natureza, aquilo que nos rodeia, é passível de estudo científico e que é tão importante qualquer cidadão saber o que é a fotossíntese, como o que é um vulcão ou o que é o Produto Interno Bruto ou a Junta de Freguesia. Mas a aposta do professor Galopim não tem sido na promoção e divulgação da “geologia de ponta”, dos últimos estudos e trabalhos publicados sobre isto ou aquilo. Pelo contrário, a sua aposta tem-se centrado na importância da Ciência básica e geral, para a nossa cidadania, para uma Literacia Científica integral e equilibrada.

Por tudo isto, deixo aqui o meu obrigado. O nosso obrigado.

Enquanto geólogos, enquanto cidadãos. Muito obrigado, professor Galopim!

Intervenção de Abílio Dias Fernandes

Sou apenas uma voz de Évora na homenagem ao Prof António Marcos Galopim de Carvalho.

Permitam-me que comece por agradecer o convite do professor Luís Lopes, da Universidade de Évora para participar nesta homenagem.

Não será excessivo dizer que a cidade Évora marcou e marca toda a maneira de ser e de estar do Prof. Galopim de Carvalho. É certamente um orgulho para a cidade de Évora esta homenagem a um filho seu.

Resolvi passar a escrito estas palavras porque estou convencido de que o professor Galopim de Carvalho não me vai ouvir certamente, mas ao passar para as suas mãos este escrito ele terá a confirmação da homenagem que lhe estou a fazer, em meu nome com o sentimento que a cidade me acompanhará.

A homenagem que lhe queremos prestar é de profunda satisfação e gratidão por nunca ter deixado de contribuir com a sua presença assídua e com a sua particular capacidade de divulgador científico para a valorização da ancestral dimensão cultural da cidade de Évora e dos eborenses. Sempre

nos acompanhou com a paciência de ouvir todos sem qualquer discriminação.

Permitam-me que recorde que sendo eu presidente da CME, fizemos uma visita nos anos 80, com Leonor Pina, a alguns dos monumentos megalíticos do concelho de Évora e da conversa surpreendente com um cantoneiro, em Valverde, relembrando os momentos de surpresa e encanto da descoberta da Anta Grande do Zambujeiro. Foi nessa visita, acompanhado por esses dois grandes homens da História e da Geologia, que eu, economista de formação, comecei a despertar para o conhecimento da constituição do cosmos onde vivemos e do papel do Homem neste universo.

A propósito, cabe referir que acaba de ser publicado no boletim “A Cidade de Évora” um relatório apresentado por Leonor Pina à Fundação [Calouste] Gulbenkian em 1962, sobre as escavações e pesquisas na Herdade dos Álamos da Freguesia da Tourega.

Permitam-me que, numa curta análise da sua obra de ficção, chegue à conclusão que transparece dos seus livros a íntima ligação do Prof Galopim de

Carvalho ao Alentejo e em particular à cidade de Évora.

Todos sentimos que “O Cheiro da Madeira” cheira a Évora; que “Com Poejos e Outras Ervas” sabe a Évora; que num artigo sobre os solos graníticos do Alentejo ele nos convide a provar o vinho de Évora; que o “Preço da Borrega” nos mostre a elite eborense de antes do 25 de Abril. Todos os seus trabalhos científicos ou de ficção não deixam de estar imbuídos das suas vivências em Évora.

Os moinhos de São Bento, de onde se avista todo o centro histórico da cidade, dão atualmente asas ao vento graças à valorização do maciço granítico de Évora estudado e divulgado pelo professor Galopim de Carvalho, que propôs a criação do Núcleo Museológico do Alto de São Bento. Um moinho ainda de pé, após a recuperação de outros dois, encontra-se na fase final de reconstituição como moinho destinado à sua função original, a moagem de cereais. Todo este afloramento rochoso no ponto mais alto das redondezas da cidade é um espaço atualmente privilegiado para a formação das crianças e alunos no despontar de curiosidades, descobertas e aprendizagens científicas, quer sobre os granitos, quer sobre a florística, quer sobre as espécies animais que o povoam e às quais a Universidade de Évora tem dado todo o apoio. Como apontamento final permitam-me a seguinte reflexão: a preocupação com o estudo e

análise da formação geológica da Terra, leva-nos, em contraponto, a procurar analisar as raízes e a evolução do Homo sapiens ao longo dos séculos e a formação de estruturas sociais que evoluíram para as sociedades que hoje temos. Esta preocupação leva-nos necessariamente a tentar encontrar um equilíbrio social justo em defesa da paz para que possamos estabelecer uma relação sustentável dos homens com a natureza.

O professor Galopim de Carvalho tem dado um valioso contributo neste sentido e em particular na divulgação dos conhecimentos científicos da Geologia e da paleontologia não deixando, contudo, de acompanhar e de se preocupar com as questões sociais, políticas e religiosas do mundo em que vivemos. Honra-nos, por isso, muito, prestarlhe esta justa homenagem.

E, mesmo para terminar, não posso deixar de fazer uma breve referência à sua companheira Isabel a quem o atual executivo camarário também reconheceu, prestando-lhe uma homenagem na Vendinha, onde foi professora exemplar e estimada pelos alunos, pais e povo da freguesia pelo seu valioso contributo na formação das crianças desse tempo, que são hoje homens da nossa cidade de Évora.

Aqui fica um abraço de Évora, mas do tamanho do mundo, ao professor António Marcos Galopim de Carvalho.

Intervenção de Fernando Barriga

Em primeiro lugar, agradeço o convite da APG para esta intervenção, que me gratifica muito.

O Professor Galopim é um comunicador natural, como todos sabemos. Tem o dom de deixar nos seus alunos uma marca profunda, pela paixão com que fala de Sedimentologia e de muitos outros assuntos. Através de uma espécie de clonagem com laivos de magia, escrevi em tempos. Eu não fui exceção, ele quase me fez trocar Mineralogia e Recursos Minerais por Sedimentologia. Desde os tempos de estudante que sou tratado com amizade pelo professor Galopim, o que evidentemente retribuo. Amizade e admiração.

Conheci o professor Galopim como seu aluno, e recordo o jeito especial com que nos convenceu de que as rochas, particularmente as rochas sedimentares, contam histórias, que se descobrem em estilo de romance policial, indício aqui, indício acolá. Foi um dos professores que mais me aliciaram, a ponto de por pouco não ser eu hoje sedimentólogo também.

Por outro lado, a ciência não tem de ser “chata e comprida”, basta que se foque no que se pretende

ver, com a profundidade necessária. O professor Galopim, em particular, compreende isto como poucos.

No entanto, é possível transmitir ao público a essência da mensagem contida numa exposição. A primeira exposição que abriu no Museu [Nacional de História Natural e da Ciência] sob minha direcção, intitulada Plumas em Dinossáurios, trouxe ao público português as peças originais dos dinossáurios avianos, cinco anos após a sua publicação em revistas científicas da especialidade.

À frente do Museu Nacional de História Natural [e da Ciência], o professor Galopim notabilizou-se pela forma como conseguiu captar audiências, inicialmente para ciclos de conferências realizadas em precaríssimas condições, em espaços com arranjos toscos, inacabados, em amplos anfiteatros improvisados com os andaimes das obras interrompidas por falta de financiamento. Mesmo assim, estes ciclos de conferências transformaram-se durante meses a fio em fins de tarde semanais obrigatórios para centenas de pessoas, incluindo muitíssimos não-geólogos. Depois foram as

Feiras de Minerais, hoje ponto obrigatório das compras natalícias de muitos milhares de lisboetas. Finalmente os dinossáurios e as campanhas pela conservação de monumentos geológicos, incluindo o futuro Parque de Carenque, apesar dos que pensam que os dinossauros ainda atacam.

Sempre acarinhámos a noção de que o Museu Nacional de História Natural [e da Ciência] deveria ser uma instituição nacional, tendo a Universidade de Lisboa sido encarregue, primeiro pela Monarquia, depois pela República, de cumprir a sua missão. Tivemos contactos com Mariano Gago a este respeito.

Quando inaugurámos, no Museu Nacional de História Natural [e da Ciência] a exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?”, em fevereiro de 2009, convidei o então ministro José Mariano Gago. Expliquei-lhe que o Museu apresentava ao público resultados da sua própria investigação. Pediu-me para lhe enviar informação, quer de divulgação quer artigos científicos. Dias depois tinha a resposta: sim, o senhor ministro iria à inauguração. O mais espantoso é que o senhor ministro tinha lido de fio a pavio os artigos que lhe enviei. Sabia o que significava, cientificamente, a descoberta de Allosaurus do lado de cá do Atlântico. Examinou as peças em exposição, descreveu-as, foi ator da inauguração. No fim, fez-nos um rasgado elogio, pela ciência feita e pela ligação à sua divulgação.

Quem primeiro me abriu (literalmente) as portas dos expositores do Museu foi outro professor insigne, Carlos Torre de Assunção, por volta de 1968. Ao concluir a licenciatura em Geologia, continuei ligado à Universidade, como assistenteestagiário, e fui convidado para a direção do Museu, presidida por Carlos Matos Alves. É nesta fase que tem lugar o incêndio de 1978, que destruiu grande parte do edifício da Escola Politécnica, e grande parte do património do Museu. A reconstrução, até hoje por completar, iniciou-se lentamente, praticamente reduzida a impedir que a chuva acabasse a destruição causada pelo fogo. Em meados da década de 1980, o professor Galopim torna-se diretor do Museu. Quanto a mim, impelido pela vontade de me doutorar, e após perder no incêndio materiais, equipamentos, e escritos, fui para o Canadá em finais de 1979, onde me doutorei em 1983. Parti mineralogista, regressei geólogo, mas sempre atento ao Museu.

De regresso a Portugal, tive oportunidade de, durante muitos anos, ser um acérrimo defensor, na Faculdade de Ciências [da Universidade de Lisboa], da atividade que o professor Galopim desenvolveu no Museu, pelo que tem trazido de reconhecimento

da Geologia por parte de decisores, dos cidadãos em geral, e até da comunidade científica exterior às geociências. Não perdi muitas oportunidades de participar em atividades no museu (inaugurações de exposições, conferências, etc.) e o Museu convidou-me muitas vezes para intervir proferindo conferências e moderando sessões. Todas estas colaborações ajudaram a forjar uma profunda relação profissional e de amizade pessoal entre nós. O professor Galopim, segundo ele próprio me confidenciou, começou a ver em mim um possível sucessor na direção do Museu. Acabei por aceitar, mas projetando sempre a data de tal sucessão para um futuro tão longínquo quanto possível. Quando o dia chegou, as possibilidades de trabalho estavam num declínio de tal modo acentuado que o professor Galopim me sintetizou assim a situação: “Fernando, deixo-lhe um presente envenenado”.

O professor Galopim, na sua faceta de comunicador, elegeu temas específicos com potencial para suscitarem o interesse dos cidadãos em geral em temas de geociências. De entre estes, destaco três: dinossáurios, Mineralogia e meteoritos. Nenhum deles da sua especialidade enquanto cientista, o que mostra até que ponto o moveu conseguir interessar os cidadãos em geral em temas apelativos das Ciências da Terra. Noutro registo, deve mencionar-se o conceito de “exomuseu” e a classificação de geomonumentos, tema que foi igualmente desenvolvido pelo professor Galopim.

Para os meteoritos ligou-se a José Fernando Monteiro, outro comunicador, precocemente falecido, e juntos publicaram vários artigos de divulgação, tendo o professor Galopim proferido numerosas conferências acerca do tema. Recordo-me da queda do meteorito de Ourique, em 1998. Eu era à época Presidente do Departamento de Geologia da FCUL, e desloquei-me com o Professor Galopim a Ourique, onde fomos observar os sinais da queda (nunca se encontrou uma cratera digna desse nome) e tomar posse de alguns fragmentos do meteorito localizados por moradores; o maior, recolhido por Manuel de Brito, da aldeia de Palheiros, foi por este entregue ao Professor Galopim, para ir para o Museu (onde se encontra). Apesar de tudo isto, o tema meteoritos não atingiu o impacto dos dinossáurios ou da Mineralogia.

Com 80% das coleções geológicas do Museu perdidas no incêndio, urgia proceder à sua reposição, na medida do possível. Assessorado por Luís Teixeira Leite, colecionador e reputadíssimo comerciante de minerais, fornecedor de alguns dos principais museus do mundo, o professor Galopim iniciou uma campanha polifacetada para

obtenção de exemplares mineralógicos, incluindo a aquisição de coleções, salientando-se as seguintes: coleção McGuiness, adquirida por subscrição pública, aproveitando as condições vantajosas oferecidas ao Museu; colecção de Cristais da Mina da Panasqueira, considerada uma das melhores do mundo, de onde são provenientes exemplares da máxima qualidade para várias espécies minerais; coleções Montenegro de Andrade e António Bello (Harvard) com interesse científico e topográfico, por incluírem muitos exemplares de localidades esgotadas, hoje insubstituíveis.

Mas a inovação mais original, até hoje uma importantíssima fonte de exemplares para o Museu, foi a introdução das feiras de Minerais, Gemas e Fósseis, em 1989, que atraem anualmente muitos milhares de visitantes. A Feira de Lisboa inspirou outras, nomeadamente no Porto e em Coimbra. É acompanhada de um programa científico-cultural, com conferências e atividades várias, sujeitas a um tema. As Feiras contribuem poderosamente para desenvolver o interesse pela Mineralogia e Paleontologia. Corretamente praticado, o colecionismo contribui para que não se percam exemplares com interesse cultural e científico. O professor Galopim teve uma visão pioneira destes factos.

Ainda no domínio da Mineralogia, merece destaque o Museu do Quartzo, proposta original do professor Galopim, ao dedicar um museu a uma única espécie mineralógica. O projeto museológico foi premiado pela Associação de Municípios. Localiza-se no Monte de Santa Luzia, junto a Viseu, e evoca uma antiga pedreira onde se extraiu quartzo. Trata-se de um museu muito interessante, ao qual estou pessoalmente ligado. O projeto do edifício, inspirado na forma cristalina do quartzo, é da autoria do arquiteto Mário Moutinho, que durante muitos anos integrou os quadros do Museu Nacional de História Natural [e da Ciência], tendo assinado numerosos projetos com grande interesse. Urge dotar o Museu do Quartzo de um ou dois jovens técnicos com formação adequada, que conduzam atividades lúdico-científicas mais ou menos ligadas ao quartzo, para públicos de vários escalões etários e vários graus de proximidade à Mineralogia.

As atividades do Museu ligadas a dinossáurios são as que mais visibilidade alcançaram. O professor Galopim é por muitos conhecido como “o avô dos dinossáurios”, um grande impulsionador da “dinomania”. Estas atividades compreendem várias componentes: (1) várias exposições que coletivamente atraíram ao Museu mais de meio milhão de visitantes, algumas estabelecendo

máximos de afluência em Portugal; (2) definição e classificação (legal) de geomonumentos; (3) escavação de jazidas e preservação de fósseis; (4) desenvolvimento de estudos de icnofósseis (nomeadamente pegadas de dinossáurios). É sobejamente conhecida a pedreira do Galinha, com os seus impressionantes trilhos da passagem de grandes herbívoros, devidamente musealizada, ou, num registo de sucesso apenas parcial, a campanha de preservação dos trilhos de pegadas de Carenque, cuja destruição esteve iminente, devido à construção da CREL, mas que foram poupados graças à campanha nacional lançada pelo Professor Galopim. Infelizmente até hoje o sítio continua por musealizar.

O professor Galopim continua infatigável na sua porfia de reconhecimento público das Ciências da Terra. É um grande exemplo para todos nós. Mais ainda, todos os cultores das Ciências da Terra lhe devemos muito: cada artigo que publica no Facebook contribui para abrir e alisar os caminhos que vamos percorrendo nos vários domínios da nossa profissão, em que contribuímos para a qualidade de vida da sociedade em geral, desde o fornecimento de recursos naturais à preservação do ambiente, sem esquecer a busca das grandes respostas, como a origem da vida, da Terra e do universo, afinal uma das maiores diferenças da espécie humana.

Bem-haja, Professor Galopim.

Intervenção de António Ribeiro

Professor Carriço, Luís Carriço, é um prazer e uma honra voltar à minha escola.

Colega Luís Galego Lopes hoje para mim é um dia de alegria e digo de alegria porque nos últimos tempos no último ano e meio tenho perdido pessoas que me são próximas. Há cerca de ano e meio foi o colega José de Almeida Rebelo, com quem trabalhei anos em Trás-os-Montes e a quem se deve o cálculo, por exemplo, do jazigo de ferro de Moncorvo. Depois o colega Miguel Ramalho professor nesta faculdade e diretor dos [antigos] Serviços Geológicos de Portugal. Depois o professor António Serralheiro, que fez parte da secção de geodinâmica a meu convite e não quero esquecer o ex-presidente Jorge Sampaio que está ligado à nossa universidade. Eu fui padrinho do doutoramento honoris causa, que a Universidade lhe concedeu, por escolha dele e por escolha dele porque nos conhecíamos bem desde a crise académica de 1962.

Portanto, estar hoje com o Marcos é para mim um dia de alegria que espero que compense estas perdas todas. Eu fui colega do Marcos aqui na faculdade, mas depois sobretudo em Paris onde ele

estava a estudar Paleontologia (briozoários) e eu soube que havia um curso, trósieme cicle, equivalente aos nossos mestrados, em Sedimentologia. E fui eu que o desviei da paleontologia. Não estou nada arrependido!

Os paleontólogos que me desculpem, mas para mim a Geologia começa com o Nicolau Steno, com os princípios da estratigrafia estabelecidos na Toscânia e, portanto, o registo sedimentar é fundamental, é a base da Geologia. Eu não sou geólogo sedimentar, sou estruturalista e, portanto, não há aqui conflitos de interesses, antes pelo contrário. Suponham que o médico de família não sabe para que especialista é que há-de mandar o seu doente… Nós temos que ter uma formação geral de Ciências da Terra e, portanto, não estou nada arrependido!

Depois, em Paris, onde vivíamos numa pequena comunidade no mesmo hotel, chegámos a seguir as excursões do professor Pierre Mirod, que foram fundamentais para ligar a Geomorfologia, através de códigos correlativos, à sedimentologia. Recordo as excursões que fizemos nos Alpes e noutros sítios

e depois as excursões que fiz com ele na bacia do Tejo e até à beira-mar.

Os oradores anteriores já falaram da atividade do professor Galopim como divulgador e como diretor do Museu [Nacional de História Natural e da Ciência], da Geologia Marinha, e vou terminar só com uma história que é verdade. Um colega nosso, cujo nome não vou dizer, disse: “ah, vamos gastar dinheiro com Carenque que não tem interesse nenhum, ao passo que a pedreira do Galinha é muito importante”. Eu só lhe respondi que sem Carenque não havia Galinha, porque houve uma pessoa, que se chama Galopim de Carvalho, que ao divulgar os dinossáurios permitiu que os trabalhadores da pedreira do Galinha percebessem o que estavam a fazer. Calou-se!

Portanto, eu calo-me também.

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Apostar na Geologia é

destacar-se no setor dos recursos minerais: Entrevistas a Ana Antão e Rui Frutuoso

Ana Maria Antão, professora no Instituto Politécnico da Guarda, foi a primeira geóloga de mina em Portugal. No plano científico, atua nas áreas das Ciências Naturais e das Ciências da Terra e do Ambiente. É, por isso, a pessoa certa para analisar o intricado balanço entre o respeito pela natureza e a exploração de recursos geológicos.

Rui Frutuoso, geólogo de prospeção, lidera o grupo de trabalho em Recursos Minerais da APG. Conhece bem a atividade mineira e não descura a importância da sustentabilidade para o sucesso de qualquer mina. O seu discurso reflete a experiência de quem já esteve ligado a diversos projetos mineiros em vários países.

A Associação Portuguesa de Geólogos questionou Ana Maria Antão e Rui Frutuoso sobre a realidade recente do setor dos recursos minerais. As entrevistas foram obtidas em julho de 2021.

1 – A professora leciona em cursos que não estão diretamente ligados à Geologia. Como se transmite o conhecimento da Geologia a quem não é desta área?

No meu entender, é necessário primeiro enquadrar o assunto. A Geologia de Engenharia está bem definida pela Associação Internacional de Geologia de Engenharia e Meio Ambiente (IAEG): “É a ciência dedicada à investigação, estudo e solução dos problemas de engenharia e meio ambiente decorrentes da interação entre

as obras e atividades do Homem e o meio físico geológico, assim como ao prognóstico e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparadoras de riscos geológicos.” Feito este enquadramento inicial, a apresentação dos chamados “case study” nacionais e internacionais de grandes ou pequenas obras, desperta sempre a atenção aos futuros técnicos de engenharia (civil, ambiental, topográfica, etc.) para o desafio que é trabalhar neste planeta! Além dessa responsabilidade, a realização de trabalhos laboratoriais de índole prática, assentes na caracterização expedita do material rochoso onde irão desenvolver futuros trabalhos, permite-lhes ter uma noção real da diversidade e individualidade dos materiais e da necessidade de os conhecer bem.

2 – Qual é o peso da Geologia na sociedade atual, que precisa de respeitar mais o ambiente e que caminha para a economia circular?

Atendendo às atuais diretivas da União Europeia relativamente à economia circular e ao European Green Deal, a Europa no seu todo, e Portugal especialmente, deveriam tomar este desígnio como uma responsabilidade (leia-se obrigação). Assim deveria ser transmitido ao longo de todo o ensino pré-universitário noções e conceitos muito específicos sobre as potencialidades geológicas de cada país. Não percebo ainda muito bem, como ensinamos aos jovens as serras, os rios, as zonas de floresta e cultivo sem lhes dar a conhecer que isso só é possível devido às características geológicas do terreno. Definir e divulgar o conhecimento geológico de cada país deveria ser obrigatório, pois esse conhecimento irá trazer uma maisvalia importante na gestão dos recursos naturais (minerais), e na sua otimização, potenciando o desenvolvimento de novas técnicas de extração e prospeção menos onerosas para o meio ambiente, e o aparecimento de soluções inovadoras para novos produtos e técnicas. Estas novas soluções deveriam levar à extração de produtos geológicos endógenos de cada região ou país em desfavor da importação de produtos de outros continentes onde a sua extração e transporte leva a uma maior pegada ecológica.

Ana Antão

3 – Recordemos agora a sua atividade como geóloga de mina. Na logística mineira cruzam-se diversas profissões, desde a Engenharia de Minas até ao ofício mineiro. Qual é exatamente a função do geólogo na atividade mineira?

Será sempre o elo de ligação entre a compreensão da estrutura geológica do subsolo e dos trabalhos que se pretendem levar a cabo. O primeiro impacto desses trabalhos prende-se com a segurança dos bens e das pessoas que aí trabalham. Na minha opinião, um dos trabalhos mais importantes será sempre o de alertar para os perigos geológicos que possam advir dessa atividade, desde subsidências a deslizamentos, ou mesmo abatimentos de zonas. Além dessa função, o geólogo deve conhecer bem a estrutura geológica em questão para poder responder em tempo real aos requisitos que lhe poderão ser apontados: qual a espessura do filão? Qual a sua orientação? Qual a estimativa do teor de minério? Onde poderão estar estruturas de esmagamento (falhas)? Quais as suas características – com água, com argilas, colapsáveis, etc. O conhecimento mais profundo da estrutura geológica irá permitir-lhe

1 – Em que consiste o trabalho de um geólogo de prospeção?

Um geólogo de prospeção tem como função a identificação e definição de depósitos minerais com valor económico. O objetivo principal é descobrir ocorrências de minerais metálicos, industriais, gemológicos, de materiais de construção ou outras comodidades passíveis de serem exploradas. Normalmente trabalham para empresas de prospeção ou mineiras, que estão à procura de novos depósitos para explorar ou desenvolvem

também prever a sua dimensão e, portanto, estimar o tempo de vida útil da mina e propor novas zonas de prospeção dentro dos limites legais. Devido à mais-valia das licenciaturas em Geologia neste país, o geólogo pode coordenar também equipas da área da topografia e da área ambiental.

4 – Na sua opinião, vale a pena ser geólogo mineiro em Portugal?

Sim, mesmo sem minas em atividade! É que a atividade mineira passa também (e muito ) pelas obras subterrâneas (tuneis rodoferroviários, túneis de adução de água, cavidades de armazenamento de materiais, etc.).

Nesta altura de pandemia universal, é necessário refletir bem sobre o paradigma dos recursos próprios de cada país. Os recursos geológicos (metálicos e não-metálicos) vêm a montante de todos os outros. Sem eles não existe sector primário forte que potencie um setor secundário transversal a praticamente todas as atividades, para depois, isso sim, podemos ter um setor terciário florescente em que o turismo e o geoturismo possam realizar as suas atividades.

trabalho no planeamento e expansão de minas já existentes. Outros trabalham como consultores independentes, para órgãos governamentais ou instituições financeiras.

O trabalho de um geólogo de prospeção é fortemente caracterizado pelo trabalho de campo, mas também tem uma componente de escritório e laboratório. Todo o trabalho de prospeção iniciase a partir de uma ideia conceptual ou de uma ocorrência conhecida, pelo que é feito um estudo com base em dados geológicos, informações históricas, análises remotas, entre outros. Também é exigido a compilação da informação que o geólogo recolhe no campo, sendo necessário o processamento dos dados e a preparação das amostras recolhidas para análise laboratorial. O trabalho de campo, normalmente realizado em ambiente rural, é por norma a fase em que o geólogo de prospeção mais gosta de trabalhar. É caracterizada por envolver viagens e exposição a diferentes tipos de ambientes e climas, grandes caminhadas e a realização de diversos trabalhos como a cartografia geológica, recolha de amostras (rocha, solos e sedimentos de corrente) e eventualmente o acompanhamento de sondagens. É um trabalho que apesar de poder ter uma grande exigência física, caracteriza-se por um grande dinamismo.

Rui Frutuoso

2 – Como é a relação de um geólogo de prospeção com a sustentabilidade ambiental?

Atualmente, os geólogos de prospeção têm em forte consideração os três domínios da sustentabilidade, sendo que a sustentabilidade ambiental faz parte das considerações necessárias no estudo e avaliação de um projeto. Ainda existe uma perceção negativa sobre a atividade extrativa, considerada como uma ameaça ao ambiente natural, pelo que este é um dos grandes desafios atuais, demonstrar que o sector extrativo contribui para o bem-estar das gerações atuais sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras. O Pacto Ecológico Europeu reconhece e salienta a importância dos recursos naturais, em especial os considerados como Critical Raw Materials, para a indústria e desenvolvimento tecnológico na contribuição da redução das emissões de carbono. Apesar de a prospeção, por si só, ser uma atividade que pode acarretar impactos nulos ou baixos, as leis regulamentadoras têm vindo a sofrer alterações de forma a estarem enquadradas com as boas práticas europeias e internacionais. Também as empresas têm políticas internas e protocolos de elevada exigência segundo códigos de ética e de sustentabilidade, e os geólogos têm uma formação com bases sólidas no âmbito ambiental. Uma das formas de responder aos compromissos ambientais consiste na aplicação de metodologias não invasivas e mais incisivas como os métodos de geofísica e estudos de deteção remota com recurso a imagens de satélite. Também tem sido comum a reavaliação de antigas explorações e das suas escombreiras. A consideração pelo ambiente, a par da redução dos custos de prospeção e da participação na sociedade desde o início dos trabalhos, contribui para o aumento da consciencialização e confiança das comunidades para com a atividade extrativa.

3 – Que avaliação faz ao setor dos recursos minerais no nosso país?

Apesar de reconhecer o valor de alguns trabalhos realizados e de certas descobertas recentes, considero que o setor dos recursos minerais no nosso país encontra-se bastante estagnado. Nos últimos anos, por falta de vontade política e de problemáticas sociais, houve um abrandamento nos trabalhos de prospeção. Portugal tem um enorme potencial de ocorrência de minerais considerados como críticos e estratégicos, mas é necessário estabelecer uma estratégia de médio a longo prazo de forma a conhecer o território. É necessário dar a conhecer

a prospeção e pesquisa de recursos minerais e a necessidade do sector extrativo para o nosso dia-a-dia.

Os relevantes trabalhos levados a cabo pelo antigo Serviço de Fomento Mineiro no século passado são prova de como estudos sistemáticos podem reverter num importante benefício científico e económico. É importante atualizar e finalizar a cartografia geológica à escala de 1:50.000, proceder-se a trabalhos de campo, reavaliar as ocorrências minerais, estudar toda a cadeia de valor que se pode obter com o sector extrativo e daí poder tirar todos os benefícios. Os dias de hoje colocam-nos desafios sociais e ambientais urgentes de se responder, e mais do que nunca, os recursos minerais são a chave nesta resposta. Verifica-se no mercado europeu uma escassez de matérias-primas, linhas de produção interrompidas por falta de componentes, aumento do preço nos materiais de construção, etc. e para ser possível responder a estas problemáticas, da forma mais sustentável possível, tem de haver uma estratégia nacional séria.

4 – Há lugar para os geólogos de prospeção em Portugal?

Considerando a pequena dimensão de Portugal, este apresenta uma diversidade geológica satisfatória capaz de atrair investimento relevante no sector da prospeção. Conseguimos ter um país atrativo tanto em termos geológicos, como na qualidade dos nossos profissionais. Infelizmente os impasses e atrasos relacionados com a entrega de áreas, morosidade administrativa e processos pouco transparentes levam a que muito deste investimento privado tenha sido desviado para outros países. Com as metas ambientais propostas pela União Europeia e os desafios tecnológicos que temos pela frente para responder à descarbonização, acredito que com uma boa estratégia governamental e um fomento à atividade prospetiva, haja espaço para os geólogos de prospeção em Portugal.

Instabilidade de encostas: exemplos no Estado de São Paulo, Brasil

Ana Carolina Sanches Canari*, Victor F. Velázquez

Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, Rua Arlindo Béttio, 1000, Ermelino Matarazzo, São Paulo, SP, CEP 03828-000, Brasil

*Autor correspondente: carolinacanari2@gmail.com

Resumo:

A partir de uma examinação direta no campo, uma visão geral é apresentada sobre os fenômenos geológicos através da caracterização prática dos processos. As áreas investigadas exemplificam de maneira clara e objetiva os principais fatores que podem potencializar o movimento de massa. Embora o fenômeno possa ocorrer em cenários geológicos diferentes, a questão central diz respeito aos atributos físicos do substrato rochoso, os quais se configuram como condicionante relevante. As feições tais como estrutura e textura das rochas, bem como a presença de deformação rúptil, ao lado de uma encosta com elevada declividade, são componentes altamente favoráveis para o desprendimento de massa de terra. Visto que esse processo vai além de um fenômeno modelador da superfície terrestre, o mesmo também representa risco para grupos sociais de diversas regiões do planeta. Desta forma, os resultados da pesquisa se mostram potencialmente apropriados para orientar, tanto os profissionais da área como os gestores do planejamento territorial, na análise e descrição das características físicas do substrato que influenciam diretamente no tipo de movimento de massa que cada afloramento pode estar sujeito.

Palavras-chave: Movimento de massa, tipos de rocha, estrutura, textura

Abstract:

From a direct examination in the field, an overview is presented about geological phenomena through the practical characterisation of the processes. The investigated areas exemplify the central question concerning physical attributes of the rocky substrate which are configured as relevant conditions that may potentiate mass movement. Although the phenomenon may occur in different geological settings, the central issue concerns the physical attributes of the rock substratum, which are configured as a relevant conditioning factor. Features such as rock structure and texture, as well as the presence of brittle deformation, together with a steep slope, are highly favourable components for the detachment of the land mass. Since this process goes beyond a modelling phenomenon of the Earth’s surface, it also represents a risk for social groups in various regions of the planet. In this way, the research results show to be potentially appropriate to guide, both the professionals of the area and the territorial planning managers, in the analysis and description of the physical characteristics of the substratum that directly influence the type of mass movement that each outcrop may be subject to.

Keywords: Landslide, rock types, structure, texture

. Introdução

A evolução do relevo terrestre é um processo complexo que envolve uma ação combinada dos agentes internos e externos da dinâmica do planeta Terra (Christiansen & Hamblin, 2015). Identificar e compreender corretamente esses processos naturais podem auxiliar de forma significativa na difícil tarefa da política de planejamento e ocupação espacial (Bobrowsky et al., 2013).

Para avaliar a vulnerabilidade de um ambiente

natural é imprescindível efetuar uma análise morfodinâmica do relevo, através de uma abordagem multidisciplinar, incluindo geologia sedimentar, geomorfologia, geologia estrutural, entre outros (Gregory, 2010; Huggett, 2017). Os resultados advindos desses estudos permitem uma avaliação sistemática do comportamento físico do meio natural e, desta forma, auxiliar os programas que visam soluções práticas aos problemas associados com movimentos de massa, erosão linear e áreas alagadiças. Desastres estes

frequentemente noticiados e vinculados com o crescimento acelerado da urbanização (Tominaga, 2009; Nobre et al., 2010).

No caso dos movimentos de massa, esses possuem maior ocorrência em regiões montanhosas. No entanto, o fenômeno pode ocorrer em lugares onde o relevo local apresenta tensão gravitacional suficiente para induzir desprendimento de rochas ou solo (Guzzetti et al., 2020). Assim, grande parte da população de baixa renda ao ocupar regiões propensas ao movimento, o fazem de forma desordenada, desconhecendo critérios técnicos de fundação. Essa população desfavorecida, ao projetar loteamentos em relevos íngremes através da realização de cortes, aterros e construção de fossas nas bordas do talude, propicia a ocorrência desses movimentos nessas áreas. Por essa e outras razões, esses desastres naturais têm sido alvos de estudos ostensivos, não apenas pela relevância como agentes atuantes na evolução das formas de relevo, mas também pelas implicações práticas no planejamento de ocupação espacial, tanto do ponto de vista econômico quanto social (Sassa et al., 2005).

De forma geral, riscos naturais podem ser definidos como fenômenos ou processos naturais

propensos a resultar em danos. A depender da sua origem, é possível classificar em biológico, hidrometeorológico e geológico, sendo este último caracterizado pela dinâmica dos processos endógenos ou exógenos, como por exemplo, movimento de massa (Bolt et al., 1975; Hunt, 2007), foco deste trabalho. Nesse enquadramento, risco é essencialmente a possibilidade de ocorrer um desprendimento de massa, seja de indução natural ou antrópica, e que constitui ameaça potencial de perdas ou danos materiais e, em casos mais extremos, vítimas fatais da comunidade afetada (Carvalho & Galvão, 2006; Shroder & Davies, 2015).

Com base no exposto acima, foram selecionadas quatro áreas diferentes no estado de São Paulo, Brasil (Fig. 1) possíveis de identificar condições potenciais ao risco geológico. Nesse contexto, o artigo tem um objetivo duplo: de um lado, analisar um conjunto de elementos geológicos, geomorfológicos (Fig. 2) e da cobertura vegetal em cada estação e, de outro lado, obter um panorama geral sobre a vulnerabilidade e o risco iminente de ocorrer movimentos de massa em função desses atributos físicos.

Figura . Mapa de localização das estações. Figure 1. Location map of the stations.

. Modelo digital de terreno das estações inseridas no contexto do embasamento cristalino e da Bacia de Taubaté no Estado de São Paulo. O asterisco branco na imagem indica o local dos afloramentos estudados.

Figure 2. Digital terrain model of the stations inserted in the context of the crystalline basement and of the Taubaté Basin in São Paulo State. The white asterisk on the image indicates the location of the studied outcrops.

- Contextualização do movimento de massa

Para qualquer abordagem sobre risco ou vulnerabilidade de movimento de terra é necessário considerar a variedade de processos e a diversidade de ambientes geológicos, geomorfológicos e climáticos, nos quais esse fenômeno pode ocorrer. Algumas características ou elementos do substrato físico podem contribuir para potencializar o risco, como a litologia, declividade da encosta, chuva, uso do solo, etc. (Guidicini & Nieble, 1976; Werner & Friedman, 2010; Schroder & Davies, 2015; Pradhan & Siddique, 2019). Para além das condições mencionadas, o crescimento desenfreado da população é um dos principais fatores que agravam qualquer risco.

O movimento de massa pode ser definido como um fenômeno geológico que inclui quedas de rochas, deslocamento de taludes, fluxos de detritos rasos, entre outros, com possibilidade de se manifestar em diferentes ambientes (Varnes, 1978). Embora a tensão gravitacional seja a principal força motriz para a movimentação do material, existem outros fatores, tais como, a estrutura e textura da litologia,

as quais determinam condições específicas para que uma superfície com declividade acentuada se torne propensa ao movimento (Guidicini & Nieble, 1976; Clague & Stead, 2012; Huggel et al.,2012; Pradhan & Siddique, 2019).

O movimento de massa, vinculado às vertentes, evidencia elevada complexidade e, por esse motivo, apresenta uma diversidade de definição e classificação na literatura. Alguns autores levam em consideração as características e os perfis específicos das encostas para identificar o tipo de movimento que atingiu a região (Guidicini & Nieble, 1976).

Segundo Highland & Bobrowsky (2008), os movimentos podem ser classificados, a depender das características do material desprendido e de sua velocidade, como queda, tombamento, escorregamento e escoamento (Fig. 3) .

Quedas são caracterizadas por movimento de altas velocidades que envolvem blocos grandes e/ ou materiais de pequeno porte, em queda livre, nas regiões íngremes, sendo mais frequente nas encostas de declividade acentuada e áreas costeiras (Cunha, 1991; Highland & Bobrowsky, 2008). No caso dos tombamentos, ocorrem com velocidade inferior que as quedas e podem envolver solos e/ou

Figura

rochas, com possível ocorrência ao longo de cursos de rios, particularmente em aqueles com margens íngremes (Cunha, 1991; Highland & Bobrowsky, 2008; Pradhan & Siddique, 2019).

Escorregamentos, também conhecidos como deslizamentos, são movimentos rápidos de solo, rocha, ou ambos, com volume de massa geralmente bem definido e duração relativamente curta, cujo centro de gravidade se desloca para fora do talude (Guidicini & Nieble, 1984; Cunha, 1991). Em função da fraqueza dos materiais e da natureza do plano de fratura, os mesmos podem ser divididos (Fig. 3) em translacional e rotacional (Cunha,

1991). Os escoamentos são fenômenos mais raros que os escorregamentos, porém, podem provocar consequências de magnitudes maiores, devido ao seu extenso raio de alcance, mesmo em áreas com pouca declividade. O grande poder destrutivo do escoamento está relacionado às deformações ou movimentos contínuos (Cunha 1991), podendo ser caracterizados como corridas e rastejos (Guidicini & Nieble, 1984).

Durante o levantamento de campo, não foram observados casos de escoamento, estando todas as estações sujeitas ao movimento de queda, tombamento ou escorregamento.

- Materiais, métodos e aquisição de dados

Quatro áreas com características geológicas e geomorfológicas marcadamente diferentes foram selecionadas. A obtenção, tratamento e integração dos dados se desdobraram em, pelo menos, três etapas. Num primeiro momento, a atenção foi voltada para homogeneizar as informações compiladas (tabelas, figuras e imagens) da literatura, as quais compõem o banco de dados iconográficos. Posteriormente, um levantamento de campo para caracterizar as feições geológicas, incluindo os tipos de rocha, estruturas, e os fenômenos de intemperismo e erosão associados, foi realizado. Além dos perfis descritivos com registros fotográficos, uma avaliação minuciosa dos

afloramentos, focalizando área vulnerável à erosão, encostas com pendente acentuada, entre outros, foram priorizadas. A descrição e caracterização dos tipos de movimento foram feitas seguindo as orientações constantes das seguintes referências bibliográficas: Highland & Bobrowsky (2008), Werner & Friedman (2010) e Clague & Stead (2012). E, finalmente, a integração e a interpretação desse conjunto de informações permitiram diagnosticar e caracterizar adequadamente, em cada estação, o movimento de massa associado.

Figura . Representação esquemática dos tipos de movimento de massa segundo Highland & Bobrowsky, 2008.
Figure 3. Schematic representation of landslides type according to Highland & Bobrowsky, 2008.

. Caracterização das condições geológicas e suscetibilidades de movimento de massa

Taubaté

Ao leste do Estado de São Paulo, entre as serras do Mar e da Mantiqueira, e ao sul do Rio Paraíba do Sul, situa-se uma parte do Rift Continental do Sudeste do Brasil, o qual é composto por diversas falhas decorrentes de intensa atividade tectônica, que

permitiram a deposição da Formação Tremembé/ Taubaté na bacia homônima (Riccomini, 1989; Carvalho & Vidal, 2011). A estação Taubaté localiza-se em uma área de exploração da empresa Aligra Indústria e Comércio de Argila, com uma extensão de aproximadamente 320 mil m2 (Aligra, 2020), onde é possível observar camadas sedimentares com colorações diferentes, tornando evidente, rapidamente, os distintos litotipos (Fig. 4).

Figura . a) Vista parcial do depósito flúvio-lacustre na região de Taubaté; b) feições de erosão linear na camada superior do depósito de arenito; c) deformação das folhas finas sobrepostas e manchas de óxido de ferro.

4. a) Partial view of the fluvial-lacustrine deposit in Taubaté region; b) linear erosion features in fine sandstone deposit; c) deformation of the fine shales superpost, and iron oxide occurrence.

Da base para o topo (Fig. 4a), o afloramento apresenta as seguintes características: (i) a camada inferior apresenta uma coloração mais escura, com presença de argila; (ii) a camada intermediária é composta por folhelho pouco compactado e disposta em forma de finas lâminas paralelas, com nítida deformação rúptil intraformacional e (iii) finalmente, a última seção é constituída por um material arenoso, que em função ao tamanho de suas partículas, pode ser classificada em arenito-psamítico (Filho, Atencio & McReath, 2000). Esta associação litológica sugere um ambiente flúvio-lacustre, onde foram observados fósseis de folhas, restos de plantas vasculares e microcrustáceos (Riccomini, 1989; Toledo, 2014).

Na camada superior, o arenito psamítico, com granulação fina, é possível observar regiões de alta erosividade e presença de fraturas, permitindo a separação dos blocos e a ocorrência de erosão linear, acarretando a formação de voçorocas (Fig.4a). Devido à baixa coesividade do material,

é possível presumir um movimento de queda, com velocidade elevada. O tamanho e a quantidade de material desprendido podem variar de pequenos a grandes blocos, dependendo da profundidade das fraturas (Fig. 4a,b).

Ao contrário do arenito, as outras duas unidades encontram-se confinadas entre camadas horizontais (Fig. 4c), sem oferecer grande risco de movimento de massa. No entanto, em uma situação hipotética (Fig. 5), em que as finas camadas de folhelho venham a coincidir com o plano de declividade do relevo e o plano de fratura, as características particulares intrínsecas do material, caracterizariam um movimento de tombamento, com alto risco.

Figure

Figura . Diagrama esquemático ilustrando um corte idealizado com declividade acentuada.

Figure 5. Schematic diagram illustrating an idealized cut with accentuated slope.

Pico do Jaraguá

Com 1135 m de altura, o Parque Estadual do Jaraguá ou Pico do Jaraguá é um marco geográfico da região de São Paulo, sendo o ponto mais alto da cidade (Fig. 6a). Por se tratar de um

morro testemunho, é um importante pólo de estudo geológico, além de preservar os últimos remanescentes da vegetação da Mata Atlântica na cidade (Letta & Velázquez, 2008; São Paulo sp.gov., 2020; Piritubanet, 2020). A diversidade litológica presente no parque tem promovido diversos tipos de pesquisas.

O micaxisto, com granulação fina, apresenta notada xistosidade vertical multilaminada, com presença dominante de minerais micáceos, que caracterizam uma típica textura lepidoblástica (Fig. 6b,c). A presença de óxido de ferro ao longo dos planos destaca a xistosidade da rocha (Cordani et al., 1961). Já o quartzito possui textura granoblástica poligonizada, com os grãos de quartzo exibindo junção tríplice de 120°. Também podem ser observadas várias fraturas pervasivas paralelas, com mergulho dos planos para S45ºE e fraturas conjugadas verticais e subverticais, que na intercepção entre os planos surgem blocos poligonais com dimensões variáveis (Fig. 6d, 6e, 6f). Ao comparar os dois tipos de rochas no afloramento, é possível constatar uma nítida diferença no grau de intemperismo, o qual influencia diretamente a resistência mecânica do material.

Figura 6. a) Imagem de satélite do Pico do Jaraguá; b) afloramento de micaxisto em corte de estrada; c) foliação acentuada no micaxisto; d) declividade acentuada em quartzito; e) detalhe das fraturas paralelas sistemáticas em blocos de quartzito; f) fraturas conjugadas em blocos de quartzito.

Figure 6. a) Satellite image of Pico do Jaraguá; b) outcrop of mica schist in cut of road; c) prominent foliation in mica schist; d) steep slopes in quartzite; e) detail of the systematic parallel joints in quartzite blocks; f) conjugate fractures in quartzite blocks.

É importante ressaltar que a inclinação acentuada do terreno, presença limitada de vegetação e o grau de intemperismo são fatores que podem potencializar a ocorrência de movimento de massa distinto. Desta maneira, e em virtude da elevada inclinação e a ocorrência evidente de estruturas rúpteis, o local apresenta alto risco para queda de blocos. No caso do micaxisto, a característica lamelar advinda da associação mineralógica, a acentuada xistosidade e os planos de fraqueza existentes tornam a estação uma área de elevado risco para deslizamento translacional (Cunha, 1991; Highland & Bobrowsky 2008).

Perus

A estação de Perus é um afloramento de corte de estrada e, em parte, representa uma antiga pedreira (Fig. 7). No local, é possível observar uma rocha metamórfica de baixo grau, com clivagem ardosiana, grãos médios a finos de muscovita, quartzo e sericita, e com textura lepidoblástica, definida pela orientação paralela ou subparalela da assembleia mineralógica (Cordani et al., 1961; Ruberti, Szabó & Machado, 2000).

Na parte central da Figura 7b é possível observar uma cicatriz, a qual caracteriza um movimento de massa pretérito no local, que mostra claramente o desprendimento acontecido ao longo do plano da clivagem ardosiana. A título de exemplo, a árvore na beira da encosta (Fig. 7a) evidencia, de maneira eloquente, a ação sucessiva de erosão comprometendo a estabilidade do substrato. Desta forma, é importante destacar que, ainda com a presença da vegetação rasteira, responsável pelo aumento da permeabilidade dos solos, a mesma é pouco eficiente para impedir o movimento de massa.

A exposição da ardósia no corte de estrada faz com que a região esteja sujeita ao tombamento, com velocidade acelerada. Potencializado pelo plano de clivagem ardosiana, a quantidade de material desprendido pode variar de pequenos a grandes blocos. Além disso, a exposição representa uma clara situação em que, como resultado da ação antrópica sem planejamento, a intervenção pode impulsionar o movimento de massa. O cenário não se torna, somente, de alto risco, porque a área não representa local residencial, nem mesmo uma estrada de alto fluxo.

Figure 7. a) Disable

in cut of road next Perus region; b) preterite exposed landslide surface; c) detail of the fine-grained parallel foliation in slate.

Figura . a) Pedreira de ardósia desativada em corte de estrada na região de Perus; b) cicatriz de movimento de massa pretérito; c) detalhe da fina clivagem ardosiana.
slate quarry

Na região de Santana de Parnaíba, ao lado direito da Igreja Matriz, ocorre uma exposição de parte de um batólito granítico. A textura fanerítica grossa reúne uma associação mineralógica que inclui, em ordem de abundância, feldspato potássico, quartzo, plagioclásio e biotita/anfibólio (Araújo & Martins, 2015). O processo intempérico acentuado tem possibilitado a formação de grandes blocos arredondados, ou matacões, que se destacam prontamente na paisagem local (Fig. 8).

Para além da dominante presença dos blocos graníticos, a estação permite explorar diversos processos geológicos que modificaram a superfície terrestre ao longo do tempo. Destaca-se a presença de espesso manto de intemperismo, onde é possível distinguir várias camadas de solos bastante desenvolvidas e ocorrências restritas de pequenos blocos graníticos arredondados. Nota-se também a presença de raízes entre as fraturas dos blocos, revelando nítida atividade biológica (Fig. 8b). Associado a este processo, os blocos evidenciam desagregação física e química dos minerais, caracterizada pela ocorrência de camadas intempéricas concêntricas (Fig. 8c).

A encosta íngreme de corte de estrada, com caimento para SE, é favorável para uma intensa erosão pluvial da superfície exposta. De maneira semelhante, a vegetação acima do batólito indica atividade biológica intensa no afloramento, que

contribui naturalmente para aumentar o processo de instabilidade do material. O risco para o movimento de massa, neste caso específico, queda de blocos, torna-se evidente devido ao fato do material intemperizado ser menos coeso, com probabilidade notória de acontecer o seu desprendimento. Na Figura 8c, a porção acima da caneta, o material desagregado de coloração avermelhada contrasta nitidamente com o núcleo da rocha intemperizada, nas quais é possível observar várias superfícies de movimento de massa preexistente. Igualmente, o crescimento da raiz entre as fraturas exerce uma pressão contínua sobre os blocos, induzindo o movimento.

5. Considerações finais e recomendações

A Tabela 1 reúne as principais feições geológicas que foram cadastradas em cada afloramento durante o levantamento de campo. Dados sobre litologia, estrutura, textura, superfície e a presença ou ausência de vegetação, são essenciais para entender melhor os distintos tipos de movimento de massa. Além dessas características intrínsecas do substrato rochoso, o relevo local ou o grau de declividade da superfície do terreno e o grau de intemperismo e erosão também são fatores importantes que devem ser levados em consideração, visto que esses fenômenos influenciam diretamente na intensidade do movimento.

Figura 8. a) Afloramento de blocos de granito em Santana de Parnaíba; b) presença de raiz de árvores em zona de fraturas de rochas graníticas; c) núcleo de intemperismo em bloco de granito.
Figure 8. a) Outcrop of granite blocks in Santana de Parnaíba; b) tree roots inserted into fractures granitic rocks; c) corestone in granite blocks.

Os diferentes tipos de estruturas (foliação, clivagem, xistosidade, fratura, falha e estratificação) mostraram-se como fatores condicionantes para o movimento. Além desses atributos físicos, o movimento pode ser agravado pela ocorrência de vegetação de grande porte, como exemplificado na estação de Santana de Parnaíba. Afinal, a pressão exercida pela raiz nas fraturas das rochas influencia nitidamente a estabilidade dos blocos graníticos. A inclinação das encostas nos distintos tipos de relevo é outro elemento importante. Como ilustrado na estação de Taubaté, as camadas sedimentares pouco coesas, dispostas horizontalmente, não representam risco iminente. Contudo, em obras cujo talude apresenta declividade acentuada, o mesmo cenário geológico passaria a ser catastrófico (Fig. 5).

Com base no que foi exposto, buscou-se deixar evidente a importância e a necessidade do conhecimento geológico na realização de cortes de estradas e taludes, afim de conhecer as características de cada local, e assim, tomar as ações necessárias através do conhecimento de engenharia para não induzir condições de risco que antes não existiam, na medida em que uma superfície exposta sem risco aparente pode ter sua estabilidade comprometida, em função do tipo de obra executada. Neste contexto, é muito comum encontrar taludes construídos em cortes de estrada, em que, devido à nova configuração geométrica dos materiais desconfinados, tornam-se propícios para o movimento de massa (Cunha, 1991; Highland & Bobrowsky, 2008).

Levando em consideração que a extensão das unidades geológicas não se limita unicamente nos locais visitados, os dados apresentados sobre os diferentes ambientes geológicos com potencial movimento de massa oferecem inúmeras possibilidades de aplicação prática. A título de exemplo, uma avaliação cuidadosa dos parâmetros da variação brusca de nível de um local para outro, do tipo e densidade da cobertura vegetal, das propriedades físicas intrínsecas do substrato, e dos processos de intemperismo e erosão (Fig. 9) em áreas urbanas, proporcionará informações relevantes para alertar a população que reside em regiões suscetíveis ao risco geológico, bem como para auxiliar os profissionais da área da engenharia para uma melhor análise, planejamento e execução de obras de grandes portes, e, desta forma, evitar futuros desastres com consequências irreversíveis à sociedade.

Cabe destacar ainda que, no escopo deste artigo, as informações reunidas transcendem os limites estritamente teóricos da divulgação de uma expressão acadêmica; e busca-se, assim, promover uma reflexão crítica em duas vertentes. Em uma, salientar quanto à importância da compreensão clara e monitoramento permanentemente das condições naturais de estabilidade do substrato geológico e, em outra, orientar os gestores da administração pública, bem como a população em geral, da necessidade de um planejamento territorial adequado.

Tabela . Conjunto das características avaliadas em cada estação e a susceptibilidade de movimento de massa associado. Table 1. Avaliatived chacarcterístics set of each station and its associated landslide susceptibility.

Local Litologia Estrutura Estrutura Superfície Vegetação Movimento de Massa

Arenito

Taubaté

Pico do Jaraguá

Estratificação paralela Detrítica

Corte de encosta Baixa Vegetação Queda

Siltito, Folhelho Laminação paralela Detrítica Tombamento

Micaxisto Foliação Lepidoblástica

Quartzito Maciça Granoblástica

Perus Ardósia Clivagem ardosiana Lepidoblástica

Santana de Parnaíba Granito Maciça Porfirítica

Corte de Estrada Reflorestamento Deslizamento Translacional

Encosta Íngreme Vegetação Rasteira Queda

Corte de Estrada Removido Tombamento

Corte de Estrada Reflorestamento Queda

Tabela 1. Sumário das principais feições cadastradas

Agradecimentos

Agradecemos aos profissionais que trabalham nos parques por disponibilizarem a área de estudo, e aos técnicos do laboratório da Escola de Artes, Ciências e Humanidades pelo suporte. Igualmente, estendemos os nossos reconhecimentos aos os revisores anônimos pela cuidadosa leitura e comentários profícuos.

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Figura . Principais critérios a serem considerados para avaliar a instabilidade de encostas.
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Avaliação do Impacto das alterações do uso do solo na recarga e no risco de contaminação da água subterrânea

Nuno Barreiras, João Nascimento, Patricio Pliscoff, Claudia Galleguillos, Luís Ribeiro

1CERIS - Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, nuno.barreiras@tecnico.ulisboa.pt

2CERIS - Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, jnascimento@tecnico.ulisboa.pt

3Universidad Católica de Chile, Av Libertador Bernardo O’Higgins 340, Santiago, Región Metropolitana, Chile

4Fundación Chile - Avenida Parque Antonio Rabat Sur 6165, Vitacura, Santiago de Chile

Resumo

O presente trabalho incluiu no seu âmbito a avaliação da distribuição espacial da recarga de água subterrânea, a delimitação das áreas principais de recarga e a avaliação do risco de contaminação na bacia hidrográfica do rio Maule (Chile), para dois anos: 1995 e 2016. Pretendeu-se assim, averiguar a evolução das áreas de máxima infiltração e impactos do uso do solo nos processos de recarga, com vista à otimização das estratégias de gestão dos recursos hídricos. Na fase exploratória dos dados, aplicaram-se vários métodos estatísticos, tais como análise espacial e avaliação de tendências temporais. Para o estudo da recarga e do risco de contaminação, aplicou-se o modelo WetSpass-M e o Índice de Susceptibilidade (IS). A metodologia aplicada permitiu conhecer de que forma é que as alterações antrópicas influenciam a vulnerabilidade dos aquíferos da bacia. Entre 1995 e 2016 verificou-se uma alteração do padrão espacial da recarga, relacionada com a conversão de áreas naturais em plantações florestais e com a expansão urbana. São apresentadas ainda algumas conclusões como parte da definição de medidas de proteção e gestão das águas subterrâneas, melhor controlo da evolução da piezometria e risco de contaminação.

Palavras-Chave: Recarga, vulnerabilidade, Wetspass, gestão de aquíferos, gestão de recursos hídricos

.

Introdução

Este trabalho enquadra-se na iniciativa “Escenarios Hídricos 2030, Fase II”, promovida e desenvolvida pela Fundación Chile, Fundación Futuro Latinoamericano e pela Fundación Avina. Teve a colaboração de várias equipas chilenas, nomeadamente a equipa do projeto Escenarios Hídricos 2030, das Aguas da Fundación Chile, e do Centro de Ecología Aplicada, que contribuíram direta ou indiretamente para a concretização dos objetivos do projeto. Este estudo pretende contribuir para a segurança e sustentabilidade dos recursos hídricos no Chile, nomeadamente para o horizonte 2050, através do desenvolvimento de um Plano Nacional de Segurança Hídrica. A área de estudo engloba a totalidade da Bacia Hidrográfica do Rio Maule, com uma área aproximada de 21 052 km2, e que se localiza a sul da região metropolitana de Santiago do Chile e de Valparaíso. A população residente na região é de aproximadamente um milhão de habitantes, distribuídas pelas várias cidades, e localizadas essencialmente na zona central da bacia.

O trabalho da equipa do CERIS-IST consistiu na elaboração do cálculo da distribuição espacial da recarga, na delimitação das principais áreas de recarga e na avaliação do risco de contaminação para toda a bacia, para dois horizontes temporais: 1995 e 2016. Pretendeu-se assim, averiguar a evolução das áreas de máxima infiltração e impactos do uso do solo nos processos de recarga, com vista à otimização das estratégias de gestão dos aquíferos. A abordagem teve por base metodologias transversais (análise temporal e espacial) e específicas: modelo Water and Energy Transfer between Soil, Plants and Atmosphere (WetSpass-M) e Índice de Suscetibilidade (IS). Ambos os modelos apresentam resultados espaciais.

. Metodologia e Materiais

Para a estimativa da recarga considerou-se o modelo WetSpass que avalia a distribuição das

componentes do balanço hídrico a longo prazo. Este modelo está integrado num ambiente SIG e o seu desenvolvimento teve como base o modelo de distribuição espacial de balanço hídrico (Batelaan et al. 1996; Wang et al. 1996; Batelaan e De Smedt 2001).

O WetSpass considera como dados e entrada variáveis físicas (declive, tipo de solos e uso do solo) e climatológicas (precipitação, temperatura, evapotranspiração potencial, velocidade do vento).

Além destas considera ainda a profundidade do nível freático, uma vez que o modelo WetSpass foi codificado para de uma forma iterativa relacionar continuamente a posição do nível freático e a estimativa de recarga.

Como dados de saída, o modelo WetSpass fornece mapas do tipo raster com a distribuição da recarga numa área de estudo, independentemente da escala espacial. Estes mapas constituem informação altamente relevante para modelos regionais de escoamento de águas subterrâneas, que geralmente assumem um valor relativamente uniforme para toda a área modelada (Batelaan e De Smedt 2007). A aplicação deste modelo tem vindo a mostrar bons resultados em vários ambientes e regiões climatológicas, devido à versatilidade na configuração dos seus parâmetros de calibração.

Mais recentemente, o WetSpass foi atualizado para um modelo de balanço hídrico mensal, denominado WetSpass-M (Abdollahi et al., 2017). Enquanto o modelo original WetSpass simula todos os processos hidrológicos numa escala de tempo sazonal (por exemplo, 1 ano), o WetSpass-M calcula a distribuição espacial e mensal da recarga.

A aplicação típica deste método consiste em três etapas:

1) compilação e processamento de dados; 2) simulação da recarga e outros componentes do balanço hídrico usando WetSpass-M; 3) calibração e análise dos resultados.

A primeira fase de implementação do modelo é geralmente a fase mais demorada pois inclui a compilação e sistematização de toda a informação, preenchimento e tratamento das séries de clima, cálculo da evapotranspiração potencial, interpolação espacial de todas as variáveis e atribuição dos parâmetros do modelo às classes das variáveis físicas. Anteriormente a esta fase deverão ser estalecidos os limites do modelo e a resolução espacial (número de linhas e colunas).

A segunda tarefa refere-se à execução do modelo, dependendo o tempo de simulação da extensão e resolução do modelo e capacidades do equipamento para processamento informático.

Para este trabalho foi utilizado um servidor dedicado a fim de minimizar os tempos de execução e processos de calibração.

A terceira etapa consiste na avaliação e calibração dos resultados face ao conhecimento do tereno ou revisão bibliográfica. O processo de calibração inclui uma análise de sensibilidade e calibração dos parâmetros associados a cada um dos tipos de solo e classes de uso do solo, fatores decisivos para a calibração do modelo Os parâmetros de calibração estão exemplarmente descritos em Abdollahi et al. (2017).

No presente estudo, após a calibração do modelo para o ano 1995, simulou-se novamente com o uso do solo de 2016 para se conhecer os impactos desta alteração no balanço hídrico.

Os mapas de uso do solo para os dois horizontes temporais, teve por base a análise do estado atual dos ecossistemas terrestres associados a duas bacias do Chile central: Maipo e Maule (Pliscoff, 2020). Nesse trabalho foram delimitados espacialmente os vários tipos de ecossistemas e foi feita uma categorização utilizando métodos de deteção remota. Assim, para que os dois períodos pudessem ser comparáveis, e com a mesma classificação, foi aplicada uma metodologia baseada na análise da perda e fragmentação de ecossistemas, seguida de uma análise do uso do solo de origem antrópica, e finalmente uma análise de ecossistemas específicos (Pliscoff, 2020). Esta metodologia complexa foi aplicada pela equipa do Centro de Ecología Aplicada da Fundación Chile, que gerou resultados não só relativos a uma identificação pormenorizada do uso do solo e da sua alteração entre os dois períodos, para uma grande área e com enormes variantes na topografia, solos, vegetação, ecossistemas e áreas de origem antrópica, mas também relativos à definição de áreas de valor ecológico.

Para criar o mapa de declives considerou-se o modelo digital de terreno com uma resolução de 30 m, tendo sido esta a resolução adotada para o modelo. Quanto à precipitação, após o preenchimento das séries, verificou-se que apesar de haver uma boa representatividade da rede de monitorização, a zona sudeste da bacia apresenta-se desprovida de estações pluviométricas. Para colmatar essa lacuna fez-se uma análise multivariada dos valores de precipitação com as características fisiográficas da bacia hidrográfica, concluindo que a melhor correlação se dava em função de 3 variáveis: altitude, coordenada X, coordenada Y, aplicando assim séries de precipitação para 5 estações virtuais nessa área. Uma vez que a rede de estações de precipitação é bastante densa, não foi necessário interpolar este parâmetro por krigagem com deriva externa, tendo-

-se interpolado diretamente por krigagem após modelação do variograma. O mapa de solos foi feito com base na classificação de Casanova et al. (2013) que foi completada com a informação de geologia e solos da região. Em relação à temperatura, foram consideradas as médias anuais medidas em vários pontos de observação e interpoladas por krigagem. O mapa de evapotranspiração potencial foi obtido a partir da aplicação do Índice de Evapotranspiração de Precipitação Padronizado (SPEI), que foi calculado para o período de 2000-2014 a partir dos produtos de satélite CHIRPS V2 e MOD16 para a precipitação e evapotranspiração, respetivamente (Galleguillos et al., 2017). Os mapas de velocidade do vento foram gerados a partir de informações do Wind Energy Explorer (http://walker.dgf.uchile.cl/ Explorador/Eolico2/), a uma altura de 5.5 metros.

No caso da profundidade do nível freático, e tendo em conta a natureza livre dos aquíferos monitorizados, avaliou-se a relação entre o nível piezométrico medido em 12 piezómetros e a cota do terreno. Uma vez que a relação se aproximava da relação significativa já verificada numa bacia vizinha com um número bastante representativo de piezómetros (Maipo), foi considerada para a interpolação deste parâmetro.

O processo de calibração teve em conta informações e dados relacionados com a recarga de água subterrânea média disponíveis no Diagnóstico do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região de Maule, Relatório Final Volume No. II (2017). Por também serem outputs do modelo WetSpass-M, os parâmetros escoamento superficial e evapotranspiração real foram também considerados na calibração.

Como principais parâmetros de calibração refiram-se os relacionados com o uso do solo, assim como os parâmetros de configuração do modelo, nomeadamente, o coeficiente de rugosidade de Manning (coeficiente de rugosidade superficial relacionado ao uso do solo), o α (para calcular Ch - um coeficiente que apresenta as condições de humidade do solo) e o coeficiente LP (um parâmetro de calibração adimensional que reduz a evapotranspiração potencial em função da humidade do solo).

Após o cálculo da distribuição da recarga, avaliou-se o risco de contaminação por nutrientes. O método considerado denomina-se por índice de suscetibilidade (IS), desenvolvido por Ribeiro (2005), que corresponde a uma adaptação do índice de vulnerabilidade DRASTIC (Aller et al.,  1987). Este índice tem sido aplicado com sucesso em vários ambientes e por vários autores a nível mundial (por ex. Stigter et al., 2005; Ribeiro

et al., 2017, Zhang et al., 2018). A principal alteração é a adição do parâmetro LU (Uso do Solo), que corresponde à ocupação do solo, abandonando assim o conceito de um índice intrínseco (baseado unicamente nas condições naturais). Noutras palavras, o IS foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a vulnerabilidade específica, definida pelos impactos potenciais do uso específico dos solos e dos contaminantes associados a esse uso. O IS é calculado pela soma ponderada dos valores atribuídos a 4 parâmetros do DRASTIC (D, R, A e T) e ao novo parâmetro LU (Eq. 1).

IS = 0 186D + 0 212R + 0 259A + 0 121T + 0 222LU (EQ. 1)

A profundidade do nível freático (D) indica a espessura da zona não saturada. É a distância vertical que a água infiltrada (potencialmente contendo o poluente) percorre até atingir o aquífero. Quanto menor a profundidade do nível freático, maior a probabilidade de o poluente atingir o aquífero.

A recarga (R), neste caso dada pelo Wetspass-M, é a quantidade de água por unidade de área que alimenta o aquífero. Esse processo é o principal vetor de entrada do contaminante, quanto maior a recarga, maior a probabilidade de o contaminante atingir o nível freático.

O material do aquífero (A) determina a mobilidade do poluente que por ele passa. Quanto maior o tempo de residência do poluente no aquífero, mais atenuados são os seus efeitos.

A topografia (T) contribui para o cálculo do índice com base no declive. Quanto maior a inclinação, menor o potencial de contaminação, devido ao aumento do escoamento superficial.

O parâmetro LU define o tipo de uso. Para isso, o uso do solo é dividido em classes, aplicando-se a classificação apresentada em Ribeiro (2005).

Finalmente, procedeu-se ao cruzamento dos mapas das áreas de recarga máxima com o mapa do IS, de modo a classificar espacialmente para essas áreas, o risco associado à contaminação por nutrientes. Assim, foi possível providenciar uma ferramenta de relevo para a definição de medidas de proteção e gestão das águas subterrâneas, nomeadamente das principais áreas de recarga em aquíferos de maior importância.

. Resultados

Com base na informação providenciada por Pliscoff (2020) analisa-se a variação do uso do solo na bacia do rio Maule. A ocupação correspondente às diferentes categorias em toda a bacia, para os anos de 1995 e 2016, é apresentada no gráfico da Figura 1. Como se verifica as classes que ocupam mais área na bacia do Maule são a “Agricultura” (28,0% em 1995; 24,4% em 2016), o “Matagal andino” referente a zonas de matas e matagais em zonas altas dos Andes (26,9% em 1995; 25,7% em 2016) e as “Plantações florestais” referente a plantações de floresta essencialmente de pinheiros e carvalhos (10,0% em 1995; 18,0% em 2016). No caso do Maule, observam-se alterações importantes nas áreas ocupadas por plantações florestais, que praticamente duplicaram entre os dois períodos analisados. No gráfico apresentam-se a importância relativa de cada classe assim como área ocupada (km2).

A evolução do uso do solo é também apresentada espacialmente na Figura 2, onde se pode ver a distribuição das várias classes de uso do solo para cada ano analisado. As figuras mostram que o uso do solo na região está fortemente associado à geomorfologia da bacia. Por isso, a leste, nas áreas montanhosas, encontram-se as áreas de

matagal andino e floresta caducifólia andina. Na transição entre a zona montanhosa e a zona centro existem também áreas de plantações florestais, que cresceram significativamente entre os períodos analisados. Este facto é também visível na faixa costeira. Outro fenómeno que se pode observar é a crescente fragmentação e descontinuidade espacial das diferentes categorias, com maior evidência para as áreas florestais e agrícolas.

Figura 1. Classes de uso do solo em 1995 e 2016, na Bacia do rio Maule.
Figura 2. Distribuição das classes de uso do solo em 1995 (à esq.) e 2016 (à dir.) na bacia do rio Maule, de acordo com a classificação de Pliscoff (2020).

Quanto à topografia, o ponto mais alto atinge 3934 metros de altitude, enquanto o ponto mais baixo encontra-se à cota 0 m. A parte oriental da bacia apresenta relevo acidentado, associado à cordilheira dos Andes, sendo os declives mais acentuados nessa área (Figura 3a). Na parte central encontra-se uma depressão parcialmente preenchida com aluviões e depósitos de vários detritos que formam planícies estreitas e descontínuas, sobretudo no grande vale central. Paralelamente às duas faixas longitudinais anteriores, estende-se a cordilheira da costa, de altitude muito mais moderada que os Andes. Sendo assim, atendendo à topografia e aos declives que se encontram na bacia, identificam-se duas áreas bem definidas nesta bacia:

) uma área com maiores declives na zona oriental, onde se pode observar a existência de vários vales de diferentes extensões, que podem estar relacionados com uma rede de escoamento pluvial ou com glaciares de maior ou menor dimensão;

) uma área central-ocidental bem delimitada por uma planície alongada que se estende ao longo do eixo norte-sul-sudoeste.

Em relação aos diferentes tipos de solos, de acordo com a base de informação e metodologia, os mais comuns na bacia do rio Maule são solos relativamente argilosos, de composição vulcânica ou vulcano-sedimentar (franco-arenoso), solos

argilo-arenosos e solos com frações de argila (Figura 3b). Após o tratamento e interpolação dos valores das profundidades dos níveis piezométricos para toda a bacia, observou-se que a profundidade é menor no vale central da bacia (0-10 m), e mais alta na zona da cordilheira do Andes (Figura 3c). As temperaturas médias anuais são mais altas na parte noroeste da bacia, com valores da ordem de 15 ºC, enquanto os menores valores se encontram nas áreas mais altas, a leste da bacia, com valores da ordem de 12 °C (Figura 3d). Quanto à evapotranspiração potencial, a zona de transição entre a cordilheira dos Andes e a zona centro e centro-norte apresentam condições locais que geram maiores taxas de evapotranspiração, associadas às exposições de norte, com alta ventilação e com alta incidência de dias radiantes por ano. O efeito marinho atenua esses regimes ao proporcionar maior humidade e nebulosidade constante que minimiza o calor sentido, regulando as taxas de maior evapotranspiração potencial (Figura 3e). De acordo com a informação retirada do modelo Wind Energy Explorer, as velocidades máximas (7.39 m/s) dão-se na cordilheira dos Andes, mas que tende a baixar na zona do centro (1.90 m/s) (Figura 3f). A variação espacial da precipitação (Figura 3g) mostra que os valores mais altos estão associados aos Andes, na área este da bacia.

Figura . Variáveis de entrada do modelo: a) declives; b) tipo de solos; c) profundidade do nível; d) temperatura média anual; e) evapotranspiração potencial; f) velocidade do vento piezométrico; g) precipitação.

c)
f)
g)

Após o processo de implementação e calibração do modelo WetSpass, verificou-se que genericamente as áreas de maior recarga se encontram na região central, associadas a relevos mais suaves e a um tipo de solo mais favorável à infiltração, e na região este da bacia, associada aos Andes onde o valor de precipitação é mais alto (Figura 4). O valor médio de recarga para toda a bacia é de 97 mm/ano (2042 hm3/ano) considerando o uso do solo de 2016, o que está muito próximo do valor calculado no Plano de Recursos Hídricos da Região do Maule (2017), de 94 mm/ano (1996 hm3/ano). Essa diferença representa pouco mais de 2% do valor de referência, o que é considerado um erro aceitável e pouco significativo.

No que se refere à comparação entre os dois anos, o valor médio anual da recarga altera-se, no entanto, as maiores alterações verificam-se na distribuição espacial (Figura 5). Como se pode observar na Figura 2, uma área significativa natural foi convertida em plantações florestais durante o período analisado (1995 a 2016). Essa variação no uso do solo provocou uma alteração na distribuição

da recarga, principalmente na parte oeste da bacia. Na Figura 6 é possível observar as variações da recarga, de 1995 para 2016. Por outro lado, o escoamento superficial nessas áreas aumentou devido ao fator de impermeabilização implícito pelas condições do solo associadas a este tipo de plantação. Este facto é também visível no terreno com maiores evidências de escoamento superficial e rebaixamento do nível.

Verifica-se ainda um aumento da recarga na zona andina, associado à conversão de áreas naturais em áreas agrícolas.

Os erros médios dos balanços hídricos para as simulações dos anos 1995 e 2016 são muito próximos de zero. No entanto, as áreas com maior incerteza concentram-se nas áreas urbanas e em algumas áreas correspondentes a corpos de água superficiais, como lagos e rios. Porém, as áreas identificadas com maiores valores de recarga encontram-se em áreas onde os erros de simulação são mínimos ou muito próximos de zero, o que permite considerar os resultados com um bom nível de confiança.

Figura 4 Distribuição da recarga média anual em 1995 na Bacia do rio Maule.
Figura 5 Distribuição da recarga média anual em 2016 na Bacia do rio Maule.

A comparação entre os valores de recarga de 1995 e 2016 é apresentada na Figura 6. As classes com variação de valor quantificam se houve aumento ou diminuição da recarga entre os anos analisados. Adicionalmente ao já referido anteriormente, observa-se que a classe de variação mais significativa na recarga (de acordo com a Figura 6) é a classe “-149 a -50 mm”, que representa uma diminuição. Essa redução da recarga ocorre numa área de aproximadamente 1231 km2.

Com base nos limites do primeiro, segundo e terceiro quartis (Q1, Q2 e Q3 respetivamente) e no valor máximo, referentes aos valores de

recarga calculados em cada uma das células, foram definidas quatro gamas de valores. Desta forma, considerou-se que as áreas principais de recarga correspondem aos 25% de células com os valores mais altos (Q3 - Max) considerando-se essas áreas como as que se devem considerar mais importantes para conservação. Os valores considerados para esta análise resultam do uso do solo de 2016, uma vez que é o mais atual. A Tabela 1 mostra as estatísticas dessas faixas, bem como sua importância para a recarga total da bacia. Verifica-se que a classe Q3 <Max contribui com 55% da recarga total, ocupando apenas 26% da superfície da bacia.

Figura 6. Distribuição e quantificação das alterações dos valores de recarga entre 1995 e 2016.
Tabela . Estatísticos da distribuição espacial da recarga para 6.
Classe de recarga Área (km2) Mínimo (mm) Máximo (mm) Recarga(mm)média

Na Figura 7, realçam-se as áreas de maior recarga, onde se confirma que a classe de valores mais altos, ou áreas preferenciais de recarga (Q3 e Máx.) se localizam na área central e sudoeste da bacia. Os valores altos de recarga observados na zona andina são justificados pelo alto índice pluviométrico e baixa evapotranspiração na área. No entanto, a contribuição da precipitação para a recarga é significativamente menor nesta área do que nas zonas central e sudoeste, uma vez que a percentagem de precipitação que se infiltra no solo é muito menor em áreas inclinadas com solos pouco desenvolvidos.

Tendo por base o Índice de Susceptibilidade, identificaram-se as áreas onde o risco de contaminação é maior tendo em conta a relação entre as características da bacia, a recarga e a pressão antrópica. O resultado da aplicação desta metodologia a ambos os anos (1995 e 2016), indica que o risco de contaminação na área de estudo está dividido em duas zonas: uma com maior risco na área central e outra com menor risco nas regiões leste e oeste (Figura 8).

As classes de risco mais altas estão associadas a áreas onde ocorrem valores mais altos de recarga e onde simultaneamente estão presentes terrenos agrícolas. Este resultado está associado a práticas agrícolas em zonas de baixos declives, onde o solo tem uma componente arenosa significativa e, além disso, onde a profundidade do nível freático varia

entre 10 e 20 m. Por outro lado, as áreas urbanas apresentam um risco “Moderado a Baixo” devido aos baixos níveis de recarga calculados pelo WetSpass-M nessas áreas. Esta relação não é desprovida de lógica uma vez que a atividade agrícola se localiza tendencionalmente em áreas mais planas, que por sua vez favorecem a recarga.

Figura . Frequência de classes da recarga para 2016 na Bacia do rio Maule.
Figura 8. Mapa do risco de contaminação para 1995 (à esq.) e 2016 (à dir.) na Bacia do rio Maule.

Na Figura 9 mostram-se as alterações no risco de contaminação entre 1995 e 2016 com base nas alterações no uso do solo. Pode concluir-se, de forma geral, que o risco de contaminação nesta bacia é semelhante entre os anos de 1995 e 2016. No entanto, há um aumento do risco na área de transição entre a área montanhosa e a área central, assim como também se regista um aumento significativo em algumas áreas no centro e norte. A substituição de pequenas áreas de floresta ou agricultura dispersas por zonas urbanas, causou

um aumento no risco de contaminação. A redução do risco é observada principalmente nas áreas que em 1995 eram florestas espinhosas e em 2016 são ocupadas por plantações florestais. De uma forma geral, o aumento da recarga tem como efeito aumentar o risco de contaminação quando se trata de usos do solo que possam ter risco associado, como áreas agrícolas, áreas urbanas ou mesmo novas áreas florestais em que as condições de infiltração sejam propícias a processos de recarga de águas subterrâneas.

4. Conclusões

Através da aplicação do WetSpass e das cartas de uso do solo para 1995 e 2016 (Pliscoff, 2020) foi possível conhecer de que forma é que as alterações antrópicas estão a influenciar a recarga e a vulnerabilidade dos aquíferos da bacia. Constatou-se que as áreas com maior recarga se encontram na região central da bacia, onde o relevo é mais suave e o tipo de solo é favorável à infiltração. Os valores de recarga variam entre 0 e 1123 mm/ano, com um valor médio para toda a bacia próximo de

97 mm/ano. No caso da disponibilidade da água, verificou-se que de 1995 para 2016 não há variações significativas a nível global, no entanto observou-se uma redução significativa da recarga em algumas áreas associadas à conversão de zonas naturais em plantações florestais. Entre os dois anos, observa-se que as variações mais importantes, estão associadas com uma diminuição da recarga na zona oeste, provocada pela transformação do uso do solo de vegetação natural para plantações florestais, que pode chegar a uma redução de 449 mm/ano.

O modelo WetSpass-M permitiu ainda

Figura 9 Mapa das alterações de vulnerabilidade entre 1995 e 2016 na Bacia do rio Maule.

identificar as principais áreas de recarga da bacia. A delimitação destas áreas baseou-se na cartografia do uso do solo mais recente (2016). Essas áreas estratégicas encontram-se nas planícies localizadas ao sul das zonas mais urbanizadas, bem como ao longo dos territórios contíguos às principais linhas de água da rede hidrográfica do rio Maule. A área de recarga principal considerada ocupa 26% da bacia e proporciona cerca de 55% da recarga total. No que se refere à variação do risco de contaminação entre 1995 e 2016, não se detetaram diferenças significativas. No entanto, ocorre um agravamento acentuado do risco em áreas pontuais no centro e norte da bacia.

A ausência de uma rede histórica de monitorização dos níveis piezométricos não permitiu avaliar o regime de exploração dos aquíferos da bacia do Maule. Por este motivo, como primeira medida de gestão das águas subterrâneas nesta bacia é a proposta a implementação de uma rede de monitorização para melhor caracterizar a quantidade e qualidade da água. Por outro lado, este trabalho permitiu conhecer as zonas de recarga mais importantes e que poderão ser consideradas para áreas protegidas com vista à conservação dos aquíferos da bacia do rio Maule.

Agradecimentos

Barreiras, N. e Nascimento, J. foram financiados para o presente trabalho pelo projeto PTDC/CTAOHR/32360/2017 (DRONE WATER) Fundação para a Ciência e Tecnologia.

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A Pedreira da Madalena: Do Granito, ao Empreendimento e ao Geossítio

Cardoso Guedes, Carlos Madureira, Alexandre Leite, Soeiro de Carvalho, Henrique Miranda & Eurico Pereira

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Rua Roberto Frias s/n – 4200 465 Porto, Portugal 1jcguedes@fe.up.pt; 2cmad@fe.up.pt; 3aleite@fe.up.pt; 4jmsoeiro@fe.up.pt; 5hbm@fe.up.pt; 6euricosousap@gmail.com

Resumo

A Pedreira da Madalena, sita em Canidelo, Vila Nova de Gaia, possui uma história de mais de cinquenta anos de atividade, sendo um exemplo paradigmático em Portugal de como uma exploração de recursos minerais, quando conduzida cuidadosamente, pode ter lugar num ciclo de vida completo sem nunca deixar de estar em sintonia com o contexto envolvente e permitindo a criação continuada de valor.

Explorando um maciço granítico de qualidade elevada para a produção de balastro, agregados para obras públicas e enrocamento, este apresentou-se também com características capazes de permitir um substrato rochoso capaz de servir de base a um projeto de recuperação paisagística do espaço explorado inédito em Portugal.

Pelas particularidades do empreendimento, pela sua localização e uma história exemplar já investigada e a investigar, encontram-se reunidas condições para tornar parte do espaço do maciço rochoso em causa, num Geossítio.

Abstract

Pedreira da Madalena, located in Canidelo, Vila Nova de Gaia, has a history of more than fifty years of activity, being a paradigmatic example in Portugal of how an exploration of mineral resources, when conducted carefully, can take place in a life cycle complete without ever failing to be in tune with the surrounding context and allowing the continued creation of value. Exploring a high quality granitic massif for the production of ballast, aggregates for public works and rockfill, it also presented characteristics capable of allowing a rocky substrate capable of serving as a basis for a landscape restoration project uncommon in Portugal. Due to the particularities of the enterprise, due to its location and for its entire exemplary history already investigated and to be investigated, there are conditions to create a Geosite.

Palavras Chave: Indústria Extrativa; Pedreira da Madalena; Granito; Património Industrial; Geossítio.

1 - Introdução

A denominada Pedreira da Madalena, sita em Canidelo, Vila Nova de Gaia, é explorada pela SOLUSEL, Sociedade Lusitana de Obras e Empreitadas, Lda, Empresa do Grupo EIFFAGE – Grupo Internacional Francês de Construção Civil, Obras Públicas e Eletricidade. Trata-se de uma unidade industrial de aproveitamento de um recurso mineral natural, um maciço granítico, com um ciclo de vida invulgar, em atividade desde 1970. Para além da longevidade temporal, regista-se uma evolução da sua ação de um ambiente circundante de cariz rural para um cenário claramente urbano, sem que tal impedisse o desenvolvimento e prossecução dos seus objetivos. Tal só foi possível porque a organização que a sustentou, e ainda sustenta, teve a capacidade de sobrevivência, por uma espécie de seleção natural, de cenário em

cenário, fazendo com que as sucessivas variantes “hereditárias” correspondessem a mutações benéficas, transportando-o até uma velhice muito prolongada e da qual ainda não se vislumbra o fim.

A corta possui uma forma aproximadamente elíptica, de eixo maior e menor, respetivamente de cerca de 500 e 300 metros. A escavação atingiu 90 m de profundidade (Figura 1).

Este empreendimento foi tema de investigação na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), tendo conduzido à conclusão da Tese de Doutoramento do Professor José Cardoso Guedes, primeiro autor deste artigo, apresentada em julho de 2020

A referida Tese, com o título “Pedreira da Madalena – Objeto Mutante da Indústria Extrativa” (Guedes, 2020), está acessível online em (https:// repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/128468) e será doravante referida com a designação “Tese”.

 - Os trabalhos de prospeção e reconhecimento do granito da Madalena

Os primeiros trabalhos conducentes à criação da Pedreira da Madalena tiveram lugar em 1971, com a realização de atividades de prospeção e reconhecimento realizadas pelo Laboratório de Metalurgia e Mineração da FEUP (LMMFEUP), a pedido da Empresa Sociedade de Empreitadas de Obras Públicas SA (SEOP). Os trabalhos foram coordenados pelos Professores Doutores, Engenheiros de Minas, Carlos Manuel Novais Madureira e José António Simões Cortez.

À realização deste trabalho, por parte do LMMFEUP, não deve ser estranho o facto do Professor Francisco Jacinto Sarmento Correia de Araújo, Professor Catedrático em engenharia civil da FEUP, pertencer ao Conselho de Administração da SEOP, empresa que iniciou a exploração da Pedreira da Madalena. Terá sido da relação próxima entre os Professores Correia de Araújo e Carlos Madureira, ambos Professores da FEUP, que terá surgido a proposta de ser o LMMFEUP a realizar a referida prospeção e reconhecimento dos terrenos da Pedreira da Madalena.

Em outubro de 1971, o LMMFEUP apresentou um relatório de esboço geológico da área alugada

pela SEOP na zona de um maciço granítico na freguesia de Canidelo, em Vila Nova de Gaia, cujo objetivo era avaliar a qualidade do maciço granítico, tendo em vista a implantação de uma pedreira para fornecimento de material do tipo balastro para a renovação da via-férrea gerida pela CP.

Para a seleção desta área terá contribuído de forma decisiva, o facto de muito perto passar a linha de caminho de ferro Porto – Lisboa. De facto, a CP viria mesmo a implementar um ramal dessa linha no interior dos terrenos da Pedreira.

Inseridos nos trabalhos de campo delineados pelo LMMFEUP, realizaram-se 10 sondagens a diversas profundidades, com recuperação de testemunho, a partir das quais foram elaborados perfis geológicos interpretativos da profundidade média dos terrenos de cobertura e das litologias presentes em profundidade (Figura 2).

No mapa topográfico, localizam-se as 10 sondagens, os traços dos planos de corte interpretativos realizados, bem como alguma informação relativa a descontinuidades, com e sem preenchimento, detetadas nos afloramentos de granito em estudo.

As sondagens permitiram encontrar tês tipos de formações: terrenos de cobertura; granito caulinizado e granito são.

Figura 1 - Dimensões da corta da Pedreira da Madalena em 1997

2 - Mapa topográfico com localização das 10 sondagens e traços de perfis realizados. (Madureira & Cortez, 1971).

A possança da zona de cobertura, essencialmente constituída por terraços marinhos (a área encontra-se a cerca de 2 Km da zona costeira) é variável, apresentando nas sondagens um valor mínimo de 2,3 metros e um máximo de 15,5 metros.

A média destas profundidades, avaliada somente nos locais das sondagens, situa-se nos 6,7 metros.

Ainda possível encontrar vestígios destes terraços marinhos nos terrenos da Pedreira da Madalena (Figura 3).

 - Evidências locais atuais da estrutura de terraço que cobria parcialmente o maciço granítico onde se instalou a Pedreira da Madalena.

Figura
Figura

Em geral, na altura em que foi realizado o esboço geológico em análise, a existência de uma zona de caulinização, gerada principalmente por meteorização química, é evidente, nomeadamente quando esta está protegida superiormente por terrenos de cobertura.

Abaixo destas zonas de alteração, existe granito que pode ser classificado, segundo a Basic Geotechnical Description (BGD) da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (ISRM,

1980), como sendo um W1, que é denominado de normal nos Log´s das referidas sondagens.

Infere-se ainda deste relatório, a presença de descontinuidades abertas com ou sem preenchimento.

A título de exemplo, apresenta-se o Log de uma das sondagens realizadas e perfis de interpretação das estruturas em profundidade com bases nas informações retiradas das sondagens (Figuras 4, 5 e 6).

Figura  - Sondagem nº I e perfil interpretativo integrando as várias sondagens. (Madureira & Cortez, 1971).
Figura  - Perfis geológicos interpretativos V1 – V2 e W1 – W2 (Madureira & Cortez, 1971).
Figura 6 - Perfil geológico interpretativo Z1 – Z2 (Madureira & Cortez, 1971).

Como curiosidade, deixa-se uma “história” singular, transmitida verbalmente, relacionada com uma pergunta realizada por alguém, no final da leitura do referido relatório:

- Sr. Engenheiro, as sondagens foram pouco profundas. A mais profunda só tem um comprimento de cerca de 8 metros. E se abaixo não existir granito?

- Não se preocupe, pois se abaixo não existir granito, a pedreira encerra, mas nós faremos história geológica.

 - Contexto geológico da Pedreira da Madalena

“Os portugueses sabem dizer granito, basalto, mármore, calcário, xisto, barro, petróleo, gás natural, quartzo, feldspato e mica, mas ignoram a origem, a natureza e o significado destes materiais como documentos da longa história da Terra”

Galopim de Carvalho in (Carvalho, 6).

As atividades de extração de rocha em pedreiras, durante a década de 80 do século passado, era regulamentada pelo Decreto-Lei 227/82, que surgiu no sentido de reformular e unificar a legislação sobre a exploração de pedreiras até aí existente.

Quando em 1990 surge a nova legislação da Indústria Extrativa (Decreto-Lei 89/90), esta previa um período de um ano para que as pedreiras em laboração se adaptassem a essa nova Lei. Uma das novidades deste Decreto-Lei diz respeito à necessidade de apresentação, por parte dos exploradores, do denominado relatório de recuperação paisagística. Findo o referido período de adaptação de um ano ao consignado no Decreto-Lei 8 9 / 90 , a SEOP estava a apresentar às entidades competentes o seu primeiro Plano de Recuperação Paisagística. Porém, esse primeiro plano não viria a ser implementado.

Em 1996, foi equacionada uma solução de Plano de Recuperação Paisagística (PRP), a ser executado em paralelo com a atividade extrativa. Tratou-se de um projeto de deposição, no espaço libertado com a extração, de materiais inertes de múltipla natureza, como por exemplo, Resíduos de Construção e Demolição (RCD´s), bem como resíduos de outras proveniências desde que comprovadamente inertes. Esta solução viria a ser implementada em 1997, uma vez que a geometria e espaço livre da corta facilitava, nessa altura, as atividades simultâneas e não interferentes de extração e deposição.

Sob a preocupação de controlar efeitos perversos, eventualmente associáveis ao funcionamento futuro da corta como local de aterro, ainda que de material inerte, procurou a direção técnica da

Empresa munir-se da máxima informação sobre aspetos geológicos, estruturais e hidrogeológicos respeitantes ao maciço em exploração. Para esse fim, teve a colaboração da FEUP que, depois de um importante período de trabalhos de campo de levantamento de dados na Pedreira nos finais da década de 90 do século passado, coordenados pelo Professor Doutor, Geólogo, Eurico Sousa Pereira, apresentou um relatório intitulado Caracterização Geológico/Estrutural da Pedreira Quinta do Moinho –FEUP (Pereira et al., 2000).

Este compreendia um levantamento exaustivo da rede de fraturas que afeta o maciço, visando a caracterização geológica e a formulação sobre a respetiva permeabilidade, no sentido específico de avaliação da possível vulnerabilidade à circulação de lixiviados no maciço rochoso e para fora do perímetro da Pedreira, oriundos da interação com a água, dos materiais inertes acumulados no aterro.

Deste relatório, faz parte integrante uma Carta Geológica à escala 1/500 da Pedreira da Madalena (Arquivo da SOLUSEL) na qual são assinaladas todas as informações recolhidas sobre os sistemas de fraturas nela presentes. Trata-se, talvez, do mais completo trabalho sobre a geologia do maciço granítico onde se encontra instalada a Pedreira da Madalena.

. - O maciço granítico de Lavadores e seu enquadramento regional

A Pedreira da Madalena integra-se no maciço granítico, vulgarmente designado Maciço de Lavadores. Forma um corpo granitoide alongado segundo a direção NW-SE e estende-se entre a Foz do Douro e as Termas de S. Jorge, no concelho de Santa Maria da Feira, com cerca de 20 Km de extensão por 4 Km de largura máxima. No extremo sul, próximo de S. Jorge, a largura é inferior a 1 Km. Uma cartografia deste corpo aflorante pode ser consultada na Carta Geológica do concelho de Vila Nova de Gaia, edição de 2004 do Instituto Geológico e Mineiro (IGM).

A instalação deste tipo de granitos é posterior ao desenvolvimento da 3ª fase de deformação da Orogenia Varisca (D3) sendo, por esse facto, considerados e denominados tardi a pós-orogénicos. Normalmente, dão origem a maciços circunscritos, ainda que possam ocorrer alongados na direção NW-SE ou NNE-SSW e, mais raramente, W-E, de harmonia com os principais sistemas de falhas que condicionam a sua instalação. Encontram-se dispersos por vários pontos da Zona Paleogeográfica Centro-Ibérica (ZCI) até à fronteira com a Zona

Paleogeográfica de Ossa-Morena (ZOM). No conjunto, são designados por granitos tipo Gerês. Mercê da inexistente deformação dúctil, são muito utilizados como rocha para fins ornamentais.

. - Apetência do granito de Lavadores para aproveitamento como rocha ornamental

Desde já, uma particular referência para o facto de, na Pedreira da Madalena, nunca ter sido extraído granito para fins ornamentais na sua verdadeira aceção da palavra. No início dos anos 80 do século passado, somente existia na Quinta do Moinho uma pequena exploração para a produção de cubos, paralelepípedos e guias de passeio em granito. Não seria de estranhar que também fossem produzidos nesta exploração esteios em granito, dada a proliferação e uso dos mesmos na zona de Canidelo e Coimbrões (Figura 7).

Figura 7 - Esteios de granito a servirem de muros de divisória de propriedades em Coimbrões e calçada com paralelos de granito, muito provavelmente oriundos de extrações no maciço granítico de Lavadores.

O não aproveitamento deste granito como rocha ornamental representa um desaproveitamento real de um maciço rochoso com características texturais singulares e sem dúvida com apetência para este fim. Atualmente, estes conceitos técnico/económicos podem e devem ser revistos, em virtude de o balastro estar evolutivamente a ser considerado um produto “nobre”, nomeadamente na sua aplicação, por exemplo, em linhas de alta velocidade.

Ainda assim foram realizados alguns testes (Figura 8). Porém, a indução de tensões e consequente fraturação resultantes das inúmeras

pegas de fogo que, entretanto, tiveram lugar para o desmonte na Pedreira, inviabilizaram a produção de blocos comerciais isentos de anisotropias, condição essencial para a obtenção de materiais ornamentais de qualidade.

Na região de Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, existem várias pedreiras de granito para fins ornamentais. Ora esse granito tem uma génese equivalente ao da Pedreira da Madalena, sendo geologicamente seu contemporâneo (Figura 9). Tanto o granito da Madalena, como o maciço granítico de Vila Pouca de Aguiar, e bem assim o maciço de Niza no distrito de Portalegre, instalam-se nos finais da orogenia Varisca (Figura 9), possuindo texturas semelhantes e sendo em muitos locais aproveitados para fins ornamentais. Cabe também na maioria destes granitos, o comummente designado granito do Gerês.

. - Mecanismo de instalação do maciço granítico

O maciço em análise aproveita, para se instalar, a grande zona de fraqueza crustal correspondente à sutura da Orogenia Cadomiana (≈650-530 Ma) que, a sul do Porto, estabelece a divisória entre o denominado Complexo xisto-grauváquico (ZCI) e o Precâmbrico da Formação de Lourosa (ZOM) (Figura 10).

Durante a Orogenia Varisca, esta sutura é retomada com movimento ativo dextro, materializado na Zona de Cisalhamento de Porto-Tomar (ZCPT). Entre S. Jorge e Perosinho, a faixa de cisalhamento coincide com o bordo ocidental do maciço granítico; a norte desta última localidade, até à Foz do Douro, o maciço implanta-se sobre o acidente, bloqueando-o pelo menos até ao desenvolvimento das fases frágeis tardi-Variscas (D4). Com o relaxamento

Figura 8 - Superfície polida de uma amostra de granito da Pedreira da Madalena.

9 - Cartografia dos maciços graníticos tipo Gerês existentes em Portugal. Assinalam-se os maciços de granito da Madalena e de Portalegre. Adaptado de (Ferreira et al., 1987).

Figura

das tensões orogénicas, pós-D3 Varisca, a cadeia entra em colapso gravítico, induzindo distensão normal ao eixo da cadeia que, no caso vertente, é subparalelo ao lineamento em análise. O presente regime distensivo facilita a ascensão e implantação, em níveis superiores da crusta, de magmas que deram origem ao maciço granítico de Lavadores (Pereira et al., 2000).

1 - Bacias continentais e de margem continental, depressões do Ebro e Guadalquivir.

2 - Orlas Meso-Cenozóicas (Bacias Lusitânica, Algarvia e Oriental).

3 - Cordilheiras Alpinas periféricas (Pirenaica e Bética).

4 - Maciço Ibérico.

5 - Maciços Alóctones do NW Ibérico. A

Figura  - Zonas paleogeográficas e estruturais do Maciço Ibérico e as grandes unidades Alpinas. Adaptado de (Pereira, 2011).

. - Petrografia, textura e composição mineralógica

O maciço exibe fácies litológicas variadas, não diferenciadas nas Cartas Geológicas editadas pelo IGM. Assim, na praia de Salgueiros, o granito mostra tons rosados, sendo francamente porfiróide com megacristais de microclina-pertite que podem atingir 8-10 cm segundo a maior dimensão; no extremo sul do maciço, o granito é acinzentado de grão médio e com esparsos megacristais de microclina; na área da Pedreira da Madalena, apesar de se apresentar muitas vezes com tonalidade rosa, domina o granito cinzento de grão médio, porfiróide, em que os megacristais de microclina representam cerca de 20% do volume da rocha e não ultrapassam 3 cm segundo a maior dimensão.

Em observação macroscópica, trata-se de uma rocha granitóide, isotrópica, mesocrática, de

granularidade média, com quartzo abundante, plagioclase bem desenvolvida e esparsos megacristais de feldspato potássico rosado que não ultrapassam 3 cm segundo a maior dimensão. Exibe muito baixo grau de alteração deutérica.

Observado ao microscópio, o granitóide da Madalena revela textura hipautomórfica, inequigranular, porfiróide, com megacristais esparsos.

Os cristais de plagioclase dominam o arranjo textural e correspondem a duas gerações. Destacam-se cristais idiomórficos de plagióclase zonada com núcleos que atingem 38% de anortite (An) e dimensões centimétricas, sendo nitidamente o primeiro mineral a cristalizar. Estes fenocristais são instáveis e reagem com o meio para dar lugar a outra geração de plagióclase, xenomórfica, de pequena dimensão e composição dos domínios da oligoclase. De abundante mirmequite, dão lugar à formação de um feldspato altamente pertítico com características óticas de microclina-pertite. Assume, por vezes, dimensões megacristalinas e adquire ligeira rubefação por impregnação de óxidos de ferro.

Na matriz, encontram-se esporadicamente pequenos cristais de ortose e albite, sendo este último um caso extremo de reação da plagióclase com o meio.

Entre os componentes mineralógicos essenciais, identificam-se:

- Quartzo xenomórfico, mostrando extinção ondulante, devida a deformação frágil;

- Plagioclase zonada com núcleo de andesina (38%An) e bordos de oligoclase (20% An);

- Feldspato potássico;

- Biotite verde, mais abundante que biotite castanha.

Como componentes subordinados, podem-se observar magnetite, óxidos de ferro hidratados, apatite, zircão, alanite e rútilo. Já como componentes secundários, surgem clorite resultante da alteração de biotite, lamelas de moscovite e filossilicatos resultantes da alteração da plagioclase. Acresce ainda serem vulgares as ocorrências de calcopirite, pirite e azurite em filonetes de quartzo.

Todas estas características permitem classificar o granito da Pedreira da Madalena como sendo um granodiorito biotítico.

As ocorrências de minerais de cobre, dada a sua abundância em diversas zonas da Pedreira, deram mesmo lugar a um Manifesto Mineiro (Guedes, 2020).

. - Idade de instalação do maciço de Lavadores

Os vários litótipos que formam o maciço terse-ão instalado por impulsos tectonomagmáticos subordinados ao relaxamento de tensões pós-D3. Tem sido atribuída a estes granitóides uma idade compreendida entre 296-290 Ma (Dias et al., 1998), marcando o início do período Pérmico.

Este plutonismo granítico, de natureza subalcalina e origem na base da crusta, tem características que o aproximam dos granitóides de Tipo A, isto é, anorogénicos.

Em muitos locais da ZCI, o plutonismo granítico subalcalino, relacionado com a distensão crustal tardi-Varisca, é nitidamente controlado pelo sistema de fraturas frágeis de direção NNE-SSW correspondente à fase de deformação frágil D4. No caso do maciço de Lavadores, porém, o controlo exercido pelo sistema de fraturas NNE é subordinado, sendo dominante o sistema NW-SE no controlo de implantação (Pereira et al., 2000).

.6 - Sistemas de fraturas e falhas do maciço

da Pedreira da Madalena

Os diferentes sistemas de descontinuidades que afetam esta rocha granítica, na área da Pedreira da Madalena, são o reflexo da reativação da grande estrutura de cisalhamento referida, desde os tempos tardi-Variscos até ao presente (Figura 11) (Pereira et al., 2000).

Relativamente aos sistemas de deformação frágil que afetam o granito, podemos considerar em primeira instância os sistemas de fracturação herdados dos episódios anteriores à instalação do granito, havendo a possibilidade de destrinçar de seguida as diferentes etapas de reativação das estruturas, mediante o registo da fracturação e diaclasamento impressos no granito pelos episódios tectónicos sucedâneos da sua instalação.

O conhecimento geológico regional, na envolvente do granito de Lavadores (Figura 12), particularmente, no sector mais a sul, região de S. João da Madeira, evidencia dois importantes sistemas de falhas, um N 500 W / cavalgante para SW e outro, N 500 E / subvertical com forte enchimento filoniano que chega a atingir dezenas de metros de espessura. Este segundo sistema de fraturas, também corta os granitóides instalados sin-D3, sendo caracterizado por fendas que chegam a atingir dezenas de metros de possança, apresentando-se preenchidas por quartzo, aplitos e pegmatitos.

Figura 11 - Traços resultantes da interseção das descontinuidades presentes em taludes de bancada na Pedreira da Madalena. Adaptado de (Rebelo et al., 2015).

Em sucessivos episódios tectónicos posteriores à instalação deste maciço, e hierarquizadas por ordem de importância, registam-se na Pedreira da Madalena as seguintes fendas e fraturas, com ou sem enchimento filoniano e que o afetam de forma generalizada:

i) Fraturas com ou sem enchimento de quartzo, epídoto, turmalina e sulfuretos, orientadas N (500-600) W / subverticais a inclinadas para NE;

ii) Fraturas fechadas com orientação N (500700) E / subverticais (Figura 13);

iii) Fendas de tração (T), com ou sem preenchimento de quartzo negro, orientadas N (50-150) E / subverticais;

iv) Fendas e diaclases, também fechadas, formando sistemas de tipo Riedel (-R) com orientação, respetivamente, N (30-400) E / subverticais e Riedel conjugado (-R´) com orientação N (100-200) W / subverticais;

v) Fendas fechadas com zona de esmagamento e reduzido enchimento de quartzo e sulfuretos, orientadas segundo N (800-1000) E / verticais.

Os sistemas de falhas presente na Pedreira da Madalena, atingem significado enquanto fendas, com ou sem enchimento filoniano, quando têm expressão cartográfica. São disso exemplo as falhas com direção N-S a NNE-SSW e algumas de rumo NE-SW a ENE-WSW. Em ambos os casos, resultam de reativação frágil tardi-Varisca, Alpina e subatual de fraturas geradas nos vários episódios acima enumerados, ora subordinadas a novo campo de tensões cuja tensão máxima passou a ser dirigida segundo N-S a NNW-SSE.

Na área central da pedreira, desenvolve-se um corredor de fraturas paralelas de direção

Cardoso

N-S a NNE-SSW que, mercê do seu significado, condiciona o desmonte e desenvolvimento da exploração, subordinados a esta zona de fraqueza. Correspondem às fendas (T) acima enumeradas, posteriormente reativadas. A densidade da presente rede de fraturas é bastante elevada, a ponto de poder considerar-se, no conjunto, uma zona de falha ocupando a parte central da pedreira.

No entanto, e considerando a classificação BGD, mesmo nestas zonas, o maciço rochoso pode ser considerado como W2 (ISRM, 1980). Cruza com outro sistema de fraturas de direção NE-SW, com e sem enchimento filoniano e brechificação mais ou menos pronunciada. Todavia, o espaçamento das fraturas neste sistema é maior, não chegando a materializar zonas de falha.

Figura 12 - Esboço geológico da região da Foz do Douro e áreas circundantes à Pedreirada Madalena. Adaptado de Monteiro, 2008. A

Figura  - Projeção estereográfica, da família de fraturas com orientação N (500-700) E / subverticais. A – Planos de fraturas e fendas.

B – Média de frequências de ocorrência.

C – Diagrama de densidade de polos (Pereira et al., 2000).

Os corredores definidos não geram situações de forte esmagamento e alteração e, por esse facto, não constituem zonas de exclusão da exploração, na produção de inertes e gravilhas.

 – A qualidade do Granito da Madalena para obras

Tendo em vista a marcação CE e a Certificação dos seus produtos, a SEOP promoveu em 1992 a publicação de um documento de divulgação intitulado Dossier com características Técnicas e Comerciais dos Agregados produzidos na Pedreira da Madalena. Este documento pode ser consultado em Guedes (2020), no seu Anexo 7.12.

No sentido de enaltecer a qualidade do granito extraído na Pedreira da Madalena, dá-se aqui nota de um curioso facto associado ao fornecimento de agregados para a construção da Ponte ferroviária de S. João, sobre o Rio Douro.

. Fornecimento de agregados para a obra da Ponte ferroviária de S. João

No ano de 1986, a Pedreira da Madalena iniciou o fornecimento de agregados para a construção da Ponte ferroviária de S. João, sobre o rio Douro (Figura 14). A entidade fornecedora de betões para esta obra, contratada pelo consórcio construtor, era a UNIBETÃO - Indústrias de Betão Preparado, S.A. empresa do grupo Secil. Esta empresa possuía em laboração, desde a primeira metade dos anos 80 do século passado, uma unidade produtora

de betões em Canelas, Vila Nova de Gaia, sendo os agregados usados na sua atividade oriundos da Pedreira da Madalena.

O projetista da nova Ponte de S. João foi o ilustre Engenheiro Edgar Cardoso, Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, o qual teria que aprovar os agregados que viriam a ser usados nos betões para a construção desta Ponte. Ora, o Engenheiro Edgar Cardoso conhecia o granito da Pedreira da Madalena, uma vez que, aquando da construção da Ponte da Arrábida, também da sua autoria, os respetivos agregados tinham proveniência de uma pedreira confrontante com a da Madalena.

Figura  - Ponte ferroviária de S. João, sobre o Rio Douro (Arquivo da SOLUSEL).

Este projetista, ao definir pormenores sobre a construção da Ponte de S. João, questionou a UNIBETÃO sobre a origem dos agregados que esta usava. Ao ser informado de que estes tinham proveniência da Pedreira da Madalena, decidiu visitar a mesma no sentido de, in loco, inspecionar a atividade da Pedreira no que diz respeito à qualidade da matéria-prima, mas também para averiguar das garantias que eram oferecidas para um regular fornecimento dos agregados exigidos pela obra. No decorrer dessa visita, o Engenheiro Edgar Cardoso, perante a qualidade do granito ali extraído, observados os procedimentos de produção e relembrando-se de que a pedreira fornecedora de agregados para obra da Ponte da Arrábida lhe era contígua, tomou de imediato a decisão de prescindir da lavagem dos agregados para a Ponte de S. João, condição prevista no respetivo caderno de encargos da sua autoria.

Este avultado fornecimento de agregados, a par da restante procura de mercado, fez do período de 1986 a 1993, o de maior produção de sempre da Pedreira da Madalena.

 - Permeabilidade do maciço rochoso

Da observação minuciosa do contorno da corta exigida pelo levantamento exaustivo do sistema de descontinuidades que afetam o maciço onde a Pedreira foi aberta, é possível extrair algumas conclusões no que respeita à permeabilidade do mesmo. Nele, são extremamente raras as fontes ao longo do contorno da corta e as mesmas manifestam débitos insignificantes (mesmo durante épocas de pluviosidade intensa e persistente). Apenas no canto Sudeste da corta é visível afluência de água escorrendo em lâmina ao longo do hasteal. Mas trata-se de água recirculada para a escavação a partir de uma pedreira desativada situada a Sudeste da corta, a qual serve de reservatório (≈50000m3) da água bombeada do fundo e destinada a fins industriais, nomeadamente para a lavagem de balastro, rega de pistas e consumo nas oficinas.

Abaixo dos 40 metros aproximadamente, as descontinuidades apresentam-se muito fechadas, não podendo por isso constituir-se em vias de afluxo de águas infiltradas à corta. Pela mesma razão de baixíssima permeabilidade, também essas descontinuidades não poderão ser vias de defluxo de água acumulada no fundo da corta (águas pluviais, na sua larguíssima maioria) e que tenderão a impregnar os resíduos que aí forem sendo acumulados.

Estas águas serão, por razões industriais,

permanentemente bombeadas do fundo da corta, nomeadamente da zona mais baixa da praça da Pedreira.

O projeto de recuperação paisagística da corta da Pedreira eleito para ser executado, preconiza a adaptação da corta para depósito, tipo aterro, principalmente de RCD´s, previu a elevação progressiva de poços manilhados, em formato de ralo, à medida que a deposição de resíduos fosse sendo realizada e que permitem a instalação de bombas hidráulicas e respetivas condutas de elevação da água que vier a impregnar o aterro. Quando finalizar o aterro total da corta, as águas captadas nos referidos poços servirão para diversos fins nomeadamente a rega de espaços verdes reconquistados pela deposição dos resíduos.

. - Ensaio de bombagem de longa duração

Ainda no âmbito da caracterização da permeabilidade do maciço rochoso da Pedreira da Madalena, refere-se que, em 2001, tiveram lugar na corta da Pedreira trabalhos para a elaboração de um ensaio destinado a avaliar corretamente o funcionamento do aquífero profundo que se desenvolve no seu substrato granítico. Este ensaio foi realizado pela empresa Publiambiente, Lda, com a colaboração da empresa CONGEO, Consultores de Geologia, Lda, e encontra-se descrito no relatório técnico com o título Determinação das condições de permeabilidade naturais no Aterro de Resíduos Inertes da Quinta do Moinho nº 2, consultável em (Guedes, 2020), no seu Anexo 7 4. Dele fez parte a realização de um furo vertical, próximo da base da corta da Pedreira (a uma cota de cerca de 90 m abaixo da superfície original), com 50 metros de profundidade, a fim de permitir realizar um ensaio de bombagem de longa duração. Deste modo, pretendia-se determinar parâmetros hidrogeológicos das formações intersetadas. Como resultado, esse ensaio permitiu obter valores de transmissividade entre 4,895E-01 m2/dia a 3,594E-01 m2/dia e de permeabilidade da ordem dos 5,20E-08 m/s. Estes valores apontam para um meio, em profundidade, pouco permeável e no limite para o impermeável.

As características geológicas e hidrogeológicas do local têm um efeito atenuador suficiente para impedir qualquer potencial risco para o solo e águas subterrâneas, resultante da deposição de resíduos inertes segundo o Plano de Recuperação Paisagística adotado em 1997

6 – Potencialidade futura da Pedreira da Madalena – Um Geossítio

A noção do usufruto pedagógico para as gerações vindouras da eventual preservação e divulgação da memória de toda a atividade da Pedreira da Madalena, surgiu de modo natural no decorrer dos trabalhos conducentes à Tese de Guedes (2020). No nosso entender, a partir daquele trabalho, encontram-se reunidas informações relevantes da história de uma unidade industrial invulgar, hoje em dia completamente integrada no tecido urbano de Vila Nova de Gaia. Essa história ilustra a caracterização, que podemos considerar exemplar, da coexistência de uma exploração de um recurso natural mineral num ambiente normal de uma localidade com todas as suas funcionalidades em ação.

A preservação da memória da atividade extrativa que ocorreu no lugar da Quinta do Moinho, pela riqueza dos inúmeros acontecimentos ocorridos nas suas dimensões técnica, social e ambiental, num contexto espacial e temporal invulgares, representa uma fonte de aprendizagem que não deverá ser desperdiçada, devendo procurar-se condições que garantam de algum modo a partilha dessa riqueza sob múltiplas dimensões, por exemplo, através da criação de um Geossítio.

6.1 - Os Princípios de Dublin

O TICCIH - The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage e o International Council on Monuments and Sites (ICOMOS), definiram em parceria e em 2011, um conjunto de princípios para a conservação de sítios, estruturas, áreas e paisagem de património Industrial, que ficaram conhecidos como Os Princípios de Dublin (Os Princípios de Dublin, 2011), em cuja introdução ao documento em que os mesmos estão plasmados, pode ler-se:

“Em todo o mundo, uma grande diversidade de sítios, estruturas, complexos, cidades e povoados, áreas, paisagens ou itinerários, constituem o testemunho de atividades humanas de extração e de produção industrial. Em muitos locais, este património ainda se encontra em utilização e a industrialização constitui também um processo ativo imbuído de um sentido de continuidade histórica, enquanto que noutros lugares esse património consiste nos vestígios arqueológicos de atividades e tecnologias passadas. Para além do património material associado aos processos e tecnologia industrial, da engenharia, da arquitectura ou do urbanismo, este património contempla também múltiplas dimensões imateriais plasmadas no saber-fazer, nas memórias ou na vida social dos trabalhadores e das suas comunidades” (Os Princípios de Dublin, 2011).

À luz desta invocação, parece-nos que todo o manancial de factos, acontecimentos e experiências inerentes à Pedreira da Madalena, permitem vê-lo incluído na definição de património industrial, constituindo a sua história um capítulo significativo para o conhecimento do mundo contemporâneo, no que diz respeito à realidade nacional da indústria extrativa. O “saber fazer” e o “fazer bem” que a realidade da Pedreira da Madalena testemunha, não devem ser esquecidos. Quantas unidades industriais deste tipo poderão evidenciar terem laborado “pacificamente” quase 50 anos a 90 m de uma linha nacional de ferrovia, a 300 m de uma autoestrada, a 2 Km de uma praia, a 2,5 Km de uma importante ponte em betão armado (com um vão de 270 m e 52 m de flecha) e a 3,8 Km do centro de uma cidade, capital de uma região de um país?

A atividade extrativa de recursos naturais é quase sempre notícia quando algo ocorre mal. Somos de opinião que há que fazer notícia, divulgar, que nessa indústria primária e indispensável à atividade humana, também se fazem coisas bem-feitas. Num panorama cada vez mais exigente de gestão dos recursos naturais, onde a Responsabilidade Sócio Ambiental Corporativa (RSAC) vai ganhando cada vez mais peso, a partilha da história de êxito da unidade industrial que é a Pedreira da Madalena, contribuirá para a consciencialização relativa às questões dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS – https://www.ods.pt) ao qual a Humanidade não poderá escapar, sob o risco de, se tal não for tido em consideração, colapsar enquanto organização mundial de seres vivos.

O Princípio I dos Princípios de Dublin coloca ênfase na necessidade de se estudar e compreender as estruturas industriais do passado, enquanto valor patrimonial, tendo em vista disponibilizá-las para a compreensão do presente e perspetivar um futuro mais sustentável:

“Investigar e documentar estruturas, sítios, paisagens industriais, assim como maquinaria, equipamentos, arquivos ou as suas dimensões imateriais, é essencial para a sua identificação, conservação e avaliação do seu significado e valor patrimonial. As destrezas e conhecimentos humanos envolvidos nos processos industriais antigos revestem-se da maior importância para a conservação e devem ser considerados nos processos de avaliação patrimonial… Esta abordagem deve beneficiar de uma diversidade de fontes de conhecimento e de informação, incluindo o inventário e o registo do sítio, a investigação histórica e arqueológica, a análise de materiais e paisagens, e a história oral e/ou pesquisa em arquivos públicos, empresariais ou privados. Devem ser incentivadas a investigação e a preservação de registos documentais, arquivos de empresas, planos de construção, e espécimes de produtos industriais”. (Princípios de Dublin, 2011).

Este princípio enquadra perfeitamente os trabalhos de investigação até agora realizados sobre a Pedreira da Madalena e suporta um projeto que se deseja propor para a preservação da memória do território desta unidade industrial e do que lá aconteceu.

Assim, os autores do presente artigo não têm dúvida de que se encontram reunidas, neste momento, condições singulares para propor a criação, num futuro que se deseja próximo, de um Centro Interpretativo da Pedreira da Madalena (CIPeMa) que reúna património material e imaterial relacionado com os saberes construídos ao longo da atividade produtiva desta Pedreira elencados em Guedes (2020).

Como é referido nos Princípios de Dublin:

“O património industrial constitui uma fonte de aprendizagem que precisa de ser comunicada nas suas múltiplas dimensões.” (Os Princípios de Dublin, 2011).

6. O CIPeMa como parte de um Geossítio no Parque Ambiental da Quinta do Moinho

No contexto futuro de utilização urbanística dos terrenos da SOLUSEL, e sobre o espaço superficial do aterro de resíduos inertes, não é difícil imaginar um edifício com características próprias que se enquadre harmoniosamente em espaços verdes que nessa área possam vir a ser criados. Desejamos que nesse espaço possa nascer o Parque Ambiental da Quinta do Moinho, fazendo jus à denominação histórica desse território e realçando a infraestrutura de moagem eólica que nesse lugar existe e que, certamente, num passado anterior à criação da Pedreira da Madalena, muito contribuiu para a moagem de cereais e respetiva produção de farinhas (Figura 15).

A criação desse espaço verde associado a um Geossítio é, naturalmente, uma iniciativa inédita no concelho de Vila Nova de Gaia, uma vez que o mesmo virá a ser criado de raiz, não correspondendo a qualquer território natural florestal já existente. Esta iniciativa poderá mesmo ter potencialidades para ser considerada como tema de um projeto de investigação nas áreas ligadas à agronomia e silvicultura e gestão florestal.

A proposta de criação de um espaço florestal, contendo este o CIPeMa, sobre os terrenos onde teve lugar a escavação de granito da Pedreira da Madalena, poderá ter múltiplas finalidades, a começar pela possibilidade de se apresentar como contrapartida,

no momento do pedido de licenciamento de futuros projetos imobiliários, junto das entidades licenciadoras.

No edifício que propomos venha a ser construído, e na sua envolvente exterior, poder-se-ão projetar diversos núcleos interpretativos do que foi a atividade da Pedreira da Madalena.

Afigura-se-nos simples e eficaz o enquadramento deste CIPeMa num programa mais vasto de educação ambiental, englobando-o em parcerias com outras unidades do género já existentes nas proximidades, como o sejam o Parque Biológico de Gaia, a Reserva Natural Local do Estuário do Douro Baía de S. Paio, o Parque da Lavandeira, o Parque de Dunas da Aguda, o Parque Botânico do Castelo e o Parque Ponte Maria Pia, os afloramentos Geológicos da Praia de Lavadores entre outros.

Para este projeto, de dimensão comunitária, também deverão ser criadas sinergias colaborativas que possam envolver diversas entidades com experiência feita em vários domínios, e que poderão disponibilizar contributos significativos para este projeto. Naturalmente, começar-se-ia pelo Grupo EIFFAGE, enquanto cúpula da organização em que a SOLUSEL se insere. São estas as entidades proprietárias do espaço e as herdeiras de todo um passado que urge preservar e divulgar, embora este projeto de criação de um Geossítio possa e deva vir a poder contar com o contributo de muitas outras entidades.

Figura  - Moinho da Pedreira da Madalena recuperado em 2000 por iniciativa da SOLUSEL (Arquivo da SOLUSEL).

6. - Monumento evocativo da atividade da Pedreira da Madalena

Como porta de entrada em todo esse espaço evocativo da atividade e evolução da Pedreira da Madalena, que aqui se está a propor, poderá idealizar-se esteticamente um monumento através de uma reconfiguração mínima da estrutura de suporte, ainda hoje preservada, de tolva de alimentação da instalação piloto de fragmentação e que representa a primeira edificação técnica para a produção de balastro nesta Pedreira (Figura 16).

Sem qualquer razão aparente, esta estrutura foi poupada ao tempo e às sucessivas transformações do espaço da unidade industrial, sendo que agora, com

esta ideia, se perspetiva uma sua utilidade de dimensão cultural.

Sem dúvida que tal monumento, mantido quase por acaso, parece estar à espera de ser valorizado e perpetuado para ser apreciado como marco de uma grande atividade ali ocorrida.

Ao mesmo tempo, o maciço rochoso que o suporta, sendo um afloramento representativo do granito ali explorado ao longo de muitos anos e que contribuiu para imensas obras, algumas delas emblemáticas, como sendo as Pontes da Arrábida e de S. João sobre o Rio Douro, poderia ser usado como ponto central do Geossítio ora proposto, depois de devidamente estabilizado para que ofereça garantias de segurança para todos aqueles que visitarem o local.

Figura 6 – Estrutura preservada de base da tolva da instalação piloto de fragmentação e classificação da Pedreira da Madalena.

A Pedreira da Madalena e a investigação sobre ela desenvolvida, representam um excelente exemplo para uma apologética da importância do aproveitamento sustentável dos recursos naturais minerais. São inúmeras as notícias nacionais e internacionais de más práticas e de passivos sociais e ambientais negativos oriundos da atividade extrativa deste tipo de recursos. A exploração dos recursos naturais, atividade “exigida” permanentemente pela sociedade ao longo de toda a história da Humanidade, é quase exclusivamente noticiada precisamente pela ocorrência de situações negativas. Mas também sabemos, embora não cheguem às páginas dos jornais e aos noticiários, que são imensos os empreendimentos mineiros que perseguem as mais modernas práticas de operação, minimizando todos os seus impactos e aproveitando de forma consciente os recursos que a natureza, ao ritmo do Tempo Geológico, foi criando e disponibilizando até que a prospeção mineira os revele.

Ora, resulta claro deste projeto de investigação, e pela realidade presente no território da Pedreira da Madalena, que esta pode e deve ser apresentada como um bom exemplo de boas práticas, de como um empreendimento extrativo de um recurso natural pode ter lugar a céu aberto e durante um período de tempo bastante dilatado, de forma sustentável, próximo de várias infraestruturas antrópicas e estabelecendo sintonias com a comunidade local.

Como mais valias indiretas do empreendimento da Pedreira da Madalena, é relevante refletir que a singular posição geográfica desta, permitiu uma proximidade a inúmeros centros de consumo de agregados e de material de enrocamento, minimizando os respetivos custos de transporte. Foram muitas e variadas as obras que usufruíram desse facto, bem como da excelente qualidade do granito nela explorado.

Ao longo do tempo foi-se adquirindo a noção de que a história da Pedreira da Madalena é de facto rica em pormenores que a tornam num empreendimento singular a vários níveis, no panorama industrial português.

A noção da mais valia pedagógica para as gerações vindouras da eventual preservação e divulgação da memória de toda a atividade da Pedreira da Madalena, bem como da história geológica do recurso natural que é o Granito da Madalena, permite-nos afirmar que se encontram reunidas condições singulares para propor a criação de um Geossítio nos respetivos terrenos, do qual faça parte um Centro Interpretativo

da Pedreira da Madalena (CIPeMa) que reúna património material bem como algum imaterial, relacionado com os saberes construídos ao longo da atividade produtiva desta Pedreira. A preservação de um afloramento in situ do Granito da Madalena naturalmente obrigatória e constituirá um núcleo fundamental deste futuro Geossítio

8 - Referências Bibliográficas

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Análise sismostratigráfica em setores de duas bacias da Margem Ocidental Portuguesa (Bacia Lusitânica e Bacia de Peniche)

Universidade de Coimbra, Centro de Geociências, Rua Sílvio Lima, 3030-790 Coimbra

*autor correspondente: salomec14@gmail.com

Resumo:

Este estudo consiste na análise de dois setores de duas bacias sedimentares meso-cenozóicas portuguesas, Lusitânica e Peniche, situadas na Margem Ibérica Oeste, baseada na interpretação de linhas sísmicas disponibilizadas para o offshore. A análise realizada baseia-se no pressuposto de que as bacias Lusitânica e de Peniche têm afinidades genéticas partilhando elementos estratigráficos e estruturais.

Contudo, os resultados obtidos permitem afirmar que, pelo menos na área estudada, se registam diferenças substantivas relativamente ao quadro estrutural e tectónico em ambas as bacias. Na verdade, enquanto o setor setentrional é controlado pela tectónica salina, o setor meridional é dominado por intensa atividade tectónica.

O aprofundamento do conhecimento acerca da génese e evolução de cada uma das bacias revela-se crucial para o estabelecimento de um quadro estratigráfico de referência para a Bacia de Peniche, fundamental para a avaliação do seu potencial no plano da exploração de hidrocarbonetos.

Palavras-chave: Bacia Lusitânica; Bacia de Peniche; Análise Sismostratigráfica; Análise Sismo-estrutural; Arquitetura do Sal.

Abstract:

This present study concerns the exploration analysis and the interpretation of available seismic lines in two offshore sectors of two Portuguese Mesozoic marginal basins. These adjacent basins, namely the Lusitanian and Peniche basins, are situated in the Western Iberian Continental Margin, having been formed and accreted during the same period of geologic time. The study is based therefore upon the similar origin of these basins hence their history appears analogous in terms of stratigraphic development.

However, the results obtained enable the establishment of the similarities and of the substantive differences relative to the tectonic and stratigraphic development of the Lusitanian and Peniche basins. This is evident on the septentrional sector of the studied area which is dominated by diapiric activity as opposed to the meridional sector controlled by intense tectonism.

The deepening of knowledge about the genesis and evolution of each of them is crucial for the establishment of a stratigraphic frame of reference for the Peniche Basin, which still does not exist, but which is fundamental for the assessment of the basin’s potential in terms of hydrocarbon exploration.

Keywords: Lusitanian Basin, Peniche Basin, Sismostratigraphic Analysis, Structural Seismic, Salt Architecture

. Introdução

A descoberta de plays em bacias peri-atlânticas localizadas na margem conjugada canadiana veio despertar o interesse na exploração do offshore profundo da margem oeste portuguesa por parte das empresas petrolíferas. A Bacia de Peniche, umas das bacias sedimentares meso-cenozóicas portuguesas localizadas na Margem Ocidental, apresenta défice de conhecimento relativamente ao contexto geológico, tanto de geração como de evolução. Tal facto resulta de ser uma bacia que se encontra localizada no offshore profundo do território

português, de acesso difícil, não tendo o seu registo sido atravessado por sondagens. Em contraste, a Bacia Lusitânica é a bacia sedimentar portuguesa com mais campanhas de aquisição sísmica e sondagens realizadas por quilómetro quadrado. Na Bacia de Peniche, os modelos construídos provêm, na sua totalidade, da interpretação de resultados obtidos através de métodos geofísicos, tais como os gravimétrico, sísmico de reflexão e magnético, bem como, por comparação com a Bacia Lusitânica. No presente estudo procede-se a uma análise de dois setores offshore das bacias Lusitânica e Peniche, baseada na interpretação de linhas sísmicas.

.Enquadramento geológico da área de estudo

As bacias Lusitânica e Peniche localizam-se em áreas de jurisdição portuguesa na Margem Ocidental Ibérica. Apresentam uma disposição genericamente paralela e correspondem respetivamente ao setor central interior e exterior da margem portuguesa (Pena Reis et al., 2017). As duas bacias estão separadas fisicamente por um alto estrutural, conhecido como o bloco das Berlengas (bB) (Fig 1).

Figura 1 - Enquadramento geográfico das bacias em estudo na Margem Ocidental Ibérica. (bB - bloco das Berlengas; eE - esporão da Estremadura; bG - bloco de Guadalquivir) (modificado de Pena Reis et al., 2017).

.

A Bacia Lusitânica (Fig.1) ocupa no onshore e offshore português mais de 20 000 quilómetros quadrados, estendendo-se cerca de 200 quilómetros segundo uma direção NNW-SSE e por mais de 100 quilómetros na direção perpendicular (Kullberg et al., 2013). Esta configuração compreende como limites a este, o Maciço Hespérico, a oeste o sistema de horsts que aflora no arquipélago BerlengasFarilhões (Wilson, 1988), como a sul a falha da Arrábida e a norte a fronteira com a Bacia do Porto (Kullberg et al., 2013).

A sua evolução tectónica foi condicionada pela distensão mesozoica (Kullberg et al., 2006), relacionada com a abertura do Oceano Atlântico Norte e com a fragmentação do supercontinente Pangeia. O processo de distensão teve início no Triássico Superior e a sua evolução durou cerca de 100 milhões de anos (Pena Reis et al., 2012).

A estratigrafia da Bacia Lusitânica compreende sedimentos datados do Triássico Superior até ao Cretácico final que atingem cerca de 5 quilómetros de espessura e são, na maior parte, do Jurássico Superior (cerca de 3 quilómetros) (Pena Reis et al., 2011). O registo sedimentar da Bacia Lusitânica está depositado sobre um substrato rochoso do Paleozoico e encontra-se exposto em amplas partes da bacia (Pena Reis et al., 2016). O registo geológico da Bacia Lusitânica compreende quatro intervalos importantes: Triássico Superior- Jurássico Inferior; Jurássico Médio – Jurássico Superior; Jurássico Superior – Cretácico Inferior; Cretácico Superior – Cenozoico (Wilson, 1988; Rasmussen et al., 1998; Pena Reis et al., 2011) (Fig.2).

De acordo com Rasmussen et al. (1998), o episódio inicial de rifting, que se encontra registado em toda a área da bacia, teve início no Triássico Superior. Este primeiro episódio levou ao desenvolvimento de grabens e de half-grabens com uma orientação E-W (Kullberg et al., 2013). Sobre este sistema de blocos estruturais depositaram-se sedimentos de caracter siliciclástico – Grupo de Silves. No Hettangiano, sucederam-se sedimentos argilosos de fácies evaporíticas evidenciando já uma possível comunicação com o Tétis – Formação de Dagorda –, seguindo-se a Formação de Coimbra, marcada por uma espessa acumulação de calcários fossilíferos e dolomíticos – os primeiros níveis correspondentes a ambiente marinho raso (Pena Reis et al., 2010) (Fig. 2). A deposição dos carbonatos da Formação de Brenha e da Formação Candeeiros em tipo de plataforma, rampa e de ambientes de leques submarinos controlaram o enchimento da bacia durante o Jurássico Inferior a Médio (Rocha

et al., 1996; Rasmussen et al., 1998). São fácies de natureza mais profunda e ricas em matéria orgânica (de origem continental) que marcam outra etapa de subsidência tectónica da Bacia Lusitânica. A passagem do Calloviano (Jurássico Médio) ao Oxfordiano (Jurássico Superior) é marcada por um hiato na deposição sedimentar na Bacia Lusitânica, relacionado com o seu soerguimento e exposição subaérea (Pena Reis et al., 2012; Kullberg et al., 2013). No Jurássico Superior, um segundo episódio de rifting, afetou à escala regional, a Bacia Lusitânica (Wilson, 1988; Rasmussen et al., 1998; Pena Reis et al., 2011).

Durante este segundo episódio de rifting, a sedimentação retomou no Oxfordiano Médio com a Formação de Cabaços, de caracter margo-calcário com ocorrência de anidritas, descritas em furos de sondagens e pertinente para o presente estudo, e retomou no Oxfordiano Superior com a Formação de Montejunto com uma natureza carbonatada (Pena Reis et al., 2011). No Kimmeridgiano, a deposição de origem marinha franca foi interrompida por uma sedimentação maioritariamente siliciclástica – depósitos aluvio-deltaicos da Formação Boa Viagem e Alcobaça (a norte) e leques turbidíticos da Formação da Abadia (Wilson et al., 1989; Leinfelder et al., 1989; Kullberg et al., 2013; Pimentel et al., 2016).

Pena Reis et al. (2011) destacam que esta etapa de sedimentação, bem como a do grupo de Candeeiros, tenha conduzido a uma espessa acumulação de sedimentos, podendo ter acentuado a pressão e a

plasticidade desses materiais e promovido, assim, o movimento horizontal e vertical (pelas fraturas regionais) dos evaporitos da Formação Dagorda formando domos salinos e paredes de sal.

No Cretácico, a última etapa de evolução da Bacia Lusitânica está dividida em duas fases. A primeira fase – Berriasiano a Cenomaniano –, é composta por três ciclos de transgressão-regressão separados por uma série de discordâncias e que estão relacionadas com a finalização, para norte, da abertura do Oceano Atlântico Norte (Dinis et al., 2008). Depositaram-se sedimentos carbonatados e siliciclásticos em grande parte da bacia, especialmente no norte, contrariando a deposição de sedimentos clásticos que até então dominavam. Estão representados pela Formação do Cacém –carbonatos marinhos que se encontram depositados sobre sedimentos lagunares – Formação de Torres Vedras (Rasmussen et al.,1998) Esta evolução corresponde ao desenvolvimento clássico de uma margem passiva controlada pelo soerguimento de áreas continentais e subida no nível eustático no Cretácico (Dinis et al., 2008; Pimentel et al., 2016).

No final do Cretácico Superior (segunda fase), iniciaram-se movimentos compressivos –relacionados com a orogenia Pirenaica e Alpina que dominaram a Margem Ibérica Ocidental. Tais eventos, que continuam até ao Cenozoico, com especial incidência no Miocénico Superior, o que pode ter eliminado registos do Oligocénico (Rasmussen et al., 1998).

Figura  - Quadro estratigráfico da evolução dinâmica da Bacia Lusitânica (modificado Pena Reis et al., 2011).

Salomé Custódio, Rui Pena Reis, Roberto Fainstein

.

A Bacia de Peniche situa-se no offshore profundo da Margem Ocidental Ibérica (Alves et al., 2006), ocupa uma área com cerca de 300 quilómetros quadrados, e apresenta um alinhamento estrutural que segue maioritariamente uma direção N-S. É composta por diferentes setores que se encontram divididos por alinhamentos tectónicos, os quais correspondem à localização de canhões submarinos com grande relevo (Fig. 3).

O setor mais setentrional da Bacia de Peniche (setor 1; Fig.3) é limitado pela falha de Aveiro, que a separa da Bacia Interior da Galiza. O setor 2 corresponde à parte central e é separado do setor 3, a sul, pela falha da Nazaré.

Alves et al. (2006) referem que a fase inicial de rifting na Bacia de Peniche está representada por unidades do Triássico ao Berriasiano depositados numa série de blocos basculados. A primeira unidade, depositada sobre um sistema de grabens e half-grabens, T-J1, é caracterizada por sedimentos siliciclásticos de origem continental a marinha pouco profunda e ainda evaporitos. Sobre esta a unidade, assenta a unidade J2, do Sinemuriano, com sedimentos marinhos carbonatados e argilosos. Segue-se a unidade J3, do Oxfordiano Inferior, que é caracterizada por sedimentos pré-rifte siliciclásticos e carbonatados no setor 2 e feições turbidíticas na parte mais profunda dos setores 1 e 2. No Cretácico Inferior, a Bacia de Peniche apresenta sub-bacias caracterizadas por sedimentos de clímax de rifte –Unidades K1 e K2. Estas encontram-se limitadas a uma área alongada, de aproximadamente 100 quilómetros, ao longo do talude continental.

Ainda Alves et al. (2006) afirmam que no Cretácico Superior e no Cenozoico, o transporte de sedimentos para a bacia derivou de regiões pouco profundas da margem ibérica ocidental - Unidades C1, C2, C3 e C4. A unidade C1 é caracterizada por turbiditos arenosos a argilosos e ainda por sedimentos pelágicos com depósitos de fluxo de detritos local. A unidade C2 apresenta uma intercalação de conturitos arenosos e argilosos, turbiditos e ainda sedimentos pelágicos a hemipelágicos. Para finalizar, as unidades C3 e C4 apresentam, no geral, sedimentos pelágicos, hemipelágicos e com intercalação de turbiditos arenosos e argilosos.

Durante o Cenozoico, a bacia foi afetada pelo tectonismo associado à Orogenia Alpina, o que resultou, localmente, numa inversão tectónica, causando levantamento regional com a reativação das estruturas herdadas do Mesozoico e, por conseguinte, rejuvenescimento da fonte de sedimentos em áreas pouco profundas na margem (Alves et al., 2006).

Figura 3 - Posição das linhas sísmicas analisadas. A linha D1, D2, T1, T2 e T3 (em anexo) localizam-se na Bacia Lusitânica. As linhas P1 e P2 (em anexo) situam-se no setor a sul da Bacia de Peniche (modificado de Alves et al., 2013).

3. Metodologia

Este artigo teve como base trabalho de gabinete, durante o qual se procedeu à revisão de literatura relevante para a interpretação sismoestratigráfica de bacias sedimentares, nomeadamente acerca dos fundamentos teóricos, que permitem sustentar a análise das reflexões num perfil sísmico: o estudo dos padrões de terminação (das reflexões sísmicas) e dos parâmetros sísmicos. A interpretação sismoestratigráfica da Bacia Lusitânica foi efetuada com o auxílio do software PETREL® Schlumberger 2017. Este software é utilizado, principalmente, no âmbito da indústria dos hidrocarbonetos. Esta plataforma de P&P abrange competências tais como, a interpretação dos dados de aquisição sísmica (2D/3D/4D), a correlação com sondagens de perfuração, a simulação de modelos de reservatório, a inserção e visualização de resultados de simulação, o cálculo de volumes, a criação de mapas e o desenvolvimento de estratégias para

maximizar a prospeção de reservatórios com o fim de prever melhor a qualidade dos mesmos (Fainstein, 2020, comunicação pessoal).

Neste software procedeu-se à inserção das linhas sísmicas com a respetiva referenciação geográfica. Para tal, utilizou-se o ícone de interpretação para o reconhecimento (manual) dos horizontes e falhas, efetuou-se a amarração das diversas linhas no que diz respeito aos horizontes e falhas e definiu-se o contexto estrutural regional com base nas linhas interpretadas e na análise detalhada que teve por base os princípios geológicos e sismostratigráficos. Para a Bacia de Peniche, analisaram-se as linhas impressas em papel para determinar as amplitudes sísmicas, definir os horizontes, sempre que possível, e inferir o seu significado geológico. Por fim, procedeu-se à compilação e integração dos resultados para o estudo comparativo das áreas do presente trabalho.

4. Interpretação sismostratigráfica

As linhas sísmicas analisadas no presente estudo não foram objeto de tratamento e reprocessamento. Os horizontes sísmicos reconhecidos (Tabela 1) basearam-se em Alves et al. (2006), Cardoso et al. (2014) e Pimentel et al. (2016).

Os horizontes reconhecidos estão definidos pelo limite do topo da unidade que representam; o seu limite inferior está definido pelo limite superior da unidade infra-jacente. Este reconhecimento foi estabelecido a partir de uma análise mais abrangente devido à fraca resolução das linhas sísmicas, o que não permite uma análise mais detalhada dos pacotes sísmicos que compõem cada unidade litossísmica. Além desta limitação, reconhece-se uma outra. Ao contrário da Bacia Lusitânica, a Bacia de Peniche nunca foi alvo de qualquer tipo de furo de prospeção, pelo que a informação obtida a partir da análise das respetivas linhas sísmicas tem um caráter ainda mais interpretativo.

Nas linhas da Bacia Lusitânica não é possível reconhecer o horizonte que engloba o Triássico Superior e que contém o sal. O limite entre este e o soco do Paleozoico também não é possível de delimitar devido à fraca resolução das linhas sísmicas. E, sendo assim, o topo do Triássico não está representado nas interpretações que se apresentam, sendo considerado como soco acústico. Os autores acima referidos conseguem nas linhas que analisaram reconhecer duas descontinuidades importantes, a do Caloviano e a do Aptiano; no entanto, no presente trabalho, tal não foi possível, mais uma vez devido à fraca resolução das linhas

sísmicas. O enchimento do Jurássico e do Cretácico encontra-se, na generalidade, deformado, o que facilitou o seu reconhecimento. Já as camadas que apresentam refletores mais horizontais são características do Cenozoico.

Nas linhas da Bacia de Peniche também não é possível reconhecer o horizonte que engloba o Triássico Superior. Mesmo as restantes unidades litossísmicas são de difícil reconhecimento. A exceção é o enchimento do Jurássico e do Cretácico, com a deformação que lhe é característica, e o Cenozoico, com os refletores mais horizontais, e bem expresso no setor oriental da linha.

Para o estudo do offshore da Bacia Lusitânica foram selecionadas cinco linhas sísmicas 2D multicanais, cuja localização aproximada está representada na Figura 3. Este conjunto de linhas é composto por duas linhas dip W-E (D1 e D2 em anexo) e três linhas transversais com direções NW-SE (T2 e T3 em anexo) e com direção SW-NE (T1 em anexo).

Para a Bacia de Peniche foram disponibilizadas duas linhas sísmicas (P1 e P2 na Fig.3) ambas com direção WSW-ENE e localizadas no setor a sul da bacia.

Tabela 1 - Horizontes sísmicos Bacia Lusitânica reconhecidos no presente estudo.

. Interpretação da linha S8- (T) da Bacia Lusitânica

Na parte central deste perfil (Fig.4), adquirido ao largo oeste da Figueira da Foz, reconhecem-se estruturas de arqueamento de camadas que aparentam ser dois domos estreitos de sal. Estes apresentam feições penetrativas, aflorando ao nível do mar, e criando assim duas mini-bacias de pouca

Salomé Custódio, Rui Pena Reis, Roberto Fainstein

profundidade. Estes domos mergulham em direção ao sul, em estrutura monoclinal. A norte do domo central, no flanco norte, encontra-se uma estrutura em turtle-neck, isto é, um sinclinal levemente invertido devido ao movimento do domo de sal mais próximo, o que indica uma inversão tectónica (possivelmente no fim do Cretácico).

. Interpretação da linha S8-6 (T) da Bacia

Lusitânica

Este perfil (Fig.5) evidencia dois domos salinos como feições principais, bem como a modificação estrutural a eles associada, nomeadamente uma “mini-bacia” na zona sudeste do perfil. O domo na parte central chegou a penetrar a superfície ocorrendo inversão tectónica nas camadas mais próximas. É possível reconhecer pelo menos um pinch-out (redução de espessura da unidade perante uma terminação em onlap) na zona noroeste do perfil.

. Interpretação da linha S8-8 (T) da Bacia

Lusitânica

Este perfil (Fig.6) encontra-se numa posição oblíqua relativamente ao mergulho principal das bacias estudadas. Apresenta inversão tectónica

causada pela influência salina na parte NE do perfil um domo de sal. Neste perfil, na direção SE reconhece-se ainda uma feição sísmica eventualmente compatível com um escape de fluído em direção ao fundo do mar.

. Interpretação da linha SUN-W (D) da Bacia Lusitânica

Este perfil (Fig. 7) apresenta muitos dobramentos em consequência da tectónica salina. A aquisição desta linha sísmica foi realizada num setor onde a presença de sal se encontra a grande profundidade, não atingindo os estratos mais superficiais, o que resulta numa suave deformação daqueles, sem, contudo, os romper.

. Interpretação da linha SUN-W (D) da Bacia Lusitânica

Este perfil (Fig. 8) apresenta as camadas já mais deformadas em resultado direto da tectónica salina, cuja presença se encontra a menores profundidades. No setor oeste do perfil reconhece-se uma série de falhas que sugerem estrutura em flor.

Figura  - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica S84-19 transversal adquirida ao largo da Figueira Da Foz. Ver figura 3 para a sua localização.
Figura  - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica transversal S84-26 adquirida ao largo da Figueira Da Foz. Ver figura 3 para a sua localização.

. Interpretação da linha SUN-W (D) da Bacia Lusitânica

Este perfil (Fig. 8) apresenta as camadas já mais deformadas em resultado direto da tectónica salina, cuja presença se encontra a menores profundidades. No setor oeste do perfil reconhece-se uma série de falhas que sugerem estrutura em flor.

.6 Interpretação da linha sísmica P da Bacia de Peniche

No lado este deste perfil sísmico (Fig. 9) é possível distinguir uma secção que representa a parte oeste da Bacia Lusitânica (offshore raso), e que integra a Bacia de Peniche. Na parte oeste deste perfil é possível interpretar superfícies/refletores sísmicos do Mesozoico, que exibem aspetos de carácter erosivo por incisões que parecem preenchidas por depósitos do Cenozoico. É possível também reconhecer um horst de material do soco. As camadas na zona este apresentam padrões internos sub-horizontais bem evidentes.

. Interpretação da linha sísmica P da Bacia de Peniche

Este perfil (Fig. 10), situado um pouco mais a sul

de P1, é claramente controlado pela elevação do soco e pela presença de um horst que faz parte do sistema de grabens e half-grabens em que assenta a Bacia de Peniche. Reconhecem-se indícios claros da inversão tectónica característica do Cenozoico, que afetou as camadas mais antigas do Mesozoico. Na porção sul dos dois perfis analisados não se reconhecem evidências da presença de sal.

. Integração dos Dados e Discussão dos Resultados

Nesta secção, pretende estabelecer-se o quadro estrutural e tectónico da Bacia Lusitânica (BL) no offshore raso ao largo da Figueira da Foz e o da Bacia de Peniche (BP) no setor estudado (Fig. 3) com base na interpretação das linhas sísmicas atrás analisadas (D1-T3 (em anexo) da BL e P1-P2 (em anexo) da BP) e tendo em conta conhecimento anteriormente publicado.

A linha D1 e D2 (em anexo) mostram claramente uma influência do diapirismo nos níveis mais profundos das unidades representadas, o que é mais evidente na zona mais a este do perfil sísmico D1 (em anexo). No perfil sísmico D2 (em anexo) verifica-se uma maior proximidade dos diapiros, situados a menor profundidade, o que provoca maior deformação, que se traduz com a estrutura em flor situada a oeste (Fig. 11). Já os perfis sísmicos transversais (T1, T2 e T3 em anexo) são marcadas

Figura  - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica deep SUN73-370W adquirida ao largo da Figueira Da Foz. Ver figura 3 para a sua localização.
Figura 6 - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica transversal S84-28 adquirida ao largo da Figueira Da Foz. Ver figura 3 para a sua localização.
Salomé Custódio, Rui Pena Reis, Roberto Fainstein

Figura 8 - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica transversal SUN73-390W adquirida ao largo da Figueira Da Foz. Ver figura 3 para a sua localização.

por uma deformação ainda mais acentuada devido à presença de diapiros a menos de 1 Km de profundidade, isto é, num nível crustal menos profundo do que em D1 e D2 (em anexo), de acordo com Pena Reis et al. (2017). Nalguns casos, os diapiros chegam a penetrar a crosta, provocando uma deformação mais acentuada nas unidades. A linha T1 (em anexo), que corta lateralmente as linhas transversais T2 e T3 (em anexo), é a que evidencia maior influência do diapirismo, exibindo feições penetrativas que indicam que os diapiros chegaram a romper a superfície.

Em suma, o offshore raso da Bacia Lusitânica, junto ao largo da Figueira da Foz, é localmente controlado pelo domínio do sal, sendo os diapiros a estrutura salífera principal. A sua ascensão atravessa toda a sequência mesozoica levando, nalguns locais, à sua penetração até à superfície.

A Bacia de Peniche, tal como referido anteriormente, assenta num sistema de grabens e halfgrabens, que pode ser reconhecido facilmente a partir da análise das linhas sísmicas interpretadas (P1 e P2 em anexo), adquiridas a norte da falha da Nazaré e nas proximidades do canhão da Nazaré. As feições reconhecidas na região mais oeste do perfil P1 (em anexo) indiciam a influência da ação dinâmica associada ao canhão da Nazaré; no entanto, as feições erosivas possam ser caracterizadas como conturitos que fazem parte de um possível corredor de correntes

de contorno/fundo situado mais a sudoeste. Em suma, no setor analisado da Bacia de Peniche não há registo de sal, nem de indícios tectónicos típicos de movimento salino. Aquilo que se reconhece são indícios do soerguimento do soco do Paleozoico, tal como referido no trabalho de Alves et al. (2006). Estes autores dão enfase à ausência de sal neste setor e à presença de um half-graben do Cretácico inferior, ao contrário do que foi registado no setor norte desta bacia por Alves et al. (2006, 2013). Assim, e a partir da análise integrada da informação obtida, e que se refere a um setor localizado no offshore raso ao largo da Figueira da Foz, pode afirmar-se que se registam diferenças substantivas relativamente ao quadro estrutural e tectónico das bacias Lusitânica e Peniche. Na verdade, enquanto o setor setentrional da área estudada é controlado pela atividade diapírica, o setor meridional é dominado por intensa atividade tectónica.

Tal não se verifica em outros setores das mesmas bacias. Na verdade, comparando os perfis sísmicos da Bacia Lusitânica do presente trabalho com as interpretações do setor norte da Bacia de Peniche (Alves et al., 2013), é possível reconhecer semelhanças entre elas, nomeadamente através da presença de diapiros alimentados pelo sal do Triássico (Formação Dagorda).

6. Conclusão

Vários autores já reconheceram que as Bacias Lusitânica e de Peniche registaram uma evolução co-genética durante o Triássico e o enchimento do Jurássico. Contudo, no Cenozoico a evolução destas duas bacias diverge substancialmente, tal como é referido anteriormente. Esta divergência acontece, não só, mas também, devido à influência dos canhões submarinos que se encontram distribuídos pelos diferentes setores no offshore da Margem Ibérica Ocidental, pois as movimentações tectónicas que originaram o período de inversão são equivalentes nas duas bacias. A evolução tectónica cenozoica posterior à formação do sistema de grabens e half-grabens mesozoicos mostra a presença de sistemas erosivos no setor mais a sudoeste da Bacia de Peniche, o que não é evidenciado no setor mais a norte desta.

A acumulação do sal também ocorreu em diferentes períodos. Na Bacia de Peniche o sal é, em parte, datado do Jurássico Inferior (Alves et al., 2013; Walker et al., 2021), enquanto na Bacia Lusitânica é do Triássico Superior (Formação Dagorda). Além disso, o tipo de estruturas salinas na Bacia Lusitânica parece ser influenciado por diapirismo e pela deformação das camadas associadas à sua ascensão e penetração

Figura  - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica regional 2D P1 (em anexo) da Bacia de Peniche. Ver figura 3 para a sua localização (legenda: + soco acústico).

Figura  - (a) Secção sísmica e (b) respetiva interpretação da linha sísmica regional 2D P2. Ver figura 3 para a sua localização (legenda: + soco acústico).

(halocinese). Já na Bacia de Peniche o sal está representado, a norte, por estruturas em almofada e em paredes, enquanto mais a sul, perto do canhão da Nazaré, não é possível reconhecer refletores que apresentem resoluções sísmicas características da presença de sal. No entanto, a Bacia de Peniche, no setor referenciado na Figura 3 publicada em Alves et al. (2006; 2013), mostra também a presença de diapiros de sal e uma estrutura semelhante à do offshore raso da área estudada da Bacia Lusitânica. Tal facto permite admitir relações de correlação entre as duas bacias, que só parecem ser mais claras a oeste da Bacia Lusitânica e não mais a sul, isto é, na área que foi objeto de estudo no presente trabalho.

Em conclusão, pelo menos na área estudada das bacias Lusitânica e de Peniche, registam-se diferenças substantivas relativamente aos respetivos quadros estrutural e tectónico (Tabela 2). Na verdade, enquanto o setor setentrional da área estudada é controlado pela atividade diapírica, o setor meridional é dominado por intensa atividade tectónica.

Nota final: do trabalho até agora desenvolvido apresentam-se como resultados preliminares a serem enquadrados futuramente para a criação de um modelo de correlação entre a Bacia Lusitânica e a Bacia de Peniche, com base em sismoestratigrafia e outros dados geofísicos.

Figura 11 - Mapa de controlo tectónico e salífero da unidade Dagorda da Bacia Lusitânica que mostra a profundidade a que se situa o sal (modificado de Pena Reis et al., 2017).

Tabela . Resumo da análise de dois setores offshore da Bacia de Peniche a Bacia Lusitânica do presente trabalho.

Bacia de Peniche Bacia Lusitânica

Idade do sal Jurássico Inferior Triássico Superior

Tectónica salina no setor estudado Não visível Diapiros

Inversão tectónica Equivalente Equivalente

Contexto estrutural e tectónico Diferente Diferente

Contexto regional no setor estudado

Influência tectónica Influência diapírica

Salomé Custódio, Rui Pena Reis, Roberto Fainstein

Agradecimentos

Os autores agradecem ao departamento de Prospeção & Pesquisa da Direção Geral de Energia e Geologia pela disponibilização das linhas sísmicas utilizadas neste estudo. Este artigo surge no âmbito de uma dissertação de mestrado apresentada à Universidade de Coimbra em dezembro de 2020 e foi desenvolvido no âmbito das atividades do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, através dos projetos UIDB/00073/2020 e UIDP/00073/2020 financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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Anexo

Extensional tectonics and stratigraphy of the North Atlantic Margins. AAP Memoir, 46, 341361.

Salomé Custódio, Rui Pena Reis, Roberto Fainstein
T1

Análise sobre empregabilidade e associativismo nas áreas das Geociências em Portugal

Filipa Luz,*, Inês Pereira, Miguel Maia, Sara Leal, Ricardo Pereira,6, José Roseiro, João Casacão, Diogo São Pedro, Noel Moreira8

1ALMINA, Minas do Alentejo, S.A, Algares 7600-015, Aljustrel, Portugal

2Instituto Dom Luiz (IDL), Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Campo Grande, 1749-016 Lisbon, Portugal

3Université Clermont Auvergne, CNRS, IRD, OPGC, Laboratoire Magmas et Volcans, F-63000 Clermont-Ferrand, France

4Universidade de Évora, Rua Romão Ramalho, 59 7000-671 Évora, Portugal

5Instituto de Ciências da Terra, Pólo do Porto, Rua do Campo Alegre, 4169-007, Universidade do Porto, Portugal

6GeoBioTec, Departamento de Ciências da Terra, Universidade Nova de Lisboa

7GALP, Rua Tomás da Fonseca, Torre A, Lisboa, Portugal

8Instituto de Ciências da Terra, Pólo de Évora; Instituto de Investigação e Formação Avançada, Universidade de Évora, Palácio do Vimioso, Largo Marquês de Marialva, Apart. 94, 7002 - 554 Évora, Portugal

* geo.filipa.luz@gmail.com

Resumo

A empregabilidade e associativismo científico-profissional em Geociências em Portugal são raramente alvo de análise integrada. Neste estudo são analisados os resultados de um inquérito “online” promovido pelo projeto de comunicação de ciência “Sm-Ar-Te-F-O-Ne - Todos vêm das rochas”, em que os inquiridos responderam de forma voluntária, a questões associadas a empregabilidade, ligação entre academia e indústria, e sobre o associativismo na área das Geociências. Os dados revelam na generalidade, uma baixa taxa de empregabilidade neste domínio técnico-científico, bem como assimetrias em função do género, ou dependentes do grau académico obtido. Os dados indicam também, uma significativa dissociação entre academia e mercado de trabalho no que respeita à promoção e eficácia de estágios e formação profissionalizante. Observa-se ainda que a participação associativa é reduzida, e carece de ação por parte dos vários intervenientes, por forma a dinamizar a interligação entre competências académicas e profissionais. Os resultados demonstram ainda, que para cumprir os objetivos de efetiva integração do papel do geólogo nos desafios do futuro rumo a uma sociedade ambientalmente sustentável, é fundamental potenciar uma ligação sólida e de confiança com os diversos patamares sociais, bem como promover uma integração produtiva entre academia e mercado de trabalho.

Palavras-chave: Empregabilidade, Associativismo, Geociências em Portugal

Abstract

Employment and participation in scientific-professional affiliations in the Geosciences in Portugal are rarely analysed. In this work, the results of an online inquiry, promoted by the science communication project “Sm-Ar-Te-F-O-Ne - Todos vêm das rochas”, are presented and discussed. Participants answered voluntarily to questions related to employment, the connection between academia and work opportunities, and their participation in Geoscience affiliations. Results indicate a low rate of employment in Geosciences, as well as gender disparities or dependencies by type of academic degree. Data also revealed a significant gap between academia and industry, in what concerns the promotion and efficiency of existing professional training programs. Participation in professional-scientific associations is limited and requires further generalised actions in order to expand technical competencies. Results also show that for accomplishing the goals towards an environmentally sustainable society and future challenges of the role of the geologist, it is critical to foster a solid and confident relationship with the communities, as well as to promote a fruitful link between academia and employers.

.Introdução

As Geociências (aqui utilizado para incluir as áreas da Geologia, Engenharias Geológica e de Minas, Geoambiente, Geografia Física, ensino de Biologia e Geologia e Geofísica), como disciplina que pretende estudar e compreender o sistema terrestre no seu todo e a sua interação com a atmosfera, a hidrosfera e biosfera, apresentam nas suas componentes técnica e científica, importantes

contributos para o desenvolvimento da sociedade civil e no desenvolvimento sustentável. Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, o papel das Geociências é reconhecido como fundamental para aspetos cruciais como: erradicação de pobreza, acesso a serviços básicos, prevenção e mitigação de riscos geológicos ou acesso a recursos energéticos (Stewart & Gill, 2017; Gill & Smith, 2021). Nesta perspetiva, torna-se fundamental explorar, conhecer e caracterizar a classe profissional que incorpora os geocientistas portugueses. Em 2011, um estudo encomendado pela Associação Portuguesa de Geólogos ao ISCTE, no âmbito do processo de pedido de profissionalização da profissão (Veloso et al., 2011), apresenta o primeiro levantamento sobre o campo profissional da Geologia, separando a Geologia das Engenharias Geológica e de Minas e do Ensino da Geologia. Neste estudo, além de um questionário foram também realizadas entrevistas que permitiram fazer uma caracterização aprofundada das especificidades profissionais associadas ao trabalho dos profissionais nestes domínios. Em 10 anos, tanto a situação económica como a estratégia europeia e nacional de desenvolvimento sustentável sofreram grandes alterações, pelo que urge continuar este trabalho de caracterização dos profissionais ligados às Geociências. Igualmente importante é conhecer o papel do associativismo profissional e científico desta classe e quais os desafios que se colocam ao geocientista (aqui usado para referir profissionais nas áreas da Geofísica, Geologia, Hidrogeologia, Engenharia de Minas e Geológica, Geografia Física e Ensino da Geologia), perspetivando o papel desta área científica na aplicação dos ODS. Tal como identificado por Veloso et al. (2011), o universo de associados ao nível da associação profissional de âmbito nacional em Geologia, a APG, situava-se em 700 indivíduos, apenas uma fração do universo de profissionais nesta área.

A motivação para a elaboração e disseminação de um inquérito aos formados em Geologia ou áreas afins baseou-se em dois pontos principais: 1) a situação de empregabilidade dos licenciados em geociências é amplamente desconhecida, apesar de os dados difundidos por algumas Universidades situarem o desemprego (inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional; IEFP) em geociências em níveis baixos (< 2 %; IEFP, 2021), e 2) a sensação generalizada de descontentamento por parte dos geocientistas relativamente às ofertas de primeiro emprego e o envolvimento das Universidades e das associações representativas

na criação de oportunidades. Originalmente, este inquérito visava obter uma estimativa das tendências sobre estas questões para servir de suporte a um webinar (canal youtube Smartefone Group) que foi promovido e dinamizado pelo grupo Sm-Ar-Te-F-O-Ne - Todos vêm das rochas (http:\\smartefonegroup.wixsite. com) “Das Universidades para as Empresas: o link perdido”, no âmbito do ciclo de webinars Geologia Toca a Todos, realizado no dia 11 de novembro de 2020 (Smartefone Group, 2020). A adesão ao inquérito foi bastante positiva, com mais de 400 respostas, o que permitiu uma análise mais detalhada e robusta dos dados obtidos, e a sua disponibilização sob a forma desta publicação. Apesar desta análise partir de uma amostragem com limitações, esta poderá servir de base de trabalho para as associações representativas, Universidades e mesmo Empresas se poderem debruçar sobre a empregabilidade em Geociências.

Este trabalho pretende apresentar, de forma não exaustiva, uma caracterização da classe profissional dos geocientistas portugueses como um todo, com foco em quatro pontos principais:

i. Caracterização social da população amostrada (e.g. faixa etária, género, formação académica);

ii. Determinação do nível e área de formação académica obtida pelos licenciados em Geociências (e.g. instituição onde a formação foi obtida, grau académico máximo), bem como a sua opinião relativamente à relação entre as universidades e o sector empregador (público ou privado), nomeadamente no apoio ao desenvolvimento da sua carreira;

iii. Caracterização da empregabilidade em Geociências (e.g. atividade profissional, questões de género, faixa etária e grau académico);

iv. Caracterização do nível de associativismo profissional e científico, especificamente na área da Geologia.

.Dados e Métodos

..Determinação do tamanho de amostragem e tipo de amostragem

O inquérito “A situação do emprego em Geociências em Portugal” foi direcionado a todos os detentores de uma licenciatura em Geologia ou áreas afins (incluindo Engenharias Geológica e de Minas, Geotecnia e Geoambiente, e Biologia-Geologia). Para este estudo pretendeu-se essencialmente alcançar a atual população

no ativo, correspondendo aos licenciados entre 1980 e 2020. Não é perfeitamente reconhecida qual a real dimensão dos licenciados nestas áreas do conhecimento ao longo deste período. No entanto, e através de consultas de dados estatísticos disponíveis no sítio do Ministério da Ciência, da Tecnologia e Ensino Superior (Infocursos, 2021), foi possível aferir que entre os anos 2011/2012 e 2012/2013, em média, terminaram a licenciatura nestas áreas 185 estudantes, enquanto em 2016/2017 e 2017/2018, em média, 174 estudantes. Estes números sugerem alguma estabilidade no número de licenciados entre 2011 e 2018. Extrapolaram-se estes valores entre os anos 2000 e 2020, admitindo-se assim que em duas décadas ter-se-ão licenciado aproximadamente 3600 geocientistas no total das áreas mencionadas. Entre a década de 1990 e 2010 o número de licenciados nas áreas das Ciências Naturais, Matemática e Informática triplicou. Apesar de ser difícil fazer uma extrapolação direta para as áreas das Geociências, aplicámos um factor de 33 % do valor da década 2010 para as décadas de 1980 e 1990, obtendo assim uma estimativa de 1200 licenciados. Desta forma, a população total abrangida por este inquérito aproximar-se-á dos 5000 indivíduos.

O tipo de amostragem realizada foi não probabilístico, fazendo recurso a amostragem por conveniência (Ferreira e Campos, 2009), ou seja, aplicando o questionário a um grupo de elementos que se encontravam disponíveis e a uma amostragem “bola de neve” (Ferreira e Campos, 2009), em que o alcance da população amostrada esteve influenciado pelos primeiros indivíduos amostrados. Enquanto o primeiro tipo de amostragem faz com que esta não seja estatisticamente representativa da população, o segundo tipo de amostragem é adequado quando se pretende analisar populações relativamente pequenas, a que não se tem diretamente acesso e com características muito específicas (Ferreira e Campos, 2009). Considerámos ser este o caso na situação do emprego em Geociências em Portugal.

.. Metodologia e estrutura do questionário

Para este estudo, recorreu-se à aplicação de um inquérito, aproveitando os recursos de comunicação e de fácil dispersão de informação como as redes sociais, nomeadamente através de grupos próprios da especialidade no Facebook e LinkedIn (e.g. grupos de professores e de especialidade em Geologia). O inquérito foi aplicado no período compreendido entre 9 de setembro e 9 de outubro

de 2020, inclusive. Uma cópia do inquérito que foi aplicado pode ser encontrada no Anexo I.

Aos participantes foi garantido o anonimato, mas foi-lhes solicitado a participação com o intuito de se obterem alguns dados para serem apresentados no ciclo de webinars “Geologia Toca a Todos”, na sessão “Das Universidades para as Empresas: o link perdido” (Smartefone Group, 2020).

O questionário foi organizado em quatro seções: i) caracterização social da população amostrada; ii) formação académica; iii) situação profissional, e iv) associativismo e perceções sobre a profissão.

i) Caracterização social da população amostrada - Para a melhor caracterização da população do ponto de vista social e demográfico, mas também como elemento caracterizador da representatividade da amostra foram colocadas 3 questões: grupo etário, género e local onde reside e trabalha;

ii) Formação académica - De modo a obter uma caracterização da população relativamente ao grau académico dos indivíduos, perceber quais as instituições que atribuíram o grau, a realização de estágios de formação e quais as perceções sobre a ligação entre Universidades e Empresas, nomeadamente na entrada num primeiro emprego. Esta secção é composta por 10 questões, incluindo respostas de seleção única, curta e de opinião;

iii) Situação profissional - Com o objetivo de obter informações relativas à sua situação de emprego atual e anterior foram elaboradas 9 questões de resposta única ou curta. Pretende-se nesta secção perceber se os inquiridos trabalham ou trabalharam em áreas afetas às Geociências em algum período ou estiveram em situação de desemprego por tempo indeterminado;

iv) Associativismo e perceções sobre a profissão - Para caracterizar a população no que diz respeito ao seu grau de envolvimento em causas conjuntas e as suas perceções relativamente à profissão, foram colocadas 9 questões. Estas questões incluíam respostas de escolha múltipla, respostas em escala graduada de 1 (nada) a 5 (muito), bem como questões de resposta livre e de opinião.

.. Limitações e incertezas resultantes da amostragem

Uma das limitações mais evidentes do estudo está ligada ao tipo de amostragem realizada. Esta limitação prende-se por não ter sido utilizado um outro tipo de banco de dados que permitisse fazer uma seleção aleatória de uma amostra mais

representativa da população sob análise. No entanto, consideramos que esse tipo de amostragem seria praticamente impossível, já que não existe nenhuma plataforma que reúna os contactos de todos os licenciados nas áreas afetas às Geociências no período considerado para esta análise.

Outra limitação resulta da metodologia aplicada, uma vez que o questionário foi disseminado em formato eletrónico, unicamente através das redes sociais e contactos de correio eletrónico. Ainda que se tenha utilizado uma estratégia de amostragem por efeito de “bola de neve”, este estudo acaba por limitar a participação a indivíduos com presença nas redes sociais e/ou acesso frequente a meios informáticos, e/ou que tenham permanecido em contacto direto com colegas ou grupos das Geociências. Acresce referir ainda que o grupo de autores que aplicou o questionário tem maior proximidade com colegas que se licenciaram a partir dos anos 2000. Desta forma, a amostra inquirida pode não garantir uma representação equilibrada dos licenciados nas Geociências, com maior prejuízo para o grupo que terá concluído o curso entre os anos de 1980 e 2000.

A aplicação de um inquérito em “bola de neve” incorre em dois inconvenientes, que foram observados aquando do tratamento de dados: a eventual perda de controle sobre quem responde ao questionário (por exemplo, o número de respostas que cada indivíduo submete) e a correta interpretação de algumas das questões colocadas, que em caso de entrevista poderiam ser mais bem clarificadas. Verificou-se a existência de algumas respostas que partilhavam entre si uma semelhança superior a 80 m%, incluindo as questões de resposta aberta. Numa tentativa de não enviesamento do inquérito, optou-se pela eliminação de todas essas respostas. Em relação ao segundo ponto, foram observadas inconsistências em algumas respostas. Por exemplo, identificou-se um conflito entre indivíduos que sinalizaram ter somente o grau de licenciado, mas que indicaram uma instituição que lhes terá conferido pós-graduação (provavelmente não conferente de grau). Nestes casos classificaram-se estas respostas como inválidas, mas sem eliminar o conjunto destes dados. Outro tipo de inconsistência verificado relacionou-se com a resposta à questão “já teve emprego nas Geociências?”, em que os inquiridos responderam “Nunca”, mas tendo depois indicado ter mais do que 1 ano de experiência de trabalho na área das Geociências. Nestes casos foram marcadas ambas as entradas como inválidas. Assim, quando estes dados são utilizados na análise dos resultados, o número total sobre o qual a análise recai é inferior

ao total de apurados no inquérito.

Após o processo de controle de qualidade, de um total de 429 respostas obtidas foram consideradas apenas as respostas de 377 participantes, constituindo assim a população deste estudo, o que representa uma amostra de 7,5% do universo estimado de 5000 indivíduos formados nas áreas previamente mencionadas. Por fim, uma vez que o questionário foi respondido sem supervisão, não é possível atestar o grau de confiança nos resultados obtidos a partir deste, podendo estar aqui incluídos falsos testemunhos.

. Resultados

Caracterização social

Foram validadas um total de 377 respostas ao inquérito feito “A situação da profissão de geólogo em Portugal”. Do total, 189 participantes são do sexo feminino e 188 do sexo masculino (Fig. 1). Os grupos etários distribuem-se por: 8% com idades inferiores a 25 anos, 42% com idades compreendidas entre 25 e 34 anos, 30% entre 35 e 44 anos, 12 % entre 45 e 54 anos, 7% entre 55 e 64 anos e apenas 2% para idades superiores a 65 anos. De uma forma geral, para cada grupo etário o número entre participantes do sexo masculino e feminino é semelhante, ainda que seja ligeiramente superior para o sexo feminino nos grupos etários 25-34 e superior para o sexo masculino acima dos 55 anos (Fig. 1).

De toda a amostra inquirida, 80% encontra-se numa situação de emprego com contrato (seja temporário, a termo certo ou incerto), 53% na área das Geociências e 27% com emprego fora da área das Geociências (Fig. 2). Os resultados indicam assim que 20% dos inquiridos não se encontra empregado, sendo que 10% são estudantes (cursos de pós-graduação), 1% reformados ou incapacitado para o trabalho e 9% encontra-se em situação de desemprego (Fig. 2). Em relação ao país de residência, a maioria dos inquiridos (91%) indicou residir em Portugal, 6% indicou viver num outro país europeu e apenas 3% indicou residir fora da Europa.

.. Formação Académica

O ensino superior português apresenta uma oferta formativa em Geociências variável ao nível do grau de licenciatura. Contudo, considerando os anos mais recentes, a oferta abrange cerca de

Figura 1 - Caraterização da amostra considerando a faixa etária e o género.

Figure 1. Characterisation of the population considering age and gender.

14 cursos que totalizam 380 vagas anuais no acesso ao ensino superior (DGES, 2021). No sentido de caracterizar a população abrangida pelo inquérito em termos de formação académica, foram colocadas 7 questões (Anexo I, questões 2 a 7). Foi apurado que 21% dos inquiridos tinham terminado a licenciatura entre 1960 e 2000 e 79% entre o ano 2000 e 2020 (Fig. 3). De notar que uma percentagem significativa da população amostrada (47%) terminou a licenciatura entre os anos 2010 e 2020 (Fig. 3).

A população abrangida pelo questionário revelou um claro predomínio de inquiridos que completaram a licenciatura em Geologia (86%) frente às restantes áreas das Geociências abrangidas por este estudo (Fig. 4A). Os restantes 15% distribuem-se, da maior percentagem para a mais pequena, entre Engenharia Geológica (7%), Biologia e Geologia (3%), Engenharia Geológica e de Minas (3%), Geociências Aplicadas (0,3%) e Geociências e Educação Ambiental (0,3%). A formação superior realizada pelos inquiridos revelou um predomínio de licenciaturas realizadas na Universidade de Lisboa (58%), seguindo-se a Universidade do Porto (14%) e a Universidade de Coimbra (11%) (Fig. 4B). Quando inquiridos sobre a realização de estudos pós-graduados, 60% indica ter avançado para formação académica avançada, revelando que a amostra apresenta alta qualificação, com um predomínio de estudos concluídos na Universidade de Lisboa (37%). Verificamos assim que 40% dos inquiridos detêm apenas o grau de licenciado (Homens: 57%, Mulheres: 43%), 43% indicam a obtenção do grau de Mestre (H: 43%, M: 57%) e 17% doutoramento (H: 51 %, M: 49%).

Figura 2 – Caraterização da amostra do ponto de vista da sua situação profissional.

Figure 2 - Characterisation of the population considering the professional status.

Por forma a compreender a capacidade do Ensino Superior em promover estágios profissionalizantes em parceria com Empresas, e também indiretamente perceber a recetividade da indústria em acolher estágios de formação, foi incluída uma questão acerca da realização de estágios ao longo do percurso académico (Anexo I, questão 8). Assim, 38,6% dos inquiridos respondeu que “Sim, realizou estágio” e 61% respondeu que não realizou estágio durante a sua formação. A análise dos dados torna-se mais interessante quando comparada às respostas dadas por inquiridos que terminaram a licenciatura antes e depois do ano 2000 (n = 74 e 302, respetivamente). Dos inquiridos que terminaram a licenciatura entre os anos 1960 e 2000, 49% responde que realizou estágio, enquanto na amostra de licenciados pós-2000, a percentagem de respostas afirmativas cai para os 36%.

No sentido de analisar a opinião dos inquiridos sobre a intervenção das Universidades no seu desenvolvimento profissional, foram colocadas três questões (Anexo I, questões 10 a 12). À questão do apoio direto das Universidades a esse desenvolvimento, das 377 respostas ao inquérito, 46% da população respondeu que a universidade não ajudou ou não ajudou o suficiente no desenvolvimento da sua carreira profissional. Apenas 22% dos inquiridos afirmou que as instituições ajudaram no desenvolvimento da carreira, sendo que aproximadamente 30% dos inquiridos respondeu que “Maioritariamente sim, mas podia ter sido melhor” (Fig. 5A).

Por forma a avaliar a capacidade de as Universidades promoverem uma relação saudável

com a indústria e publicitar democraticamente oportunidades de emprego, os inquiridos foram abordados com a questão “Qual a sua opinião sobre a relação existente entre as Universidades e as Empresas, em termos da criação de oportunidades para o primeiro emprego?”. O resultado desta pergunta revelou-se predominantemente negativa, tendo 79% dos inquiridos respondido que esta relação é “Muito insuficiente ou Insuficiente”. Esta perspetiva é reforçada pela dificuldade que os inquiridos tiveram, na sua maioria, em encontrar o primeiro emprego (Fig. 5B) e pelo tempo alargado até encontrar o primeiro desafio profissional. Porém, 33% dos inquiridos afirmam ter sido relativamente fácil encontrar emprego.

Figura 3 – Ano de término do grau de licenciado da população em estudo.

Figure 3 - Year of conclusion of the BSc degree.

Figura 4 – A) Área de formação do grau de licenciado da população; B) Distribuição das Universidades que atribuíram o grau de licenciado.

Figure 4 - A) Area of the degree in Geosciences. B) University certifying the BSc degree.

Figura 5 - A) Grau de satisfação da população na relação Universidades-Empresas na criação do primeiro emprego; B) Dificuldade em encontrar trabalho após a conclusão dos estudos.

Figure 5 - A) Degree of satisfaction in relation with the University-Industry; B) Difficulty in finding a job subsequent to completion of degree.

.. Empregabilidade e Situação

Profissional

Nesta secção reportam-se diferentes componentes associadas à situação profissional da população inquirida, bem como dos distintos aspetos relacionados com a empregabilidade, nomeadamente das diferentes atividades profissionais, a diferenciação por género e quaisquer dependências em função da universidade que confere o grau.

Atividade Profissional

Este estudo procurou caracterizar também as diferentes áreas de empregabilidade nas disciplinas de Geociências. Assim, foi solicitado aos inquiridos para enquadrarem a sua atividade profissional principal nas seguintes categorias: Geotecnia/ Engenharia Geológica, Prospeção e Exploração Mineral, Investigação na Academia, Professor/ Investigador no Ensino Superior, Petróleo e Gás, Consultadoria, Professor/Explicador no Ensino Básico, Médio ou Secundário, Divulgação em Geociências, Hidrogeologia e Ambiente, Cartografia Geológica, Fiscalização e Licenciamento, Tecnologia de Informação, Energias Renováveis, Geologia Marinha, Indústria da Transformação ou Construção, Riscos Geológicos, Geoconservação e Turismo, e ainda, Geologia Urbana e Proteção Civil. Atendendo que para algumas destas categorias não existiu um número de respostas representativas, consideram-se exclusivamente as áreas profissionais que contabilizaram mais de 5 respostas. Dentro das áreas associadas à indústria, apurou-se uma predominância da empregabilidade nas áreas de Geotecnia/Engenharia Geológica, Prospeção e Exploração Mineral e de Petróleo e Gás, áreas fortemente ligadas ao sector primário e secundário (Fig. 6), representando 39 % dos inquiridos.

Igualmente representativas, são as profissões ligadas ao Ensino, Investigação Científica e Divulgação de Ciência, com 36 % dos inquiridos ligados a estas áreas. Numa terceira categoria, com uma representação de 17 %, enquadram-se as profissões associadas à prestação de serviços, como Consultoria, Hidrogeologia e Ambiente, e Cartografia.

Relativamente aos profissionais formados em Geociências, mas que não encontraram nesta área forma de prosseguir a sua principal formação (102 respostas, cerca de 27% dos inquiridos, Fig. 2), há que salientar que as principais profissões conseguidas se enquadram nas áreas de Imobiliária/Seguros/Banca,

Alojamento/Restauração, Prestação de Serviços (incluindo operadoras telefónicas e desenvolvimento tecnológico) e em grande parte, como trabalhadores no Comércio. Neste âmbito, 41 % revelou ter estado desempregada (considerando neste caso quem não tivesse emprego por mais de 6 meses), sendo que este período, embora pouco consubstanciado do ponto de vista de representatividade, tipicamente é superior a 12 meses de duração.

Figura 6 – Principais áreas profissionais de emprego, diferenciadas por tipo de atividade.

Figure 6 - Main areas of employment by type of activity.

Empregabilidade versus Género, Faixa Etária e Grau Académico

Procura-se nesta secção identificar quais as relações da empregabilidade em Geociências em função de elementos como género, faixa etária e/ ou grau académico. Para esta análise, não foram considerados os grupos Estudante e Reformado. Os dados mostram que na generalidade, entre as faixas etárias dos 25 aos 64 anos, a proporção de mulheres versus homens em situação de emprego em Geociências é de 40% mulheres para 60% homens (Fig. 7A). Acima dos 65 anos, todas as respostas reportam ao género masculino, um aspeto que denota uma sub-representatividade nas respostas (n = 4). Para o grupo etário abaixo de 25 anos salienta-se uma inversão dos valores percentuais de empregabilidade, sendo que mais de 60% são mulheres (H: 3; M: 6).

A análise da empregabilidade por grau académico foi implementada para as classes atualmente em fase de emprego e com licenciatura concluída, excluindo para tal as respostas que indicaram ser Estudante ou Reformado (Fig. 8). Procura-se nesta abordagem identificar quais as relações entre o nível académico mais elevado e sobre o seu impacto na capacidade de obtenção de emprego em Geociências. Observa-se que para quem obteve o grau de licenciado 45% encontrou emprego na área de Geociências, sendo que com mestrado esta percentagem aumenta para

51 %, e atinge 81 % com doutoramento.

Relativamente ao grau académico, observa-se maior sucesso na empregabilidade nos inquiridos com grau de mestre nas faixas etárias mais novas (até aos 34 anos). Acima da classe etária dos 35 anos observa-se uma tendência para um equilíbrio na empregabilidade, quando consideramos os graus de licenciatura e mestrado. Esta tendência é interrompida para a faixa etária dos 55 aos 64 anos, por prevalência de inquiridos com grau de doutoramento (Fig. 7B).

Analisando a empregabilidade por classificação de género, nota-se que a situação de desemprego afeta principalmente as mulheres (11 % das mulheres inquiridas) em contraponto com a do sexo masculino (5 % dos homens que foram inquiridos) e que da mesma forma, são estas que têm maior dificuldade em manter uma posição profissional em Geociências (M: 35 %; H: 19 %). Ao invés, na população estudantil (em pós-graduação) verificou-se a existência de paridade de género (ca. 10 %) nos dois casos.

Figura  – Comparação da Empregabilidade em Geociências vs. Faixa Etária, de acordo com A) Género e B) Grau Académico.

Figure  - Comparison of the employment rate vs. Age, according to A) Gender and B) academic degree.

Empregabilidade por universidade

Nesta componente foi ainda analisada a relação entre a empregabilidade e a universidade que conferiu o grau académico mais elevado, por forma a identificar quaisquer assimetrias dependentes da instituição. De salientar que em algumas das Universidades não constam cursos conferentes de grau associado às Geociências, mas possuem cursos (com ou sem grau académico) complementares ao desempenho das suas diferentes funções (e.g. Gestão, Higiene e Segurança, entre outras). Para efeitos de comparação direta, cruzaram-se os dados de pessoas empregadas em Geociências (53%) com os dados conjuntos de pessoas empregadas fora da área ou desempregadas (aproximadamente 38%). Os dados revelam que a taxa de empregabilidade é praticamente semelhante e independente da instituição onde se obteve o grau mais elevado, embora existam exceções (Fig. 9). Apesar de haver Universidades com maior percentagem de pessoas formadas, esta não influencia a taxa de empregabilidade. Por exemplo, comparando as três Universidades onde se formam maior

número de pessoas em Geociências (Lisboa, Porto e Coimbra) a proporção de empregados vs. empregados fora da área (e desempregados) ronda os 50 – 67% e 43 – 49%, respetivamente (Fig. 9).

Figura 8 – Análise quantitativa e percentual da empregabilidade por grau académico a 335 respostas (de um total de 377). FIgure 8 - Quantitative analysis and percentage of employment rate by academic degree ( valid answers out of a total of ).

Figura  - Comparação da empregabilidade em Geociências vs. Fora área/desempregados por Universidade (excluídas as Universidades com menos de 5 respostas). Os números em cada barra referem-se à percentagem relativa da população que se encontra num emprego na área das Geociências comparativamente à que se encontra desempregada ou em empregos não relacionados, por instituição que confere o grau mais elevado.

Figure 9 - Comparison of the employment rate in Geosciences vs. outside Geosciences by University (excluding less than 5 answers). The percentages on each bar refer to the relative percentage of the population working in Geosciences, compared with those under unemployment or working outside the area, grouped by the highest degree from the University institution.

.. Associativismo e Representação Profissional

Na componente referente ao associativismo, a maioria dos inquiridos (70%) declarou não pertencer a nenhuma associação da área da Geologia, quer profissional (Associação Portuguesa de Geólogos - APG e Federação Europeia de Geólogos - FEG) quer científica (Sociedade Geológica de Portugal - SGP), sendo que os restantes 30% indicaram pertencer pelo menos a uma das associações mencionadas (Fig. 10). Uma análise ao perfil dos associados permitiu Do total dos associados, apenas 7% pertencem a outras associações profissionais que não as sugeridas na questão. Em termos de relevância, a APG apresenta a maior percentagem de respostas, seguida da SGP e da FEG (Fig. 10).

Esta tendência mantém-se respetivamente ao conhecimento das atividades desenvolvidas por cada associação por parte dos associados: do total de associados que conhecem as atividades das diferentes associações, 33% tem conhecimento das atividades desenvolvidas apenas pela APG e 41% tem conhecimento das atividades desenvolvidas pelas três associações (APG, SGP e FEG), sendo as atividades da APG as que mais chegam aos associados. Os resultados evidenciam que do total de associados em pelo menos uma ou mais das três associações mencionadas, cerca de 75% confirma já ter participado nas atividades por elas desenvolvidas, sendo que a maior participação recai sobre as da APG e SGP. A análise do perfil

dos associados revela que 74% encontra-se a trabalhar na área das Geociências, contando a maioria com mais de 10 anos de experiência (79%) (Fig. 11A). Os resultados mostram ainda que dos inquiridos que se encontram associados a pelo menos uma entidade, cerca de 54% trabalha atualmente nas áreas da Prospeção Mineral, Geotecnia/Engenharia Geológica e no ensino superior (Professor/Explicador). Observando o perfil da população amostrada empregada nas áreas de Prospeção Mineral e Geotecnia/Engenharia Geológica, verifica-se que 94% estão inscritos na APG. Comparativamente, apuramos que nas áreas relacionadas com o ensino (Investigação na academia, Professor/Explicador de ensino básico, médio ou secundário, Professor/Investigador no Ensino superior e divulgação das Geociências) a maior percentagem (42%) está inscrita nas duas associações, SGP e APG (Fig. 11B). Verifica-se ainda que 31% dos que trabalham nas áreas acima mencionadas encontram-se apenas associados na APG, e 23% só na SGP.

Figura 10 – Percentagem de associados no total da amostra e correspondente distribuição pelas várias associações profissionais. Por “Outras associações” consideram-se todas as restantes que não APG, SGP e FEG, nacionais ou internacionais.

Figure 10 - Percentage of affiliates and their distribution in professional associations. Other associations are considered, but excluding APG, SGP and FEG, national or international associations.

Figura 11 – A) Anos de experiência profissional dos associados. B) Área de trabalho da população que se encontra filiada em pelo menos uma associação.

Figure 11 - A) Years of experience of affiliates. B) Area of work of the affiliate population, at least in one association.

. Discussão

.. O perfil dos licenciados em Geociências

Da análise dos resultados apresentados neste estudo, observa-se paridade de género no que diz respeito a oportunidades de acesso e conclusão de cursos de ensino superior em Geociências (Fig. 1). Isto evidencia um alinhamento com as orientações da União Europeia, nomeadamente no objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) 5 – Igualdade de Género.

A maioria dos licenciados concluiu os estudos na Universidade de Lisboa, seguido por Porto e Coimbra. Esta observação está intrinsecamente ligada ao facto de 86% dos inquiridos neste estudo deter uma licenciatura em Geologia e que estas Universidades são as que totalizam o maior número de vagas nessa licenciatura (e.g. total de 130 vagas abertas em 2010; DGES, 2021). De acrescentar ainda que a maioria da população amostrada detém estudos pós-graduados e por isso apresenta alta qualificação, nomeadamente grau de doutoramento. Destaca-se ainda que a faixa etária entre 25 e 34 anos apresenta já este grau de qualificação (7%; Fig. 7), o que reflete em parte as políticas europeias e nacionais relativamente à promoção de doutoramentos, associado aos objetivos contidos no Horizonte 2020 sendo uma possível consequência do Processo de Bolonha (Cerdeira et al., 2019). Dos inquiridos, 39% admitiram ter realizado um estágio durante o período de estudos, sendo que este valor ascende a quase 50% para aqueles que terminaram a licenciatura antes do ano 2000 (anteriormente à massificação do ensino superior

em meados dos anos 1990; Marinho-Araújo & Almeida, 2020). Isto parece indicar uma redução das oportunidades de estágio e, consequentemente, de um acréscimo de dificuldade na entrada para o mundo empresarial ou industrial após a formação dos licenciados. Atendendo que o número de licenciados por ano tem aumentado, isto pode não implicar necessariamente menor número de estágios oferecidos anualmente, mas também que o aumento da procura não implicou um acréscimo da oferta. Contudo, toda esta problemática da oferta de estágios é um assunto pertinente que mereceria uma análise detalhada.

.. A empregabilidade e perfil profissional

Resultante da análise dos dados salienta-se que do universo de inquiridos, apenas 53% dos licenciados se encontram empregados em Geociências, pelo que significativa parte da amostra (36%) tem que procurar emprego noutras áreas profissionais (Fig.2), sendo que uma faixa importante da população inquirida (9%) se encontra em desemprego efetivo. Este valor é substancialmente superior àquele que é avançado pelo IEFP (2021) para cidadãos inscritos no desemprego portadores de qualquer licenciatura (1%), bem como à média nacional de desemprego (6% em Portugal Continental). Este valor é ainda superior ao da média europeia de desemprego nestas áreas, que se situa em ca. 8% (Inquérito da Federação Europeia de Geólogos, 2021). Comparativamente, os indicadores de empregabilidade na área aproximam-se dos valores médios divulgados pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (entre os anos 2012 e 2016), que indicam uma empregabilidade dos licenciados em Geologia de aproximadamente 58 % (dados referentes aos alunos da FCUL; FCUL, 2021). Verifica-se ainda que a empregabilidade em Geociências parece ser superior com a obtenção de formação mais avançada (Fig. 8), o que sugere: a) maior exigência por parte das entidades empregadoras, e/ou b) maior aposta dos indivíduos em prosseguir os estudos e formação que potenciem as oportunidades de emprego.

Dos inquiridos que se encontram empregados noutras áreas profissionais, a maioria desempenha funções em domínios não afetos às ciências (Anexo II). Mais ainda, das áreas que foram indicadas, a maioria dos empregos em causa não requer a detenção de um diploma de ensino superior, o que parece revelar que uma percentagem significativa dos formados em Geociências, em última instância,

se encontram em situação de sobrequalificação para a função que desempenham. Destes, a maioria não indicou que tinha optado por sair da área das Geociências por opção, mas que não obteve uma oportunidade de emprego na área.

Dos que têm emprego em Geociências, a maioria encontra-se em Geotecnia, Prospeção e Exploração de recursos minerais e energéticos, e no Ensino e Investigação. Verifica-se uma sub-representação de profissionais destas áreas ligados ao ambiente, um aspeto que parece contradizer as necessidades atuais e a maior importância face aos novos paradigmas de transição energética e implementação dos ODS definidos pela ONU (2021). Um ponto positivo é a aferição do número crescente de profissionais a trabalhar no domínio da divulgação das Geociências (museus, centros de ciência e geoparques), o que representa um esforço na comunicação do papel das Geociências na Sociedade. É importante salientar que para as faixas etárias entre os 25 e 55 anos há uma predominância de homens (ca. 60%) em situação de emprego em Geociências (Fig. 7A), o que revela assimetria de género. Porém, na classe etária abaixo dos 25 anos, a inversão desta tendência (com 70% dos empregados do género feminino), pode indiciar uma mudança de paradigma, ainda que possa haver sub-representatividade da amostragem.

No que concerne às habilitações, o grupo etário dos 25 aos 34 anos demonstra maiores habilitações, igual ou superior a mestrado, o que, tal como mencionado, pode derivar não só das exigências do mercado, mas também da aplicação do Processo de Bolonha. Importa ainda referir que na faixa entre os 55 e os 64 anos, 70% dos inquiridos possuem grau de doutor o que poderá indicar uma sobrerrepresentação de professores universitários na população amostrada.

O acréscimo substancial das habilitações em geocientistas com idade inferior a 35 anos em muito resulta da alteração dos planos curriculares decorrente do Processo de Bolonha. Neste processo, a formação científica essencial dos estudantes é assegurada durante o período do 1º ciclo de estudos (licenciatura), sendo que para o exercício pleno da profissão é necessária formação suplementar que é ofertada pelo 2º ciclo (mestrado) (Macedo, 2017). Nesse sentido, vemos taxas superiores de empregabilidade (superior a 60%) em indivíduos com idade inferior a 35 anos e que possuem o grau de mestre em geociências (Fig. 7B). Da mesma forma, recorrendo ao exemplo do ensino de Biologia-Geologia de 3º ciclo e ensino secundário, a formação pós-graduada é hoje fundamental para a lecionação face aos novos desígnios impostos pelo

Processo de Bolonha.

Da análise aqui apresentada, ainda que a maioria dos licenciados se tenham formado a partir da Universidade de Lisboa, a universidade de formação base não se revela como uma vantagem na obtenção de um emprego na área (Fig. 9). Salienta-se, contudo, valores de empregabilidade ligeiramente superiores em graus obtidos nas Universidades de Aveiro, Évora, Minho, Porto ou estrangeiras, todas elas com taxas de empregabilidade superiores aos 65%, embora com menor representatividade em termos absolutos.

.. Academia e Indústria: como conectar?

A ligação entre Universidades e Empresas é fulcral em diversas áreas de atuação profissional, e as Geociências não são exceção. Contudo, 79% dos inquiridos considera muito insuficiente ou insuficiente essa conexão e 46% dos inquiridos referem que a Universidade não ajudou (ou não ajudou o suficiente) ao desenvolvimento da sua carreira profissional. Quando questionados quanto a se estes sente haver necessidade de melhorar nesta relação, ressalta um conjunto de palavras-chave que enfatizam a falta de conexão: aproximação, parcerias, protocolos, envolvimento, colaboração, cooperação e comunicação. Para combater esta insuficiência na conexão Academia-Indústria os inquiridos apontam vários tópicos que se podem enquadrar em duas áreas: Formação e Emprego (Fig. 12).

No que respeita à formação, o ensino direcionado à indústria, com envolvimento de profissionais das empresas na lecionação, é apontado por vários inquiridos como uma das ações que podem promover a aproximação entre ambos os sectores. Contudo, embora os planos curriculares possam ir ao encontro das necessidades do tecido industrial, é fulcral que os mesmos não deixem para trás o ensino e a sedimentação dos conteúdos base da ciência fundamental (vide secção 4.4. para discussão mais detalhada).

Outra das formas apontadas para fomentar esta relação é através do estabelecimento de estágios formativos regulares (Fig. 12). Apenas 38% dos inquiridos revelou ter realizado um estágio durante os seus estudos (licenciatura ou pós-graduação).

O estabelecimento de estágios requer o interesse e vontade tanto do lado das universidades como das empresas. O acolhimento de estagiários implica a existência de uma estrutura, instalações e equipamentos, bem como de recursos humanos suficientes por parte das empresas, o que nem sempre

é verificado no tecido empresarial nacional. Acresce a estes pontos, a necessidade de acompanhamento por um tutor académico-técnico, que estabeleça uma efetiva interligação entre as partes.

Naquilo que constituiu o seu desenvolvimento profissional, 46% dos inquiridos considerou que a universidade “não o ajudou, suficientemente, no desenvolvimento profissional” (Fig. 5A), demonstrando que cerca de metade dos inquiridos considera necessária uma maior interconexão com o mercado de trabalho nas diversas áreas das geociências. A título de exemplo, os inquiridos referiram que palestras, formações especializadas e workshops para estudantes e profissionais poderiam dar resposta a essa insuficiência (Fig. 12). Estas atividades poderiam ser realizadas em conjunto com as associações profissionais e com o tecido empresarial/indústria, aproveitando para estreitar as cooperações entre estes.

No sentido de fomentar o emprego e o envolvimento entre a academia e o tecido empresarial, uma das respostas mais frequentes é a criação de protocolos de cooperação que permitam a realização de estágios e bolsas profissionais remuneradas para os alunos recém-formados. Os inquiridos referiram ainda a organização de feiras de emprego e a criação de um portal ou plataforma específico com as oportunidades de emprego existentes e as empresas a intervir nas áreas das geociências como possíveis medidas de fortalecimento desta relação (Fig. 12).

É necessário também fomentar mecanismos de cooperação entre universidades e empresas, no sentido de desenvolvimento de projetos conjuntos. As questões e necessidades levantadas pelo mercado seriam o ponto de partida para as equipas de investigação nas Universidades, que em geral possuem o conhecimento e os meios técnicos para procurar soluções para muitos dos desafios que as empresas enfrentam. Para além do reforço da conexão, este tipo de iniciativas fomenta a transição dos estudantes para o mercado de trabalho, ao mesmo tempo que transferem valências e competências da academia para o tecido empresarial.

.. Perceções, necessidades e realidade

O número de profissionais: muitos ou muito poucos?

A área da educação e formação é um dos mais relevantes indicadores de desenvolvimento económico e social de um país, sendo um ponto

Figura  – Medidas propostas pelos inquiridos para melhorar a conexão entre universidades e indústria, nomeadamente para melhoria da empregabilidade. Nuvem de palavras feita com o wordclouds.com

Figure 12 - Measures proposed by respondents to improve the connection between universities and industry, namely to improve employability. Word cloud done with wordclouds.com

central nas políticas da União Europeia (UE) para o Horizonte 2030, propondo que se atinja os 45% de licenciados na faixa etária entre os 25 e os 34 anos (EUROSTAT, 2021). Numa visão europeia, o número de licenciados no ano de 2018 atingiu os 4 milhões, 258.000 dos quais na área das Ciências Naturais e Matemática. Para o caso das Geociências, observa-se nos últimos anos, nomeadamente nos Estados Unidos da América e Reino Unido, um decréscimo do número de inscritos em licenciaturas nesta área científica (Boatwright et al., 2019; Ledford et al., 2020; Keane, 2021).

Reflexo das políticas adotadas nas últimas décadas, o número de licenciados na área das Ciências, Matemática e Informática em Portugal mais que triplicou entre 1994 (2060 licenciados) e 2020 (7598 licenciados), acompanhando a tendência geral de crescimento das restantes áreas de formação (PORDATA, 2021). Quando explorados os dados obtidos neste inquérito é percetível que este crescimento se reflete também na área das Geociências (Fig. 3), embora não se traduzam numa real absorção de profissionais por parte do mercado de trabalho, tal como ficou explícito nos dados obtidos.

A tendência que se desenha com base nos resultados obtidos e a sua comparação com o panorama nacional e europeu sugerem a necessidade de tomar medidas concretas para o aumento da taxa de empregabilidade. Para que isto aconteça será necessária uma redução do número de vagas em licenciaturas na área das Geociências ou a criação de condições laborais que fomentem a absorção dos profissionais pelo mercado de trabalho (público ou privado). Atendendo que a primeira opção iria no sentido contrário ao das políticas estabelecidas para a educação e formação (EUROSTAT, 2021), a

última deverá ser prioritária. Em 2014 o Workforce Report publicado pela “American Geosciences Institute” dava conta de uma falta de cerca de 135.000 geocientistas até finais da década, o que revela uma realidade onde as instituições de ensino não conseguem responder às necessidades do mercado (AGI, 2014). Neste sentido, o mercado de trabalho na área das Geociências tem capacidade para crescer e perspetiva-se um aumento da necessidade de profissionais destas áreas, pelo que devem ser criadas as condições para que tal aconteça. Naturalmente, sendo a realidade dos Estados Unidos da América distinta da Portuguesa, a capacidade dos geocientistas encontra-se subaproveitada, especialmente no que concerne à sua atuação na esfera do sector público onde o seu papel é muitas vezes inexistente (ordenamento do território, obras públicas, geoconservação e património, investigação e desenvolvimento social). Urge assim não só valorizar a classe dos geocientistas como um todo, mas também o seu papel na resposta aos desafios sociais. Para tal é recomendável uma melhor e mais frequente análise social da população de geocientistas em Portugal.

Conhecimento e competências. Qual o papel das Universidades?

Uma das questões centrais na formação de profissionais na área das Geociências é a necessidade de os programas letivos serem adaptados às novas realidades resultantes de uma sociedade em constante mudança. Os programas letivos devem ser montados com o objetivo de fornecer aos profissionais ferramentas metodológicas e competências que permitam a resolução de problemas científicos e técnicos. Neste sentido, um dos aspetos frequentemente referido pelos inquiridos foi o (des)enquadramento da formação obtida no contexto laboral. Com excepção da questão dos estágios, vários inquiridos realçaram a importância da formação mais direcionada como uma possível transição natural para o meio empresarial. Esta formação direcional reflecte-se na adaptação dos contéudos (e/ou formato) das unidades curriculares (UC) dos cursos em Geociências. Esta questão é de grande complexidade, pois envolve uma discussão sobre o papel das instituições de ensino superior na qualificação de indivíduos para o mercado de trabalho (West, 2000). Esta questão centra-se em certa medida na translação de conhecimento em competências, esta última de maior interesse para os empregadores e, logo, para os licenciados. Focando-nos nas áreas científicas e tecnológicas, em Portugal a maioria dos cursos universitários

apresentam uma oferta formativa de base fundamentalmente transversal. Esta oferta inclui, no caso das Geociências, UCs em todas as ciências fundamentais (Matemática, Física, Química, Biologia), com o intuito de formar licenciados com bases sólidas em Ciências, existindo, contudo, alguma discussão sobre a necessidade de incorporar tantas UCs de carácter geral e francamente teóricas face à atual duração dos cursos de 1º ciclo após a adesão ao Processo de Bolonha (implementado em Portugal a partir do ano 2006; D.L.74/2006 de 24 de março). No entanto, esta formação de base confere conhecimento para que os estudantes possam ter melhor desempenho nas UCs específicas, ao mesmo tempo que conferem ou reforçam competências no domínio do raciocínio, escrita e trabalho em equipa que são fundamentais no mercado de trabalho (West, 2000).

Uma das consequências da adesão ao Processo de Bolonha foi a harmonização do ensino superior, potenciando a mobilidade de estudantes e a equidade entre ciclos no espaço europeu e o acesso ao mercado de trabalho (Macedo, 2017). A redução da duração dos ciclos de ensino, nomeadamente da passagem para licenciaturas de 6 semestres, implicou uma forte reestruturação dos cursos e das respetivas UCs (Freire et al., 2015; Macedo, 2017), muitas vezes comprometendo-se alguns tópicos mais avançados ou de maior aplicação prática (nomeadamente práticas de campo e laboratoriais). Com um menor número de horas de contacto em sala de aula, pretendia-se fomentar a autonomia dos estudantes, conservando, contudo, as bases de conhecimento teórico. Esta mudança de paradigma é também, em parte, um reflexo da crescente pressão a que as Universidades estão sujeitas (Bergan e Damien, 2010), nomeadamente no que diz respeito à qualidade de ensino e de investigação, que se foca essencialmente no aspeto de excelência das instituições (satisfação no ensino, investigação e inovação) e menos no seu papel na resolução de problemas societais (Lauder e Mayhew, 2020). Se parte da estratégia do ensino superior passar por um reforço nesta ligação à Sociedade, nomeadamente em questões de empregabilidade e visibilidade das funções do Geólogo, isto pode efetivamente implicar algumas alterações ao nível dos conteúdos e UCs atualmente em vigor.

Na análise de Freire et al. (2015), os cursos de Geologia já evidenciaram uma estagnação ao nível da evolução curricular nos anteriores 30 anos, enquanto as UCs nos cursos de engenharia (s.l.) tinham sofrido grandes alterações. Neste sentido, as unidades curriculares deveriam ser estrategicamente actualizadas incorporando os

desafios que as Geociências enfrentam, quer no panorama nacional, quer internacional (vide seção 5).

Um último aspeto que condiciona a formação, nomeadamente na obtenção de competências e conhecimento mais prático, passa pelo subfinanciamento das instituições de ensino superior e, consequentemente, dos departamentos. Transversalmente a todos os cursos em Geociências é francamente necessário a incorporação da componente prática, sendo esta componente necessária na prática da atividade profissional e altamente valorizada por parte dos profissionais (e.g. Mogk & Goodwin, 2012; King & Andrews, 2015; Renshaw, 2015). Esta pode passar por aulas de campo em regime autónomo ou supervisionado, de acompanhamento geotécnico, visitas a obras, mas também por práticas laboratoriais diversas. Também aqui se pode apontar a necessidade de financiamento para aquisição de equipamento laboratorial diversificado para utilização em regime de ensino formal, mas também para apoio às atividades de investigação. Este tipo de atividades pressupõem o aumento do orçamento alocado aos diversos departamentos de Geociências do país. No entanto, e ao contrário daquilo que seria desejável, o orçamento disponível global para o ensino superior e em particular para os diversos departamentos de Geociências nacionais tem vindo a diminuir ou apresenta-se estagnado (Cabrito e Cerdeira, 2018), o que aliás já se verificava em 2004 (Cabrito, 2004). O decrescente financiamento provindo diretamente do Ministério para a Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (em 2018 situavase nos 74% do orçamento das Universidades e Politécnicos; OECD, 2019) tem sido muitas vezes compensado através de receitas próprias, nomeadamente através de prestações de serviço e projetos, ou com o pagamento de propinas (23%; OECD, 2019).

.. Associativismo: necessidade de representatividade de classe profissional

Verifica-se que o associativismo na área da Geologia, tanto a nível socioprofissional (APG) como científico (SGP), está longe de ser robusto e duradouro, havendo um grupo significativamente elevado de estudantes, recém-licenciados e profissionais em Geociências que não se encontram associados, nem conhecem a função e as atividades promovidas pelas associações representativas (Fig.10). Já anteriormente, Veloso et al. (2011) tinha verificado que no universo dos inquiridos (n = 822), 36 %

indicavam não ter nenhuma filiação a associações na área e apenas 35% eram membros da APG. De notar que neste estudo parte dos questionários foram enviados através da base de contactos da própria APG. No presente estudo, o universo de não associados situa-se em 70%, um valor bastante superior ao de 2011 Ainda assim, verificamos que quase a totalidade dos inquiridos pertencentes ao grupo de profissionais nas áreas de geotecnia/engenharia geológica e prospeção de recursos minerais se encontram filiados à APG (94 %). Os resultados aqui apresentados demonstram ainda que mesmo não sendo membros, a maioria dos inquiridos já terá participado em atividades da APG e SGP. Ainda que não se tenha apurado as razões intrínsecas ao não associativismo, urge fazer uma reflexão aprofundada sobre estas motivações, trabalhando para a sua inversão.

Há uma clara necessidade de reforço das associações científica e profissional, devendo resultar daí uma maior representatividade da classe nas tomadas de posição pública, na intervenção e resolução de problemas societais e até na disseminação de conhecimento e da importância das Geociências na Sociedade. Só uma intervenção dinâmica das associações, contando com o envolvimento coletivo de toda a massa crítica de profissionais e estudantes na área das Geociências permitirá a dinamização da sua atividade enquanto associação representativa. Quando questionados sobre a união da classe dos geólogos, os inquiridos mostraram grande consenso, com mais de 85% dos inquiridos a mencionar baixa, pouca ou razoável a união da classe (Fig. 13A). A falta de valorização das profissões ligadas às Geociências, a divulgação da sua atividade enquanto classe, da sua importância na sociedade são também questões amplamente mencionadas pelos inquiridos. Aliás, mais de 80% dos inquiridos sente que a profissão de geólogo é pouco ou nada valorizada pela sociedade civil e pelo poder decisor (Figs. 13B e 13C). Contudo, tal facto inverte-se quando há um regime de proximidade: no seio familiar a profissão de geólogo é mais valorizada, com 72% dos inquiridos a considerar que a profissão é razoavelmente a muito valorizada (Fig. 13D).

Como solução para a falta de representatividade e reconhecimento da classe profissional, cerca de 25% dos inquiridos (n = 93) propõe a criação de uma Ordem profissional. Contudo, o aumento da proatividade das associações representativas é também apontado como solução, propondo-se: a) maior intervenção dos geocientistas na gestão e dinamização das associações, bem como na organização de atividades; b) maior presença nas plataformas de disseminação de informação (redes sociais e comunicação social); c) maior ligação às instituições de ensino superior

promovendo as Geociências e a sua importância e, ao mesmo tempo, o dinamismo e disseminação das próprias associações e das suas valências; d) incremento da divulgação das Geociências e a maior ação junto do ensino da disciplina; e) incremento da ligação às autarquias, fomentando assim a intervenção junto do poder decisor.

É assim fundamental que os estudantes, recém-formados e profissionais se revejam mais nas atividades desenvolvidas pelas associações e que as considerem imprescindíveis no seu desenvolvimento académico-profissional. O que se verificou neste estudo é que muitos dos estudantes e profissionais desconhecem as missões destas entidades. Como tal, parece ser imperativo uma maior presença e visibilidade das associações e o envolvimento mais efetivo das instituições de ensino superior e empresas do setor. Esta presença poderia ser efetivada ao apoiar feiras de emprego, sessões de divulgação da missão, da visão e das atividades das associações.

As equipas de direção das associações em foco nesta análise - a APG e SGP - têm procurado manter-se ativas, apesar das dificuldades que enfrentam, designadamente na forma e meios de comunicação, continuando com a missão de promoção e divulgação das Geociências e da sua importância na resposta aos desafios societais, assim como na dinamização científica e profissional dos geocientistas (e.g. Olimpíadas da Geologia, Congresso Nacional de Geologia, Jornadas da APG, cursos de atualização de professores e cursos de formação profissional). Aliás, ainda que não associados, a maioria dos inquiridos já participaram em alguma destas atividades (Anexo II).

Desta análise, salienta-se que é importante que os geocientistas se façam escutar de forma fundamentada nos mais variados temas da sociedade, em áreas como o ordenamento do território, a indústria extrativa, sustentabilidade energética, prevenção e mitigação de catástrofes naturais ou alterações climáticas. Nestes e noutros temas, os geocientistas, apresentam uma visão social integradora do Sistema Terra, contribuindo de forma profundamente construtiva e integrada (Hill et al., 2020; Stewart & Hurth, 2021). A promoção de uma comunicação científica e profissional una e assertiva sobre estes temas, através das associações e dos seus representantes, poderia ser um ponto de partida importante na implementação da missão destas associações. Estando aqui a debater-se a importância do associativismo na dinamização das Geociências, importa ressalvar que estas iniciativas dependem maioritariamente dos estudantes e profissionais envolvidos e do seu nível de iniciativa.

Figura 13 – Opinião da população em relação à profissão dos geólogos.

Figure 13 - Opinion of the population in respect to the geologist profession.

. Geociências na resposta aos desafios societais: reflexão

A transição de século, a globalização e a consciencialização da sociedade civil, científica e do poder político sobre um conjunto de temáticas socioeconómicas e ambientais trouxe consigo um conjunto de desafios, nos quais as Geociências desempenham um papel fundamental como elemento de aquisição de conhecimento que permita tomar decisões bem fundamentadas, o que lhe confere relevância nos 17 ODS definidos pela ONU (e.g. Stewart & Gill, 2017; Gill & Smith, 2021). Desta forma, o foco de discussão seguinte vai incidir sobre cinco áreas de grande relevância no quotidiano das sociedades, tendo como base o universo dos inquiridos e fazendo um enquadramento nos ODS (Fig. 14).

. Alterações climáticas, transição energética e neutralidade carbónica

O papel dos geocientistas no desafio da descarbonização e na redução de emissões de gases com efeitos de estufa por forma a mitigar os impactos das alterações climáticas é inegável. Mesmo excluindo a prospeção e exploração de hidrocarbonetos convencionais e não convencionais, os geocientistas terão um papel central na revolução sustentável do sector energético, nomeadamente: 1) na prospeção e exploração sustentável de metais críticos e metais base para alicerçar uma economia de “baixo carbono” (ex: produção de baterias, construção de painéis solares ou turbinas eólicas); 2) na inventariação e caracterização do potencial para produção de energias sustentáveis e alternativas, como a geotérmica, hidroelétrica ou a

energia das ondas e marés; 3) no armazenamento de recursos energéticos, como o gás natural (e.g. Colcombet et al. 2008), hidrogénio ou sob a forma de ar comprimido; e 4) na captura e armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos, com vista à redução de emissões de carbono para a atmosfera (e.g. Machado et al., 2007; Carneiro et al., 2011; Pereira et al., 2021).

O processo de descarbonização através da “eletrificação da economia” traduz-se necessariamente num incremento na demanda por metais raros para aplicação em toda a cadeia de valor desde o armazenamento de energia (e.g. baterias), mas também para equipamentos de produção de energia (e.g. painéis solares e turbinas eólicas). Dado que as operações atuais e a reciclagem dos materiais são insuficientes para cobrir as necessidades crescentes desta transição, é imprescindível recorrer a técnicas de mineração sustentáveis do ponto de vista social e ambiental. Também neste caso os geocientistas têm um papel central, pois mesmo com as técnicas de mineração avançada, a atividade extrativa é invasiva sendo necessária a mitigação dos impactes daí resultantes, com intuito de conservação ambiental, mas também a economia circular de produtos e resíduos (e.g. Kinnunen & Kaksonen, 2019; Lemos et al., 2021; Pactwa et al., 2021).

. Garantir a existência de água potável para consumo

Esta é sem dúvida uma das áreas onde os desafios são mais exigentes para as geociências (Lubchenco et al., 2015). Embora considerado como um recurso geológico, decidiu-se isolar aqui o recurso água potável pela sua importância no desenvolvimento sustentável. Desde a captação de águas subterrâneas, à construção de reservatórios de água superficial (i.e. barragens, açudes, etc.) ou à mitigação dos impactes resultantes da atividade humana junto das áreas fonte (Stewart & Gill, 2017), os geocientistas terão um envolvimento inegável na procura de soluções para garantir o acesso de água potável, quer seja para consumo humano, quer para as atividades industriais, nomeadamente as atividades ligadas à secção 5 1 (e.g. produção de Hidrogénio). Para além disso, a busca de água potável terá uma importância inegável no combate à pobreza e à fome em países subdesenvolvidos, de economia frágil ou em países afetados pelas consequências das alterações climáticas, sendo um desafio social de primeira ordem para os geocientistas (Raju, 2006; Manzione & Matulovic, 2021).

Figura 14 Principais áreas das geociências enquadradas nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), de acordo com a sua aplicação direta ou indireta.

Figure 14. Main areas of Geosciences in relation to Sustainable Development Goals (SDG), according to their direct or indirect application.

. Previsão, prevenção e mitigação de riscos geológicos

Muitas catástrofes naturais têm na sua origem processos geológicos. Neste sentido, as Geociências têm um papel fundamental na previsão, mitigação e prevenção dos riscos resultantes destes processos. Desde o vulcanismo, à sismicidade, ao risco de cheia, até à estabilidade e reaproveitamento de estruturas resultantes da atividade antrópica (e.g. pedreiras, minas, viadutos, barragens), as aplicações das Geociências, nas suas múltiplas valências, terão um papel fulcral na gestão territorial e na atividade socioeconómica (e.g. Silva et al., 2014; Araújo et al., 2015; Brian, 2015). Esta área será fundamental, por exemplo, na política de prevenção de risco sísmico e de tsunami que afeta toda a costa Sul e Oeste do território nacional (Garcia et al., 2003; Sousa & Costa, 2009; Silva et al., 2014).

. Ordenamento do território

Um dos exemplos mais visíveis da importância das Geociências, e com maior impacto na vida das populações, é o ordenamento do território (e.g. Cendrero et al., 1990; Araújo et al., 2015; Brian, 2015). As diversas ferramentas existentes, nomeadamente os Sistemas de Informação Geográfica, permitem hoje uma abordagem mais ampla e, como tal, um ordenamento de território com entrecruzamento de múltiplos níveis de informação (e.g. Silva & Rodrigues-Carvalho, 2006). Um correto ordenamento do território deve prever a maior ou menor frequência de catástrofes naturais e a distância a focos de risco (Cendrero et al., 1990). De igual forma, deve contemplar a interligação entre recursos no subsolo e a ocupação antrópica de superfície (Suhari & Siebenhüner, 1993; Brian, 2015), integrando todos os aspetos, como por exemplo, a existência proximal de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos para atividade humana, a presença de áreas de preservação da natureza, as áreas onde existem recursos minerais passíveis de prospeção e/ ou extração, bem como perímetros de proteção e exclusão. A título de exemplo, em Portugal deverá haver particular atenção à pressão do avanço do mar na orla costeira, a desertificação do interior, a gestão dos recursos hídricos, seja por exploração humana ou resultado das alterações climáticas (Ferreira et al., 2008; Mourato, 2009; Carvalho-Santos et al., 2017). Estes aspetos dependem em grande parte de políticas de nível nacional, e que carecem frequentemente de suporte técnico e científico por parte do poder local ou regional.

. Disseminação de conhecimento na área das Geociências

Finalmente, um dos grandes desafios das próximas décadas para a classe profissional passa pela perceção do papel das Geociências e dos Geocientistas por parte da sociedade civil. Esta área científica será vital e transformadora face aos paradigmas energético, climático e de sustentabilidade da humanidade e do planeta (e.g. Lubchenco et al., 2015; Stewart & Hurth, 2021; Ribeiro et al., 2021). Os geocientistas conseguirão desenvolver melhor o seu trabalho nestas áreas de atividade se forem ativos junto da sociedade civil, fomentando assim a literacia neste domínio científico. Destacam-se como exemplo: (1) a compreensão da necessidade de recursos geológicos no quotidiano das populações e das etapas que vão desde o seu reconhecimento até à sua extração e consumo, (2) a consciencialização para o uso responsável dos recursos hídricos e dos solos, (3) a tomada de perceção sobre o funcionamento dos ciclos biogeoquímicos e a dinâmica do planeta, ou (4) na percepção da noção de riscos geológicos e do seu impacte (e.g. Rego et al., 2018). A comunicação da função social do geocientista enraizado num conceito de Geoética (Illingworth et al., 2018; Stewart et al., 2021) é, portanto, de especial relevância para a mudança de mentalidades, de eficácia de ação na sociedade e dos seus desafios. Para atingir esta mudança, a licença social é imperativa e deve ser promovida por todos os intervenientes (e.g. sociedade civil, poder autárquico e legislativo, instituições públicas, academia, promotores privados).

6. Conclusões

Da análise ao inquérito online “ A situação do emprego em Geociências em Portugal ” promovido pelo Grupo Sm-Ar-Te-F-O-Ne, numa iniciativa de comunicação de ciência, foram analisadas as questões de empregabilidade, a ligação entre Universidades e Empresas, bem como o papel do associativismo na profissão. Deste estudo, salientam-se as principais conclusões:

) O inquérito abrangeu essencialmente licenciados em Geologia (86%) frente às restantes áreas das Geociências incluídas neste estudo. Os restantes distribuem-se, por ordem de representatividade, entre Engenharia Geológica (7%), Biologia e Geologia (3%), Engenharia Geológica e de Minas (3%), Geociências Aplicadas

e Geociências e Educação Ambiental (1%).

) Dos inquiridos, 80% encontram-se empregados, dos quais 53% na área das Geociências e 27% com emprego fora da área.

) Dos inquiridos, 46% considera que a Universidade não ajudou ou não ajudou o suficiente no desenvolvimento da sua carreira profissional, contrastando com apenas 22% que referiu que as instituições ajudaram no desenvolvimento da carreira.

) Muito embora exista um grau de paridade de género ao nível da formação académica, tal não se verifica quando analisados os dados de empregabilidade em Geociências.

) Dentro das áreas associadas à indústria, apurou-se uma predominância da empregabilidade nas áreas de Geotecnia/Engenharia Geológica, Prospeção e Exploração Mineral e de Petróleo e Gás, representando 40% dos inquiridos. Igualmente representativas são as profissões ligadas ao Ensino, Investigação Científica e Divulgação de Ciência, com 36 % dos inquiridos ligados a estas áreas.

6) A percentagem de afiliados nas diversas associações representativas de classe é francamente baixa (30%), sendo que a associação com maior representatividade de sócios é a APG (18%). Do universo dos não associados, 61% conhecem, de alguma forma, as atividades destas associações. Estes números revelam um elevado grau de alienação da comunidade de geólogos, relativamente à missão e atividades das associações.

) Para os inquiridos a criação da Ordem dos Geólogos poderá constituir o ponto de viragem para a valorização, união e representatividade da classe profissional.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os inquiridos que participaram neste questionário e que permitiram a elaboração desta análise. Agradecemos ainda a todos os convidados e audiência que estiveram presentes no webinar onde estes dados foram preliminarmente apresentados e que nos permitiram enriquecer a discussão.

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Inquérito “A situação da profissão de geólogo em Portugal”

1. Ao participar neste estudo autoriza que os dados recolhidos sejam utilizados para fins estatísticos e possam ser divulgados, sendo que garantimos o seu anonimato.

2. Qual a sua formação/grau académico?

3. Qual o nome do curso em que se formou?

4. Indique, por favor o ano de conclusão da Licenciatura

5. Indique, o ano de conclusão da Licenciatura

6. Indique, o nome da Universidade onde obteve o grau de licenciado

7. Se tem estudos pós-graduados, qual a Universidade que lhe atribui o ultimo grau académico?

8. Realizou algum estágio durante os seus estudos?

9. Se respondeu que sim à pergunta anterior, qual a área em que realizou o estágio?

10. Pareceu-lhe que a Universidade o ajudou no desenvolvimento da sua carreira profissional?

11. Qual a sua opinião sobre a relação existente entre as universidades e as empresas, em termos da criação de oportunidades para o primeiro emprego?

12. Na sua opinião, de que forma poderá ser melhorada a relação entre Universidades e o sector empresarial, no sentido de reforçar a empregabilidade?

13. Quando terminou o seu curso/último grau académico, sentiu facilidade em encontrar trabalho?

14. Neste momento encontra-se empregado/a?

15. Se se encontra a trabalhar na área das geociências, seleccione a área de emprego actual:

16. Se trabalha neste momento no sector das geociências, já mudou de área? Se responder sim, indique qual a área anterior.

17. Se se encontra empregado/a noutra área, fora das geociências, indique qual o sector de actividade:

18. Se neste momento não se encontra empregado/a ou empregado/a noutra área, já teve emprego no sector da geologia?

19. Em algum momento esteve desempregado(a) mais do que 6 meses? Se Sim, indique quantos meses

20. Quantos meses desempregado acima de 6 meses

21. Seleccione, por favor, o intervalo corresponde aos seus anos de experiência laboral na área das geociências

22. Já esteve a trabalhar no estrangeiro (em geologia) por um período superior a 6 meses?

23. Conhece as actividades e missões das APG/SGP/FEG

24. Encontra-se associado/a a algumas das entidades referidas acima ou outras?

25. Já esteve presente em alguma das actividades organizadas pela SGP ou APG?

26. O que sente falta ao nível da representação da profissão/da ciência em Portugal?

27. Relativamente à profissão de geólogo, sente que é valorizada ao nível nacional? (pelo cidadão comum)

28. Relativamente à profissão de geólogo, sente que é valorizada no âmbito familiar?

29. Relativamente à profissão de geólogo, sente que está integrada numa classe profissional unida?

30. Relativamente à profissão de geólogo, sente que é acolhida como estratégica na construção do tecido societal? (pelos órgãos representantes)

31. Atendendo ao enquadramento profissional que encontrou após se formar, continuaria a seguir geologia (ou áreas afins)?

32. Escolha do intervalo de idades, aquele em que se insere:

33. Indique, por favor, o género com o qual se identifica:

34. A sua situação de residência actual

Anexo I

Assessing what the public gets from an exhibition

Joana Reis*, César Lopes, Liliana Póvoas, Bruno Ribeiro, Elisabete Malafaia, Pedro Dantas, Ana Delicado

1MUHNAC – Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Rua da Escola Politécnica 56/58, 1250-102 Lisboa

2Instituto Dom Luiz, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Campo Grande, 1749-016 Lisboa

3Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9, 1600-189 Lisboa

*Autor correspondente: jrcl@sapo.pt

Abstract

In February 2009, the exhibition “Allosaurus: one dinosaur, two continents?”, opened to the public at the Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa (MUHNAC). The main goal of this exhibition was to explain the scientific method applied to Vertebrate Palaeontology as a tool to promote public understanding of science and enhance science literacy. This exhibition also showed some results achieved on a research project led by the museum, that lead to the identification of fossilized bones of Allosaurus fragilis in Portugal in the late 1980’s. At the time this was a major discovery, as it was the first dinosaur species found on two continents, and the first specimen assigned to this taxon described outside the United States.

In this study, we performed a set of interviews to the public that visited the exhibition “Allosaurus fragillis: one dinosaur two continents?” in order to assess if it achieved the proposed goals.

Based on this study, we conclude that the exhibition was successful in transmitting the scientific knowledge that was intended, since most of the interviewed visitors understood and maintained or even increased their interest on Dinosaurs and Palaeontology.

Keywords: Exhibition, Allosaurus, public, science literacy.

Resumo

Em fevereiro de 2009 a exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?” abriu ao público no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa (MUHNAC). O principal objetivo desta exposição era divulgar o método científico inerente à Paleontologia de Vertebrados de modo a promover a compreensão de Ciência e a literacia científica do público. Esta exposição também mostrou alguns resultados obtidos num projeto de investigação liderado pelo Museu e que resultou na identificação de ossos fossilizados de Allosaurus fragilis em Portugal no final da década de 1980. Na altura, esta foi uma descoberta muito relevante porque foi a primeira espécie de um dinossáurio encontrada em dois continentes, e por se tratar do primeiro conjunto de restos fossilizados atribuído a este táxon fora dos Estados Unidos.

Neste estudo realizou-se uma série de entrevistas aos visitantes da exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes” com o objetivo de avaliar se a exposição atingiu os objetivos que se propunha alcançar.

Com base neste estudo, concluiu-se que a exposição foi bem-sucedida a transmitir o conhecimento científico pretendido, uma vez que a maioria dos visitantes que foram entrevistados compreendeu e manteve ou até incrementou o seu interesse em Dinossáurios e em Paleontologia.

Palavras-Chave: Exposição, Allosaurus, Público, literacia científica.

. Introduction

.

Why do this assessment?

The theme “Dinosaurs” has long been considered attractive and interesting to the public (Gould 1991, 1995). Thus, this subject has been an important tool to communicate and disseminate scientific knowledge regarding Earth Sciences, and

particularly Palaeontology, to different publics. The National Museum of Natural History and Science of the University of Lisbon (MUHNAC) is no exception and has been following this trend at least since the 1980’s to assure a successful strategy for science communication and scientific outreach activities.

The effectiveness of that strategy has been often proved reliable inferring by common interactions

between its staff (educators, researchers, ticket office/surveillance employees) and the public. It has also been validated through several of our own visitor’s surveys (e.g Moreira et al., 1994a, 1994b; Lopes & Póvoas, 2000; Póvoas et al., 2006; 2010; Lopes, 2010). Furthermore, not only is the Palaeontology of Dinosaurs a research subject carried on in the MUHNAC, but it is also pertinent considering both national and regional geology, as Lisbon is located within one of the two Portuguese meso-cenozoic basins. Lastly, this strategy provides the opportunity not only to address the topic itself, but also several other related issues (e.g.: evolution, mass extinction, global change).

To establish a successful relationship with the public, a museum must know its visitors. With this purpose, the visitors of the MUHNAC have already been invited to participate in surveys concerning exhibitions, as well as events (particularly since the 1990’s), in order to access several issues: some as basic as demographic characterization; others more complex, such as visitors’ generic satisfaction, and also their expectations (e.g. Andrade et al., 2003; Leite, 2009).

This study intends to go one step further and to assess if the public was getting the message and knowledge that was intended to disseminate through the exhibition. In other words, this analysis aims to compare the information that is intended to transmit and the knowledge that the public retains. This was achieved through the analysis of a series of interviews to the visitors of the exhibition “Allosaurus fragillis: one dinosaur, two continents?” that were conducted back in 2013.

. The exhibition

The exhibition “Allosaurus fragillis: one dinosaur, two continents?” opened to the public on February 2009 and remained on display until May 2017 According to our visitors records we deduced an average of 24 000 visitors per year. As in any other exhibition, the museum aimed to provide meaningful experiences to the visitors. The visits were not supposed to be merely learning opportunities, but also enjoyable events. To that purpose, the exhibition presented several elements that were visually appealing, as well as interactive features, such as a light sensor that highlighted a full-size drawing of the biggest Allosaurus specimen ever found (see Fig. 1) and boxes with replicas of some fossils that could be seen in the exhibition and that the visitors were supposed to identify by touch (see Fig. 1). This design was deliberated, as

this kind of interaction requires observation and comparison, two skills that are essential for natural sciences such as Palaeontology.

The main goal of this exhibition was to explain the scientific method inherent to Vertebrate Palaeontology, as a way to promote public understanding of Science, as such, to contribute for enhancing science literacy (Reis et al., 2011). The pathway that goes through the exhibition (see Fig. 1), was supposed to act as a metaphor for the trajectory of the scientific research, that consists in successive steps: the fieldwork, the conservation-restoration of the fossils in the laboratory, the interpretation of data, the conclusion and the formulation of hypotheses that usually raises new questions (that is why the final panel of the exhibition contained several unanswered questions).

As previously mentioned, one of the main objectives of the exhibition was to show the methodologies used in research projects in Vertebrate Palaeontology (in the field, in the laboratory, and in the study of the fossils). Some of the issues approached in this exhibition were:

• how multidisciplinary teams of palaeontologists and geologists are able to reconstruct ancient environments;

• the several steps fossils go through since they are found in the excavation site, following conservation-restoration in the laboratory, until they are properly stored in the museum collections or placed inside an exhibition window for public display;

• the phylogenetic relationships between theropod dinosaurs and modern birds;

• the palaeogeographic scenario that could explain the presence of Allosaurus fragilis in two different land masses, during the Late Jurassic, when North America and Iberia were supposedly separated by the incipient opening of the North-Atlantic Ocean (Escaso et al., 2007; Póvoas et al., 2010).

These questions were addressed by representing the several steps associated with research methodologies using for example photos of the fieldworks and a diorama of the site, exposing some of the instruments and materials that are used in the excavation and extraction of fossils, as well as in its conservation and restoration in the Laboratory (Póvoas et al., 2010) (see Fig. 1).

The narrative of the exhibition was not based on a hypothetical example, but rather a real project, in which the Museum was deeply involved. The Museum had been participating in an ongoing research, concerning the discovery of fossilized osteological materials attributed to

the theropod Allosaurus fragilis, following the works for construction of a building in a farm near Pombal (Leiria district – central Portugal), during the late 1980’s. At that time, this taxon had only been identified in correlative levels of North America. Therefore, this discovery had important repercussions in the scientific community, both national and international. After this discovery, several fieldwork campaigns led by the MUHNAC were performed in this fossil site. Thus, there was an interest in unveiling the research findings not only to the scientific community but also to the whole Society.

Nevertheless, the aim of the exhibition went far beyond revealing those findings. There was a clear intention to show the methods that were used and how those methods led to those findings. It was not enough to expose facts, it was also as important to reveal how scientists get to those conclusions (Reis et al., 2011).

.. Dinosaurs in Portugal: why are they relevant?

Portugal has one of the most abundant fossil

records of dinosaurs, and other continental vertebrates from the Late Jurassic worldwide. This record shows a close relationship with other correlative faunas in the North-Atlantic context, especially with North America (Dantas et al., 1999; Perez-Moreno et al., 1999; Malafaia et al., 2010). The similarity of Late Jurassic continental faunas from Portugal and North America is difficult to explain, because most palaeobiogeographic models suggest that the continental faunas of North America and West Europe were separated by the processes that lead to the opening of the North Atlantic Ocean, at least since the first stages of the Upper Jurassic (e.g. Brikiatis, 2016). The similarity on the Late Jurassic dinosaur faunas of North America and Portugal has been traditionally interpreted by the presence of intermittent terrestrial bridges that would connect these landmasses during some periods in the Late Jurassic. The Portuguese record of dinosaurs is one of the few currently known available evidence to ascertain this palaeobiogeographic model and to understand the faunal evolution of the periAtlantic regions related with the first phases of the North-Atlantic opening.

Figure  - Layout of the exhibition (adapted from Reis et al 2013 ©MUHNAC). The green strip represents the pathway visitors walked through the exhibition. The area with the darker shade is where visitors stood longer. The photos highlight some features (clockwise from the bottom left corner): a photos panel of excavation campaigns that were held in 1988, 2005 and 2010; a diorama of the excavation site; a replica of a young Allosaurus, and a real size drawing of the biggest Allossaurus specimen that had been found [at the time] on the wall; showcases with Allosaurus fossils collected at the site, revealing the phases of preparation and storage; a generic view of the exhibition showing a 3D cladogram of theropods’ (including birds) made with replicas of skeletons or skulls; an interactive panel concerning plate tectonics; panels exposing the hypothesis concerning possible routes taken by Allosaurus between North America and Iberia at the Late Jurassic; final panel featuring several question risen through the research; view of the exhibition from the rear end; boxes with fossil replica for a hand-on experience; panel with an illustration portraying a palaeoenviromental reconstruction of the site; showcase showing fossils found at the site that reflect an impressive palaeobiodiversity.

Methodology

In 2013, about four years after the exhibition inauguration, it was decided to check if our visitors were getting the information that was intended to be transmitted. By applying a survey then (as opposed to the beginning of the exhibition), we could assure a sample that could reflect a wither range of different publics, as it would be expected that a biased surge of very interested and knowledgeable visitors would come right at the beginning. Also, instead of engaging in a quantitative approach by applying a questionnaire with closed-ended questions [this is a common approach that consists in presenting multiple-choice answers to be selected by the subject] it was decided to conduct interviews with the visitors so that they would give their own answers. This qualitative approach did not aimed to figure out how many visitors were getting the information, but to check if the exhibition was being able to get the information through.

The interview protocol contained open ended questions and were applied before and after the visitors went through the exhibition. As other authors before us (e.g.: Bollo & Pozzolo, 2005; Yalowitz & Bronnenkant, 2009), we decided to track the visitors while going through the exhibition, marking on a plant where, on the walkway, they stood more time. In the end of both interviews the participants were given a small token of appreciation: a set of pencils from the museum merchandising.

A random sample of visitors, over 12 years old, was asked to participate voluntarily in the survey. Systematic observations of the visitors walking through the exhibition were also accomplished to determine where, on the walkway, they spent more time. So, due to the protocol, once someone accepted to be interviewed, no one else could be asked to participate until the post-visit interview was done. Notwithstanding this restriction, there was a deliberated effort to get a representative sample concerning age group, gender and nationality.

In December 2012, there was a small trial run to test this protocol, and later, between January and April 2013 (mostly on Saturdays and Sundays), the survey was conducted. The interviews were done mostly in Portuguese, but because it was expected to come across tourist and foreigners residing in Portugal, interviews in English and French were also prepared. Table 1 shows the English version of the script. In total it was considered 30 valid interviews (25 in Portuguese, 4 in English and 1 in French).

Table 1: English version of the scrip used in the interviews

Questions made before visiting the exhibition

• Why did you came/ with who?

• Is this the 1st time you came to see a dinosaur’s exhibition? /to this museum?

• Are you interested in dinosaurs? Why? What is the most interesting thing about them? What do they evoke to you?

• How and where did you learned about them?

Questions made after visiting the exhibition

• After seeing the exhibition what was it that you found more interesting, or what did you like best?

• Is this how you thought that the dinosaurs are studied?

• Have you learned something with this exhibition?

• Age/ gender/Place of residence/educational qualifications

. Discussion and results

The visitors that participated in this study mostly came accompanied with someone: 15 came as a couple, 10 came with family, three came with friends and only two came alone. Women revealed to be more willing to participate in the interviews than men: 20 women versus 10 men. (see Fig. 2). Most of the interviewees were residents in Lisbon (21), five others resided elsewhere in Portugal (Cascais, Loures, Odivelas, Sintra and Torres Vedras) and the other four came from abroad (United Kingdom, France, Germany, and Netherlands). Their ages varied between 12 and 75 years old (See Fig. 2). Most of the participants had a higher education degree or had at least completed or were attending secondary school.

All of them had already visited other exhibitions on dinosaurs, either in their country or abroad. Most people were coming to the museum for the first time and came because they wanted to visit it (or some specific exhibition). Some more specific reasons for coming were engaging in a family activity, learning, bringing their children for a learning experience, interest in science and evolution, free admission [Sunday], because they found out about it on the internet (tourist), or heard about it in school. A few were coming specifically to see the Allosaurs exhibition. The average time spent in the exhibition was 12.3 minutes and the median was 10 minutes for a range between 1 to 53 minutes (see Fig. 3).

Less than one third of the interviewees said that they were not very interested in the theme “dinosaurs”, but these were mostly visitors that came to the museum to see other exhibitions (including an art exhibition) or accompanying someone else.

Some participants showed more enthusiasm than others, but most visitors said they were at least a little

interested in dinosaurs. Nevertheless, there were a few dismissive answers such as: “more or less”, “not really” and “I prefer other things. I prefer living animals to dead animals. It is interesting, but I am not very keen on that subject”. Some examples of more positive attitudes could be: “I’m not exactly interested in Dinosaurs, but this looks interesting”; “yes, it is very interesting”; “yes, I’m curious about it” and “yes, especially when I was a child”.

Some people did not provide a particular reason for being interested on the subject. The ones who did mention some generic dinosaur related subjects such as: interest about biology, evolution, fossils, palaeontology, Earth History and curiosity about the biology of dinosaurs. Some of the answers were: “[liking to know about] how they lived and hunted”, “(...) they were big, huge beings that disappeared. There!” “we live on the Jurassic coast, in Dorset, and we’ve got lots of dinosaurs in the Isle of Wight, they’re always finding new dinosaurs, so it’s an interesting area to live, and I think that’s one of the reasons we’re interested in dinosaurs and fossils”.

When asked about what dinosaurs evoke to them the most common answers made generic references to big animals such as the Tyrannosaurus rex. A few examples of answers: “something very big”; “big animals (although I know that some were little)”. Some answers were quite emphatic: “running”, “giant monsters that ate everything”; “T. rex [laughing] me very little and it is chasing me”; “big scary animal. I’m glad they do not exist anymore”. And even though most people just refer to Tyrannosaurus rex when speaking about a specific kind of dinosaur there was one visitor that said “a Stegosaurus”.

When people were asked if they knew what is the name of the science that studies dinosaurs some did mention Palaeontology or Geology, but most said they did not know or made some reference to archaeologists and archaeology. Afterwards, when asked if they knew about the palaeontological methodologies the majority said they knew about it, or at least had some idea. The most common answers were in the lines of “yes, more or less”. Other examples of answers are: “no, this was new for me”; “yes, I though the findings were random, I did not know the museum did so much prospecting”; “I had never thought much about it, but it has some similarities with archaeology. It is amazing and almost unbelievable being able to study this 150 million years away”; “I haven't though before about how dinosaurs were studied, now is better and I'm more interested”

When asked about what they had learned in the exhibition some said they did not learn anything or just remembered or reinforced what they already knew. A few examples of answers that reflect this are: “not really (dinosaur exhibition are repetitive)”; “I learned most of it at school “or “I mostly remembered, but now I understand better the methods that are used”. Others said that they could not express what they had learned or were not sure they would retain it. One visitor from the Netherlands

said he did not notice that the exhibition was bilingual (Portuguese/English) so he did not read anything. The ones that mentioned what they learned referred mostly to the size of the dinosaurs or to Plate Tectonics. A few examples of answers that reflect this are: “I was more focused on the continents formation, which I didn’t know so well and I think I learned something”, “I learned and I’m more curious to learn more (...) I really thought they were not so, so, so big (…)”; ”seven tectonic plates!”; “I guess so, some would be birds that had claws and some were really big (weighed 19 tones)”. Some answers were very emphatic “yes, what I knew was not true”; “I’ve learned everything because I knew nothing! I had already seen a dinosaur at the Lourinhã museum (…) but I wasn’t aware of the structure and shape of each bone, and I think it is fabulous!”.

Half of the people that were interviewed mentioned they learned about dinosaurs at school, but also in movies (Jurassic park is mentioned); documentaries, books, magazines, exhibitions and with relatives (“with my nephew” and “with my son”).

The most common answer regarding the question about what they liked most in the exhibition or what was the most interesting feature to them, was the boxes (there were 6 explicit references to the boxes). As seen in Fig. 1 the walkway section where people stand more time is in the middle where the boxes with hidden fossils replicas were placed. However, there was a comment that reveals that not everybody reacted positively to the boxes: “I don’t like the boxes very much, the surprise effect is weird. Adults are reluctant to put their hand inside not knowing what’s inside”. There are also several references related with the dinosaurs’ dimension, for example: “they were huge. All those pictures with a man’ silhouette and the dinosaurs, and they are very big”; “the actual dimension (bigger than I thought)”; “the drawing on the wall is hallucinating because compared to it we are really tiny. If they still existed, it would be horrible. I’m glad they don’t exist anymore”. There were also a few references related with Plate Tectonic “founding an Allosaurus is another proof that we were once connected with North America”; “the fact that land is pulling apart, how that happened?”; “I did not know that the continents had been together four times!” Besides these, other answers mention bones, fossils, and Portuguese findings. For example: “(…) founding out what existed in Portugal”; “Andrés findings [the site findings]”; There was also references to dinosaur’s evolution “I got a better idea about dinosaur’s evolution, I get it better now” At the end people were asked if they wanted do add something or make some comment. Only a few did, mostly to complement the exhibition. “It’s just a fabulous exhibition. I’m surprised there’s no more people walking around the museum really”; “I’m glad dinosaurs don’t exist anymore, we are tiny compared to them”. After the interview was over there was one young man who mentioned that birds descend from dinosaurs and that he was surprised with the size of Velociraptor. He expected that it would be bigger (or at least as big as an adult man, not smaller).

. Conclusions

The interviews results indicate that this exhibition was quite successful since it was able to fulfil the proposed goals; the visitors got from the exhibition most of the information that was intended to be transmitted. Also, even four years after the exhibition first opened to the public, there were still visitors who came specifically to visit it. Although, in most cases visitors just come to visit the museum or eventually any “dinosaur’s exhibition”.

The public include mostly people that are already interested in themes such as Dinosaurs or more generic themes such as Palaeontology and Evolution and most of them were already somewhat knowledgeable of these topics.

Something else that becomes clear with this study is that, even in short visits (10 minutes or less), people learn something. Particular attention was played to whether people did mentioned tectonics, dinosaur evolution and birds [specially the fact that birds evolved after dinosaurs, and so are in fact the living descendants of the dinosaurs]. Some people did mention these issues in their answers, which reflects

that the exhibition did fulfil its goals. Interestingly, this was something already apparent on the trial run. By analysing the answers, it became evident that some of the people did come out of the exhibition more knowledgeable than before. At least in one case, the visitor tried to find the answers to the questions they could not answer at first. At the very least they came out with a positive attitude towards Dinosaur Palaeontology.

This analysis also indicates that showing methodologies inherent to Palaeontology was an important approach, as for some people this was something new, and to others it helped to clarify how scientists reach their conclusions.

These interviews showed that it is quite true that dinosaurs are generally part of the imaginative realm of both adults and children. Although some people mention that some dinosaurs were small, they mostly speak about how big they were. Thus, they are indeed still famous for being “big, fierce, and extinct”, i.e, very scary but also quite safe [because they do not exist anymore] (Gould, 1991; 1995; Lopes & Póvoas, 2000; Póvoas et al., 2010).

Figure 2 - Some graphics illustrating demography and some features of the visitors who participated in our survey. a) who they came with; b) gender distribution; c) age distribution.
Figure 3 - Time visitors spend in the exhibition: a) sorted from shortish to longest visit, b) sorted by time range of visits

Acknowledgements

We would like to thank to all the people that participated on the interviews for allowing us to do this study. We would also like to thank to the museum’s vigilants that helped us tracking the visitors when they went through the exhibition. And last but not least, to all colleagues that helped us with this study.

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Joana
Carlson Geology
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Carlson Boretrak2
Underground Mining
Carlson PhotoCapture
Carlson Surface Mining
Carlson BRx7
Carlson C-ALS Gyro
Zircon separation workflow: methods, techniques and biaslessons from drill core samples of the volcanic rocks of the Iberian Pyrite Belt

Processos para separação de zircão: métodos, técnicas e enviesamento –aprendizagens através dos testemunhos de sondagem de rochas vulcânicas da Faixa Piritosa Ibérica

João Lains Amaral,, Ezequiel Ferreira, Ana Rita Solá, Telmo M. Bento dos Santos,, Luís Albardeiro, João Gonçalves

1Instituto Dom Luiz (IDL), Lisboa, 1749-016, Portugal

2Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Amadora, 2610-999, Portugal

3Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (DG-FCUL), Lisboa, 1749-016, Portugal

4Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Aljustrel, 7601 – 909, Portugal

5Almina - Minas do Alentejo, S.A, Aljustrel, 7600-015, Portugal

Corresponding Author: João Lains Amaral (joao.lains.amaral@gmail.com)

Abstract

Concentrating zircons from mineralized volcanic rocks collected in drill cores can be arduous. Indeed, the use of the so-called traditional techniques (water-table, chemical, magnetic and heavy liquid separation) for the Aljustrel volcanic rocks produced poorly refined heavy concentrates, primarily due to composite minerals/grains (e.g. quartz+pyrite). In this respect, based on practical experience and literature review, multi-flow charts were developed to exemplify optimal processes for zircon concentration that are directly dependent on the laboratory material, laboratory framework and rock types, besides personal inputs and preferences. The size, morphology, textures and genesis of zircon grains from the volcanic rocks of the Iberian Pyrite Belt are reviewed, and their effect in zircon separation and interpretation bias is discussed. In addition, laboratory hazards, cross-contamination and separation bias risks are also addressed. We concluded that the mineral separation stage should progress towards its simplification to reduce cross-contamination risk, and the use of hazardous substances should be eliminated, replaced or reduced as a long-term health and safety measure. To our understanding and experience, the most suitable techniques should, ideally, be: 1) the use of the rock saw coupled to high-voltage electrical pulse fragmentation to reduce sample size and release minerals; 2) sieving under 200-250 µm without the use of smaller sieves (e.g. 50 µm), thus, avoiding the loss of zircons (<50 µm short axis) and simultaneously reducing the cleaning effort and cross-contamination risk; 3) Water-based gravity-density mineral separation using the Wilfley table coupled with the Söderlund and Johansson (2002)’s method can achieve heavy concentrate(s) poor in quartz and chlorite; 4) Nd hand-magnet separation to remove ferromagnetic and some paramagnetic minerals; 5) handpicking under UV light. Unfortunately, the abundant pyrite content of the IPB hydrothermal mineralised volcanic rocks implies a mandatory use of hazardous substances to remove sulphides before handpicking.

Keywords: zircon; mineral separation methods; laboratory procedures; sample bias; Volcanogenic Massive Sulphides; felsic volcanic rocks.

Resumo

O processo de concentração de zircões a partir de rochas vulcânicas mineralizadas recolhidas em testemunhos de sondagem pode ser árduo. De facto, a utilização das chamadas técnicas tradicionais (separação química, magnética, por água e por líquidos pesados) para as rochas vulcânicas de Aljustrel produziram concentrados de minerais pesados pouco refinados, principalmente devido à presença de minerais/grãos compostos (e.g.: quartzo + pirite). Neste contexto, com base na prática laboratorial e revisão da literatura, desenvolveram-se diagramas de fluxo para exemplificar processos ótimos de concentração de zircões que dependem diretamente do material de laboratório, da estrutura do laboratório e do tipo de rochas, para além das inferências e preferências pessoais do operador. Neste trabalho, procedeu-se a uma revisão do tamanho, morfologia, textura e gênese dos cristais de zircão que ocorrem nas rochas vulcânicas do Faixa Piritosa Ibérica. É também discutido o efeito destas características na separação do zircão e o enviesamento na interpretação geológica. Além disso, são também abordados os perigos laboratoriais, a contaminação e os riscos de enviesamento durante a separação. Conclui-se que a

fase de separação mineral deve progredir para a sua simplificação de forma a reduzir o risco de contaminação, e que a utilização de substâncias perigosas deve ser eliminada, substituída ou reduzida como medida de segurança e de saúde a longo prazo. De acordo com o nosso conhecimento e experiência, as técnicas mais adequadas para a separação de zircão devem ser: 1) a utilização da serra e subsequente fragmentação por impulsos elétricos de alta tensão para reduzir o tamanho da amostra e libertar minerais; 2) peneirar abaixo dos 200-250 µm sem a utilização de crivos mais apertados (e.g.: 50 µm), evitando assim a perda de zircões (<50 µm no eixo curto) e reduzindo simultaneamente o esforço para a limpeza de material e o risco de contaminação; 3) separação mineral por gravidade à base de água utilizando a mesa Wilfley e recorrendo ao método de Söderlund & Johansson (2002) pelo qual se pode conseguir concentrado(s) pesado(s) relativamente pobre(s) em quartzo e clorite; 4) utilização de um iman de Nd para remover minerais ferromagnéticos e alguns minerais paramagnéticos; 5) picagem manual à lupa binocular sob luz UV. Infelizmente, a ocorrência comum de pirite, por vezes em grande abundância, nas rochas vulcânicas da Faixa Piritosa Ibérica que sofreram mineralização e outros processos de alteração hidrotermal implica uma utilização quase obrigatória de substâncias perigosas para remover os sulfuretos antes da picagem à lupa binocular.

Palavras-chave: zircão; métodos de separação mineral; procedimentos laboratoriais; enviesamento na amostragem; Sulfuretos Maciços Vulcanogénicos; rochas vulcânicas félsicas.

. Introduction

Zircon (ZrSiO₄), a common accessory mineral in the continental crust (~203 ppm of Zr; Hans Wedepohl, 1995), is the most widely used mineral in geochronology. Primary zircon is more common in felsic and intermediate igneous rocks than mafic ones. Furthermore, this common accessory mineral in felsic volcanic rocks often grows to sizes suitable for U-Pb isotopic measurements, such as the following analytical equipment: Isotope-Dilution Thermal Ionization Mass Spectrometry (ID-TIMS), Laser Ablation Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry (LA-ICP-MS), Sensitive High Mass-Resolution Ion Microprobe (SHRIMP) and Secondary-Ion Mass Spectrometry (SIMS) (see Schaltegger et al., 2015).

Geochronological studies are affected by two main problems (Jäger, 1979): methodological (technical and analytical) and geological problems. The latter is dependent on several factors, such as the complexity of the geological events (alteration, source inheritance, metamorphism, tectonics, Pb mobility, overlap of geological events and loss of information, and so on), and it is out of the scope of this work. Regarding the methodological problems, we must account for the technical problems of radiometric dating and the inherent problems of sample collection, preparation, and fraction separation (e.g. Sircombe and Stern, 2002). Zircon based geochronological studies often describe analytical methods in detail. However, they rarely describe the sample preparation and mineral separation processes, commonly referring to internal laboratory procedures or standardised and simplified processes (e.g. zircons were recovered from crushed rock by magnetic and heavy-liquid separation techniques or zircons were concentrated using conventional mineral separation techniques).

Drill core information is precious, particularly in districts where buried and deep blind deposits

occur. The low amount of sample taken from drill cores implies that suitable zircon concentrates can only be obtained if particularly efficient procedures are taken, and of course, sample zircon fertility is assumed. Thus, the present work results from the need to separate zircon, in a timely manner, from low-weighted mineralised samples (i.e., drill core samples and pyritic-rich) taken in the Aljustrel Mine district. Geochronological results and interpretation were already published by Lains Amaral et al. (2021b).

Therefore, this work highlights the characteristics of the IPB felsic volcanic rocks to improve sampling and zircon separation techniques in mining districts, focusing on drill core samples. In addition, it aims to review the separation procedures, covering the wide range of possibilities of grain size, gravity, chemical and magnetic methods for zircon separation that are directly dependent on the laboratory material and framework, personal inputs and preferences, and also rock types (see also Chisholm et al., 2014; Strong and Driscoll, 2016). In this regard, we present a multi-workflow path for zircon separation methods. Optimisation of the field and sample preparation and separation techniques will enhance the efficiency of zircon recovery in drill core samples and allow a more accurate geological interpretation.

. Geological context of the IPB volcanic rocks

The Iberian Pyrite Belt (IPB) is a worldwide metallogenetic province (>2500 Mt of massive sulphides, Conde and Tornos, 2019 and references therein), largely mined by the Romans (e.g., Aljustrel Mine), which currently has seven ongoing mine operations (Neves-Corvo, Aljustrel, Riotinto, Águas Teñidas, Magdalena, Sotiel, Las Cruces; producing ~220,000 tonnes of copper and

~230,000 tonnes of zinc per year, plus by-products such as Pb and Ag (tonnes based on mining companies’ public information on contained metal in concentrates). Sample procedures taken in this work were applied to and regarded late Famennian to early Tournaisian IPB felsic volcanic rocks associated with economic ore, particularly those found in the Aljustrel mine (Lains Amaral et al., 2021b).

.. Previous geochronology

Previous works in the IPB have retrieved zircons from volcanic rocks with ages ranging from 330 Ma, interpreted as representing Variscan metamorphic resetting (Lains Amaral et al., 2021b; Paslawski et al., 2020), to Archean, interpreted to be inherited from the siliciclastic basement rocks (Lains Amaral et al., 2021a; Rosa et al., 2009). IPB volcanic rocks have predominantly rhyolitic to dacitic composition (Barrett, 2008, 2009; Mitjavila et al., 1997; Munhá, 1983) over a wide range of volcanic facies from coherent to distal volcaniclastic facies (Rosa et al., 2008a). In mineralised prospects, most of these felsic rocks comprise fine disseminated pyrite as the main sulphide, besides polymetallic stockwork or massive sulphide lenses.

Several attempts to date the magmatic events in the IPB have been made in the past, namely by using the 87Rb/86Sr whole-rock isochron method (Hamet and Delcey, 1971; Mitjavila et al., 1997; Priem et al., 1978; Rosa Díaz et al., 1993). The obtained results include large errors (376 ± 40 Ma; 368 ± 68 Ma), and a younger resetting age was also obtained (308 ± 10 Ma) (see Mitjavila et al., 1997). Direct geochronological dating of the IPB ores was carried out in sulphides, which often provided results with significant uncertainties (i.e., errors above 20 Ma, e.g. Re-Os 346 ± 26 Ma to 359 ± 26 Ma, (Mathur et al., 1999; Munhá et al., 2005; Relvas et al., 2001), and in cassiterite (U-Pb; 363 4 ± 5.8 Ma to 367.5 ± 8.7 Ma) with significantly minor uncertainty errors between 8.7 and 2.6 Ma (Li et al., 2019). Exceptionally, Re-Os isotopes in sulphides from chloritites and high-temperature pyritic associations of Aznalcóllar and Tharsis defined a good isochron age (350 ± 8.52 Ma; Nieto et al., 2000).

However, U-Pb zircon dating of the felsic volcanic rocks associated with the Cu- and Znrich mineralisation has been the most commonly used geochronological tool to determine the emplacement age of the volcanic rocks and to constrain the age of the economic mineralisation

(Albardeiro et al., 2017, 2019; Barrie et al., 2002; Donaire et al., 2020; Dunning et al., 2002; Lains Amaral et al., 2021b; Mello, 2020; Nesbitt et al., 1999; Oliveira et al., 2013; Pascual et al., 2021; Pereira et al., 2021; Rosa et al., 2008b, 2009; Solá et al., 2015, 2019; Valenzuela et al., 2011).

.. Zircon characteristics

Previous studies have highlighted several specific characteristics of IPB zircon grains in felsic volcanic rocks, summarised below:

Size: zircon grain size ranges between 8 to 350 µm long, most often below 150 µm (Lains Amaral et al., 2021b; Paslawski et al., 2020; Toscano et al., 2014). Zircon’s short axis size is persistently under 100 µm. In the Neves-Corvo area, zircon size is often smaller than 50 µm long (Pereira et al., 2014), whereas, in Aljustrel, size is commonly around 100 µm and most rarely up to 350 µm (Lains Amaral et al., 2021b; Rosa et al., 2009)(Fig. 1).

Morphology and texture: zircons are often transparent and euhedral, elongated to equant, with no visible structure in transmitted light (Barrie et al., 2002). Rounded zircons, sub-euhedral to spheroids, are also common in the Aljustrel, Lagoa Salgada, Rio Tinto, Las Cruces, Los Frailes and Nerva volcanic rocks (Barrie et al., 2002; Nesbitt et al., 1999; Paslawski et al., 2020). Rosa et al. (2009) recognised two main morphological types on cathodoluminescence images: “an earlier zircon generation, which is not always present, has a well-developed {100} prism and approximately balanced amounts of the two pyramids, {101} and {211}”, and a more abundant “later generation, which had a more developed {110} prism and {101} as the more developed pyramid, with the {211} pyramid being subsidiary“. According to these authors, morphology change in the zircon suggests increasing in the magma’s aluminosity. In addition, cathodoluminescence images show complex oscillatory zoning, suggesting complex processes (see Lains Amaral et al., 2021b), and regular zoning; sector zoning is rare and, occasionally, no internal structure is observed. Furthermore, zircons may contain dark cores (Barrie et al., 2002; Nesbitt et al., 1999; Paslawski et al., 2020; Rosa et al., 2009). In the Los Frailes deposit, cathodoluminescence images showed that the rounded grains have thin overgrowths suggesting a two-stage growth (Nesbitt et al., 1999). Bright narrow overgrowths were described in Nerva zircons (Paslawski et al., 2020).

Magmatic and inherited zircons: the morphology and internal structures of the Aljustrel, Lagoa Salgada,

Rio Tinto and Las Cruces zircons do not allow “unequivocal detection of inherited cores” (Barrie et al., 2002). Also, Nesbitt et al. (1999) pointed out that, in some cases, overgrowths in zircons may be a result of hydrothermal alteration. Therefore, morphological characteristics alone may not distinguish autocrysts from antecrysts, inherited crystals and xenocrysts, as well as between magmatic and hydrothermal overgrowths.

Hydrothermal zircons: the hydrothermal alteration of the volcanic rocks of the IPB has been widely accepted since earlier works (Barriga, 1983; Munhá and Kerrich, 1980; Plimer and de Carvalho, 1982). In this respect, hydrothermal zircons were suggested to be found in pervasive hydrothermal rhyolites, such as chloritites, or in chlorititic halos (Toscano et al., 2014). The age obtained in the newly formed zircons or overgrowths should correspond to the alteration event (Nesbitt et al., 1999). Recent studies in Las Cruces suggest that zircon size and morphology may play a relevant role in distinguishing hydrothermal grains from magmatic ones (Toscano et al., 2014). The former are often smaller (<30 µm), presenting irregular zoning and embayment features, as well as skeletal forms, whereas the latter are often larger (>50 µm), euhedral to rounded with complex to regular oscillatory zoning (Toscano et al., 2014). In addition, hydrothermal zircons contain high REE values, lack Ce and Eu anomalies, and are enriched in Al2O3, P2O5, CaO and Y2O3 relatively to magmatic zircons (Toscano et al., 2014). These authors also identified a zircon–xenotime solid solution (11-14% of the REE element) in hydrothermal grains. Nesbitt et al. (1999) obtained a U-Pb SHRIMP date of 345.7 ± 4.6 Ma in hydrothermal and magmatic zircons from a chloritite of the Los Frailes deposit, leading the authors to suggest that the timing of volcanism and hydrothermalism was, within error, contemporaneous.

Mineral inclusions: inclusions of apatite, K-feldspar, plagioclase, rutile, Fe- and Ti-bearing oxides, and silicate glass are relatively common (Barrie et al., 2002). Nesbitt et al. (1999) described sulphides (pyrite and galena), rutile, sericite and apatite inclusions in zircons, indicating that, in some cases, zircons may have precipitated after sulphides and, therefore, pointing out for a hydrothermal origin.

Fig. 1 – Mount of zircon retrieved from a megacrystal felsic rock of the Aljustrel district to illustrate that up to 300 µm long zircons pass down a 212 µm mesh sieve. White circles highlight zircons with a long-axis greater than 250 µm.

Figura 1 – Mount de grãos de zircão de uma amostra vulcânica félsica contendo megacristais da zona mineira de Aljustrel que ilustra a presença de grãos com tamanhos até 300 µm (eixo longo) que não foram retidos por um crivo com uma malha de 212 µm. Círculos brancos indicam grãos com tamanhos superiores a 250 µm.

. Sampling awareness

When sampling felsic volcanic rocks in drill cores of brownfield areas for U-Pb zircon dating, a few topics should be taken into account:

Spatial relationship between volcanic rocks, sulphides and/ or sediments: a good understanding of this geological relationship is crucial for interpreting the volcanic rock age concerning the timing of mineralisation and/or sediment deposition. This understanding is often challenging in drill cores, as only a tiny portion is observed with no lateral continuity. In addition, drilling-related issues may be a potential source of bias, such as small to large portions of core loss during drilling, induced fracturation during drilling, and misplaced core or core handling by several people (e.g. in assayed zones). Nonetheless, such a geological understanding includes volcanic facies architecture interpretation, textural/genetic relationships between sediments and volcanic rocks (e.g. Rosa et al., 2016), stratigraphic and structural relationships between volcanic rocks, sediments and/or mineralisation (Marten, 2011; Oliveira et al., 2004; Pereira et al., 2021; Relvas et al., 2006), as well as the different genetic styles of mineralisation, such as those for stratiform massive sulphides: exhalative, replacement or reworked/detrital (Relvas et al., 2006; Sáez et al., 1996; Tornos, 2006). In addition, the possibility for syn-tectonic and/or

syn-metamorphic sulphide remobilisation, which may occur either in stringers or in massive ores, should also be considered (Kampmann et al., 2018; Marshall et al., 1998; Moura, 2008; Relvas et al., 2006). For these reasons, representative samples across the volcanic succession that lie, respectively, conformably above or below the massive sulphide lenses (the latter affected or not by stockwork) should be collected to constrain its upper and/or lower age limits.

Amount of pyrite: pyrite is a common mineral in

volcanic rocks hosting economic mineralisations. It can be very fine to coarse-grained, and has similar physical and magnetic properties to zircon, which leads to their simultaneous concentration during mineral separation techniques (Table 1). Thus, removing pyrite from the heavy concentrate can be hard to achieve without a chemical process. Furthermore, in a hydrothermal system, pyrite can easily be associated with other grains in a very fine way (e.g. pyrite and quartz), which may significantly increase the proportion of light material in the final concentrate.

Table 1 – Relevant mineral properties of pyrite and zircon in common separation techniques.

Tabela 1 – Propriedades relevantes da pirite e do zircão em técnicas de separação mineral.

(Cavanough and Holtham, 2001; Hunt et al., 1995)

Magnetic Susceptibility in Frantz isodynamic separator (side tilt: 15 degrees; size range: 125-150 micrometres) (Rosenblum and Brownfield, 2000)

Sample weight: drill core samples for mineral separation often imply working with small amounts of rock (<3-5 kg) due to: i) thickness of the stratigraphic unit and/or degree of homogenisation: for thick homogeneous volcanic zones, a large core sample can be taken, but this is not possible on thin and/or heterogeneous volcanic levels. Very small-sized samples may, nevertheless, return appropriate amounts of zircons. Furthermore, if whole-rock data is available, particularly SiO2 and Zr contents, it will be easier to estimate the zircon fertility of the sample; ii) core size: the weight of the sample taken by meter depends on the size of the core (e.g. BQ core is roughly 3/4 of NQ core, and NQ core is roughly 3/4 of HQ core). Therefore, 3 kg of sample roughly corresponds to: 0.40 m of HQ core, 0.65 m of NQ core, and 1 10 m of BQ core. Additionally, significant core loss may have occurred in broken intervals, making sampling even more challenging; iii) core portion: the weight of the sample taken by meter also depends on the sample core portion. Usually, only a quarter of a core can be taken in assayed intervals. Occasionally, a full core may be available outside the assayed

zones, but the regular procedure for sampling in mining operations and exploration projects is half-core; iv) portion for analyses: the sample collected is then fractionated into sub-samples for the macroscopic record (which is vital for physical volcanology analysis), thin section(s), geochemical analyses, and mineral separation. Consequently, the portion of the sample to be used for zircon separation may be significantly reduced. Thus, we must ensure that the entire core portion selected for zircon separation is wholly processed into the desirable crushing size for mineral separation.

Fig.  – Multi-workflow path for sample preparation (griding by high-voltage electrical pulses and continuous ring mill were not tested by us). *250 µm sieve suggested for IPB felsic volcanic rocks. Note that this chart does not cover all available instruments and techniques.

Fig. 2 – Diagrama de fluxo para a preparação das amostras (fragmentação por impulsos elétricos de alta tensão e por moínho de aneis contínuos não foram testados pelos autores). *Crivo de 250 µm é sugerido para as rochas vulcânicas félsicas da Faixa Piritosa Ibérica. Note-se que esta tabela não abrange todos os instrumentos e técnicas laboratoriais existentes.

. Zircon separation

Sample preparation and mineral separation are often dependent on laboratory facilities and personal/institutional know-how. Thus, geochronologists have been recovering zircons from different types of rocks and recent sediments using various methods that have not changed significantly over the last fifty years (Vermeesch et al., 2017). Indeed, there is extensive but often shadowed literature about mineral separation processes for geochronological studies. In Figures 2 and 3, we attempt to systematise mineral separation

Fig.  – Multi-workflow path for heavy mineral separation techniques. The authors have successfully applied Wilfley table separation, nitric acid digestion, magnetic separation, organic heavy liquids, handpicking and mount. All the other techniques are based on literature. Note that this chart does not cover all available techniques.

Fig. 3 – Diagrama de fluxo para técnicas de separação de minerais pesados. Os autores aplicaram com sucesso a separação de mesa Wilfley, digestão com o ácido nítrico, separação magnética, separação por líquidos pesados orgânicos, picagem manual e montagem do mount. Todas as outras técnicas são retiradas da literatura. Note-se que esta tabela não abrange todos os instrumentos e técnicas laboratoriais existentes.

techniques that certainly do not cover all available instruments and techniques. In this section, we infer the outcomes of the mineral separation process carried out in the volcanic rocks of the Aljustrel Mine (geochronological results in Lains Amaral et al., 2021b) coupled with other published practices that, to our knowledge, could benefit and turn easier and safer the zircon extraction process from IPB volcanic rocks and similar mineralised rocks.

.. Liberating zircons

Crushing the volcanic rocks of Aljustrel to a suitable size was first done in the rock saw, which, and considering that the sample is half-core, has significant advantages over the hydraulic press, such as much less time-consuming and effort in equipment cleaning (Fig. 2). The result 5-10 cm blocks were then reduced in the jaw crusher. A jaw crusher’s timing and cleaning effort can vary enormously depending on its size and model. At this stage, samples were sieved to reduce the air dust. Indeed, sieving should be performed before the 3rd crushing process. In order to reduce the sample into “sand-sized” powder, a ring mill was used for the present work, which is one of the most time-consuming techniques (Fig. 2).

Furthermore, the time needed for the desired sample reduction may enormously vary with the hardness of the rock. For example, although most Aljsutrel´s volcanic rocks are silicified and quite hard, intensively chloritised and sericitised volcanic rocks can significantly reduce sample hardness and, thus, change the shaking time of the ring mill dramatically. In this regard, it may be tricky to avoid the pulverization of the rock and zircon fragmentation using this tool. Certainly, continuous ring mill and disc mill tools are more adequately for this phase, with the advantage of reducing the sample to well-sorted material (Fig.2). Apparently, of greater advantage over the more traditional tools is using high-voltage electrical pulse fragmentation devices that eliminate one of the crushing steps and may significantly reduce any damage to the external morphologies of zircon crystals (Takehara et al., 2018) (Fig. 2).

Sieving for the reduced IPB felsic volcanic rocks was carried out using a sieve of 250 µm (60 mesh) (plus one of 1 mm to eliminate the larger fragments). This sieve setup was deemed suitable for the IPB felsic volcanic rocks. Indeed, the long-axis size of zircons from the metallogenic belt are often smaller than 150 µm, and only rarely larger sized grains have been recovered, as is the case of the plutonic rocks of the Campofrío pluton, Sierra Norte Batholith (Paslawski et al., 2020), or the unique megacrystals felsic rocks of the Aljustrel district (Lains Amaral et al., 2021b) (Fig. 1). Furthermore, as the maximum short-axis size of zircons found in the IPB felsic rocks is 150 µm long, a 250 µm sieve opening allows, nonetheless, for larger uncommon elongated zircons to pass down the mesh (Bartley et al., 2019), as shown in Fig. 1. On the other hand, the unuse of a smaller mesh does not eliminate smaller zircons, which is not unheard of for felsic volcanic rocks containing predominantly

silt-sized zircons (Bindeman, 2003; Pereira et al., 2014; Toscano et al., 2014). Therefore, we strongly discourage sieving and discarding the fraction below 53 µm (270 mesh), which may remove zircons with a suitable size for in situ analysis (see section 2 2), creates an unnecessary step and may increase cleaning effort and risk of cross-contamination if no disposable sieves are used.

.. The effortless techniques for zircon concentration?

To our knowledge, at this stage, we should proceed with three main techniques that may result in refined zircon concentrates (Fig. 3), particularly considering that we are dealing with small-weighted (i.e. half drill core) samples. These techniques are: 1) hydrofluoric acid application can leach several silicate minerals that will not dissolve zircon under the correct procedure (Bea et al., 2018; Neuerburg, 1961). Its main disadvantages are the time of the procedure, about one to two months (Bea et al., 2018; Neuerburg, 1961), and its toxicity; 2) centrifugal separation with (non-)organic heavy liquids (Moore, 2014) coupled with partial freezing of the tube with liquid nitrogen to avoid contamination by the floating material after centrifugation (Gautier and von Pechmann, 1984), successfully tested for single fractions up to 500 µm (Garzanti et al., 2018; Ijlst, 1973; Moore, 2014; Vermeesch et al., 2017); and 3) water-based methods (Fig. 3), which is addressed in more detail below.

Water-based mechanism (Fig. 3) includes techniques that only remove the clay fraction, such as classic decantation and the Ultra Clay Separator (Hoke et al., 2014). In addition, it also includes more rudimentary techniques, such as panning using a Gold pan or a Wash-glass (Cheong et al., 2013) that can be pretty successful for fertile rocks; however, it may be a source of bias as less dense zircon grains can be removed (Andò, 2020), such as metamictic (Chakoumakos et al., 1987) and hydrothermal zircons. Unfortunately, we did not find thorough references about the wet-elutriation method that successfully concentrated zircons and eliminated other silicates, such as quartz.

The water table, in particular, the Wilfley table, is by far the most widely used technique. These tables may have the advantage to concentrate heavy fraction(s) ready for handpicking (Dumitru, 2016; Söderlund and Johansson, 2002). Nonetheless, the Wilfley and Gemeni tables can separate minerals based on their specific gravity for similar-sized grains (Falconer, 2003), including quartz and feldspar in

the non-heavy mineral fraction (Table 2). For the IPB felsic volcanic rocks, the Wilfley table was set up with a dip angle of 2–3 degrees and a small portion of each sieved sample was used to pre-contaminate the table and visualise the degree of separation. The density separation of the minerals often revealed two different tracks from the left- to the right-hand side of the table: i) a relatively narrow (few millimetres) heavy minerals track, dark-coloured due to the presence of pyrite (and other sulphides; rarely magnetite); ii) a greenish-grey track, primarily due to the presence of sericite (and chlorite). The latter track was broadly eliminated upon the second pass on the table. Nonetheless, the heavy mineral fraction was collected only during the third pass;

the presence of chlorite (variable density between 2.6 and 3.3 g/cm3; Table 2) and composite grains (e.g. pyrite+quartz) resulted in a diffuse transition between the chlorite-rich and the heavy minerals tracks, preventing the direct handpicking from the heavy mineral fraction. Sláma and Košler (2012)´s experience shows that zircon loss (about 20%) is uniformly distributed between 50 and 330 µm (Sláma & Košler, 2012); thus, not representing a potential source of bias for the IPB volcanic rocks, as they often contain zircons of size range between 40 and 150 µm (Lains Amaral et al., 2021b; Nesbitt et al., 1999; Pereira et al., 2014; Toscano et al., 2014; Valenzuela et al., 2011).

Table 2 – Relevant mineral properties and behave in common separation techniques. X indicates removing. Tabela 2 – Propriedades relevantes de minerais e seu comportamento em técnicas de separação comuns. X indica exclusão.

(Barriga, 1983)

(Muscovite, Illite, Paragonite)

Biotite (replaced by chlorite)

(side tilt: 15 degrees; size range: 125-150 micrometres) (Rosenblum and Brownfield, 2000) (Barthelmy, 2012) Wilfley table Nitric

Dravite-Uvite [Tourmaline Nesbitt et al., 1999)]

.. How to get rid of so much pyrite?

The mineral separation techniques mentioned above do not remove pyrite, a mineral similar to zircon in the mineral separation chain (Table 1). Thus, considering that pyrite is a typical heavy mineral in hydrothermally altered rocks in VMS systems, particularly in mining and brownfield areas, the heavy concentrate using density-gravity

FeS2 pyrite + 8HNO3 nitric acid →

Fe(NO3)3 iron nitrate +

based techniques produces pyritic-rich concentrates that may strongly hardness a following handpicking process.

In order to dissolve the pyrite grains (and other sulphide grains) of the Aljustrel’s felsic rocks, a moderate nitric acid solution (e.g. 8N) was used. Possible chemical reactions that occur during this process are described below (Kadιoğlu et al., 1995; Rogozhnikov et al., 2019) :

2H2SO4 sulphuric acid + 5NO2 nitrogen dioxide + 2H2O water

6FeS2 pyrite + 30HNO3 nitric acid →

3Fe2(SO4)3 iron sulphate + 3H2SO4 sulphuric acid + 30NO nitrogen oxide + 12H2O water

The reaction involving pyrite and nitric acid, a strong oxidant capable of rapidly oxidising sulphide minerals, produces sulphuric acid, nitrogen (di)oxide, water, iron sulphate and iron nitrate. A pale-greyish (like ash) substance (often in agglomerates) precipitated during this procedure. After the reaction ceased, the greyish substance would occasionally float, entirely or partially. The substance likely formed was a paramagnetic iron compound, such as ferric sulphate or nitrate. Both compounds possible have magnetic susceptibility greater than pyrite (Ivakhnenko et al., 2015). Thus, Frantz Isodynamic Separator may remove the precipitated compound by its higher magnetic susceptibility or its very fine grain size that adheres to the chute. Therefore, we strongly suggest that chemical leaching should be done before magnetic separation and heavy liquid separation for pyrite-rich samples.

Another possible method to eliminate pyrite for geochronological studies, not tested by us, is reverse flotation (e.g. Kamo, 1992; Norcross, 1997), a process involving a series of inorganic and organic compounds that make pyrite, and other sulphides, float, namely xanthate compounds (Mu et al., 2016), such as potassium amyl xanthate. Interestingly, other compounds, such as hydroxamate, may float monazite and xenotime, while depressing rutile and zircon (Chelgani et al., 2015). These are all accessory minerals used in U-Pb geochronological studies. Zircon, xenotime and rutile have been reported in the volcanic rocks of the IPB. However, the behaviour of hydrothermal zircon containing

xenotime as described by Toscano et al. (2014) in hydroxamate compounds is unknown. Reverse flotation separation is highly uncommon in U-Pb geochronological studies, and geochronologists might underestimate its full potential. Again, however, hazardous substances are used.

.. Magnetic Susceptibility

As mentioned above, products resulting from pyrite and nitric acid reaction are slightly magnetic, being removed with Frantz isodynamic separator. However, before removing paramagnetic minerals, the first step consists of removing the ferromagnetic minerals (e.g. magnetite and pyrrhotite), which also occur in the IPB (Table 2), occasionally being very significant (e.g. ES16005-620 2m in Lains Amaral et al., 2021b), using a hand-magnet or the free-fall technique in the Frantz isodynamic separator. Notwithstanding, according to Chisholm et al. (2014), the use of neodymium magnets can, in addition, remove minerals with high to moderate magnetic susceptibilities, such as amphibole, pyroxene, biotite and garnet.

For IPB felsic volcanic samples, Frantz isodynamic separator’s magnetic separation, at a constant side-slope of +10º and forward slope of 10°, begins at low amperages (0 3–0 4 A). Whenever the amount of material being collected in the “magnetic“ container is considered too small and/or a large number of grains with similar visual characteristics is passing to the “non-magnetic“

container, the amperage should be adjusted to a slightly higher value (0.5–0.6 A) until a satisfactory visual separation between the material being collected in both containers is achieved. At the end of this first step, the material collected in the “magnetic“ container is labelled as stored. The material collected in the “non-magnetic“ container is used for subsequent magnetic separation steps using incremental amperages (e.g. 0.8–1.0 A, 1.2 A up to 1.6 A). Note that zircon crystals should ideally behave as non-magnetic minerals up to 1.6 A. Nevertheless, it is not uncommon for several factors, such as radiation damage, impurities, inclusions, fractures, broken grains, and others, to affect zircons’ magnetic behaviour, leading to their magnetic response at lower amperages, but most often above 1.6 A (Krogh, 1982; Sircombe and Stern, 2002).

.. Sinking in high-density liquids

In the case of the Aljustrel volcanic rocks, significant material with neutral or negative buoyancy was still present at this stage, most likely due to high concentrations of composite minerals/ grains (e.g. quartz+pyrite). We use methylene iodide, however, bringing health and safety concerns (Fig.3).

Interestingly, Koroznikova et al. (2008) tested the behaviour of natural zircons in heavy solutions with different densities. The authors used heavy suspension technique (tungsten carbide powders suspended in lithium heteropolytungstates liquid) and Clerici solutions, with densities varying between 3.45 and 4.65 g/cm3 and found that metamict zircons start to float in heavy suspension solutions with densities close to ~3.5 g/cm3 and Clerici solutions with densities close to ~3.8 g/cm3. In this regard, we may speculate that the use of very high densities liquids (>3 5 g/cm3) may cause the loss of zircons of which its specific gravity might have been affected, such as the loss of metamict zircon, hydrothermal zircons, igneous hydrothermal altered zircons and zircons with high content of lighter inclusions; all of which are present in the volcanic rocks of the IPB. Additionally, the use of heavy liquids may cause loss of smaller zircon grains, possibly due to electrostatic charging, which does not occur if a water-based method was previously used (Sláma and Košler, 2012). Therefore, considering the somewhat impure concentrates and Koroznikova et al. (2008)’ finding, performing the separation with the highest density solution below 3.5 g/cm3 (e.g. methylene iodide over bromoform; see Fig.

3) is most likely the most suitable one among the organic heavy liquids. Nonetheless, and, until now, not very significant for the IPB, we must remind that methylene iodide also removes apatite (Table 2).

Additionally, at this stage, centrifugation coupled with heavy liquids can be quite helpful to enhance heavy liquid separation, as this process increases the settling velocities, being able to separate particles differing only 0 005 in specific gravity and preventing agglomeration of the finer grains (Ijlst, 1973). For small samples, centrifugal separation can be achieved with centrifuge equipment and requires partial freezing of the tube with liquid nitrogen to avoid contamination by the floating material (Gautier and von Pechmann, 1984). On the other hand, for large samples, Infracentrifuge (Maboko et al., 1985; Verschure and Ijlst, 1966) and laboratory overflow-centrifuge (LOC) separator (Ijlst, 1973; Shang et al., 2016) have been developed. This latter equipment allows the separation of significant amounts of material and separates the light and heavy particles into different containers (Fig. 3).

.6. zircon’s picking

Notwithstanding automatic identification tools for mounted heavy concentrate have been generated (e.g. Vermeesch et al., 2017), the handpicking process, prior to mounting, is still one of the most comprehensive processes used by geochronologists (Fig. 3). It involves selecting zircons to produce a zircon concentrate, ready for mounting, using an excellent binocular microscope and a fine edge non-magnetic picking tool, such as tweezers. Under the binocular microscope, zircon can be easily identified by its optical properties, namely the high refractive index and transparent-translucent, and its crystal habit, namely the bi-pyramidal shape.

It is worth mentioning that, in our case study, the final heavy-mineral concentrate is often abundant and poorly refined, mostly because composite grains (e.g. quartz + pyrite) are not entirely removed during the previous steps. This can further enhance the time required for handpicking and the abovementioned bias risk. However, the assistance of polarised light (zircon has strong birefringence) and short-wave UV light (zircon has a bright yellow-orange colour with UV) could have lighter the handpicking process and, in addition, could have helped to identify zircons of diverse sizes, shapes and colours (Suárez et al., 2015), if present.

Besides the necessary experience to identify zircon grains, an important bias issue must be mentioned here. Zircon fertility in a sample is strongly variable, implying that there are rocks without zircon grains, and there are samples with significant amounts of this mineral. At this final stage, if there are less than a couple of hundred grains, they should be all picked up; however, if the final sample mineral concentrate contains several hundred or thousands of grains, handpicking may result in bias, which may be circumvented using random statistical tools. Indeed, preference for larger and coreless grains during handpicking and analysis can be a source of bias (Cawood et al., 2003; Mange and Maurer, 1992), particularly in detrital rocks. However, in the IPB volcanic rocks, geochronological studies have been focused on dating the emplacement ages of the volcanic successions (e.g., Pereira et al., 2021), often selecting the more “clean” zircon crystals (e.g., Valenzuela et al., 2011), which may induce bias in the interpretation of the very residual (<<1%), older, pre-Devonian, grains within the IPB volcanic rocks (Lains Amaral et al., 2021a).

In addition, the process of grain selection for mount preparation, and its subsequent analysis by in-situ techniques, SHRIMP or LA-ICP-MS, can also cause additional bias, but discussion of these effects is behind the scope of this work (see, e.g. Malusà et al., 2013).

. Cleaning laboratory material

Cleaning between samples can take up to several hours, often requiring compressed air, wet (alcohol, solvents, and/or water and soap) and/ or dry rub and brush, and/or ultrasonic bath. During crushing processes, cleaning often involves removing rock fragments and dust with a vacuum cleaner, compressed air to remove hidden dust, and rubbing with a roll paper/cloth soaked in alcohol or humid and/or washing with water and soap the removable parts of the instruments to eliminate any residue particles. In addition, crushing a commercial mica-free quartz sand can be used for cleaning between samples. Alternatively, a disposable portion of the (next) sample can be used as a pre-contamination step. In the case of reused sieves, only the larger ones should be used. Reused sieves must always be checked to identify residual grains by holding them towards light or against a coloured surface. Residual grains can be removed by blowing the sieves with compressed air, sweeping with a bristle brush and using a needle

to dislodge the remainder grains. A final cleaning step involving emersion in an ultrasonic bath can be performed. Additionally, as recommended in this work, not using reusable sieves smaller than 60 mesh (250 µm) may significantly diminish the time expended in cleaning. A small disposable portion of the sieved sample can be used for the water table separation as a pre-contamination step. Removing the use of the feed box and keeping the water table shaking during the cleaning process also enhances its efficiency. In the case of the Frantz isodynamic separator, cleaning with compressed air is required between samples. Additionally, the user may introduce a plastic or paper envelope around the longitudinal drop-down ruler where the minerals are separated to avoid trapping magnetic minerals in the upper magnet section. For the heavy liquid separation process, solvents are used to clean laboratory material. The use of paper sheets on all benches and work surfaces significantly enhances the cleaning process. For the handpicking process, it is mandatory to clean the workstation thoroughly. Using paper sheets and vitreous containers to lay down manageable material (e.g. handpicking tool, petri dish) enhances the cleaning process. Manageable material should be rubbed and cleaned with water and soap, ethanol and compressed air.

6. Laboratory hazards

Healthy and Safety procedures in the laboratory are crucial to avoid injuries, long-term health diseases and even accidental deaths. The main hazards in sample preparation are: crush injuries, mainly hand and fingers (e.g. jaw crusher); breathing problems due to inhalation of rock dust (e.g. jaw crusher); eye irritation and inflammation due to rock dust (e.g. jaw crusher); injuries from the impact of flying debris (e.g. hydraulic press); back pain due to heavy works (sample lifting); headache and loss of audition due to noise pollution (e.g. ring mill); slips and falls due to wet floor (e.g. rock saw, Wilfley table); damage to the spine due to vibration (e.g. rock saw). The main hazards in water-based gravity separation techniques are slips and falls due to wet floors. In addition, breathing problems due to inhalation of rock dust (e.g. sample handling) and pinched fingers in the shacking tables may occur. With Frantz isodynamic separator, caution may be needed (e.g. people with pacemakers) due to its strong magnetic fields. Headaches due to noise pollution may also occur. The use of acids is often a dangerous process (e.g. nitric acid; hydrofluoric acid). Even a 63% nitric acid solution

is highly corrosive and can cause irritation, burns, permanent damage (e.g. eye contact), and severe breathing problems, including death if inhaled (Fisher scientific, 1998; Murphy et al., 2010; Steverlynck et al., 2017). Hydrofluoric acid can be fatal, cause severe irritation of the respiratory systems, increase the likelihood of kidney and liver damage, and long-term occupational handling may cause perturbations of the reproduction system (Özcan et al., 2012). Organic heavy liquids, used in several density-based separation methods, are toxic. Bromoform is a probable human carcinogen. Inhalation and oral exposure can cause central nervous system depression, slowing down of normal brain activities, narcosis and liver and kidney injuries (EPA, 2016). Methylene iodide is not listed as a carcinogenic material; however, most of the hazards are unknown. Ingestion of methylene iodide can cause liver damage (Weimerskirch et al., 1990), and inhalation can cause loss of consciousness (Hauff and Airey, 1980). In addition, it may cause severe eye damage, skin and respiratory irritation (ECHA, 2019). Both heavy liquids can be metabolised into carbon monoxide and may raise this component in the blood. Methylene iodide vapour pressure is relatively low, which decreases the chances of air saturation significantly; on the contrary, the vapour pressure of bromoform is relatively high (Hauff and Airey, 1980). Inorganic heavy liquids are relatively low toxic materials; lithium heteropolytungstate is unlikely to cause significant effects, although crystal solids are irritating to the eyes and may cause permanent damage. Sodium polytungstate is toxic when digested and also causes irritation and severe eye damage (Carl Roth, 2019). Also, acetone may cause eye, skin and respiratory irritation, nausea, headache, dizziness, drowsiness and rarely unconsciousness (indigested or high air concentrations) (ATSDR, 1994). Ethanol can cause localised irritation (inhalation, skin and eye contact).

 Discussion

.. Zircon loss and separation bias

It is not uncommon for zircon separation techniques to result in some zircon loss and biased sampling. However, this risk is considered relatively low for the IPB volcanic rocks due to: i) the size of magmatic and inherited zircons typically ranging between 40-150 µm (Paslawski et al., 2020; Rosa et al., 2009; Toscano et al., 2014)); therefore, any grain loss in the Wilfley table

is rather constant (Sláma and Košler, 2012). Moreover, the distribution of size populations is not size-dependent between magmatic zircons and pre-Phanerozoic grains and within magmatic zircon populations (Barrie et al., 2002). Finally, the size difference between hydrothermal (often < 30 µm; Toscano et al., 2014) and the smaller magmatic zircons are not significant, and the method of Söderlund and Johansson (2002) can be used complementarily to recover smaller fractions; ii) the use of a water-based technique may avoid electrostatic charging of the zircons, and potential zircon loss in the heavy liquid separation process as speculated by Sláma and Košler (2012); iii) the use of solutions with densities below 3.5 g/cm3 avoids the flotation of zircons with lower densities than usually attributed to the mineral (see Table 2) as metamictization may reduce up to 16% zircon’s specific gravity (Holland and Gottfried, 1955). We also speculate that hydrothermal alteration may also reduce zircon's specific gravity in particular if spongy textures are developed; iv) the use of the Frantz isodynamic separator, after removing the ferromagnetic fractions, with a progressive increase of current (e.g. 0 4 A up to a maximum of 1.6 A), at a constant side-slope of +10º and forward slope of 10°, is sufficient to concentrate zircon effectively and to avoid the issues addressed by Sircombe and Stern (2002) for detrital provenance studies. On the other hand, enhanced magnetic separation may remove the more discordant grains (Krogh, 1982). Although IPB zircons are often coreless (Barrie et al., 2002), suggesting low post-crystalization U enrichment (Krogh, 1982). Indeed, 97% of the analysed zircons in the IPB have a 206Pb/238U-207Pb/206Pb discordance below < |20| %, and 82% below < |10|%. In addition, imprecision of the 207Pb measurement coupled with the reduced curvature of the Concordia for Phanerozoic ages (Spencer et al., 2016) limits discordance identification. However, the “negatively skewed tail” approach, as suggested by Spencer et al. (2016), is a powerful tool to identify Pb loss fractions (see also Lains Amaral et al., 2021); furthermore, several concordant Pb loss zircons have been found in the IPB (Barrie et al., 2002; Lains Amaral et al., 2021b; Pascual et al., 2021). Collectively, it may question the benefit of Krogh (1982)’ approach.

.. Cross-contamination

Another potential bias risk is cross-contamination which should not be underestimated. Cross-contamination is often seen as non-existent or a flaw in zircon separation

procedures. There are rare references to this problem (Košler et al., 2013; Sláma and Košler, 2012; Spencer et al., 2016). It has been widely assumed that the risk of cross-contamination is highest during crushing and, particularly, when the samples are sieved. During these processes, sample handling of larger quantities of material, dust resultant from crushing and improper/incomplete cleaning of heavy equipment or reusable sieves might be a source of contamination. However, the probability of the contamination grain to be an accessory grain, such as zircon, is relatively low (Fig. 4). Alternatively, high-voltage electrical pulse fragmentation devices can be used as a powerful tool to reduce overall sample cross-contamination at the crushing stage as samples are placed underwater within a closed container. Additionally, it might have the further advantage of reducing any damage to the external morphologies of zircon crystals (Takehara et al., 2018). As we increase the zircon

concentration in the sample by mineral separation techniques, if cross-contamination occurs, the probability of the contaminating material being a zircon grain increases significantly, even in low cross-contamination processes, such as the heavy liquids techniques. Additionally, the greater the number of steps during the zircon separation procedure, the greater the sampling handling and laboratory material used and, therefore, the greater the probability of cross-contamination to occur (Fig.4) (Sláma and Košler, 2012). Therefore, sample preparation and mineral separation workflow should tend, over time, and as the user’s experience increases, to the smallest number of steps possible. Furthermore, considering that the use of hazardous substances should be eliminated and replaced or reduced as a long-term health and safety measure, increasing the optimization of water-based methods should be a priority for geochronologists.

Fig. 4 – Schematic representation of cross-sample contamination. Arrows represent the tendency between the beginning and ending of the overall zircon separation process. Paths with open circles represent the probability of sample cross-contamination, and paths with closed circles represent the relative probability of the contamination material to be a zircon grain if cross-contamination occurs. Note the paradox: while sample contamination risk decreases very significantly after the crushing processes, the probability of the source of cross-contamination to be a zircon grain increases considerably along the mineral separation process. In addition, cross-contamination probability increases with the number of crushing and separation steps (i.e., sample handling).

Fig. 4 – Representação esquemática da contaminação entre amostras. As setas representam a tendência entre o início e o fim do processo de separação de zircão. Caminhos com círculos abertos representam a probabilidade de contaminação entre amostras, e caminhos com círculos fechados representam a probabilidade relativa de o material de contaminação ser um grão de zircão se ocorrer contaminação. Note-se o paradoxo: enquanto o risco de contaminação entre amostras diminui muito significativamente após os processos de fragmentação, a probabilidade de contaminação de um grão de zircão aumenta consideravelmente ao longo do processo de separação mineral. Além disso, a probabilidade de contaminação aumenta com o número de etapas durante os processos de fragmentação e separação mineral.

Fig. 5 – Hypothetical case scenario for IPB volcanic rocks to illustrate the degree of complexity in prolonged magmatic settings. Hypothetical parameters: 10 zircons per sample were analysed by U-Pb ID-TIMS in 3 volcanic samples collected in the same area providing only concordant grains. a) Sample A illustrates a younger cluster at ~350 Ma (50%) and an older, inherited cluster at ~360 Ma (30%); other inherited fractions (~20%). b) Sample B illustrates a cluster at 358 Ma (50%), disperse older fractions (40%) and a young crystal at 350 Ma (10%) c) Sample C illustrates a cluster at ~359 Ma (60%) and disperse inherited crystals (40%). Dashed 2δ ellipses: inherited grains; continuous 2δ ellipses: youngest fractions. Fig. 5 – Cenário hipotético para rochas vulcânicas da Faixa Piritosa Ibérica que pretende ilustrar o grau de complexidade de ambientes com magmatismo de longa duração. Parâmetros hipotéticos: 10 zircões por amostra foram analisados por U-Pb ID-TIMS em 3 amostras vulcânicas recolhidas na mesma área fornecendo apenas grãos concordantes. a) A amostra A ilustra um aglomerado mais jovem a ~350 Ma (50%) e um aglomerado mais velho, herdado a ~360 Ma (30%); outras frações herdadas (~20%). b) A amostra B ilustra um aglomerado aos 358 Ma (50%), frações dispersas mais antigas (40%) e um cristal jovem a 350 Ma (10%) c) A amostra C ilustra um aglomerado a ~359 Ma (60%) e cristais herdados dispersos (40%). Elipses a 2δ: tracejadas indicam grãos herdados, contínuas indicam os grãos mais jovens.

.. Contamination and interpretation bias

In igneous rocks, it is often assumed that zircons crystallized simultaneously, producing homogenous zircon populations. Thus, a standard practice for igneous rocks is to realise a relatively low number of measurements per sample, often 10 to 30. On the other hand, for provenance studies is assumed several zircon populations, thus, requiring a higher number of analyses (60-100, Košler et al., 2013; > 180, Vermeesch, 2004; > 300, Spencer et al., 2016). However, the southwest Iberian metallogenetic province can generate volcanic rocks with abundant inheritance (e.g. 40% of the zircons analysed in Lains Amaral et al. 2021 were interpreted as inherited). Thus, the common presence of several age populations raises the possibility of not selecting for analysis the youngest population. Therefore, the standard limitation of the number of analyses taken in volcanic rocks with abundant age populations may result in bias. This source of bias cannot be neglected in the IPB volcanic rocks. Additionally, zircon fertility at the time of the volcanic emplacement may also be taken into account, as lack of zircon precipitation (or low production of zircons, or production of only very small-sized zircons) immediately before volcanic emplacement may create the proper condition for selecting only inherited grains for U-Pb measurements (e.g. Oliveira et al., 2013). The hypothetical scenario in Fig. 5, which considered ID-TIMS analytical results of 3 samples in the same district, illustrates the abovementioned problem. Sample A (Fig.5a) reports significant inheritance in the district, while in Sample C (Fig.5c), only older ages were analysed. In this respect, sample C Concordia age might be interpreted as the emplacement age of the volcanic rock or as an inherited age. On the other hand, sample B provided only one younger zircon that might be interpreted as representing the emplacement fractions (Fig.5b), and its low representativity can be attributed to low zircon fertility or selection bias. Alternatively, a younger stand-alone zircon can also be interpreted as a concordant Pb loss analysis (see Pascual et al., 2021). However, another interpretation is that the youngest fraction resulted from the contamination from sample A.

Acknowledgements

The authors would like to thank ALMINA’s geological team support and discussions at the

mine site, in particularly Cristina Pereira, Diogo Carreira, Inés Braz, Ivo Tavares, Paulo Pinto, Arménio Cavaco, Bruno Bernardino, Axel Figueiredo and Filipe Reis. They also sincerely appreciate Drillcon staff for the discussions at the core shed, namely Filipe Nobre, Jorge Ribeiro and João Sousa. Finally, we would like to thank Raul Jorge, Ícaro Dias da Silva, Gil Machado, Diogo Carvalho and Joana Ferreira for the suggestions regarding zircon separation techniques. We acknowledge the support of FCT through PhD grant SFRH/BD/138791/2018 to João Lains Amaral and through project UIDB/50019/2020 to IDL.

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Zircon separation workflow: methods, techniques and bias / Processos para separação de zircão: métodos, técnicas e enviesamento

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NOTA TÉCNICA: Aumento de Produtividade e Segurança em Sistemas de Britagem Primários – Braço de Demolição

TECHNICAL NOTE: Safety and Productivity Increase in Primary Crushing Systems – Hydraulic Boom

Fravizel*

1Fravizel - Estrada 5 de outubro, Apartado 47. Pé da Pedreira. 2025-999 Alcanede, Portugal. *autor correspondente: geral@fravizel.com

O desenvolvimento tecnológico em termos de processos e produtos tem sido evidente nos últimos anos no sector da extração e processamento de rochas ornamentais e de rochas e minerais industriais. Estes desenvolvimentos tiram partido das cada vez mais eficazes soluções tecnológicas em termos de materiais e componentes (e.g.: Indústria 4.0) que conjugado com as necessidades das unidades industriais e baseados nos conhecimentos adquiridos, permitem tornar este setor cada vez mais seguro.

Nas unidades de britagem é comum existir bloqueios na boca de alimentação do britador causados por rochas fora de medida traduzindo-se em perdas de produção, e consequentemente, custos económicos elevados.

A britagem (Fig. 1) é um dos processos associados à transformação de rochas em produtos utilizáveis (agregados). Este processo não é mais do que reduzir o tamanho das rochas e pode ser repetido várias vezes em processos subsequentes até que se atinja a granulometria desejável.

Technological development in terms of processes and products has been evident in recent years in ornamental stone and industrial rocks and minerals extraction and processing sector. These developments take advantage of the increasingly effective technological solutions in terms of materials and components (e.g.: Industry 4.0) which combined with the needs of the industrial units and acquired knowledge make the mining sector increasingly safe.

In crushing units, it is common to have blockages in the crusher's feed mouth caused by out-of-measure rocks resulting in production losses and high economic costs. Crushing (Fig. 1) is one of the processes associated with transforming rocks into usable products (aggregates). This process is nothing more than reducing the size of the rocks and can be repeated several times in subsequent processes until the desired granulometry is achieved.

Fig. 1 – Aspeto geral de uma unidade de britagem com destaque para o braço de demolição, à direita.
Fig. 1 - Overall appearance of a crushing unit highlighting the demolition arm to the right.

Technical Note: Safety and Productivity Increase in Primary Crushing Systems – Hydraulic Boom

O braço de demolição (Fig. 2) é concebido para ser utilizado em britadores de vários tipos como Maxilas, Impacto, Cónicos, Giratórios, bem como outras aplicações que necessitem uma redução na dimensão dos inertes.

Fabricado a partir de materiais e componentes da mais alta qualidade é capaz de suportar as aplicações mais duras, a gama é construída para garantir a segurança e o aumento da produção aliada à tecnologia por comando remoto e aquisição automática de dados.

A instalação de um braço de demolição melhora consideravelmente a produtividade, mantendo a capacidade de produção, impedindo a obstrução do britador. O braço de demolição é usado para redimensionar material de grandes dimensões e também para reencaminhar material obstruído ou preso em direção ao britador.

O braço de demolição (Fig. 2) permite executar essa operação porque:

• É construído com os alcances necessários para cada aplicação;

• Elimina rapidamente as rochas fora de formato;

• Aumenta a produtividade;

• Facilita a operação de forma a chegar ao alimentador e ao britador;

• Facilita na manutenção;

• Apresenta uma elevada segurança de operação.

Assim, ao assegurar que o britador primário opera sempre na sua capacidade máxima, os benefícios económicos são significativos, uma vez que o consequente aumento de produção se torna evidente havendo um retorno do investimento na aquisição deste tipo de equipamento num curto espaço de tempo.

É importante ter em conta a Sustentabilidade Ambiental, Económica e Social. Enquanto entidade de investigação e desenvolvimento, na Fravizel, procuramos proteger o meio ambiente com a redução de emissões, privilegiamos a economia circular e as tecnologias protetoras do ambiente. Procuramos reduzir o tempo de cada operação pelo fazer acontecer rápido, pelo recurso a tecnologias remotas, e com o mote digital transformar dados em conhecimento. E por fim, procuramos desenvolver as pessoas através do seu bem-estar físico e mental, primando pela sua segurança desenvolvendo equipamentos seguros e ergonomicamente adequados aos operadores. Importa ser inclusivo e empoderar o próximo a seguir a sua vocação.

The installation of a hydraulic boom (Fig. 2) considerably improves productivity, maintaining production capacity, preventing the crusher from clogging. The demolition arm is used to resize large material and to route obstructed or stuck material towards the crusher.

The Hydraulic Boom (Figure 2) allows to perform this operation because:

• Is built with the necessary range for each application;

• Quickly eliminates out-of-shape rocks;

• Increases productivity;

• Eases operation to reach the feeder and the crusher;

• Eases maintenance;

• Has a high operating safety.

Thus, by ensuring that the primary crusher always operates at maximum capacity, it brings significant economic benefits, since the consequent increase in production is evident making the acquisition of this type of equipment economically viable in a short period of time. It is important to consider Social Economic Environmental Sustainability and Gratitude. As a research and development entity we seek to protect the environment with base reduction, circular economy and environment-friendly technologies. We seek to reduce the time of each operation, make it happen quickly, with remote technologies, with the digital motto, it transforms data into knowledge. And finally, we seek to develop as people through their physical and mental well-being safely. It is important to be inclusive and empower others to follow their vocation.

Fig. 2 – Braço de demolição e diagrama representado a faixa operacional.
Fig. 2 - Demolition boom and operational range diagram.

MINERAL

Plataforma Colaborativa de Comunicação dos Recursos Geológicos

Intervenção do Presidente da Associação Portuguesa de Geólogos, Prof. Dr. Luís Lopes

Exma. Secretária de Estado da Energia e Clima, Ana Fontoura Gouveia, estimados colegas e amigos representantes das entidades parceiras neste nosso memorando de entendimento, minhas Senhoras e meus Senhores…

Este é um dia memorável a vários títulos pois dizemos ao País, à Sociedade e ao Governo que estamos juntos numa missão em que o que nos une é muito maior e mais importante do que o que nos separa. E o que nos une é uma visão estratégica de um Futuro mais limpo, mais Ecológico, mais Sustentável, mais Justo.

Para o alcançarmos o quanto antes, e porque a emergência climática é um facto, é preciso que cada um no seu lugar saiba o seu papel e seja superlativamente profissional a desempenhar a sua missão. E isso, meus senhores, é o que podem esperar da MINERAL, cada entidade tem o seu espaço próprio não deixando de interagir, colaborar e cooperar com as restantes – efetivamente juntos somos mais fortes e seguramente iremos mais longe.

As preocupações são similares e apercebemo-nos que estávamos a falhar redondamente na Comunicação para “fora”… como é que num Mundo cada vez mais dependente dos Recursos Minerais, só se levantam vozes contra a sua extração? Ou mesmo contra a sua prospeção e pesquisa, que é essencialmente uma atividade de conhecimento!... É um contrassenso e uma grande hipocrisia do Mundo Ocidental… será só ignorância? A nossa mensagem seguramente não está a passar e esse foi o ponto de partida para a criação da MINERAL.

Importa realçar que havendo este fio condutor e na medida das possibilidades de cada entidade, chegámos até aqui dando conta e tornando público o que temos feito nesta verdadeira estratégia de desenvolvimento inteligente.

Na Associação Portuguesa de Geólogos, nos últimos anos, temos vindo a desenvolver uma política de comunicação essencialmente dirigida à sociedade civil e focada no reconhecimento do Geólogo e da sua profissão. Darmo-nos a conhecer

é o primeiro objetivo e é um processo em curso que finalmente começa a dar os seus frutos, para já esse é um dos contributos efetivos que trazemos para a MINERAL. No passado a nossa presença nas redes sociais era residual e não tinha qualquer comparação com a atualidade, todos os indicadores aumentaram exponencialmente assim como a disponibilização de conteúdos variados e de excelente qualidade, muitos dos quais, de acesso livre no nosso canal Youtube e noutras plataformas.

Outra iniciativa que quero destacar, da autoria da Inês Pereira e da Sofia Pereira, que entusiasticamente foi apadrinhada pela direção da APG, é o projecto APG365, que em 2024 entra na terceira edição, dirigido para esses super-heróis do dia-a-dia que escolheram uma profissão que lhes irá dar uma enorme satisfação pessoal, muitas das vezes, na razão inversa do seu saldo na conta bancária… enfim, não se pode ter tudo! Este projeto é mais do que um simples calendário e aqui fica o meu desafio para o descobrirem e comprarem, quanto mais não seja, desta forma, estarão a apoiar uma causa justa uma vez que os lucros desta venda revertem para apoiar a formação de jovens estudantes… nada mais fácil: www.apg365.pt, tem loja e tudo!

Para terminar e porque na APG este é um trabalho de equipa realizado a muitas mãos, não posso deixar de referir o apoio praticamente diário de todos os colegas dos órgãos sociais, com destaque para os colegas da direção e naturalmente para a nossa pequena equipa executiva constituída por mim, pela Mónica Sousa, pela Gina Correia, pela Sara Nunes e pelo André Nóbrega.

Pela consolidação da MINERAL, pela vossa presença e apoio neste ponto de partida, bem-hajam e muito obrigado!

Sede da Ordem dos Engenheiros, Lisboa, 23 de novembro de 2023

GEONOVAS

Síntese das instruções aos autores

A – Estatuto editorial da GEONOVAS

A GEONOVAS, publicada desde 1981, é a revista oficial da APG – Associação Portuguesa de Geólogos. É uma revista de acesso livre (open access) e com revisão por pares (peer review) que publica, duas vezes por ano (junho e dezembro), artigos originais em todos os domínios das Geociências e de todas as partes do Mundo.

Devido à sua ligação, através da APG, ao domínio académico e empresarial, a Comissão Editorial da GEONOVAS considera particularmente importantes trabalhos relacionados com as Geociências em território nacional, orientados para a Sociedade e para os vários níveis científicos e profissionais que compõem a nossa Comunidade Geocientífica.

Desta forma, é particularmente bem-vinda a submissão de artigos originais e notas técnicas no âmbito das geociências aplicadas e/ou ambientais e artigos de revisão, síntese e de divulgação em todas as áreas do conhecimento geológico.

B – Informação geral

Os autores devem seguir as normas que são apresentadas nos parágrafos seguintes, bem como o template da revista. A submissão de artigos à GEONOVAS implica a aceitação destas normas. Cada artigo será avaliado por um membro da Comissão Editorial e por dois revisores anónimos, podendo ser recusada a sua publicação. O nome dos revisores poderá ser incluído nos agradecimentos caso os autores desejem. Os artigos devem ser originais e incluir dados, interpretações ou sínteses não publicados previamente. Não poderão ser submetidos a outras revistas.

C – Preparação do artigo

O último número da GEONOVAS deve ser consultado para mais fácil preparação do artigo. Os manuscritos que não sigam as instruções que se seguem serão devolvidos aos autores para procederem às alterações necessárias.

1. Submissão

Todos os artigos deverão ser submetidos para o email institucional da GEONOVAS (geonovas@ apgeologos.pt). Os artigos deverão conter os seguintes ficheiros:

a) Manuscrito (documento Word) que deverá incluir as seguintes partes: i) Páginas iniciais com título

do trabalho, autor(es), afiliação(ões), contacto(s), título curto, resumo, abstract, palavras-chave e keywords; ii) Texto principal; iii) Agradecimentos; iv) Referências bibliográficas;

b) Legendas das Figuras e Tabelas (num documento Word à parte do Manuscrito);

c) Figuras enviadas em ficheiros JPEG ou TIFF à parte (não inseridas no manuscrito) com boa qualidade;

d) Tabelas (num documento Word à parte);

e) Lista com três possíveis revisores para o artigo (documento Word) com nomes, afiliações e endereços de e-mail. A GEONOVAS não garante que qualquer dos nomes propostos seja escolhido para rever o artigo.

Todos os ficheiros deverão ser submetidos com um nome razoável que indique o que esse ficheiro contém e numa ordem sequencial lógica, como por exemplo:

– Título do trabalho.doc – Legendas.doc

– Figura1.jpg

– Figura2.jpg

– Tabelas.doc

– Revisores.doc

2. Informação adicional

Os manuscritos deverão incluir numeração de páginas e linhas. Os manuscritos deverão ser preparados usando um tipo de letra comum e tamanho adequado (exemplo Times 12 ou Arial 12) e espaçamento duplo, coluna única e formato A4. Os artigos devem ser escritos em português, devendo apresentar sempre um resumo em português e inglês que não podem conter mais de 200 palavras cada.

Todos os manuscritos deverão conter palavraschave a seguir aos resumos. Tanto para o resumo em português como para o em inglês não poderão ter mais que 5 palavras-chave.

Para artigos em coautoria, o manuscrito deverá mencionar o autor correspondente. Se não for mencionado, o autor que submeteu o artigo será considerado o autor correspondente. A submissão de artigos em coautoria implica que o autor correspondente tenha o acordo dos restantes autores.

3. Preparação do Manuscrito

As primeiras páginas do manuscrito deverão conter o título do artigo (tamanho 20), os nomes dos autores (tamanho 14), a afiliação dos autores com endereços institucionais (tamanho 10), bem como a indicação a que autor deverá ser enviada a correspondência. De seguida, deverá conter o resumo em português e inglês seguido de até cinco palavras-chave (tamanho 10). Cada resumo deverá ser inteligível por si próprio, devendo ser uma compilação das informações e interpretações do artigo, e não uma simples referência aos assuntos abordados.

O texto principal (tamanho 12) deverá seguir-se e poderá ser dividido em secções. Os agradecimentos deverão seguir o texto principal e deverão ser reunidos numa secção denominada por Agradecimentos. No texto principal, as referências deverão ser citadas pelo(s) nome(s) do(s) autor(es), e pela data da edição (entre parêntesis) como nos exemplos seguintes: Dias & Cabral (1989), Cabral (1995), (Cunha, 1987; 1992; 1996), (Raposo, 1987; 1995a; 1995b; Cunha et al., 2008; Oosterbeck et al., 2010). Todas as referências citadas no texto deverão ser organizadas por ordem alfabética no fim do texto (a seguir aos Agradecimentos) numa secção denominada Referências Bibliográficas. Para elaboração desta secção, os autores deverão consultar o último número das GEONOVAS e seguir estes exemplos:

Teses:

Beetsma, J.J., 1995. The late Paleozoic and Hercynian crustal evolution of the Iberian Massif, Northern Portugal. Unpublished PhD thesis, Faculty of Earth Sciences, Vrije University, Amsterdão, 233.

Livros:

Dallmeyer, R.D., Martínez García, E., 1990. Pre-Mesozoic Geology of Iberia. Springer-Verlag. Berlim, 416.

Capítulos de livro:

Ribeiro, A., Quesada, C., Dallmeyer, R.D., 1990. Geology of the Iberian Pyrite Belt. In: Dallmeyer, R.D., Martínez García, E. (Eds) Pre-Mesozoic Geology of Iberia. Springer, Berlim, 339-409.

Artigos em revista:

Sant’Ovaia, H., Ferreira, N., Noronha, F., Leblanc, D., 2010. Magmatic structures and emplacement of the Hercynian granites from Central Portugal (Serra da Estrela and Castro Daire areas). Journal of Structural Geology, 32, 1, 1450-1465.

Resumos em congresso:

Mendes, A.C., Dias, G., 1997. Plutonismo hercínico na Zona Centro-Ibérica: petrogénese e geocronologia do maciço granítico de Peneda-Gerês. Livro de actas do I Congresso Ibérico de Geoquímica, 1, 520-527.

Cabeçalhos, rodapés e notas de fim de página não poderão ser usados em qualquer circunstância. Fórmulas matemáticas são geralmente introduzidas como parte de frases, requerendo pontuação.

4. Figuras

Todas as ilustrações (figuras, gráficos, mapas, fotos, etc...) são figuras e devem ser referidas como tal. No início da frase devem ser escritas por extenso (e.g.: Figura 1). Dentro da frase devem ser escritas de forma abreviada (e.g.: Fig. 1). As figuras deverão estar numeradas sequencialmente e devem ser enviadas em ficheiros separados com resolução adequada para publicação (no mínimo 300 dpi), não excedendo os 4 Mb cada. As diferentes partes de uma figura devem estar indicadas como a), b), c), etc., e devem ser referidas como tal nas legendas (e.g.: Fig. 5 – a)), mas como a, b, c, etc. no texto (e.g.: Fig. 5d).

5. Tabelas

As tabelas devem ser enviadas num documento Word à parte. As unidades devem ser referidas apenas na legenda e não ao longo da tabela. No texto devem ser referidas e numeradas como as figuras.

6. Legendas

As legendas das figuras e tabelas devem ser apresentadas com espaçamento duplo num documento Word à parte. As legendas devem ser providenciadas em português e inglês, descrevendo brevemente o conteúdo das figuras e/ou tabelas.

D – Separatas

Não serão fornecidas separatas aos autores, apenas ficheiros pdf dos seus trabalhos.

Associação Portuguesa de Geólogos

A Associação Portuguesa de Geólogos (APG) foi fundada em 1976. É uma associação socioprofissional de Utilidade Pública (Despacho nº 649/2015 de 22 de janeiro), sem fins lucrativos, que congrega profissionais da Geologia que se dedicam a domínios diversificados no âmbito das Ciências da Terra. É membro fundador da Federação Europeia de Geólogos.

A APG pretende ser reconhecida como uma entidade independente, fiável, que contribui para a proteção do ambiente, para a segurança pública e para a consciencialização de uma utilização responsável dos recursos naturais.

A APG tem como missão a promoção da excelência na aplicação e no ensino das Geociências, a promoção do avanço, elevação, independência e prestígio da profissão, a representação e proteção dos interesses profissionais dos seus associados e a contribuição para uma consciencialização pública da importância das Geociências para a Sociedade. A APG tem, ainda, como missão o desenvolvimento de atividades de cariz social, promovendo a educação, a ciência e a proteção do ambiente.

Quer receber informações sobre as atividades desenvolvidas pela APG? Envie-nos o seu endereço eletrónico para info@apgeologos.pt solicitando a inclusão na nossa lista de divulgação.

Consulte as condições de adesão à APG em www.apgeologos.pt

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Comissão Diretiva

Luis Lopes (Presidente)

John Morris Pereira (Secretário)

Júlio Santos (Tesoureiro)

Mafalda Oliveira (Membro Efetivo)

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Patrícia Santos (Membro Suplente)

João Carlos Nunes (Membro Suplente)

Luís Gonçalves (Membro Suplente)

Comissão Editorial

Telmo Bento dos Santos (FCUL)

Mónica Sousa (APG & ICT)

Delegados à Federação Europeia de Geólogos

Mónica Sousa (APG, ICT)

Luís Lopes (APG, ICT, UÉvora)

Execução gráfica Digicreate

Depósito Legal 183140/02

ISSN 0870-7375

Tiragem

250 exemplares

Periodicidade Semestral

Fotos de capa
Museu Nacional de História Natural e da Ciência, foto de Joana Reis

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