Kelly Teixeira, diretora-presidente na ArcelorMittal Sistemas e vice-presidente da ASUG Brasil, revela os impactos da desigualdade de gênero para as profissionais que atuam na área
Um estudo realizado em 2019 pela ThoughtWorks (consultoria global de software), em parceria com a PretaLab (organização social para a diversidade na tecnologia e inovação), revelou a ausência de mulheres em 21% das equipes de TI no mundo. Outro levantamento – da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) –mostra que, entre os cerca de 580 mil profissionais brasileiros de TI, apenas 20% sãomulheres.
Mas, o que torna essa área predominantemente masculina? Kelly Teixeira, diretora-presidente na ArcelorMittal Sistemas e vice-presidente da ASUG Brasil, avalia que esse fator está atrelado com a criação e educação das meninas “O primeiro desafio começa na família e na própria sociedade pois tendemos a reproduzir padrões que conhecemos, com que fomos criados, atribuindo habilidades em STEM (science, technology, engineering e mathematics) a características masculinas, o que pode levar meninas a serem desestimuladas e acreditar que não são naturalmente adequadas para essas áreas”,avalia.
Esses valores transmitidos na infância refletem não apenas nas crenças das mulheres, mas, também, nos padrões de comportamento dos homens Enfrentar situações envolvendo preconceito e discriminação no ambiente de trabalho é, segundo Kelly, recorrente no universo feminino da TI “Isso pode incluir ser ignorada em reuniões; subestimada ou não ser levada a sério por colegas masculinos; e ser assediada ou ter que lidar com
comentáriosinapropriados”,relata.
Ser mulher e alcançar uma posição de liderança no mercado de trabalho já é algo comum em todas as áreas Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, apenas 37,4% dos cargos gerenciais eram por elas. Em uma profissão majoritariamente masculina, esse cenário é mais desafiador. Segundo Kelly, há baixa representatividade de mulheres em posições de liderança e de destaque na indústria de tecnologia. “Essa realidade pode desencorajar mulheres que buscam ingressar nesse mercado Além disso, a falta de representatividade pode levar a uma cultura de trabalho tóxica e machista”,denuncia.
CAMINHOSPARAATRANSFORMAÇÃO
Diante de tantas desigualdades apontadasemrelaçãoàquestãodegênero, quais as alternativas para contrapor essa hegemonia e tornar a área mais plural? Embora o caminho seja longo, a vicepresidente da ASUG avalia que é fundamental trabalhar na conscientização da sociedade e nesses ambientes de trabalho, especificamente. “É preciso atuar nas escolas e nas empresas para mudarmos este padrão, promovermos a diversidade e equidade de gênero, incentivarmos a representação feminina na liderança e criarmos ambientes inclusivos e seguros para que meninas e mulheres sejam incentivadasaseguircarreirasemSTEM”.
Um exemplo de mulher que começou a carreira do zero, passando por diversos
níveis hierárquicos – iniciou como programadora, depois foi administradora de banco de dados, analista de Basis, desenvolvedora e gerente de projetos, arquiteta de TI, coordenadora, gerente de área e de suporte, até se tornar diretorapresidente na ArcelorMittal Sistemas e vice-presidente da ASUG Brasil – Kelly sentiu na pele o desafio de ser mulher e buscar o crescimento nessa área e, com a sua experiência, busca empoderar as colegas de profissão. “Não se intimide ou se limite a preconceitos Busque seu talento, estude e dedique-se ao máximo. A sororidade é importante porque, muitas vezes, as mulheres são ensinadas a competir entre si e a ver umas às outras como ameaças. A sororidade reconhece a diversidade de experiências e identidades entre as mulheres, mas ainda assim busca uni-las em uma luta por justiça eequidade”.
Kelly Teixeira Vice-presidente da ASUG Brasil
Mulheres enfrentam os desafios de um universo predominantemente masculino na TI