Casamento e divórcio da lagartixa - Leandro Gomes de Barros

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; A' venda na casa, do auotor Afogados• narnbuco o na Agencia Geral:

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Matheu8, 40~TeJ, 1241 ~ i

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LEANDRO GOl\lES DE BARROS •••••••••••••••••••••••

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Casamento e divorcio -DA-

LAGARTIXA Não 11a quem viva no mundo Que n110 deseje gosar, Desde o .velho á creancinha Quer a vida desfrnctnr, E I li do aspira o amor Pai que viver diz amar, Di-se a 1~':;'nrti:Xfl1111l rlin: só fleatei solteira, Se não achar nesta terra Um diabo que me queira, Procurarei desde as casas Até o largo da feira.

-Eu

Mamãe com quarenta annos Esta va ficando tilia, Mas 'tomou uma cachaça Da ms is forte que havia, Foi a feira achou papae Voltou rica nesse dia.

E' c q 1It' eu faço tambem ... Teu.o um dia uma cachaça, Vo t ra a ponta da rua


2

Casamento

da Lagarti.:"a

Alii nem mosquito p.issu, E só volto com um marido, Ou emprestado 011 rle graça.

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Mamae dizia uma coisa Eu achava aquillo exaclo: Quando faltar o cnchoro e p.ide caçar com ;;1:0 E não lendo um desses dois Então bota a mãe no matlo. Uma tia disse a elln: =-Minha filha não se vcixe I Respondeu a lagartixa: -O que vir na rede é peixe, Eu vou procurar marido Se achar muito trago um feixe. A lagartixa então sahiu Vendendo azeite á canada Encontrou com o calango, Uma alma dispersada, Que andava com a molesti a Procurando namorada. O calango suspira va Pela vida de casado, A lagartixa tamhom Tin ha se desenganado, Que não acharia nunca Quem fosse seu namorado.


_....._._..~as_':1l2.e..~.!~_~~._!:-~~~.::.tix.~ __ 3_ Quando o calango viu ella Ficou de serlenho armado, Disse comsigo: já sei Hoje volt.o afigurado. Tambcrn disse a tegnrtixa: -J a -ucon lrei na morado. Cumprimeularam-so ambos Com grnnde contentamento, O r:alango com requebros Ella com derretimento, C0111 cerimonia um do outro Não trataram casamento, Ella perguntou-lhe apenas Corno elle se chamava, EIle perguntou a ella Onde o pae della morava, Se a mãe não linha ('illll1E' Quando ella passeava. Respondeu a lagartixa -Papal' faz a cara r(·i", Tem dias que elle se zanga Jura de meter-me a peja. Mas eu saio na lua nova E volto na lua cheia. Era um namoro rombudo Ella chamava negrinho , Calango dotava a cauda

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Pedia a ella um beijinho A lagartixa chia-lhe: Espere ahi, meu anjinho,

o

velho ás vezes dizia: -Eu querosinccridads ; A mãe dclla então dizia -l\Ieu velho isto é bestidado, Rapaz brincar com uma moça São coisas da mocidade. Voce já está esquecido Do tempo do nosso amor? 1:(( era como UIWl abelha Você C0nlO uui beija-flor? Eu desfructava em seus braços O mais suave calor ...

.

A mãe afrouxava e1la Sendo uma moça solteira, Calango dava-lhe o braço Iam passear 11a feira, Si a fome os não apertasse Passavam semana inteira.

o pae de nada sabia Porque vivia 1;01' fóra, Calango metteu-se dentro Corno quem diz "0 agorn», O velho de longe assim Não ':ê se a filha nurnoru.


...~a.~a.~e.ntod.a.I:~~gar.ti)(a

Ora, o pae da lagartixa Era um pobre analphabdo Eotenrlia que calango Fosse um mulato eorreclo, Quando veio abrir os olhos Foi larde, já tinha neto.

o

velho lagarto foi Qneixàl- se á auctoridade, Foi se queixar que calango Fez-lhe aquella falsidade, Deshonrou a filha delle Sendo de menor idade. Nesse tempo o cururú, Era subdelegado, O' velho foi lá chorando Porque estava· injuriado, O Clll'1ll'Ú disse: volte Que você será vingado.

O calango conhecendo Do geito que a coisa ia, E!!abenrlo que a justiça _ Com certeza prendia, Disse: uma retirada E' signal de valentia.

°

Ora, sahiu o calangro Pelo mundo foragido, A lagartixa tam hem

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_~ " ~.~:.~~.~.~.~? ..?..::'..~~r.:~~.~!.~~ . Se poz ao fresco escondido, Tanto que quando voltou Ja foi com outro marido. Pensou consigo o ralango: -Não devia sei' ingrato, E 111\0 voltando dalli Seria como de fado, E mesmo era cobarde . Se não sahisse do matto,

A lagartixa

o amava Com tanta sinceridade, Pois desde a primeira vista Que lhe tomou arnisade, E assim era caiango Baixar a dignidade. Quando o calango voltou Achou um roulo tremendo A lagartixa lhe disse: Fiz uma que me arrependo Já dei com os burros nagua lia.li deixe está que me emendo.

A lagartixa por isso Tomou ices surras de peia, Calango tambem passou Oito .dias na cadeia, Para puder o cusluuie De namorar filha alheia.


, .....•.... s:~.~.~J:J1.~Il.t.() d.~..~~~artixs.

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7.._

Casou-se sempre o calango Embora fosse obrigado,' Boutou um grande negocio Tratou de ser homem honrado, A lagartixa em trez dias Vendeu dalli tudo fiado.

o Calango

comprou tUGO Fiado ao camaleão. Entregou á lagartixa Foi tratar de uma eleição. Quando voltou não achou Nem onde tinha armação.

Ate o próprio balcão EUa o tinha empenhado, Deu nara embrulhar sabão O livro do apurado, Os u tencilios da venda Tudo já tinha voado. O calango com aquillo Entristiceu de repente, Exclamou:-mulher damnada Voce me deixou doente Me diga agora' que conta Presto eu ao meu parente. A lagartixa lhe disse: Não preciza se vexar, Seu primo camaleae


_.~_ ..._._ ..... ~~.~~.~~?~? ..... d!:..!.:,.~E~~.t.~::'c.il:.... Por isso não vae lhe dar, Dê-lhe uma satisfação Diga que vae arranjar.

o

calango respondeu -Eu n1l.o passo por velhaco Respondeu-lhe a lagartixa -Voce ainda dá cavaco? Os calotes do cormnercio Hoje se chamam buraco. Então o calango disse: -Veja se bola o almoço; Respondeulhe a lagartixa -Tenha pacicncia, moço, A falta de dois vinténs Eu hontern comi «nsoço.

E se você voltou liso Damna-se agora o negocio, Póde arruamar logo a trouxa E vamos abrir divorcio, Caixeiro sem capital Só nos loucros será sacio.

Marido

sem

nem

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X

N~o quero, esse não acode, Não tem que fazer zangado Nem que puxar o bigóde, Mulher hoje em dia é luxo. E luxo só tem quem póde


Casamento

Mamãe

-Se

da Lagartixa

9 ...

dizia ao papae:

estiver aborrecido.

Me avise logo com tempo P6de ficar prevenido. Da forma que eu mudo a saia Mudo lambe m o marido, E note bem que já faz Mas de mez que estou casaria, E não aguento mais Esta vida assim privada, Trabalhar para comer? Vôle, seu Zé, vae hí nada ....

o Calango -Mulher,

disse a cllu:

não fale em divorcio!

Respondeu-lhe a lagartixa: --Você parece um hCC1Cio, Escolha, de duas, uma Ou dcixal-o ou dar-lhe socio. Agora estou

conhecendo

. A vida é uma pilheria, Antes

viuva contente

Do que conservar-se Quem Nunca

seria, adoptar dlleLl systema se vê na miseria,

Com quatro coisas

110

mundo

Eu tenho me encabulado Com candiciro vasando,


10

.. Casamento

da Lagartixa.

Com fogão desrnantellado, Com almofada sem birro E homem desempregado. Disse o calango: é bonito Você se divorciar, Abandonar seu marido E o povo a sensurar, Seu nome ficar na rua Gato e cachoro a falar. Disse então a lagartixa: Deixe quimarcm meu nome, Eu não quero que se diga Essa damnada não come, De que dizer-se é honrada Ma" eslé morrendo à fumê,

e

o

calango alli ficava Que nem podia fallar, Quando ouvia ella dizer Eu vou me divorciar, Puchava tanto as barbas Que só faltava arrancar. Dizia ella: rapaz Não se veixe , isto asneira, Existem duas fartura: E de mulher e poeira, Debaixo de qualquer ponte Você acha tantas queira.

e


.....s:.d~~.':?-:~.l~.t? ...?..~...~~.!?~.rtixa

II

Mulher feia e homem ruim fslo todo dia augmentu, A fartura já é tanta ()uc o mundo não se aguenta. Eu foi ver se achava um I':ncontrei mais de quarenta. Disse o calango: meu p ae Tão bem casado viveu! 1\ lagartixa lhe disse: -Ji:ntão era como o meu, :'l<w1ãp tinha dez maridos Xove foi papae quem deu. <:> namoro suja o nome Eu conheço que é exacto, .\'Ias eu não tenho dinheiro Namoro cachorro e gato, Do ar só deixo urubú E da terra carrapato. Por favor ouça mais essa Se não fôr verdade diga: -Capri~ho familiar Resulta sempre a intriga Honestidade não veste, Honra não enchê barriga. () CaJango disse a ella: _Minha mãe viveu honrada Se acabou núa e com fome

r


I:.?

Casamento

da.!::.~.~~~~~.~~. _

Porem 1IL1IlI.'Hfoi manchada ..Respolldell a lagartixa: Tambem 1l1?lTCU desgraçada.

Minlra avó

Illor1'C11 velhinha Porem no logar que ia Quinze, vinh- numerados Todas as \'(,Zt~S trazia, Fóra muitosque ficavam

Que meu avô não sahin.

E aquella minha prima, Você sabe ella q uern é Casou co 11' tij Ilf.lSSÚ Tem filhos de Jacaré, Mas nem por isso o marido Ainda perdeu -lhe a fé. Disso o calango: \'o~ê Só pensa 110 que é ruim, Respondeu-lhe a lagartixa: -Meu avô diziu assim, O mel por ser bom demais As belhas dão-lhe fim. Disse o calango, já sei! Você não quer mais ser minha A lagartixa lhe disse: Quando nasci foi sosinha, Pegar trcz e soltar 11 m Disso já estou canç_.dinha.


............<::~s.a'llent() da I.::.a.!?:~~ti~~

O calango

perguntou-lhe:

Tens algum no pensuiueulo

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Respondeu-lhe a lagartixa -Ante;;: do meu casamento Eu já andava aos a-braços

--

Com seu primo papavento.

Calango ficou ~1Ií De tudo desesperado Exclamou em alta \'07.: -Papa\'ento desgraçado,

Não respeitou

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111

quem

(:11

u.ulher casado.

Entrou logo numa loja Comprou um grande cutello Ferro que não euvergnsse Nem se quebrasse a murtello, Mandou chamar papavcnto Para bater-se em duello, Limpou as almas bem limpas E amolou e Incão, Escovou bacainarle Apertou o einturão, Muniu bem fi calurr-heira S seguiu na dirccçao,

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Levou como Ü

bezouro

leslemunha

manganaã

E avisou o papaver'o

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C.~~a.:':1:1.~.'l:to da La~.aEli.xa

Que se pi eparasse lá! Disse o papavento: diga-lhe Que pode vir, eu estou cá. Chegou então o calango E faltou ao papa vento. Um de nós descerá hoje Ao chão do esquecimento Eu já dei terminações Até do meu testamento. Então disse o papavento: -A vida é quasi uma pêta O risco que corre a broca Corre tambem a marreta Eu não sou como saguim Para morrer com careta. Então disse a lagartixa: Quero ver quem cae primeiro O que ganhar já sabe, Foi ellf' o melhor guerreiro, Eu corro os bolsos do morto Para ver se tem dinheiro, Calango atirou primeiro. Papavento se livrou, Naqtielle mesmo momento Nelle tambem atirou: Celango era muito destro Do tiro se desviou.


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Trocaram mais quatro tiros Porem nenhum aUingiu, O papavento puchou PEla espada e partiu, Logo no primeiro encontro A lagartixa sorriu. Disse: bravos papavento (:ostei (te ver teu systema: Bater logo a ferro frio Indu que chore ou que gema Naquelle momento viram n gato (> a seriema.

o

papavento correu por um cipó, A lagartixa, coilada Essa ficou que fez elo, A serierna comeu-a Par não dp.ixal-a só.

E subiu

o papavculo

suhiu

Que parecia um corisco Subiu num cipó c disse; Eu aqui não corro risco, O gato foi ao calango E fez rlelle um petisco. A seriema A lagartixa Saboreou-a

pegou no me io no bico


Ficou com o pa[Ju cheio Isso resu lla á pessôu" Que sorri do mal allheio, Papaveulo olhou de (:i1lI01 Disse: .couro velho espicha, Eu ia me desgraçando No namoro dessa bicha. O diago é quem quer mais Namoro de lagarlixn.

o

Calango

Eu quasi Lagartixa

s;' acabou

que len h« fi 111, tão caipora

Nunca linha vis!o ;I-sim. Mil diabos a carregue Para bem longe de ruim. D'agora em diante sri Quanto custa naruoruda, Logo a primeira que tive Foi assimes toporadu. A segunda, com certeza, Inda será mais damunda,


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FOLHETO'l

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Allernauha ne daudo "nr're rim mar d" ~~HK11e A Chegada do Dr. Laur-r ","adré no Parei E('~oq da Patrra O 1 o-pedeamento do yP. o r lano\!1 Histor!n de pcch() Cem O Casamento e Divorcio da Lag r, r ti xa Debate do Cégo Aderaldc com ~) }a"a-moUe A victor ia de um gallo Pe-Ieja do Cézo Aderaldo 1"()""lJ r« Pretinho r-"o Tucum A Vid a do Seringueiro Peleja de :Ilanoel do Rlachão com o Diabo O GdVE:l-nO e a Lagarta contra o Fumo Peleja de Bernardo ~t)gtleírn com o Preto limão A Menina quP falou

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O Sanfrag'jo ~do Ube+aba {!':rrH·c:to t'é ta) A Sorte dos Nallfrag~'!:!t A Morte do Poe-ta A Festa dos Bichos ou Aventuras d'um porco ernbr-lag ade Peleja de Jo<,\oPeroba com o menino Perieó O Naufrag io do Uberaba f Frrrnino Am~r.11 Desaficdo Cego l,.df'raldo com Zé-Fr'ancnl ino O Fw-ravo do Diabo ou o Afi1hado ~e Santo Antoutc

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