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Leandro Gomes de Barros
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Pedro Baptista &. C-, Estado da l'arahy\'a do Norte
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SEGUNDO DEBATE -,-«DEn--
Jnsué com
Seira~or
...... .Icsuó e S'erl'ador 1'01 HIl1 cantar' uma vez, Serrador adoeceu Nesta noite nada fez, Viuhcram cantar de novo Depois de um anoo e um mez. ,JOSUE'- Senhor
Manoel Serrador,
• E' propria a occasíão, Faz hoje um anno e um mez Uüe empatamos questão,
Deus queira :\'8.0 adoeça
que você hoje o pulmão.
::;ERRADOR-Eu tenho pulmão de ferro Que nem o fogo o destróe, ;\ bala báte e' na o fura, Pois é pulmão de um heróe, Cascavel tem me mordido ]\las a dentada não doe.
-2.1.- Inda cahindo doente Eu tenho remédio cá, Muçambé, língua de vacca, Uuina-q ulna e manacá, Coiruna e cipó de cruz, 1larmeleiro e tayuyá.
s.-o colleg a desta forma Ou está zombando ou se engana, Eu nunca soffri de syphilis Para tomar matacana, 'l'ambern não soffro dos nervos 1"1'a precisar de coírana, J. -Serrador eu vim aqui Ver se Você tem talento, Me disseram que você Tem grande conhecimento, E.u só creio no que vejo E depois que experimento. S.-Collega não será tanto Quanto o povo tem contado, Eu sei que o senhor é filho }) um cantador il lustrado , Se não quer perder a fama Cante com muito cuidado. J,-Para cantar em 6 linhas Eu tenho bastante pratica, Como Bocage em soneto, Como Carnões em gramrnaticu, Venço qualquer cant ador , A certeza é mathem aüca.
-3R,-O Lopas de Paraguay Era valente e subtil, Pegou-lhe a crescer as vistas No terreno do Brasil, Mas D. Pedra o fez passar Entre a pedra e o fuzil. J.- Serrador eu preparoi Uma grande fortaleza, Com seis leões numa jaula De uma estupenda grandeza, O mais brabo que lá Iór, Morre com toda a certeza. S.-Si
eu Iõr lá, levo d'riq ui, grandes e forçosos, Boto a fortaleza abaixo, Mato os leúes furiosos, Mo aposso logo dos pontos Que forem mais perigosos. Canhões
J.-Tamb~m se senhor Iór lá, Não serà bem succedido, Porq uo o forte é seguro E muito bem guarnecido, Não foram ~Ó dez guerre-il'os. Que lá foram e têm morrido. S.-Josué
o Humaytá.'
Er a um forte preparado,
Tanto que Lopes dizia Que tinha um reino encantado. Mas por deus vasos de guerra, N'um instante foi tomado.
-4J -Eu tenho toda a certeza, Qu~ venço e não sou vencido, l>esde pequeno que canto E saio bC>IT1 succedrdo, Quem peleja contra mim, E' louco ou está illudido. S.-Collega, agora eu lhe digo: Pabulagern é corno porme, Ou a illusão d'um sonho, Que só se vê emquanto dorme; Pensa-se as cousas de um geíto E a differanç::.. é enorme • .J.-Eu tenho encontrado duro (.)I.e pretende me vencer, Eu o passo o 'um engenho, ~(i tiru quando feder, Tanto que a carniça delle, Bicho nenhum quer comer. ~.-:\las commigo esse processo, Nem pense, que é asneira, Quem olhar para meu vulto Vê que eu não sou ta mboeir a, Isso é negocio pr.a bebado Ou cabra pé de poeira. J .-Eu
tenho agarrado cabra, Que ronca que 80 bezouro, Rosna que só uma onça, Arremete que só um touro. Ouses~eilaaoqueeuquMo. Ou entao morredeestouro.
-5.-E o brabo que eu pejro, Em vez de augmeutar, mingua, :-)ente logo dór n s pernas, Frio, febl'A e dá-lhe ingua, Vasa os olhos, eac-Ihe 05 dentes, Secca os botes e cae a lingua. perto do senhor, não tenha um visinho , Para o sitio que morar, Nào nel:essita caminhe, Só quem tem praga de mae Ou maldição de padrinho.
J - Tambem Talvez
S.-Com
relação
Nàu traga.
~ pomada,
porque eu tenho,
Para onde você vae, E' lagar d'onde eu venho, Antes matar com a febre Du que moer n'um engenho. J .-Serrador, esta questão, .I~í.tornou-se um acto sério, Você deixêlr-nlevencido Eu acho isto um m~ sterio, Só sendo feitiçaria Feita 1<\ no cemiterio.
S,-Josué, esta sophisrna, Do minha idéa não SM. A marcha do mundo l' eSSS3, Tudo volta e tudo vae, O hom nadador se afoga, í bom cavalleíro cae.
-6J.-Eu nado de braço solto Em qualq •..er ponta de mar, J\1e montu até rr'uma aguia, -:-\àoimporta ella vour , Tem de cançar 110 espaço em podei me derrubar. S.-Olhe que Augusto Severo; Tinha em balão preparado E por q uat ro o u cinco vezes O tinha experimentado, Porém, veja no jornal, . Como foi seu resultado. J,-lsso são horas minguadas, Decretos do Creador, Porque nós já lemos visto. Homem destro atirador, Atirar, a arma lascar, E morrer o caçador . .-Josué senti agora, Mínlia musa se afinar, Chegarem-me novas idéas, Agora posso avançar Vamos ver logo quem ganha, E' como quem vae jugar. J. - Eu conheço todo jogo, Desde á bísca ao 31, Cerco com todos os pontos, E não perco em jogo algum, Jogo um anno sem dormir, Resisto um seculo em jejum.
-7,'-Corri relacão a baralho, ~'lda me pôde dizer, E'l Iaço cousas nas cartas, (lue ú "aro o homem crer, Joga.d.,r com trinta e um Está an-ía.ado a perder. J.-Sp.rrador, agora vamos A' obra de (undameuto, Vamos trata!' sobre o globo, .\. terra e seu nascimento, Porque lórma a terra gira Com t<.ll desenvolvimento.
S.-Diz
a, scieucía astronomlca :
A terra
está assentada, Com dois eixos gigantescos . 'obre elles cull ada, Gira em vinte e quatro horas, Eis a rotação chamada .
.T.-O sol este rei dos astros, Com essa luz natural . Abrange todo o universo E percorre o mundo egual? .\"s cinco partes do mundo Elle illumina em geral'] isto é de creança De pequena theoria, S,-Collega,
Só o sábio da donzella Theodora quando havia, Que um perguntou a ella, De noite (} que o sol fazia.
-8J.-~ào entenda Serrador, Que eu venha tomar lição, Lhe acho muito atrazadc, para ser decuriao, Qual seria o professor, Q'le 1I1e deu tal ínstrucção
?
S.-Qual! a minha instrucçao E' a mesma do senhor, O idéal foi meu livro, Ü mundo meu In-tructor, O poeta nasce feito, ~~o precisa professor.
J .-Serrador,
agora vamos no estrangeiro, agora que o senhor, Me traga logo o -roteiro, Qual é 0 principal port». Que havemos de tocar primeiro Viajar Quero
S.-Isso é da geographia, '\Iuito longe d'ella estou, Quer viajar pelo mar? Vá sosinho, eu lá não vou, Eu só conheço o sertão, Onde meu pae me creou , J.-Chameio-o para a viagem, Porém o senhor não q uiz , Tem medo de se afugar, Segundo o que agora diz, Va mos ao menos nos dos, Que tem o jiosac, paiz.
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-9S.-Collega, eu não sou discipulo, Nem você é professor, Eu quero é martello brabo, Seja de que fórma Iôr, Nào tenho TJcgocios nos rios, Pois, nunca fui pescador. J.-Vamos Nos entes Descrever As classes Tratar da Descrever
ao menos tratar, irracionaes, ce rréctamente, dos animaes, vegetaçã«, os mineraes.
S.-Dos anitnaes só conheço, Cabr-a, cavallo e carneiro, Porco, vacca burro e outros, Péba e tatu ver dadeiro, ~as minas conheço ferro, D\e planta gerhnunzeiro . .1. -Ilo"Ís meu collega eu lhe digo: Quem canta deve estudar, (;rammatica e geographía, Para quando precisar, . 'ão conhecendo as palavras Como que as pode explicar! ó
/.•manheceu
logo o dia E ambos se levantaram, ,'errador tornou o trem E por isso não findaram. Para outra nova lucta , Outro dia ccntractaram, FIM DO 2' DEBA Recife-1ml.
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TERCEIRO E ULTIMO DEBATES --uDEn--
Josué com
Serra~or
.lOSCÉ.-Eu me chamo Josué, Fi lho do g' ande Romano, O cantador mais temido, Que houve no genero humano, Tinha a sciencia da abelha E a força do oceano. SERRADOR.-Eu me chamo Por alcunhax errado r, A minha serra não torce Seja em que madeira íór, Dos dentes della vomita Grande raio abrasador. J.-Serrador vou avisal-o, Pois não gosto de trahiçao, Você. vá pedir a um padi e, Que o ouça de confissão, tllhe que é muito dilficil E~capar da minha mão.
S. - O imperador
da Russia, l-Tado em ser muito mau, Qlliz conquistar o Japão, Para o seu rei Nícolau, Foi lá, perdeu o exercito E o Japão meueu-Ihe- o pau.
Manoel.
·-11J.- errador, eu nunca achei, Cantado:- que me affronrasse, Nem cêrco que eu não rompesse, Bravo que eu não amansasse, Nem louro que me investisse, Nem onça que eu não matasseB.-Josué, fique sabendo, Que tudo vive em cegueh a, Um phosphoro acaba um palácio, Neblina acaba uma feira, Lá um dia a casa cae, Uma vez é a pi imeíra. J.- Eu já suspendi um rãiu, .lá fiz o vento parar, Fiz as estre llas correrem E o sol quente esfriar, Já segurei 'uma onça, Para um moleque mamar.
..
S -.Josué, isso é demais, Faz chamar tudo attençao, De que se-ia este raio Que respeitou sua mão? De que Iórma são as onças Que existem em seu ser tão '7 á
J.-Serrador fique sciente, Que se eu ainda enconti ar Um cantador brastleu o Que eu não o faça calar, Eu peço mesmo ao diabo, Para me vir carregar.
-12.. -.Tosu':, custoso é ver-se Deus montes sem uma baixa, Ttr, r embir a do sol, Fazer de ferro a borracha, Bode morar dentro dagua, A lua pai ar a marcha. J.-. TÚS vemos muitos rn~ steríos, O'le ninguem póde explícar, Como bem o peixe nagua, Viver e não se afogar, Sustentarem-se Pelos paramos
os passarlnhos do ar.
s.-o collega sabe disso E Llla dessa maneira, 1<:porque acha imposslvet Eu botal-o na carreira ? Quando outros vultos maiores, Já têm baixado a bandeira r J .-Meu pae você conheceu, Homem que não leve estudo Mas intellig-ente e pratico Que conhecia de tudo, Cantou em todo o Brasil Porém morreu orelhudo. S.-Coilega você não sabe Porém eu lhe explicarei Pare a viola um pouquinho Esper-e que eu lhe direi, Na terra
que tudo é cego) um só olho é rei.
QUdm tem
-13J.-8errndor eu sou um tigre l\leu pae Ioi uma panthera, Todo cantadcr que existe Me conhece como féra, Porque os antigos dizem Onde foi casa é tapéra. S.-Eu derrubo qualquer predio Em menos de meia hora, Atiro numa panthera Juro que não vae embora, Arrasto um tigre da fuma Mato-o do lado de fora. J .. Sansào. nao é, que conheço, David não porque é moço, P'ra ser gigante é pequeno E devia rular grosso. Se entende me fazer medo E' debalde seu esiorço. . 8.-0 collega inda se lembra Do que disse nesse instante Que seu pae-era panthera, TOCe um tigre arrogante? Pois onde nascem r-ssas tér as Póde nascer um gigante. J.-Sr.
MRn;H,1 Serrador entrei em questüo Uuenão contasse a victorla ~em cançar ou ter ps i câo, Prepai e bem suas armas Vamos ver quem tem razão. Eu n un ca
-14-
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S. -Co-I1ega eu dou-lhe um conselho se confie em coragem Napoleào foi valente Md8 qual Iri sua vantagem? Foi combater Waterloo Foi preso em meio da viagem. 1 iào
J.-Eu quando entro em questão Quem nunca viu me conhece, Onde eu armar a barraca Nem rogo de raio desce Dnsde o gigante ao microbio Tudo teme e me obedece. S.-Josué eu estou doente Nao posso mais resistir, Solfro de constipação
Sou obrigado a tossir, Se eu ficar bom e nos vermos Ab] sim vou divertir. J.-Eu nunca f'uí em Iunccão Que não contasse o fim dêl\a. Quem vier cantar commlgo, Tr-aga rede e uma vela, Prepare bom ctnturao Aperte bem a fi vella, Eu cantei em Pernambuco, Alagoas e Bahia , Sergipe e Espírlto-Santo
Lá eu fiz tanta arrelia, Cantei 4 ou cinco. mezes Dei em tudo quanto havia.
-15Dei em Manoel dos Passos, Dei num tal de Juliüo, Cor-reu um tal Cajarana, Fugiu um Napoleao, Cesar+o Monte dos Santos Nào resistiu meu rõjão , Fui a S. Paulo e a Minas, Voltei ao Ri0 de Janeiro. ·\lI'Ct:r. de um brabo que havia Chamado Ignacio Quinteiro, Este, fui na casa delle Insultel-o do terreiro. Voltei para a Parahyba, nio Grande e Ceará, Fui cantar no Maranháo Ih-i em dez brabos de lá, l<'ui corre r com os contadores Vue moravam no Pará. Então voltou Serrador 0ue tinha já melhorado E disse- sr-, Josué, Parece estar enganado, Eu assim mesmo doente Inda apresento m e u brado. S.-Eu sou peíor do que onça Porém não pego a traição, (,o-to de avisar o brabo Depois vou pegal-o á mão, Para matal-o no claro E mostrarque tenho acçao.
--16J.-Eu'quero dar-lhe um conselho, Tome·o você meu amigo, Eu cansiderava·o sal vo E "a de todo o perigo, i':l'j Vocé soffl'e por teimoso Escute bem o que eu digo. íó
S.-Collega.
não é perigo se ba: ei-ern Para que ficou o t:ampo? Ficou para escolherem Aquelles que entram em lucia Nüo temendo de morrerem . II ois guerreir'os
.I.-Vo~ê
é duro, eu sou duro.
Vo cõ é forte, eu sou forte, VOC(\ é teimoso, éu teimo
Quer morrer, vamos morte desgl'ct,;a vem a um Escape quem tiver sorte. á
A
S.-A losse tornou a vir Sei gue não posso cant ar, Então Josué lhe disse: Cuide logo em se tratar, Cantaremos noutro dia Eu também vou descançar.
E a-nhos se reti~al'am, . 'em um nem outro velllceu; - - <'I o sei se roi pela tosse, Ser ador ad,leceu ... .I"sué não importou-s:e -'em tãu pouco esmoreceu ... Recife -1m!. FL\l
rio 8IJfl'lJt E 'DA EM GUARAIHRA
tlrraria Pedr. Baptista" Víngounça de Mal'Ína