Editor Prop. José Bernardo da Silva
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11
Edítor-e- Proprietario José Bernar do da Silva
A
VIDA
Cancão -~
QE.
de -Fôgo
E SEU TESTAMENTO
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CONCLUSÀO Eis o final formidavel da hístoría de Cancão o ente mais trapace.iro que houve nesta nação pra ele tudo era facil . sem precisar ser ladrão Ficou no nutro volume o Alfredo e o Cancão pedindo esmolas ao povo para São Sebastião ruas o santo nem siquer viu a sombra dum tostão •. Ao cabo de quatro mêses cismado foi aonde Alfredo disse que tinha sido criado . lhe disseram que ali tempo algum tinha morado [à o vígarío
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o padre ficou sem fala ao saber daquele horror torceu-se como serpente no mais tremendo furor subiu-lhe o sangue a cabeça quase que dá-lhe o estupor Enquanto isto Cancão junto com seu secretario sorriam bem satísieítos diZendo: que padre otario desta vez nos ensinamos \ o Padre-Nes so a vígarlo
Um dia Cancão de Fogo consultou o côm panheíro dizendo: somos felizes temos bastante dínhetro já temos mais de 3 contos V8.ffiOS ao Rio, de Janeiro? Pode ser que aquele padre venha nos incomodar .e nós estando distante é Iactl de se escapar Ia 'comeremos do bom pois temos para gastar Alfredo achou muito boa a ideia de Cancão e disse vamos amigos sou ave de arribação aonde não nos servir mudamos de posição
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E seguiram para o Rio Cancão calculou depois de oito ou dez dias a precatoría chegou nem noticia de Cancão a autoridade achou como
Todos dois estavam em Crato Cancão disse: companbeiro saímos de madrugada não se passa em Juazeiro e vamos diretamente para o Rio de Janeiro Passaram por Pernambuco entraram pela Bahía . dez, doze, quatorze leguas tiravam eles 'por dia vendo a bora e o instante que uma onça os comia Entraram por matas virgens no eípoal íntríncade um dormia sobre as folbas outro dormia trepado comiam frutos na mata sempre andavam com cuídado Já no Estado do Rio um dia deram uma errada dormiram numa fazenda saíram de madrugada deixaram o caminho certo saíram por uma estrada
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Cancão disse para AUredo: -ouça aguda e vista alerta para não sermos pegados juntinhos de boca aberta aonde nós estivermos todo perigo é na certa E andaram todo dia' não viram uma só morada tinham saído do rancho a uma da madrugada agua achavam que bebiam porem o que comer nada A noite faziam fogo um velava outro dormia a onça rosnava perto Cancão de Fogo dizia: ---se està com frio tein foS~ se está só tem companhia As seis horas da manhã. se levantaram e seguiram eram três horas da tarde quando uma casa eles viram cheiro -d e uma feijoada chegando perto sentiram ,
Cancão lambeu logo os beiços AUredo riu sem querer e disse para Cancão: ---agora vamo>; comer uma empleitada dessa nós não podemos perder,
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Era um lugar esquesíto ' 'Somente uma casa havia uma crioula acolá com quatro filhos vivia -dalí até doze leguas .não tinha uma moradia A creoula cosinhava -era fora do oitão -eles viram a panela que cosinhava feijão '3 crioula pisava milho estava cosinhando um pão -Cancão de Fogo chegou ·cumprimentou-a contente .3 negra cravou-lhe os olhos que parecia serpente - o Cancão disse consigo: ---eu pensa va diferente! O Cancão de Fogo disse: ·---não podemos mais andar vossa excelencia me arranje e Que se possa jantar temos dinheiro e pagamos -o que a senhora cobrar 'A negra olhou P. disse: ---por ali seu vagabundo gente branca para mim e 8. pior deste mundo 'você pode se danar -e morrer de olho fundo
-6Caneão olaou para Altredo o outro compreendeu aquele olhar de Cancão AUredo logo entendeu de novo olharam pra negra. ela então se enfureceu A negra chamou um filho disse: João venha (Já Vàa baixa do capim . e mude a cabra de lá e volte com muita pressa preciso de você já
I
Disse a Cancão e aos outros: =-vocês vão logo saindo tem aqui um filho meu que mata gente sorrindo eles saíram voltando por onde já tinham vindo O Cancão de Fogo disse: ---nós havemos de voltar para não darmos motivo a Qegra desconfiar se ela vir por onde vamos é Iacíl de nos achar Allredo então perguntou-lhe; e como se faz agora? as tripas estão roncando a fome já me devora o que nós vamos fazer para a negra dá o fora?
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Disse Cancão a Altredo: -para poder conseguir roubar aquela panela e precíss você ir se esconder detraz da casa até a negra sair P'ra negra sair de là meu plano já está formado 'jaça como estou dizendo pro golpe não ser errado vou dizer-lhe mais ou menos o que tenho planejado Eu pego aquele moleque e vou com ele a madeira a negra ha de vir a mim e você não taça asneira 'pegue a panela com tudo e saia em grande carreira AIIt€'s da negra chegar a minha carreira é feia procure a estrada a frente me es pere a legua e meia e procure logo o mato aonde se bote a ceia
Alfredo entusiasmou-se com o plano de Cancão e disse: aperte estes OSS08 és um homem de ação neT'''lO até nue 90 diabo ~u já passasses lição
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-8De onde esta-vam esceudidoe: viram o moleque passar Alíredo correu depressa para poder tocaiar a panela que a negra tinha de abandonar Cancão pegou o moleque deitou-lhe o cipó no lombo a negra partiu danada com o ba caraarte no ombroCanc 10 soltou o mole que disse: com chumbo não zombor-
A negra ainda atirou-lhe mas o tiro não pegou a negra uivava de ira e de que forma ficou depois que chegou em casa. e a panela não acho u
A negra'~oUava
praga rasgava e se mordia puxava irada os cabelos babava sangue e cuspia suas pragas reboavam só o éco respondia 6e
--~Ah! cacborro da rnQlestia!: infeliz quem te gerou!-"'" ladrão, infeliz, infame satanaz te batizou soís o monstro mais nojento. que nosso mundo criou
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chegou adiante por dentro do mato -dizendo com seus botões: -quem morre de fome é pato Quem trabalha Deus ajuda ·0 pão é muito barato
-Cancão
voltou
Eu não vou morrer de fome .achando onde comer nem ficar de guela sê ca .tendo agua pra beber não vou andar compassado sendo preciso correr de Fogo saiu correndo sem dizer nada ia por d entro do mato beirando sempre a estrada onde encontrou o Alrredo jà' estava a ceia bota-ia Can cão
'--
Era feijão mulatínho com ossada de carneiro Cancílo quando acabou disse: jà vi hotel barateiro enche-se bem a barriga e não se gasta dinheiro Os programas de Caneão tinha o que se apreciar porque Cancão dizia: nada faz me admirar aquele que sorrir hoje amanhã pode chorar
'~10Bem só pode està o BoI porque níuguem "0 alcança haja no mundo o· que houver' o sel lá nem se balança enquanto a fortuna dorme a desgraça não descansa ~\
II
Pai e mãe é muito bom barriga cheia é melhor a molestia e muito ruim porem a morte é píór o poder de Deus e grande' porem o mato é maior Disse Cancão ao Allre Io: assim se deve furtar não é crime nem pecado eu falei para comprar a negra não quiz vender-me deu-me direito a roubar Se ela fosse de acordo com o que eu desejava não ficava sem comida eu .aínda lhe pagava não açoitava o moleque e tudo na paz ficava Disse Alíredo: e eu calculoo odio que Iicou nela vê o moleque ápgnhado vê seu fogo sem panela confesso que desmaiava ~Ó em vê a care dela
---11--Depois de terem alcançado procuraram descansar na manhã do outro dia trataram de camlnbar 'mesmo já faltava pouco .não q ueriam demorar
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Afinal chegaram ao Rio quando estavam hospedados estavam na mesa almoçando chegaram cinco soldados oficiais da justiça e doia aubdelegadoa Altredo olhou pra Cancão Cancão tambem o olhou como quem diz caro amiga a nossa hora soou . é 'bom logo deaped'ir-nos porque a'''cana'' chegou Ambos ficaram surpresos mas sem dá demonstração
continuaram comendo loram prestando atênção se conviria fugir ou entregar-se a prisão
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---Quem é Cancão de Fogo? um dos homens perguntou ---sou eu, respondeu Cancão as suas ordens estou ---está preso, disse um o Cancão não se alterou
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o oficial da justiça leu claramente o mandado> então o Oancão de Fogo disse ao subdelegado -dê-me licença almoçar que ficarei obrigado Toda gente do hotel prestaráID grande atenção' tudo parou o talher olhando para Cancão até as autoridades fizeram admiração Quando acabou de almoçar' pediu ~ conta e pagou tirou um conto de reis ao companheiro entregou disse ao subdelegado -agora querendo eu vou AUredo disse a Cancão: -é pena ter que detxà-Io lamento de minha parte em não poder ajudá-lo essa é uma das viagens que não posso acompanhá-IoEntão lhe disse Cancão você faça o que aprouver e veja se pode ir no lugar onde eu estiver e demais até um dia, quando o governo quízêr
'
-13Foi Cancão a ohefatura para ser interrogado disse o ~hef0 de policia: ---o senhor e viciado como foi no ICeal'à o roubo do delegado? O Cancão de Fogo disse: ---eu là não roubei ninguem fui a 'um mandado dele ele não dê-me um vintem eu fiquei com a bengala que não sou pai de ninguem Qualq uer um fazia o mesmo pra qualquer um casacudo não era empregado dele nunca o vi tão carancuuo ia trabalhar de graça? BOU algum pai de pançudo? ---E quedê os cem mil réís lá do subdelegado? -vossa excelencia crer nisso? isso e plano mal traçado quem é que dá cem mil réis a quem está denunciado? ---E a roupa do alferes , que VOSSI! mercê càrregou? ---foi para me defender foi isso que me salvou el» pra que me prendeu ~ud.lldo ninguem '0 mandou?
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Disse o chefe de policia -o levem para marinha o Cancão de Fogo disse: -v-essa vontade eu jà tinha a desgraça ia em viagem quando a fortuna já vinha Tomara que me aceitem , -disse ele ao delegado ha tempos que esperava este momento chegado espero que não descubra que eu sofro de puxado . -Eatão lhe disse o policia: sinto muito meu rapaz essa historia de puxado é um plano bem sagaz mas desculpe que lhe diga seus truques não pegam mala Mas um medico
da marinha estava nessa ocasião o recusou por doente da laringe e do pulmão achou ser uma injustiça • não se proteger, Cancão As quatro horas da tar.Ie Cancão de Fogo voltou dizendo: bendito seja o que me denunciou ha males que traz o bem como esse' agora chegou
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.•.•
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o
TESTAMENTO
CANCAO
DE
DE
fOGO
Nesta historta o leitor viu quem era Canclo de Fogo era aquele que dizia: a vida é como um jogo pra morrer não falta tempo pra dar não precisa rogo ROUbar a quem tem demais' forma de caridade tirar dez de quem tem vinte está na regularidade quem não precisa de tudo basta ficar-lhe a .metade
e
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Da forma só poderá
que vai o mundo triunfar aqu~les que ,tem astucía e nao se deixa enganar no mar da vida se afoga \ ~ quem nunca soube nadar Foi o que Cancão de Fogo disse na 110ra da morte a fortuna tem G peso que tem a tirana sorte a uesgraça quando vem não re speita q nem é' forte
---16Quando ele viu que morria chamou a mulher pra junto e disse: minha mulher não precisa chorar muito não hà tempo mais perdido 'do que chorar por defunto
I
Disse um filho: vou chamar com pressa em tacultatívo ali tem um medico bom inteligente e ativo disse Cancão: é asneira dar remedio a quem está vivo Inda que ganhe desta vez que perder porq ue e ordem celeste não podemos inverter é este o lema da terra nascer, criar-se, morrer
.doutra tenho
Agora de pois de morto vocês o mande chamar pergunte quanto ele quer para me ressucitar e diga logo: só pago se meu pai se levantar ---Isto não, disse-lhe o filho morrendo ai se liquida . disse-lhe Cancão: meu fUho isso e coisa conhecida o que 'expulsa a morte não faz com que volte a vida
-17A pessoa que tomar 'remedio pra não morrer e como quem salga carne depois de apodrecer é rezar para S. Bento d-epois da cobra mOIder Chegou 1 frade e lhe disse: ---venho ajudá-Io a morrer disse o Cancão de Fogo: ~-tenho que ageade cer deite-se aí para .um canto cuide logo em s e torcer ~Torcer como? disse o frade disse Cancão: meu amigo o senhor não vem morrer para ir junto comigo? o frade respondeu: vôtes um burro é quem vai êÕntigo Disse o Cancão de Fogo: .se eu não ti vesse prostrado você tinha que sair . cortez e civilizado -e entraria em casa de pois que fosse chamado Porque eu para liq uídar-me não preciso de vigia embora depois de morto levo minha companhia porque um defunto é cego so anda se tiver guia
-18--Meu irmão, lhe disse o frade' eu vim aqui exortá-Io o inferno està aberto o diabo a esperà'Io as chamas do purgatorío estão prontas para queímã-lo---Entrei em tua casa foi para te confessar , pois levas grandes pecadog para o leito tumular vim salvar-te do diabo pra ele não te levar Disse-lhe o Cancão de Fogo---frade quero que me dê explicação do inferno . lhe peço como mercê no Inferno inda haverá \ um diabo como você? Eu não mandei o chamar nos não temos amizade eu nunca quiz relações com cigano nem com Ira de· apenas tenho a dizer-lhe: =-dane-se por caridade! O' padre saiu dali se benzendo amedrontado dizendo: aquilo é o cão em um ente transformado me valha o r osar!o bento e o madeira sagrado!
---1?--Cancão
chamou
a mulher
a quem tinha estimação disse: não ehor e mulher 'Por minha consumação reze para' encontrar marido'
como
outro
Cancão
Quero que chame o [uiz e o escrivâo ríe alguns bens que me restam Agora
vou fazer a doação vou fazer publicamente
minha recomendação Entrou em casa o juiz junto com o escrivão foram logo para. o quarto aonde estava .Cancã o
o juiz disse: aqui estou a sua dts posição Disse o juiz: o senhor tem uns bens p rra deixar ? ---sim senhor, disse Cancão eu não os posso levar se alguém quizer ir comigo tem
um bom frete
a ganhar
Disse o es: ri vão: não brio .11l-e repare que a morte é crua ---pode
até
ser cosf ahada
pode v.r vestida ou nua. eu brinco
cá com
você lã respeíte
a minha
s
SU:L
•.
---20--- .
o juiz lhe perguntou: você não tem dois sobrados: quer deíxá-los a algúem? disse Cancão: estãovexados? ou vocês são dois gatunos ou são meus filhos abastados? Disse o juiz: ora essa entenda-se essa charada gente em casa me esperando 6 senhor dando massada eu fazendo falta lá devido sua embrulhada! Disse Cancão: meu amigo você assim não vai bem vexames fazem fadigas das quais não escapa ninguem padre, juiz, escrivão não fazem falta a nínguem Portanto não tenho pressa para não lhe dar atenção mas de pois de tudo feito e de nossa transação o senhor dirá comsigo: ---como é bondoso o Caneão Puxou um papel lacrado de dentro -do tra vesseiro entregou-o ao juiz e disse: leia-o primeiro veja eu quem cons ítuo como meu testamenteiro
-21Sessenta contos de reis que tenho depositados no banco nacional três casas e dois sobrados! estão fora do testamento serão inventariados
o ~uiz bem satisfeito mostrando contentamento sua voz ficou macia quase dar-lhe um passamentede vê seu nome gravado nas Iolhas do testamento "Ao Dr. João de Cerqueíra escrivão dos testamentos deixo em Belo Horizonte na praça dos Sacramentos a casa numero cem com todos compartimentos "Ao Dr. João Alves de Lírai. eu deixei em Canta-Galo a casa numero seis na Rua de S. Gonçalo e o sitio dos Ausentes na capital de S. Paulo Disse o juiz: eh! senhor e muita dignidade o. senhor dar tanta coisa por sua livre vontade a mim e ao escri vão isso ê ser muita bondade-
---22--·---Não doutor, disse Cancão .meus filhos ficam ai podem precisar um dia 08 senhores são daqui -dísse o doutor: pre ctsando já sabem eu moro ali /
-Salram numa palestra o juiz e o escrivão dizendo um para o outro: ·---foi sub.Ime aquela ação só nós dois DOS livrariamos de um calote de OancãeMorreu o Cancão de Fogo
.a mulher parttcípou
poucos minutos de pois G juiz se apresentou dai a uns dez minutos o tabelião chegou Blsse o juiz a mulher: ---seu marldo já morreu com relação ao enterro dei-xe que quem faz sou eu eu não quera que dependa um tostão do que é seu Fíqae com esta Importancía porque tal vez necessite mandou íazer catacumba foi quem tez OOd3 convite disse mulher de Cancão: co:n a seuaora estou q uite á
-23Depois de quarenta dias que Cancão tinha morrfdo procedeu-se o inventario foi tudo bem dividido filhos e mulher de Cancão cada qual foL bem s ervídoO juiz depois pensou que havia precisão de exigir a escritura da familia de Cancão chegou lã não encontrou quem desse difinição Mas depois disse consigo:. ---eu tenho provas legais provo com o testamento não precisa nada maís tratou de tomar o trem partiu pra Minas-Gerais Saltou em Belo Hor-izontefoi o hotel almoçou indagou onde era uma pessoa ensíneu a rua até era perto num instante ele chegou Ouande o doutor viu o predíosorriu-se aí de contente examinou-o po-r fora achou-o muito excelente tinha cem palmos de fundoe setenta e dois de frente 1
-24'Então batendo na porta 1 homem chegou ----q ue deseja ca vaJheiro 't o homem lhe perguntou ---sou o dono deste predío] o homem aí o fitou -com pouco
---fe qual predio meu senhor? ---dltste ai que você mora ---isso é conto de vígario é cedo inda não e hora .aí bateu o postigo nem falou mais foi embora
o Dr. João Cerqueira ·díss e: momentos danados ficou pocesso de tudo porem minutos passados foi ao cartório e mandou dar busca nos reglstrados Foi ao cartor!o e bateu saiu o ta pelíão o doutor disse: me consta que e colega e escrivão e eu venho em seu cartorio decidir uma questão ·E puxou
ali do bolso os papeis do testamento e disse: colega veja ·se acha este apontamento veja se não é legal ' todo esse documento
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Encontraram a escritura da casa já referida vendida pelo doutor Felix Teixeira Guarida comprada por uma ortã da viu va M_argarida .:--Colega como foi isso? pergunta o tabelião -- -Ioí um con.o de vígarío passado por um ladrão disse o tabelião: esse é igualmente a Cancão foi este tal Cancão que mora no Rio de Janeiro· disse o tabelião ---e~8e é um grande estradeíroquando ele era pequeno roubou este mundo inteiro -v-Pols
Aqui mesmo uma vez uma, noite de São João um ladrão veio roubar ele ele roubou o ladrão e 'gatuno por isso acabou-se na prisão õ
o ladrão tíaha dois contos quê d'alguem tinha roubado e julgando que Cancão fosse um vendelbão de 'gado' foi ver se passava um quengo mas foi quem saiu quengado.
-26~Disse o. gatuno a Oancão: -v-patrão eu tenho. dinheiro. desejava fazer serias tranzacões com o cavalheiro .dis-se Cancão: é preciso -que eu examine-o primeiro. O ladrão tlcou imovel 'ficou bastante assombrado 9 Cancão ue Fogo. disse: .~-ladrão! eu soa delegado li(fesde três horas da tarde que tenho sido avisado
o ladrão ficou imovel sem saber o que fizesse pensou se aquele dinheiro. ·se acuse Cancão quizesse seria melhor Que ele uma escapula lhe désse -v-Meu moço, disse o ladrão por vida dos vossos pais 'por vida de vossa mãe deixe-me aqui em paz me solte flue lh e prometo nunca hei de roubar mais Ai tirou o dinheiro
senhor delegado. pegue dois contos de reis .ae ette do. seu criado -Cancão tomou 0 dinheiro 'e disse: vá com cuidado. e disse:
-.Jl.7--
Botou-lhe um cerco por fora. adiante denuacíou-o fi. patrulha foi atraz minutas depois pegou-e o gatuno conheceu (lll~.outro gatuno ,rpubou-? O gatuno confessou
quando a policia 6 pr-endeuCancão ele desapareceu o gatuno na cadeia deu-lhe bexiga morreu
índa caçaram
Um preto aq ui fazendeiro no tempo -da escraví.íãe botou-o corno empregado e ele uma ocasião foi a 1comprador de escra e lá vendeu o patrão
'108,
Meteu o cobre no bolso e ninguem P' u le o achar o preto viu-se apertado pra se desembaraçar .-o.....q.y,.e Cancão tinha feito deu trabalho 8. desmancharPassou quengadas enormes com tanta facilidade então nas emprezas dele tinha tal Ielícidade e nunca poude cair em poder. da autoridade
--28--,:E,u .não sei corno o colega'
-mora no Rio de Janeiro 'não sabia Que Cancão era o maior estradeíro , ---estradeiro,não. ladrão um falsario verdadeiro , Tambem o Dr. Cerqueira ficou íncolerisado passou -ern Belo- Horizonte uma noite incomodado pelo conto do vigario .que Cancão tinha passado' Dizia: sou escrivão ' nunca roubei um vintem trinta; quarenta mil réis não é roubo de ninguem o roubo que eu considero \. é o que passa de cem E eu fazer o enterro do diabo do ladrão gastar seiscentos mil reis "Bem a mínima precisão dá sepultura ao gatuno como se fosse um barão
Raios te puta danado Ià por onde tu andares! o pr~uiz(LQlue tive ne inferno hás de pagares! tenho fé na providencia .que là tens de amargares!
---29Quase trezentos mil réis nesta viagem gastei quando o diabo morreu quantas passadas eu dei gastei meu tempo e dinheiro veja agora o que lucrei! Tambem voltou apitando -com a carranca mars feia chegou em casa deitou-se e não q uiz saber de ceia e là soube que o juiz já tinha ido a cadeia Porque foi em Canta-Galo ver a casa que hêrdou na rua de São Gonçalo .a dita casa encontrou o morador era o dono j~ quem ele o intimou -Co-no o dono não saiu
botou-o apulso pra fora o homem roi a policia prendeu-o na mesma hora. o botaram no asilo -quase que não vai embora ·0 escrivão logo cedo foi na casa de Cancão e disse para a mulher: seu marido era. um ladrão depois de morrer roubou-me .eu sendo dele escrivão
-30A senhora viu a casa que ela pra mim deixou-a. seud i a casa duma ortã une o diabo não comnrou-a?" diFlse a mulher de Cancão ---doutor ele n!12.., !e"y~u--a... __ /
O meu marido deixou' o predio que o senhor diz deíxõu 21 estados Que tem em nosso pais Iícou para quem. quízesse ele nada disso quiz O doutor corou e disse: a senhera. se Deus botá-In no céu pode esperar pela hora , de uma q uengada dele que bota até Deus pra tora. também garanto
Porque eu nunca encontrei, ladrão fino como aquele desgraçado do defunto que sepultar-se com ele eu Beho Canc~o capaz de roubar os ossos dele E a senhora
também
desculpe a minha ousadía. vossa mercê herdou dele, costume e catezoria pois a mulher 'do filosof.o aprende a filosofia
A mulher disse: doutor meu marido não roubava -mas com alzum escrivão que ele se comunicava -sendo um pouco inteligente muitas coisas àecorava Ele chamou os senhores -quando estava aqui prostrado porque queria imitar o Cristo crucificado queria morrer tambem com um ladrão de cada lado
o
dr. sabe que as pessoas estando perto de morrer as veZ9S sente remorso -e teme de se perder -dízcm que no outro mundo a pessoa há de sofrer
O dr. não v'u o frade vir também por sua vez? .-e não viu o meu marldo que. barulho logo- fez? disse: eu chamei 2 ladrões ·não ê pre c.so de três Aí disse o escrivão: -v-dê licença vou embora sou obrigado a- dizer
que tenho medo da ser h ira eu acbo vossa excelencia "capaz de vender-me agora
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---Até logo senhor doutor disse a mulher de Cancão aqui fico as suas ordens 8e acaso bou ve r precisão tem uma criada aqui a sua disposição..- '- - -cachorra doida!... disse o escrivão correndo o diabo e quem vem mais cá ainda estando morrendo o quengo do teu marido parece que em ti estou vendo> -v-Dana-te
Ftm=.luazeh-o,
1~9
Preço 15 Cruzeiros
A
Duqueza
de Sodomal I
I
I