Apresentação
S
e o coração tem razão que a própria razão desconhece, como afirmava Pascal no século XVIII, Bruno Latour, ao paráfraseá-lo em texto sobre as redes, vai entender que as bibliotecas, laboratórios e museus tem razões que a própria razão desconhece. E quando ele diz razão, está longe de uma concepção platônica das ideias. Muito mais encarnadas, a ideia ou razão das bibliotecas são processos sociais, culturais e especialmente materiais, cuja materialidade precisa ser valo rizada pela razão. A verdade não está nem no mundo, nem na razão, mas na circulação, no movimento, nos fluxos. É claro que a linguagem em sua forma escrita ou falada ajuda os movimentos e faz o mundo passar, constituindo-se ela mesma em movimento, ou deslocamento, dispositivo que é de comunicação e de expressão. Mas Bruno Latour se diz cansado da linguagem: Ao falar de livros e de signos, não esqueçamos sua conéctica. Após quarenta anos de trabalho com signos, convém lembrar que os textos agem sobre o mundo, e circulam em redes práticas e instituições que nos ligam a situações (Latour apud Parente, 2004, p. 44-45).
É esse centramento no texto o que talvez esteja irritando Bruno Latour. E ele inicia a conferência sobre as bibliotecas ou as redes que a razão desconhece afirmando que nem tudo é texto. Cuidado!