ISSN 1809-6158
VOLUME 10 | NÚMERO 02 | JUL./DEZ. 2015
VOLUME 10 | NÚMERO 02 | JUL./DEZ. 2015 Coordenação Editorial Pedro Faria dos Santos Filho – UNICAMP Vânia Gomes Zuim – UFSCar Wilon Mazalla Jr – Editora Átomo Conselho Editorial Adriana Vitorino Rossi – UNICAMP Gláucia Maria da Silva – USP|RP José de Alencar Simoni – UNICAMP Marcelo Carneiro Leão – UFRPE Mário Sérgio Galhiane – UNESP Osvaldo Antonio Serra – FFCLRP-USP Ótom Anselmo de Oliveira – UFRN Robson Fernandes de Farias – UFRN Sérgio Melo – UFC
Revista Brasileira de Ensino de Química (ReBEQ) é uma publicação semestral da Editora Átomo e colaboradores. Dentro do espírito maior da editora, que é a difusão do conhecimento por meio da democratização das valiosas pesquisas e avanços científico-educacionais, quase sempre em latência nas boas universidades, e pelo intercâmbio de ideias e experiências daqueles que participam do processo ensino/aprendizagem, a ReBEQ inaugura novo espaço, abrindo suas páginas para pesquisadores, docentes (ensino médio e superior), alunos de graduação e pós-graduação, com a visão de que o conhecimento deve ser construído e compartilhado coletivamente. O conhe cimento contemporâneo deve ser apresentado de forma inter/ transdisciplinar trazendo preocupações como a ética, o meio ambiente e a humanização dos processos e serviços. Centrada nas questões ensino/aprendizagem, visa contribuir para a atuali zação e otimização do Ensino de Química.
Yassuko Iamamoto – USP Conselho Ad hoc Marlon Herbert F. B. Soares – UFG Nidia Franca Roque – UFBA Viviani Alves de Lima – UFU Revista Brasileira de Ensino de Química rebeq@atomoealinea.com.br www.atomoealinea.com.br/rebeq Revisão Bruna Oliveira Gonçalves
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas e Informação PUC-Campinas Revista Brasileira de Ensino de Química Campinas, SP: Editora Átomo, 2006 v. 1, n. 1, jun./jun. 2006 Semestral Publicação científica-educacional 1. Química – Periódicos. 2. Ciências exatas – Periódicos.
Capa e Editoração Eletrônica
CDD 540
Fabio Diego da Silva Índice para Catálogo Sistemático
Indexada
1. Química
A division of the American Chemical Society
540
Pede-se permuta. - Pide-se cange. We ask for exchange. - On demande l’echange. Si sollecita intercambio. Wir bitten un aurstausch un publikationen.
Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br
Sumário
7
Editorial
Artigos
de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: 10 Desenvolvimento Química Orgânica Aplicada Guilherme V. de Castro, Edgard A. Ferreira e Mirela I. de Sairre
21
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores Daguia de Medeiros Silva e Karla Marques Silva
29
Lidiana Oliveira Silva e Juliana do Nascimento Gomides
42
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
Fabiele Cristiane Dias Broietti, Ourides Santin Filho e Marinez Meneghello Passos
Relatos de Experiência
56
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada Laice Rodrigues Basso e Sandra Cristina Marquez
63
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química Ricardo Luiz Zanotto, Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira, Antônio Carlos Frasson e Elenise Sauer
74
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis Denise Leal de Castro e Thiago Rodrigues de Sá Alves
Instrumentos e criatividade
83
Uma Simulação do Efeito Estufa em Microescala Auxiliando no Ensino de Química Lílian Amaral de Carvalho e Weverson Alves Ferreira
Química Verde
89
Aplicação de Conceitos da Química Verde em uma Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão: relato de experiência a partir da UFSCar (campus Lagoa do Sino) Nathalia Virginia Veloso Aguiar, Alcione Letícia Sant’Ana e Andreia Pereira Matos
História da Química
95
Clausius: pequena história da entropia José Maria F. Bassalo e Robson Fernandes de Farias
101
Resenha
103
Normas para Publicação
Contents
7
Editorial
Articles
10
Project Development in Organic Synthesis for Graduation Students: Applied Organic Chemistry Guilherme V. de Castro, Edgard A. Ferreira and Mirela I. de Sairre
21
Visual Impairment: a challenge in teacher’s graduation Daguia de Medeiros Silva and Karla Marques Silva
29
Lidiana Oliveira Silva and Juliana do Nascimento Gomides
42
An Analysis of the Thematic: Evaluation in Chemistry in Journals Articles of the Area of Teaching in Brazil
Dispose of Drugs as a Proposal Teaching Sequence for Chemistry Classes
Fabiele Cristiane Dias Broietti, Ourides Santin Filho and Marinez Meneghello Passos
Experiences Account
56
Laice Rodrigues Basso and Sandra Cristina Marquez
63
Exploring the Belief of Using Toothpaste as Burning Moisture: discussions in the teaching of Chemistry
Diagnosis on the Conceptions of Chemistry Teachers on Continuing Education
Ricardo Luiz Zanotto, Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira, Antônio Carlos Frasson and Elenise Sauer
74
Heavy Metals: how this concept is designed by chemistry students at the IFRJ – Campus Nilópolis Denise Leal de Castro and Thiago Rodrigues de Sá Alves
Tools and Creativity
83
The Greenhouse Effect Simulation in Micro-scale Assisting in Chemistry Teaching Lílian Amaral de Carvalho and Weverson Alves Ferreira
Green Chemistry
89
Concepts Application of Green Chemistry in a Curricular Activity Teaching Integration and Research: experience report from the UFSCar (campus Lago do Sino) SP/Brazil Nathalia Virginia Veloso Aguiar, Alcione Letícia Sant’Ana and Andreia Pereira Matos
Chemistry History
95
Clausius: a short history of entropy José Maria F. Bassalo and Robson Fernandes de Farias
101
Review
103
Editorial Standards
Editorial Foram muitos desafios e problemas que tiveram de ser superados, ao longo deste tempo, até atingirmos a situação atual. Mudamos o nosso espaço físico, reformulamos nosso corpo de assessores, melhoramos a parte logística e, nesse processo de transformações, em certas ocasiões, atrasamos a avaliação dos trabalhos. Acreditamos que tal trajetória, incluindo seus percalços, seja inerente ao início da veiculação de qualquer periódico. Todavia, particularmente no nosso caso, cujo enfoque é o Ensino de Química, tivemos de nos adaptar à interface entre a Química dura e aquela de caráter mais pedagógico, e estabelecer um conselho ad hoc que transitasse nessa interface, tarefa das mais difíceis. Ao longo destes 10 anos, a ReBEQ foi adquirindo uma identidade própria, abrindo espaço para os mais diferentes perfis de pesquisadores, inclusive para os alunos de graduação e pós-graduação. Observamos, neste período, que o número de trabalhos publicados na seção artigos foi praticamente igual àquele dos trabalhos publicados na seção relatos de experiência. Isso mostra que nossos professores/pesquisadores nunca deixaram de lado a preocupação de inovar suas atividades didáticas e divulgar suas propostas e experiências, demonstrando que a criatividade parece estar enraizada na formação pedagógica contemporânea. O elevado número de relatos de experiência permite-nos supor que, mesmo diante de todo o avanço tecnológico, ainda existe uma grande preocupação com o aluno e a sala de aula, e que deveria haver uma demanda reprimida de pesquisadores que buscavam um meio de divulgação que pudesse veicular os relatos de suas experiências. Por isso, pode-se dizer que a ReBEQ representa hoje o melhor e mais amplo retrato do Ensino de Química praticado no país. Por outro lado, a seção instrumentos e criatividade carece ainda de um maior número de pesquisadores que abracem essa causa e se comprometam a improvisar e criar condições alternativas para se medirem grandezas e ilustrar conceitos por meio de montagens e/ou materiais de baixo custo. Apesar de termos recebido trabalhos
muito interessantes, sua quantidade ainda é muito pequena em relação aos relatos de experiência. Com divulgação em todo o território nacional e publicando trabalhos de pesquisadores de todas as regiões do país, a ReBEQ vem atingindo seu objetivo de avaliar e divulgar as pesquisas em Ensino de Química no Brasil e, cada vez mais, consolida-se como um dos mais importantes veículos de divulgação dessa área. Agradecemos a colaboração de todos os pesquisadores que submeteram trabalhos à ReBEQ, bem como dos assessores ad hoc que dedicaram parte de seu tempo para avaliá-los. Esperamos poder continuar contando com a colaboração de todos para, assim, manter a ReBEQ na posição de destaque que ocupa no cenário nacional do Ensino de Química. Finalmente, sobre os 10 anos de ReBEQ, é preciso registrar, neste editorial, o agradecimento – dos editores, dos conselheiros, dos autores, dos leitores – à editora Átomo, por ter, nestes anos todos, proporcionado, de maneira competente, a realidade deste importante periódico.
Coordenação Editorial
Artigos Articles
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada Project Development in Organic Synthesis for Graduation Students: Applied Organic Chemistry Guilherme V. de Castro, Edgard A. Ferreira e Mirela I. de Sairre
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores Visual Impairment: a challenge in teacher’s graduation Daguia de Medeiros Silva e Karla Marques Silva
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química Dispose of Drugs as a Proposal Teaching Sequence for Chemistry Classes Lidiana Oliveira Silva e Juliana do Nascimento Gomides
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil An Analysis of the Thematic: Evaluation in Chemistry in Journals Articles of the Area of Teaching in Brazil Fabiele Cristiane Dias Broietti, Ourides Santin Filho e Marinez Meneghello Passos
Artigo 01 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 10-20
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada Project Development in Organic Synthesis for Graduation Students: Applied Organic Chemistry Guilherme V. de Castro1 Edgard A. Ferreira1 Mirela I. de Sairre1 2
Resumo Este trabalho descreve o método de ensino experimental empregado na disciplina Química Orgânica Aplicada da Universidade Federal do ABC (UFABC). A proposta do curso caracteriza-se pelo desenvolvimento de projetos em síntese orgânica para a preparação de moléculas que apresentam atividade biológica. Os alunos realizaram a síntese de três moléculas-alvo: a fenacetina, uma cumarina e a flavona. Ao final do curso, os resultados obtidos foram apresentados na forma de seminários, promovendo importantes discussões sobre síntese orgânica, elucidação estrutural e pesquisa científica. Palavras-chave: Síntese orgânica; Fenacetina; Cumarina; Flavona. Abstract This paper describes the experimental teaching method used in Applied Organic Chemistry course of Federal University of ABC (UFABC). The purpose of the course is developing projects in organic synthesis for the preparation of molecules that exhibit biological activity. Students performed the synthesis of three target 1. Centro de Ciências Naturais e Humanas, Universidade Federal do ABC, Santo André – SP, Brasil. 2. Agradecemos ao Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, aos técnicos do laboratório didático pelo auxílio na separação e organização dos diferentes materiais e reagentes para cada grupo, aos alunos que cursaram a disciplina e proporcionaram a elaboração deste trabalho.
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
molecules: phenacetin, coumarin and flavone. At the end of the course, the results were presented in seminars, promoting important discussions on organic synthesis, structural elucidation and scientific research. Key-words: Organic synthesis; Phenacetin; Coumarin; Flavones.
1
Introdução
materiais de partida, reagentes utilizados, rendimentos individuais, condições experimentais
A Síntese Orgânica constitui uma importante
e rendimento global (Rocha; Ferreira; Santos,
área da Química que estuda a criação e/ou trans-
2008). Além disso, existe a atual preocupação com
formação de substâncias orgânicas, através de alte-
a questão ambiental no desenvolvimento da sín-
rações químicas lógicas e racionais em um deter-
tese orgânica, ou seja, a elaboração de processos
minado substrato (Lindberg, 1975; Carruthers;
modernos menos agressivos ao meio ambiente.
Hirzel, 1984; Smith, 1994). Atualmente, a evolu-
Este último fator está associado ao conceito da
ção desta área tem alcançado níveis surpreenden-
chamada Química Verde, que pode ser definida
tes devido à descoberta de novas reações químicas.
como o desenho, desenvolvimento e implementa-
Consequentemente, o sucesso da síntese de molé-
ção de produtos químicos e processos para reduzir
culas de alta complexidade estrutural tornou-se
ou eliminar o uso ou geração de substâncias noci-
possível.
vas à saúde humana e ao ambiente (Lenardão et
Assim como em outras áreas da Ciência, a sín-
al., 2003).
tese orgânica nasceu da combinação entre a opor-
A evolução da síntese orgânica em busca de
tunidade e a necessidade. Este ramo da química se
melhores abordagens sintéticas para a preparação
desenvolveu mais rapidamente na segunda metade
de moléculas específicas foi marcada pela introdu-
do século 20, pois além das necessidades das socie-
ção da análise retrossintética. O conceito de retros-
dades modernas serem maiores, houve também a
síntese foi introduzido por E. J. Corey, em 1967
descoberta de muitas novas reações orgânicas, entre
(Corey, 1967), que consiste basicamente em trans-
elas destacam-se as reações de formação de ligação
formar progressivamente a molécula-alvo em uni-
C-C e as reações envolvendo compostos organo-
dades mais simples e, se possível, em substâncias
metálicos de transição, além do desenvolvimento
comercialmente disponíveis. Esta abordagem, mais
de reações enantiosseletivas (Rocha; Ferreira;
sistemática, depende mais da percepção de parti-
Santos, 2008; Correia; Costa; Ferreira, 2002).
cularidades estruturais do que de similaridade com
O projeto de síntese orgânica inicia-se a partir
materiais de partida. A representação esquemática
da escolha da molécula-alvo que, geralmente, des-
de retrossíntese é uma seta dupla que indica uma
perta o interesse pela complexidade estrutural e/ou
desconexão e sua direção é sempre no sentido con-
propriedades funcionais. Em seguida, é necessária
trário da reação (Rocha; Ferreira; Santos, 2008).
a elaboração de um viável planejamento sintético,
De modo geral, a disciplina de química orgâ-
o qual envolve a preocupação com diversos aspec-
nica com ensino experimental permite ao aluno ter
tos, não somente com o sucesso final e a obtenção
contato com reagentes e técnicas experimentais
da molécula desejada, mas também com a efici-
para a execução de diversas reações orgânicas,
ência da síntese. Entre esses importantes aspectos
previamente programadas para o curso, e também
estão: o número de reações/etapas, o custo dos
fornece subsídios para o aluno correlacionar os
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
11
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
resultados obtidos em laboratório com os concei-
números de etapas razoáveis com o período dis-
tos teóricos vistos em sala de aula. Considerando a
ponível e as particularidades funcionais. Os alunos
possibilidade de ampliar o conhecimento do aluno
foram ensinados e estimulados a pesquisar em arti-
no laboratório de ensino e despertar o interesse
gos científicos e a utilizar o conhecimento adqui-
para o aspecto investigativo de obtenção de molé-
rido em diferentes reações orgânicas.
culas, decidimos propor o desenvolvimento de
Enquanto transcorria o prazo estabelecido para
pequenos projetos de síntese orgânica para a pre-
a elaboração, discussão e finalização das propostas
paração de moléculas com atividades biológicas.
sintéticas, os alunos puderam ter contato com as
Portanto, neste trabalho, descrevemos o método
técnicas espectroscópicas para a elucidação estru-
de ensino experimental empregado na disciplina
tural de compostos orgânicos como, por exemplo,
denominada Química Orgânica Aplicada. O método
a espectrometria de massas, a espectroscopia no
adotado extrapola o aprendizado de reações orgâni-
infravermelho e a ressonância magnética nuclear
cas de forma isolada, insere o aluno na participação
(RMN) de 1H e 13C (Ribeiro; Souza, 2007). Após
de todas as etapas da síntese de uma molécula-alvo.
uma breve introdução teórica, os alunos utilizaram
As atividades foram realizadas com alunos de gra-
as técnicas para a identificação de algumas estru-
duação do curso de Bacharelado em Química da
turas orgânicas na forma de exercícios.
Universidade Federal do ABC (UFABC), buscando
Assim que foram definidas as propostas sinté-
desenvolver a atitude criativa e o pensamento crí-
ticas, os alunos deram início ao trabalho experi-
tico dos alunos, além de promover questionamen-
mental. As moléculas-alvo e seus respectivos pla-
tos constantes e a autonomia dos mesmos.
nejamentos sintéticos podem ser visualizados nos esquemas 1, 2 e 3.
2
O esquema 1 mostra a síntese da fenacetina (4),
Resultados e discussão
um fármaco com propriedades analgésicas, que
Inicialmente, foram apresentados aos alunos os
teve seu uso proibido devido a sua toxicidade, pois
principais aspectos da síntese orgânica, ou seja, a
acarretou o aumento do risco de doenças cardio-
importância da descoberta e preparação de novas
vasculares, bem como insuficiência e tumor renal
moléculas, a escolha da molécula-alvo, a motiva-
(Baptistella; Giacomini; Imamura, 2003).
ção para se iniciar uma rota sintética e como elaborar o planejamento sintético. Com base nesse
NO2
NH2
NHAc
NHAc
contexto, o importante conceito de análise retrossintética foi introduzido e exemplificado para os
Fe, HCl EtOH, ∆
alunos. A turma composta de doze alunos foi dividida em três grupos e, para cada grupo, foi selecionada pelo professor uma molécula-alvo diferente. O desafio dos alunos foi elaborar uma estratégia sin-
OH (1)
Ac2O
OH (2)
t-BuOK, EtBr Acetona
OH (3)
OEt (4)
Esquema 1. Síntese da fenacetina (4).
tética viável e, em seguida, executá-la no laboratório. As moléculas foram selecionadas buscando
A síntese foi realizada utilizando como mate-
despertar o interesse dos alunos em prepará-las,
rial de partida o p-nitrofenol (1), o qual foi subme-
observando a diferença estrutural, a possibili-
tido a uma reação de redução com ferro metálico e
dade de realizar diferentes reações químicas em
ácido clorídrico concentrado (Mahood; Schaffner,
12
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
1943), levando à formação do p-aminofenol (2)
impurezas, identificadas como sendo o material de
com rendimento de 35%. Nesta etapa, os alunos
partida restante e o solvente acetona, por exemplo.
encontraram dificuldades no processo de lava-
O rendimento do produto sólido parcialmente puro
gem a quente e posterior cristalização do produto
foi de 90%. O esquema 2 mostra a síntese da molécula-
sólido. Em seguida, a acetilação de 2 forneceu o aceta-
-alvo
4-metil-7-hidroxi-8-acetilcumarina
(9)
minofenol (3), o analgésico conhecido como para-
(Russel; Frye, 1955). As cumarinas constituem um
cetamol e comercializado com o nome de Tylenol .
importante grupo de compostos largamente distri-
Este foi obtido com rendimento de 50%. Os alunos
buídos na natureza e exibem diversas atividades
efetuaram também um procedimento para a extra-
biológicas e diversas aplicações, como aditivos
ção do paracetamol (3) a partir de comprimidos
de alimentos, agroquímicos, cosméticos, produtos
comerciais de Tylenol , obtendo-se 65% de rendi-
farmacêuticos, dispersão de fluorescência, além
mento (Baptistella; Giacomini; Imamura, 2003).
da ação anticoagulante e efeitos carcinogênicos
®
®
(O’Kennedy; Thornes, 1997).
Na próxima etapa, o paracetamol (3) foi tratado com t-butóxido de potássio (t-BuOK) e bromoetano
Entre os métodos de preparação de cumari-
em acetona para dar origem à molécula-alvo fena-
nas, a reação de Pechmann (Pechmann; Duisberg,
cetina (4). Mais uma vez, os alunos encontraram
1884) é o método mais utilizado, o qual envolve
dificuldades em isolar o produto na forma sólida.
a condensação de fenóis com β-cetoésteres na
Diante de perdas de material ocorridas e o término
presença de ácido. De acordo com o esquema 2,
do produto paracetamol (3), que seria empregado
a reação de Pechmann foi realizada empregando
em novas reações, os alunos realizaram a última
os materiais de partida comerciais, o resorcinol (5)
etapa utilizando o paracetamol (3) proveniente da
e o acetoacetato de etila (6). A mistura foi man-
extração dos comprimidos. Desta forma, a fenace-
tida sob agitação a baixa temperatura (-10 ºC) e a
tina (4) foi obtida e sua estrutura comprovada atra-
adição de ácido sulfúrico concentrado foi realizada
vés de RMN de H. No entanto, observou-se tam-
lentamente. O produto 7 foi obtido na forma de um
bém no espectro de RMN a presença de pequenas
sólido com 52% de rendimento.
1
OH
HO
HO
O
O
O
O
H2SO4
+ OMe (5)
(7)
(6) O
Ac2O
HO
O
AcO
O
O
O
AlCl3 ∆
(9)
(8)
Esquema 2. Síntese da cumarina (9).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
13
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
A etapa posterior constituiu em adicionar ani-
Na primeira etapa da síntese foi realizada a
drido acético ao composto 7 e manter a mistura sob
acetilação do fenol (10), dissolvido inicialmente
refluxo durante 1 hora. Após o período, o produto
em uma solução de NaOH 10% com posterior adi-
sólido foi isolado e secado em estufa, obtendo-se
ção de anidrido acético, resultando no acetato de
um rendimento de 89% do composto 8. Este foi
fenila (11) com 46% de rendimento após as etapas
então submetido ao Rearranjo de Fries, ou seja,
de extração, secagem e destilação simples do pro-
o tratamento de 8 com cloreto de alumínio sob
duto final.
aquecimento. O produto bruto obtido nesta rea-
O acetato de fenila (11) foi então submetido
ção foi recristalizado em etanol 95% e, após este
ao Rearranjo de Fries (Kürti; Czakó, 2005), sendo
procedimento de purificação, obteve-se o produto
exposto a um excesso estequiométrico de cloreto
final 9 desejado com 75% de rendimento, o qual
de alumínio sem a adição de solvente, obtendo-se
teve sua estrutura evidenciada através de experi-
a o-hidroxiacetofenona (12) com 22% de rendi-
mentos de RMN de H. O rendimento global para
mento. O baixo rendimento ocorreu provavelmente
a preparação da cumarina 9, alvo do nosso traba-
devido a problemas que os alunos enfrentaram no
lho, foi de 35%.
aquecimento do sistema, que alcançou tempera-
1
O esquema 3 mostra a síntese da flavona (15),
turas em torno de 100 ºC, quando o ideal para a
a partir do fenol (10). Os flavonoides são encon-
obtenção do produto orto-substituído deve variar
trados em diversos vegetais, sendo importantes
entre temperaturas de 120 a 165 ºC durante o pro-
intermediários na síntese de anticancerígenos,
cedimento (Cullinane; Edwards, 1958).
anti-inflamatórios, antibacterianos e drogas para
Na etapa seguinte, o benzoato de 2-acetilfenila
o tratamento de AIDS (Pouget et al., 2002). Além
(13) foi gerado a partir da reação de 12 com clo-
disso, tem sido relatado na literatura efeitos anti-
reto de benzoíla na presença de piridina. Após a
proliferativo, antifúngico, antiviral, anti-inflama-
pesagem, os alunos obtiveram o produto final com
tório, antioxidante e cardiovascular das flavonas e
um rendimento elevado. Mesmo sendo uma reação
seus derivados (Wang et al., 2005).
com altas taxas de conversão (79-83%) (Wheeler,
OH
OH
O Ac2O
O (10)
AlCl3 ∆
(12)
(11) O
O PhCOCl C5H5N
Ph
H2SO4
(15)
O
HOAc
O
O
OH Ph (14)
O
Ph
KOH ∆
O
(13)
O
Esquema 3. Síntese da flavona (15).
14
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
1963), por utilizar piridina como um catalisador
A síntese da flavona (15) foi concluída reali-
nucleofílico e um excelente eletrófilo como o clo-
zando a reação de ciclização do composto 14 em
reto de benzoíla, o alto rendimento foi observado
meio ácido, contendo a mistura de ácido acético e
devido à presença de pequenas impurezas e/ou
ácido sulfúrico. O rendimento desta reação final
umidade no sólido obtido, já que foi realizada ape-
foi de 25%, e foi baixo devido às dificuldades
nas uma filtração e lavagem do sólido com meta-
relacionadas com o procedimento de purificação
nol, sem posteriores etapas de purificação.
do produto, ou seja, a recristalização utilizando
Em seguida, o benzoato de 2-acetilfenila (13)
o hexano como solvente. No entanto, a massa
foi dissolvido em piridina com posterior adição de
de flavona (15) obtida apresentou um alto grau
hidróxido de potássio, sofrendo um Rearranjo de
de pureza, comprovado através da elucidação
Baker-Venkataraman (Cullinane; Edwards, 1958).
estrutural da flavona no espectro de RMN de 1H
O produto 14 foi então precipitado após a adi-
(Figura 1). De acordo com a expansão do espectro
ção de solução de ácido acético 10%, obtendo-se
de RMN de 1H na região dos sinais que correspon-
um rendimento de 55%. O rendimento para essa
dem à estrutura da flavona (6,70-8,40 ppm), foi
etapa foi menor que o esperado (80-85%) (Kürti;
possível atribuir de maneira inequívoca os hidro-
Czakó, 2005) devido a perdas que os alunos tive-
gênios presentes na estrutura, além dos padrões
ram durante o processo de extração e, também,
de acoplamento característicos dos hidrogênios
pela presença de impurezas no próprio material de
aromáticos. O rendimento global da síntese da
partida, o composto 13.
flavona (15) foi de 1,3%.
Figura 1. O espectro de RMN de 1H da flavona (15), um dos produtos sintetizados pelos alunos; expansão da região entre 6,70-8.40 ppm, com atribuição dos respectivos hidrogênios da estrutura a cada um dos sinais observados.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
15
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
É importante ressaltar que todos os experi-
10 mL de álcool etílico e 4,00 g de ferro em pó. O
mentos desenvolvidos durante a disciplina foram
sistema foi mantido em agitação e, através do con-
realizados pelos alunos, sendo estes em nível de
densador de refluxo, foram adicionados à mistura
graduação com pouco ou nenhum domínio para a
20 mL de ácido clorídrico concentrado, gota a gota
realização de diferentes reações orgânicas. Portanto,
com uma pipeta de Pasteur, com cuidado já que se
os rendimentos obtidos são aceitáveis, uma vez que
trata de uma reação exotérmica e violenta. Após
as reações não foram otimizadas. Além disso, os
a adição de todo o ácido, a mistura foi aquecida
resultados obtidos foram muito promissores, prin-
sob refluxo, até que todo o ferro fosse consumido
cipalmente com relação ao aprendizado dos alunos
(cerca de 30-40 minutos). A mistura foi filtrada
e ao fato de vivenciarem a realidade científica. A
ainda quente em um funil de Büchner para remo-
síntese do composto Fenacetina (4) apresentou
ção do excesso de ferro que ficou preso à barra
maiores problemas ao grupo, enquanto a síntese
magnética. Foi adicionado ao filtrado uma solu-
da flavona (15), apesar do maior número de etapas
ção de hidróxido de sódio (20%) para neutralizar
reacionais, foi concluída com sucesso sem grandes
a solução, havendo formação de um precipitado de
dificuldades e obteve-se o produto final sem pre-
hidróxido de ferro. A solução foi filtrada em funil
sença de impurezas ou subprodutos.
de Büchner e o precipitado lavado com 20 mL
Ao final das atividades, cada grupo elaborou
de água destilada quente. A mistura reacional foi
um relatório científico descrevendo todo o trabalho
resfriada em banho de gelo e extraída com três
experimental desenvolvido juntamente com discus-
porções de 15 mL de acetato de etila. O solvente
sões dos resultados obtidos. Além disso, cada grupo
foi então removido utilizando um evaporador rota-
apresentou os respectivos resultados na forma de
tivo, fornecendo 0,55 g (5,04 mmol; 35%) do pro-
seminário, que possibilitou o compartilhamento
duto p-aminofenol (2) na forma de um sólido com
do conhecimento adquirido por cada grupo sepa-
coloração vinho (p.f. 184-186 ºC).
radamente. Desta forma, o processo de avaliação adotado foi positivo, pois permitiu a discussão e a interação de todos os alunos com relação às três
3.1.2
Preparação do p-acetilaminofenol/ paracetamol (3)
moléculas-alvo propostas e suas respectivas rotas
Em um erlenmeyer de 125 mL o composto 2
sintéticas. Os espectros de RMN de H dos produtos
(0,55 g; 5,04 mmol) foi suspendido em 15 mL de
finais obtidos também foram discutidos durante as
água destilada, adicionando, aos poucos, peque-
apresentações dos seminários, sendo que o espec-
nas porções de bicarbonato de sódio sólido até
tro da flavona, mostrado na Figura 1, exemplifica o
que a efervescência cessasse. O pH da solução
sucesso da metodologia adotada na disciplina.
foi medido com papel indicador, ajustando-o até
1
aproximadamente 6,0-6,5. Foram adicionados 3
2,0 mL de anidrido acético e a solução, sob agita-
Parte experimental 3.1
ção manual, foi levada ao aquecimento em banho-maria (80 ºC) durante 30 minutos, mantendo a
Síntese da fenacetina
3.1.1
agitação constante até a dissolução completa do
Preparação do p-aminofenol (2)
sólido. A mistura foi resfriada em banho de gelo
Em um balão de fundo redondo de 50 mL
para a precipitação do produto 3. Os cristais foram
equipado com um condensador de refluxo, foram
filtrados em funil de Büchner, lavados com cerca
colocadas 2,00 g (14,4 mmol) de p-nitrofenol (1),
de 5,0 mL de água destilada gelada e secados ao
16
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
ar sobre um papel de filtro, obtendo-se 0,38 g
3.2
(2,52 mmol; 50%) do paracetamol (3) ao fim do
3.2.1
procedimento (p.f. 167-168 ºC). 3.1.3
Preparação da 4-metil-7-hidroxicumarina (7)
Em um balão de 100 mL de fundo redondo,
Extração do paracetamol (3) a partir do Tylenol®
Foram triturados dois comprimidos de Tylenol
Síntese da 4-metil-7-hidroxi-8-acetilcumarina
equipado com um agitador magnético e um funil de adição, foram misturados o resorcinol (5) (4,40 g; ®
40,0 mmol) e o acetoacetato de metila (6) (4,64 g;
(750 mg/cada) em um almofariz, sendo transferi-
40,0 mol). Ao funil de adição, foram adicionados
dos para um erlenmeyer de 125 mL. Foram adicio-
40 mL de ácido sulfúrico concentrado. A solu-
nados 40,0 mL de acetato de etila e a suspensão
ção do balão foi mantida um banho de gelo e sal
obtida foi agitada vigorosamente. Após mais 5
(aproximadamente -10 ºC) e, em seguida, o ácido
minutos de agitação ocasional a mistura foi filtrada
foi adicionado gota a gota. A mistura foi mantida
em um balão de peso conhecido. O resíduo foi
sob agitação e a uma temperatura abaixo de 10 ºC.
lavado com 10,0 mL de acetato de etila e o solvente
Após a adição total do ácido, a agitação foi man-
no balão foi então removido sob pressão reduzida
tida por mais 12-24 horas sem resfriamento adicio-
utilizando um rotaevaporador, fornecendo 0,98 g
nal. Após o período, foram adicionados cerca de
(6,49 mmol; 65%) de paracetamol (3).
80,0 g de gelo picado e 120 mL de água ao meio
3.1.4
Preparação da fenacetina (4)
reacional, filtrando em funil de Büchner o precipitado que foi formado e lavando-o com água gelada
Em um balão de 50 mL equipado com con-
durante a filtração. O resíduo bruto foi dissolvido
densador de refluxo, foram adicionados 5,0 mL de
em uma solução de NaOH 5% (60 mL), e filtrado
acetona e a temperatura foi mantida a 0 ºC. Em
novamente. A cumarina formada foi reprecipitada
seguida, foram adicionados 0,75 g (5,00 mmol) de
a partir do filtrado pela adição lenta de cerca de 25
paracetamol (3) e 0,80 g (7,14 mmol) de t-butó-
mL de ácido sulfúrico diluído (1:10). O produto foi
xido de potássio. Após 10 minutos, o banho de
então filtrado em funil de Büchner e lavado com
gelo foi removido e assim que ocorreu a eleva-
algumas porções de água gelada, mantendo a seca-
ção natural da temperatura do meio à temperatura
gem do sólido em dessecador sob vácuo. Após a
ambiente, foi adicionado, lentamente, 0,54 mL
pesagem, foram obtidos 3,66 g (20,8 mmol; 52%)
(7,34 mmol; 0,80 g) de bromoetano. A mistura foi
da 4-metil-7-hidroxicumarina (7) na forma de um
então aquecida sob refluxo e mantida sob agita-
sólido branco (p.f. 185-186 ºC).
ção por 50 minutos. A mistura reacional foi então
Preparação da 4-metil-7-acetoxicumarina (8)
resfriada, adicionando 10 mL de água destilada,
3.2.2
havendo a separação de fases. A fase orgânica foi
Em um balão de fundo redondo adaptado a um
secada com sulfato de magnésio anidro, filtrada
condensador de refluxo, foi adicionada uma mis-
e concentrada sob pressão reduzida, fornecendo
tura da 4-metil-7-hidroxicumarina (7) seca (3,66 g;
0,80 g (4,47 mmol; 90%) da fenacetina (4), jun-
20,8 mmol) e anidrido acético (21,6 g; 0,212 mol;
tamente com algumas impurezas, na forma de um
20 mL). A mistura foi mantida sob refluxo por,
sólido levemente rosado (p.f. 134-139 ºC). RMN
aproximadamente, 1,5 horas. Após o período,
1
H (CDCl3, 400 MHz) δ 7,37 (d, 2H, J 9,0 Hz),
a solução foi resfriada a 50 ºC e despejada, com
6,82 (d, 2H, J 9,0 Hz), 3,98 (q, 2H, J 6,9 Hz), 2,11
vigorosa agitação, em uma mistura de 50,0 g de
(s, 3H), 1,32 (t, 3H, J 6,9 Hz).
gelo picado e 50 mL de água. A mistura foi filtrada
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
17
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
em funil de Büchner sob pressão reduzida, lavando o precipitado com água gelada. O produto sólido foi secado em uma estufa por 10 horas, obtendo-se 4,04 g (18,5 mmol; 89%) da 4-metil-7-acetoxicu-
Síntese da flavona
3.3.1
Preparação do acetato de fenila (11)
Em um erlenmeyer de 250 mL, o material de partida fenol (10) (12,0 g; 0,128 mol) foi dissolvido
marina (8) (p.f. 150-151 ºC). 3.2.3
3.3
em 80 mL de uma solução de NaOH 10% (m/m)
Preparação da 4-metil-7-hidroxi-8 ‑acetilcumarina (9)
e, posteriormente, adicionou-se cerca de 90,0 g de gelo picado. Em seguida, adicionou-se 15 mL
Em um balão de fundo redondo, adicionou-
de anidrido acético (16,2 g; 0,159 mol), e o erlen-
-se a 4-metil-7-acetoxicumarina (8) seca (1,90 g;
meyer foi então tampado com uma rolha e mantido
8,72 mmol). Foram pesados rapidamente 4,60 g
sob agitação manual vigorosa por cinco minutos.
(34,5 mmol) de cloreto de alumínio anidro, sendo
A formação de uma emulsão indicou a presença
adicionado ao balão contendo o composto 8. Foi
do produto. A mistura foi transferida para um funil
conectado o condensador de refluxo – ainda sem
de separação e adicionou-se 5 mL de tetracloreto
as mangueiras de água – ao balão da reação com
de carbono para facilitar a separação das duas
um tubo secante, agitando o meio reacional para
fases. Após agitação e repouso, ocorreu a quebra
misturar os reagentes. Assim que cessou-se a
da emulsão. A fase de tetracloreto de carbono con-
evolução inicial de HCl, a mistura reacional foi
tendo o acetato de fenila (11) foi então extraída
aquecida rapidamente em um banho de óleo a tem-
com pequenas porções de aproximadamente 5 mL
peratura inicial de 125 ºC, e em seguida, elevada
de uma solução saturada de bicarbonato de sódio,
lentamente a temperatura a 170 ºC, sob agitação
até que a efervescência da solução cessasse. A
por 1 hora. Após o período, foi removido o banho
fase orgânica foi transferida para um erlenmeyer,
de óleo e assim que o sistema atingiu a temperatura
secada com cloreto de cálcio anidro e filtrada em
ambiente foi adicionado gelo picado e uma solu-
papel de filtro pregueado para um balão de fundo
ção de ácido clorídrico diluída (1:7). A mistura foi
redondo de 50 mL. O filtrado foi destilado através
aquecida novamente em banho-maria (~100 ºC)
de um aquecimento lento em banho de óleo, ocor-
durante 10 minutos sob agitação. Em seguida,
rendo a remoção inicial de tetracloreto de carbono
foi feita uma filtração em funil de Büchner sob
à temperatura de 77 ºC e do produto 11 à tempe-
pressão reduzida, lavando o precipitado com água
ratura de aproximadamente 194-197 ºC. A análise
gelada e secando-o por sucção.
de cromatografia em camada delgada (TLC), uti-
O produto obtido foi purificado através de
lizando diclorometano como solvente revelou a
recristalização, dissolvendo o sólido com etanol
presença de resíduos fenólicos no extrato coletado.
95% a quente e, então, realizando uma filtração
O conteúdo do balão foi dissolvido em 10 mL
a quente e o resfriamento do filtrado. Obteve-se,
de acetato de etila e os resíduos fenólicos foram
então, 1,43 g (6,56 mmol; 75%) da 4-metil-7-
extraídos da fase orgânica num funil de separação
-hidroxi-8-acetilcumarina (9). RMN H (CDCl3,
com duas porções de 10 mL de NaOH 1 mol/L,
400 MHz) δ 13,6 (s, 1H), 7,69 (d, 1H, J 8,9 Hz),
5 mL de água destilada e 5 mL de solução satu-
6,93 (d, 1H, J 8,9 Hz), 6,18 (m, 1H), 2,98 (s, 3H),
rada de NaCl. A fase orgânica foi secada com
2,43 (d, 3H, J 1,1 Hz).
cloreto de cálcio anidro, filtrada e o solvente foi
1
18
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
removido através de um evaporador rotativo. O
zida, o produto 12 foi obtido (1,73 g; 12,7 mmol;
conteúdo do balão foi pesado, obtendo-se 7,92 g
22%). IV (KBr) ν (cm-1): 3070; 1648; 1491.
(58,2 mmol; 46%) do acetato de fenila (11), o qual
Preparação do benzoato de 2-acetilfenila (13)
foi empregado na próxima etapa sem purificação e
3.3.3
caracterização.
Em um balão de fundo redondo de 50 mL,
3.3.2
Preparação da o-hidroxiacetofenona (12)
O sistema reacional foi mantido na capela devido à evolução de HCl gasoso. Em um balão de fundo redondo de 50 mL conectado a um condensador de refluxo (ainda sem as mangueiras) e com um tubo secante contendo cloreto de cálcio anidro no topo do condensador, adicionou-se o acetato de fenila (11) obtido na etapa anterior (7,92 g; 58,2 mmol) e introduziu-se rapidamente 10,0 g de cloreto de alumínio. Assim que a evolução de HCl gasoso diminuiu, as mangueiras foram conectadas ao sistema e a mistura foi mantida sob agitação e aquecimento a temperatura de 100 ºC, em banho de óleo, durante 1 hora. Após o período, o balão
foram adicionados 1,73 g (12,7 mmol) da o-hidroxiacetofenona (12), 3 mL de piridina e 2,70 g (19,2 mmol) de cloreto de benzoíla. Após 15 minutos sob agitação, a mistura pastosa foi levada a um erlenmeyer contendo 80 mL de HCl 3% e 30,0 g de gelo picado. Adicionou-se cerca de 5 mL de éter etílico à solução, havendo precipitação do produto no fundo do recipiente. Em seguida, realizou-se uma filtração sob pressão reduzida e o sólido obtido foi lavado com algumas gotas de metanol gelado. Após a secagem do sólido por sucção, este foi pesado e obteve-se 3,0 g (12,7 mmol; 100%) de produto, provavelmente pela presença do benzoato de 2-acetilfenila (13) juntamente com traços de impurezas e umidade (p.f. 81-87 ºC).
da reação foi resfriado à temperatura ambiente e
Preparação do o-hidroxibenzoilmetano (14)
adicionou-se 50,0 g de gelo picado e 8 mL de ácido
3.3.4
clorídrico concentrado. Em seguida, o meio rea-
Em um béquer de 100 mL, adicionou-se 3,0 g
cional foi novamente aquecido a 100 ºC e mantido
(12,7 mmol) do benzoato de 2-acetilfenila (13) e
sob agitação por mais 5 minutos.
12 mL de piridina. A mistura foi aquecida à tem-
Após o período, o balão reacional foi resfriado
peratura de 50 ºC e, em seguida, adicionou-se
em banho de gelo e o seu conteúdo foi extraído em
1,07 g (19,0 mmol) de KOH, mantendo-se agita-
um funil de separação com três porções de 10 mL
ção manual do béquer por 15 minutos. Após o perí-
de éter etílico. As fases etéreas foram combinadas
odo, o béquer foi resfriado à temperatura ambiente
e os materiais fenólicos (produto da reação) foram
e foram adicionados 25 mL de solução de ácido
extraídos com duas porções de 25 mL de solução de
acético 10%, observando então a precipitação do
NaOH 2 mol/L. A fase aquosa foi então acidificada
produto. Após filtração a vácuo, obteve-se 1,65 g
com ácido clorídrico concentrado até pH aproxima-
(6,88 mmol; 55%) do produto 14 (p.f. 117-120 ºC).
damente igual a 2 e o seu conteúdo foi transferido
Preparação da flavona (15)
para um balão de fundo redondo de 250 mL. Em
3.3.5
seguida, foi realizada uma destilação por arraste a
Em um balão de fundo redondo de 50 mL,
vapor até a coleta de cerca de 130 mL de destilado.
foram adicionados 1,65 g (6,88 mmol) do o-hidro-
Este foi então extraído com duas porções de 10 mL
xibenzoilmetano (14), 9 mL de ácido acético gla-
de éter etílico e a fase orgânica foi secada com sul-
cial e 0,5 mL de ácido sulfúrico concentrado. O
fato de sódio anidro. Após a filtração do agente
sistema foi mantido sob agitação a temperatura
secante e a remoção do solvente sob pressão redu-
de 100 ºC durante uma hora. Após o período,
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
19
Desenvolvimento de Projetos em Síntese Orgânica para Alunos de Graduação: Química Orgânica Aplicada
a mistura foi vertida em um béquer de 200 mL contendo 50 g de gelo picado, agitando rapidamente com um bastão de vidro. Após todo o gelo
COREY, E. J. Pure & Appl. Chem., v. 14, 1967, 19.
ter derretido, o produto bruto foi coletado através
CORREIA, C. R. D.; COSTA, P. R. R.; FERREIRA, V. F. Quim. Nova, v. 25, 2002, 74.
de uma filtração sob pressão reduzida. O sólido foi lavado com água destilada (200 mL) até ficar livre do ácido e secado no próprio filtro durante tido a uma recristalização com n-hexano, obtendo ao final do processo 381 mg (1,72 mmol; 25%) da
LENARDÃO, E. J. et al. Quim. Nova, v. 26, 2003, 123.
flavona (15) (p.f. 96-97 ºC). RMN 1H (CDCl3, 400 MHz) δ 8,24 (dd, 1H, J 1,5; 7,8 Hz), 7,94 (dd, 2H, J 1,5; 8,1 Hz), 7,71 (ddd, 1H, J 1,5; 7,3; 8,3 Hz), 7,58 (d, 1H, J 8,3 Hz), 7,54 (m, 3H), 7,43 (dd, 1H, J 7,3; 7,8 Hz), 6,84 (s, 1H).
Conclusão foram constantemente observados durante todo o andamento da disciplina. Os alunos demonstraram motivação e enriquecimento do aprendizado de forma ampla. Com relação ao planejamento do trabalho, destaca-se o fato que a postura do pesquisador pode transcender para as atividades de ensino gerando conhecimento.
MAHOOD, S. A.; SCHAFFNER, P. V. L. Org. Synthesis, v. 2, 1943, 160.
PECHMANN, H.; DUISBERG, C. Chem. Ber., v. 17, 1884, 929. POUGET, C. et al. Bioorg. Med. Chem. Lett., v. 12, 2002, 1059. RIBEIRO, C. M. R.; SOUZA, N. A. Quim. Nova, v. 30, 2007, 1026. ROCHA, D. R.; FERREIRA, V. F.; SANTOS, W. C. Revista Processos Químicos/SENAI, v. 2, 2008, 9. RUSSEL, A.; FRYE, J. R. Org. Synthesis, v. 3, 1955, 281. SMITH, M. B. Organic Synthesis. McGraw-Hill: New York, 1994.
Referências BAPTISTELLA, L. H. B.; GIACOMINI, R. A.; IMAMURA, P. M. Quim. Nova, v. 26, 2003, 284.
20
LINDBERG, T. Strategies and tatics in organic synthesis. Academic Press: Orlando, 1975.
O’KENNEDY, R.; THORNES, R. D. Coumarins: biology, applications and mode of action. Chichester: Wiley & Sons, 1997.
Os resultados satisfatórios deste trabalho
5
CULLINANE, N. M.; EDWARDS, B. F. R. J. Chem. Soc., 1958, 2926. KÜRTI, L.; CZAKÓ, B. Strategic applications of named reactions in organic synthesis: background and detailed mechanisms. New York: Elsevier, 2005.
alguns minutos. Em seguida, o sólido foi subme-
4
CARRUTHERS, W.; HIRZEL, S. Some modern methods of organic synthesis. 3. ed. Stuttgart, 1984.
WANG, T. C. et al. Bioorg. Med. Chem., v. 13, 2005, 6045. WHEELER, T. S. Org. Synthesis, v. 4, 1963, 478.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Artigo 02 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 21-28
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores Visual Impairment: a challenge in teacher’s graduation Daguia de Medeiros Silva1 Karla Marques Silva1
Resumo Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo sobre a importância da formação docente necessária para o desenvolvimento de metodologias indispensáveis para a construção de práticas inclusivas. A inclusão de estudantes com deficiência na escola regular tem sido tema de grandes discussões no âmbito educacional; por isso, é necessário que a escola, como um todo, se prepare para receber estes alunos a fim de possibilitar um processo de aprendizagem com qualidade. O atendimento especializado para estudantes com deficiência visual deve ocorrer, basicamente, por meio de recursos adaptados, os quais possibilitem e potencializem os diferentes meios de acesso ao conhecimento, respeitando as necessidades de cada estudante. Os resultados do trabalho apontam que a ausência de conhecimento do professor sobre as deficiências e o não reconhecimento das potencialidades destes estudantes é fator determinante para compreendermos a necessidade de uma formação continuada para atuação do professor em sala de aula. Palavras-chave: Deficiência visual; Formação docente; Formação continuada. Abstract This article aims to make a study on the importance of education and training required for the development of methodologies essential to building inclusive practices. The inclusion of students with disabilities in regular schools has been a topic of discussion in the educational field, so it is necessary that the school, as a whole, 1. Graduanda de Licenciatura em Química do IFRN, campus Currais Novos.
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
prepare itself to receive these students to enable a learning process with quality. Specialized care for students with visual impairments should occur primarily through adapted features, which enable the different means of access to knowledge, respecting the needs of each student. The results of the study show that the lack of teacher knowledge about disabilities and the non-recognition of the potential of these students is an important factor to understand the need for continuing education for teacher performance in the classroom. Key-words: Visual impairment; Teacher training; Continuing education.
1
públicas de ensino (Montoan, 2005). É compro-
Introdução
misso dos sistemas de ensino a qualificação dos
A forma de se comunicar, a linguagem e as múl-
professores na perspectiva de assegurar que este-
tiplas maneiras de expressão cultural ou artística
jam aptos a elaborar e implantar novas propostas e
constituem-se de imagens e apelos visuais cada
práticas de ensino a fim de corresponder às carac-
vez mais complexos e sofisticados. A Organização
terísticas específicas de cada aluno, sendo eles
Mundial de Saúde (OMS) estima que existam, no
especiais ou não.
Brasil, cerca de 10% de pessoas com algum tipo de
Quando um indivíduo com deficiência visual
deficiência, das quais 1 a 1,5% apresentam defici-
é inserido em um contexto de aprendizagem sistê-
ência visual, o que representa um número aproxi-
mica, o relacionamento com o mundo exterior (no
mado de 1,7 milhões de pessoas. Esse número é
ambiente escolar), também enfrenta dificuldades
bem significativo, exigindo da sociedade um olhar
de socialização, pois essas pessoas nem sempre
mais atento, com o objetivo de garantir a inclusão
são aceitas pela sociedade, ou seja, acabam sendo
social e educacional dessas pessoas, direito este
excluídas pelos próprios companheiros de sala e
adquirido por todos os cidadãos.
até mesmo pela comunidade escolar por não saber
Mencionar sobre formação profissional requer
como inseri-los no seu dia a dia.
um olhar crítico, pois exige que se adote um fun-
Para que a inclusão se efetive, é necessário
damento que configure a concepção do processo
que ocorra algumas mudanças tanto na parte da
educativo. A Formação dos Professores dos
infraestrutura, quanto pedagógica, pois as crian-
Portadores de Deficiência Visual deve ser repen-
ças especiais não necessitam apenas de um espaço
sada como permanente e transformadora, em um
adequado, mas também de recursos pedagógicos
contexto objetivo de consideração das referenciais
específicos e professores qualificados, os quais são
formas dos Programas ou Intervenções da área. Na
assegurados pela Política Nacional de Educação
sociedade, a visão é um sentido primordial, já que,
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
através dela, temos a oportunidade de vivenciar
(2007) e pelo Decreto 7611/2011 no que se refere
várias experiências, obtidas de forma imediata,
ao Atendimento Educacional Especializado. Desta
constante e completa.
forma, o aprendizado, completo e significativo, é
A formação profissional é de suma importân-
necessário para possibilitar a coleta de informação
cia para o desenvolvimento de ações educacionais
por meio dos sentidos remanescentes. A audição,
e, em especial, para os profissionais das redes
o tato, o paladar e o olfato são importantes canais
22
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
ou portas de entrada de dados e informações que
os diferentes tipos de necessidades educacionais, o
serão levados ao cérebro.
que demanda conhecer as potencialidades de cada
É perceptível que o trabalho para a inclusão de
criança. Também é importante que se tenha com-
alunos com necessidades educacionais em salas
promisso com a aprendizagem, de modo que, se o
regulares necessita ainda de grandes avanços,
educador não observar as necessidades do aluno e
tanto na questão física da escola quanto na parte
as suas potencialidades, com vistas a realizar sua
que se refere às práticas pedagógicas e à formação
prática pedagógica, a proposta de inclusão será um
inicial e continuada dos professores para atuarem
fracasso. Indiscutivelmente, o professor deve acompanhar
com estas crianças.
o desenvolvimento dos alunos, incentivando-os a
Formação do professor como mediador
participarem das aulas, a fim de contribuir para uma construção coletiva do conhecimento, conhecer as
A educação escolar oferecida pela rede pública
necessidades e potencialidades de cada aluno, a par-
brasileira enfrenta diversos questionamentos com
tir de uma ação pedagógica eficaz, e tornar possível
relação à sua qualidade. Visto que, mesmo sendo
a aprendizagem desses estudantes.
de conhecimento de todos que é direito do cida-
As constantes discussões em busca de mudan-
dão ter uma educação de qualidade, acreditamos
ças nas práticas pedagógicas têm sido defendidas
que, para sua concretização, é necessário que os
por diversos documentos expedidos pelo MEC, os
órgãos competentes desenvolvam políticas públi-
quais ressaltam a importância da formação inicial
cas que favoreçam a qualificação do ensino. E que
ou continuada como forma de capacitar esses pro-
estas contemplem, de modo especial, a formação
fessores que estão atuando em sala de aula (Tezani,
do professor para um trabalho pedagógico de qua-
2003). Tais medidas asseguram ao aluno o direito a
lidade, capacitando-os para que estes possam aten-
uma educação de qualidade, a qual procura formar
der de forma adequada os estudantes com necessi-
cidadãos autônomos e conscientes do seu papel em
dades especiais.
meio a uma sociedade.
O professor despreparado e justificativo resiste
As propostas apresentadas por Donald Schön,
à inclusão escolar. Dessa forma, para que estes
o qual defende o paradigma do profissional refle-
professores sejam preparados, e tenham uma for-
xivo, ou seja, a formação do professor deve estar
mação contínua, o governo deve tomar iniciativas
pautada na prática da reflexão de sua própria prá-
de buscar alternativas sobre o assunto em questão,
tica, e isso deve acontecer desde a formação ini-
as quais podem ser oferecidas através de cursos,
cial do professor, pois possibilita a este profissio-
oficinas, especializações, capacitações, com o
nal refletir sobre a sua atuação em sala de aula,
intuído de qualificar esses professores. Entretanto,
visando à melhoria da sua qualidade pedagógica,
é necessário que o próprio docente reconheça a
tendo como consequência a busca por uma forma-
necessidade de se capacitar e se comprometer com
ção continuada (Tezani, 2003). Entretanto, o processo de formação do profes-
o processo de formação continuada. Deste modo, a formação do docente é de
sor vem sendo muito criticado por diversos pesqui-
extrema importância, uma vez que o preparo dos
sadores que acreditam que este tipo de formação
recursos pedagógicos requer conhecimento das
acontece baseado em teoria e técnica, a qual não
especificidades de cada educando, pois é necessá-
apresenta suporte suficiente para que o educador
rio compreender que há materiais indicados para
possa trabalhar com crianças especiais ou não. Os
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
23
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
limites deste processo advêm pelo fato dos cur-
-lo em sala de aula. Neste sentido, estudaremos
sos de formação inicial basearem-se em práticas
as adequações e adaptações que podem ser rea-
distantes das necessidades formativas dos futuros
lizadas em sala de aula pelo professor. Quando
professores, em que o papel do professor estava
planejamos atividades para esse aluno incluso em
restrito apenas ao desenvolvimento cognitivo da
sala de aula, precisamos considerar os estímulos a
criança.
serem priorizados como a audição, o tato e o olfato
Percebe-se que a formação continuada, no que
(Silva, 2008).
diz respeito à educação inclusiva, tem sido con-
Desta forma, a amplitude de atividades pode
siderada uma das ações necessárias ao educador
ser realizada, e em quase todas as disciplinas
para a concretização de uma prática inclusiva
existe a possibilidade de adaptação, desde que
pautada no reconhecimento das especificidades
se tenha espaço físico e material disponível. Isso
de cada estudante, nas adaptações necessárias do
implica numa nova postura da escola comum, que
currículo e nos materiais didáticos que favoreçam
propõe no projeto pedagógico, no currículo, na
a aprendizagem.
metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educadores, ações que favoreçam a intera-
2
ção social e sua opção por práticas heterogêneas
Papel do professor
(MEC, 2001).
Os educadores têm um papel importante
A escola precisa tomar conhecimento da impor-
na vida acadêmica dos alunos, principalmente
tância de capacitar seus professores, preparando-
quando este apresenta alguma deficiência como,
-os para se adaptarem a oferecerem educação de
por exemplo, deficiência visual. Com isso, o pro-
qualidade para todos, inclusive para os educandos
fessor deve estabelecer um relacionamento aberto
que apresentam necessidades especiais.
e cordial com a família dos alunos para conhecer melhor suas necessidades, hábitos e comportamentos para facilitar a interação com o aluno.
3
Leitura e escrita
Devem também conversar naturalmente e escla-
A leitura e a escrita estão entre as maiores difi-
recer dúvidas ou responder perguntas dos colegas
culdades para o aluno com deficiência visual, já
na sala de aula. Todos precisam criar o hábito de
que, para ler e escrever, a visão é o sentido pri-
evitar a comunicação gestual e visual na interação
mordial. Assim, considerando que aprender uma
com esses alunos. São recomendáveis também
língua requer, entre outros elementos, o domínio
evitar a fragilização ou a superproteção e comba-
da leitura e da escrita, é importante refletir como
ter atitudes discriminatórias, para que o aluno que
é que o discente com deficiência visual poderá
tenha a deficiência não se sinta excluído no meio
ter acesso às atividades desenvolvidas em sala de
escolar.
aula.
Assim, o papel do professor, bem como dos
Durante muito tempo, os indivíduos acometi-
colegas, é essencial para que o aluno com defici-
dos pela cegueira tinham que aprender a utilizar
ência visual possa ter as mesmas oportunidades
o sistema Braille (Ariza; Modorrán; Cabrillana,
de aprendizado. Desta forma, quando sabemos
2003). Contudo, estudiosos começaram a questio-
os primeiros passos para proporcionar o acesso
nar tal procedimento e analisaram a possibilidade
ao conhecimento para o aluno com deficiência,
de iniciar tais pessoas no ensino da leitura e da
bem como o seu aprendizado, buscamos incluí-
escrita à tinta, uma vez que apreenderam que, na
24
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
educação, os alunos com visão subnormal podem
5
utilizar o resquício de visão que possuem bem
Alfabetização e aprendizagem É importante e necessário criar um ambiente
como outros sentidos que podem favorecer o seu
que privilegie a convivência e a interação com
acesso à leitura e à escrita, como por exemplo, o
diversos meios de acesso à leitura, à escrita e aos
tato.
conteúdos escolares em geral. A linguagem amplia
Para proporcionar o acesso à leitura e à escrita,
o desenvolvimento cognitivo porque favorece o
o professor precisa conhecer alguns auxílios que
relacionamento e proporciona os meios de controle
podem ser utilizados para os alunos com visão
do que está fora de alcance pela falta da visão.
subnormal, já que, para o cego, esses processos se
No processo de desenvolvimento da criança
darão através do Braille.
com deficiência, deve-se considerar não só a difi-
Os auxílios estão divididos em dois grupos:
culdade que ela apresenta, mas também a efici-
no primeiro, estão os materiais específicos e
ência da estratégia pedagógica usada para ajudar
alguns elementos relacionados com o contexto do
a superar o problema (Evans, 1998). A distinção
ambiente e; no segundo, estão as técnicas ou exer-
entre deficiência e dificuldade é importante, ou
cícios de treinamento (Fortes, 2005).
seja, esses aspectos são exemplos de necessidades
A forma exposta pelo autor está bem voltada
especiais mediadas pela deficiência original, mas
para sala de aula, bastante interessante à primeira
que podem ser superados pela pedagogia compen-
forma mencionada de se trabalhar, ou seja, no
satória adequada, voltada para o desenvolvimento
grupo dos materiais específicos existem dois tipos:
do sujeito.
os ópticos e não ópticos. Os auxílios ópticos possibilitam o aumento, a ampliação da imagem, proporcionando maior acuidade visual. Os não ópticos abrangem os materiais ou as condições do meio de
6
Comunicação e relacionamento A falta de visão provoca um grande impacto
trabalho que proporcionam o acesso à leitura e à escrita.
escolar, ou seja, desperta inquietações e curiosidades. As escolas ainda passam por um processo de
4
O sistema de leitura e escrita braille
adaptação para receber alunos com deficiências visuais; elas ainda costumam abordar a deficiên-
O sistema de leitura e escrita Braille (de lei-
cia visual de forma pouco natural e pouco espon-
tura com o tato para cegos) foi criado por Louis
tânea, porque os professores não sabem como
Braille, em 1825, na França. O Braille é um alfa-
proceder em relação aos alunos cegos. As escolas,
beto convencional cujos caracteres se indicam
muitas vezes, manifestam dificuldades de aproxi-
por pontos em alto relevo. O deficiente visual os
mação e de comunicação, e não sabem qual proce-
distingue por meio do tato. A partir dos seis pon-
dimento seguir para um bom relacionamento com
tos relevantes, é possível fazer 63 combinações
seus alunos deficientes (Mantoan; Prieto; Arantes,
que podem representar letras simples e acentua-
2006). Nesse caso, torna-se necessário quebrar o
das, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais.
tabu, dissipar os fantasmas, explicitar o conflito
Esse sistema é conhecido universalmente como
e dialogar com a situação. Somente assim será
um código ou meio de leitura e escrita das pessoas
possível assimilar novas atitudes, procedimentos
cegas.
e posturas.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
25
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
7
decisões ou para reafirmar caminhos tomados,
Recursos didáticos
quem sabe acrescentando algo (Gatti et al., 2008).
É indispensável que os recursos didáticos pos-
Avaliar é uma constante do dia a dia, a todo instante
suam estímulos visuais e táteis que atendam às
as pessoas estão valorando as coisas com base em
diferentes condições visuais. Os recursos desti-
impressões e sentimentos. A avaliação da aprendi-
nados ao Atendimento Educacional Especializado
zagem tem como função dimensionar a qualidade
desses alunos devem ser inseridos em situações e
da aprendizagem dos educandos em sala de aula
vivências cotidianas que estimulem a exploração
e, no caso da avaliação de acompanhamento do
e o desenvolvimento pleno dos outros sentidos.
educando no seu percurso de aprender, se neces-
A disponibilidade de recursos que atendam ao
sário, proceder a uma intervenção de correção na
mesmo tempo às diversas condições visuais dos
aprendizagem (ensinar de novo, se necessário): Já
alunos pressupõe a utilização do sistema Braille,
a avaliação dos sistemas de ensino tem a função
de fontes ampliadas e de alternativas no processo
de verificar a qualidade do sistema em termos de
de aprendizagem (Sá; Campos; Silva, 2007). Com
sua eficácia em produzir os resultados desejados
isso, pode-se afirmar que a variedade, a adequação
(Luckesi, 1998).
e a qualidade dos recursos disponíveis possibili-
Os métodos, procedimentos e instrumentos
tam o acesso ao conhecimento, à comunicação e à
de avaliação direcionados em referências visuais
aprendizagem significativa. Recursos
tecnológicos,
equipamentos
devem ser repensados, ou, até mesmo, alterados e
e
adaptados por meio de representações e relevo. É
jogos pedagógicos contribuem para que as situ-
o caso, por exemplo, de desenhos, gráficos, diagra-
ações de aprendizagem sejam mais agradáveis e
mas, gravuras, uso de microscópios.
motivadoras em um ambiente de cooperação e
Essa avaliação vale para todo e qualquer aluno,
reconhecimento das diferenças. Para promover
não apenas para as pessoas com deficiências. A
a comunicação e o entrosamento entre todos os
diferença entre essas pessoas ditas “normais” e
alunos, é indispensável que os recursos didáticos
as pessoas com deficiências estão nos recursos de
possuam estímulos visuais e táteis que atendam
acessibilidade que devem ser colocados à dispo-
às diferentes condições visuais. Portanto, o mate-
sição destes alunos, para que possam aprender e
rial deve apresentar cores contrastantes, texturas
expressar adequadamente suas aprendizagens.
e tamanhos adequados para que se torne útil e significativo. 8
9
Metodologia No desenvolvimento deste trabalho, fizemos
Avaliação
o levantamento de documentos oficiais, relacio-
A avaliação que cabe ao professor é feita atra-
nados aos deficientes visuais, além de uma obser-
vés de um longo processo. Só a partir dos dados
vação bibliográfica em artigos que enfatizam e
obtidos, e coordenando-os com as informações do
abrangem como trabalhar no âmbito escolar com
oftalmologista, é possível traçar um plano educa-
alunos deficientes visuais. Em cada material pes-
cional apropriado ao aluno deficiente visual. Toda
quisado era identificado onde ele fazia uma ave-
avaliação educacional tem por objetivo trazer ele-
riguação do problema que estava sendo estudado.
mentos para novas ações, intervenções, mudan-
Foram escolhidos 05 (cinco) artigos e 04 (quatro)
ças de rumo, busca de alternativas, tomadas de
documentos para enriquecer esse trabalho.
26
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
10
o aluno cego responde, o monitor transcreverá suas
Resultados e discussão
respostas para o papel. Já no caso do aluno com
É importante ressaltar que o acesso às informa-
visão subnormal, ou baixa visão, as letras deverão
ções buscadas pelo aluno com deficiência visual se
ser ampliadas, considerando o resíduo visual que
dá por meio da escuta, do cheiro e do toque; con-
possua. Por exemplo, existem alunos que conse-
tudo, vale salientar que existe a educação desses
guem utilizar a visão quando a letra está no tama-
sentidos, ou seja, ensinar a ouvir, a cheirar e a tocar.
nho 40, em fonte Arial, disponível em qualquer
O professor é um mediador na educação do
computador.
aluno com deficiência e deve orientar os alunos sem deficiência a lidar com pessoas especiais, bem como com a própria família do deficiente. É pre-
11
Considerações finais
ciso que o docente sempre tome cuidado quando
Acreditamos que este trabalho servirá como
for se dirigir aos seus alunos deficientes visuais, ou
suporte teórico e metodológico no auxílio dos
seja, identificando-se quando for conversar com o
docentes que queiram abraçar a causa da inclusão
aluno que apresenta deficiência visual. O profes-
escolar, pois são várias as possibilidades de inserir
sor deve orientar o aluno com deficiência visual
o deficiente visual na sociedade. Por isso, temos
a sentar-se em um espaço que não receba luz de
razão para sermos otimistas sobre as perspectivas
frente; oferecer ajuda se necessário e, caso não
relativas à escola e a uma sociedade mais inclusiva.
saiba como, solicitar explicações ao próprio aluno
O conteúdo deste artigo não esgota a temática.
ou a um profissional especializado. Nunca deve-
Espera-se que a família e, principalmente, o edu-
mos dizer “ali”, “aqui”, porém, descrever o lugar
cador, não se limitem apenas às atividades aqui
exato dos objetos, utilizando expressões, como:
propostas, mas que busquem alternativas e contri-
a sua frente, embaixo de, entre outros (Bruno;
buam com suas experiências, colocando-se como
Mota, 2001). Quando o aluno deficiente se sente
facilitador do processo ensino-aprendizagem.
aceito no ambiente escolar o aprendizado se torna
Esperamos ainda que, com este estudo, a escola
significativo.
tenha um plano definido para uma educação para
Outro ponto a destacar é como a avaliação deve
a cidadania, livre de preconceitos, que se dispo-
ser realizada, ou seja, o docente deve compreender
nha a reconhecer e valorizar as diferenças entre os
que a avaliação é um processo permanente, que pre-
seres humanos, ideias essenciais para se entender a
cisa identificar as potencialidades e necessidades do
inclusão. Dessa forma, a inclusão não será apenas
aluno, não, propriamente, as suas deficiências.
uma palavra, mas sim um processo real que rom-
Assim, os instrumentos avaliativos variam
perá as fronteiras que nos impedem ao acesso de
conforme o grau da deficiência visual que o dis-
um ensino cada vez mais próximo das necessida-
cente apresenta; se o aluno for cego, e o professor
des das novas gerações.
optar por uma prova escrita, ela deverá ser transcrita para o Braille, caso o docente o domine. Caso contrário, ele poderá ditar os enunciados para que o aluno escreva as respostas utilizando a reglete e a punção para a escrita Braille. Outra possibilidade é a prova oral, ou, ainda, que tenha um monitor lendo as questões. Enquanto
12
Referências ARIZA, C. A.; MODORRÁN, A. G.; CABRILLANA, Jo. R. A leitura e a escrita no deficiente visual grave. In: MARTÍN, M. B.; BUENO, S. T. (Coords.). Deficiência Visual: aspectos psicoelevolutivos e educativos. São Paulo: Livraria e Editora Santos, 2003.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
27
Deficiência Visual: o desafio da formação de professores
BRUNO, M. M. G.; MOTA, M. G. B. (Coords.). Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual, Vol. 2. fasc. 4 – A escolarização do aluno com deficiência visual. Brasília: MEC, SES, 2001. (Série Atualidades Pedagógicas). EVANS, P. Algumas implicações da obra de Vygostsky na educação especial. In: DANIELS, H. (Org.). Vygostsky em foco: pressupostos e desdobramentos. São Paulo: Papirus: Frôntis, 1998. FORTES, V. G. G. de F. A inclusão da pessoa com deficiência visual na UFRN: a percepção dos acadêmicos. Dissertação de mestrado. [Não publicada]. Natal-RN: UFRN, 2005. GATTI, B. A. et al. Formação de professores para o ensino fundamental: instituições formadoras e seus currículos; relatório de pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Fundação Vitor Civita, 2008. 2v. LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1998.
28
MANTOAN, M. T. E.; PRIETO, R. G.; ARANTES, V. A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. MEC – Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica/Secretaria de Educação Especial; SEESP. Brasília, 2001. MONTOAN, M. T. E. Entrevista para a Revista Nova Escola, maio 2005. SÁ, E. D. de S.; CAMPOS, I. M. de; SILVA, M. B. C. S. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. SILVA, L. G. dos S. Inclusão: uma questão, também, de visão. O aluno cego na escola comum. João Pessoa: Editora Universitária, 2008. TEZANI, T. C. R. Formação de professores para a educação inclusiva: algumas perspectivas. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. 20, p. 447-458, jul./dez. 2003. Disponível em: <http://www.uneb.br/revistadafaeeba/files>. Acesso em: 21 maio 2013.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Artigo 03 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 29-41
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química Dispose of Drugs as a Proposal Teaching Sequence for Chemistry Classes Lidiana Oliveira Silva1 Juliana do Nascimento Gomides2
Resumo O presente artigo teve como objetivo elaborar propostas de sequências didáticas para a disciplina de Química do Ensino Médio (E.M), utilizando, como tema, o descarte de fármacos. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tipo qualitativa, elaborando propostas de sequências didáticas para aulas de Química na 1ª e 2ª séries do E.M., cada uma com duração de duas horas. Na primeira sequência, foi trabalhado o uso irracional dos fármacos com o conteúdo de classificação da matéria de forma contextualizada. Já na segunda sequência, foi trabalhada a composição química dos fármacos e a tabela periódica, relatando a história da tabela juntamente com a composição química dos fármacos mais consumidos no Brasil. Na terceira sequência, foi desenvolvida a proposta de aula com o tema descarte de fármacos, seu impacto no meio ambiente e as formas corretas de descarte, juntamente com o conteúdo de Cinética Química. Com base nos resultados, conclui-se ser possível criar propostas de sequências didáticas com o tema descarte de fármacos, juntamente com os conteúdos de química do E.M. Palavras-chave: Meio ambiente; Medicamento; Proposta didática.
1. Aluna do curso de Química Licenciatura do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara-GO (ILES/ULBRA). 2. Professora Mestre na área de concentração: Solos e nutrição de plantas.
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
Abstract This assignment aimed to draw up proposals for didactic sequences for the subject of high school chemistry, using the theme disposal of drugs. Carrying out a qualitative study literature, we elaborated proposals of didactic sequences for chemistry classes in 1st and 2nd grades in high school, lasting two hours each class. In the first sequence, we worked on the irrational use of drugs with a contextualized discussion on the topic classification of matter. In these sequences, the chemical composition of drugs was worked and the periodic table, reporting on the history of the table along with chemical composition of the most consumed drugs in Brazil. In the third sequence, the proposed class was developed with the disposal of drugs, their impact in the environment and the correct way of disposing along with chemical kinetics. Based on the results, it was concluded that it is possible to create proposals for didactic sequences about disposal of drugs, along with chemical content in high school. Key-words: Environment; Medicine; Didactic sequences.
1
Introdução
facilitando, assim, o seu aprendizado. Segundo
Os fármacos são produtos conhecidos comer-
Silva et al. (2009), contextualizar é utilizar a vivên-
cialmente como medicamentos que contêm subs-
cia e as experiências dos alunos para construir um novo
tâncias químicas com finalidades de diagnosticar,
conhecimento, mostrando um novo caminho para o
prevenir, curar e aliviar doenças, considerando que
ensino (p. 9).
os seus efeitos se devem às substâncias químicas
Segundo Chassot (2004), o ensino de Química
ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas
baseado no cotidiano do aluno é como um aparato
cientificamente (Anvisa, 2010).
ou uma simples explicação para se estudar e facili-
Estes medicamentos estão presentes no coti-
tar a explicação dos conteúdos químicos, servindo
diano de toda a população e são necessários para
de instrumento para que os educandos cresçam e
a conservação da saúde humana, mas quando a
tenham domínio sobre a natureza, construindo o
enfermidade passa e o medicamento não tem mais
hábito investigatório e transformando-se em um
utilidade, ele é armazenado em casa ou é descar-
cidadão melhor.
tado em pias, vasos sanitários, lixo comum, entre outros (Gasparini; Gasparini; Frigieri, 2011).
Diante destes fatos, questionou-se: há possibilidade de elaborar propostas para a disciplina
Estes fármacos descartados de maneira incorreta poderão liberar vários compostos quími-
de Química utilizando como tema o descarte de fármacos?
cos que, se não forem tratados de forma correta,
Segundo Pazinato et al. (2012), o descarte de
podem afetar o meio ambiente, causando a polui-
fármacos auxilia na contextualização das aulas
ção da água e do solo, além de causar intoxicação
de Química, pois o professor consegue relacionar
no ser humano (Hoppe; Araújo, 2012).
dentro do tema vários conceitos químicos que são
O descarte de fármacos abrange vários aspec-
estudados no conteúdo programático para o Ensino
tos químicos, físicos e ambientais que podem ser
Médio. Além de trabalhar a Química, o profes-
trabalhados dentro da sala de aula, como uma
sor pode trabalhar o lado social com os alunos,
forma de contextualizar as aulas de Química, tra-
incluindo a conscientização do impacto ambiental
zendo a realidade do aluno para a sala de aula e
causado pelo descarte incorreto dos fármacos.
30
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
Neste sentido, este projeto buscou de forma
para a disciplina de Química, investigando conteú-
geral, elaborar propostas de sequências didáticas
dos da 1ª e 2ª séries do E.M. que pudessem ser tra-
para a disciplina de Química do Ensino Médio
balhadas em sala de aula, a partir do tema descarte
(E.M.), utilizando como tema o descarte de fár-
de fármacos.
macos. De forma específica, procurou-se analisar
A
partir
dos
conceitos
apresentados,
quais as principais formas que são descartados
elaboraram-se três sequências didáticas, cada uma
pela população, avaliar o impacto ambiental que
com duração média de duas horas. Assim, os con-
pode ser causado pelo descarte incorreto e inves-
teúdos relacionados ao descarte de fármacos foram
tigar os conteúdos de Química da 1ª e 2ª séries do
divididos entre as sequências didáticas: na pri-
Ensino Médio que pudessem ser trabalhados nas
meira, abordou-se o uso racional e irracional dos
sequências didáticas.
fármacos; na segunda, a composição química dos
Acredita-se que o descarte de fármacos pode
fármacos e; na terceira, o descarte de fármacos,
ser trabalhado como uma forma de contextuali-
seu impacto no meio ambiente e as formas corre-
zar as aulas de Química no Ensino Médio, facili-
tas de descarte. Os recursos didáticos utilizados
tando o aprendizado do aluno, além de relacionar
são: quadro, giz, multimídia, textos informativos,
o impacto ambiental causado pelo descarte inade-
livros didáticos e bulas de fármacos.
quado. Segundo Fary et al. (2012), o descarte de
As estratégias didáticas que foram propostas
fármacos pode ser desenvolvido como proposta
poderão ser utilizadas pelos professores como
para aulas de Química, fazendo com que os alunos
complementação das aulas de Química, podendo
se envolvam mais nas aulas e como consequência
ser trabalhadas na forma de minicurso, com o obje-
tenham o aprendizado mais significativo, além de
tivo de revisar conteúdos já aplicados em sala de
incentivar os alunos a descartar de forma correta.
aula. As sugestões das sequências terão conteúdos
2
sobre o descarte dos fármacos, podendo serem tra-
Metodologia
balhados com os alunos os conceitos químicos e
A investigação para a elaboração deste trabalho
a conscientização sobre o impacto ambiental cau-
se qualifica como pesquisa bibliográfica de caráter
sado pelo descarte incorreto de fármacos no meio
qualitativo, sendo baseada em materiais já elabo-
ambiente, sendo assim, uma forma de contextuali-
rados, como artigos científicos, livros, revistas,
zar os conteúdos da disciplina de Química Geral.
monografias e teses (Marconi; Lakatos, 2010). A pesquisa bibliográfica é baseada em materiais já escritos, permitindo que o investigador tenha um
3
Resultados e discussão
leque de informações e possibilitando, assim, um
Foram analisados os conteúdos de Química
trabalho mais abrangente com informações históri-
da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio que pudessem
cas e reais. Tem, como técnica de pesquisa, a forma
ser trabalhados juntamente com o tema sobre des-
qualitativa, pois busca entender o tema de forma
carte de fármacos, para a elaboração de propostas
abrangente, trabalhando com novos argumentos e
de sequências didáticas, com o objetivo de auxi-
corrigindo possíveis erros (Gil, 2002).
liar na contextualização das aulas de Química do
A pesquisa foi realizada durante o segundo
E.M.
semestre de 2013, até o primeiro semestre de 2014,
As propostas de sequências didáticas elabora-
com o propósito de elaborar sequências didáticas
das também poderão ser trabalhadas nas escolas na
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
31
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
forma de minicurso para todas as séries do E.M.
debate, podendo ser alteradas conforme a necessi-
dependendo da necessidade do professor.
dade apresentada durante a aula.
Conforme mencionado anteriormente, foram
Após a discussão sobre como a população con-
elaboradas três sequências didáticas que estão
some os fármacos em suas residências, o profes-
relacionadas no Quadro 1 e poderão ser trabalha-
sor poderá introduzir o assunto, relatando que os
das com os conteúdos programáticos de Química
fármacos são adquiridos de várias maneiras, den-
do E.M.
tre elas, amostra grátis, automedicação e super-
3.1
prescrição, sendo estas inadequadas às formas de
Sequência didática 1. Uso racional e irracional dos fármacos
adquiri-los, pois, na maioria das vezes, não são consumidos totalmente e acabam sendo armaze-
A primeira sequência didática poderá ser ini-
nados ou descartados de forma incorreta, gerando,
ciada com um debate sobre o uso racional e irra-
assim, um acúmulo de resíduos químicos no meio
cional dos fármacos, no qual o professor levantará
ambiente.
questionamentos sobre o assunto da aula, podendo
Os fármacos que a população consome são
observar o que os alunos já conhecem sobre o
vendidos nas drogarias de várias formas farma-
assunto. Segundo Altarugio, Diniz e Locatelli
cêuticas, entre elas estão os comprimidos, as
(2010), o debate faz com que o aluno argumente
cápsulas, as soluções, aerossóis, pomadas e etc.
sobre o assunto, e contra-argumente, fazendo com
Estas formas abrangem os três estados físicos da
que sejam apresentadas mudanças e opiniões den-
matéria que são: sólido, líquido e gasoso. Segundo
tro do contexto apresentado na aula, sendo, tam-
Brown, Lemay e Bursten (2007), a matéria pode
bém, uma forma de preparar o aluno para ser um
ser classificada de duas maneiras, a primeira pelo
cidadão crítico.
seu estado físico e a segunda pela sua composição.
O Quadro 2 apresenta algumas questões que
Considerando os estados físicos, pode-se destacar
poderão ser abordadas pelo professor durante o
que, no estado sólido, as moléculas estão todas
Quadro 1. Sequências didáticas sobre o impacto do descarte de fármacos. Sequências didáticas
Conteúdos sobre descarte de fármacos
Conteúdo Químico
Séries do E.M.
Recursos didáticos
1ª
Uso racional e irracional dos fármacos Classificação da matéria
1ª
Data show, quadro-giz.
2ª
Composição química dos fármacos
1ª
Data show, quadro-giz e fármacos e suas respectivas bulas.
3ª
Descarte de fármacos e seu impacto no Cinética química e a velo meio ambiente e as formas corretas de cidade das reações descarte
2ª
Data show, quadro-giz, didático e fármacos e respectivas bulas.
Tabela Periódica
texto
informativo,
livro suas
Quadro 2. Questões para debate: o uso irracional dos fármacos. Questões para discussão 1. Os fármacos que são consumidos em sua casa são adquiridos com receituário médico? 2. Na sua casa, alguns fármacos são adquiridos por influência de propagandas da mídia? 3. Explique: O que você conhece sobre uso racional e irracional de fármacos?
32
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
agrupadas, tendo sua forma e volume definido.
Após a discussão da Figura 1, o professor
O líquido, por sua vez, tem as moléculas mais
pode argumentar que o efeito do fármaco no orga-
agrupadas, mas não totalmente, fazendo com que
nismo depende da composição física em que ele se
haja movimento entre elas e, no caso do gás, sem
encontra. O organismo absorve mais rapidamente
volume nem forma definida, pois suas moléculas
um fármaco na forma líquida, pois não possui
estão dispersas umas das outras.
retardamento de absorção, como, por exemplo, a
A Figura 1 mostra um esquema que poderá
dipirona® líquida, que leva entre alguns minutos
ser utilizado pelo professor para exemplificar de
até uma hora para começar a agir, enquanto um
forma sistematizada as mudanças físicas da maté-
comprimido do mesmo fármaco pode levar de uma
ria, relatando que:
até 12 horas para fazer o mesmo efeito, devido ao seu revestimento que apresenta maior estabili-
A fusão é a passagem do estado sólido para o líquido e a vaporização é a passagem do estado líquido para o estado gasoso. Esta última passagem pode ocorrer de três maneiras: a) quando o líquido passa para o estado gasoso abaixo da temperatura de ebulição, trata-se da evaporação; b) quando o líquido passa para o estado gasoso na temperatura de ebulição, trata-se da ebulição; c) quando o líquido passa para o estado gasoso acima da temperatura de ebulição, trata-se da calefação. A liquefação, por sua vez, é a passagem do estado gasoso para o líquido. A solidificação é a passagem do estado líquido para o sólido, e a sublimação é a passagem direta do estado sólido para o gasoso. O processo inverso também é chamado de sublimação ou, às vezes, de ressublimação (Maia; Bianchi, 2007, p. 10).
dade e libera doses controladas para o organismo (Aulton, 2005). O uso inadequado e excessivo dos fármacos faz com que haja alguns problemas de saúde provenientes da grande concentração no organismo, como, por exemplo, a resistência antimicrobiana, injeções não estéreis à transmissão da hepatite, e o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV/AIDS) (Vidotti; Silva; Hoefler, 2002). Desta maneira, é preciso que seja feito o uso racional dos fármacos, ou seja, sua utilização somente em casos de doenças e não por influência de propaganda da mídia; sua venda deve ser feita apenas com a apresentação de receituário, sua fabricação deve ser na dose correta de utilização e
sublimação (cristalização) solidificação Sólido
condensação (liquefação) Líquido
fusão
Gasoso vaporização
sublimação
Figura 1. Estados da matéria. Fonte: Adaptado de Maia e Bianchi (2007).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
33
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
a prescrição médica deve ser sem exageros, pois
A partir da Figura 2, o professor deve con-
este é um dos métodos de evitar o uso irracional
ceituar que a matéria é tudo aquilo que ocupa
dos fármacos e seu descarte incorreto (João, 2011).
um espaço e possui massa. Por exemplo, os fár-
Para a melhor visualização dos alunos, o pro-
macos que são utilizados para curar as doenças,
fessor pode utilizar como recurso didático o vídeo:
podem ser divididos em matéria heterogênea,
Os perigos da automedicação e da prescrição indis-
pois apresenta composição química não uniforme,
criminada de medicamentos. Este vídeo mostra um
ou seja, apresentando, portanto, fases distintas e
especialista explicando como os fármacos devem
homogêneas que têm sua composição uniforme.
ser usados pelos pacientes, quais doenças podem
Neste momento, pode-se exemplificar por que os
ser causadas pela grande quantidade de fármacos
fármacos no estado líquido são mais eficazes na
no organismo, além de relatar a opinião das pessoas
absorção pelo organismo: pois apresentam aspecto
sobre o assunto. A partir do vídeo, pode-se argu-
homogêneo, uniforme, fase líquida, e não apresen-
mentar que o fármaco é uma mistura, pois apresenta
tam retardamento de absorção.
mais de uma substância química. Dentro desta linha
Por outro lado, a matéria homogênea pode ser
de raciocínio, pode-se introduzir o conteúdo de
classificada em mistura e substância pura que, por
classificação da matéria (Alvarenga, 2012).
sua vez, é subdividida em: “substância pura com-
Neste momento, o professor poderá trabalhar
posta que são aquelas constituídas por dois ou mais
com a Figura 2, que mostra de forma simplifi-
elementos e substância pura simples é quando há
cada e esquemática como a matéria é classificada,
apenas um único elemento”. Alguns exemplos de
podendo ser uma forma simples de conduzir a
misturas homogêneas são os xaropes que apresen-
explicação do conteúdo durante a aula.
tam aspecto uniforme, mas não é substância pura,
Matéria
Não
Sim
É toda uniforme?
Mistura heterogênia
Homogênia
Não
Tem composição variável?
Mistura homogênia (solução)
Substância pura
Não
Pode ser separada em substâncias mais simples?
Elemento
Sim
Sim
Composto
Figura 2. Classificação da matéria. Fonte: Adaptado de Brown, Lemay e Bursten (2013).
34
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
A experimentação no ensino de Química é uma
pois nele há vários componentes químicos (Maia;
forma de interligar a teoria e a prática, desenvol-
Bianchi, 2007). Considerando o contexto apresentado, o pro-
vendo o raciocínio lógico e a compreensão, pois
fessor poderá conduzir uma aula experimental
durante e após a realização da atividade expe-
com os alunos sobre mistura homogênea e hete-
rimental, é preciso que o aluno faça a interpre-
rogênea pois, segundo Guimarães (2009), a expe-
tação dos resultados obtidos, o que torna a aula
rimentação nas aulas de Química é uma forma de
interessante e contextualizada (Farias; Basaglia;
contextualização, pois facilita o desenvolvimento
Zimmermann, 2008).
da aula e a visualização do conteúdo e melhora o 3.2
ensino e a aprendizagem. A experimentação deverá ser conduzida pelos
Sequência didática 2. Composição química dos fármacos
alunos, mas com o auxílio do professor, sendo inti-
A segunda sequência pode ser iniciada com a
tulada: identificação de misturas. Para a realização
exibição de um vídeo intitulado Composição dos
da prática serão necessários os seguintes materiais:
medicamentos, em que o professor explica, de
cinco Béqueres ou copos de vidro transparentes,
forma interativa e contextualizada, sobre o princípio
água, óleo, álcool, areia, sal e Amoxílina solú-
ativo, excipiente, coadjuvante terapêutico, coadju-
vel. Inicie a prática enumerando os copos de 1 a
vante técnico e os adjuvantes que são as principais
5 e colocando nos frascos os reagentes como na
partes que compõem os fármacos (Garcia, 2013).
®
sequência a seguir (Maia; Melo, 2013).
Dentro deste conceito, o professor poderá apre-
Após o procedimento experimental, o profes-
sentar aos alunos a bula de um fármaco bastante
sor poderá levantar um debate relacionando se
utilizado pela comunidade, o Paracetamol, apre-
os tipos de misturas encontradas nos recipientes
sentando os principais componentes que ela possui
foram homogêneas ou heterogêneas, a quantidade
e mostrando que a composição química dos fárma-
de fases e componentes químicos que podem ser
cos é encontrada na bula, como mostra a Figura 4.
observados em cada mistura. Este é um método
Segundo dados da Anvisa (2010), a bula deve con-
de avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos
ter todas as informações sobre o produto de forma
alunos durante as aulas que desperta no aluno o
clara e objetiva, facilitando, assim, o uso correto
interesse pelo estudo químico (Fary et al., 2012).
do fármaco pelos pacientes.
Figura 3. Experimento para identificação de misturas. Fonte: Silva (2014).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
35
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
Os excipientes citados na Figura 4 são componentes químicos presentes nos fármacos com a finalidade de auxiliar na preparação, melhorar a função do princípio ativo e estabilizar a parte química e física, mantendo a sua eficiência durante o uso e estocagem (Pessanha et al., 2012).
COMPOSIÇÃO Medicamento Anvisa® 500 mg: cada comprimido revestido contém 500 mg de paracetamol. Excipientes: ácido esteárico, amido pré-gelatinizado, hipromelose, macrogol e povidona. Medicamento Anvisa® 750 mg: cada comprimido revestido contém 750 mg de paracetamol. Excipientes: ácido esteárico, amido pré-gelatinizado, hipromelose, macrogol e povidona.
de acordo com as propriedades químicas e físicas semelhantes. Nas colunas verticais estão os grupos ou famílias e nas fileiras horizontais estão os períodos, sendo que os elementos estão divididos em dois grupos principais, o grupo A são os elementos representativos e o B, os elementos de transição (p. 66).
A tabela periódica que hoje é usada foi construída a partir das teorias feitas por Dmitri Ivanovitch Mendeleev (1834-1907) que, em 1869, enquanto escrevia um livro de Química e estudava as propriedades dos elementos até então descobertos, organizou os elementos em ordem crescente de
Figura 4. Bula do Paracetamol.
massa atômica (A). Nesta tabela, os elementos
Fonte: Anvisa (2009).
com propriedades semelhantes ficavam na mesma fileira; além disso, ele previu que outros elementos
Vinculado a este conceito, o professor poderá relacionar a composição química dos fármacos
seriam descobertos deixando um espaço para eles (Kotz; Treichel; Weaver, 2013).
com o conteúdo da tabela periódica e utilizar as
Após essas descobertas, Mendeleev previu que
bulas como recurso didático durante as aulas. Neste
as propriedades de um elemento eram ligadas à sua
momento, torna-se oportuno trabalhar durante as
massa. Mas, em 1913, Moseley, um jovem cien-
aulas com os fármacos: Buscopan Composto®,
tista inglês, corrigiu esta previsão, pois, em seus
Dorflex® e Ciclo 2®; pois, segundo o Globo (2013),
estudos, ele descobriu que os raios X emitidos por
estes fármacos estão entre os dez mais consumidos
um elemento estavam relacionados com o número
no Brasil nos últimos anos, sendo que nem todos
atômico (Z); portanto, a lei da periocidade química
eles precisam de prescrição médica para ser adqui-
se dá através da ordem crescente de número atô-
ridos pela comunidade.
mico (Kotz; Treichel; Weaver, 2013).
O professor fará a análise das bulas dos fárma-
Na tabela periódica os elementos são separados
cos citados anteriormente e, juntamente com os
por algumas cores, que significam suas caracterís-
alunos, divididos em grupos, observarão a com-
ticas comuns. Dentro deste conceito, o professor
posição química e cada grupo fará a pesquisa de
poderá trabalhar também os grupos da tabela, rela-
um fármaco diferente. Todas as bulas dos fárma-
cionando-os com os compostos químicos encon-
cos vendidos no Brasil estão disponíveis no bulá-
trados pelos alunos no trabalho de grupo feito ante-
rio eletrônico da Anvisa. Após a determinação da
riormente. Nela, cada grupo de alunos irá construir
composição química de cada fármaco, o professor
uma parte da tabela com os grupos da tabela peri-
deverá relatar que todos estes elementos químicos
ódica, como mostra a Tabela 1, e destacar os ele-
estão contidos na tabela periódica.
mentos encontrados no seu fármaco. Através da
Segundo Kotz, Treichel, Weaver (2013), os elementos da tabela periódica são organizados
36
construção da tabela, o aluno terá conhecimento sobre nomenclatura, grupo e símbolo químico.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
A partir do contexto apresentado durante esta
Tabela 1. Grupos da tabela periódica.
sequência didática, o aluno saberá reconhecer e
Nomes de alguns grupos representativos Grupo
Nome
Elementos
1A
Metais alcalinos
Li, Na, K, Rb, Cs, Fr
2A
Metais alcalinos terrosos
Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Ra
7A
Halogênios
F, Cl, Br, I, At
8A
Gases Nobres (ou gases raros) He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn
interpretar os símbolos químicos nos rótulos dos fármacos e outros produtos químicos, compreender a Química como ciência proveniente dos estudos humanos através dos anos, e a presença dos compostos químicos em diferentes setores, como
Fonte: Adaptado de Brown, Lemay e Bursten (2007).
farmacêutico, veterinário e doméstico, sendo estas Após a construção da tabela, o professor poderá introduzir o conceito de estrutura atômica, relatando que o átomo é composto por um núcleo
habilidades e competências exigidas no PCNEM, como forma de promover um melhor ensino-aprendizado (Brasil, 1999).
central muito pequeno e que contém prótons
3.3
(carga +) e nêutrons (carga 0) onde concentra-se a maior parte da massa dos átomos e a eletrosfera constituída de elétrons (carga -1). Na concepção de Russel (1994), o átomo individual é:
A terceira sequência de aula deverá ser aplicada com alunos da 2ª série do E.M., sendo iniciada com a apresentação de um vídeo sobre o descarte dos fármacos intitulado Animação Descarte
Geralmente identificado especificando dois números inteiros: o número atômico Z e o número de massa A. O número atômico Z é o número de prótons no núcleo. O número de massa A é o número total de prótons mais nêutrons no núcleo. Pode-se ver destas definições que o número de nêutrons no núcleo é igual a A – Z. Um átomo específico é identificado pelo símbolo do elemento com número atômico Z como um índice inferior e o número de massa A como um índice superior. Assim, ZX (p. 219).
Consciente de Medicamentos. O vídeo mostra a rota que os fármacos seguem após serem descartados. Relata também que eles podem se tornar manchas tóxicas capazes de contaminar o solo, a água e apresentar sérios riscos às espécies animais e vegetais. Após o vídeo, poderá ser feito um debate sobre as formas que os alunos vêm descartando os fármacos que são utilizados em suas residências (Varela, 2012).
Vinculado a esta concepção, o professor poderá citar que é possível calcular o número de prótons (Z), nêutrons (n) e elétrons (e), através da fórmula 1. A = Z + n
Sequência didática 3. Descarte de fármacos e seu impacto no meio ambiente
(1)
Assim, serão utilizados como base para fazer os
Segundo Ferreira (2007), a utilização do vídeo como recurso didático é importante, pois chama a atenção dos alunos através da animação, imagens e linguagem diferenciada. Assim, é preciso que o vídeo tenha conteúdo adequado e bastantes ilustrações sobre o tema proposto.
cálculos, os componentes químicos dos fármacos
Após a discussão sobre as formas de descarte
utilizados durante os trabalhos em grupo. Por exem-
realizadas pelos alunos no ambiente doméstico,
plo, um dos componentes presentes no paracetamol
o professor deverá relatar que existem duas vias
é o ácido esteárico, cuja fórmula é C18H36O2. Deste
principais em que os fármacos podem ser descar-
modo, serão feitos os cálculos utilizando o car-
tados: a primeira, no ambiente urbano, na qual as
bono, hidrogênio e oxigênio, pois estão presentes
pessoas descartam os fármacos nas pias, vasos
no fármaco em estudo (Anvisa, 2009).
sanitários, lixo doméstico, na excreção urinária ou
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
37
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
fecal; a segunda via é a rural, que se destaca pelo
gelada. Coloque nos três primeiros copos um com-
uso contínuo de agentes antiparasitários, antibióti-
primido efervescente, no quarto, o comprimido tri-
cos para crescimento dos animais e hormônios nas
turado e no quinto ¼ de um comprimido, cronome-
rações. Estas duas formas de descarte são prejudi-
trando o tempo de cada reação (Maia; Melo, 2013).
ciais ao meio ambiente, pois se espalham para o
Após a realização da atividade experimental, o
solo e meios aquáticos, e sua decomposição, muitas
professor poderá relatar o que foi visto durante o
vezes, não acontece devido aos componentes quí-
experimento e se houve a ocorrência de algumas
micos presentes nos fármacos (Gil; Mathias, 2005).
situações que interferiram na velocidade da reação.
Vários fármacos já foram identificados em
A primeira é o efeito da temperatura, a segunda, a
águas superficiais, mas os antibióticos e estrogê-
superfície de contato e, a terceira, a concentração.
nios são os mais preocupantes devido à capacidade
A primeira situação encontrada durante o expe-
que as bactérias têm de criar resistência a eles,
rimento é o efeito da temperatura, na qual a rea-
além de serem usados em grandes quantidades
ção do comprimido efervescente foi mais rápida
pela medicina humana e veterinária. Cabe ainda
na presença da água em temperatura elevada e
ressaltar que os estrogênios têm afetado a cadeia
mais lenta quando colocada dentro da água com
reprodutiva dos animais aquáticos através da femi-
baixa temperatura. Isto ocorre na maioria das
nização dos peixes e répteis machos, podendo cau-
reações, pois quando há aumento da temperatura
sar ainda o desenvolvimento de alguns tipos de
a constante da velocidade também é aumentada,
cânceres nos organismos vivos presentes nas águas
gerando, assim, uma velocidade maior (Brown;
(Bila; Dezotte, 2003).
Lemay; Bursten, 2005).
A feminização dos animais é o resultado
A segunda situação é o efeito da superfície de
das reações químicas que acontecem no meio
contato na velocidade da reação, que é vista durante
ambiente, provenientes do descarte incorreto dos
o experimento. Quando o comprimido triturado é
fármacos, que podem ser estudadas através do con-
colocado na água em temperatura ambiente, ele
teúdo de Cinética Química aplicado na 2ª série do
se dissolve bem mais rápido do que comparado
E.M.. Cinética Química é o estudo da velocidade
ao comprimido inteiro. Pois, quando se coloca o
das reações químicas e os fatores que interferem
comprimido triturado, aumenta-se a superfície de
em sua velocidade (Maia; Bianchi, 2007).
contato do fármaco com a água, fazendo com que
Segundo Brown, Lemay e Bursten (2007) são quatro os fatores que interferem na velocidade das
a reação ocorra mais rapidamente (Kotz; Treichel; Weaver, 2013).
reações: o estado físico dos reagentes, as concen-
A concentração é outro fator interferente na
trações dos reagentes, a temperatura na qual a rea-
velocidade da reação, pois, quando é aumentada
ção ocorre e a presença de um catalizador.
a concentração de um ou mais reagentes, a reação
Para melhor explanação do conteúdo, o pro-
ocorre mais rapidamente. Lembrando que, se a
fessor poderá realizar uma atividade prática sobre
reação depender de vários reagentes, a velocidade
os fatores que afetam a velocidade de uma reação,
pode ser determinada pela concentração de um
utilizar comprimidos efervescentes, cronômetro,
reagente ou de todos. Sendo assim, a concentração
copos transparentes, água gelada, quente, e em
é fator determinante para a velocidade da reação,
temperatura ambiente. Deve-se iniciar a prática
pois esta é a terceira situação do experimento, em
colocando a água nos copos na seguinte sequência:
que, quanto mais concentrado o comprimido, mais
1º, 4º e 5º em temperatura ambiente, 2º quente, 3º
rápida será a reação (Russel, 1996).
38
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
Segundo Kotz, Treichel e Weaver (2013), a velo-
Nesse conceito, é importante ressaltar que
cidade de uma reação química refere-se à variação na
existem reações de primeira ordem, em que a velo-
concentração de uma substância por unidade de tempo
cidade só depende de um único reagente elevado à
(p. 616), podendo ser calculada a partir da fórmula 2:
primeira potência, e reações de segunda ordem, em
u na concentraçao u variaçao
que são necessários dois reagentes com concentra (2)
ções elevadas à primeira potência ou a concentra-
Em consenso com o raciocínio anterior, torna-
A partir da lei de velocidade, é possível cal-
u = Velocidade da reaçao
intervalo de tempo
-se importante ressaltar que o efeito do fármaco está diretamente ligado com a sua concentração, pois, quanto mais concentrado estiver o fármaco, mais rápida será a sua velocidade de absorção pelo organismo (Auton, 2005). Sendo assim, são calculados, por exemplo, a velocidade e o tempo que o fármaco reagirá dentro do organismo. Assim será possível calcular a variação de velocidade, tempo e concentração de todas as reações químicas, sendo que a unidade de medida comumente utilizada para os cálculos é a concentração em quantidade de matéria (Brown; Lemay; Bursten, 2007). A velocidade das reações químicas está diretamente ligada com o tempo e a concentração, expressa através da lei da velocidade ou equação da velocidade (Fórmula 3): Velocidade = k [A]m [B]n
centração molar de A e [B] é a concentração molar de B. Conforme Kotz, Treichel e Weaver (2013), a
[...] o fato de que a velocidade da reação é proporcional às concentrações dos reagentes, sendo cada concentração elevada a alguma potência. É importante reconhecer que os expoentes m e n não são, necessariamente, os coeficientes estequiométricos da equação química balanceada. Os expoentes devem ser determinados experimentalmente. Com frequência, são números inteiros positivos, mas podem ser números negativos, frações ou zero (p. 623).
cular a velocidade com que os fármacos e outros resíduos sólidos levam para se degradar no meio ambiente. Entretanto, segundo Bila e Dezotti (2003), as reações químicas provenientes do descarte de fármacos ainda são desconhecidas e pouco estudadas. Assim, não há como determinar concretamente os efeitos dos fármacos no meio ambiente. Nesta direção, João (2011) explica que as reações químicas provenientes do descarte incorreto podem ser evitadas através da redução de geração dos resíduos, buscando adequar os fármacos às condições de tratamento do paciente, ou seja, fabricar fármacos em proporções menores, além da responsabilidade que os profissionais da saúde devem ter em fazer o controle de estocagem, evitando assim o vencimento e possíveis sobras, sendo estes os principais motivos do descarte. Um dos métodos adequados para se descartar
(3)
onde k é a constante da velocidade, [A] é a con-
equação da velocidade expressa:
ção do reagente elevada à segunda potência.
os fármacos é a incineração, pois é um processo de oxidação à alta temperatura, que transforma os resíduos em matérias inertes, com menos peso e volume. Assim, esta seria uma forma de evitar o descarte incorreto dos fármacos no meio ambiente e, consequentemente, a diminuição da poluição dos meios aquáticos e terrestres, Mas a incineração emite gases poluentes para a atmosfera que também são prejudiciais; entretanto, estes gases são pouco agressivos quando comparados ao descarte incorreto dos fármacos no ambiente terrestre (Hoppe; Araujo, 2012). Dentre estes conceitos apresentados, o aluno desenvolverá a competência de resolver situações-problemas, envolvendo reações químicas e identi-
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
39
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
ficando irregularidades e invariantes sobre a velocidade das reações. Quando o aluno perceber a importância da Química nos estudos sobre o meio ambiente, o descarte incorreto dos fármacos e a sustentabilidade, ele se tornará um cidadão melhor
4
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Brasília: MEC; SEMTEC, 1999.
e com atitudes sociais sustentáveis (Brasil,1999).
BROWN, T. L.; LEMAY, H. E. Jr.; BURSTEN, J.R. Química a Ciência Central. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
Conclusão
CHASSOT, Á. I. Para que(m) é útil o ensino? 2. ed. Canoas: Ed. ULBRA, 2004.
Os resultados obtidos comprovam ser possível criar sequências didáticas relacionando o descarte dos fármacos com o ensino de Química da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, como forma de contextualização das aulas, facilitando o ensino-aprendizagem dos alunos, além de desenvolver o senso crítico e a preocupação social com o meio ambiente, tornando-os cidadãos melhores e mais críticos. Faz-se oportuno ressaltar que o professor poderá complementar as aulas de Química com os conteúdos aqui propostos. Podem-se alterar as sequências conforme a sua realidade, ressaltando ainda que, durante cada aula, foram usados recursos didáticos diferenciados, como os vídeos e aulas práticas, com o intuito de facilitar a aprendizagem dos alunos.
5
BILA, D. M.; DEZOTTE, M. Fármacos no meio ambiente. Revista Química Nova, v. 26, n. 4, p. 523530, 2003.
Referências ALTARUGIO, M. H.; DINIZ, M. L.; LOCATELLI, S. W. O debate como estratégia em aulas de Química. Química Nova na Escola, v. 32, n. 1, fev. 2010. ALVARENGA, G. Os perigos da automedicação e a prescrição indiscriminada de medicamentos. Abril, 2012. Vídeo 15min. Disponível em: <http://www. youtube.com/watch?v=VqHo7XVNwhg>. Acesso em: 20 mai 2014. ANVISA. Consulta Pública nº 9. 23 mar. 2009, p. 1-358. ______. O que devemos saber sobre medicamentos. p. 1-104, 2010. ______. Lei nº 5.092, 3 abr. 2013. Disponível em: <http:// www.legisweb.com.br/legislacao/?id=253035>. Acesso em: 20 abr. 2014. AULTON, M. E. Delineamento de formas farmacêuticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. Cap. 27, p. 403-443.
40
FARIAS, C. S.; BASAGLIA, A. M.; ZIMMERMANN, A. A importância das atividades experimentais no ensino de Química. 1º Congresso Paranaense de Educação em Química. Umuarama, 2008. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/cpequi/Completospagina/18274953820090622.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2014. FARY, B. A. et al. Funções orgânicas aliadas à conscientização ambiental. III Simpósio Nacional de ensino de ciência e tecnologia, Ponta Grossa, 2012. Disponível em: <https://www.google. com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=w eb&cd=1&ved=0CCwQFjAA&url=http%3A% 2F%2Fwww.sinect.com.br%2F2012%2Fdown. php%3Fid%3D2797%26q%3D1&ei=xTE4U t72Gri-4AO3toHoDw&usg=AFQjCNGOCiTjORy1osk0QMnKcqeHReSRLQ>. Acesso em: 21 ago. 2013. FERREIRA, S. M. M. Os recursos didáticos no processo de ensino-aprendizagem. Cabo Verde, set. 2007. Disponível em: <http://bdigital.cv.unipiaget. org:8080/jspui/bitstream/10964/142/1/Sheila%20 Ferreira.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2014. GARCIA, F. Composição dos Medicamentos. Ciência da saúde. 2013. Vídeo 15 min. Disponível em: <http://www.cienciadasaude.com.br/index. php?option=com_videoflow&task=play&id=13&ta b=two&add=0&Itemid=323>. Acesso em: 23 maio 2014. GASPARINI, J. do C.; GASPARINI, A. R.; FRIGIERI, M. C. Estudo do descarte de medicamentos e consciência ambiental no município de Catanduva-SP. Revista Ciência e Tecnologia, v. 2, n. 1, p. 38-51, 2011. Disponível em: <http://www.fatecjab.edu.br/ revista/2011_v02_n01/4_gasparini.pdf>. Acesso em: 03 set. 2013. GLOBO. Confira a lista dos 10 medicamentos mais vendidos do país. São Paulo, jan. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/confira-lista-dos-10-medicamentos-mais-vendidos-do-pais-7338894>. Acesso em: 23 maio 2014.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Descarte de Fármacos como Proposta de Sequência Didática para Aulas de Química
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2002. GIL, E. de S.; MATHIAS, R. O. Classificação e riscos associados aos resíduos químicos – farmacêuticos. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 2, p. 87-93, 2005. Disponível em: <http://revistas.ufg.br/index.php/REF/ article/viewFile/1954/1887>. Acesso em: 27 set. 2013. GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa. Revista Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, ago. 2009. HOPPE, T. R. G.; ARAÚJO, L. E. B. Contaminação do meio ambiente pelo descarte inadequado de medicamentos vencidos ou não utilizados. Monografias Ambientais REMOA/UFSM, v. 6, n. 6, p. 1248-1262, 2012. JOÃO, W. da S. J. Descarte de medicamentos. Revista Pharmacia Brasileira, n. 82, p. 14-16, 2011. KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. M.; WEAVER, G. C. Química Geral e Reações Químicas. São Paulo: Cengage Learning, 2013. MAIA, D. J.; BIANCHI, J. C. de A. Química Geral: fundamentos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MAIA, S. R. R.; MELO, T. J. Manual de práticas de um laboratório de química com materiais alternativos. Crateús, 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare. net/JessicaRSousa/manual-de-atividades-prticas-gd>. Acesso em: 27 mar. 2014. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
PAZINATO, M, S. et al. Uma abordagem diferenciada para o ensino de funções orgânicas através da temática medicamentos. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 21-25, 2012. PESSANHA, A. F. V. et al. Influência dos excipientes multifuncionais no desempenho dos fármacos em formas farmacêuticas. Revista Brasileira de Farmácia, v. 93, n. 2, p. 136-145, 2012. RUSSEL, J. B. Química Geral. 2. ed. Vol. 1 e 2. Pearson Makron Books, 1994. SILVA, R. T. et al. Contextualização e experimentação: uma análise dos artigos publicados na seção “experimentação no ensino de química” da revista química nova na escola 2000-2008. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências. Dez. 2009. Disponível em: <http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ ensaio/article/viewArticle/217>. Acesso em 12 set. 2013. VARELA, C. Animação Descarte Consciente de Medicamentos. jun. 2012. Vídeo 2 min. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=938Yl9rs1Z8>. Acesso em: 06 maio 2014. VIDOTTI, C. C. F.; SILVA, E. V.; HOEFLER, R. Promovendo o uso racional dos medicamentos: principais componentes. Boletim Farmacoterapêutica, ano VIII, n. 1, dez. 2002/abr. 2003. WARTHA, E. J.; ALÁRIO, A. F. A contextualização no Ensino de Química através do livro didático. Revista Química Nova na Escola, n. 22, p. 42-47, 2005.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
41
Artigo 04 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 42-54
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil An Analysis of the Thematic: Evaluation in Chemistry in Journals Articles of the Area of Teaching in Brazil Fabiele Cristiane Dias Broietti1 Ourides Santin Filho2 Marinez Meneghello Passos3
Resumo Neste artigo, apresentamos resultados da análise de artigos publicados em periódicos nacionais da área de Ensino, os quais possuem como foco temático a avaliação em Química. Os seguintes periódicos fizeram parte da análise: Química Nova, Química Nova na Escola, Investigações em Ensino de Ciências, Ciência & Educação, Ensaio: pesquisa em educação em ciências, Acta Scientiae, Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências e Alexandria − Revista de Educação em Ciência e Tecnologia. Dos 2.338 artigos que formam o acervo consultado, foram localizados apenas 17 relacionados à temática em questão. A seleção desses artigos foi realizada mediante o emprego de palavras-chave e a leitura dos títulos, resumos e, quando necessário, do artigo completo. Por meio dos procedimentos metodológicos e analíticos da análise textual aplicados ao corpus selecionado, foi possível evidenciar algumas considerações, dentre elas a de que o desenvolvimento de pesquisas e, consequentemente, a elaboração de artigos relativos ao campo da avaliação em Química se tornaram mais frequentes a partir do ano de 1. Docente do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR. 2. Docente do Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência e a Matemática, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR. 3. Docente do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática, Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
2005, tendo sido publicados mais de 90% dos artigos analisados; quando buscamos acomodar esses artigos segundo categorias relacionadas à avaliação – constituímos três delas – o uso de instrumentos avaliativos, a análise de questões e/ou programas de avaliação, a avaliação e a formação de professores. Palavras-chave: Avaliação; Química; Periódicos; Análise textual. Abstract This article presents some results from analysis of articles published in national journals of the area of teaching that possess as focus the thematic evaluation in chemistry. The following journals were part of the analysis: Química Nova, Química Nova na Escola, Investigações em Ensino de Ciências, Ciência & Educação, Ensaio: pesquisa em educação em ciências, Acta Scientiae, Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências and Alexandria − Revista de Educação em Ciência e Tecnologia. Among 2.338 articles that make up the collection consulted were located only 17 related to the theme in question. The selection of these articles was performed through the use of keywords and reading the titles, abstracts and when necessary, the full article. Through methodological procedures of textual analysis applied to the selected corpus was possible highlight some considerations: field of evaluation in chemistry became more frequent from 2005, having been published more than 90% of the articles analyzed; when seeking accommodate these articles according to categories − we constitute three of them − the use evaluation instruments, analysis of issues and/or assessment programs and evaluation and teacher education. Key-words: Evaluation; Chemistry; Journals; Textual analysis.
1
Introdução
mapeamento e algumas compreensões, dele advindas, a respeito da avaliação em Química, teríamos
Mapear o que educadores, pesquisadores,
de investigar os cursos superiores relacionados à
estudantes e demais pessoas da área educacional
Química e, ainda, aqueles relativos às ciências da
compreendem por avaliação no ensino de Química
natureza, que trazem a Química em suas grades
pode assumir dimensões difíceis de serem sistema-
curriculares.
tizadas, principalmente em se tratando de um país
Diante de tal dificuldade logística, assumimos
como o Brasil, em que são encontradas em cada
que uma forma de investigar o que pensam os
estado da União e, porque não, em cada escola,
educadores e pesquisadores da área a respeito da
realidades tão distintas. Realidades vividas em ins-
avaliação em Química seria realizar um estudo das
tituições públicas federais, estaduais, municipais e
publicações em periódicos, esperando que essas
privadas, distribuídas em uma rede educacional
diversidades de realidades, de pensamentos e de
com cerca de 8,4 milhões de alunos matriculados,
ações estejam nelas refletidas.
somente no Ensino Médio (Brasil, 2011). Alunos
Perante esse contexto, procuramos inventariar
esses que, necessariamente, terão contato com
os artigos publicados relativos à temática ‘avalia-
o ensino de Química e as avaliações dessa disci-
ção em Química’ e buscamos, com essa análise,
plina, em alguma fase de sua vida escolar.
subsídios que nos ajudassem a compreender e a
Por conseguinte, o ensino de Química não se faz somente no Ensino Médio. E, na busca por esse
caracterizar essa avaliação ao longo dos anos em nosso país.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
43
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
A problemática levantada está relacionada ao fato de que o termo avaliação, embora utilizado
levantamento constituem-se em uma das fases da pesquisa em curso desse grupo.
com extrema frequência pelas diversas áreas edu-
Sempre que aqui nos referirmos à avaliação em
cacionais, não possui uma caracterização clara no
Química, estaremos considerando a ação de ava-
ensino de Química, talvez, inclusive, por ser um
liar como:
tema pouco explorado nesta área. Justificamos a colocação ‘pouco explorado’ em comparação com outras áreas, como, por exemplo, a Educação Matemática, em que há autores que vêm se destacando em estudos que envolvem a avaliação, entre eles Buriasco (2002, 2004, 2009); Celeste (2008); Cury (1995, 1996); Santos (2007) e que, por meio da análise da produção escrita dos alunos em provas de Matemática e da busca da compreensão do significado que os alunos atribuem aos acertos e
[...] intrínseca ao processo de ensinar e de aprender química, assim como nos demais componentes curriculares. Consiste na realização de ações, pelo professor e pelos alunos, com vistas ao acompanhamento ativo da evolução de aprendizagens relevantes e significativas, que contribuam para o desenvolvimento da competência necessária aos integrantes da sala de aula para a vida em sociedade. Nesse sentido, a avaliação também é elemento essencial e necessário no planejamento (Ramos; Moraes, 2010, p. 13).
aos erros, procuram desencadear reflexões e ações relacionadas à melhoria da prática pedagógica do
Nosso entendimento é o de que a avaliação é
professor, bem como superar os obstáculos didá-
um dos pilares que compõem o processo de ensino
ticos encontrados, contribuindo, assim, para uma
e de aprendizagem, auxiliando, por exemplo, na
revisão da qualidade do ensino da área.
tomada de decisões que orientem o ensino, pois,
Dessa forma, acreditamos que analisar a pro-
por meio dela, pode ser oportunizado, ao aluno,
dução bibliográfica brasileira, a respeito da ava-
demonstrar o que aprendeu e, ao professor, veri-
liação em Química, em periódicos pertencentes à
ficar não só se seus objetivos foram alcança-
área de Ensino, pode evidenciar particularidades a
dos, como também se os procedimentos usados
respeito da temática, indicar possíveis tendências
foram apropriados. Nesse sentido, de acordo com
relativas a esse campo de pesquisa e apontar lacu-
Sacristán (1998) a avaliação serve para pensar e plane-
nas que poderão futuramente ser investigadas.
jar a prática didática (p. 296).
Diante do exposto, propusemo-nos a analisar 2
artigos publicados em periódicos da área de Ensino
O contexto da investigação e procedimentos metodológicos
que apresentam abordagens sobre a avaliação em Química, a fim de investigar qual a compreensão de
A temática em questão neste artigo − avaliação
educadores e pesquisadores a respeito dessa temática.
em Química – constitui uma das linhas de pesquisa
Como metodologia de coleta dos dados e de pes-
de um grupo de docentes e pesquisadores universi-
quisa, fez-se uso da análise textual com ênfase nos
tários que têm por objetivo analisar as questões do
procedimentos e nos critérios estabelecidos pela
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e dos
análise de conteúdo e pela análise textual discur-
vestibulares, possibilitando ampliar as reflexões
siva. Para isso, adotamos como referenciais Bardin
sobre a avaliação educacional, de forma a analisar
(2011) e Moraes e Galiazzi (2011). Utilizamos
se existem e de que natureza são as relações entre
também, como inspiração e balizamento, as publi-
esses exames. Nesse caso, em particular, focamos
cações de Passos et al. (2010) e Alves et al. (2010),
a Química. Os resultados que aqui trazemos desse
que apresentam uma metodologia de coleta e de
44
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
análise de dados em artigos de revistas da área de
de Pesquisa em Educação em Ciências (São Paulo:
Ensino de Ciências e Educação Matemática, inves-
Abrapec) e Alexandria − Revista de Educação em
tigando a respeito da Educação não formal e de
Ciência e Tecnologia (Florianópolis: UFSC).
Formação de Professores.
Após o processo de obtenção do acervo, da
Adotamos como critérios para selecionar as
constituição do corpus, da identificação das uni-
revistas a disponibilidade ao acesso público gra-
dades de pesquisa e da categorização proveniente
tuito e digital, além de possuírem avaliação nível A
de diversos ensaios, realizamos algumas análises
ou B segundo o Qualis do Sistema de Avaliação e
que contribuem com a sistematização do que vem
Qualificação da Coordenação de Aperfeiçoamento
sendo publicado por pesquisadores e seus colabo-
de Pessoal de Nível Superior (Capes).
radores sobre a avaliação em Química.
O acervo examinado foi constituído por oito
No Quadro 1, apresentamos algumas informa-
periódicos que publicaram artigos relacionados à
ções sobre os periódicos selecionados para a análise.
Química − Química Nova (São Paulo: Sociedade
Os periódicos foram dispostos dos mais anti-
Brasileira de Química), Química Nova na Escola
gos para os de publicação mais recente. O acervo
(São Paulo: Sociedade Brasileira de Química −
foi constituído por 411 exemplares, os quais pos-
Divisão de Ensino), Investigações em Ensino
suíam 2.338 artigos, publicados em um intervalo
de Ciências (Porto Alegre: UFRGS), Ciência &
de 27 anos (1986-2012). Desses 2.338 artigos,
Educação (Bauru: Unesp), Ensaio: pesquisa em
apenas 17 abordavam o tema avaliação no ensino
educação em ciências (Belo Horizonte: UFMG),
de Química, e foram, então, selecionados para
Acta Scientiae (Canoas: Ulbra), Revista Brasileira
análise.
Quadro 1. Dados quantitativos dos periódicos selecionados. Período de publicação
Vol.
Exemplares
Química Nova (QN)
1986 a 2012
9 ao 35
173
388
1
Química Nova na Escola (QNESC)
1995 a 2012
1 ao 34
46
486
5
Investigações em Ensino de Ciências (IENCI)
1996 a 2012
1 ao 7
51
280
2
Ciência & Educação (CIEDU)
1998 a 2012
5 ao 18
38
444
3 4
Periódicos
Total de artigos
Artigos analisados
Ensaio: pesquisa em educação em ciências (ENSAIO)
1999 a 2012
1 ao 14
30
212
Acta Scientiae (AS)
1999 a 2012
1 ao 14
24
183
-
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC)
2001 a 2012
1 ao 12
35
239
2
Alexandria − Revista de Educação em Ciência e Tecnologia (RECT)
2008 a 2012
1 ao 5
14
106
-
411
2338
17
Totais
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
45
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
Para a constituição do corpus a ser investigado,
A Matriz de Referência do Enem 2009 e o
os artigos desses periódicos foram selecionados
Desafio de Recriar o Currículo de Química
por meio das palavras-chave ‘avaliação’ e ‘quí-
na Educação Básica. Química Nova na
mica’, adotadas nas ferramentas de busca da inter-
Escola, v. 33, n. 3, p. 153-159, ago. 2011.
net como disparadores iniciais na identificação
5. LÜDKE, J. P. R.; LÜDKE, E. Um estudo
dos artigos referentes ao fenômeno em pesquisa.
sobre Avaliação
de
Desempenho
de
Todavia, a seleção não se esgotou nesse procedi-
Vestibulandos no Aprendizado de Química
mento de busca. Paralelamente a isso, foi reali-
Inorgânica para Definição de Critérios para
zada a leitura dos títulos, dos resumos e, quando
uma Intervenção Cognitiva. Química Nova
necessário, do artigo completo das coleções, pos-
na Escola, v. 33, n. 4, p. 239-245, nov. 2011.
sibilitando-se, dessa forma, um controle seletivo e
6. TRINDADE, J. O. da; HARTWIG, D. R. Uso Combinado de Mapas Conceituais e
rigoroso da seleção do material. Ressaltamos que os olhares para esses perió-
Estratégias Diversificadas de Ensino: Uma
dicos se voltaram aos artigos publicados e que as
análise Inicial das Ligações Químicas.
demais seções constantes no sumário ou no índice
Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p.
em cada exemplar das revistas acessadas não foram
83-91, maio 2012.
consideradas. Para o periódico Química Nova (São
7. GUIMARÃES, G. M. A.; ECHEVERRÍA,
Paulo: Sociedade Brasileira de Química) nos deti-
A. R.; MORAES, I. J. Modelos Didáticos
vemos na seção de Educação.
no Discurso de Professores de Ciências.
A seguir, listamos os 17 artigos selecionados,
v. 11, n. 3, p. 303-322, 2006.
dispostos conforme a Tabela 1. 1. FERNANDEZ, C.; BALDINATO, J. O.;
8. PREDEBON, F.; DEL PINO, J. C. Uma
TIEDEMANN, P. W.; BERTOTTI, M.
Análise Evolutiva de Modelos Didáticos
Conceitos de Química dos Ingressantes
Associados às Concepções Didáticas de
dos Cursos de Graduação do Instituto de
Futuros Professores de Química Envolvidos
Química da Universidade Estadual de São
em um Processo de Intervenção Formativa.
Paulo. Química Nova, v. 31, n. 6, p. 1582-
Investigações em Ensino de Ciências, v. 14,
1590, 2008.
n. 2, p. 237-254, 2009.
2. CHAMIZO, J. A.; IZQUIERDO, M.
9. CARVALHO, L. M. O. de; MARTINEZ,
Avaliação das Competências de Pensamento
C. L. P. Avaliação Formativa: a Auto
Científico. Química Nova na Escola, n. 27,
‑avaliação do Aluno e a Autoformação de
p. 4-8, fev. 2008.
Professores. Ciência e Educação, v. 11,
3. SILVA, C. S. da; MARUYAMA, J. A.;
n. 1, p. 133-144, 2005.
OLIVEIRA, L. A. A. de; OLIVEIRA,
10. CÁRDENAS, F. A. Dificultades de
O. M. M. de F. Questões de Química
Aprendizaje em Química: Caracterización
no
y
Concurso
Vestibular
da
Unesp:
Desempenho dos Estudantes e Conceitos Exigidos nas Provas. Química Nova na Escola, v. 32, n. 1, p. 14-21, fev. 2010.
46
Investigações em Ensino de Ciências,
Búsqueda
de
Alternativas
para
Superarlas. Ciência e Educação, v. 12, n. 3, p. 333-346, 2006. 11. MAIA, P. F.; JUSTI, R. Desenvolvimento
4. MACENO, N. G.; RITTER-PEREIRA, J.;
de Habilidades no Ensino de Ciências e
MALDANER, O. A.; GUIMARÃES, O. M.
o Processo de Avaliação: Avaliação da
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
Coerência. Ciência e Educação, v. 14, n. 3, p. 431-450, 2008. 12. SILVA, J. L. P. B.; MORADILLO, E. F. de. Avaliação, Ensino e Aprendizagem de Ciências. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 4, n. 1, p. 1-12, jul. 2002. 13. CORREIA, M.; FREIRE, A. Trabalho Laboratorial e Práticas de Avaliação de Professores de Ciências Físico-Químicas do Ensino Básico. Ensaio: Pesquisa em
3
Análise dos dados De posse dos 17 artigos, observamos que a primeira publicação sobre a temática avaliação em Química é datada de 2002. No entanto, dos 17 artigos selecionados, mais de 90% encontram-se publicados nos últimos nove anos. A Figura 1 apresenta a distribuição do número de publicações no período que vai de 2001 até 2012, contemplando um intervalo de 12 anos, agrupados em intervalos de três anos.
Educação em Ciências, v. 11, n. 1, p. 1288
14. SANTOS JUNIOR, J. B.; MARCONDES, M. E. Identificando os Modelos Didáticos de um Grupo de Professores de Química. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 12, n. 3, p. 101-116, 2009.
Total de artigos
151, jun. 2009.
Partir da Leitura de um Texto: desempe-
4 2 0
15. QUADROS, A. L.; SILVA, D. C. da.; SILVA, F. C. Formulação de Questões a
6
2001-2003
2004-2006
2007-2009
2010-2012
Figura 1. Artigos relacionados à avaliação em Química no período de 2001 a 2012.
nho dos estudantes de licenciatura em química da modalidade a distância. Ensaio:
Observando a figura, notamos que não há arti-
Pesquisa em Educação em Ciências, v. 13,
gos relacionados à temática no intervalo de 1986
n. 1, p. 43-56, 2011.
a 2000, tendo sido publicado apenas um artigo
16. QUADROS, A. L.; FÁTIMA, A. de; SILVA,
entre os anos 2001 e 2003; nos demais períodos,
D. C. de; ANDRADE, F. P. de; SILVA, G.
a quantidade de artigos aumenta para 3, 5 e 8 res-
de F.; ALEME, H. G.; OLIVEIRA, S. R.
pectivamente, evidenciando que esta temática tem
Aprendizagem e Competição: a Olimpíada
despertado interesse crescente e tem sido pauta de
Mineira de Química na visão dos professo-
pesquisas mais recentes.
res de ensino médio. Revista Brasileira de
Gil-Pérez e Martínez Torregrosa (2005) também
Pesquisa em Educação em Ciências, v. 10,
apontam a escassez de trabalhos sobre avaliação,
n. 3, p. 125-136, 2010.
ressaltando que somente a partir dos anos finais da
17. LOURENÇO, A. B.; HERNADES, A.
década de 1980 é que essa temática começa a se
C.; COSTA, G. G. G.; HARTWIG, D. R.
constituir como uma linha de investigação, prin-
Implementação e Avaliação de um Curso
cipalmente no que diz respeito ao aparecimento
sobre Matéria e suas Transformações
de artigos no International Handbook of Science
Baseado na Teoria da Aprendizagem
Education. Para os autores, esse crescente inte-
Significativa: uma análise a partir de
resse leva em consideração a importância dada
mapas conceituais. Revista Brasileira de
pelos estudantes às avaliações − uma vez que
Pesquisa em Educação em Ciências, v. 12,
muito de sua atenção se dirige exclusivamente ao
n. 1, p. 117-137, 2012.
que pode ser objeto dos exames − e pelos próprios
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
47
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
professores − que veem o ensino dos conteúdos
foi afirmado, Sanmartí (2007), assinala: Diga-me o
científicos condicionados às provas externas.
que e como avalias e te direi o que e como ensinas e o
No Brasil, também apresentamos situação
que e como seus alunos aprendem (p. 19).
semelhante, uma vez que somente a partir da
De posse dos dados quantitativos e com o
década de 1990 é que surgem mais fortemente
corpus delimitado, buscamos encontrar uma forma
políticas educacionais de avaliação, em virtude do
de analisar as informações ali apresentadas e que
baixo desempenho e dos grandes índices de evasão
contribuíssem para caracterizarmos o campo avalia-
nas escolas.
ção em Química. Mediante alguns agrupamentos por
Esse aumento no número de artigos voltados
proximidade e semelhança de sentido e pela inter-
para avaliação nos últimos nove anos pode estar
pretação das palavras e/ou expressões, encontramos
acompanhado de uma necessidade de se investigar
22 unidades de análise. Em uma leitura cuidadosa
um pouco mais o papel da avaliação nos processos
dessas palavras e expressões, notamos que elas tra-
de ensino e de aprendizagem em Ciências e, em
zem informações relevantes sobre o que se apresenta
especial na Química, uma vez que não há como pen-
nos artigos com relação à avaliação em Química.
sar nesses processos sem considerar a avaliação. Ela
No Quadro 2, são apresentadas as unidades de
não só se constitui como um dos vértices desse tripé
análise, as categorias e os periódicos/ano em que
como acaba por influenciá-los. Corroborando o que
essas unidades foram mencionadas.
Quadro 2. Relação das palavras/expressões encontradas nos artigos selecionados e as categorias. Categorias O uso de instrumentos avaliativos
Análise de questões e/ou programas de avaliação
Avaliação e a formação de professores
Palavras ou expressões
Periódicos/ano
Diagrama heurístico
QNESC 2008
Formulação de questões
ENSAIO 2011
Leitura
ENSAIO 2011
Mapa conceitual
QNESC 2012; RBPEC 2012
Argumentação - Toulmin
QNESC 2008
Competição
RBPEC 2010
Currículo
QNESC 2011
Desempenho dos candidatos, desempenho de vestibulandos, QNESC 2010; QNESC 2011/2; CIEDU 2006; desempenho acadêmico Desenvolvimento de habilidades
CIEDU 2008
Enem
QNESC 2011
Intervenção
QNESC 2011
Matriz de referência
QNESC 2011
Olimpíadas científicas
RBPEC 2010
Pensamento científico
QNESC 2008
Vestibular
QNESC 2010
Avaliação formativa, processo de avaliação, avaliação, CIEDU 2005; CIEDU 2006; CIEDU 2008; ENSAIO avaliação escolar 2002; ENSAIO 2009; ENSAIO 2011 Concepções didáticas
IENCI 2009
Educação de professores, formação de professores, professores, CIEDU 2005; IENCI 2006; IENCI 2009; RBPEC formação profissional, desenvolvimento profissional 2010; ENSAIO 2010
48
Crenças pedagógicas
ENSAIO 2010
Modelos didáticos
IENCI 2006; IENCI 2009; ENSAIO 2010
Perspectivas de ensino e aprendizagem
ENSAIO 2009
Trabalho laboratorial
ENSAIO 2009
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
A Figura 2 mostra a distribuição percentual das
A construção de um dispositivo pertinente é um trabalho que ultrapassa largamente a simples preparação “técnica” de procedimentos. É preciso não somente dispor de uma panóplia de instrumentos e de utensílios suficientemente ricos, mas ainda possuir o saber-fazer que permita utilizar o instrumento certo, no momento certo, para realizar a intenção da melhor forma, quer dizer, produzir informações úteis para conhecer, julgar ou interpretar, para regular a ação ou preparar as decisões, para pronunciarmos sobre a realidade “julgada” (p. 159).
publicações nas categorias observadas. O resultado mostra que tem havido um equilíbrio entre as três categorias. Instrum. Aval. 30%
Anal. Questões 35%
Para esse autor, além da escolha do instrumento, Aval. Form. Prof. 35%
Figura 2. Distribuição percentual das publicações nas categorias observadas.
é necessário que saibamos o momento certo de utilizá-lo a fim de obter informações úteis que contribuam para o processo de ensino e aprendizagem. Barlow (2006) reforça o que foi anteriormente mencionado com relação aos instrumentos de
Outra análise realizada diz respeito à interpre-
avaliação:
tação dos objetivos/problemas de pesquisa apreOs meios da avaliação escolar, muito longe de terem apenas um papel ‘banal e subalterno’, situam-nos no próprio âmago da ação. Quando a escolha dos meios é plenamente lúcida, ela concretiza as metas e os métodos que se pretende implementar (p. 146).
sentados nesses 17 artigos. Essa proposta de busca pelos objetivos/problemas de pesquisa foi posterior a esse movimento, com as palavras e/ou expressões, no entanto, os resultados obtidos com esse procedimento só vieram corroborar o que havíamos desenvolvido. Os objetivos/problemas descritos em cada
A escolha dos instrumentos de avaliação pos-
artigo concordavam com a definição das três categorias emergentes das unidades de análise.
sibilita levantar informações sobre a atividade
No Quadro 3, apresentamos a associação
do aprendiz, identificando o já aprendido e o que
dos objetivos/problemas de pesquisa dos arti-
precisa ser novamente reconduzido a fim de gerar
gos analisados distribuídos nas três categorias já
aprendizagem. Nos cinco artigos enquadrados nessa catego-
constituídas. Com relação à primeira categoria − uso de ins-
ria, os autores utilizam mapas conceituais, dia-
trumentos avaliativos − foram acomodados cinco
gramas heurísticos, formulação de questões como
artigos dos 17 analisados. Nesses artigos, são des-
instrumentos de avaliação da aprendizagem em
critas situações em que, para avaliar um conteúdo
Química, seja avaliando conteúdos ou determina-
específico ou determinadas competências, faz-se
das competências. Na segunda categoria − análise de questões e/
uso de um instrumento avaliativo. Um instrumento avaliativo pode ser compreen-
ou programas de avaliação − foram acomodados
dido como um recurso, uma ferramenta, um meio
seis artigos, que se propõem a analisar questões
para obter determinado resultado. Segundo Hadji
de Ciências/Química de alguns exames oficiais ou
(1994)
que investigam programas de avaliação.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
49
50 Objetivos/problemas de pesquisa
• • • •
Avaliar as competências do pensamento científico por meio de um instrumento − diagrama heurístico (QNESC, 2008, n. 27, p. 4-8). Utilização de mapas conceituais para avaliar a aprendizagem dos conceitos de ligações químicas (QNESC, 2011, v. 34, n. 2, p. 83-91). Determinar a capacidade de retenção e processamento de informação de alunos de um curso de Química Geral (CIEDU, 2006, v. 12, n. 3, p. 333-346). Analisar de que maneira alunos que frequentam um curso não formal sobre matéria e suas transformações elaboram mapas conceituais e avaliar a aprendizagem dos alunos por meio dessa ferramenta (RBPEC, 2012, v. 12, n. 1, p. 117-137). • Investigar a capacidade de elaborar questões, por estudantes de licenciatura em Química, a partir de um texto simples, considerando que as questões elaboradas são um espelho do entendimento do texto (ENSAIO, 2011, v. 13, n. 1, p. 43-56).
• Analisar as respostas dadas às questões da avaliação denominada ‘verificação de conhecimentos’ realizada com os ingressantes dos cursos de bacharelado, licenciatura em Química e bacharelado em Química Ambiental da USP e verificar as principais dificuldades encontradas em conceitos químicos (QN, 2008, v. 31, n. 6, p. 1582-1590). • Analisar as questões de Química dos exames vestibulares da UNESP dos anos de 1990 a 2006, apontar os conceitos mais e menos frequentes e analisar o desempenho dos candidatos em relação às questões de Química (QNESC, 2010, v. 32, n. 1, p. 14-21). • Analisar a Matriz de Referência e os objetos de conhecimento da disciplina de química exigidos no ENEM 2009 (QNESC, 2011, v. 33, n. 3, p. 153-159). • Avaliar o desempenho de uma amostra de alunos sujeitos aos vestibulares do Rio Grande do Sul, mediante um programa de intervenção de caráter cognitivo-pedagógico em química inorgânica (QNESC, 2011, v. 33, n. 4, p. 239-245). • Apresentar uma análise das questões de ciências (entre elas as de química) de quatro programas de avaliação em massa, identificando as habilidades das questões e a consonância à atual perspectiva para o ensino de ciências (CIEDU, 2008, v. 14, n. 3, p. 431-450). • Identificar a percepção dos professores sobre as olimpíadas de química e o significado destas para as instituições da educação básica (RBPEC, 2010, v. 10, n. 3, p. 125-136).
• Analisar a reflexão de um grupo de professores de ciências sobre a prática da avaliação formativa (CIEDU, 2005, v. 11, n. 1, p. 133-144). • Discutir a avaliação predominante nas escolas, relatar uma experiência com relação à avaliação formativa em sala de aula, por professores universitários de química (ENSAIO, 2002, v. 4, n. 1, p. 1-12). • Caracterizar as perspectivas de ensino e aprendizagem de professores de ciências físico-químicas da Educação Básica, analisando a realização ou não por parte desses professores de atividades experimentais e as formas de avaliá-las (ENSAIO, 2009, v. 11, n. 1, p. 1-32). • Delinear o modelo didático predominante entre professores de ciências (entre eles os de Química) da rede pública municipal de Goiânia/GO, a partir de suas ideias sobre conteúdos, as estratégias de ensino e avaliação (IENCI, 2006, v. 11, n. 3, p. 303-322). • Identificar a evolução dos modelos didáticos associados à concepções didáticas de futuros professores de Química, com relação aos conteúdos escolares, uso didático da perspectiva dos alunos, tipos de atividades e recursos didáticos e com relação à avaliação, a partir da análise de Unidades didáticas construídas durante uma disciplina (IENCI, 2009, v. 14, n. 2, p. 237-254). • Identificar os modelos didáticos de um grupo de professores de Química acerca do processo de ensino e aprendizagem e avaliação (ENSAIO, 2010, v. 12, n. 3, p. 101-116).
Categorias
Uso de instrumentos avaliativos
Análise de questões e/ou programas de avaliação
Avaliação e a formação de professores
Quadro 3. Objetivos/problemas de pesquisa dos artigos acomodados nas categorias. Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
De acordo com Maia e Justi (2008), as avalia-
Na terceira categoria − avaliação e a formação
ções em massa são instrumentos por meio dos quais
de professores − foram incluídos os outros seis
se deseja identificar os processos e os conteúdos que
artigos. Três deles estabelecem relações entre as
têm sido trabalhados. Dessa forma, essas avaliações
concepções de avaliação dos professores e o seu
devem espelhar os próprios parâmetros estabeleci-
modelo didático, dois deles analisam a prática da
dos pelos órgãos competentes (federais, estaduais e/
avaliação formativa e um deles caracteriza as pers-
ou municipais) para o ensino. Os objetivos desses
pectivas de ensino e de aprendizagem de professo-
programas de avaliação vinculam-se ao diagnóstico
res, investigando a realização ou não de atividades
do que os alunos aprendem nas escolas e os resul-
experimentais e as formas de avaliá-las.
tados devem servir para direcionamento específico
Com relação à formação de professores,
das atividades e dos processos desenvolvidos em
Carvalho e Gil-Pérez (2003) defendem a necessi-
sala de aula, definição de políticas públicas e de
dade do desenvolvimento, no contexto da forma-
currículos futuros. Disso decorre a importância das
ção inicial ou permanente, de saberes diversos que
análises com relação aos conteúdos/habilidades exi-
permitam ao professor atuar na área de ensino.
gidos nas questões de tais programas.
Esses saberes vão além do conhecimento do
Em outras palavras, o propósito dessas ava-
conteúdo da disciplina, sendo também necessá-
liações consiste em produzir um diagnóstico do
rio que o professor questione as ideias docentes
sistema de avaliação desenvolvido por segmentos
de senso comum, adquira conhecimentos teóricos
maiores − escolas, estados e países − o que as dis-
sobre a aprendizagem de ciências, saiba analisar
tingue e afasta dos objetivos das avaliações reali-
criticamente o ensino tradicional, saiba preparar
zadas no contexto da sala de aula.
atividades capazes de gerar uma aprendizagem
Dos seis artigos acomodados nessa categoria,
efetiva e seja capaz de dirigir os trabalhos dos
três deles buscam analisar as questões de Química
alunos e avaliá-los. Com relação a este último
de alguns exames, um dos quais busca confrontar
tópico, os autores descrevem que os professores
a matriz de referência do Enem 2009 com os con-
devem utilizar esse recurso como instrumento de
teúdos químicos exigidos nesse exame. Outro traz
aprendizagem que permita fornecer um feedback
informações sobre a avaliação do desempenho de
adequado para promover o avanço dos alunos,
um grupo de estudantes mediante um programa de
ampliando o conceito e a prática da avaliação ao
intervenção em Química Inorgânica e, por fim, o
conjunto de saberes que queira priorizar no apren-
terceiro descreve as percepções dos professores e
dizado e introduzir formas de avaliação de sua
o significado de eventos como as olimpíadas cien-
própria tarefa docente. Segundo Rodrigues e Carvalho (2002), um dos
tíficas para as instituições da educação básica. Conhecer um pouco mais sobre esses progra-
maiores desafios para a mudança na forma como
mas avaliativos a que nossos alunos são submeti-
o ensino de ciências está sendo desenvolvido é a
dos, bem como caracterizar as questões referentes
avaliação, pois não é possível inovar o processo
à disciplina de Química, em termos de conteúdos,
de ensino se a avaliação se estabelece de maneira
competências e habilidades, estruturais e contextu-
tradicional.
ais, pode possibilitar um repensar sobre o processo
No entanto, sabe-se que o modo como o pro-
de ensino e de aprendizagem dessa disciplina nas
fessor compreende a avaliação e a utiliza em sala
escolas, além de possibilitar discussões e reflexões
de aula está intimamente ligado ao tipo de modelo
acerca desses exames (Broietti et al., 2012).
didático assumido por esse professor durante as
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
51
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
situações de ensino e de aprendizagem por ele
para uma visão mais complexa e crítica da rea-
desencadeadas. Reconhecer o modelo didático sig-
lidade. A metodologia tem como fundamento a
nifica identificar as concepções e os saberes tácitos
investigação realizada pelo aluno, trabalhando
dos professores sobre o processo de ensino e de
em torno de problemas e atribuindo a esse aluno
aprendizagem bem como suas atitudes diante das
um papel ativo no processo de aprendizagem. A
diversas situações vivenciadas na sala de aula, den-
avaliação, nesse contexto, busca perceber a evo-
tre elas a própria avaliação (Garcia; Porlán, 2000;
lução dos conhecimentos dos alunos, da atuação
Garcia Perez, 2000; Porlán et al., 1997, 1998).
do professor e do desenvolvimento do projeto de
Porlán e Martin (1996) procuram mostrar a
investigação, procurando analisar o processo de
relação entre os modelos didáticos e sua influência
forma sistemática, com o objetivo de reformular
na ação profissional. Esses autores caracterizam
a intervenção.
quatro tipos gerais de modelos didáticos e de per-
Dessa forma, em três dos artigos aqui analisa-
fis profissionais, que também foram discutidos nos
dos, foram investigados o modelo didático predo-
artigos aqui analisados, mostrando sua influência
minante em um grupo de professores a partir de
nos processos avaliativos.
suas ideias sobre os conteúdos, as estratégias de
O modelo didático tradicional traz como pres-
ensino e a avaliação.
suposto básico a transmissão de conteúdos, em
Em outros dois artigos, discute-se a avaliação
uma perspectiva enciclopédica, de caráter cumu-
formativa que, segundo Hadji (1994), se caracte-
lativo e fragmentado e a avaliação fica centrada
riza por uma avaliação que procura guiar aquele
naquilo que foi memorizado durante esse processo
que aprende, com o objetivo de facilitar os progres-
de transmissão/recepção.
sos, estando centrada na gestão das aprendizagens.
O modelo didático tecnológico surge da necessidade de adequação da escola tradicional a novos contextos socioeconômicos, influenciados pelo desenvolvimento técnico-científico. Nesse modelo, a avaliação tem como finalidade a quantificação da aprendizagem, preocupando-se com o produto, mas também com alguns processos, pois a proposição é pela eficiência do ensino. O modelo didático espontaneísta-ativista desloca o centro do processo de ensino e de aprendizagem para o aluno, as atividades propostas
A avaliação dita formativa tem, antes de tudo, uma finalidade pedagógica, o que a distingue da avaliação administrativa, cuja finalidade é probatória ou certificativa. A sua característica essencial é a de ser integrada na ação de formação, de ser incorporada no próprio ato de ensino. Tem por objetivo contribuir para melhorar a aprendizagem em curso, informando o professor sobre as condições em que está a decorrer a aprendizagem, e instruindo o aprendente sobre o seu próprio percurso, os seus êxitos e as suas dificuldades (p. 63-64).
têm caráter aberto e flexível, sendo geralmente
Em outras palavras, nesse tipo de avaliação, há
realizadas em grupo. A avaliação, realizada pela
uma cooperação entre alunos e professores trans-
observação dos alunos ou pela análise de seus tra-
formando-se em uma atividade cotidiana de cola-
balhos, leva em consideração as habilidades adqui-
boração na busca pelo conhecimento.
ridas e as atitudes e mantém-se atenta ao processo, mesmo que de forma não sistemática.
Por fim, no último artigo enquadrado nessa categoria, foram caracterizadas as perspectivas
O modelo didático de investigação tem como
de ensino e de aprendizagem dos professores,
finalidade educativa o enriquecimento do conhe-
analisando-se as aulas que envolvem a utilização de
cimento dos alunos, em uma direção que conduza
materiais de laboratório e as formas de avaliá-las.
52
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
4
desempenho dos estudantes ou habilidades exigi-
Considerações finais
das nas questões e, por fim, avaliação e a forma-
Diante da questão: qual a compreensão de edu-
ção de professores em que foram enquadrados os
cadores e pesquisadores a respeito da avaliação em
artigos que relacionam a formação de professores
Química? Convergimos para uma proposta investi-
e a avaliação, seja analisando os modelos didáti-
gativa que visou caracterizar o tema, buscando pelos
cos dos professores ou discutindo experiências dos
movimentos daqueles que publicam sobre o assunto.
professores sobre a avaliação formativa.
Como resultado desse estudo, encontramos 17
Em suma, se tivéssemos de caracterizar a ava-
artigos distribuídos em oito periódicos avaliados
liação em Química no Brasil – como campo de
segundo conceito A e B pelo Qualis/Capes. O perí-
pesquisa – concluiríamos que, ao pensar sobre o
odo analisado foi um intervalo de 27 anos (1986-
tema, os pesquisadores atuantes na área de Ensino
2012) em que 2.338 artigos foram publicados e o
tendem a discutir, interpretar ou refletir sobre o uso
corpus analítico atingiu menos de 1% (os 17 sele-
de instrumentos avaliativos, análise de questões e/
cionados) do total acessado.
ou programas e abordar a formação de professores
Desse levantamento e da análise desses 17 arti-
pelo viés da avaliação.
gos, foi possível concluir que as pesquisas volta-
Como proposta futura, pretendemos investigar
das para a temática avaliação em Química não são
essa temática, sua frequência e compreensões em
muito frequentes no acervo consultado; a primeira
periódicos internacionais, possibilitando futuras
publicação que aborda o tema é datada de 2002 e as
comparações e reflexões mais aprofundadas sobre
produções materializadas nesses periódicos que tra-
o assunto.
zem considerações a esse respeito se encontram concentradas nos últimos nove anos do levantamento (2004-2012), o que pode apontar para uma tendência quanto aos temas gerados de investigações. De uma interpretação possibilitada pelos procedimentos da análise textual discursiva, em que as palavras e/ou expressões explícitas nos artigos e os objetivos/problemas de pesquisa descritos pelos autores desses documentos foram relacionados e integrados em uma proposta analítica, podem-se evidenciar três categorias emergentes, distribuídas de forma bastante equilibrada nas publicações, que, a nosso ver, caracterizam a temática, a saber: o uso de instrumentos avaliativos, em que acomodamos os artigos que trazem argumentações a respeito do uso de instrumentos para levantar informações sobre a aprendizagem dos estudantes; análise de questões e/ou programas de avaliação, na qual foram agrupados os artigos que procuram analisar questões de exames oficias ou programas avaliativos identificando conteúdos químicos,
5
Referências ALVES, D. R. S.; PASSOS, M. M.; ARRUDA, S. de M. A Educação não formal em periódicos da área de Ensino de Ciências no Brasil (1979-2008). Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Tecnologia, v. 3, n. 1, p. 16-40, 2011. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BARLOW, M. Avaliação escolar: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da educação básica: 2011 – resumo técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/resumos-tecnicos>. Acesso em: 20 mar. 2014. BROIETTI, F. C. D.; SANTIN FILHO, O.; PASSOS, M. M. As Questões de Química do “Novo ENEM”: um olhar investigativo com base na Análise de Conteúdo. Anais do II Congresso Nacional de Avaliação em Educação: II CONAVE. Bauru: CECEMCA/UNESP, 2012.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
53
Uma Análise da Temática: Avaliação em Química em Artigos de Revistas da Área de Ensino no Brasil
BURIASCO, R. L. C. Sobre Avaliação em Matemática: uma reflexão. Educação em Revista, v. 36, p. 255263, 2002. ______. Análise da Produção Escrita: a busca do conhecimento escondido. In: J. P. ROMANOWSKI; P. L. O. MARTINS; S. A. JUNQUEIRA (Orgs.). Conhecimento local e conhecimento universal: a aula e os campos do conhecimento. Curitiba: Champagnat, 2004, p. 243-251. ______. Introdução à Análise da Produção Escrita: prática de investigação em avaliação. In: I. de L. BATISTA; R. F. SALVI (Orgs.). Pós-graduação em ensino de ciências e educação matemática: um perfil de pesquisas. Londrina: EDUEL, 2009, p. 157-166. CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de ciências: tendências e inovações. São Paulo: Cortez, 2003. CELESTE, L. B. A produção escrita de alunos do ensino fundamental em questões de matemática do PISA. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – UEL, 2008. Disponível em: <http://www.uel.br/pos/ mecem/anos_dissertacoes/2008.html>. Acesso em 20 mar. 2014. CURY, H. N. Retrospectiva histórica e perspectivas atuais da análise de erros em educação matemática. Zetetiké, v. 3, n. 4, p. 39-50, 1995. ______. Concepções sobre matemática e práticas avaliativas: as possíveis relações. Estudos em Avaliação Educacional, v. 14, p. 65-82, 1996. GARCÍA PÉREZ, F. F. Los modelos didácticos como instrumento de análisis y de intervención em la realidad educativa. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, v. 207, 2000. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/b3w207.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014. GARCÍA, J. E.; PORLÁN, R. Ensino de Ciências e prática docente: uma teoria do conhecimento profissional. Caderno Pedagógico, v. 3, p. 7-42, 2000. GIL-PÉREZ, D.; MARTINEZ TORREGROSA, J. ¿Para qué y cómo evaluar? In: GIL-PÉREZ, D. et al. (Orgs.). ¿Cómo promover el interés por la cultura científica?. Santiago, Chile, 2005, p. 159-182. HADJI, C. A avaliação, regras do jogo: das intenções aos instrumentos. Portugal: Porto, 1994.
54
MAIA, P. F.; JUSTI, R. Desenvolvimento de habilidades no ensino de ciências e o processo de avaliação: análise da coerência. Ciência & Educação, v. 4, n. 3, p. 431-450, 2008. MOARES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise textual discursiva. Ijuí: Unijuí, 2011. PASSOS, A. M.; PASSOS, M. M.; ARRUDA, S. M. O campo formação de professores: um estudo em artigos de revistas da área de ensino de ciências no Brasil. Investigações em Ensino de Ciências, v. 15, n. 1, p. 219-255, 2010. PORLÁN, R.; MARTÍN DEL POZO, R. Ciencia, profesores y enseñanza: unas relaciones complejas. Alambique: didáctica de las ciências experimentales, v. 8, p. 23-32, 1996. ______.; RIVERO A.; MARTÍN DEL POZO, R. Conocimiento profesional y epistemología de los profesores I: teoría, métodos e instrumentos. Enseñanza de las Ciencias, v. 15, n. 2, p. 155-173, 1997. ______.; RIVERO A.; MARTÍN DEL POZO, R. Conocimiento profesional y epistemología de los profesores II: estudios empíricos e conclusiones. Enseñanza de lasCiencias, v. 16, n. 2, p. 171-289, 1998. RAMOS, M. G.; MORAES, R. A Avaliação em Química: contribuição aos processos de mediação da aprendizagem e de melhoria do ensino. In: SANTOS, W. L. S.; MALDANER, O. A. (Orgs.). Ensino de Química em Foco. Ijuí: Unijuí, 2010, p. 313-330. RODRIGUES, M. I. R.; CARVALHO, A. M. P. Professores-pesquisadores: reflexão e mudança metodológica no ensino da física – o contexto da avaliação. Ciência e Educação, v. 8, n. 1, p. 39-53, 2002. SACRISTÁN, J. G. A avaliação no ensino. In: SACRISTÁN, J. G.; GÓMEZ, A. I. P. (Orgs.). Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artemed, 1998, p. 295-351. SANMARTÍ, N. 10 Ideas Clave: Evaluar para aprender. España: Editora Graó, 2007. SANTOS, J. R. V. O que os alunos da escola básica mostram saber por meio de sua produção escrita em Matemática. Dissertação (Programa de Pós ‑graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – UEL, 2007. Disponível em: <http:// www.uel.br/pos/mecem/anos_dissertacoes/2007. html>. Acesso em: 20 mar. 2014.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Relatos de Experiência Experiences Account
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada Diagnosis on the Conceptions of Chemistry Teachers on Continuing Education Laice Rodrigues Basso e Sandra Cristina Marquez
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química Exploring the Belief of Using Toothpaste as Burning Moisture: discussions in the teaching of Chemistry Ricardo Luiz Zanotto, Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira, Antônio Carlos Frasson e Elenise Sauer
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis Heavy Metals: how this concept is designed by chemistry students at the IFRJ – campus Nilópolis Denise Leal de Castro e Thiago Rodrigues de Sá Alves
Relato de Experiência 01 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 56-62
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada Diagnosis on the Conceptions of Chemistry Teachers on Continuing Education Laice Rodrigues Basso1 Sandra Cristina Marquez2
Resumo A Formação Continuada constrói novos conhecimentos e apresenta aos professores novas práticas e modelos de ensino-aprendizagem. O docente que realiza uma autorreflexão do seu trabalho sente necessidade de cursos de Formação Continuada. Este artigo analisa as concepções dos professores de química sobre Formação Continuada e o interesse dos professores em melhorar sua prática e meios em que são oferecidos cursos de Formação Continuada para docentes em exercício. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, desenvolvida com professores de Química da rede estadual do município de Itumbiara-GO. Os docentes responderam questionários, no qual se percebeu que a maioria dos professores envolvidos na pesquisa tem conhecimento sobre a definição de Formação Continuada e compreendem sua importância, embora os docentes não recebam todo o apoio necessário para se aperfeiçoem profissionalmente, apoio esse que possa vir da escola, em parcerias de universidades e políticas educacionais direcionadas a Formação Contínua. Palavras-chave: Formação continuada; Professores; Ensino-aprendizagem.
1. Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara-GO. 2. Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara-GO. Licenciada em Química (ILES/ULBRA); Especialista em Química (UFLA) e em Ensino de Ciências da Natureza (UnB), mestre em Química (UFU).
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
Abstract The Continuing Education builds new knowledge, presents teachers with new practices and models of teaching and learning. The teacher who performs a self-reflection on their work, feel the need for Continuing Education courses. This article analyzes the conceptions of chemistry teachers about Continuing Education, interest of teachers in improving their practice and the ways in which courses are offered for practicing teachers. The methodology used was qualitative research conducted with Chemistry teachers of the state system of the municipality of Itumbiara-GO. Teachers answered questionnaires in which it was realized that most of the teachers involved in the research have the knowledge about defining Continuing Education and understand their importance, although teachers do not receive necessary support to improve professional support, which can come from the school, in partnership with universities and educational politics directed to Continuing Education. Key-words: Continuing education; Teachers; Teaching-learning training.
1
Introdução A formação continuada de professores vem ganhando espaço nas políticas públicas porque vem aumentando a necessidade de se reformularem as práticas pedagógicas dos professores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) confirma em seu artigo 67: [...] os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais de educação, assegurando-lhes: [...] aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico para esse fim; [...] período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho (Brasil, 1996a).
desses dados, questionamos: como o professor define formação continuada? O professor tem interesse em participar de programas de formação continuada? Qual o tipo de incentivo que normalmente esses professores têm para se preocupar com a sua formação? No sentido de responder a estas questões, essa pesquisa propôs uma sondagem junto aos professores de Química das escolas de Itumbiara-GO para investigar as concepções que estes possuem sobre a formação continuada. Essa investigação detecta a visão e as concepções desses professores para, a partir desses dados, traçar estratégias que incentivem a participação deles em programas de formação continuada, sendo que os programas
Algumas pesquisas apontam que o mau desem-
que melhor se adequarem à realidade dos profes-
penho do aluno se deve, muitas vezes, à má for-
sores poderão obter adesão e efetividade maiores.
mação do professor, por isso, se tem buscado uma
Pode-se inferir que a adequação e inovação de
melhor formação. A formação continuada vem para
conhecimentos e práticas pedagógicas de profes-
construir novos conhecimentos e melhorar aquilo
sores sobre ensino e aprendizagem são cruciais
que ficou mal colocado na graduação; ela é colo-
para que as reformas educativas atuais se concreti-
cada como um apoio à formação inicial do profes-
zem nos sentidos necessários.
sor. Por outro lado, a formação continuada vem para
Nesse contexto, buscou-se diante dos ques-
apresentar ao professor novas práticas e modelos de
tionamentos aqui apresentados investigar como
ensino-aprendizagem (Davis et al., 2011).
os professores concebem a formação continuada;
Essas pesquisas apontam a necessidade dessa
identificar os obstáculos apontados para a forma-
formação continuada do professor, mas a partir
ção continuada; estabelecer o tipo de formação que
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
57
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
os professores solicitam; e determinar a participa-
informação, reflexão, discussão e trocas que favo-
ção dos professores de Química em programas de
reçam o aprimoramento profissional, em qualquer
formação continuada.
situação. Em suma, existe uma vastidão de possibilidades dentro do rótulo de educação continuada
2
(Gatti, 2008).
A formação continuada de professores: histórico e perspectivas para melhorias no ensino
A aprendizagem pela relação e pela convivência aumenta a capacidade de interação entre professor e aluno com o grupo; dessa forma, a prática
A Formação Continuada dos professores tem
tem exigido cada vez mais do educador, e é claro
uma história recente no Brasil; ela se intensificou
que isso requer uma formação qualificada do pro-
na década de 1980 e, com o tempo, foi assumindo
fissional permanentemente (Ferreira, 2009).
modelos diferenciados, desde cursos rápidos até
A formação continuada é um processo de
programas mais extensos e em modalidades diver-
aprendizagem e de socialização, de natureza
sas. Requer das pessoas uma abertura às novas
voluntária, informal e pouco previsível, centrado
ideias, decisões e habilidades, tem uma visão de
na interação entre colegas e nos problemas que tra-
que todos os seres humanos podem ser capazes de
zem de suas práticas docentes. Por isso, não é um
se aperfeiçoarem diante de oportunidades de apren-
processo linear, pois sofre redefinições de rumos,
dizado em muitos contextos, tanto na vida profis-
dependendo das necessidades de seus participantes
sional quanto em atividades simples não formais,
(Schnetzler, 2002).
e faz parte de uma luta pela escolarização básica
As iniciativas de formação continuada são confi-
de qualidade que envolva a todos (Ferreira, 2009).
guradas por ações de capacitação dos professores na
Embora o processo de formação continuada
forma de cursos, simpósios, reuniões, ora ministrados
seja recente, tem ganhado importância nos dias
por docentes convidados, ora pelos técnicos-pedagó-
atuais, por acompanhar o desenvolvimento mun-
gicos que atuam nos departamentos da secretaria, e
dial, este termo traz a ideia de desenvolvimento
também por outras ações que têm como princípio a
de aptidões e valores aplicados à evolução do ser
prática da autoformação e da formação colaborativa
humano e à tomada de decisões (Ferreira, 2009).
entre professores (Nery; Maldaner, 2008).
No que diz respeito à história da formação con-
Ao assumirmos que acreditamos na melhoria
tinuada, nos últimos dez anos, cresceu o número
das escolas e na educação como direito de cidada-
de iniciativas colocadas sob o termo “educação
nia, existem várias razões para incentivar ações e
continuada”. Nesses estudos, ora se restringe o
programas de formação continuada. Uma dessas
significado da expressão aos limites de cursos
razões é a necessidade de um contínuo aprimora-
estruturados oferecidos após a graduação, ora ele
mento profissional do professor, com reflexões
é tomado de modo amplo e genérico, como com-
críticas sobre sua prática pedagógica, no ambiente
preendendo qualquer tipo de atividade que venha
coletivo de seu contexto de trabalho. Outra razão
a contribuir para o desempenho profissional como
seria a necessidade de superar o distanciamento
horas de trabalho coletivo na escola, reuniões
entre contribuições de pesquisas sobre Educação
pedagógicas, trocas cotidianas com os pares, par-
em Química e a utilização das mesmas para a
ticipação na gestão escolar, congressos. Além des-
melhoria do processo de ensino-aprendizagem em
ses, existem outros oferecidos pelas Secretarias de
sala de aula, implicando que o professor atue tam-
Educação e que oferecem uma oportunidade para
bém como pesquisador de sua prática docente. Uma
58
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
terceira razão diz respeito a danos e lacunas na for-
particulares, específicas, individuais e coletivas, relativas ao contexto de classe e/ou da escola (Schnetzler, 2002).
mação inicial do futuro professor de Química, já que esta tem sido, historicamente, dirigida para a formação de bacharéis (Schnetzler, 2002).
No que diz respeito ao tipo de projeto de for-
Em relação aos objetivos da formação conti-
mação continuada, em qualquer dos casos, o apoio
nuada de professores de Química, pretende-se
institucional por parte da direção e coordena-
desenvolver a capacidade crítica, a autorreflexão
ção das escolas é extremamente importante. Sem
e a autonomia de trabalho do professor utilizando
tempo, espaço e incentivo assegurados por parte da
uma formação teórica. Ao longo desta formação, o
administração escolar, não há programa de forma-
professor se tornará agente ativo do planejamento
ção continuada que se mantenha, e isto não pode
do trabalho, resgatando o papel de sujeito no pro-
ser entendido como uma concessão aos professo-
cesso de aquisição do conhecimento (Lima, 1996).
res, mas como um direito deles (Schnetzler, 2002).
Para que as reformas educativas tenham os
Com o intuito de reforçar a afirmativa anterior-
reflexos desejados nas escolas e na vida dos alu-
mente descrita, outro fator relevante para que haja
nos, é necessário agir ao nível da formação e do
êxito no trabalho de formação continuada, e que
desenvolvimento profissional, pessoal e social dos
tem se mostrado extremamente significativo, é o
professores, criando oportunidades para promover
apoio institucional. A política pedagógica da ins-
uma adequada formação contínua em múltiplas
tituição, ou mesmo a falta dela, é determinante na
dimensões. Tal formação deverá constituir um
alocação de recursos materiais e humanos até na
meio privilegiado de inovar o ensino de ciências e,
própria organização desse processo (Lima, 1996).
também, promover aprendizagens mais significati-
Enfim, os professores são geralmente tratados
vas e relevantes para a vida dos seus destinatários
como aqueles que devem aplicar o que pesquisadores
nas sociedades (Rebelo et al., 2008).
julgam ser mais importante ou adequado para uma boa prática docente em Química. Contrariamente a
A formação continuada propicia o aprendizado
isto, a visão sobre a pesquisa em formação continu-
da profissionalização, que é algo pouco valorizado
ada que muitos defendem não concebe o professor
na ação docente, considerando que se aprende a ser
como um mero técnico ou aplicador do que outros
profissional com os colegas. Além disso, o grupo de
dizem, mas o reconhece e valoriza como produtor
formação continuada possibilita que cada professor
de saberes pedagógicos, tão úteis ou mais do que
se insira em um ambiente ou clima de solidariedade,
muitas prescrições que a pesquisa educacional uni-
que lhe cria condições de perceber que deficiências,
versitária já produziu (Schnetzler, 2002).
problemas e impasses na sua prática docente não podem ser considerados como pessoais. 3
Ele aprende a enxergar os condicionantes de sua prática, torna-se mais crítico em relação às suas condições de trabalho. Esse coletivo docente enseja o término da solidão dos professores ao propiciar a criação de laços afetivos e de amizade profissional, quer na interação entre pares, quer com docentes universitários. Além disso, cria as bases necessárias de familiarização, confiança e naturalidade para tratar questões mais
Materiais e métodos Essa investigação se configurou por uma pesquisa qualitativa, desenvolvida com dez professores da rede estadual da cidade de Itumbiara-GO. Os dados foram obtidos por meio de um questionário aplicado nas unidades escolares. Os professores foram convidados a participar da pesquisa voluntariamente, com horário agen-
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
59
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
dado junto aos pesquisadores, que se deslocaram
“Sim. Porque abre novas frentes de ensino
até a unidade escolar para coletar os dados. O
e novas vertentes de aprendizado, junto com
questionário aplicado possuía nove questões, abor-
um grupo de professores que trocam expe-
dando a definição pelo professor do que é forma-
riências e criam novos modelos de ensino”.
ção continuada, como ele promove essa formação e o interesse desse professor em participar de programas de formação. Os dados obtidos com a aplicação do questionário foram organizados e analisados levando em consideração a posição dos professores e as pesquisas recentes sobre o tema aqui discutido. 4
Observa-se na fala desse professor a questão do processo de ensino-aprendizagem, bem como a questão da troca de experiências entre os professores que participam dessa formação. O processo de formação continuada apoia o educador em suas atividades pedagógicas, e os cursos oferecidos como formação continuada devem ser realizados junto a outros educadores com o intuito de contribuírem no
Resultados e discussão
trabalho diário do professor (Ferreira, 2009).
Os professores que aceitaram participar da pesquisa se mostraram dispostos e interessados em contribuir para a melhoria das condições formativas do professor, conscientes da necessidade de formação contínua. Inicialmente, foi perguntado aos professores o que eles entendem por formação continuada. Dos dez professores, apenas sete responderam com uma definição coerente, pois relacionaram a formação continuada como aprimoramento profissional, estudo contínuo, processo de reaprendizagem contínua. Os demais abordaram a importância da formação continuada e não a sua definição. Na opinião de um executivo, o papel da formação continuada é aperfeiçoar conhecimentos com impacto direto no ensino. Sem educação continuada, a evolução da educação pública no País será extremamente lenta e desorganizada (Falta Política..., 2011). Partindo do pressuposto de que a maioria compreende o que é formação continuada, foi perguntado a eles se acreditam ser viável investir em programas de formação continuada, justificando a resposta atribuída. Todos os entrevistados respon-
A terceira questão referia-se ao incentivo da escola em relação aos cursos de formação continuada e como isso se efetiva. Dos participantes, dois afirmaram que a escola não incentiva a participação dos professores nessa formação; já os demais responderam que a escola incentiva por meio de cursos, videoconferências, palestras e minicursos. A falta de incentivo por parte de algumas escolas se explica devido à falta de sentido nas políticas de estado, por problemas de financiamento e por problemas de sustentação política, sendo que, em algumas situações, os projetos e documentos de reforma educacional e curricular não chegam até as escolas (Aguiar Junior, s/d.). Entretanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio preveem que: É fundamental uma política de formação contínua de professores, na qual sejam previstas ações em que eles possam compreender de forma crítica e construtiva as orientações estabelecidas e discutirem ações que possam ser colocadas em prática, ou seja, trata-se de transformar marcos teóricos em práticas de sala de aula (Brasil, 2006b).
deram afirmativamente a essa questão, destacando em suas respostas a necessidade de atualização e
Os professores foram questionados sobre a natu-
aprimoramento profissional. Veja o que afirmou o
reza dos profissionais que, normalmente, ministram
professor “Q”:
esses cursos e onde eles são oferecidos. Dois dos
60
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
participantes afirmaram nunca terem participado
Os profissionais da Educação têm o dever de participar das ações de formação contínua implementadas pelas Secretarias de Educação. Entretanto, é de fundamental importância que seja respeitado o projeto pessoal do professor, sua ascensão profissional e certificação etc. (Lima, 2005).
de cursos de formação continuada; já os demais responderam que esses cursos foram ministrados por técnicos ou agentes da secretaria de educação, e ainda por professores de universidades da cidade ou região. Todos mencionaram que os cursos foram oferecidos nas escolas, sendo que dois professores acrescentaram a subsecretaria de educação ou ensino à distância como locais de oferecimento. As secretarias de educação são responsáveis por garantir o aprimoramento profissional dos professores (Davis et al., 2011). Assim, deve ser enfatizado que: É de responsabilidade das administrações dos sistemas de ensino, em todos os âmbitos e níveis, criarem as condições de participação dos professores em suas equipes de estudo, com tempo alocado para isso, com recursos para a participação em eventos etc. (Brasil, 2006b).
Ao questionar os professores sobre sua disposição em fazer parte de algum projeto de formação continuada, nove deles afirmaram que gostariam de
Em relação ao atendimento das necessidades dos professores, cinco dos pesquisados afirmaram que os cursos não atendem às suas necessidades e apenas três deles alegaram terem suas necessidades atendidas nos cursos ofertados. Em seguida, foi perguntado a eles quais temas eles gostariam que fossem oferecidos nos cursos de formação continuada. Como resposta, obteve-se uma diversidade de temas, sendo a experimentação, o mais citado, seguido por “Ensino e Aprendizagem”, e ainda foram mencionados Contextualização, Avaliação, Jogos e Informática no Ensino. Diante dos depoimentos que atestam que as necessidades dos professores ainda não foram atendidas, propõe-se que:
participar e apenas um deles afirmou não ser com-
Para que se possa contar com uma política de formação continuada sólida, que fortaleça a escola como um todo e os professores em seu processo de desenvolvimento profissional, levando-os a aprimorar a qualidade da escolarização oferecida, é importante que se supram as necessidades: a) dos próprios docentes (em termos de conteúdos disciplinares e temas pertinentes ao cotidiano escolar, habilidades pedagógicas, manejo de classe etc.) e b) da própria escola (demandas de seu projeto político-pedagógico, amparo aos docentes em diferentes momentos de seu desenvolvimento profissional etc.) (Davis et al., 2011).
pensativo esse tipo de investimento, pois os governantes não valorizam a capacitação do professor. Nos últimos anos, vem crescendo a desvalorização dos professores, corroborada pelos baixos salários, péssimas condições de trabalho e políticas equivocadas (Valorizar o Professor..., 2013). Mesmo com essas problemáticas, o professor tem que refletir sobre suas práticas, pois o pensamento reflexivo amplia os horizontes do conhecimento e da realidade. É no universo reflexivo que se encontra a possibilidade de rompimento com os valores de uma sociedade dominante e injusta (Ghedin, 2005).
Os professores que responderam afirmativa-
É de grande importância a elaboração de políti-
mente à possibilidade de fazer parte de algum projeto
cas educacionais que possam permitir a existência
de formação continuada justificaram que necessitam
de programas que ofereçam subsídios necessários
de aprimoramento e capacitação para melhorarem as
para o aprimoramento dos professores, individual-
metodologias adotadas em suas aulas.
mente e coletivamente (Davis et al., 2011).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
61
Diagnóstico Sobre as Concepções dos Professores de Química de Itumbiara-GO Sobre Formação Continuada
5
Conclusão Com a realização desse trabalho, foi possível constatar que a maioria dos professores de Química de Itumbiara-GO compreende a importância da formação continuada e já participaram de alguns cursos oferecidos pela Secretaria de Educação. Nesse caso, os docentes são incentivados, em parte, pelas próprias escolas ou pela sua própria reflexão-crítica, e se preocupam em melhorar o ensino-aprendizado que oferecem aos seus alunos. Em relação aos professores que convivem com certa descrença, e se sentem desmotivados a mudarem ou a aperfeiçoarem suas práticas pedagógicas, não participando dos cursos de formação continuada, suas razões se concentram nos baixos salários e na desvalorização política que o País atribui a eles. Entretanto, é preciso destacar que os professores de Química sentem, ainda, grandes necessidades de cursos de formação continuada que possam oferecer práticas atualizadas e diferenciadas, e contemplem suas dificuldades de realizar uma aula prática de Química, em uma escola que não tenha recursos. Em outras palavras, os cursos oferecidos têm que suprir as necessidades vivenciadas dentro de sala de aula.
6
Referências AGUIAR JUNIOR, O. G. Professor, Reformas Curriculares e Livros Didáticos de Ciências: parâmetros para produção e avaliação do LD. Disponível em: Faculdade de Educação – UFMG. <http://www. sbf1.sbfisica.org.br/eventos/epef/ix/atas/outros/ junior.pdf>. Acesso em: 10 out. 2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Presidência da República, 1996a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10 mar. 2013. ______. Orientações Curriculares Para o Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2006b. DAVIS, C. L. F. et al. Formação Continuada de Professores: Uma Análise das Modalidades e das Práticas em
62
Estados e Municípios Brasileiros. Estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas por encomenda da Fundação Victor Civita. Ago 2011. Disponível em: <http://www.fvc.org.br/pdf/livro2-02-formacao-continuada.pdf>. Acesso em: 14 out. 2013. FALTA POLÍTICA de Formação Continuada para os Professores no Brasil. Fundação Victor Civita, jun. 2011. Disponível em: <http://www.fvc.org. br/pdf/07-06-11-form-cont-todos-educacao.pdf>. Acesso em: 10 out. 2013. FERREIRA, J. A. Formação continuada e seus reflexos na prática dos educadores, 2009. Disponível em: <http://www.atenas.edu.br/faculdade/ arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAS/ REVIST2010/15.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2013. GATTI, B. A. Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil na última década. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 37, jan./abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/ v13n37/06.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2013. GHEDIN, E. A reflexão sobre a prática cotidiana – caminho para a formação contínua e para o fortalecimento da escola enquanto espaço coletivo. Formação Continuada de Professores. Salto para o futuro, Boletim 13, p. 24-32, ago. 2005. LIMA, M. E. C. C. Formação continuada de professores de Química. Revista QNESC, n. 4, nov. 1996. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/ qnesc04/relatos.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2013. LIMA, M. S. L. Vida e trabalho – articulando a formação contínua e o desenvolvimento profissional de professores. Formação continuada de professores. Salto para o futuro, Boletim 13, p. 39-44, ago. 2005. NERY, B. K.; MALDANER, O. A. Ações interativo-reflexivas na formação continuada de professores: O projeto folhas. Revista QNESC, v. 31, n. 2, maio 2008. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/ online/qnesc31_2/07-PEQ-4808.pdf>. Acesso em: 30 maio 2013. REBELO, I. S. et al. Formação contínua de professores para uma orientação CTS do ensino de química. Revista QNESC, n. 27, fev. 2008. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc27/06-ibero-5. pdf>. Acesso em: 30 maio 2013. SCHNETZLER, R. P. Concepções e Alerta sobre formação continuada de professores de química. Revista QNESC, n. 16, nov. 2002. Disponível em: <http:// qnesc.sbq.org.br/online/qnesc16/v16_A05.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2013. VALORIZAR O PROFESSOR. Jornal da Ciência, 15 out. 2013. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=89939>. Acesso em: 20 out. 2013.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Relato de Experiência 02 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 63-73
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química Exploring the Belief of Using Toothpaste as Burning Moisture: discussions in the teaching of Chemistry Ricardo Luiz Zanotto1 Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira1 Antônio Carlos Frasson1 Elenise Sauer1
Resumo Este trabalho apresenta os resultados de um estudo exploratório que partiu das discussões de uma crença popular bastante conhecida – o uso do creme dental em queimaduras – objetivando demonstrar a possibilidade da utilização desta ideia como ponto de partida para o ensino de conceitos químicos, articulando os diversos saberes à construção do conhecimento científico e seu imbricamento com a Tecnologia e com a Sociedade. Este trabalho foi realizado com uma amostra de 26 alunos do Ensino Médio noturno de uma escola rural do município de São João do Triunfo-PR. A abordagem metodológica foi a qualitativa de natureza interpretativa. A metodologia adotada baseou-se na coleta de dados na comunidade onde a escola encontra-se inserida, seguida da seleção de um saber popular, discussões e pesquisas bibliográficas. Como resultado, verificou-se que saberes populares podem ser usados como conceitos espontâneos que possibilitam a criação de estruturas cognitivas, uma vez que oportunizam a ocorrência de mudança conceitual. Palavras-chave: Construção de conhecimento; Ensino de Química; Mito.
1. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Ponta Grossa.
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
Abstract This work presents the results of an exploratory study which started with discussions on a well-known popular belief – the use of toothpaste on burns – aiming to demonstrate the possibility of using this idea as a starting point for the teaching of chemical concepts, articulating the diverse knowledge to the construction of scientific knowledge and its interweaving with the Technology and Society. This work was conducted with a sample of 26 high school students from a rural school night of São João do Triunfo-PR. The methodological approach was qualitative, interpretive nature. The methodology was based on data collection in the community where the school is located, then selecting a popular knowledge, discussions and literature searches. As a result, it was found that folk knowledge can be used as spontaneous concepts that allow the creation of cognitive structures, since the occurrence of nurture conceptual change. Key-words: Construction of knowledge; Chemistry teaching; Myth.
1
Introdução
preensão da relação entre Ciência, Tecnologia e
O ensino de Química tem passado por trans-
Sociedade (C-T-S) por meio das discussões socio-
formações na tentativa de relacionar os conceitos
científicas (Santos et al., 2009) geradas com essa
difundidos na escola ao contexto vivenciado pelo
estratégia de ensino. Assim, este trabalho apresenta como objetivo
aluno. Uma das possibilidades de se conseguir isso
demonstrar a possibilidade da utilização de sabe-
é a busca de estratégias que articulem o cotidiano
res populares (mitos) como ponto de partida para
do aluno à utilização de conceitos químicos. Neste
a ocorrência de mudanças no ensino de Química.
sentido, pode-se, por exemplo, trabalhar com
Para atingir o objetivo proposto, trabalhou-
textos elaborados a partir de saberes populares
-se com 26 alunos do ensino médio noturno de
(ditados populares, crenças), pois o uso da lin-
uma escola estadual rural da região sul do Paraná,
guagem verbal permite interações entre a tríade
partindo-se, inicialmente, da coleta de dados junto
aluno-professor-material didático possibilitando
aos moradores locais, de saberes populares (cren-
a ocorrência de mudanças conceituais e contri-
ças) difundidos na comunidade relacionados à
buindo para a aprendizagem significativa.
temática abordada, que serviu para nortear e dar continuidade ao processo em sala de aula.
Este tipo de aprendizagem, segundo Schnetzler (1992), ocorre quando novos conceitos são adquiri-
A seguir, é apresentada uma revisão de litera-
dos por meio de uma interação de novas ideias tra-
tura sobre o tema, bem como a metodologia de tra-
balhadas pelo professor com proposições relevantes
balho, resultados e considerações finais.
já existentes na estrutura cognitiva do educando. Segundo Chassot (2006), a abordagem desses saberes populares permite ao professor
2
Ensino de Química
re(descobrir) e re(construir) conhecimentos neces-
Ao longo da história da humanidade, métodos
sários a uma alfabetização científica e tecnológica.
e técnicas foram criados e desenvolvidos para via-
Além disso, tal abordagem torna possível a com-
bilizar a busca do conhecimento. Na base de todos
64
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
esses mecanismos há uma sabedoria popular con-
a disciplina de Química foi considerada obrigató-
solidada que alimenta a ligação do imaginário das
ria no ensino secundário e, em 1961, por intermé-
pessoas e a construção da sua identidade.
dio da Lei de Diretrizes e Bases – LDB 5692/61,
Neste sentido, pode-se afirmar que, desde que o homem começou a se interessar pelos fenômenos
a Química passou a fazer parte dos currículos do Ensino Fundamental (Brasil, 2000).
em seu entorno, na tentativa de explicá-los e cons-
Nessa época, priorizavam-se as descobertas
truir seus conhecimentos, a Química já se fazia
científicas e cabia ao professor o papel de trans-
presente, embora de forma não sistematizada.
missor de conhecimentos fragmentados e descon-
Nos períodos remotos da civilização, mui-
textualizados enquanto o aluno assumia o papel de
tos desses fenômenos eram explicados por meio
receptáculo de conceitos para serem reproduzidos
da magia. De certa forma, pode-se dizer que a
em provas (Schnetzler, 1992).
magia constitui-se numa visão anímica da natureza
Ainda hoje, esta situação se encontra presente
(Ronan, 1997). Tais fenômenos eram explicados
no âmbito escolar dificultando, sobremaneira, a
atribuindo-os às forças ocultas manipuladas por
contextualização do saber e, consequentemente,
deuses ou magos. Estes eram vistos atuando em
impedindo o aluno de desempenhar uma parti-
toda parte, principalmente imputados a fenômenos
cipação mais ativa nas atividades escolares e da
naturais, determinando-se, assim, a visão de mundo.
sociedade.
Contrapondo-se a essa visão anímica, desta-
Atualmente, é necessário envolver os alunos
caram-se os filósofos gregos, Leucipo de Mileto
com atividades socialmente relevantes, mais pró-
e Demócrito de Abdera, que procuraram expli-
ximas do seu cotidiano sem perder o caráter cientí-
car de forma racional, os fenômenos químicos
fico, porém com a finalidade de alfabetizar cientí-
introduzindo o conceito de Atomismo, no qual o
fica e tecnologicamente para poder atuar frente às
átomo era considerado como elemento primordial
constantes mudanças devido à globalização. Uma
da natureza. Posteriormente a estes dois filósofos
das expectativas de se conseguir isso é a busca de
gregos, destacaram-se Flamel, John Dee, Edward
metodologias diferenciadas que articulem o coti-
Kelley, Cagliostro, Arnaldo de Vilanova, Basil
diano do aluno ao uso de conceitos químicos. Isto
Valentine e Alberto Magno como representantes
pode ser feito com textos elaborados a partir de
da Alquimia (Neves; Farias, 2011).
saberes populares promovendo, desta maneira, a
Com a sistematização dos conhecimentos quí-
interação entre a tríade alunos-professor-material
micos oriundos dos saberes populares e do senso
didático, na busca de facilitar a mudança concei-
comum nos séculos XVII e XVIII, instituiu-se, na
tual (Chassot, 2006).
Europa, a Química como Ciência.
Convém ressaltar que a valorização dos sabe-
O ensino da Química como disciplina escolar
res populares e sua aproximação da cientificidade
remonta aos anos 1863 e 1869, na França, a qual
contribuem para dar maior significado ao ensino
era direcionada para atender as necessidades dos
da Química. Dessa forma, a importância da pre-
alunos. As transformações políticas e econômicas
servação e da manutenção deste tipo de conheci-
que aconteciam na Europa repercutiram em outros
mento social pode ser a base científica da ciência
continentes, fato que contribuiu para sua implanta-
moderna.
ção no ensino praticado no Brasil.
Sendo assim, é necessário que adquiramos
Com a primeira reforma do ensino no Brasil,
durante a nossa existência, na educação formal ou
conhecida como Francisco de Campos, em 1931,
fora dela, argumentos para questionar fenômenos
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
65
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
e situações que fazem parte de nossa vivência.
conceitual, abandonando-se antigos conceitos,
Portanto, é preciso o mínimo de uma alfabetização
mas um novo nível de racionalização é criado.
científica e tecnológica (ACT).
Do ponto de vista epistemológico da aprendizagem existem várias regiões de perfis de conheci-
3
mento, que variam segundo as aptidões cognitivas
Alfabetização científica e tecnológica
de cada indivíduo, pois cada um apresenta ideias
Partindo da premissa de que a Química originou-se a partir de saberes e de práticas ligadas à
próprias, pré-conceitos arraigados e, muitas vezes, resistentes a mudanças.
transformação da matéria e presentes nas diversas
De acordo com Hewson (1989), o processo de
civilizações, considera-se que ela não pode ser
construção do conhecimento é influenciado por uma
ensinada baseada apenas na aquisição de conheci-
série de experiências individuais e sociais. O saber
mentos, mas em suas relações com os saberes que
construído por cada indivíduo normalmente não é
permeiam o cotidiano dos alunos.
totalmente pessoal, tendo em vista que, dois indiví-
Chassot (1995) e Maldaner (2003) enfatizam
duos expostos aos mesmos eventos podem perceber
que a abordagem dos conteúdos no ensino de
e interpretá-los de maneiras diferentes, dependendo
Química deverá ser norteada pela construção e
de suas crenças e conhecimentos de base, e estas
reconstrução de significados de conceitos científi-
crenças influenciam e são influenciadas pelas inte-
cos, vinculada a contextos culturais, em função das
rações sociais e pela forma que são originadas.
necessidades humanas, na perspectiva da alfabetização científica e tecnológica.
A compreensão de algo que o aluno apresenta em nível de senso comum situa-se na região do
De acordo com Milaré e Richetti (2009), a alfa-
realismo e, basicamente, são assimilações feitas
betização científica adquire força na necessidade
por intuição, mais ligadas às percepções sensoriais
de contextualizar o ensino pautado na fragmenta-
e, sendo bem contabilizadas, são fundamentais no
ção, a fim de tornar a Ciência mais acessível aos
processo de ensino e aprendizagem.
cidadãos em geral, favorecendo, desta forma, a ocorrência da aprendizagem significativa.
Existem evidências de que os resultados da aprendizagem dos alunos são baseados, em parte,
Sendo assim, é necessário um nível de comprometimento e entrosamento mais atento do indivíduo,
em uma explícita consideração de seu conhecimento prévio de algo (Hewson, 1989).
no sentido de buscar uma valorização dos saberes
De acordo com Mortimer (1992), cabe ao pro-
populares (Chassot, 2006) contribuindo para a mini-
fessor ter acesso a essas noções intuitivas, pois,
mização de crendices, ao mesmo tempo em que, por
o desconhecimento completo delas pode levar o
meio da mudança conceitual, se oferecem subsídios
aluno a uma visão dupla de um mesmo conceito.
para que o aluno decida conscientemente sobre sua
“Visão escolar utilizada na resolução de proble-
ação no ambiente em que está inserido.
mas” e “visão prática utilizada para explicar situações da vida”.
4
A tomada de consciência dessas duas visões
Mudança de perfil conceitual
e da amplitude do domínio de cada uma delas é
A estratégia de evolução de perfil conceitual
fundamental para que o aluno possa melhorar seu
para construção do conhecimento foi proposta por
perfil epistemológico no processo, acrescendo
Mortimer. Nessa perspectiva, o desenvolvimento
sua parte racional e limitando a aplicação de suas
gradual dos conceitos não ocorre pela mudança
ideias intuitivas.
66
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
Exemplificando sobre este ponto de vista, o
constituída por flores esmagadas com pimenta e
creme dental apresenta aplicações diferentes no
sal e folhas de menta (Usberco; Salvador, 2006).
senso comum, considerado, muitas vezes, não
A maneira como esta mistura era utilizada não é
apenas por sua função de higienização bucal, mas
muito clara, contudo, acredita-se que a mesma
também pelo frescor que proporciona em picadas
era aplicada com pedaços de panos ou ramos de
de insetos e em queimaduras, conceitos esses que
árvores. Mais adiante no tempo, os egípcios, por
não pressupõem a ação dos componentes quími-
volta de 2000 anos a.C., preparam determinada
cos. O que ocorre é apenas uma apreciação gros-
combinação com produtos abrasivos com função
seira, retendo-se no aspecto da forma e arte externa
de limpar e polir os dentes. Esse preparado compu-
pela qual é apresentada. Pode-se dizer que está
nha-se basicamente de pedra-pomes pulverizada,
associada a uma epistemologia sensorial.
contendo óxidos de silício e alumínio e solução de
Dessa forma, o aprendiz vai criando na sua estru-
acido acético (Usberco; Salvador, 2006).
tura cognitiva um novo perfil do conceito que tinha
Nas Américas do século XVIII têm-se evidên-
sobre creme dental, incorporando uma noção mais
cias de creme dental feito de pão queimado com
complexa e racional do mesmo produto, percebendo
resina, alúmen e canela, além de vários tipos de
outras características, além daquelas apanhadas pelo
ervas característicos da região.
visual peculiar a ele, envolvendo outros aspectos
Durante o século XIX, a pasta de dente se
relacionados à sua constituição, propriedades quími-
popularizou no Reino Unido, sendo feita de sal ou
cas e físicas bem como o porquê do seu uso.
giz e tijolos pulverizados. Segundo historiadores,
Conforme aumenta a parte racional do perfil, o
a verdadeira pasta de dentes nasceu da criação do
aluno passa a relacionar o seu conceito prévio aos
dentista americano Dr. Washington Wentworth
fatos e efeitos relativos ao conhecimento cientí-
Sheffield, em 1850 (Silva et al., 2001).
fico, tais como, composição química, efeitos sobre
Após o advento da Primeira Guerra Mundial, o
a pele queimada, além das consequências que seu
creme dental generalizou-se pela população, sendo
uso incorreto podem ocasionar como, infecções
que, em 1950, os dentifrícios de flúor tiveram ampla
secundárias, fúngicas e alergias. Neste sentido,
aceitação, inclusive no Brasil. Atualmente, existem
apresenta-se, a seguir, um breve histórico sobre
abundantes marcas disponíveis no mercado, todas
o creme dental que muito auxiliará o professor a
usam flúor por sua comprovada eficiência em com-
desmistificar tal crença na tentativa de possibilitar
bater as cáries, além de outros componentes quími-
a mudança de perfil conceitual.
cos conforme especificação a seguir. O creme dental atual tem uma natureza química
5
Creme dental: histórico, composição química, efeitos sobre as queimaduras A mais antiga mistura para limpeza dos dentes aparece num manuscrito egípcio do século IV a.C.,
diferente das utilizadas no passado. Todavia, apresentam o mesmo propósito de manter a saúde da boca, que se caracteriza essencialmente por remoção de restos de alimentos e placas bacterianas. O Quadro 1 apresenta a quantidade de componentes e suas funções básicas nos dentifrícios.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
67
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
Quadro 1. Função e porcentagem dos componentes do creme dental. Componente
Função
Quantidade (%)
Abrasivo
Lixar e limpar os dentes
Corante
Fornecer cor ao dentifrício
20-50 1-2
Espumante
Formar espuma
1-2
Umectante
Umidade e consistência ao creme dental
Aglutinante
Une os componentes do creme dental
Edulcorante
Sabor ao dentifrício
Solvente
Dissolver os componentes do creme dental
Agente terapêutico
Terapêutica
20-35 1-3 1-2 15-25 0-1
Fonte: Silva (2001) e Trevisan (2012).
Em seguida, são apresentados alguns dos cons-
d) Umectantes: têm a finalidade de impedir
tituintes químicos dos dentifrícios e sua finalidade
que a pasta dentro do tubo resseque, con-
mediativa no processo de escovação dos dentes:
ferindo textura e melhorando o aspecto do
a) Espumantes: lauril sulfato de sódio – res-
produto, destacando-se a glicerina e o sor-
ponsável pela formação da espuma, com
bitol. Estes componentes previnem a perda
ação detergente, cuja finalidade é diminuir
de água e o consequente endurecimento da
a tensão superficial da pasta, deixando
pasta quanto exposto ao ar, conferindo ao
seus componentes penetrar nas fissuras,
produto a cremosidade e a textura conhe-
removendo os resquícios de alimentos b) Abrasivos: são substâncias que, durante
a carboximetilcelulose, que auxilia na
a escovação, aumentam o atrito, promo-
manutenção da consistência da pasta de
vendo polimento adequado e removendo
dentes sendo também utilizado como cola
manchas, agindo diretamente nas placas
de origamis (Silva et al., 2001);
bacterianas. A maioria dos cremes dentais
f) Triclosan: é o agente terapêutico mais
é formada pelos seguintes abrasivos: car-
importante do creme dental. Trata-se de
bonato de cálcio, fosfato ácido de cálcio,
um composto orgânico que tem função
pirofosfato de cálcio, óxido de magnésio e de alumínio e, principalmente, por dióxido de silício (Trevisan, 2012);
antibacteriana (Silva et al., 2001); g) Água e álcool etílico: são solventes responsáveis pela dissolução dos ingredientes
c) Corantes: estas substâncias químicas
68
cida (Trevisan, 2012); e) Aglutinantes: o principal aglutinante é
(Usberco; Salvador, 2006);
formadores da pasta homogênea;
conferem cor ao creme dental, tal como a
h) Edulcorantes: adoçantes, que conferem o
cor verde que é função da clorofila, bem
sabor doce aos cremes dentais como a saca-
como dióxido de titânio que deixa a pasta
rina sódica e o sorbitol (Trevisan, 2012);
de dentes branquinha. O dióxido de titânio
i) Fluoreto de sódio: esse componente reage
apresenta propriedades físicas de barrar a
com o fosfato de cálcio presente nos den-
radiação solar, fato que é muito utilizado
tes para formar fluoropatita – substância
em cosméticos, porém, pode provocar
de proteção contra cáries dentárias –, ini-
alteração no ambiente aquático (Usberco;
bindo ação de bactérias (Trevisan, 2012).
Salvador, 2006);
Encontrado normalmente na água de
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
abastecimento e no solo, conforme estudos
da direção da escola e, como são menores de idade,
científicos, seu uso correto traz benefícios
os pais e os alunos assinaram um termo de consen-
para os ossos e dentes (Buzalf, 2008);
timento para que os dados fossem utilizados em
j) Preservantes: são utilizados com a finali-
5.1
publicações científicas.
dade de prevenir o crescimento de micro-
Inicialmente, foi solicitado aos alunos que
-organismos no creme dental, sendo o mais
fizessem uma pesquisa junto à comunidade das
usado o benzoato de sódio que é levemente
principais crenças (saberes populares) que abor-
adstringente. Porém, se misturado à vita-
dassem conceitos químicos. Em seguida, os alunos
mina C, pode formar o benzeno, que é um
apresentaram os saberes populares à turma e, em
composto cancerígeno (Usberco; Salvador,
consenso, escolheram aquele que eles considera-
2006).
ram mais polêmico para ser trabalhado: “o uso de
Efeitos sobre as queimaduras
Percebe-se, desde longa data, que muitas pes-
creme dental é indicado para queimaduras”. Na sequência, foi elaborado o questionário a seguir, para discussão com os alunos.
soas, guiadas pelos saberes populares e senso
1. O uso de creme dental é indicado para
comum, fazem uso do creme dental em caso de
queimaduras: mito ou verdade? Por que?
queimaduras, alegando que sua utilização traz a
2. Você ou alguém do seu convívio já sofreu
sensação de frescor. Todavia, isso não é recomen-
queimaduras e fez uso do creme dental
dado por que:
sobre a área queimada? ( ) Sim ( ) Não
a) Alguns bactericidas como o triclosan podem causar sensibilização (Freitas; Arcuri, 2000); b) Os umectantes que fazem parte das pastas
Em caso afirmativo, relate o que aconteceu e quem indicou o uso:
dentifrícias, tais como o propileno glicol
3. Em sua opinião, o que levou as pessoas a
ou glicerina podem causar infecções bac-
utilizarem creme dental em queimaduras?
terianas secundárias e propiciar coloniza-
4. O que você acredita que está presente no
ções fúngicas (Figueiró; Figueiró Filho;
creme dental que proporcione a sensação
Coelho, 2008);
de frescor?
c) O dióxido de silício presente em sua com-
5. Em sua opinião, qual a substância presente
posição química pode causar reações alér-
no creme dental que é responsável pelo
gicas intensas (Silva et al., 2001);
polimento dos dentes?
d) O lauril sulfato de sódio, de acordo com a
6. Qual a sua ideia a respeito do creme dental
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
secar fora do tubo?
(Anvisa), apresenta potencial de irritação à pele (Figueiró; Figueiró Filho; Coelho, 2008).
Após o preenchimento individual do questionário anterior, foi solicitado aos alunos que, no laboratório de informática, realizassem uma pes-
6
Procedimentos metodológicos
quisa sobre a composição química do creme dental, elaborando uma síntese daquilo que consideraram
Para garantir o anonimato dos alunos, os seus
mais relevante, conforme indica a seguinte questão:
nomes foram substituídos por letras seguidas de
7. Fazendo uso da tabela periódica e da
números (A1, A2, A3...). Foi solicitada autorização
Internet, elabore um quadro com proprie-
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
69
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
dades físicas e químicas de algumas das
“Verdade, porque refresca o local atingido
substâncias que compõem o creme dental.
pela queimadura, até mesmo aliviando a dor” (A13).
Nas aulas subsequentes, alunos e professores discutiram sobre as informações encontradas e os dados coletados junto à comunidade. Os alunos finalizaram o trabalho produzindo desenhos acompanhados de um pequeno texto informativo sobre o assunto. 7
Ao analisar essa resposta, verifica-se que determinados saberes populares transitam no tempo, levando os alunos a considerá-lo como verdade, cabendo à escola, portanto, a busca de estratégias para propiciar mudanças de perfil conceitual, sem contudo, impor uma Ciência que a escola não produziu e muitas vezes nem entende (Chassot, 2006).
Resultados
Na segunda questão, ao indagar sobre a utili-
Com o desenvolvimento dessa atividade, buscou‑se a valorização dos saberes populares da comunidade em que a escola está inserida pois, segundo Chassot (2006), esse tipo de encaminhamento metodológico constitui-se num dos pontos de partida para a alfabetização científica e para demonstrar que a Ciência não está dissociada do cotidiano.
zação do creme dental em queimaduras, 85% afirmaram que utilizaram ou que conheciam alguém que havia feito uso. Ainda, nessa questão, foram solicitados a relatar o que ocorreu e quem indicou o uso. Assim, obtiveram-se como respostas mais significativas: “No começo ela alivia a dor” (A1).
O resgate dos saberes da comunidade propi-
“Ao passar na queimadura, não adiantou e
ciou momentos de conflito, os quais foram utiliza-
aumentou; quem indicou foi um amigo” (A6).
dos para o desenvolvimento de perfis conceituais como uma condição para a construção de conceitos químicos (Mortimer; Machado, 2010). O preenchimento do questionário sobre o saber popular selecionado pelos alunos foi proposital no sentido de que o aluno transpusesse, consciente ou inconscientemente, esse conhecimento popular, conforme se observa pelas respostas e comentários Na sequência, os dados são apresentados em duas categorias.
como o seu uso a queimadura demora mais para cicatrizar” (A15). Além desses comentários, têm-se os seguintes
“Sim; a pessoa sentiu uma sensação de indicou foi minha mãe” (A2).
Com relação à primeira questão, percebeu-se que 15% dos alunos acreditam que o uso de creme dental é indicado para queimaduras, conforme resposta a seguir, enquanto os demais alunos (85%) discordam disso. Observa-se esse resultado por
70
“Ele refresca o local da queimadura, mas,
frescor e alívio no local queimado. Quem
Percepções iniciais dos alunos
meio de respostas como:
mãe” (A26).
exemplos:
feitos por eles.
7.1
“A queimadura ardeu e quem indicou foi a
“Sim; não aliviou a dor nem melhorou. Quem indicou o uso foi a família e outras pessoas” (A14). Na análise dessa questão notou-se que a maioria respondeu que, ao utilizar o creme dental em regiões
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
queimadas, há um alívio considerável da dor, sensa-
Em resposta à questão cinco, 90% dos alunos
ção de frescor, porém há uma demora no processo
se referiram a um tipo de pó fino semelhante à
de cicatrização. O uso foi indicado principalmente
areia adicionado e de algum tipo de corante como
pelas mães, seguido de outros familiares, depois os
o agente responsável pelo polimento dos dentes.
vizinhos e, finalmente, pelos amigos. Isso eviden-
De acordo com eles, quando em contato com a
cia que, nessa comunidade, ainda é bem marcante a
pele, pode ocasionar lesões. Isso é verificado na
influência dos saberes populares e sua transmissão
resposta do aluno (A18):
dentro do grupo familiar, cabendo ao professor, o cuidado de não desvalorizar esse conhecimento e
“É um pó branco parecido com uma areia
saber utilizá-lo a seu favor para despertar o interesse
bem fina que, se passar na pele, pode esfre-
pela Química, construindo o novo conhecimento
gar ou machucar.”
sem, contudo, abandonar as ideias e crenças antigas, conforme afirma Chassot (2006). Quando indagados sobre os motivos pelos quais as pessoas utilizaram o creme dental em queimaduras, a maioria apontou que evita bolhas, dá a sensação de frescor e alivia a dor. Além disso, o desespero da dor e a falta de algo mais apropriado no momento também foram motivos de sua utilização, conforme se observa nas seguintes transcrições: “A falta de ter um remédio apropriado na hora do acontecimento” (A6).
Há evidências, nas respostas, de que a conceituação dada pelos alunos a partir do senso comum pode ser abordada numa mudança de postura (Mortimer, 2010) ampliando a parte racional e limitando suas ideias alternativas, uma vez que os abrasivos presentes nos cremes dentais – carbonatos de cálcio de dióxido de silício – são os responsáveis pelo polimento dos dentes. As respostas à questão seis foram as mais diversas possíveis. Destas, a que ficou mais evidente, foi a do aluno (A14) que respondeu:
“As pessoas ficam desesperadas com a dor e sabem que o creme dental alivia a dor. Com isso levam elas a utilizarem” (A22).
“Talvez fosse o contato do creme com alguma substância da pele queimada em contato com o ar que fazia ela secar mais
Cerca de 88% das pessoas que responderam à
rapidamente.”
questão quatro citaram a menta como responsável pelo frescor que, em contato com a pele, esfria.
Entretanto, cientificamente, a pasta de dente
Neste sentido, percebe-se que os conhecimentos
não resseca dentro do tubo, pois apresenta a glice-
intuitivos dos alunos (Mortimer, 1994) podem ser
rina (triálcool) que é um umectante, prevenindo a
trabalhados no sentido de promover uma mudança
perda de água e o consequente endurecimento da
para conceitos mais racionais dentro de um novo
pasta quando exposto ao ar (Trevisan, 2012).
perfil, haja vista que os flavorizantes, responsáveis pela recrescência e sabor nos cremes dentais, são
7.2
ésteres que podem conter mentol. Observa-se isso pela seguinte transcrição: “Uma substância refrescante tipo hortelã, menta, que em contato com a pele, refresca” (A9).
Construindo o conhecimento
Os alunos elaboraram a atividade 7 (sete) em grupo, sendo que foram produzidos quadros informativos sobre algumas das substâncias químicas presentes no creme dental, como ilustrado a seguir:
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
71
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
pois estes podem complicar a queimadura e dificultar um diagnóstico mais preciso [...].
Nome do produto: Carbonato de Cálcio Fórmula: CaCO3 Estado físico: sólido
Além de se manifestarem através da produção
Forma: pó fino
de textos, alguns alunos também fizeram desenhos
Cor: branco
com diálogos e alertas para a não utilização do
Ponto de fusão: 1200 ºC
creme dental sobre as partes afetadas por queima-
Densidade: 2,65 g/cm3
duras.
Solubilidade: praticamente insolúvel em água
Esse resgate cultural de que uma crença pode
Massa molar: 100 g/mol Obs.: pode causar irritação
se reverter num benefício aos alunos, não ocorre no sentido de “mudança no fazer” e “abandono da cul-
Fonte: Tabela Periódica
tura local”, mas no oferecimento de algumas explicações sobre alguns “porquês” do fazer uso ou não do creme dental em queimaduras (Chassot, 2006).
Nome do produto: Fluoreto de sódio
O estudo comparativo entre o saber popular e
Fórmula: NaF Estado físico: sólido
o saber institucionalizado, por meio das pesquisas
Forma: pó fino
bibliográficas, a produção de textos e a discussão
Cor: branco
em sala de aula, possibilitou aos alunos o desen-
Ponto de fusão: 993 ºC
volvimento gradual de conceitos com a criação
Densidade: 2,56 g/cm3 Solubilidade: 42 g/l em água
de novas regiões de perfil conceitual (Mortimer;
Massa molar: 40 g/mol
Machado, 2010), estabelecendo na sua estrutura
Obs.: Tóxico por ingestão. Irritante para os olhos e pele.
cognitiva um novo perfil de conceito sobre a utilização de creme dental no tratamento de queimadu-
Fonte: Tabela Periódica
ras e em seu ambiente natural que é a sala de aula. Percebeu-se que o conhecimento científico foi ancorado, internalizado no saber popular inicial-
As informações que o questionário ofereceu
mente resgatado e, em nenhum momento, houve
contribuíram como um pré-diagnóstico para um
a imposição de um saber em detrimento do outro.
estudo comparativo entre os saberes institucionalizados, sistematizados e populares. Elas podem ser utilizadas para a elaboração coletiva de um material utilizando a Ciência, nesse caso específico a Química, para explicar a referida prática do uso do creme dental em queimaduras, bem como algumas substâncias químicas presentes em sua composição.
8
Considerações finais Ao longo do tempo, percebe-se que muitos saberes populares são repassados de geração em geração. Não são raras as vezes em que o professor
O fragmento reproduzido a seguir ilustra essa ideia:
de Química se depara com tais saberes e os consi-
[...] muitas pessoas acreditam que no caso de queimaduras, o creme dental pode trazer alívio e até a cura do ferimento, pois dá a sensação de frescor, mas estão enganados, pois não se deve aplicar nenhum produto caseiro, como sal, açúcar, pó de café, pasta de dente ou clara de ovo
micos. Entretanto, os mitos oriundos dos saberes
72
dera obstáculos à aprendizagem de conceitos quípopulares podem ser utilizados na construção do conhecimento científico, por meio do desenvolvimento gradual de diferentes perfis conceituais sem a imposição do saber, sem entraves de novos
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Explorando a Crença do Creme Dental como Pomada para Queimadura: discussões no ensino de Química
conhecimentos e sem cristalização de falsos conceitos. Cabe ressaltar que não existem receitas prontas; entretanto, a valorização dos saberes populares da comunidade em que a escola está inserida, como ponto de partida para a alfabetização científica e tecnológica, contribui para demonstrar que a Química não está dissociada do cotidiano e que o conhecimento científico não pode ser encarado como um mero continuísmo do senso comum ou uma completa negação dos saberes populares. Concluiu-se, portanto, que é possível a abordagem de conceitos químicos a partir do resgate de saberes populares, na perspectiva da mudança
MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de química: professor/pesquisador. 2. ed. Ijuí (RS): Ed. Unijuí, 2003. MILARÉ, T.; RICHETTI, G. P. Alfabetização científica no ensino de química: um olhar sobre os temas sociais. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, 14., Curitiba, 2009. Anais... Curitiba: UFPR, 2009. Disponível em: <http://www.quimica. ufpr.br/eduquim/eneq2008/resumos/R0717-2.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2012 MORTIMER, E. F. Pressupostos epistemológicos para uma metodologia de ensino de química: mudança conceitual e perfil epistemológico. Química Nova, v. 15, n. 3, p. 242-249, 1992.
mais atraente e significativo.
______. Evolução do atomismo em sala de aula: mudança de perfis conceituais. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1994.
Referências
______. MACHADO, A. H. Química: ensino médio. Vol. 1. São Paulo: Scipione, 2010.
de perfil conceitual, tornando o ensino de Química
9
HEWSON, P. W. The conditions of conceptual change in the classroom. International Journal of Science Education, v. 11, n. 5, p. 541-553, 1989.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: bases legais. Brasília: MEC/SEMT, 2000. BUZALF, M. A. R. Fluoretos e saúde bucal. São Paulo: Santos, 2008. CHASSOT, A. Para que(m) é útil o ensino. Canoas (RS): lbra, 1995. ______. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 4. ed. Ijuí (RS): Unijuí, 2006. FIGUEIRÓ, T. L. M.; FIGUEIRÓ FILHO, E. A.; COELHO, L. R. Pele e gestação: aspectos atuais do tratamento, drogas comumente utilizadas. Parte 1. Femina, v. 36, n. 8, ago. 2008. FREITAS, N. B. B.; ARCURI, A. S. A. Situações e fatores de risco no ramo químico. Cadernos de Saúde do Trabalhador, 2000. Disponível em: <http://www.coshnetwork.org/sites/default/files/ caderno16%20ramo%20quimico.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2012.
NEVES, L. S.; FARIAS, R. F. História da química. Campinas: Átomo, 2011. RONAN, C. A. História ilustrada da ciência: das origens à Grécia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. SANTOS, W. L. P.; et al. Química e sociedade: um projeto brasileiro para o ensino de Química por meio de temas C-T-S. Revista Educación Química, n. 3, p. 20-28, 2009. SCHNETZLER, R. P. Construção do conhecimento e ensino de Ciências. Em Aberto, Brasília, v. 11, n. 55, jul./set. 1992. SILVA, R. R. F. et al. A química e a conservação dos dentes. Química Nova na Escola, n. 13, p. 3-8, maio 2001. TREVISAN, M. C. Saúde bucal como temática para um ensino de química contextualizado. 141 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pósgraduação em Educação em Ciências. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria (RS), 2012. USBERCO, J.; SALVADOR, E. Química geral. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
73
Relato de Experiência 03 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 74-82
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis Heavy Metals: how this concept is designed by chemistry students at the IFRJ – campus Nilópolis Denise Leal de Castro1 Thiago Rodrigues de Sá Alves2
Resumo A contaminação por metais pesados ao ambiente tornou-se um dos assuntos mais discutidos devido principalmente à ação de indústrias que não seguem a rigor a legislação ambiental. A partir daí foi pesquisado o nível de conhecimento do tema, por intermédio de um questionário com perguntas abertas, aplicado a 65 licenciandos do 2º, 5º e 8º períodos do IFRJ. Neste questionário, buscou-se verificar seus conhecimentos a respeito do tema Metais Pesados. Além de serem quimicamente reativos e bioacumulativos, os metais pesados são benéficos quando encontrados em nossa alimentação em concentração adequada. Através da análise dos dados, constatou-se que os licenciandos em Química demonstraram dificuldade em inserir o tema em conteúdos programáticos sugeridos para o ensino de Química. Contudo, os mesmos demonstraram conhecimento sobre o que são realmente os Metais Pesados ao exemplificarem e realizarem discussões plausíveis durante a pesquisa. Palavras-chave: Metal pesado; Formação de professores; Ensino de química.
1. Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ. 2. Professor Doc 1 da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro – SEEDUC.
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
Abstract Contamination by heavy metals to the environment has become one of the most discussed issues mainly due to the action of industries which do not follow the strict environmental legislation. In this work it was researched the level of knowledge of the subject, through a questionnaire with opened questions, applied to 65 IFRJ students of the 2nd, 5th and 8th periods. The objective of the questionnaire was to verify their knowledge about Heavy Metals subject. In addition to being chemically reactive and bio-accumulative, heavy metals are found beneficial in our food at an appropriate level. It was also found that the students, who are ready to teach chemistry, demonstrated difficulty in inserting the theme in the teaching process. However, they demonstrated knowledge of what Heavy Metals are when exemplified and promoted plausible discussions during the research. Key-words: Heavy metal; Teacher training; Teaching chemistry.
1
Introdução Sabe-se que diversos problemas ambientais são provenientes do acúmulo ou liberação dos Metais Pesados, seja pelas indústrias, no lixo, em nossas residências e, até mesmo, nos laboratórios de Química. No entanto, os Metais Pesados desempenham um importante papel em nossas vidas, principalmente quando verificamos a existência deles em nossa alimentação, na forma de elementos essenciais. Porém, precisamos estar atentos, pois
Superior de Licenciatura em Química sobre o tema Metais Pesados. É pressuposto que os conceitos da Educação Ambiental estejam presentes na formação dos futuros professores de Química, para que haja uma real conscientização sobre a preservação do Meio Ambiente. O conhecimento químico pode se tornar um instrumento de grande valor no que se refere ao estudo de temas norteadores para que a mesma seja vista como uma ciência presente em todos os ambientes do cotidiano do educando. Ter noções básicas de Química instrumentaliza o cidadão para que ele possa cobrar os benefícios da aplicação do conhecimento químico para toda a sociedade. Além disso, aprender acerca dos diferentes materiais, suas ocorrências, seus processos de obtenção e suas aplicações permitem traçar paralelos com o desenvolvimento social e econômico do homem moderno. Tudo isso demonstra a importância do aprendizado de Química [...] (Beltran; Ciscato, 1991, p. 15-16).
a falta ou o excesso desses elementos em nosso organismo acarreta doenças (Massabini, 2006). Devido ao aumento do desenvolvimento industrial nas últimas décadas, os Metais Pesados têm sido rotulados como um dos maiores vilões responsáveis pela contaminação de praticamente todos os ecossistemas aquáticos e terrestres, além de serem amplamente associados a problemas ambientais, poluição e contaminação. Por meio de pesquisas, sabe-se que os agentes tóxicos mais conhecidos
O curso de licenciatura oferecido pelo IFRJ
hoje são justamente os Metais Pesados. Entretanto,
– Campus Nilópolis, busca a formação de pro-
segundo Klaassen (2001 apud Rocha, 2008/2009),
fessores comprometidos com a educação básica.
nem todos os metais conhecidos provocam toxi-
Santos (2008) discute que o real papel do profes-
cidade, pois, de um total de 80 metais, menos da
sor é recriar os conceitos estudados pelos alunos
metade produz algum risco ao ser humano.
para que eles possam problematizar essas novas
Nesse estudo, buscou-se identificar a concep-
ideias adquiridas, ou seja, os estudantes, em algum
ção de estudantes do 2º, 5º e 8º períodos do Curso
momento da sua vida escolar, tiveram acesso aos
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
75
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
conteúdos ministrados pelos professores. Cabe ressaltar que o professor possui o papel de buscar metodologias novas, tais como: atividades experimentais que não sejam somente demonstrativas, atividades lúdicas, vídeos educativos e utilização de temas transversais. O professor deve desafiar os estudantes através dos instrumentos citados anteriormente, fazendo com que recriem esses conceitos de uma forma significativa. Por outro lado, uma pergunta está posta: “será que os futuros professores de Química estão, realmente, sendo preparados para essa realidade?” Nas palavras de Buck et al. (2005) podemos afirmar que:
Nesse contexto, a preocupação com o Meio Ambiente tem sido um dos assuntos mais discutidos nas últimas décadas, não apenas pelo crescimento tecnológico, sendo este benéfico para a população, mas também pela falta de comprometimento do homem para com a natureza, tornando-se um enorme produtor de inúmeros impactos ambientais. De acordo com Carvalho (2004):
76
industriais, domésticas etc., mas um assunto de grande valia se inicia com relação ao seu destino final, seja em águas, solos, ou até mesmo no ar, sendo o meio ambiente o mais afetado. Uma definição sobre o que são, realmente, os resíduos é feita por Souza (2005):
As aulas experimentais utilizam, em sua grande maioria, produtos químicos, e de acordo com Machado e Mol (2008), uma aula experimental de Química, por gerar produtos perigosos, é uma atividade potencialmente poluidora. Essas atividades
possuem um caráter investigativo, pois o estudante é estimulado a discutir e a ampliar seus conhecimente nessas aulas práticas (Guimarães, 2009). No entanto, sabe-se que, durante a realização dessas atividades, existe sempre a produção de resíduos que, se não forem devidamente tratados, podem acarretarem impactos negativos ao meio ambiente (Machado; Mól, 2008). Em função da grande importância do tema, este
Portanto, eis que nasce a Educação Ambiental
Para Dionysio e Messeder (2012):
dos resíduos por ações dos homens, de atividades
mentos adquiridos durante as aulas teóricas, justa-
Na década de 70, a Educação Ambiental foi concebida como uma preocupação dos movimentos ecológicos como uma prática de conscientização capaz de alertar sobre a extinção e má distribuição no acesso aos recursos naturais, envolvendo as pessoas em ações sociais consideradas ambientalmente adequadas.
A educação ambiental pode ser ponto-chave no desenvolvimento de uma sociedade sustentável e socialmente mais justa.
Muito se tem discutido sobre os problemas
é tudo aquilo não aproveitado nas atividades humanas, proveniente das indústrias, comércios e residências. Como resíduos encontramos o lixo, produzido de diversas formas, e todo aquele material que não pode ser jogado ao lixo, por ser altamente tóxico (resíduo nuclear, hospitalar) ou prejudicial ao meio ambiente.
constata-se que as ações de Educação Ambiental no sistema de ensino se caracterizam por um despreparo dos professores em relação ao tema, por falta de informação e reflexão sobre questões ambientais.
e que, segundo os autores supracitados:
a Educação Ambiental surge nos Parâmetros Curriculares Nacionais com a inclusão do tema transversal Meio Ambiente.
trabalho teve como objetivo principal investigar os conhecimentos que os estudantes do curso superior em Licenciatura em Química do IFRJ – Campus Nilópolis possuem sobre os Metais Pesados, assim como o descarte dos mesmos, bem como identificar o nível de conscientização dos graduandos sobre a destinação de resíduos gerados após as aulas experi-
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
mentais de Química e verificar se os futuros profes-
em Química do IFRJ – Campus Nilópolis. Para
sores conseguiriam identificar em quais conteúdos
que a pesquisa obtivesse dados mais específicos,
programáticos de Química o tema Metal Pesado
optamos por aplicá-la em estudantes de três perí-
pode ser inserido em suas futuras aulas de Química.
odos distintos.
Metodologia
“Você sabe o que são Metais Pesados? O que você
A questão 1 envolveu as seguintes perguntas: 2
conhece sobre Metais Pesados?” A maioria dos estu-
Inicialmente, foi realizada uma revisão da lite-
dantes dos períodos pesquisados, 83,08%, já ouviu
ratura sobre o tema Metais Pesados, preocupação
falar do tema, o que mostra que, independentemente
com o meio ambiente, formação de professores,
dos períodos, os alunos possuem um conhecimento
educação ambiental, periculosidade e toxicidade
inicial sobre os Metais Pesados (Figura 1). Um
desses metais. Posteriormente, foi realizada uma
pequeno percentual de ambos os períodos (4,61%)
pesquisa com graduandos do 2º, 5º e 8º períodos
não respondeu. Somente 10,8% de todos os estu-
do Curso Superior de Licenciatura em Química
dantes analisados mostraram possuir uma vaga
do Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus
noção do que realmente é um Metal Pesado.
Nilópolis, através da aplicação de um questionário
A outra parte da pergunta, “O que você conhece
contendo perguntas discursivas, a fim de verificar
sobre Metais Pesados?”, teve como objetivo veri-
o nível de conhecimento dos mesmos sobre o tema
ficar se o que foi escrito estava coerente com as
proposto. Os resultados foram obtidos através da
respostas dadas anteriormente. O termo ‘Metais
análise das respostas dadas às questões.
Pesados’ não possui uma definição exata, causando, assim, dúvidas e até mesmo confusões dentro da literatura (Duffus, 2002).
Resultados e discussões
De acordo com a Figura 2 podemos observar
O questionário foi aplicado a 65 graduandos (13
que os estudantes do 2º período possuem conheci-
do segundo período, 23 do quinto período e 29 do
mentos sobre o tema. Dos 13 graduandos pesqui-
oitavo período) do curso superior de Licenciatura
sados, somente 15% não responderam à pergunta.
100,0 90,0 80,0
86,0
84,0 78,0
2º período 5º período 8º período
70,0 60,0 %
3
50,0 40,0 30,0 20,0 8,0
10,0 0,0
Sim
13,0
10,0
Vaga noção
8,0
9,0
4,0
Não responderam
Figura 1. Alunos que já ouviram falar em Metais Pesados.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
77
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
90,0
83,0
80,0 70,0
2º período 5º período 8º período
60,0 %
50,0 40,0
38,0 35,0
30,0
23,0
20,0
9,0
10,0 0,0
17,0
16,0
Diversidade de conceitos
Massa atômica
Número atômico
9,0
Contaminação
8,0
13,0
10,0
7,0
4,0
Toxicidade
Saúde
15,0 13,0
Tempo de decomposição
Não responderam
Figura 2. Categorias citadas pelos estudantes que se relacionam a metais pesados.
Mais de 15% mostraram que a massa atômica pos-
dimento com relação ao tema proposto. Isso se deve
sui um papel importante na caracterização de um
ao grande volume de disciplinas cursadas durante
metal pesado; 8% relacionaram o tema à toxicidade;
os quase 3 anos e meio de graduação e também às
23% dos estudantes remeteram o tema à contami-
iniciações científicas e/ou empregos em indústrias,
nação e 38% responderam mais que duas opções
como relatado pela grande maioria. Contudo, 7%
e foram adicionados na categoria “Diversidade de
não souberam responder à questão e 10% dos estu-
conceitos”. Através das análises das respostas dadas
dantes mencionaram a saúde.
pelos alunos do 5º período constatou-se que eles
A questão 2, “Se você tivesse que descartar os
conseguiram associar o tema a uma gama de con-
resíduos utilizados durante a realização dos expe-
ceitos. Isso demonstra que, a cada período cursado
rimentos e/ou práticas, qual procedimento você
pelos estudantes, ou seja, conforme o andamento do
utilizaria?”, foi elaborada para detectar o nível de
curso, eles demonstram um nível de conhecimento
conscientização dos estudantes sobre a destinação
maior sobre o tema. Observou-se que, dos 23 gradu-
dos resíduos gerados durante as aulas práticas de
andos pesquisados, 9% relataram a “contaminação”;
Química. Machado e Mol (2008) ressaltam que
e 17% correlacionaram a “saúde” ao tema. Com relação às propriedades químicas, observou-se que 9% dos alunos citaram o “número atômico elevado” como uma importante propriedade para se identificar um metal pesado e 13% mencionaram o “tempo de decomposição” com relação ao descarte inadequado de materiais que são utilizados pelo homem. Na opinião dos alunos do 8º período, pode-se cons-
para diminuir esse problema, durante seu planejamento, deve-se avaliar e reconhecer os riscos e os perigos dos produtos químicos que serão manuseados, bem como dos resíduos ou rejeitos produzidos durante esta. Caberá ao professor buscar formas de minimizar a quantidade dos resíduos gerados nas aulas experimentais, bem como planejar a recuperação ou o descarte deles.
tatar que 83% dos graduandos não focaram somente
Dos 13 graduandos do 2º período, 53,85% iden-
um tema em específico e mostraram grande enten-
tificaram os procedimentos mais apropriados para
78
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
a realização de um descarte, demonstrando que,
que, dos 29 alunos pesquisados, somente 6,9%
mesmo tendo contato inicial somente com a dis-
relataram que não sabiam qual procedimento uti-
ciplina de Química Geral I, associaram as técnicas
lizar no momento do descarte, mas que se fosse o
mais coerentes para o correto descarte. De acordo
caso pesquisariam sobre o assunto antes. Os alunos
com um estudo de Cunha (2001), para a realiza-
desse período mostraram um grau de maturidade e
ção de um programa de gerenciamento de resíduos
de noções acerca dos procedimentos necessários,
no departamento de Química da Universidade do
constatando o que havíamos discutido anterior-
Paraná a neutralização consiste em minimizar a pericu-
mente, ou seja, à medida que os graduandos vão
losidade do resíduo por meio de reações químicas que
finalizando as disciplinas do curso, as respostas se
aumentem a sua compatibilidade com demais resíduos.
tornam mais coerentes.
O autor ainda sugere quatro fases que podem ser
A questão 3, “Como você evitaria o descarte
seguidas: coleta, neutralização, teste de incom-
inadequado de Metais Pesados na natureza?”, bus-
patibilidade e mistura em recipiente de armaze-
cou identificar as concepções dos alunos e seus
namento. Do total de alunos, 46,15% mostraram
possíveis entraves dentro desse estudo. De acordo
alguns equívocos e, até mesmo, respostas incom-
com a Figura 3, constatou-se que somente 30,8%
pletas dentro do correto descarte de resíduos.
dos estudantes do 2º período, de um total de 13, não souberam responder à questão proposta.
Os alunos do 5º período mostraram respostas mais coerentes e significativas. Alguns estudantes
Acreditamos que esses alunos tenham reali-
relataram não saber o que fazer após a utilização
zado somente práticas de Química Geral I até o
de um reagente em uma aula prática e/ou experi-
presente momento, e que já devem ter observado
mental. Outros ressaltaram que, imediatamente,
que, durante essas práticas, resíduos ou rejeitos
chamariam o professor responsável e até mesmo
são criados. Por outro lado, pôde-se verificar que
os monitores dessas atividades. Finalmente, as
69,2% dos estudantes possuem conhecimento de
respostas dos graduandos do 8º período indicaram
como realizar esse descarte.
100,0 90,0
Diversidade de conceitos Não souberam identificar
89,7
87,0
80,0 70,0
69,2
%
60,0 50,0 40,0 30,0
30,8
20,0
13,0
10,3
5º Período
8º Período
10,0 0,0
2º Período
Figura 3. Como evitar o descarte inadequado de Metais Pesados.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
79
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
Os estudantes do 5º período, por sua vez, indi-
ainda, que nesse grupo de 39,2%, encontramos res-
caram várias maneiras de se evitar o descarte ina-
postas para conteúdos programáticos como: tabela
dequado dos Metais Pesados. De 23 alunos pes-
periódica, ligações químicas, radioatividade e pro-
quisados, 87% indicaram as iniciativas a serem
priedades periódicas, por exemplo. Os estudantes
tomadas, mostrando, assim, um nível de conhe-
do 8º período, 29 alunos, mostraram concepções
cimento muito significativo. Somente 13,0% dis-
mistas. Somente 44,8% conseguiram inserir cor-
seram não saber qual a maneira correta para evi-
retamente os Metais Pesados nos conteúdos pro-
tar que os Metais Pesados tragam consequências
gramáticos. Mesmo com a presença de respostas
maléficas. Dos 29 graduandos do 8º período estu-
mais coerentes de alguns estudantes, identifica-
dados somente 10,3% não souberam como evitar o
mos um percentual de 41,4% de alunos, que foram
descarte inadequado dos metais. Mas ressaltaram
enquadrados na categoria “Grande confusão dentro
em suas respostas que evitariam o descarte para
de conteúdos programáticos”. Esses estudantes,
que a natureza não sofresse as consequências, pois
assim como os dos outros períodos estudados (2º
a mesma precisa ser preservada. Os demais estu-
e 5º), mostraram também confusão em suas res-
dantes, 89,7%, mostraram facilidade nas respostas.
postas. Algumas disciplinas como: Química Geral,
Constatamos, portanto, que, conforme os alunos
Química Inorgânica, Ciências Ambientais, Química
vão finalizando disciplinas, participando de even-
Analítica, Biologia e Físico-química, foram citadas
tos científicos e realizando as iniciações científi-
por esses alunos. Na legenda “Não tem ideia do que
cas, demonstram mais maturidade e conhecimento
se trata” somente 13,8% dos alunos não souberam
nas respostas.
responder. Estes justificaram ter dúvidas no que se
A 4º questão, “Em quais conteúdos progra-
refere a conteúdo programático, disciplina e tema.
máticos os Metais Pesados podem ser inseridos? Justifique sua escolha”, foi feita com o intuito de verificar a capacidade dos graduandos de inserir o
4
Considerações finais
tema Metais Pesados em conteúdos de suas futuras
As respostas dos alunos sobre o conhecimento
aulas de Química. Identificamos, após análise das
geral de Metais Pesados demonstrou que possuem
respostas, que boa parte dos alunos do 2º período
algumas informações sobre o tema. Encontrou-se
(76,9%) confundiu conteúdo programático com
um percentual de mais de 84% para os estudantes
disciplina. Verificamos que nenhum aluno desse
do 2º período, mais de 86% para os do 5º e 93%
período conseguiu identificar em quais conteú-
para os alunos do 8º período. Dentre todos os estu-
dos programáticos os Metais Pesados podem ser
dantes pesquisados constatou-se que 89,23% deles
inseridos. Os outros 23,1% foram enquadrados na
conhecem os Metais Pesados, enquanto 84,61%
legenda “Não tem ideia do que se trata” mostrando,
apresentaram um nível de concepção favorável
ainda, total falta de informação sobre os conteúdos.
sobre os tipos de resíduos e como realizar o seu
Para os estudantes do 5º período, o resultado nos
correto descarte. A pesquisa mostrou-se, até esse
mostrou que 52,1% dos alunos fizeram confusão
momento, adequada aos objetivos pretendidos, já
de conteúdos programáticos com as disciplinas de
que os estudantes dos três períodos estudados (2º,
Química. Dos 23 alunos estudados, 8,7% disseram
5º e 8º) conseguiram transmitir suas ideias e con-
não possuir ideia do que se trata um conteúdo pro-
cepções sobre os Metais Pesados.
gramático e somente 39,2% compreenderam o que
Constatamos, também, que conforme os alunos
a questão estava realmente buscando. Lembramos,
finalizam disciplinas da área de Química, o nível
80
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Metais Pesados: como este conceito é concebido pelos licenciandos em Química do IFRJ – campus Nilópolis
de conhecimento e as concepções destes acabam se tornando mais significativas. Dos estudantes do 2º período, 53,85% mostraram um conhecimento razoável de qual procedimento realizar durante o descarte de um resíduo. Por outro lado, 78,36% dos alunos do 5º período, mostraram uma melhor coerência nas respostas. E, por fim, 93,10% dos alunos do 8º período demonstraram segurança nos procedimentos corretos ao descartar resíduos durante as aulas práticas. Os estudantes de todos os períodos mostraram-se confusos e inseguros ao serem questionados sobre como os Metais Pesados poderiam ser inseridos nos conteúdos programáticos de Química. Dentre os alunos do 2º período, 76,92% desses alunos não souberam identificar como o tema poderia ser inserido nos conteúdos programáticos, causando uma grande confusão de respostas, pois confundiram conteúdos com disciplinas, demonstrando, portanto, um total despreparo neste aspecto. Entre os alunos do 5º e do 8º períodos, somente 42,30% mostraram compreensão ao sinalizarem os conteúdos corretamente. Dentre os demais, 11,54%, não souberam identificar e 46,15% foram incoerentes nas respostas. Isso mostra uma fragilidade na concepção desses estudantes ao demonstrar uma enorme confusão entre conteúdos programáticos e disciplinas. Por outro lado, constatamos que os alunos possuem conhecimento do que são, realmente, os Metais Pesados ao exemplificarem e mostrarem discussões coerentes com o assunto durante a coleta dos dados. 5
Referências BELTRAN, N. O.; CISCATO, C. A. M. Química. São Paulo: Cortez, 1991. BUCK, S.; LACHICA, K. W. B.; TEIXEIRA, C. A formação dos Pedagogos para a Educação Ambiental. In: Anais do III EPEA – Encontro “Pesquisa em
Educação Ambiental”, Ribeirão Preto (SP), no período de 10 a 13 de julho de 2005. CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental Crítica: Nomes e Endereçamentos da educação. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Brasília, 2004. CUNHA, C. J. O Programa de Gerenciamento dos Resíduos Laboratoriais do Departamento de Química da UFPR. Química Nova, v. 24, n. 3, p. 424-427, 2001. DUFFUS, J. H. “Heavy metals”—a meaningless term? Pure Appl. Chem., v. 74, n. 5, p. 793-807, Edinburgh, 2002. GUIMARÃES, C. C. Experimentação no ensino de Química: caminhos e descaminhos rumo a aprendizagem significativa. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, 2009. MACHADO, P. F. L.; MÓL, G. S. Experimentando Química com Segurança. Química Nova na Escola, v. 27, p. 57-60, 2008. MASSABINI, A. C. Os metais e a saúde humana, 2006. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/default. php?p=texto.php&c=quimica_viva__os_metais_e_a_ saude_humana>. Acesso em: 12 jan. 2013. MESSEDER, J. C.; DIONYSIO R. B. Química ambiental × educação ambiental: o que dizem os Professores de Química do ensino médio? III Encontro Nacional de ensino de ciências da saúde e do ambiente, Niterói, RJ, 2012. Disponível em: <http://www.ensinosaudeambiente.com.br/eneciencias/anaisiiieneciencias/trabalhos/T70.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2013. ROCHA, A. F. Cádmio, Chumbo, Mercúrio: a problemática destes metais pesados na saúde pública, 2008/2009. Monografia em Nutrição. Universidade do Porto. SANTOS, J. C. F. O papel do professor na promoção da aprendizagem significativa. Disponível em: <http:// www.famema.br/capacitacao/papelprofessorpromocaoaprendizagemsignificativa.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2013. SOUZA, J. A. Impactos ambientais da deposição de lixo e resíduos na superfície do solo. In: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Informe agropecuário. Aproveitamento de resíduos na agropecuária. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 26, n. 224, 2005. 81 p.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
81
Instrumento e Criatividade 01 | Vol. 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 83-88
Uma Simulação do Efeito Estufa em Microescala Auxiliando no Ensino de Química The Greenhouse Effect Simulation in Micro-scale Assisting in Chemistry Teaching Lílian Amaral de Carvalho1 Weverson Alves Ferreira1
RESumo Muitos alunos consideram as aulas de Química “inadequadas” para seu futuro, o que os leva a não verem um motivo para estudá-la. Uma forma de se mostrar a utilidade da Química é contextualizando essa disciplina com outras que o aluno esteja cursando. Neste trabalho, mostra-se como um simples experimento de simulação do efeito estufa pode ser utilizado para discutir conteúdos de química e mostrar sua interação com outras disciplinas do Ensino Médio. O experimento foi feito com diferentes tipos de alunos e, em todos os casos, houve uma grande melhora no interesse dos alunos pela Química. Palavras-chave: Efeito estufa; Ensino de jovens e adultos; Interdisciplinaridade; Contextualização. AbstrAct Several students consider the chemistry lessons “useless” for their future, which leads them to not see a reason to study it. One way to show the usefulness of chemistry is contextualizing this discipline with others that students are attending. This work shows a simple greenhouse simulation experiment that can be used to discuss contents of chemistry and show their interaction with other disciplines of high
1. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Instituto de Ciências Exatas, Departamento de Química.
school. The experiment was done with different types of students and in all cases there was a great improvement in student interest for chemistry. Key-words: Greenhouse effect; Education of youth and adults; Interdisciplinarity; Contextualization.
1
e, assim, ocorre a perda do sentido, o que torna o
Introdução Os professores de Química de Ensino Médio, frequentemente, encontram nas salas de aulas alunos que consideram os conhecimentos adquiridos nas aulas de Química como “inadequados” para seu futuro, o que os leva a não verem um motivo para estudar Química. São comuns perguntas como: “Por que preciso estudar isso?” e “Vou usar isso quando? Para que?”. Segundo Cardoso e Colinvaux (2000), o estudo da Química desenvolve uma visão crítica do mundo que cerca o indivíduo. Ele deve entender as razões e os objetivos que motivam e justificam o ensino de química, e isso será alcançado com o abandono das aulas baseadas em memorizações de nomes e fórmulas e a introdução dos conhecimentos e conceitos do dia a dia dos alunos. Uma forma de se mostrar a utilidade da quí-
aprendizado difícil e desinteressante (Cardoso et al., 2008). Também se pode melhorar a eficiência do aprendizado do aluno gerando nele um interesse pelo assunto. Uma das formas de se conseguir isso é usando a metodologia de projetos. Segundo Bicalho et al. (2009), O processo investigativo é a principal ferramenta da metodologia de projetos. Nele, o aprendiz, ao conduzir o experimento, vivência novas situações que exigem: compromisso, melhor relação interpessoal, adaptações, lidar com casualidade, agregação de novos valores. Fazer ciência ensina a pensar, ajuda a formular teorias, propicia o desenvolvimento de técnicas para se atingir um objetivo, possibilita escolher os meios de resolver um problema e expor com clareza os conceitos com critérios racionais e fundamentados no conceito científico.
mica é contextualizando-a com outras matérias que o aluno esteja cursando (Carvalho; Ferreira,
Para que se atinja o objetivo dentro da proposta
2010). Utilizando a contextualização química-bio-
da metodologia de projetos, o tema do experi-
logia pode-se mostrar a importância da Química
mento deve ser de interesse dos alunos envolvidos
nos seres vivos e no meio ambiente. Com isso, o
(Miranda; Galuch, 2009). Uma forma de se con-
aluno passa a ter uma visão global da realidade,
seguir isso é deixando que os alunos escolham o
diferentemente de quando os conteúdos são dados
tema do seu projeto dentro de um tema mais amplo
de forma fragmentada, sendo comum que os alunos
que deve ser proposto pelo professor (Bicalho et
não consigam fazer a conexão dos conhecimentos
al., 2009; Silva, 2007).
84
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Simulação do Efeito Estufa em Microescala Auxiliando no Ensino de Química
Neste trabalho, os alunos poderiam escolher qualquer tema que estivesse relacionado com a
avaliar o efeito da presença de gás carbônico na variação da temperatura em uma caixa vedada.
Química e a Biologia e teriam que representar os
Para isso, foi colado com fita adesiva no cen-
resultados na forma de um gráfico e explicá-lo,
tro de uma caixa de sapato uma vasilha plástica
fazendo uma relação com os conteúdos que esta-
contendo 5 gramas de bicarbonato de sódio. No
vam sendo abordados nas aulas de Matemática. O
centro da tampa da caixa, em cima do centro da
tema proposto pelos alunos foi “Efeito Estufa em
vasilha plástica, foi feito um pequeno furo para a
Microescala”.
entrada do “cano” do funil. Foram feitos também dois cortes retangulares, onde foram colocados por
2
Objetivo Este trabalho teve como objetivo a avaliação do uso de um experimento sobre efeito estufa e
cima os vidros retangulares e vedaram-se as laterais com o auxílio da fita adesiva. Por dentro da caixa, sob os vidros, também foi feita a vedação para evitar a saída do gás após a reação.
da interdisciplinaridade para auxiliar no ensino de Química no Ensino Médio.
Foi feito outro furo em uma das laterais da tampa para inserção do termômetro. A caixa foi vedada utilizando-se da fita adesiva. Encaixou-se
3
Materiais Estilete, caixa de sapato, 2 lâmpadas com fiação, termômetro, vasilha pequena de plástico,
o termômetro com cuidado para não derramar o bicarbonato e, com o auxílio da fita adesiva, efetuou-se a vedação impedir a saída do gás após a reação.
funil, fita adesiva larga, bicarbonato de sódio, 4 limões, copo ou outra vasilha plástica, suporte para
Espremeram-se, dentro de um copo, os limões para retirada do suco.
a lâmpada, vidros retangulares.
Fixaram-se as lâmpadas, com o auxílio de suportes, a um palmo acima da caixa e um palmo
4
Métodos Este trabalho foi realizado com dois grupos
ao lado da caixa. A figura a seguir mostra como ficou a montagem final do experimento.
de 5 alunos do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais, que se localiza na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Um dos grupos era constituído por alunos do Ensino Médio regular, acoplado ao técnico, e o outro era de alunos do Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos (PEMJA). Foi aplicada a metodologia de projetos e da contextualização dos conhecimentos para auxiliar no ensino de química em dois diferentes grupos de alunos do primeiro ano do Ensino Médio. Neste trabalho, usaremos o exemplo do subtema Efeito Estufa. O objetivo do trabalho foi
Figura 1. Montagem para o experimento de simulação do efeito estufa.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
85
Uma Simulação do Efeito Estufa em Microescala Auxiliando no Ensino de Química
Para avaliação da temperatura inicial do expe-
atmosfera e se é possível diminuí-la, entre outras.
rimento vedou-se a entrada do funil com uma
Os alunos da EJA tiveram certa dificuldade no uso
fita adesiva, ligou-se a lâmpada e aguardou-se a
da Internet e ferramentas de buscas e dos progra-
estabilização da temperatura no interior da caixa.
mas de computador para a montagem de gráficos
Anotou-se a temperatura inicial, descolou-se a fita
e determinação da equação da curva, o que não
que estava na entrada do funil, inseriu-se o funil
aconteceu com os alunos do ensino técnico devido
no furo e adicionou-se todo o suco de limão pelo
à maior interação entre eles e o computador. Mas,
funil. Logo em seguida, retirou-se o funil e tam-
com o auxílio da professora, aos poucos, os alunos
pou-se o furo com um pedaço de fita adesiva.
da EJA foram se acostumando. O gráfico obtido
Mediu-se a temperatura a cada 3 minutos.
com os resultados médios do experimento, junta-
Foi pedido aos alunos que apresentassem os
mente com a equação da curva, está representado
resultados obtidos na forma de tabelas e gráficos
na Figura 2.
e os explicassem.
Ambos os grupos de alunos acharam muito interessante o resultado obtido e ficaram muito animados, pois a maioria deles achou que não ia
Resultados e discussão
ser possível observar a diferença de temperatura.
Ao iniciarem o experimento, várias dúvidas
Pediu-se para que os alunos procurassem as res-
surgiram nos dois grupos, como, por exemplo,
postas para essas perguntas em livros e na Internet
porque o gás carbônico afeta a temperatura do
e apresentassem o trabalho, juntamente com as
meio, qual a composição química dele, como ele
respostas das perguntas, na forma de uma apresen-
vai para a atmosfera, qual a sua concentração na
tação projetada na sala.
34 32 Temperatura (ºC)
5
30 28 26
Y = 18,008 + 1,064X - 0,018X2
24 22 5
10
15
20
25
30
35
Tempo (min.)
Figura 2. Variação média da temperatura com o tempo e equação da curva.
86
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Uma Simulação do Efeito Estufa em Microescala Auxiliando no Ensino de Química
Ambos os grupos fizeram uma boa apresen-
6
tação, embora os alunos do EJA, devido à pouca
Conclusão
experiência com o computador, tenham tido um
A metodologia de projetos, juntamente com a
pouco mais de dificuldade em montar a apresen-
contextualização do conhecimento e a interação
tação e precisaram de um maior acompanhamento
com as outras disciplinas, se mostrou útil para
nessa fase. Observou-se, também, que os dois gru-
o ensino de Química e aumentou o interesse de
pos tiveram dificuldades em entender o que é a
ambos os grupos de alunos pela disciplina. Com este trabalho foi possível simular o efeito
“justificativa” do trabalho e confundiam esta com
estufa, discutir seu impacto no meio ambiente e
o “objetivo”. Com esse experimento do Efeito Estufa, foi
abordar conteúdos de química e de outras disci-
possível trabalhar vários conteúdos não só relacio-
plinas do Ensino Médio, o que faz dela uma alter-
nados com a Química, mas, também, com outras
nativa viável para ser aplicada em todos os tipos
matérias como Biologia, Matemática, Geografia e
de escolas, tanto de EJA, como de ensino regular
História. Os conteúdos abordados foram: reações
e noturno, mesmo considerando que esta é uma
químicas, ácidos e bases, concentração, balance-
simulação bastante grosseira do efeito estufa, uma
amento de equações químicas, ciclo do carbono,
vez que desconsidera um conjunto de variáveis que
composição da atmosfera, fotossíntese e respira-
também influem nesta variação de temperatura.
ção, impactos ambientais (efeito estufa, chuva ácida e suas respectivas causas, danos e possíveis soluções), industrialização e aumento da concentração de gases estufa, montagem e interpretação de gráficos e tabelas, entre outros. Os alunos que não tinham contato com o computador puderam aprender as operações básicas e sentiram como ele pode auxiliá-los tanto na montagem de trabalhos como no seu emprego. Alguns alunos da EJA comentaram que já perderam oportunidades de trabalho por não saberem trabalhar com o computador, e ficaram muito satisfeitos de começarem este aprendizado nesta experiência.
7
Referências BICALHO, R. S. et al. Construindo o conhecimento: Ecologia. Belo Horizonte: Editora RHJ, 2009. CARDOSO, S. P.; COLINVAUX, D. Química Nova, v. 2, 2000, 23. CARDOSO, F. S. et al. R.B.E.C.T., v. 1, n. 1, 2008, 22. CARVALHO, L. A.; FERREIRA, W. A. Revista Brasileira de Ensino de Química, v. 5, n. 1-2, 2010. MIRANDA, P. R.; GALUCH, M. T. B. Revista da Alfabetização solidária, v. 8, 2009, 8. SILVA, A. J. P. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, 2007.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
87
Química Verde 01 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
p. 89-94
Aplicação de Conceitos da Química Verde em uma Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão: relato de experiência a partir da UFSCar (campus Lagoa do Sino) Concepts Application of Green Chemistry in a Curricular Activity Teaching Integration and Research: experience report from the UFSCar (campus Lago do Sino) SP/Brazil Nathalia Virginia Veloso Aguiar1 Alcione Letícia Sant’Ana1 Andreia Pereira Matos1
RESumo O presente artigo descreve algumas preparações feitas por alunos de uma escola Estadual da cidade de Campina do Monte Alegre, SP, em uma Aciepe (Atividades Curriculares de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão), no âmbito da UFSCar (Campus Lagoa do Sino, SP). A proposta de inserção da Química Verde contribuiu para vincular a prática experimental e a teoria, constituindo-se em alternativa viável e de fácil realização didática. Além disso, oportunizou aos alunos conhecer a realidade de uma universidade pública que tem em seus pilares a construção de um campus sustentável, capaz de olhar os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade na qual está inserida. Palavras-chave: Aciepe; Experimentação; Química Verde. AbstrAct This article describes some preparations made by students of a High School in the city of Campina do Monte Alegre, Brazil, in a ACIEPE (Curricular Activities 1. Centro de Ciências da Natureza, campus Lagoa do Sino.
Integration Education and Research) under the UFSCar (Campus Bell Pond, SP). The proposed insertion of Green Chemistry contributed to bind experimental practice and theory, constituting a viable alternative and easy teaching achievement. In addition, it provided an opportunity for students to know the reality of a public university that has in its pillars building a sustainable campus, able to look at the economic, social, cultural and environmental aspects of the society in which it operates. Key-words: Aciepe; Experimentation; Green Chemistry.
1
A utilização de compostos alternativos, somada
Introdução
à síntese segura de substâncias cujo produto apre-
A Química Verde envolve o planejamento da
senta pouca ou nenhuma toxicidade, é resultado da
síntese e dos produtos químicos de maneira ele-
aplicação da Química Verde baseando-se no prin-
gante e efetiva. Ela busca evitar a poluição e os pro-
cípio de que com a não utilização de compostos
blemas ambientais sobre os seres vivos; eliminar
tóxicos, não há a implicação de seus efeitos preju-
os processos químicos prejudiciais ao ambiente e
dicadores. Esse aspecto é abordado com a perspec-
substituí-los por outros menos agressivos, susten-
tiva de atender aos pilares da sustentabilidade e à
táveis, recicláveis e não persistentes; implementar
conectividade que está atrelada a estes.
métodos sintéticos para substâncias de alta eficácia
Neste relato de experiência, procuramos discu-
com reduzida toxicidade para a saúde humana e
tir a associação dos conceitos de sustentabilidade e
para o meio ambiente; minimizar o uso de energia
Química Verde ao ensino, junto a alunos da Escola
e usar reagentes preferencialmente na escala catalí-
Estadual Renato Rocha Miranda do município de
tica (Ferreira et al., 2013). Uma importante diretriz
Campina do Monte Alegre, SP. Nesse contexto,
que compõe os princípios nos quais se estrutura a
uma atividade didática intitulada A Química como
Química Verde é a utilização de compostos com
instrumento de formação do conhecimento foi
menor toxicidade em detrimento daqueles com alta
desenvolvida, no âmbito do programa Aciepe da
toxicidade, objetivando diminuir a geração de resí-
UFSCar, definido como “Atividades Curriculares
duos, efluentes e gases tóxicos e indesejáveis, e os
de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão”. Por
consequentes agravos que estes implicam tanto no
meio dessa iniciativa, visamos proporcionar uma
âmbito social, como ambiental.
experiência educativa, cultural e científica em que,
Os perigos relacionados aos compostos tóxicos
integrando Ensino, Pesquisa e Extensão e envol-
abrangem vários aspectos, dentre eles a inflamabili-
vendo professores, técnicos e alunos da UFSCar,
dade, potencial explosivo, potencial bioacumulativo
procuramos viabilizar e estimular o seu relaciona-
e persistência ambiental. Os efeitos nocivos que estes
mento com diferentes segmentos da sociedade. No
causam aos seres humanos e a todo ecossistema vão
interior dessa atividade, salientamos a importância
desde irritabilidade até efeitos mutagênicos, repro-
da utilização de aulas práticas verdes no ensino
dutivos e toxicidade aguda (Lancaster, 2002).
médio, já que, no Brasil, a maioria das escolas,
90
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Aplicação de Conceitos da Química Verde em uma Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
em especial as públicas, não possui laboratórios
do aluno. Foram utilizados os seguintes materiais:
e materiais didáticos adequados para desenvolver
tubos de ensaio, suporte para tubos, funil analítico,
conteúdos a partir da observação de fatos experi-
pipeta de Pasteur, béquer de 125 mL, chapa aque-
mentais (Dias et al., 2003).
cedora, balança analítica, papel de filtro, suporte
O presente trabalho visa apresentar uma expe-
universal, almofariz e pistilo, solução diluída de
riência voltada ao ensino de Química através da
ácido clorídrico 5% (v/v), solução de hidróxido de
preparação de uma escala padrão de pH com a
sódio 5% (m/v), detergente, solução de bicarbo-
utilização do extrato de repolho roxo, tomando
nato de sódio (0,1 mol/L), álcool comum, vinagre
como base os princípios da Química Verde e
branco, repolho roxo, água destilada. A experiên-
que tem como locus um campus pautado no
cia foi desenvolvida em um laboratório que dispu-
Desenvolvimento Territorial Sustentável.
nha de todos os materiais e reagentes necessários, no entanto, estes podem ser substituídos por uten-
2
Relato das atividades desenvolvidas: mais que pigmentos e indicadores
sílios mais simples. Tomou-se o cuidado de reduzir a quantidade de reagentes propostos inicialmente (Gepeq, 1995).
Em 28 de setembro de 2015, foram recebi-
Na extração dos pigmentos do repolho roxo,
dos no laboratório de Química do campus Lagoa
ele foi cortado em pequenos pedaços e pesou-se
do Sino da UFSCar, em Buri (SP), 27 alunos da
aproximadamente 50 g em uma balança analítica.
Escola Estadual Renato Rocha Miranda para a apli-
Transferiu-se para um almofariz. Macerou-se com
cação de uma aula prática baseada nos conceitos
o auxílio de um pistilo e transferiu-se para um
da Química Verde visando à utilização de extrato
béquer com água destilada. Ferveu-se a mistura
de repolho roxo para a construção de uma escala
em uma chapa aquecedora por aproximadamente
de pH (Gepeq, 1995). O campus Lagoa do Sino é
20 minutos. Posteriormente, filtrou-se a solução
o quarto campus da UFSCar e está localizado no
obtida com auxílio de um funil de vidro e papel
município de Buri (SP), em uma fazenda de 643
de filtro.
hectares altamente produtivos doada pelo escritor Raduan Nassar em 2011. Como um dos eixos
Os tubos de ensaio foram preparados com as seguintes misturas apresentadas no Quadro 1.
estruturais do campus, temos o Desenvolvimento Territorial Sustentável; as aulas práticas realizadas no curso de Engenharia Ambiental visam reduzir
Quadro 1. Preparação da escala padrão. Solução
Preparo
1
2 mL de ácido clorídrico diluído + 2 mL de extrato de repolho
2
2 mL de vinagre branco + 2 mL de extrato de repolho
Na elaboração da aula prática, buscou-se
3
2 mL de álcool + 2 mL de extrato de repolho
englobar os conceitos químicos de forma contex-
4
2 mL de água destilada + 2 mL de extrato de repolho
teriormente retomados pela professora da escola.
5
2 mL de água destilada + 1 gota de detergente com amoníaco + 2 mL de extrato de repolho
No desenvolvimento da parte prática, fez-se a
6
2 mL de solução de bicarbonato de sódio + 2 mL de extrato de repolho
7
2 mL de solução diluída de hidróxido de sódio + 2 mL de extrato de repolho
ou eliminar a geração de substâncias agressivas ao meio ambiente e à saúde humana segundo os 12 princípios da Química Verde (Prado, 2003).
tualizada e motivadora para os alunos, sendo pos-
opção da utilização de materiais e reagentes de baixo custo, fácil aquisição e presentes no dia a dia
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
91
Aplicação de Conceitos da Química Verde em uma Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
2.1
Quando questionados sobre a importância do
Comportamento do corante em função do pH
tratamento de resíduos, obtivemos as seguintes
O extrato obtido do repolho roxo é rico em antocianinas. As antocianinas são flavonoides que se encontram largamente distribuídos na natureza e são responsáveis pela maioria das cores azul, violeta e todas as tonalidades de vermelho que aparecem em flores, frutos, algumas folhas, caules e raízes de plantas (Markakis, 1982; Vinson et al., 1990). Em diferentes pHs, os extratos
respostas: “Sim, tratamento de resíduos é importante porque ajuda o meio ambiente, e assim, também nos ajuda” (J. P. 17 anos). “Sim, é importante ter conhecimento sobre tratamento de resíduos” (J. 17 anos).
assumem diferentes colorações que podem ser
A importância da experimentação é ressaltada
facilmente identificadas por observação visual,
por inúmeros autores e textos publicados nesta
definindo-se escalas de pH em função da cor da
revista. Entretanto, sua realização deve conside-
solução resultante. Após o preparo do extrato do
rar que a gestão de resíduos químicos favorece a
repolho roxo, fez-se a observação das soluções na
percepção da Química como uma ciência que tem
presença do extrato. Em meio ácido (ácido clorí-
papel fundamental no compromisso ético com a
drico e vinagre branco), o extrato de repolho roxo
vida. A adoção de ações preventivas com relação
apresentou coloração vermelha; para as soluções
ao manuseio de produtos químicos reflete a filo-
neutras (água destilada e álcool), coloração roxa
sofia da Química Verde, movimento relativamente
e, para as soluções básicas (amoníaco, bicarbonato
recente que objetiva mudanças de paradigmas
de sódio e hidróxido de sódio), coloração verde.
pela incorporação de posturas mais sustentáveis e
Durante a realização do experimento, os alu-
harmoniosas entre homens e natureza (Machado;
nos surpreendiam-se com os resultados obtidos.
Mól, 2008). Segundo Afonso et al. (2005), o
Conforme a fala de uma aluna:
gerenciamento de resíduos implica uma mudança
“As aulas no laboratório me fizeram entender melhor o que era passado em sala” (R, 17 anos).
de atitude. Por isso, é uma atividade que traz resultados em médio e longo prazos, além de requerer persistência. Em relação à Aciepe, o que esse projeto acres-
Os dizeres da aluna corroboram o que foi apresentado por Mota e Cleophas (2014). Sendo a Química uma ciência com elevado grau de abstração, os estudantes possuem dificuldade em compreender ou associar o seu cotidiano ao conteúdo apresentado pelo professor. A utilização de aulas práticas estabelece elos entre a teoria que
centou à sua vida? “Com ela, consegui ver o mundo de outra forma. Além disso, mostrou a mim o que eu quero ser. Consegui ver que tenho que cuidar do mundo, pois esta é a minha casa” (M. 17 anos).
está sendo trabalhada em sala de aula, a prática
“A Aciepe mostrou como é estar dentro
experimental e a contextualização, pois esses três
de uma faculdade onde aprendi como fun-
aspectos são muito importantes para um aprendi-
ciona e como ingressar, garante melhores
zado mais efetivo.
perspectivas e uma visão mais ampla do
92
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Aplicação de Conceitos da Química Verde em uma Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
mercado de trabalho, me ajudou a escolher o curso que mais me interessou” (T, 17 anos). Dos dizeres dos alunos, podemos inferir que os objetivos de intensificar o contato da universidade com a sociedade, contribuindo para o cumprimento do compromisso social institucional; fortalecer a indissociabilidade entre as atividades essenciais da universidade, ensino, pesquisa e extensão; ensejar a experimentação de alternativas metodológicas de trabalho comunitário e de ensino e favorecer o desenvolvimento de uma atitude tanto questionadora como proativa diante dos desafios e limites impostos pela nossa realidade social foram alcançados. 3
Considerações finais A aula prática utilizando como tema “Corantes Naturais: extração e emprego como indicadores de pH” mostrou-se adequada para despertar, nos alunos de Ensino Médio, o interesse pela Química, especificamente pelos conteúdos relacionados à Química Verde. Por se tratar de um experimento de fácil execução, que não necessita de laboratórios bem-equipados, torna-se viável a sua realização em sala de aula. A Aciepe, como atividade de ensino, pesquisa e extensão, apresentou-se como um ambiente propício para intensificar o contato entre a universidade e a sociedade, contribuindo com o compromisso social do campus Lagoa do Sino.
4
Referências AFONSO, J. C. et al. Análise sistemática de reagentes e resíduos sem identificação. Química Nova, v. 28, n. 1, p. 157-165, 2005. DIAS, M. V.; GUIMARÃES, P. I. C.; MERÇON, F. Corantes naturais: extração e emprego como indicadores de pH. Química Nova na Escola, n. 17, p. 27-31, 2003. FERREIRA, V. F.; ROCHA, D. R.; SILVA, F. C. Química verde, economia sustentável, qualidade de vida. Revista Virtual de Química, v. 6, n. 1, p. 86-111, 2013. GEPEQ. Estudando o equilíbrio ácido-base. Química Nova na Escola, n. 1, p. 32-33, 1995. LANCASTER, M. Green chemestry: an introductory text. New York: The Royal Society of Chemistry Paperbacks, 2002. MACHADO, P. F. L.; MÓL, G. S. Resíduos e rejeitos de aulas experimentais. Química Nova na Escola, n. 29, p. 28-41, 2008. MARKAKIS, P. Stability of anthocyanins in foods. In: MARKAKIS, P. (Ed.). Anthocyanins as food colors. New York: Academic Press, 1982, p. 163-180. MOTA, T. C.; CLEOPHAS, M. G. Proposta para o ensino de química utilizando a planta Pterodon abruptus (Moric.) Benth. como Indicador Natural de pH. Revista Virtual de Química, v. 6, n. 5, p. 13531369, 2014. PRADO, A. G. S. Química verde, os desafios da química do novo milênio. Química Nova, v. 26, n. 5, p. 738-744, 2003. VINSON, J. A. et al. Vitamins and especially flavonoids in common beverages are powerful in vitro antioxidants which enrich lower density lipoproteins and increase their oxidative resistance after ex vivo spiking in human plasma. J. Agric. Food Chem., v. 47, p. 2502-2504, 1999.
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
93
História da Química 01 | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015 | p. 95-100
Clausius: pequena história da entropia Clausius: a short history of entropy José Maria F. Bassalo e Robson Fernandes de Farias
Em 18501, o físico alemão Rudolf Julius Emmanuel Clausius (1822-1888) afirmou que a produção de trabalho nas máquinas térmicas não resultava meramente do deslocamento do calor da fonte quente para a fonte fria, mas, sim, também, por consumo de calor. Afirmou mais ainda que o calor poderia ser produzido às expensas de trabalho mecânico e que, portanto, era impossível realizar um processo cíclico cujo único efeito seria o de transferir calor de um corpo mais frio para um corpo mais quente.
Clausius
1. Annalen der Physik und Chimie (v. 79, p. 368 e 500).
Clausius: pequena história da entropia
Essas afirmações constituem-se na primeira ideia do que hoje se conhece como Segunda Lei da Termodinâmica. Em 18512, o físico inglês William Thomson, Lord Kelvin (1824-1907) apresentou uma nova versão para essa lei da Termodinâmica, baseada na tese da irreversibilidade e dissipação do calor. Em 18543, Clausius começou a pensar que a transformação de calor em trabalho e a transformação de calor em alta temperatura para calor em baixa temperatura poderiam ser equivalentes. Em vista disso, propôs que o fluxo de calor de um corpo quente para um corpo frio (com a consequente transformação de calor em trabalho) deveria ser compensado pela conservação de trabalho em calor, de modo que o calor deveria fluir do corpo frio para o corpo quente. Desse modo, Clausius introduziu o conceito de valor de equivalência de uma transformação térmica e que era medido pela relação entre a quantidade de calor (ΔQ) e a temperatura (T) na qual ocorre a transformação. Por intermédio desse novo conceito físico, Clausius pôde fazer a distinção entre processos reversíveis e irreversíveis.
Kelvin
Assim, assumindo arbitrariamente que a transformação de calor de um corpo quente para um frio tivesse um valor de equivalência positivo, ele apresentou uma nova versão para a Segunda Lei da Termodinâmica: “A soma algébrica de todas as transformações ocorrendo em um processo circular somente pode ser positiva”. Foi somente em 18654 que Clausius propôs o termo entropia (do grego, que significa transformação), denotando-o por S, em lugar do termo valor de equivalência. Nesse trabalho, ao retomar suas ideias sobre esse novo conceito físico, Clausius considerou um ciclo qualquer como constituído de uma sucessão de ciclos infinitesimais de Carnot e chegou ao seu célebre teorema:
2. Transactions of the Royal Society of Edinburgh (v. 20, p. 261). 3. Annalen der Physik und Chimie (v. 93, p. 481). 4. Annalen der Physik und Chimie (v. 125, p. 353).
96
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Clausius: pequena história da entropia
∆Q1 ∆Q2 ∆Qi + + ... + = + ... T1 T2 Ti
δQ
#= # dS # 0 T
onde o sinal de menor (<) ocorre para as transformações irreversíveis e o sinal de igualdade (=), para as reversíveis. Ainda nesse trabalho, Clausius resumiu as Leis da Termodinâmica nas expressões: • Primeira Lei da Termodinâmica: a energia do universo é constante; • Segunda Lei da Termodinâmica: a entropia do universo tende para um máximo. É oportuno destacar que, em 1824, o físico francês Nicolas Sadi Carnot (17961832) publicou seu famoso livro Reflexions sur la Puissance Motrice du Feu et sur les Machines Propres à Developper cette Puissance, no qual descreveu sua máquina de calor como uma máquina ideal sem atrito, que realiza um ciclo completo, de modo que a substância usada – vapor, gás ou outra qualquer – é levada de volta ao seu estado inicial. Esse ciclo, mais tarde conhecido como ciclo de Carnot, é composto de duas transformações adiabáticas (troca de calor constante) e duas transformações isotérmicas (temperatura constante). O caráter probabilístico da Segunda Lei da Termodinâmica foi sugerido pelo físico e matemático escocês James Clerk Maxwell (1831-1879) em uma carta que escreveu, em dezembro de 1867, para o físico inglês Peter Guthrie Tait (18311901). Nessa carta, apresentou o seguinte exemplo: seja um recipiente contendo um gás a uma temperatura fixa; suponhamos que no meio desse recipiente exista uma parede contendo uma janela que poderá ser manejada por um doorkeep very inteligent and exceedingly quick microscopic eyes (“porteiro muito inteligente e que tem olhos microscópicos e extremamente rápidos”). Esse porteiro deixava passar, através dessa janela, partículas que tivessem velocidades altas e impediria a passagem das que tivessem velocidades baixas, já que, segundo sua distribuição de velocidades (distribuição essa que Maxwell havia proposto em 1860), num gás em equilíbrio, as partículas se distribuem com as mais variadas velocidades. Desse modo e por ação desse ‘demônio’, depois de um certo tempo, um lado do recipiente estaria mais quente que o outro, mostrando, assim, que o fluxo de calor poderia ser em dois sentidos, e não em apenas um, conforme indicava aquela Lei Termodinâmica. Registre-se que, conforme nos conta o físico e historiador da ciência, o holandês Abraham Pais (1918-2000) em seu livro ‘Subtle is the Lord...’ The Science and the Life of Albert Einstein (Oxford University Press, 1983), quando Tait mostrou a carta para Kelvin, este chamou de demônio de Maxwell ao ‘porteiro’ considerado por Maxwell. É oportuno também registrar que esse ‘demônio’ foi ‘exorcizado’, em 19515, quando o físico francês 5. Journal of Applied Physics (v. 22, p. 334).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
97
Clausius: pequena história da entropia
Léon Nicolas Brillouin (1889-1969) demonstrou que o decréscimo de entropia resultante das ações do ‘demônio de Maxwell’ poderia ser superado pelo aumento da entropia na escolha entre as velocidades baixas e altas. Um outro aspecto da necessidade do raciocínio probabilístico para o entendimento da entropia foi apresentado pelo físico e químico austríaco Johann Joseph Loschmidt (1821-1895), em 18766, por meio do seguinte argumento – mais tarde denominado paradoxo da irreversibilidade: Sendo as leis da Mecânica reversíveis no tempo (por exemplo, no caso unidimensional Fx = md2x / dt2), não poderão, portanto, descrever uma função do tipo entropia e os processos irreversíveis que ela descreve.
Por exemplo, arguiu Loschmidt, em todo processo no qual a entropia cresce, existe um processo análogo, com as velocidades das partículas, em que a entropia diminui, significando isso dizer que o aumento ou a diminuição da entropia depende apenas das condições iniciais do sistema físico em consideração. Tal afirmação ia ao encontro à Segunda Lei da Termodinâmica. Note-se que um interessante estudo sobre o paradoxo da irreversibilidade pode ser encontrado no artigo escrito pelos historiadores da ciência, os brasileiros S. B. Volchan e Antonio Augusto Passos Videira7. O raciocínio probabilístico foi introduzido formalmente na Segunda Lei da Termodinâmica, pelo físico austríaco Ludwig Edward Boltzmann (1844-1906). Vejamos como. Em 18668, Boltzmann formulou um modelo mecânico no qual considerou que as partículas de um gás se moviam em órbitas periódicas e, com isso, deduziu uma expressão analítica para a entropia que dependia do período das partículas em suas órbitas, e que aumentava com o tempo. Contudo, esse modelo de Boltzmann foi muito criticado, inclusive por Clausius.
Boltzmann 6. Sitzungsberichte der Akademie der Wissenschaften zu Wien (v. 73, p. 128 e 336). 7. Revista Brasileira de Ensino de Física (v. 23, p. 19, 2001). 8. Sitzungsberichte der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften zu Wien (v. 53, p. 195).
98
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Clausius: pequena história da entropia
Em vista disso, em 18689, Boltzmann apresentou um novo tratamento (ainda mecânico) para a entropia ao admitir que em um gás ideal, composto de um grande número (N) de moléculas, as interações entre elas poderiam ser negligenciadas. Isso significava considerar que as colisões entre as moléculas eram binárias e supor que suas velocidades são não correlacionadas [hipótese essa conhecida como caos molecular (Stosszahlansatz)] e que já havia sido considerada por Maxwell e Clausius. Assim, para Boltzmann, a energia total (E) nas N moléculas é constante e pode ser distribuída de diversas maneiras, nos chamados microestados. Apesar dessa nova tentativa de Boltzmann, esse seu novo modelo mecânico não explicou o paradoxo da irreversibilidade que Loschmidt havia apresentado em 1876, conforme vimos anteriormente. Em vista disso, Boltzmann passou a considerar o raciocínio probabilístico, em trabalhos que publicou em 187710. Nesses trabalhos, considerou que todos os “microestados” [aos quais denominou de complexions (configurações)] têm a mesma probabilidade P. Além disso, chamou de macroestado o estado no qual uma molécula específica tem energia εr. Desse modo, concluiu que a Pr de um “macroestado” é proporcional ao número de microestados nos quais a energia remanescente E – εr é distribuída entre as N – 1 moléculas restantes, isto é: Pr ∝ exp(–εr / kT). É oportuno registrar que foi o próprio Boltzmann que, em 1876, generalizou a lei de distribuição de velocidades Maxwelliana, ao considerar a energia total (energia cinética mais energia potencial), e não a energia cinética, como admitido por Maxwell, no argumento da exponencial (vide expressão anterior) representativa daquela lei. Boltzmann considerou o número W (inicial da palavra alemã Wahrscheinlichkeit, que significa probabilidade) de configurações (complexions) distintas de um macroestado envolvendo suas N (N = n0 + n1 + n2 + ...) moléculas, onde n0 representa o número de moléculas com energia 0ε, n1 representa o número de moléculas com energia 1ε, n2 representa o número de moléculas com energia 2ε, n3 com energia 3ε, ... e nr com energia rε, onde ε é uma constante positiva e rε < E e, pelo princípio da conservação do número de partículas e da energia, deveremos ter: N=
r
r
/ n e E = / in ε . i
i=0
i
i=0
Para calcular W, Boltzmann usou o raciocínio combinatório, ou seja, considerou que: W (n0, n1, n2, ...) = N! / (n0 ! n1 ! n2 ! ...) e, desse modo, usando a hipótese das probabilidades iguais, escreveu que a probabilidade P (n0, n1, n2, ...) de ocorrência de uma configuração pertencente ao conjunto definido pelos “números de ocupação” (n0, n1, n2, ...) é dado por: P = CW, onde C é uma constante. Ora, como a entropia do sistema considerado é igual à soma das entropias de seus componentes, como as probabilidades das complexions do mesmo sistema devem ser multiplicadas, e considerando que o logaritmo do produto de números é 9. Sitzungsberichte der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften zu Wien (v. 58, p. 517). 10. Sitzungsberichte der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften zu Wien (v. 75-76, p. 75 e 373).
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
99
Clausius: pequena história da entropia
igual à soma dos logaritmos dos fatores, é fácil ver como Boltzmann chegou à sua célebre expressão da entropia: S = klogW, onde k é uma constante. É oportuno observar que, embora essa expressão esteja gravada no túmulo de Boltzmann, no Cemitério Central de Viena, ela só foi escrita dessa maneira pelo físico alemão Max Karl Ernst Planck (1858-1947; PNF, 1918) que, por sua vez, introduziu k, denominada por ele constante de Boltzmann, pela primeira vez em sua célebre fórmula de 1900, sobre a distribuição de equilíbrio térmico da radiação (de frequência ν) do corpo negro, que considera a energia quantizada, ou seja: ε = hν. É importante registrar neste verbete sobre a Entropia, que foi o matemático alemão Constantin Carathéodory (1873-1950) quem, em 190911, apresentou um formalismo matemático das Leis da Termodinâmica, sem os argumentos de máquinas térmicas idealizadas. Em 192512, ele deu continuidade a esse formalismo usando as formas diferenciais.
11. Mathematische Annalen (v. 67, p. 355). 12. Königlich Preussiche Akademie der Wissenschaften zu Berlin Sitzungsberichte (v. 39).
100
Revista Brasileira de Ensino de química | Volume 10 | Número 02 | Jul./Dez. 2015
Resenha Impurezas de Degradação: Farmacêutica e Química Flávio Leite Editora Átomo | 2015 | 172 páginas
Este livro tem como objetivo principal apresentar importantes contribuições na difícil tarefa de isolar e identificar impurezas, com enfoque nos produtos farmacêuticos. Além disso, visa orientar o analista de laboratório no trabalho com as Impurezas de Degradação, não só no estabelecimento do protocolo operacional, mas também no entendimento, à luz das orientações do ICH/Anvisa, da complexidade que envolve esse processo, o qual requer conhecimento da Química em geral, em especial da Química Analítica e Instrumental, assim como saber acompanhar a evolução tecnológica. Da fabricação de um fármaco até sua utilização pelo consumidor, existe um longo trajeto que envolve a logística e o acondicionamento em distribuidores, farmácias, hospitais etc. Tal realidade abre um importante campo de pesquisa sobre a estabilidade dos produtos farmacêuticos, expostos a estresses tanto de contato, quanto de exposições a intempéries. Portanto, a técnica do estresse provocado tornou-se essencial e preferencial no estudo da estabilidade da matéria-prima e das formulações farmacêuticas. Assim, por meio dos mais básicos procedimentos de Química Analítica e das mais avançadas técnicas instrumentais, esta obra descreve variados ensaios que buscam a quantificação e a caracterização de diferentes tipos de impurezas e procura, sobretudo, a compreensão dos impactos que elas causam, de forma isolada e presente num formulado, além de ensejar possíveis aplicações destas em benefício do usuário e da Indústria Farmacêutica, tais como a otimização das condições de estabilidade (prazos de validade) e qualidade do medicamento.
Normas para Publicação Revista Brasileira de Ensino de Química (ReBEQ) é uma publicação semestral da Editora Átomo que aceita colaborações em forma de artigos, resenhas, relatos de experiência, notícias e memória fotográfica da Química no Brasil. Os textos poderão ser publicados em português e espanhol. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou pensamento da coordenação e conselho editoriais. Os originais submetidos a análise do Comitê Científico serão encaminhados a, no mínimo, dois conselheiros do seu corpo editorial, os quais avaliarão de forma específica e decidirão sobre a pertinência dos textos à linha editorial da revista. Em caso de necessidade de revisões de conteúdo ou adequações às normas editoriais, o autor receberá os pareceres dos conselheiros, ficando, assim, responsável pela reapresentação do trabalho reformulado no prazo de 45 dias, contados a partir da data de recebimento da comunicação. O anonimato entre autores e conselheiros, durante o processo de arbitragem dos textos, é garantido pelo Comitê. O prazo médio estipulado para a apresentação do resultado final é de até 60 dias, a contar da data de recebimento do texto. Os trabalhos não aprovados pelos conselheiros, ou não devolvidos no prazo estipulado para reformulação, serão arquivados e os autores informados.
Sobre a apresentação de originais para avaliação Ao encaminhar os trabalhos para análise do Comitê Científico, os autores deverão observar as seguintes orientações: 1. Originalidade e ineditismo dos textos: o autor deve enviar, junto com o trabalho, uma declaração na qual se compromete a não apresentá-lo, simultaneamente, em outro periódico, durante o prazo estipulado para avaliação, e autoriza a sua publicação nesta revista. 2. As colaborações devem ser redigidas em português ou espanhol. Em casos excepcionais, cuja pertinência será analisada pelo Comitê, serão aceitos textos em inglês e francês, que deverão ser traduzidos para a língua portuguesa. 3. Em folha à parte, devem ser informados os dados de autoria: título do trabalho, nome completo, vinculação institucional, formação acadêmica e endereço residencial ou institucional do autor (incluindo telefone e e-mail) para o encaminhamento de correspondência pela Secretaria de Redação. 4. No caso de artigos, os originais não poderão exceder o limite máximo de 40.000 caracteres (com espaço), incluindo todos os elementos gráficos disponíveis no arquivo. Para resenhas, notas críticas e outros, observar o limite de 10.000 caracteres (com espaço).
5. Quanto à estrutura do texto, devem ser observadas as seguintes orientações: na primeira página, apresentar o título e subtítulo do trabalho, o resumo e as palavras ‑chave (até 05, evitando-se combinações extensas que não correspondam ao conteú do do texto). Todos esses elementos devem ser apresentados em português ou espanhol e inglês. 6. Os textos devem ser digitados no programa Word for Windows, em fonte Times New
Roman, tamanho 12, com espaço duplo, e enviados por correio eletrônico para o seguinte endereço: rebeq@atomoealinea.com.br
Sobre referências bibliográficas e notas O autor do trabalho é responsável pela exatidão, organização e utilização correta das referências e citações constantes no texto, bem como na listagem bibliográfica a ser apresentada no final dos artigos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT – www. abnt.org.br) fornece, por meio da NBR 6023 (agosto/2002), as orientações necessárias para a organização das referências bibliográficas. No caso de notas, esse recurso tem seu uso limitado ao caráter explicativo-informativo, neste periódico, evitando-se a utilização de notas bibliográficas. As notas, quando utilizadas, devem aparecer em sequência representada por asterisco (*,**,***) no rodapé da página a que se refere. As citações autorais deverão ser feitas em sequência numérica e apresentadas ao final do artigo.
Sobre a utilização de imagens As tabelas, quadros e figuras (ilustrações, fotografias, gráficos, entre outros) devem ser apresentados com o máximo de resolução (300dpis em diante), em preto e branco, em arquivo à parte e, de preferência, finalizados para sua inserção direta no texto. Para a produção das tabelas, recomenda-se seguir as orientações do IBGE (www.ibge.gov.br) publicadas em suas normas de apresentação tabular. Todos esses elementos gráficos devem estar indicados e numerados, consecutivamente, ao longo do texto, de acordo com a ordem em que aparecem.
Sobre a natureza da colaboração e recebimento de exemplares Fica aqui expresso que a participação dos autores neste periódico é de caráter espontâneo, portanto, não remunerado. O autor principal receberá, gratuitamente, um (01) exemplar da edição em que seu artigo foi publicado, mais separata eletrônica deste; os co-autores receberão um (01) exemplar e separata eletrônica do texto. No caso de resenhas, cada autor terá direito a um (01) exemplar e separata eletrônica.
Solicitação de Assinatura: Primeira assinatura / First subscription
Renovação de assinatura / Subscription renovation
Nome / Name: ____________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________ Sexo / Gender: M
F
Data de Nascimento / Date of birth: ______ /______ /___________
Endereço / Address:________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________ CEP / Post Code: |__|__|__|__|__| - |__|__|__|
Bairro / District: ____________________________________
_________________________________________________________________________________________________ Cidade / City: ________________________ DDD / DDI: _____
UF / ST: ______
País / Country: ____________________________
Telefone / Phone #: ________________________
Fax: _______________________________
E-mail:___________________________________________________________________________________________ CPF: |__|__|__|__|__|__|__|__|__| - |__|__|
RG: |__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|
/ SSP: |___|___|
CNPJ: |__|__|__|__|__|__|__|__|/|__|__|__|__|-|__|__| Inscr. Estadual: |__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|__| Obs.: Para alteração de dados cadastrais enviar apenas o formulário preenchido.
Como tomou conhecimento da ReBEQ / How did you know about ReBEQ: Anúncios / Ads
Amigos / Friends
Faculdade / University
Outros / Others: _______________
Preço para Anuidade: R$ 50,00 Assinatura para 2 edições semestrais Opção de Pagamento
Depósito bancário Caixa Econ. Federal / Agência: 3914-4 / Conta Corrente: 180-7 Os valores acima são válidos para venda nacional US$ 30,00 – Venda para o exterior – cheque nominal à Editora Átomo Ltda.
PABX: (19) 3232-9340 ou 3232-0047 Website: www.grupoatomoealinea.com.br/rebeq E-mail: rebeq@atomoealinea.com.br Se precisar de outro impresso, basta fazer cópia (If you need additional forms, simply photocopy the blank form)