ISSN 1809-6158
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017 Coordenação Geral Pedro Faria dos Santos Filho – UNICAMP Wilon Mazalla Jr – Editora Átomo Conselheiro Emérito Aécio Pereira Chagas Conselho Editorial Vânia Gomes Zuim – UFSCar José de Alencar Simoni – UNICAMP Gláucia Maria da Silva – USP-RP Robson Fernandes de Farias – UFRN Márlon Herbert Flora Barbosa Soares – UFG Conselho Ad hoc Agnaldo Arroio – USP-SP Gildo Giroto – UNICAMP Thiago Henrique Barnabé Corrêa – UFTM Renato Henriquez Souza – UFAM Silmar José Spinardi Franchi – UFSC-Blumenau Nelson Henrique Morgon – UNICAMP Daltamir Justino Maia – IFSP Josimara Cristina de Carvalho Oliveira – UERR Adriana Vitorino Rossi – UNICAMP Simoni Alves de Assis Martorano – UNIFESP Revista Brasileira de Ensino de Química rebeq@atomoealinea.com.br www.atomoealinea.com.br/rebeq Produção Editorial
Revista Brasileira de Ensino de Química (ReBEQ) é uma publicação semestral da Editora Átomo e colaboradores. Dentro do espírito maior da editora, que é a difusão do conhecimento por meio da democratização das valiosas pesquisas e avanços científico-educacionais, quase sempre em latência nas boas universidades, e pelo intercâmbio de ideias e experiências daqueles que participam do processo ensino/aprendizagem, a ReBEQ inaugura novo espaço, abrindo suas páginas para pesquisadores, docentes (ensino médio e superior), alunos de graduação e pós-graduação, com a visão de que o conhecimento deve ser construído e compartilhado coletivamente. O conhecimento contemporâneo deve ser apresentado de forma inter/ transdisciplinar trazendo preocupações como a ética, o meio ambiente e a humanização dos processos e serviços. Centrada nas questões ensino/aprendizagem, visa contribuir para a atualização e otimização do Ensino de Química.
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas e Informação PUC-Campinas Revista Brasileira de Ensino de Química Campinas, SP: Editora Átomo, 2006 v. 1, n. 1, jun./jun. 2006 Semestral Publicação científica-educacional 1. Química – Periódicos. 2. Ciências exatas – Periódicos. CDD 540
Editora Átomo Indexada
Índice para Catálogo Sistemático 1. Química
540
A DIVISION OF THE AMERICAN CHEMICAL SOCIETY
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
Pede-se permuta. - Pide-se cange. We ask for exchange. - On demande l’echange. Si sollecita intercambio. Wir bitten un aurstausch un publikationen.
Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br
Sumário 7
EDITORIAL
ARTIGOS
10
Aplicação de um sistema de refrigeração em um laboratório de Química Analítica desenvolvido com hardware aberto construído com materiais de baixo custo Edmilson Antonio Canesin, Fernando Barreto e Guilherme Zago Canesin
18
Desenvolvimento de um software educativo para o ensino experimental de Química
29
Pesquisas sobre resolução de problemas em química: uma análise em periódicos científicos
Letícia Aparecia de Oliveira e Juliana do Nascimento Gomides
Amanda Pereira de Freitas, Verônica Tavares Santos Batinga e Angela Fernandes Campos
41
Cromatografia em coluna: uma proposta de experimento utilizando casca de ovo de galinha Simone Garcia de Ávila e Aleff dos Santos Rodrigues
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
48
A penicilina como temática interdisciplinar para exploração de conteúdos de Química e Biologia no ensino médio
Franciane Gonçalves dos Santos, Gislayne Marília Alves de Queiroz, Carlos André de Souza, Cynthia Maria Carneiro Costa e Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos
62
Memória química: uma maneira divertida de aprender química
69
Produção de modelos para investigação de representações sub-microscópicas de estudantes do ensino médio sobre mudanças de estado físico da matéria
Francisca Belkise de Freitas Moreira, Igor Rannes da Costa Sousa, Karla Andrômeda Nobre de Oliveira, Maria Alcilene Gomes de Menezes, Edson Fernandes Moreira e Paulo Roberto Nunes Fernandes
Tânia Cristina Vargas Sana, Daisy de Brito Rezende e Agnaldo Arroio
82
Projeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’: apontamentos iniciais Fernanda Welter Adams, Dayane Graciele dos Santos e Simara Maria Tavares Nunes
QUÍMICA VERDE
97
A responsabilidade dos Químicos para um mundo melhor: desafios e potencialidades para além do laboratório Ingo Eilks, Jesper Sjöström e Vânia G. Zuin
HISTÓRIA DA QUÍMICA
107
Registro da contribuição de Theodoro Ramos para atomística
117
RESENHAS
119
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Nielson José Silva Furtado, José Machado Moita Neto e Janildo Lopes Magalhães
Contents 7
EDITORIAL
ARTICLES
10
Application of a cooling system in an Analytical Chemistry laboratory developed with open hardware and built with inexpensive materials Edmilson Antonio Canesin, Fernando Barreto and Guilherme Zago Canesin
18
Development of educational software for teaching experimental Chemistry
29
Studies on problem solving in chemistry: analysis of scientific periodicals
41
Column cromatography: a proposed experiment using chicken eggshell
Letícia Aparecia de Oliveira and Juliana do Nascimento Gomides
Amanda Pereira de Freitas, Verônica Tavares Santos Batinga and Angela Fernandes Campos
Simone Garcia de Ávila and Aleff dos Santos Rodrigues
EXPERIENCES ACCOUNT
48
Penicillin as a theme for an interdisciplinary activity towards exploration of Chemical and Biological contents in high school Franciane Gonçalves dos Santos, Gislayne Marília Alves de Queiroz, Carlos André de Souza, Cynthia Maria Carneiro Costa and Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos
62
Chemistry memory: a way of learning chemistry with fun
69
Production of models for investigation of submicroscopic representations of high school students about changes in physical state of matter
Francisca Belkise de Freitas Moreira, Igor Rannes da Costa Sousa, Karla Andrômeda Nobre de Oliveira, Maria Alcilene Gomes de Menezes, Edson Fernandes Moreira and Paulo Roberto Nunes Fernandes
Tânia Cristina Vargas Sana, Daisy de Brito Rezende and Agnaldo Arroio
82
Thematic project ‘Chemistry and Energy Towards Sustainable Development’: initial appointments Fernanda Welter Adams, Dayane Graciele dos Santos and Simara Maria Tavares Nunes
GREEN CHEMISTRY
97
The responsibility of Chemists for a better world: challenges and potentialities beyond the lab Ingo Eilks, Jesper Sjöström and Vânia G. Zuin
CHEMISTRY HISTORY
107
Record of Theodoro Ramos contribution to atomistic
117
REVIEW
119
EDITORIAL STANDARDS
Nielson José Silva Furtado, José Machado Moita Neto and Janildo Lopes Magalhães
Editorial
Vivemos tempos muito intensos, o momento é muito delicado em todos os seus aspectos: eco-
nômico, social, político e educacional. É certo que não temos hoje as melhores condições de vida e,
muito menos, aquelas necessárias para o exercício de nossas profissões. Isso requer muito cuidado e, principalmente, capacidade de adaptação. Teremos de nos adaptar mudando rotinas, hábitos e costumes até que esta fase passe e tudo se normalize.
Os professores, particularmente os de Química, que atuam nas escolas públicas há muito vêm
lidando com a falta das melhores condições de trabalho para bem executarem suas funções. O improviso sempre foi sua grande arma e a capacidade de adaptação sua grande aliada! Por essa razão, pouco se deixam abater e continuam atuando.
A ReBEQ sempre evidenciou essa capacidade de adaptação dos professores às condições que se
apresentam nas diferentes regiões do país, por meio da publicação de relatos de experiência que, invariavelmente, trazem a expressão “através da utilização de materiais de baixo custo e para suprir a falta de infraestrutura das escolas públicas”.
Diante da constatação de tal comprometimento, cabe-nos questionar: por que os docentes
quase não são ouvidos quando tomadas as decisões que afetam a comunidade estudantil em todos os seus níveis?
Seria muito oportuno se, contando com o apoio de outros segmentos da sociedade, os professo-
res pudessem opinar mais sobre os diferentes problemas sociais, não só dentro das salas de aulas,
mas no cotidiano e em todos os lugares. Superar as atuais dificuldades exige união de todos e o professor, pela sua experiência não só educacional, mas na solução de problemas profundos que atingem a educação, tem um papel fundamental que deve e precisa ser reconhecido.
Coordenação Editorial
Artigos Articles
Aplicação de um sistema de refrigeração em um laboratório de Química Analítica desenvolvido com hardware aberto construído com materiais de baixo custo Application of a cooling system in an Analytical Chemistry laboratory developed with open hardware and built with inexpensive materials Edmilson Antonio Canesin, Fernando Barreto e Guilherme Zago Canesin
Desenvolvimento de um software educativo para o ensino experimental de Química Development of educational software for teaching experimental Chemistry Letícia Aparecia de Oliveira e Juliana do Nascimento Gomides
Pesquisas sobre resolução de problemas em química: uma análise em periódicos científicos Studies on problem solving in chemistry: analysis of scientific periodicals Amanda Pereira de Freitas, Verônica Tavares Santos Batinga e Angela Fernandes Campos
Cromatografia em coluna: uma proposta de experimento utilizando casca de ovo de galinha Column cromatography: a proposed experiment using chicken eggshell Simone Garcia de Ávila e Aleff dos Santos Rodrigues
ARTIGO 01 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 10-17
Aplicação de um sistema de refrigeração em um laboratório de Química Analítica desenvolvido com hardware aberto construído com materiais de baixo custo Application of a cooling system in an Analytical Chemistry laboratory developed with open hardware and built with inexpensive materials Edmilson Antonio Canesin1, Fernando Barreto2 e Guilherme Zago Canesin3
Resumo Os processos químicos envolvem calor no seu desenvolvimento, em alguns casos é
necessário controlar o calor liberado, para que se mantenham as condições ideais de temperatura da reação, seja para preservar as espécies ou manter os solventes envolvi-
dos no processo. Neste trabalho desenvolveu-se um sistema de refrigeração que opera na temperatura ambiente, suficiente para processos que necessitem de sistemas de
refluxo. Esse sistema utiliza hardware aberto Arduino e materiais de baixo custo, inclu-
sive reciclando sucatas e reaproveitando materiais para a fabricação do equipamento. O resultado foi um equipamento com um custo de aquisição e construção muito baixo, que economiza até 1000 litros de água por mês na rotina de laboratório. Palavras-chave: Arduino, hardware aberto, água, reciclagem. Abstract
Chemical processes involve heat in its development, in some cases it is necessary to control the heat in order to achieve ideal temperature conditions for reactions, to preserve the species or to maintain the solvents involved in the process. This work presents a cooling 1. Professor DE no Campus Apucarana da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. 2. Professor DE no Campus Apucarana da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. 3. Aluno de IC-Jr UTFPR.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
system that operates at normal environment temperature, which is sufficient for processes requiring reflux systems. This system uses open hardware Arduino and low cost materials, including recycling and reusing scrap material to manufacture the hardware equipment. The result is an equipment with a very low acquisition and construction cost that can save up to 1000 liters of water per month in the laboratory routine. Key-words: Arduino, open hardware, water, recycling.
1
INTRODUÇÃO Nos processos químicos e físicos em geral,
muitas reações liberam energia (processos exo-
térmicos), ou necessitam de aquecimento para
que ocorram com maior eficiência (processos endotérmicos). Nos dois casos, a percepção do calor é uma forma de interpretar a transferência de energia através da variação de temperatura
(Barros, 2009). Muitos dos procedimentos utilizados na rotina de um laboratório precisam contro-
lar o calor liberado, seja para recuperar ou evitar
perda dos solventes, receber destilados ou manter os reagentes em determinadas condições de temperatura. Nesses casos, normalmente são utiliza-
dos sistemas de refrigeração, que podem ser sim-
ples condensadores que utilizem água corrente de torneira, consumindo e desperdiçando água tratada de boa qualidade, ou então acoplar um
sistema ultra termostatizado de refrigeração, que normalmente tem custo elevado para aquisição e
requer manutenção especializada, além de con-
sumo de energia elétrica elevado. Os sistemas de refluxo, normalmente são utilizados em processos de digestão, extração ou destilação, como nas aná-
lises de proteínas (AOAC, 1990; ANVISA, 2005),
reações de saponificação (Salimon et al., 2014; Bursali et al., 2006) ou nos processos de demanda
química de oxigênio (DQO) (APHA, 1998; Bado et al., 2013).
Com o desenvolvimento do hardware aberto
com fácil acesso e baixo custo, pode-se elabo-
rar sistemas de automação simples ou até mais complexos utilizando linguagem de programa-
ção, entre eles podem ser citados sistemas de automação residencial através da rede celular
(Cardoso; Dias, 2014; Carvalho, 2013), protótipos de domótica de automação predial (Araújo et al.,
2012; Dias; Pizzolato, 2004), desenvolvimento de controles remotos para as mais diversas aplica-
ções (Cavalcante et al., 2014), desenvolvimento de
processos para captação de dados usados em pesquisas científicas (Moreira et al., 2013) e em moni-
toramentos ambientais (Carvalho; Amorin, 2014), além de aplicações no ensino de física (Perez et al., 2013) sendo que toda essa tecnologia pode ser
desenvolvida e aperfeiçoada, buscando soluções em programas mais simples que sejam mais adequados ao que se deseja (Santos, 2014).
O hardware aberto, a exemplo do Arduino,
possui várias interfaces analógicas e digitais que podem ser gerenciadas por software desenvolvido em linguagem de programação do Arduino,
denominada Wiring. Essas interfaces permitem interligar uma vasta gama de equipamentos físi-
cos, de sensores a atuadores, permitindo realizar
11
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 01
medições de variáveis no ambiente físico, cálculos
tema, transistores (BC337), 4 diodos (1N4007),
ambiente físico (Arduino, 2014).
de 300 W de um PC, radiador/condensador de
numéricos e tomar decisões lógicas no ambiente
computacional, gerando novas variáveis no
Esse projeto visou desenvolver um sistema de
refrigeração de água, usando materiais de baixo custo e outros materiais considerados sucatas, mas que pudessem atender a demanda de um laboratório de química, tanto para uso em aulas
práticas como para realização de projetos de tra-
balho de conclusão de curso, atividades de extensão e iniciação científica. 2
METODOLOGIA 2.1
Materiais utilizados
e 10 resistores de 1 Kohms e 10 Kohms. Foram
aproveitados como material reciclado, fonte
refrigerador em alumínio (30 x 25 cm), 5 coolers
(8 x 8 cm) retirados de fontes de PC inutilizadas (Figura 2), interruptores, bomba de circulação
de água (30 W/110 V), chapas em aço inox para
revestimento e reservatório de isopor de 10 L. Para a montagem da estrutura física foram neces-
sários 12 m de cantoneira em alumínio de meia polegada, rebites do tipo ‘pop’ (4 x 10 mm), parafusos em geral (2 x 12 mm) além de ferramenta-
ria como: chaves de fenda, rebitadeira, furadeira, brocas e serra.
Para o projeto, foi escolhido o hardware aberto
Arduino modelo UNO R3 (Figura 1), que apresenta
13 entradas digitais e 5 entradas analógicas, que se enquadraram de forma suficiente para os objetivos propostos com um custo compatível.
Figura 2. Desenvolvimento da estrutura física. (a) Radiador, (b) Coolers de refrigeração, (c) fonte de PC, (d) Componentes eletrônicos, (e) Estrutura em cantoneira de alumínio. Figura 1. Arduino UNO R3. Fonte: Arduino (2014).
Desenvolvimento da estrutura física
As cantoneiras de alumínio foram cortadas
e adaptadas de acordo com o tamanho neces-
Este hardware foi adquirido em conjunto com
sário para encaixe de todos os componentes.
além da placa Arduino UNO R3, cabos de cone-
água acoplado à bomba, peças de maior volume,
um ‘Kit Iniciante Arduino’ genérico (disponível em
vários sites de venda na Internet), que continha
xão em geral em diversos tamanhos, um display LCD, LED`s de diversas cores, resistores, capacitor, entre outros acessórios. Além do kit iniciante, adquiriu-se, também, um sensor de temperatura
(DS18B20) para aferição da temperatura do sis-
12
2.2
Inicialmente previu-se a colocação da fonte de
computador, do radiador e do reservatório de
de forma que os coolers instalados no radiador de
alumínio tivessem uma circulação adequada de ar, assim como o cooler de refrigeração da bomba
d’água (Figura 3). Previu-se um espaço destinado a alocação do circuito eletrônico (protoboard,
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
placa UNO R3 e display), e também para instalação das mangueiras de silicone destinadas a
circulação de água e um filtro. Todos os recortes
necessários foram rebitados e ao final obteve-se um conjunto suficientemente rígido e apto para
tados por cabos 12 V provenientes da fonte de computador montados com o circuito envolvendo transistores, diodos e resistores (Figura 4).
transporte do sistema.
Figura 4. Conexões dos diodos, transistores e resistores dos coolers na protoboard. Figura 3. Estrutura física montada em cantoneira de meia polegada para o projeto com o reservatório. (a) Reservatório de isopor, (b) Bomba de circulação de água. 2.3
Desenvolvimento do código
O desenvolvimento do código, iniciou-se ins-
talando o display, que mostraria as informações
para o usuário do sistema de refrigeração, adaptando-se códigos prontos da biblioteca de desen-
volvimento Arduino (Arduino, 2014). Partiu-se,
então, para o sensor de temperatura (DS18B20), onde foi encontrado um problema, pois o sensor não faz a leitura da temperatura em graus Celsius,
Testou-se as conexões para verificação do sis-
tema, instalou-se os coolers no radiador e digitou-se o código para funcionamento destes em determinadas temperaturas, ligados em diagonal, para
otimização da refrigeração. No código adicionou-
-se uma ‘temperatura de referência’ e assim ao
atingir 5 °C acima desta referência acionam-se os dois primeiros coolers e após 10 °C os outros dois. A ‘temperatura de referência’ pode ser alterada a
partir de dois botões ‘up’ e ‘down’, sendo mostrada
no display junto à temperatura da água de refrigeração (Figura 5).
e sim em uma escala própria. Buscou-se, então, uma biblioteca (OneWire, 2014), com o fator de
conversão para a escala desejada, um código de
aproximadamente 35 linhas e com isso obteve-
-se o sensor de temperatura funcionando corretamente. Enviou-se, então, o valor obtido pelo
sensor diretamente para o display, para que fosse possível conhecer a temperatura em que a água do
Figura 5. Display indicador das temperaturas e acima os botões ‘up’ e ‘down’.
as conexões entre a placa Arduino, transistores,
O botão ‘up’ aumenta a ‘temperatura de refe-
sistema se encontrava a cada segundo.
A partir de então, montou-se na protoboard
resistores e diodos, até os coolers, que são alimen-
rência’ e o botão ‘down’ diminui, ambos em
13
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 01
incrementos de 1 °C e assim altera-se a dinâ-
processos de saponificação ocorrem em tempera-
mica do sistema para ligar ou desligar os coolers,
turas da ordem 120 °C durante 1h30min.
mantendo-se, assim, a temperatura desejada. Para alertar quanto a um possível superaquecimento da água de refrigeração, instalou-se um ‘buzzer’
para soar como alarme no mesmo funcionamento
de código do cooler, porém em uma temperatura de 15 °C acima da “temperatura de referência” (Figura 6).
Figura 7. Sistema de refrigeração finalizado, fechado com chapas de aço inox (a). Botão liga/desliga da fonte de alimentação do Arduino (b). Botão liga/desliga da bomba d’água (c).
Figura 6. Conexões da placa UNO R3 (a) e ‘buzzer’ (b) instalados na protoboard (c). 2.4
Aplicação do sistema
Após todas as conexões finalizadas, placas de
processamento UNO R3 e protoboard instaladas,
Figura 8. Bateria de Sebelin acoplada ao sistema de refrigeração.
o sistema foi fechado com chapas de aço inox,
aparafusadas no suporte de alumínio para melhor
proteção dos componentes internos (Figura 7) e o sistema foi então acoplado em uma bateria de
Sebelin (Figura 8) com 6 provas, equipada com
balões de fundo chato de 250 mL de capacidade,
RESULTADOS OBTIDOS O sistema desenvolvido foi submetido a cali-
com juntas esmerilhadas 24/40 e condensadores
bração das temperaturas de referência e de tra-
de refluxo.
tificado de aferição modelo ASTM 11C, imerso no
determinação de DQO e reações de saponificação
que compõem a bateria de Sebelin mantidos sob
modelo Liebig de 300 mm, montados em série para execução de reações que requerem sistema A bateria de Sebelin é usada regularmente no
laboratório de química analítica para análises de de óleos, além de utilização eventual com extratores Soxhlet para óleos e graxas. A análise de DQO requer um sistema de refluxo para refrigeração
do processo de digestão que ocorre entre 180 e 200 °C por um período não inferior a 2 horas e os
14
3
balho, obtidas pelo sensor DS18B20. Para isso utilizou-se um termômetro de mercúrio com cer-
reservatório da água de refrigeração. Adicionou-se
100 mL de água destilada nos 6 balões de 250 mL refluxo por 30 min, em temperatura de ebulição
da água, e com a bomba d’água do sistema acionada para circulação da água de refrigeração por todos os condensadores. As temperaturas foram
aferidas em três valores de referência diferentes.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Tabela 1. Valores em °C de temperatura de referência, temperaturas registradas pelo display e temperatura aferida no termômetro em temperatura ambiente de 22 ± 2 °C. Referência 15 20 25
Display 22,9 a 23,1 25,7 a 25,8 26,6 a 26,8
Termômetro 22,5 25,0 26,0
Variação % 2,25 ± 0,44 3,01 ± 0,19 2,69 ± 0,38
Os valores foram escolhidos considerando possí-
1989), procedendo-se da seguinte maneira: ini-
Observou-se que as temperaturas obtidas na
no display foi anotada após 30 min de efetiva
veis temperaturas ambientes de trabalho do laboratório (Tabela 1).
leitura do sensor e aferidas pelo termômetro cer-
tificado diretamente na água de refrigeração apre-
sentaram variações de até 0,8 °C, o que significa
uma variação percentual máxima de até 3,20%, considerando o desvio, o que não interfere signi-
ficativamente na proposta de trabalho do equipa-
mento, uma vez que o objetivo é a recuperação dos vapores de solventes, principalmente água.
Após o processo de calibração, o sistema foi
submetido a um teste de eficiência de capacidade
de refrigeração, escolhendo-se, para isso, análises de DQO, pois neste tipo de análise as temperaturas de digestão são elevadas, levando a bateria de
Sebelin a trabalhar muito próxima de sua capa-
cidade máxima de aquecimento e consequentemente, exigindo que o sistema de refrigeração proposto chegasse ao seu limite.
Foram preparadas 6 análises de DQO, utili-
zando-se o procedimento padrão (Clesceri et al.,
cialmente foi acionada apenas uma resistência
da bateria de Sebelin e a temperatura registrada
digestão, ou seja, após 30 min de ebulição em
torno de 200 °C da mistura catalítica sob refluxo. Em seguida, acionou-se a segunda resistência e novamente aguardou-se 30 min de ebulição para
anotação da temperatura e assim sucessivamente para as demais, até o acionamento de todas as 6
resistências da bateria de Sebelin. Além disso tam-
bém foi aferida a temperatura no interior dos condensadores, introduzindo-se o termômetro até a metade de sua altura.
Observou-se que à medida que as resistências
de aquecimento eram acionadas houve um incremento máximo de 1,3 °C na temperatura da água
de circulação do sistema (Tabela 2) e a variação máxima de temperatura no interior dos conden-
sadores não foi superior a 2 °C, mantendo-se estável mesmo após 2 horas de funcionamento com
a bateria de Sebelin operando em seu limite de aquecimento.
Tabela 2. Temperaturas obtidas na água de refrigeração do sistema de refluxo e no interior dos condensadores, considerando um valor de referência do equipamento de 20 °C. Tempo (min)
Temperatura do Sistema (°C)
1
2
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
22,0 23,8 24,6 24,9 25,9 27,2 28,3 29,1 29,2 29,1
22,0 25,0 26,0 26,0 27,0 28,5 29,5 30,0 30,0 30,0
– – 26,0 27,0 27,5 29,0 29,5 30,0 30,0 30,0
Temperatura dos Condensadores (°C) 3 4 – – – 28,0 28,0 30,0 30,0 30,5 30,5 30,5
– – – – 28,0 30,5 30,0 31,0 31,0 30,5
5
6
– – – – – 30,5 30,5 31,0 31,0 31,0
– – – – – – 31,0 31,5 31,5 31,5
15
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 01
Para se conseguir este nível de refrigeração
utilizando água corrente (água de torneira) man-
tendo um fluxo mínimo necessário, verificou-se experimentalmente que seriam gastos cerca de 75
L de água por hora de funcionamento do refluxo,
e considerando um ciclo mínimo de 2 horas de digestão e pelo menos 30 min de resfriamento,
seriam gastos aproximadamente 200 L de água a cada ciclo de trabalho do digestor. 4
CONCLUSÃO O hardware aberto Arduino possui baixo custo
e possui fácil acesso às suas bibliotecas de progra-
mação.As suas interfaces analógicas e digitais o tornam versátil para atuar em diversos sistemas
de automação de baixo custo. Quanto ao sistema construído, as temperaturas obtidas na água de
refrigeração, mesmo operando com a capacidade máxima de aquecimento da bateria de Sebelin,
foram suficientes para atender ao processo proposto. O equipamento desenvolvido atende às
necessidades de refrigeração em sistemas de
refluxo para análises de rotina no laboratório de
química analítica, possui baixo custo de construção e retorna uma excelente economia de água,
contribuindo, significativamente, para preservação de recursos naturais. 5
REFERÊNCIAS ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. Instituto Adolf Lutz, Brasília-MS, 2005.
AOAC – Association of Official Analitycal Chemists. Official methods of analysis. 15. ed. Washington, 1990. APHA, AWWA, WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 19. ed. Washington: American Public Health Association, 1998.
ARAÚJO, I. B. Q. et al. Desenvolvimento de um protótipo de automação predial/residencial utilizando a plataforma de prototipagem
16
eletrônica Arduino. COBENGE: XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia, 2012. Disponível em: <http://www.abenge.org.br/ CobengeAnteriores/2012/artigos/103723.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
ARDUINO. Disponível em: <http://www.arduino.cc/ en/Guide/HomePage>.
BADO, C.; PERCIO, J. E.; LINDINO, C. A. A demanda química de oxigênio: questionamentos. Revista Analytica, n. 62, p. 44-51, 2013.
BARROS, H. L de C. Processos endotérmicos e exotérmicos: uma visão atômico molecular. Química Nova na Escola, v. 31, n. 4, p. 241-245, 2009. BURSALI, N.; ERTUNC, S.; AKAY, B. Process improvement approach to the saponification reaction by using statistical experimental design. Chemical Engineering and Processing: Process Intensification, v. 45, n. 11, p. 980-989, 2006. CAVALCANTE, M. A.; RODRIGUES, T. T. T.; BUENO, D. A. Controle remoto: observando códigos com o Arduíno. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 31, n. 3, p. 614-641, 2014. CARDOSO, L. F. C.; DIAS, U. Sistema de automação residencial via rede celular usando microcontroladores e sensores. Revista de Engenharia e Tecnologia, v. 6, n. 2, p. 34-46, 2014.
CARVALHO, L. R. M.; AMORIN, H. S. Observando as marés atmosféricas: uma aplicação da placa Arduino com sensores de pressão e temperatura. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 36, n. 3, p. 3501-3507, 2014.
CARVALHO, S. S. Automação residencial de baixo custo: um protótipo com acesso WEB. Revista Científica Semana Acadêmica, v. 6, 2013. Disponível em: <http://semanaacademica.org. br/artigo/automaçãoresidencial-de-baixocusto-um-prototipo-com-acesso-web>. Acesso em: 04 maio 2015. CLESCERI, L. S.; GREENBERG A. E.; TRUSSEL, R. R. Standard methods, for the examination of water and wastewater. 17. ed. Boston – USA: American Public Health Association (APHA-AWWA), 1989. DIAS, C. L. de A.; PIZZOLATO, N. D. Domótica: Aplicabilidade e sistemas de automação residencial. Vértices, v. 6, n. 3, p. 9-32, 2004.
MOREIRA, A. S.; PORTELA, A. M.; SILVA, R. Uso da plataforma Arduino no desenvolvimento de soluções tecnológicas para pesquisa de dados atmosféricos na Amazônia. Perspectiva Amazônica, v. 5, p. 119-126, 2013.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
ONEWIRE. Disponível em: <http://playground. arduino.cc/Learning/OneWire> Acesso em: 09 set. 2014.
PEREZ, A. L. F. et al. Uso da plataforma Arduino para o ensino e aprendizado de robótica. ICBL: International Conference on Interactive Computer aided Blended Learning, 2013.
SALIMON, J.; ABDULLAH, B. M.; SALIH, N. Saponification of Jatrophacurcas Seed Oil: Optimization by D-Optimal Design. International Journal of Chemical Engineering, 2012. doi:10.1155/2012/574780.
SANTOS, N. Arduino: const vs #define. Programar – Revista portuguesa de programação, v. 44, p. 38-40, 2014.
17
ARTIGO 02 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 18-28
Desenvolvimento de um software educativo para o ensino experimental de Química Development of educational software for teaching experimental Chemistry Letícia Aparecia de Oliveira1 e Juliana do Nascimento Gomides2
Resumo A Química estuda os materiais que compõem a natureza, sua estrutura, propriedades, reações, composições e as suas transformações. Para facilitar o entendimento dessa
ciência é necessária a aplicação de metodologias alternativas que possam melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi desen-
volver um software educativo para ser utilizado na disciplina de Química, abordando
conteúdos de Química da primeira série do Ensino Médio. Realizou-se uma pesquisa documental, com caráter qualitativo, que se baseou em leituras, análises e interpreta-
ção de textos. A pesquisa foi desenvolvida durante o primeiro semestre de 2015, com
o propósito de elaborar um software educativo, utilizando o programa “Netbeans” com versão 7.4 e linguagem de programação Java. Os resultados são positivos, pois foi pos-
sível desenvolver páginas no software a partir de conteúdos com abordagem experimental, tais como segurança de laboratório, vidrarias, práticas de densidade e trans-
formações físicas e químicas para serem trabalhados com os alunos do Ensino Médio. Posteriormente, o software foi distribuído na forma de DVD-ROM em algumas escolas
da cidade de Itumbiara-GO. Concluiu-se que o software educativo é um poderoso instrumento do processo de ensino-aprendizagem, podendo suprir as necessidades em condições materiais desfavoráveis em escolas públicas.
Palavras-chave: Programa Netbens, laboratórios, práticas experimentais.
1. Aluna do Curso de Química-Licenciatura do ILES/ULBRA.
2. Professora Mestre do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara (Iles/Ulbra).
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Abstract Chemistry studies the materials found in the nature, their structures, properties, reactions, compositions and transformations. To facilitate the understanding of this science it is necessary the development of alternative methodologies that can improve the teaching-learning process. Thus, the aim of this study was to develop an Educational Software for use in chemistry discipline, addressing Chemical content of the first year of high school series. Documentary research based on readings, analysis and interpretation was conducted firstly. This research was conducted with the purpose of developing an educational software, using the “Netbeans” with version 7.4 and Java programming language. The results are positive and it was possible to develop pages on software including experimental approach such as laboratory safety, glassware, density practices and physical and chemical transformations. The software in the form of a DVD-ROM was distributed in some public schools in Itumbiara-GO. It was concluded that educational software is a powerful tool in the teaching-learning process that can overcome the needs of unfavorable material conditions in public schools. Key-words: Program Netbens, laboratories, experimental practices.
1
INTRODUÇÃO A Química é a ciência que estuda os materiais
que compõem a natureza, sua estrutura, proprie-
dades, reações, composições e transformações; ela está presente em todas as atividades que nos rodeiam, desde um simples suco feito em casa
até os mais complexos experimentos. Apesar de
sua relevância, a disciplina de Química no ensino médio é considerada de difícil compreensão, pelo distanciamento entre a teoria e a prática (Mazalla Júnior, 2006).
Para melhor entendimento dessa ciência são
necessárias aplicações de metodologias alternativas que possam melhorar o processo de ensino-
-aprendizagem dos alunos (Sousa Neto et al.,
2004). Sendo assim, é necessário que o professor deixe de ser a única fonte de informação e passe
a criar oportunidades para que o aluno participe de forma mais ativa do processo de aprendizagem, para a construção do seu próprio conhecimento.
Isso acontece quando algumas tecnologias começam a ser compreendidas e utilizadas.
Atualmente, o uso de computadores como uma
ferramenta educacional tem se tornado mais fre-
quente, pois é um instrumento de mediação educacional, e os elementos que contribuíram para
que isso fosse possível foram os programas e pro-
tocolos de comunicação, denominados softwares (Jucá, 2006). Nesse contexto, os softwares educativos são desenvolvidos para serem utilizados no processo de construção do conhecimento, facili-
tando, assim, o processo de ensino-aprendizagem. Um Software Educativo (SE) é um programa
que possui recursos projetados com a finalidade de serem utilizados em contextos de ensino-
-aprendizagem, que vão desde a aquisição de conceitos, desenvolvimento de habilidades, até a resolução de problemas (Sancho, 2008).
Nessa perspectiva, SE é uma ferramenta edu-
cacional que auxilia no processo de ensino apren-
dizagem, pois, devido à falta de alguns recursos físicos, como laboratórios, fica difícil a compreen-
são de alguns conteúdos. Visando auxiliar nesse processo, o programa possui uma interação com o aluno simulando situações reais, impossíveis
de serem observadas em aulas estritamente expositivas.
Tendo em vista os aspectos observados,
levantou-se o seguinte problema: diante dos vários recursos computacionais existentes, é possível elaborar um software educativo com abordagem de conteúdos da disciplina de Química para ser utilizado no Ensino Médio?
19
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 02
Acredita-se que o desenvolvimento de um sof-
Para a análise dos dados, utilizou-se a pesquisa
tware educativo possa auxiliar no processo de
qualitativa, que é substancialmente aquela que
ambiente escolar, contribuindo no desenvolvimento
trabalha com descrições, comparações e interpre-
aprendizagem, pois é uma maneira de interação
busca estudar profundamente determinado acon-
entre as pessoas, podendo ser muito aproveitada no
tecimento; especificamente, a pesquisa qualitativa
do raciocínio, envolvendo o educando com o assunto
tações (Borges; Castilho; Pereira, 2011).
em estudo, além de promover a sua socialização.
Além disso, fez-se uso do método dedutivo,
Esse trabalho teve como objetivo desenvolver
que consiste na interpretação dinâmica e totali-
um software educativo para ser utilizado na dis-
zante da realidade, considerando que os fatos não
pretendíamos eleger alguns conteúdos de Química
A pesquisa foi desenvolvida durante o pri-
ciplina de Química, abordando conteúdos da pri-
podem estar fora de um contexto social (Lakatos;
meira série do ensino médio. De forma específica,
Marconi, 2010).
aplicados na primeira série do ensino médio e
meiro semestre de 2015, utilizando o programa
desenvolver um software abordando estes conte-
‘Netbeans’ com versão 7.4 e linguagem de pro-
údos. Decidimos que este software abordaria as
gramação Java. Para a elaboração do software
normas de segurança em laboratório e o software
foram utilizados conteúdos da disciplina de
educativo apresentaria práticas experimentais e,
Química, com abordagem experimental, para
por fim, seria distribuído na forma de DVD-ROM
alunos da primeira série do Ensino Médio, tais
em algumas escolas da cidade de Itumbiara-GO.
como: segurança de laboratório, vidrarias, práti-
Essa opção se justifica pela baixa qualidade,
cas de densidade e transformações físicas e quí-
ou mesmo pela inexistência dos laboratórios de
micas, com o propósito de auxiliar no processo de
Química nas escolas de Ensino Médio. Por isso, o
ensino-aprendizagem.
software educativo seria utilizado como um recurso
Posteriormente, o software foi gravado na
didático para favorecer o processo de ensino-
forma de DVD-ROM e distribuído para professores
-aprendizagem, colocando o aluno em situações práticas que introduzam recursos tecnológicos e,
assim, de uma maneira mais interessante, favorecer a apropriação do conhecimento (Brito, 2001). 2
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho se iniciou com a inves-
tigação documental, de caráter qualitativo, que se baseou em leituras, análises e interpretação,
fundamentando-se na consulta de livros didáticos, artigos científicos, monografias, sites e jor-
nais que apresentassem o tema a ser abordado.
De acordo com Borges, Castilho e Pereira (2011) a pesquisa documental define-se como a consulta
de fontes primárias, e abrange todos os materiais que podem servir como fonte de informação para a pesquisa realizada.
20
de algumas escolas da cidade de Itumbiara-GO. 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Sancho (2008) Software
Educativo (SE) é um programa que possui recur-
sos projetados com a finalidade de serem utilizados em contextos de ensino-aprendizagem.
Elaborou-se um software na forma de recurso
didático, para ser utilizado com alunos da 1ª série do Ensino Médio, permitindo ao professor utilizá-
-lo como uma ferramenta auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos. O recurso didático foi
desenvolvido no programa ‘Netbeans’ com versão 7.4 e linguagem de programação Java, tendo como pré-requisito o Windows XP, com no mínimo 500
MB (Megabytes) de memória RAM e processador Pentium 4.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
O professor poderá utilizar o software como
uma ferramenta didática para trabalhar com seus alunos no laboratório de informática; nos casos
em que a escola possui poucos computadores, o professor pode trabalhar com grupos de alunos
ou até mesmo utilizar o Datashow, e assim todos terem uma visão de como funciona o programa.
A Figura 1 apresenta as páginas desenvolvidas
no software, que consiste em uma introdução ao laboratório, partindo da aprendizagem de nor-
mas de segurança, reconhecimento de vidrarias e,
finalmente, a realização das práticas, tendo como método de avaliação exercícios de fixação e uma tabela periódica interativa.
Figura 2. Tela de normas de segurança.
As telas do software abordam como o espaço
físico do laboratório deve ser construído, aten-
dendo um conjunto de características que permi-
tam que a permanência seja segura e tranquila.
Para isso, há necessidade de obedecer às carac-
terísticas de construção, avaliando os aspectos
de sinalização de todas as áreas do laboratório (Chrispino; Faria, 2010).
A sinalização de qualquer laboratório pode ser
feita logo após a conclusão de sua construção, ou
mesmo durante a instalação de seus equipamen-
tos. Um aspecto muito importante na sinalização dos laboratórios é a utilização de cores para a
identificação de equipamentos, delimitação de Figura 1. Tela menu inicial.
No software, o aluno terá acesso à parte intro-
dutória sobre a segurança dentro do laboratório e
abaixo cinco ícones, contendo as mais importantes
sinalizações encontradas dentro do laboratório, os equipamentos de proteção individuais (EPI) exigidos para serem utilizados durante as práticas
experimentais; equipamentos de proteção coletiva (EPC) presentes no laboratório, para serem utiliza-
das em casos de acidentes; quais as boas condutas que o aluno deve ter dentro do laboratório para evi-
tar possíveis acidentes e como deve ser realizado
o descarte correto de produtos químicos utilizados durante as práticas experimentais (Figura 2).
áreas e tubulações (Chrispino; Faria, 2010).
Nesse aspecto, elaborou-se uma tela no sof-
tware (Figura 3) com o propósito de representar
as sinalizações mais utilizadas nos laboratórios de ensino, que são: sinalização de emergência,
utilizada nos mais variados locais do laboratório, incluindo-se os acessos, as saídas e alguns equi-
pamentos; sinalização para equipamentos de combate a incêndio, utilizada para identificar o
equipamento de combate a incêndio já instalado na construção do laboratório; sinalização de proibição, utilizada para indicar atitudes que não
devem ser tomadas naquele local por serem consi-
deradas perigosas; sinalização de obrigação, que
indica tanto comportamentos quanto obrigações que devem ser seguidos em determinados locais; sinalização de aviso, utilizada para chamar aten-
21
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 02
ção dos usuários do laboratório quanto aos riscos em potencial que aquela região está sujeita (Chrispino; Faria, 2010).
Alguns laboratórios fazem uso de aparelhos de ultrassom, ou possuem muitas bombas de vácuo
ligadas que ultrapassam o limite de ruídos, nesse caso, recomenda-se utilizar protetores auriculares (Chrispino; Faria, 2010).
Quanto à proteção respiratória, como o labo-
ratório de química é um ambiente muito exposto à contaminação por vapores de reagentes e solventes, é recomendável que toda manipulação
com reagentes e solventes tóxicos seja efetuada
na capela, que deve possuir um bom sistema de exaustão (Chrispino; Faria, 2010). Figura 3. Tela de sinalização em laboratório.
A próxima instrução a seguir são os equipa-
mentos de proteção individual (EPI), que a princípio devem conter o Certificado de Aprovação
e Autenticidade, expedido pelo Ministério do Trabalho, por meio do seu correspondente órgão
nacional competente em Segurança e Saúde do Trabalho (Chrispino; Faria, 2010). Para garantir
total segurança, professores e chefes de labora-
tório devem ficar atentos aos equipamentos de proteção que não são fornecidos pela instituição, e que devem ser utilizados pelos alunos.
Chrispino e Faria (2010) ressaltam que, em
todas as atividades manuais, as mãos estão sujeitas a alguma forma de agressão, seja por conta-
minação ou lesão provocada por algum objeto e, dependendo da atividade que está sendo desenvolvida, devem estar protegidas com a utilização
de luvas. Para a proteção do corpo, recomenda-se a utilização de jalecos, com comprimento até os joelhos, para uso rotineiro, e devem ser con-
feccionados com tecido de algodão e sem cinto. Finalmente, para as pernas, recomenda-se uso
de calça comprida e, para os pés, meia e sapato fechado, com solado de borracha (Figura 4).
Para melhor aprendizado, o software possui
os mais importantes equipamentos a serem utilizados dentro de um laboratório, começando pela proteção dos olhos, portanto os óculos de segurança devem ser utilizados em qualquer situação,
desde que o indivíduo esteja dentro do laboratório e, além dos óculos, existem protetores faciais, que
podem ser utilizados juntamente com os óculos, e são recomendados quando se executa algum
procedimento exotérmico, ou mesmo na fusão de algum material (Chrispino; Faria, 2010).
Além dos equipamentos de proteção indivi-
A proteção auricular normalmente não é
dual, o laboratório deve apresentar equipamen-
dos acima do limite estabelecido de 60 decibéis.
ções de emergência, pois ajudam a minimizar os danos
muito utilizada no trabalho diário dentro de um
laboratório, pois não é comum existirem ruí-
22
Figura 4. Tela dos equipamentos de proteção individual.
tos de proteção coletiva (EPC’s), que são aqueles
cuja utilização é necessária e imprescindível em situa
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
provocados por algum acidente ou qualquer imprevisto
Diante desse cenário, o software abordou tam-
(Chrispino; Faria, 2010, p. 38).
bém algumas boas condutas práticas, a serem
podem ser classificados de acordo com o material
mento coletivo de atividades. Chrispino e Faria
A Figura 5 retrata o caso dos laboratórios esta-
rem equipados com extintores de incêndio, que que causou o acidente, como Classe A, Classe B,
Classe C e Classe D. Para cada uma das classes de
incêndio, existe o extintor adequado, carregado com um agente a ser utilizado para o seu combate.
Os principais agentes de combate ao fogo são: água pressurizada, CO2, pó químico e espuma
mecânica. A manta corta-fogo é utilizada em
seguidas dentro do laboratório, visando a uma
perfeita convivência e harmonia no desenvolvi(2010) ressaltam que uma boa conduta no labo-
ratório se dá antes mesmo de iniciar qualquer
prática; por exemplo, a leitura de rótulos dos reagentes antes de utilizá-los, uma vez que há neles muitas informações importantes (Figura 6).
muitas situações emergenciais de ocorrência de um incêndio, ou até mesmo no caso de algum
líquido em chama espirrar no jaleco de algum ocupante do laboratório; nesses casos, deve-se abafar
o corpo da pessoa para eliminar completamente as chamas (Chrispino; Faria, 2010).
Outro exemplo de EPC presente no software
são os chuveiros de emergência, essenciais e obrigatórios em qualquer laboratório em que haja
Figura 6. Tela de boas condutas em laboratório.
Outro ícone abordado na tela de segurança em
manipulação de produtos químicos; lava-olhos
laboratório refere-se ao descarte de produtos quí-
gem nos olhos nos casos deles serem atingidos por
resíduos gerados após as aulas práticas (Figura 7).
são dispositivos de segurança para a vista, dota-
dos de duchinhas pelas quais flui água, para a lavaqualquer material estranho, incluindo-se partícu-
las sólidas e respingos de líquidos manuseados no
micos, em que se pode trabalhar a relação dos pro-
dutos químicos utilizados no laboratório com os
laboratório (Chrispino; Faria, 2010) (Figura 5).
Figura 7. Tela de descarte de produtos químicos.
Os produtos químicos de laboratórios são, geral-
mente, resíduos de ‘caráter especial’. A eliminação Figura 5. Tela dos equipamentos de proteção coletiva.
de tais resíduos deve ser cuidadosa observando-se
as leis físicas válidas em seu correspondente estado (ou forma). Recomenda-se sempre o contato com
23
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 02
órgão responsável ou com o responsável no pro-
tica experimental. Através das telas anteriores, o
processo químico no qual ocorre transformação,
vidrarias e acessórios presentes no laboratório e
grama de descarte e higiene química da instituição.
Toda substância não desejável, resultante de um o responsável tem que prepará-la para o descarte final (Figura 7) (Chrispino; Faria, 2010).
Com o aprendizado adquirido sobre as nor-
mas e condutas de segurança, a próxima etapa a seguir é o reconhecimento das vidrarias e aces-
sórios de laboratório, pois para a realização de qualquer prática experimental é extremamente importante o aluno saber qual a vidraria correta
a ser utilizada. Portanto, a identificação de vidrarias é necessária, pois no momento da realização
da prática o aluno terá um roteiro para seguir, com
materiais necessários a serem utilizados, por isso, foram selecionadas algumas vidrarias, consideradas importantes para serem utilizadas em dife-
aluno pôde aprender quais as técnicas e normas de segurança necessárias, o reconhecimento das
quais são as suas utilidades para, enfim, poder trabalhar com cautela e total segurança.
Os conteúdos de Química abordados no sof-
tware são da primeira série do Ensino Médio e
foram escolhidos com base nas pesquisas em
livros didáticos e demonstrados através de imagens em movimento, contendo os materiais neces-
sários e os procedimentos corretos que devem ser seguidos para a realização de cada prática experimental.
A tela de inicialização, como demonstra a
Figura 9, aborda um painel com abas referentes às duas práticas: transformações físicas e quí-
micas e densidade de sólidos. Ao selecionar o
rentes práticas contendo uma figura ilustrativa e
botão ‘Transformação’ o aluno terá acesso a uma
figura 8, aborda um painel de abas com as vidra-
a explicação de transformação física, que con-
a descrição da mesma.
A tela de vidrarias, como demonstrado na
rias e acessórios mais utilizados dentro de um laboratório, e para facilitar a localização, os botões com os respectivos nomes, estão posicionados em ordem alfabética.
tela contendo uma parte introdutória do conceito de uma transformação física. A tela aborda siste na mudança das propriedades físicas tais
como tamanho, forma, densidade ou mudanças no
estado da matéria que não são acompanhadas por mudanças em composição (Hein; Arena, 1998). Um exemplo visto no cotidiano é a transformação da água em gelo, ou seja, nenhuma nova substância é formada na transformação física.
Figura 8. Tela de vidrarias e acessórios de laboratório.
É importante mencionar que, com base nos
conhecimentos adquiridos nas telas propostas no software, o aluno pode, enfim, realizar, uma prá-
24
Figura 9. Tela de introdução às práticas.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Relacionando a teoria com a prática o aluno
A prática experimental presente no software
pode, enfim, visualizar o experimento referente
sobre transformação química envolve o aque-
hidratado. Após alguns instantes o aluno pode
com a liberação de gás. A Figura 11 representa
à transformação física que consiste no aquecimento do sal inorgânico sulfato de cobre penta
observar que o sal apenas ficou um pouco mais claro, porque com o aquecimento as moléculas
de água presentes no sal evaporaram, demonstrando apenas uma mudança física da matéria,
afirmando a transformação física visualizado no experimento.
Para melhor entendimento, primeiramente
é mostrado ao aluno quais os materiais necessários para a realização da prática, o procedimento
cimento de um sal; em alguns instantes ele se
funde, passando do estado sólido para o líquido, a transformação química, a qual primeiramente
apresenta ao aluno quais os materiais necessá-
rios para a realização da prática, o procedimento correto a seguir e, depois, a visualização do expe-
rimento, possibilitando ao professor usá-la como método de avaliação, a partir das conclusões do aluno.
correto a seguir e, depois, a visualização do expe-
rimento pode ser observada, possibilitando ao
professor usá-la como método de avaliação, tendo como base as conclusões do aluno (Figura 10).
Figura 11. Tela de prática de transformação química (TQ).
Posteriormente, o aluno pode acessar outra
Figura 10. Tela de prática de transformação física (TF).
A transformação química consiste na formação
de novas substâncias, com propriedades e com-
posição diferentes do material inicial; as novas substâncias não precisam apresentar semelhan-
ças com o material original (Hein; Arena, 1998). Existem vários exemplos do cotidiano que podem ser abordados como exemplos para os alunos, e que acontecem a partir de uma transformação
química, tais como a nossa respiração e o processo de fotossíntese, dentre outros.
prática experimental presente no software, que é a densidade de sólidos; como nas anteriores, ao
selecionar o botão, o aluno tem acesso ao conceito sobre densidade. A densidade é uma propriedade intensiva,
dada pela razão massa/volume, e representa a quantidade de matéria de uma substância con tida na unidade de seu volume, ou seja, uma substância é densa se contém uma grande quantidade de matéria em um pequeno volume (Schaum; Rosenberg, 1975, p. 13).
A partir da prática experimental presente no
software, o aluno poderá calcular a densidade de um sólido irregular, como demonstrado na
25
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 02
Figura 12. De acordo com a experiência ilustrada
fixação, e para isso foram feitas pesquisas em
massa do material sólido. Para isso, introduziu-se
Como parte do aprendizado sobre as normas
na tela do SE, o professor poderá explicar aos alunos que, inicialmente, foi necessário medir a
300 mL de água destilada dentro de uma proveta e mergulhou-se o objeto em seu interior; o nível da
água no interior da proveta se alterou. Para calcular a densidade deste sólido, primeiramente, deve ser calculada a alteração no nível da água; para
isso, basta subtrair o volume inicial do volume final indicado na proveta. Esta diferença corresponderá ao volume do objeto introduzido na água.
Com esse valor, o aluno pode calcular a densidade através da razão massa/volume.
A Figura 12 ilustra a prática de densidade de
sólidos presentes no software; primeiramente, ele
aborda quais os materiais necessários para a realização da prática, o procedimento correto a seguir,
e, depois, a visualização do experimento pode ser observada, possibilitando ao professor usá-la
livros didáticos para seleção das melhores perguntas para serem inseridas no programa.
de segurança, o aluno encontrará uma tela com a
ilustração de um laboratório, onde vários alunos estão realizando diferentes tarefas (Figura 13).
O professor poderá aplicar esses exercícios com seus alunos, para que eles expliquem quais os
erros cometidos, as condutas erradas que estão sendo realizadas dentro do laboratório, qual seria a opinião deles através do que aprenderam e a
forma correta de conduzir as atividades. Assim,
com a realização dos exercícios referentes às nor-
mas de segurança, o aluno, enfim, terá acesso aos exercícios com ênfase nas práticas de transfor-
mação física e química e densidade de sólidos e líquidos.
como método de avaliação, a partir das conclusões do aluno.
Figura 13. Tela de exercícios de fixação. Figura 12. Tela de densidade de sólidos.
De acordo com Libâneo (1999), a avaliação é
uma análise qualitativa sobre dados considera-
dos importantes do processo de ensino e apren-
dizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho. Dessa forma, como método
de avaliação do conhecimento adquirido pelos alunos, o software possui alguns exercícios de
26
Os exercícios são de grande importância, pois
constituem um método de avaliação do professor em relação ao aprendizado do aluno, possibili-
tando o reconhecimento das falhas do aluno em relação aos conteúdos.
A Figura 14 representa a tela dos exercícios,
nos quais cada questão possui somente uma res-
posta correta e, após responder todas as questões, o aluno pode selecionar o botão que lhe possibilita visualizar quantas perguntas ele acertou.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Figura 14. Tela de exercícios de fixação.
Figura 15. Tela da tabela periódica.
Finalmente, o último ícone presente no menu
Fonte: Mendes et al. (2004).
inicial é a tabela periódica, a qual trata-se de uma
Após a elaboração do software, o mesmo foi
tabela interativa, que foi inserida dentro do software visando uma melhor compreensão dos alu-
gravado na forma de DVD-ROM e doado para
elemento estar localizado em determinado perí-
SE foi exposto aos professores regentes, retra-
professores de Química de três escolas da rede
nos. A partir dela, os alunos podem compreender
pública e privada da cidade de Itumbiara-GO. O
melhor as divisões existentes, o porquê de cada
tando os requisitos de instalação, e o que con-
odo ou família e quais elementos são naturais ou
tinha em cada ícone do programa. Com isso, foi
sintéticos. Todas essas dúvidas podem ser esclare-
possível auxiliar os professores no processo de
cidas com uma investigação na Tabela.
ensino-aprendizagem dos alunos, os colocando
Dentre as possibilidades disponíveis na inter-
em situações práticas que introduzem recur-
net, a melhor tabela interativa que encontramos
sos tecnológicos para, então, favorecer, de uma
foi a tabela denominada Quiptabela (figura 15),
maneira mais interessante, a apropriação do
que foi desenvolvida pelos alunos da Universidade
conhecimento químico.
Estadual da Paraíba, com o intuito de desenvolver um ambiente virtual de ensino-aprendizagem
(Mendes et al., 2004). Esse software aborda todos os elementos químicos da tabela periódica, detalhando as suas características de uma forma bem
4
COMENTÁRIOS FINAIS Com base nos recursos computacionais exis-
interativa, facilitando o ensino e o aprendizado. A
tentes, foi possível o desenvolvimento de um
priedades físicas e químicas e aplicações.
os quais, normas e segurança de laboratório, reco-
cada elemento selecionado, o programa apresenta
os seus dados completos, sua história, fontes, pro-
software educativo abordando conteúdos de Química da primeira série do Ensino Médio, dentre
Essa tabela periódica foi organizada com o
nhecimento de vidrarias e práticas experimen-
priedades físicas e químicas dos elementos são
o desenvolvimento do raciocínio, podendo ser
intuito de facilitar o estudo e o seu posiciona-
mento obedece à seguinte lei periódica: “As pro-
funções periódicas de seus números atômicos”. A tabela também é subdividida de acordo com a natureza dos elementos, metal, semimetal, ametal e gás nobre (Mendes et al., 2004).
tais. Esse recurso computacional auxilia no pro-
cesso ensino-aprendizagem, contribuindo para
muito aproveitado no ambiente escolar, suprindo, inclusive, as necessidades decorrentes da falta de
estrutura e materiais para aulas de laboratório, pouco favoráveis e comuns nas escolas públicas.
27
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 02
5
REFERÊNCIAS BRITO, S. L. Um Ambiente multimediatizado para a construção do conhecimento em química. Revista Química Nova na Escola, n. 14, nov. 2001.
BORGES, N. R. M.; CASTILHO, A. P.; PEREIRA, V. T. (Orgs.). Manual de metodologia científica. Itumbiara: ILES/ULBRA, 2011. CHRISPINO, A.; FARIA, P. Manual de química experimental. Campinas, SP: Átomo, 2010.
HEIN, M.; ARENA, S. Fundamentos de química geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos S/A, 1998. JUCÁ, S. A relevância dos softwares educativos na educação profissional. Ciências & Cognição, v. 08, ano 03, 2006. Disponível em: <www. cienciasecognicao.org>. Acesso em: 16 set. 2014.
28
LAKATOS, E.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2010.
LIBANÊO, J. C. Didática. 15. ed. São Paulo: Cortez, 1999.
MAZALLA JR., W. Introdução à química. 3. ed. Campinas: Átomo, 2006.
SANCHO, J. Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre: ArtMed, 2008. SCHAUM, D.; ROSENBERG, J. L. Química geral. Trad. de Marco Antonio Cecchini e Ranato Giovanni Cecchini. São Paulo, SP: McGraw-Hill, 1975.
SOUSA, N. et al. Desenvolvimento de software para o ensino de química. Anais do programa ciências na escola Manaus – AM. Vol. 1, 2004, p. 177-178.
ARTIGO 03 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 29-40
Pesquisas sobre resolução de problemas em química: uma análise em periódicos científicos Studies on problem solving in chemistry: analysis of scientific periodicals Amanda Pereira de Freitas1, Verônica Tavares Santos Batinga2 e Angela Fernandes Campos3
Resumo O presente estudo analisou os aspectos teóricos e metodológicos de pesquisas que abordam a resolução de problemas em Química no período de 2003 a 2013, em diver-
sos periódicos científicos nacionais e em alguns internacionais. Os estudos encontrados nessa direção foram lidos na íntegra e examinados segundo categorias de análise pre-
viamente estabelecidas. A análise mostrou que predominam estudos empíricos sobre a resolução de problemas, a qual vem sendo utilizada como estratégia didática, em
especial, no Ensino Médio. A resolução de problemas vem sendo trabalhada de forma articulada à experimentação, sendo estruturada e implementada no contexto escolar
a fim de possibilitar nos estudantes o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes. Apesar de sua importância reconhecida pelos diferentes autores, as experiências didáticas sob essa perspectiva e as pesquisas sobre resolução de problemas em química ainda são tímidas, se constituindo como um campo aberto de investigação. Palavras-chave: Resolução de problemas, química, pesquisa bibliográfica.
1. Licenciada em Química e mestranda em Ensino de Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
2. Licenciada em Química, Mestre em Ensino de Ciências e Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. É docente do Departamento de Química da UFRPE.
3. Química Industrial, Mestre em Química, Doutora em Química pela Universidade Federal de Pernambuco – UFRPE. É docente do Departamento de Química.
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
Abstract The present study analyzed the theoretical and methodological aspects of research in problem solving in Chemistry between 2003 and 2013 in different national and international scientific journals. The articles found in this area were read in their entirety and examined according to previously established categories. Analysis showed that empirical research on problem solving predominated, and has been used as a didactic strategy, especially in secondary teaching. Problem solving has been applied in conjunction with experimentation, and structured and implemented in the school context in order to allow students to develop concepts, procedures and attitudes. Although its importance is recognized by a number of authors, the didactic experiences regarding this perspective and studies on problem solving in chemistry remain scarce, characterizing a field open to investigation. Key-words: Problem solving, chemistry, bibliographic research.
1
INTRODUÇÃO Abordagens de ensino pautadas na resolução
de problemas podem despertar nos estudantes
em diferentes níveis de ensino, o interesse, o questionamento, a curiosidade e propiciar a compreensão dos fenômenos químicos a partir de suas ideias prévias, além da realização de atividades no
contexto escolar que privilegiem a pesquisa orientada, o debate e a experimentação (Simões Neto, 2013; Lacerda, 2012).
A resolução de problemas (RP) é uma estraté-
gia didática que tem por finalidade uma aprendi-
zagem contextualizada, que faça sentido para os
alunos e propicie uma construção integrada do conhecimento conceitual, procedimental e atitu-
dades em sala de aula que permitam a elaboração
de hipóteses, a reflexão e o debate por intermédio
da comunicação e da argumentação (Leite, 2009; Leite; Afonso, 2001).
Sob essa perspectiva, o presente estudo faz
parte de um projeto mais amplo que visa sistematizar num único espaço (website) pesquisas sobre
resolução de problemas que permite ao pesquisador de qualquer local do Brasil ter acesso as publi-
cações, linhas e tendências de pesquisa nessa área do conhecimento. Também, corrobora para mini-
mizar um problema apontado por Torresi et al. (2012):
ral (Martins; Veiga, 1999). Pode ser implementada
[...] pouca ou nenhuma divulgação científica tem sido realizada pelas unidades de pesquisa e insti tuições públicas de ensino superior, mesmo após o Projeto de Lei 1120/07, de 2007, aprovado na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, que as obriga a publicarem suas produções técnicas e científicas na internet.
químicos e ao contexto social, cultural, econômico
Além disso, os estudos encontrados nessa
dinal (Margetson, 1997), além de proporcionar ao
aluno o desenvolvimento de habilidades que lhe
serão úteis para atuar no seu contexto sociocultua partir da elaboração de vários tipos de proble-
mas escolares vinculados a temas e conteúdos e ambiental dos alunos (Brasil, 1999, 2008). Uma
direção e sistematizados num website podem con-
vivenciar características da atividade científica
fazer uso delas em sua prática docente. Nesse sen-
das potencialidades desta estratégia didática é
promover um ensino que permita aos alunos
30
no contexto escolar. Por exemplo, trabalhar ativi-
tribuir para que professores de química do ensino
médio em contato com as investigações possam
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
tido faz-se necessário realizar uma busca e sele-
ção das pesquisas publicadas relacionadas a esse
problema e situação-problema apresentam seme-
tema em diferentes periódicos científicos, em par-
lhanças no sentido de se apresentarem como
problemas para melhoria do ensino e aprendi-
-a-dia dos alunos, que despertem o interesse dos
ticular, os estudos que tratam sobre a proposição
de estratégias didáticas pautadas na resolução de
zagem de Química. Assim, busca-se neste estudo responder a seguinte questão de pesquisa: quais aspectos teóricos e metodológicos são contem-
plados nas pesquisas que abordam a resolução de problemas em Química no período de 2003 a 2013? 2
Neste estudo consideramos que os termos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Pozo (1998) define problema como uma situ
ação que um indivíduo ou um grupo quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido
e direto que o leve à solução (p. 15). Segundo Batinga
e Teixeira (2009), uma situação pode ser considerada um problema na medida em que um sujeito a
reconheça como tal, e que a busca pela resolução
envolva um processo de reflexão e/ou tomada de decisão pelo indivíduo ou grupo envolvido.
De um modo geral, a resolução de problemas é
uma estratégia didática que pode ser introduzida a partir de um problema (P) ou situação-problema
(SP). Para Meirieu (1998), situação-problema é
uma situação didática na qual se propõe ao sujeito uma tarefa que ele não pode realizar sem efe-
tuar uma aprendizagem efetiva. Esta aprendizagem se dá quando o sujeito vence um obstáculo
na realização de uma tarefa. Veríssimo e Campos (2011) ressaltam que a situação-problema deve estar ajustada ao nível e possibilidades cogniti-
vas dos estudantes, sendo assim, não deve ser tão fácil, pois a sua resolução ocorrerá de forma
imediata, nem tão difícil contribuindo para que os estudantes evitem o processo de resolução. Além disso, a SP deverá despertar interesse e motivação
dos estudantes pela aprendizagem (Veríssimo; Campos, 2011).
situações contextualizadas a partir de temas
sociocientíficos ou fenômenos vivenciados no dia-
estudantes, e que possam ser trabalhadas durante todo o processo de resolução, de forma que o
ensino e aprendizagem venham a ser significativos para os estudantes.
Leite e Afonso (2001) propõem quatro fases
para o processo de resolução de problemas, as
quais possuem objetivos e duração diferentes. A primeira fase é a seleção do contexto, na qual o
professor já tendo elaborado os problemas que serão abordados deve propiciar um contexto pro-
blemático que possa fazer emergir dos alunos questionamentos e interesse na busca da reso-
lução, visando possibilitar a aprendizagem dos conteúdos relacionados com os problemas. Para
o momento da problematização pode-se utilizar
materiais impressos e videogravados, como, por exemplo, artigos de revistas ou de jornais e notícias de televisão, filmes e vídeos relacionados com o problema a ser abordado. É importante
que estes recursos sejam adequados ao nível dos
alunos e que despertem o seu interesse, por lhes colocar desafios, questões e tomada de decisão.
A segunda fase é a formulação dos proble-
mas, que está focada no trabalho do aluno sobre
o contexto problemático que foi selecionado pelo professor. Nessa fase, o professor possui o papel
de orientar de forma mais indireta o processo de delimitação do problema, como afirma Leite e Afonso (2001):
A partir da análise do(s) contexto(s) proble mático(s), os alunos devem explicitar os pro blemas e questões que este(s) lhes suscita(m), competindo ao professor a tarefa de promover a clarificação dos problemas formulados, a rejei ção de problemas irrelevantes, a constatação de eventuais sobreposições entre problemas for mulados [...], com vista à identificação dos pro
31
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
blemas a considerar para efeitos de resolução pelos alunos (p. 257).
A terceira fase, considerada a mais longa, con-
siste na resolução do(s) problema(s) pois depende do tempo que o aluno levará para concluir o ciclo
de atividades necessárias para a resolução. Nessa fase, o professor continua desempenhando um
papel de orientador das atividades, porém compete aos alunos trabalharem a fim de resolver os problemas propostos. Nesta fase de resolução Leite e Afonso (2001) afirmam que:
Para resolver um problema identificado, os alunos terão que começar por reinterpretá-lo, planificar a sua resolução, implementar as estra tégias de resolução planificadas, obter a solução (se ela existir) e avaliá-la (p. 257).
Assim, os alunos precisarão consultar diferen-
tes fontes de informação, tais como: livros, revistas, filmes, relatórios e documentários e, se neces-
sário, realizar diversos tipos de atividades, como
experimentação, entrevistas, visitas técnicas e
trabalhos de campo. O professor deve certificar-se de que as informações necessárias para a resolu-
ção do problema estão acessíveis aos alunos, mas estes devem ser estimulados a busca e identificação de outras informações relevantes.
A última fase é direcionada à avaliação, deno-
minada por Leite e Afonso (2001) de síntese e avaliação do processo. Esta fase é realizada em
conjunto por professor e aluno e visa avaliar se os problemas propostos foram resolvidos, ou se não possuem uma solução através da síntese final dos conhecimentos conceituais, procedimentais e ati-
tudinais adquiridos e/ou desenvolvidos durante o processo de resolução. Também é o momento de
avaliar se houve eficácia na aprendizagem, desen-
volvimento pessoal, ético, moral e social durante todo o processo de resolução.
Quanto à tipologia dos problemas, Pozo
(1998) destaca que os problemas podem ser do tipo científico, escolar e cotidiano. Neste trabalho
32
enfatizaremos o problema escolar, que pode ser classificado como: qualitativo, quantitativo e
pequenas pesquisas. Para Pozo e Crespo (2009), o problema escolar busca propiciar ao aluno o
aprendizado de conceitos, procedimentos e atitu-
des próprios da ciência, os quais são necessários não somente para resolver os problemas escola-
res, mas, também, para compreender e responder com um maior embasamento científico a pergun-
tas que podem ser propostas sobre fenômenos científicos e processos tecnológicos que ocorrem na vivência cotidiana (Pozo; Crespo, 2009).
O problema escolar pode ser entendido como
uma forma de auxiliar os alunos a adquirir hábitos e estratégias de resolução de problemas mais pró-
ximos aos da ciência, respeitando as potencialida-
des e limitações do contexto escolar (Pozo, 1998). Este tipo de problema pode proporcionar aos alunos o interesse, o reconhecimento e a neces-
sidade de resolver problemas no âmbito escolar e não apenas como uma questão proposta pelo professor.
O problema escolar qualitativo é aquele cujo
processo de resolução requer dos alunos raciocí-
nios teóricos baseado em conhecimentos químicos, sem a necessidade de realizar cálculos numéricos e/ou manipulações experimentais para
obter sua solução (Pozo; Crespo, 2009). O objetivo deste tipo de problema é permitir que o aluno
procure relacionar os conceitos científicos com os fenômenos que acontecem no seu dia-a-dia, a
partir da mobilização de seu conhecimento prévio e de novos conhecimentos adquiridos durante o processo de resolução, além de incentivar os alunos a propor hipóteses e explicações para fenômenos relacionados com o problema.
O processo de resolução do problema esco-
lar quantitativo envolve o trabalho com grande-
zas químicas e dados numéricos. As informações fornecidas no enunciado do problema abrangem, principalmente, quantidades e a estratégia de resolução, baseia-se na utilização de algoritmos,
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
fórmulas, equações, operações matemáticas e na
Na fase de elaboração, a resolução de proble-
relação e comparação de variáveis, grandezas e
mas articulada à experimentação pode ser usada
lares que requerem do aluno a elaboração e exe-
não para resolver o problema proposto, bem como
dados (Pozo; Crespo, 2009).
para testar as hipóteses iniciais formuladas com
As pequenas pesquisas são problemas esco-
o intuito de perceber se estas são suficientes ou
cução de estratégias de resolução por meio de
testar hipóteses sobre conceitos e métodos cientí-
um trabalho prático, que pode ser realizado no
ficos relacionados ao problema e ao experimento.
laboratório escolar, em sala de aula ou em ativida-
É um momento propício para que o aluno possa
des de campo para solucionar o problema (Pozo;
(re)construir seus modelos teóricos iniciais e
Crespo, 2009). As pequenas pesquisas possuem
também propor novas explicações. Nessa fase, os
algumas características semelhantes aos pro-
experimentos podem contribuir na promoção da
blemas qualitativos e quantitativos, como, por
assimilação de novos conhecimentos e na credibi-
exemplo, a interpretação de um fato/situação e a
lidade das novas concepções (Posner et al., 1982).
sar dados, relacionar variáveis e refletir sobre os
estratégia didática eficiente para a sistematização
determinação de grandezas químicas. Nesse tipo
Por fim, na fase de aplicação, a resolução de pro-
de problema há a necessidade de coletar e anali-
blemas integrada à experimentação pode ser uma
procedimentos adotados e os resultados obtidos
do conhecimento químico aprendido durante o
(Pozo, 1998), proporcionando aos estudantes o
processo de integração, na aplicação de um con-
desenvolvimento conceitual, de habilidades e ati-
ceito ou um método para resolução de um novo
tudes durante o processo de resolução. Por exem-
problema em contexto similar, e também para
plo, De Jong (1998) realiza pesquisas que abordam
analisar a possibilidade de aplicação do conheci-
a articulação entre as estratégias de resolução de
mento aprendido e de seu significado em contex-
problemas e a experimentação. O autor aponta um
tos diferentes (Posner et al., 1982). Assim, a arti-
modo como pode ocorrer esta articulação, deno-
culação destas duas estratégias pode contribuir
minando-o de ciclo de aprendizagem que consta
para que os estudantes desenvolvam uma melhor
de três fases: aprendizagem de exploração, elabo-
assimilação e integração de conteúdos conceitu-
ração, e aplicação.
ais, procedimentais e atitudinais trabalhados nas
Durante a fase de exploração, a resolução de
problemas integrada à experimentação pode ser utilizada para estimular o interesse dos alunos
em conhecer e compreender novos fenômenos e a formular hipóteses para resolver o problema
aulas de química (Batinga, 2011). 3
METODOLOGIA
Este estudo envolve uma pesquisa biblio-
proposto a partir de seus conhecimentos pré-
gráfica (Oliveira, 2005) referente à resolução de
fundamental para que os alunos possam observar,
dológicos nas pesquisas sobre resolução de pro-
vios. É nessa etapa que a realização de atividades experimentais pode servir como um instrumento
descrever, elaborar hipóteses iniciais que possam explicar quimicamente o fenômeno observado
através do experimento. Portanto, as atividades experimentais podem ajudar a instigar o aluno a necessidade de se construir novas concepções e conceitos (Posner et al., 1982).
problemas no ensino de Química. Para tanto, bus-
cou-se analisar alguns aspectos teóricos e metoblemas em Química em periódicos científicos da
área de ensino de ciências/química no período de 2003 a 2013. Os dados obtidos a partir do levan-
tamento bibliográfico foram abordados de forma qualitativa e quantitativa (Oliveira, 2005). Foram selecionados 15 periódicos que constam no Qualis
33
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
da CAPES, sendo 13 nacionais e 02 internacionais,
categorias de análise as quais estão descritas no
Pesquisa, Ensaio – Pesquisa em Educação em
Quadro 1. Categorias de análise dos artigos
descritos a seguir: a) Nacionais: Ciência & Ensino,
Ciência em Foco, Ciência em Tela, Educação e
Ciências, Investigações em Ensino de Ciências, Perspectiva, Pro-posições, Química Nova, Química
Nova na Escola (QNEsc), Revista Brasileira de
Ensino de Química (ReBEQ), Revista Brasileira de
Ensino de Ciência e Tecnologia (RBECT) e Revista
Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC); e b) Internacionais: Alambique – Didáctica de las Ciencias Experimentales e Revista
Electrónica de Enseñanza de las Ciencias (REEC). A escolha destes periódicos deu-se pela abrangên-
cia de pesquisas na área de ensino de ciências e, em particular, no ensino de química.
O levantamento bibliográfico foi realizado
através do acesso eletrônico em todas as edições
disponíveis nos quinze periódicos selecionados, durante o período delimitado para a pesquisa.
Quadro 1.
Categoria1
A pesquisa no artigo analisado é de cunho teórico ou empírico.
Categoria2
A resolução de problemas é utilizada no artigo analisado como uma estratégia didática.
Categoria 3
O artigo analisado define ou conceitua o que é problema.
Categoria 4
O artigo analisado utiliza o termo resolução de problema ou situação ‑problema.
Categoria 5
É possível identificar o tipo de problema proposto no artigo analisado, de acordo com a Tipologia dos problemas.
Categoria 6
A resolução de problema proposta no artigo analisado se apresenta articulada à experimentação.
Na categoria 1 buscou-se analisar a natu-
De um modo geral, a busca/acesso foi feita pelas
reza da pesquisa a fim de identificar se trata de
Resolução de Problemas
ou estudo teórico que traz uma revisão de litera-
palavras-chave expostas na Figura 1.
Química
um estudo empírico, relacionado a atividades
desenvolvidas com estudantes ou professores, tura sobre a resolução de problemas. Na segunda
Situação-Problema
categoria buscou-se identificar de que forma a RP estava sendo utilizada nos trabalhos de pesquisa
analisados, especificamente, como estratégia didática. Na terceira categoria buscou-se obserAprendizagem Baseada em Problema
Resolução de Situação-Problema
Problema
Figura 1. Palavras-chave utilizadas no processo de busca dos artigos sobre resolução de problemas em química.
Para análise dos aspectos teóricos e metodoló-
gicos dos artigos que versam sobre a resolução de
problemas em Química, foram estabelecidas cinco
34
var se os artigos analisados apresentavam uma definição ou conceituação do que é problema. Na
categoria 4 buscou-se identificar se os autores dos artigos analisados utilizavam o termo resolução de problemas (RP) ou situação-problema
(SP) para abordar/introduzir a proposta didática
discutida no artigo. Já na categoria 5 procurou-se identificar, se possível, os tipos de problemas pro-
postos nos artigos analisados, conforme tipologia
de problemas escolares: qualitativo, quantitativo
ou pequenas pesquisas. E, por fim, na categoria 6 procurou-se identificar se resolução de problemas apresentava-se articulada à experimentação.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1
Análise dos aspectos teóricos e metodológicos em artigos que abordam a Resolução de Problemas em Química
Os artigos encontrados, 16 (dezesseis) no
total, foram selecionados e lidos na íntegra para uma análise mais aprofundada. Após uma leitura
completa e minuciosa dos 16 (dezesseis) artigos identificamos que apenas 12 (doze) abordavam a resolução de problemas em Química.
Dentre os 15 (quinze) periódicos pesquisados,
apenas 6 (seis) apresentaram artigos que trata-
vam da temática resolução de problemas, são eles: Alambique, REEC (internacionais), Química Nova,
QNEsc, RBECT e RBPEC (nacionais). No Quadro 2 apresentamos a distribuição dos 12 (doze) artigos
sobre resolução de problemas em Química encontrados nestes periódicos.
Quadro 2. Quantidade de artigos sobre RP em Química encontrada por periódico. Periódicos
Quantidade de artigos
Alambique
1
Ensenanza de lãs Ciências
2
Química Nova
3
Química Nova na Escola (QNesc)
4
Revista Brasileira de Ensino Ciência e Tecnologia
1
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciência
1
Total
12
A análise dos 12 (doze) artigos (Apêndice A)
doravante denominados de A1 a A12 e publicados nos 6 (seis) periódicos mostrou que a resolução
de problemas ainda é uma temática pouco pesquisada na área de Química, configurando-se também como uma estratégia didática pouco utilizada no
contexto escolar. Isto se torna evidente pela baixa
quantidade de artigos encontrados nos periódicos pesquisados. Entretanto, observou-se que a partir de 2009 esta temática vem adquirindo reconheci-
mento em função do aumento na quantidade de trabalhos publicados.
Dentre os 12 (doze) artigos, 9 (nove) foram
publicados em periódicos nacionais e 3 (três) em internacionais. A análise apontou que apenas 2
(dois) tratam de estudos teóricos e 10 (dez) de estudos empíricos.
A análise dos 2 (dois) artigos (A1 e A8) que tra-
tam de estudos teóricos mostrou que estes apresentam uma discussão que abordam a Resolução
de Problema como: Estudo sobre a RP articulada à experimentação e Estudo sobre estratégias para
RP. O A1 apresenta uma proposta didática sobre a utilização da RP articulada à experimentação para
promover a aprendizagem do conteúdo de polímeros a estudantes de ensino médio. Já o A8 apre-
senta uma discussão sobre estratégias didáticas que visam melhorar o desempenho dos alunos na resolução de problemas, ancorado em pressupos-
tos teóricos da teoria de Piaget e neopiagetianas e em outras categorias, tais como: representacional, metacognitivo e transferência de aprendizagem.
A análise apontou 10 (dez) artigos (A2 a A7
e A9 a A12) que apresentam estudos empíricos. Os trabalhos A5, A6, A9 e A12 foram publicados
na QNEsc, a qual apresentou um maior número de artigos na área de RP em Química. Nos traba-
lhos A2 e A4 percebe-se que a RP é concebida e utilizada como estratégia didática. O A2 apresenta
uma pesquisa que investigou as concepções de professores de química do ensino médio sobre a elaboração e processo de resolução de situa-
ções-problema. Enquanto isso, o A4 investigou as concepções de alunos e professores de quí-
mica no âmbito universitário sobre resolução de problemas.
No artigo A4 não é apresentado um problema
específico no decorrer de sua estruturação e dis-
cussão, entretanto, menciona o tema Hidrólises, o qual foi selecionado para a realização de uma entrevista realizada com professores e alunos sobre o uso da RP como estratégia de ensino.
35
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
Em geral, foi observado que os 12 (doze) arti-
pesquisas. Apenas o artigo A8 apresenta um pro-
fases propostas por Leite e Afonso (2001), que são
propostos em 8 (oito) artigos analisados foram
gos analisados buscam estruturar a estratégia de resolução de problemas considerando as quatro
nesta ordem: a seleção do contexto, a formulação
dos problemas, a resolução do(s) problema(s) e, por fim, a síntese e avaliação do processo.
Na análise da categoria 3 foi observado que
apenas um artigo (A4) apresentou uma conceituação sobre o que é problema:
Falar de problemas implica considerar aquelas situações que demandam reflexão, pesquisa, investigação e para responder [a estes proble mas] tem que se pensar nas soluções e definir uma estratégia de resolução que não conduz, precisamente, a uma resposta rápida e ime diata [tradução nossa] (Coronel; Curotto, 2008, p. 463).
Esta conceituação destacada no artigo A4
se aproxima da que é adotada neste trabalho (Batinga; Teixeira, 2009, p. 3).
Na quarta categoria foi analisado se os arti-
gos usavam o termo problema (P) e/ou situação
‑problema (SP). Esses termos são instrumentos utilizados para introduzir, estruturar e abordar a
estratégia de resolução de problemas. Foi obser-
vado que apenas no artigo A11 os dois termos estão presentes. Entretanto, houve predominân-
cia do termo problema, sendo 8 (oito) dentre os
12 (doze) artigos analisados, conforme mostra o quadro 3.
Quadro 3. Relação dos artigos que adotam o termo SP e/ou RP; Termo adotado
Artigos
Resolução-problema
A1, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A11
Situação-problema
A2, A9, A10, A12
Quanto à análise da categoria 5, que trata da
tipologia dos problemas, percebeu-se que a maio-
ria dos problemas propostos nos artigos analisados é do tipo escolar qualitativo e pequenas
36
blema do tipo escolar quantitativo.
Consideramos que os problemas escolares
classificados como qualitativos pelo fato de propiciar aos estudantes relacionar conceitos científicos com os fenômenos que acontecem no seu cotidiano e por requerer a mobilização dos conhe-
cimentos prévios e o incentivo a elaboração de novos conhecimentos durante o processo de reso-
lução destes problemas. Em quatro artigos o pro-
blema escolar foi classificado como quantitativo
por apresentar no seu enunciado grandezas quí-
micas envolvendo quantidades numéricas e a realização de operações matemáticas para resolvê-lo (Pozo; Crespo, 1998). Alguns problemas foram
classificados como pequenas pesquisas, pois para resolvê-las seria necessária a realização de uma
pesquisa que envolvesse um trabalho prático,
tanto em sala de aula e/ou no laboratório, ou atividades de campo (Pozo; Crespo, 1998). Uma sín-
tese da análise da quinta categoria está disposta no Quadro 4.
Quadro 4. Análise da tipologia dos problemas. Tipologia dos Problemas
A1
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A2
Escolar
Qualitativo
A3
Escolar
Qualitativo
A5
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A6
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A7
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A8
Escolar
Quantitativo
A9
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A10
Escolar
Quantitativo
A11
Escolar
Qualitativo e Pequena Pesquisa
A12
Escolar
Quantitativo
Na análise da sexta categoria (quadro 5) obser-
vou-se que os artigos A1, A3, A5, A6, A7-A12, apre-
sentaram propostas didáticas que contemplavam a abordagem de resolução de problemas articulada
à experimentação no ensino de Química. Isso pode indicar que os estudos têm enfatizado a utilização
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
das atividades experimentais como instrumento
quantidade de artigos encontrados nos periódicos
habilidades práticas de laboratório. Foi possível,
em perspectivas diferentes no âmbito do ensino
para resolução de problemas que visem à unidade
teoria-prática, e o desenvolvimento de técnicas e também, identificar nestes artigos que a RP arti-
culada à experimentação contemplou as três fases (ou pelo menos uma) de aprendizagem, segundo De Jong (1998) que são exploração, elaboração, e aplicação.
Quadro 5. Relação dos artigos articulados ou não à experimentação. Resolução de Problemas articulada à Experimentação
A1, A3, A5, A6, A7, A9, A10, A11 e A12
Resolução de Problemas não articulada à Experimentação
A2, A4, A8
Em linhas gerais, a discussão dos resultados
obtidos nas propostas didáticas aplicadas, aponta que a articulação da RP à experimentação propor-
cionam ao aluno a experiência e o aprendizado de habilidades características da atividade científica no contexto escolar, e também o desenvolvimento
de habilidades práticas nas manipulações de materiais, emocionais e de pensamento (Batinga,
2011; De Jong, 1998). Isso pode facilitar a compre-
ensão dos alunos sobre os conteúdos científicos durante a realização de atividades experimentais que não priorizam o método de “receita de bolo” e apenas a aplicação da teoria. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados neste trabalho
representam um panorama de alguns aspectos teóricos e metodológicos relativos a pesqui-
sas sobre a resolução de problemas na área de Química, que foram publicadas em alguns periódi-
cos nacionais e internacionais no período de 2003 a 2013.
A resolução de problemas é considerada uma
linha de pesquisa ainda recente na área de Didática das Ciências/Química. Isso é refletido na pequena
nacionais e internacionais pesquisados. A resolução de problemas vem sendo estudada e discutida de Química como foi observado, por exemplo,
na investigação das concepções dos professores
e alunos sobre a RP, em pesquisas que propõem estratégias para um melhor desempenho na reso-
lução dos problemas pelos alunos, e em propostas didáticas que articulam a RP à experimentação
para abordagem de diversos conteúdos na área
de Química. Aproximadamente 17% dos artigos
são de cunho teórico e 83% de cunho empírico. A RP também vem sendo utilizada como estratégia didática e a estruturação do processo de resolução
apresenta aspectos da proposta sugerida por Leite e Afonso (2001), tais como: seleção do contexto, formulação do problema, resolução dos proble-
mas e síntese e avaliação do processo. Apenas 1
(8%) artigo apresentou a conceituação do que é
problema. Por tratar-se de um termo polissêmico, é importante que os pesquisadores que atuam na área de resolução de problemas em Química possam destacar em seus trabalhos a conceituação adotada em relação ao termo problema.
Percebemos que a estratégia de resolução de
problemas objetiva valorizar mais o processo de resolução do que apenas a solução final do pro-
blema. Essa estratégia foi introduzida por meio de um problema ou situação-problema (SP).
Aproximadamente 33% dos artigos analisados
utilizaram o termo situação-problema e 67% adotaram o termo problema. Estes termos podem
apresentar significados semelhantes por tratar de situações contextualizadas em que os alunos pre-
cisam pensar, refletir, elaborar estratégias de reso-
lução, tomar decisão e buscar informações relevantes para obter possíveis e diversas soluções.
Foram encontrados três tipos de problemas
escolares, sendo a maior parte do tipo qualitativo (37%) e pequena pesquisa (54%) e apenas (9%) do tipo quantitativo. A RP vem sendo bastante
37
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
utilizada articulada à experimentação. Esta arti-
culação pode contribuir para uma maior integra-
ção e aprofundamento dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais abordados nas
aulas de Química (Batinga, 2011). Nesses artigos,
o papel da experimentação no ensino de Química refletiu uma visão mais contemporânea de ciên-
cia, no sentido de que os experimentos realizados
pelos alunos se constituem como um instrumento mediador entre a unidade teoria-prática, e direcionado a busca de possíveis respostas para a resolução do problema proposto.
Na perspectiva discutida neste trabalho, a
resolução de problemas no ensino de química
ainda é considerada uma estratégia didática inovadora por possibilitar que os alunos vivenciem
o desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais no contexto escolar, que são característicos da atividade científica, buscando a promoção de uma aprendizagem de Química mais con-
textualizada e que faça sentido para os alunos.
Entretanto, esta estratégia é pouco utilizada nas escolas da Educação Básica no Brasil, por reque-
rer do professor em exercício uma apropriação dos aspectos teóricos e metodológicos relaciona-
dos a esta estratégia didática no contexto escolar. Nesse sentido, os estudos encontrados que tratam a resolução de problemas numa perspectiva de
estratégia didática e de sua implementação em sala de aula serão considerados e sistematizados em um website sobre esse tema que está em fase
de elaboração. Acredita-se que tal procedimento
contribuirá para que professores/pesquisadores possam ter acesso aos estudos sobre o tema possibilitando o aprofundamento e desdobramento de
novas linhas de pesquisa. Além disso, a sistematização dos estudos em um website pode facilitar
a implementação desta estratégia pelo professor de Química em sua prática docente, uma vez que
estará disponível o planejamento de problemas e
situações-problemas de diversos conteúdos químicos e as atividades a eles vinculados.
38
6
REFERÊNCIAS BATINGA, V. T. S. A abordagem de resolução de problemas articulada a atividades experimental no ensino de química. Texto didático, Universidade Federal de Pernambuco. Pernambuco: Caruaru. 2011.
BATINGA, V. T. S.; TEIXEIRA, F. M. O que pensam os professores de química do ensino médio sobre o conceito de problema e exercício. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), Florianópolis: 2007. Anais. Santa Catarina: Florianópolis. 2009. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Orientações curriculares para o ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Vol. 2. Brasília: MEC/SEB, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília: MEC/Semtec, 1999. CORONEL, M. V.; CUROTTO, M. M. La resolución de problemas como estrategia de enseñanza y aprendizaje. Revista Electrônica de Enseñanza de las Ciencias, v. 7, n. 2, p. 463-479, 2008.
DE JONG, O. Los experimentos que plantean problemas em las aulas de química: dilemas y soluciones. Revista Electrônica de Enseñanza de las Ciencias, v. 16, n. 2, p. 305-314, 1998. LACERDA, C. de C.; CAMPOS, A. F.; MARCELINO-JR, C. de A. C. Abordagem dos conceitos mistura, substância simples, substância composta e elemento químico numa perspectiva de ensino por situação-problema. Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p. 75-82, 2010. LEITE, L.; AFONSO, A. S. Aprendizagem baseada na resolução de problemas características, organização e supervisão. In: XIV Congreso de Ensinantes de Ciencias de Galicia (ENCIGA). Boletín das Ciencias, p. 253-260, 2001.
LEITE, S. B. Estudo sobre polímeros através de resolução de problemas. Porto Alegre, 2009. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/ bitstream/handle/10183/ 18775/000732675. pdf?sequence=1>. MARGETSON, D. Why problem-based learning is a challenge? In: D. BOUD; MARTINS, G. I.; VEIGA, M. L. Uma análise do currículo da escolaridade básica na perspectiva da educação em ciências. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1999. MEIRIEU, P. Aprender sim, mas como? Porto Alegre: Editora Artmed, 1998.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Recife: Editora Bagaço, 2005.
POSNER, G. J. et al. Accomodation of a scientific conception: toward a theory of conceptual change. Science Education, v. 66, p. 211-227, 1982.
POZO, J. I. (Org.). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed. 1998.
POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Porto Alegre: Artmed, 2009.
SIMÕES NETO, J. E.; CAMPOS, A. F.; MARCELINO-JR, C. A. C. El uso de situaciones-Problema para la enseñanza superior de isomeria en la química inorgánica. Avances en Ciencias e Ingeniería, v. 4, n. 2, p. 61-68, 2013.
TORRESI, S. I. C. de.; PARDINI, V. L.; FERREIRA, V. F. Sociedade, divulgação científica e jornalismo científico. Quimica Nova, v. 35, n. 3, p. 447, 2012.
VERISSIMO, V. B.; CAMPOS, A. F. Abordagem das propriedades coligativas das soluções numa perspectiva de ensino por situação-problema. Revista Brasileira de Ensino Ciência e Tecnologia, v. 4, n. 3, p. 101-118, 2011.
39
40
Reações de Combustão e Impacto Ambiental por meio de Resolução de Mara Elisângela JappeGoi e Flávia Maria Problemas e Atividades Experimentais Teixeira dos Santos
El aprendizaje basado en problemas como estrategia para el cambio Juan-Antonio e Llorens-Molina metodológico en los trabajos de laboratório
Variables cognitivas y metacognitivas en la resolución de problemas de Joan josepsolaz-portolés química: propuesta de estrategias didácticas
Ensino Experimental Contextualizada
Abordagem das propriedades coligativas das soluções numa perspectiva de Valéria Barboza Veríssimo, Angela ensino por situação-problema Fernandes Campos
Aprendizagem baseada em problemas: uma experiência no ensino de Renato M. Lopes, Moacelio V. Silva Filho, Química Toxicológica Melissa Marsden e Neila G. Alves
Abordagem dos Conceitos Mistura, Substância Simples, Substância Cristiana de Castro Lacerda, Angela Composta e Elemento Químico numa Perspectiva de Ensino por Situação- Fernandes Campos e Cristiano de Problema Almeida Cardoso Marcelino-Jr
A6
A7
A8
A9
A10
A11
A12
Abordagem
Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Cleidson Carneiro Guimarães Aprendizagem Significativa
A5
Uma
La resolución de problemas como estrategia de enseñanza y aprendizaje
A4
Química:
Resolución de problemas experimentales de Química: una alternativa a las Merino, J.M. e F. Herrero prácticas tradicionales
A3
de
Concepções de professores de química do ensino médio sobre a Resolução Verônica Tavares Santos, Maria Angela de situações-problema. Vasconcelos de Almeida e Angela Fernandes Campos.
A2
Enseñanza de las Ciencias
RBPEC
Alambique
Periódico
Investigativa Luiz Henrique Ferreira, Dácio Rodney Hartwig e Ricardo Castro de Oliveira
Qnesc
Química Nova
RBCET
Qnesc
Química Nova
Química Nova
Qnesc
Qnesc
Maríadel Valle Coronel y María Margarita Enseñanza de lasCiencias Curotto
AndoniGarritz Ruiz e GlindaIrazoque El trabajo práctico integrado Com la resolución de problemas y e la prendizaje conceptual en la química Palazuelos. de polímeros.
Autor
A1
Título
Apêndice A. Relação dos artigos analisados por título, autor, ano de publicação e tipologia do estudo.
2012
2011
2011
2010
2010
2010
2009
2009
2008
2007
2005
2004
Ano
Empírico
Empírico
Empírico
Empírico
Teórico
Empírico
Empírico
Empírico
Empírico
Empírico
Empírico
Teórico
Tipologia do estudo
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 03
ARTIGO 04 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 41-46
Cromatografia em coluna: uma proposta de experimento utilizando casca de ovo de galinha Column cromatography: a proposed experiment using chicken eggshell Simone Garcia de Ávila1 e Aleff dos Santos Rodrigues2
Resumo Este artigo relata uma proposta experimental que permite a separação de pigmentos
existentes no espinafre (β-caroteno e clorofila) utilizando colunas cromatográficas
empacotadas com carbonato de cálcio (CaCO3) e óxido de cálcio (CaO), ambos obtidos
a partir da casca de ovo branco de galinha. Trata-se de um experimento simples, que
utiliza materiais de baixo custo. O experimento permite a discussão de temas como
interações intermoleculares, técnicas de separação, reações de decomposição, além de possibilitar a reflexão sobre reaproveitamento de resíduos. Palavras-chave: Casca de ovo, cromatografia, separação. Abstract This article shows an experimental propose that enables the spinach pigments (βcarotene and chlorophyll) separations using chromatographic columns packed with calcium carbonate (CaCO3) and calcium oxide (CaO), both obtained from white chicken eggshell. This experiment, which uses low cost materials, permits the discussions of topics like intermolecular interactions, separations techniques, decompositions reactions and promotes the reflection about materials reuse. Key-words: Eggshell, chromatography, separation.
1. Professora da Universidade Anhanguera de São Paulo, UNIAN; Pós-doutorando do IQ-USP. 2. Discente (Bacharel em Química) – Universidade Anhaguera de São Paulo, UNIAN.
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 04
1
INTRODUÇÃO Este trabalho teve como proposta o desen-
volvimento de experimentos didáticos utilizando
casca de ovo de galinha para a construção de fases estacionárias para cromatografia, de modo a viabilizar custos em aulas práticas no ensino de quí-
mica e outras disciplinas em que se faz necessária a utilização de métodos de separação de substâncias orgânicas.
O método de separação que será exposto é de
grande utilidade para o ensino de química, pois
abrange conceitos como solubilidade, polaridade
e interações intermoleculares. Assim, a atividade
pode proporcionar o contato do aluno com técnicas de separação e também com uma diversidade de conteúdos químicos (Oliveira et al., 1998).
De acordo com as exigências governamentais
expressas por meio dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, no que se refere ao ensino das Ciências Naturais, o aluno deve estar apto a compreender a
ciência como um processo de evolução decorrente
de atividades humanas, associando logo a aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos; combinar leituras, experimentações e registros para
coletas de informações, associando-os a aspectos teóricos que permitam a discussão e interpreta-
podem ser criados e previstos.
Assim como descrito por Salvadego e Laburú
(2009), o currículo no ensino de química deve
conter experimentos práticos que auxiliam no entendimento dos fenômenos químicos na sua
forma teórica, trazendo um conteúdo prático mais completo do assunto abordado em sala.
A cromatografia é um método utilizado para
separação, identificação e determinação de substâncias. A técnica envolve uma fase estacionária e uma fase móvel (eluente) para fazer a separação. O prin-
cípio de separação é baseado na interação da fase
móvel com os analitos, sendo estes transportados pelo eluente através da coluna (fase estacionária). As substâncias que apresentarem maior interação
com a fase móvel, tendem a percorrer com mais facilidade a fase estacionária (Degani et al., 1998; Skoog
et al., 2013). O conhecimento de solubilidade, pola-
ridade e interações intermoleculares são importantes no entendimento das separações cromatográ-
ficas, assim como o estudo das propriedades dos compostos orgânicos (Ribeiro; Nunes, 2008).
Este trabalho propõe a separação de β-caroteno
e clorofila (Figura 1), presentes no espinafre, uti-
lizando colunas cromatográficas constituídas de
CaO e CaCO3. Estes compostos serão obtidos a
ção de dados científicos, bem como valorizar o tra-
partir da casca de ovo de galinha. Essa proposta
importantes, pois não só permitem a realização de
ceitos importantes dentro da Química.
balho em grupo (Brasil, 1998, p. 80). Dentro deste contexto, as atividades experimentais se mostram trabalho em grupo, como também a interpretação
e discussão de dados experimentais, mostrando
42
ao aluno como os modelos e fenômenos científicos
tem por objetivo desenvolver um experimento de
baixo custo e que proporcione o trabalho com conForam construídas quatro colunas cromato-
gráfica, utilizando sílica gel 60, giz de lousa e CaO
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Figura 1. Estruturas moleculares do β-caroteno (a) e clorofila (b).
e CaCO3. Estes últimos foram obtidos por meio da
casca de ovo de galinha. Trabalhos da literatura já
proposta didática desenvolvida, mas a mesma foi
ração de pigmentos e aplicação como ferramenta
CaCO3 e também para caracterizar quimicamente
mostram a utilização do giz de lousa na constru-
ção de experimentos deste tipo, visando a sepa-
didática (Oliveira et al., 1998; Paloschi et al., 1998; Silva et al., 2006).
2
Esta etapa do experimento não faz parte da
EXPERIMENTAL 2.1
Purificação do CaCO3 e obtenção do CaO por meio da decomposição térmica da casca de ovo de galinha
Com o objetivo de realizar a caracterização da
casca de ovo, foi realizado um ensaio termogra-
vimétrico empregando a termobalança modelo TGA-51 da marca Shimadzu. Os ensaios foram
realizados em atmosfera dinâmica de ar sintético
(50 mL min ), utilizando β = 10 °C min , entre 25 -1
-1
e 1000 °C. Por meio deste estudo, foi possível veri-
ficar as condições de temperatura para a purifica-
ção do CaCO3 existente na casca do ovo e também a obtenção do CaO.
necessária para conhecimento das melhores condições de temperatura para produção do CaO e a casca de ovo de galinha.
A Figura 2 mostra a decomposição térmica
da casca de ovo de galinha. São observados três eventos de perda de massa. O primeiro evento
(Δm1 = 1,02%) que ocorre entre 25 e 100 °C é atribuído à perda de umidade. A partir de então,
é observada a decomposição da matéria orgânica presente na película existente na casca de ovo.
Esse evento ocorre entre 250 e 600 °C, intervalo
de temperatura característica da decomposição de material orgânico, mostrando que a película orgânica representa 7,68% da massa da casca.
O último evento de perda de massa (Tpico = 749 °C)
é característico da eliminação de CO2 proveniente
da conversão de CaCO3 em CaO, conforme a reação abaixo:
CaCO3 (s) → CaO (s) + CO2 (g)
43
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 04
100
∆m1 = 1,02%
∆m2 = 7,68% [1]
0.0 -0.50
505 °C
-1.00
Massa (%)
568 °C
-1.50
80
-2.00 ∆m3 = 39,47%
-2.50
70
-3.00
DTG (%/min)
90
-3.50
60
-4.00
749 °C [1]
200
400
600
800
-4.50
1000
Temperatura (ºC)
Figura 2. Curvas TG/DTG obtidas em atmosfera de ar sintético (50mL/min) β = 10 °C/min entre 25 °C e 1000 °C, utilizando 15 mg de casca de ovo de galinha (branco).
Por meio dos estudos termogravimétricos,
foi possível determinar as condições de temperatura para produção dos compostos de inte-
resse. Considerando a purificação do CaCO3, 100
g de casca de ovo branca foram colocadas em
um cadinho de porcelana e introduzidas em um
forno mufla. O conjunto foi mantido a 600 °C por 5 horas, de modo a promover a retirada da matéria orgânica e isolamento do CaCO3.
Para a produção do CaO foram utilizadas
as mesmas condições descritas anteriormente, porém, a temperatura utilizada foi 800 °C, de modo a garantir a decomposição total da matéria
orgânica e também a decomposição do CaCO3 e,
consequentemente, a formação do CaO. Após a calcinação, as amostras foram mantidas em um dissecador para impedir o contato com a umidade do ar. 2.2
Separação do β-caroteno e da clorofila presentes no espinafre
Materiais utilizados: • Algodão;
• Almofariz e pistilo;
• Arame grosso (aproximadamente 15 cm); • 8 Béqueres de 50 mL; • Funil de vidro;
• Giz de lousa branco;
44
• Pipeta de Pasteur ou conta gotas; • 4 Seringas de 20 mL. Reagentes utilizados: • Acetona (50 mL); • Hexano (50mL);
• Sílica gel 60 (SiO2);
• Casca de ovo de galinha calcinada a 800 °C (CaO) e 600 °C (CaCO3);
• Espinafre fresco (6 folhas). 2.3
Preparo do extrato do espinafre para extração dos pigmentos β-caroteno e clorofila
Para se fazer a extração foi preparado aproxi-
madamente 10 mL de uma mistura de hexano e
acetona (8:2 v/v). As folhas de espinafre foram trituradas com o auxílio de um almofariz e pis-
tilo, juntamente com a mistura de solventes. Em
seguida houve a transferência da solução verde obtida para um béquer, de modo a separar o líquido das folhas do espinafre. 2.4
Empacotamento das colunas cromatográficas
Com o auxílio de um arame, foi introduzido um
chumaço pequeno de algodão nas quatro seringas, pressionando-o, de modo a fixá-lo no interior das mesmas. A função do algodão foi de impedir a pas-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
sagem das partículas pela extremidade da seringa.
Foi preparada uma mistura de sílica e 10 mL de hexano. O mesmo procedimento foi realizado para o CaSO4, CaCO3 e CaO, porém foi necessário tritu-
rar essas substâncias antes de seu uso, a fim de diminuir o tamanho das partículas e aumentar sua área superficial.
Cerca de 5 a 10 mL de hexano foi inserido e
eluido em cada uma das colunas, a fim de se remover as impurezas presentes nas fases esta-
cionárias das colunas, tomando o cuidado para
Figura 4. Colunas cromatográficas para extração da clorofila do extrato do espinafre.
rezas, foi posicionado na extremidade inferior
por CaCO3 apresentaram menor tempo de reten-
que a fase estacionária estivesse sempre coberta pelo solvente. Após a remoção de possíveis impu-
Os compostos eluídos na coluna constituída
de cada coluna um béquer para a coleta dos pig-
ção quando comparados às separações feitas em
ras que seriam eluidas, cada uma em sua devida
mais rápida e eficiente, seguida pela coluna cons-
mentos contidos nas soluções que seriam eluidas.
outras fases estacionárias, ou seja, foi a coluna
Finalmente, houve a transferência das mistu-
que promoveu a extração dos pigmentos de forma
seringa. 2.5
tituída por giz de lousa, que tem como compo-
nente principal o CaSO4. A coluna constituída por
Separação dos pigmentos
CaO teve um tempo de retenção um pouco maior
Com a ajuda de um conta gotas, foi transferido
sendo a que obteve a coloração dos pigmentos
parte do extrato do espinafre para as colunas e,
menos intensa. Já a coluna constituída de sílica
logo em seguida, foi feita a adição de hexano para
apresentou o maior tempo de retenção em relação
a extração do β-caroteno. Após a obtenção de um
extrato amarelo, foi trocado o solvente e passou a ser utilizado acetona como fase móvel. Novos béqueres foram colocados na parte inferior das colunas, nos quais um extrato de coloração verde foi coletado (Figuras 3 e 4).
às demais. 3
CONCLUSÃO O experimento realizado mostrou que as colu-
nas constituídas por derivados da casca de ovo de galinha podem ser utilizadas em substituição
à sílica na extração dos compostos presentes nas
folhas de espinafre. As colunas cromatográficas
mostraram-se eficientes separando os pigmentos vegetais da forma desejada. Deste modo, a utili-
zação destes insumos no ensino de química traria melhor viabilidade, possibilitando o trabalho
com materiais de baixo custo e, ao mesmo tempo,
possibilitando o contato do aluno com atividades Figura 3. Colunas cromatográficas para extração do β-Caroteno do extrato do espinafre.
experimentais, que permitem o trabalho e a dis-
cussão de temas importantes desenvolvidos no Ensino Médio.
45
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | ARTIGO 04
4
REFERÊNCIAS BRASIL. Câmara de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM. Brasília, 1998 DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIERA, P. C. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola, n. 7, p. 21-25, 1998.
OLIVEIRA, M. R. A.; SIMONELLI, F.; MARQUES, A. F. Cromatografando com giz e espinafre: um experimento de fácil reprodução nas escolas do ensino médio. Química Nova na Escola, n. 7, p.1-2, 1998.
PALOSCHI, R.; ZENI, M.; RIVEROS, R. Cromatografia em giz no ensino de química: didática e economia. Química Nova na Escola, n. 7, p. 35-36, 1998.
46
RIBEIRO, N. M.; NUNES, C. R. Análise dos pimentões por cromatografia em papel. Química Nova na Escola, n. 29, p. 34-37, 2008.
SALVADEGO, C. N. W.; LABURÚ, E. C. Uma análise das relações do saber profissional do professor do ensino médio com a atividade experimental no ensino de química. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, p. 216, 2009. SILVA, B. L. et al. Produtos naturais no ensino de química: experimentação para o isolamento dos pigmentos do extrato de páprica. Química Nova na Escola, n. 23, p. 1-2, 2006. SKOOG, A. D. et al. Fundamentos de química analítica. São Paulo: Cengage learning, 2013.
Relatos de Experiência Experiences Account
A penicilina como temática interdisciplinar para exploração de conteúdos de Química e Biologia no ensino médio Penicillin as a theme for an interdisciplinary activity towards exploration of Chemical and Biological contents in high school Franciane Gonçalves dos Santos, Gislayne Marília Alves de Queiroz, Carlos André de Souza, Cynthia Maria Carneiro Costa e Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos
Memória química: uma maneira divertida de aprender química Chemistry memory: a way of learning chemistry with fun Francisca Belkise de Freitas Moreira, Igor Rannes da Costa Sousa, Karla Andrômeda Nobre de Oliveira, Maria Alcilene Gomes de Menezes, Edson Fernandes Moreira e Paulo Roberto Nunes Fernandes
Produção de modelos para investigação de representações submicroscópicas de estudantes do ensino médio sobre mudanças de estado físico da matéria Production of models for investigation of submicroscopic representations of high school students about changes in physical state of matter Tânia Cristina Vargas Sana, Daisy de Brito Rezende e Agnaldo Arroio
Projeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’: apontamentos iniciais Thematic project ‘Chemistry and Energy Towards Sustainable Development’: initial appointments Fernanda Welter Adams, Dayane Graciele dos Santos e Simara Maria Tavares Nunes
RELATO DE EXPERIÊNCIA 01 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 48-61
A penicilina como temática interdisciplinar para exploração de conteúdos de Química e Biologia no ensino médio Penicillin as a theme for an interdisciplinary activity towards exploration of Chemical and Biological contents in high school Franciane Gonçalves dos Santos1, Gislayne Marília Alves de Queiroz2, Carlos André de Souza3, Cynthia Maria Carneiro Costa4 e Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos5
Resumo Este trabalho apresenta os resultados da aplicação de uma Oficina Pedagógica Interdisciplinar (OPI) contextualizada, integrando conteúdos de Química e Biologia,
a partir da temática ‘Penicilina’. A mesma foi realizada em uma turma do 3º ano do Ensino Médio, discutindo os assuntos: grupos orgânicos, funções biológicas de um antibiótico e sua ação quando interage com um fungo ou bactéria, com as complica-
ções relacionadas ao uso descontrolado de antibióticos pela sociedade. A partir da análise dos resultados, percebeu-se que os alunos fizeram relações pertinentes sobre
os assuntos explorados com as ações metabólicas do antibiótico no ser humano. Neste sentido, identificou-se que a estratégia utilizada contribuiu para a construção de um conhecimento mais significativo, crítico e consciente nos alunos quanto ao uso da
1. Licenciada em Química pela Unidade Acadêmica de Serra Talhada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST-UFRPE).
2. Bacharel em Ciências Biológicas pela Unidade Acadêmica de Serra Talhada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST-UFRPE). 3. Doutor em Química pelo Programa de Pós-graduação de Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professor do Curso de Licenciatura em Química pela Unidade Acadêmica de Serra Talhada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST-UFRPE). 4. Doutora em Biologia de Fungos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas pela Unidade Acadêmica de Serra Talhada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST-UFRPE).
5. Doutora pelo Programa Interunidades em Ensino das Ciências da Universidade de São Paulo (USP) e professora do Curso de Licenciatura em Química pela Unidade Acadêmica de Serra Talhada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST-UFRPE).
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Penicilina e de antibióticos, além de possibilitar a aplicação de um conhecimento escolar relacionado com uma situação cotidiana.
Palavras-chave: Ensino das ciências, interdisciplinaridade, OPI, Penicilina. Abstract This paper presents the results of the application of a contextualized Pedagogical Workshop Interdisciplinary (PWI) integrating chemistry and biology contents from the theme “Penicillin”. This was directed to third year high school students, discussing the following contents: organic groups, biological functions of an antibiotic and its action when interacting with a fungus or bacteria with complications related to uncontrolled use of antibiotics by society. From the analysis of the results, one realizes that the students made relevant relations on the issues explored in the metabolic actions of antibiotics in humans. In this sense, it was identified that the strategy used helped to build a more meaningful, critical and conscious awareness in students as the use of penicillin and antibiotics, as well as allowing the application of a school knowledge related to an everyday situation. Key-words: Science education, interdisciplinary, PWI, Penicillin.
1
INTRODUÇÃO No cenário educacional do Brasil, é recorrente
a discussão na área de Ensino das Ciências que o
ensino precisa ser articulado entre as disciplinas, principalmente entre Química e Biologia. Contudo, o discurso sobre este tipo de integração, especificamente sobre a interdisciplinaridade foi dissemi-
nado a partir das pesquisas de Japiassu na década de 70 e 80, sendo continuados a partir das pesqui-
sas de Fazenda (Abreu; Lopes, 2010). Considera-se que esta forma de exploração é necessária devido
ao processo de ensino e aprendizagem na sala de
aula ocorrer de forma desarticulada e distante do cotidiano dos alunos, pois na medida em que eles aprendem a resolver problemas a partir das
diversas áreas do conhecimento, eles relacionam a teoria na prática, contribuindo para a construção do seu conhecimento (Albuquerque et al., 2009).
Assim, acredita-se que parte do insucesso
durante a aprendizagem dos conteúdos escolares é devido a não integração das informações que são
exploradas pelos professores de diferentes dis-
ciplinas e por não se relacionar com a realidade
dos alunos (Garrutti; Santos, 2004). Desse modo, os professores devem reconhecer que precisam
melhorar sua prática docente, e que estas favoreçam uma aprendizagem significativa, buscando estratégias metodológicas que valorizem o desenvolvimento cognitivo do aluno, levando-o a desen-
volver um pensamento crítico durante o processo da construção do conhecimento.
Uma das possibilidades para a mudança no
cenário educacional é através da interdisciplina-
ridade e no ensino contextualizado, como é apresentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+),
a contextualização no ensino de ciências abarca competências de inserção da ciência e de suas tecnologias em um processo histórico, social e cultural e o reconhecimento e discussão de aspectos práticos e éticos da ciência no mundo contemporâneo (Brasil, 2002, p. 31).
Neste caso, identifica-se que o professor
deve explorar os conteúdos de forma integrada a outras disciplinas estabelecendo inter-relações
49
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
entre saberes distintos, tentando compreender
as relações entre os conhecimentos compartilha-
disso, possibilitando que haja a adoção de uma
dade é o esforço de correlacionar as disciplinas,
os fenômenos cotidianos a partir de uma visão de conhecimento de forma multifacetada. Além abordagem histórico-cultural dos acontecimen-
tos na ciência; discussão dos conteúdos de forma transversal com os conceitos científicos, relacionando com aspectos sociais, ambientais, econô-
micos, políticos e éticos, além de proporcionar
o desenvolvimento de uma visão holística de mundo nos estudantes (Santos, 2007; Gondim; Mól, 2008; Schnetzler, 2012). Ou seja, a exploração de aulas contextualizadas vão além da apre-
sentação de termos científicos ou da descrição de um fenômeno com uso da linguagem científica (Santos, 2007).
Entretanto, sabe-se que a construção de aulas
e intervenções didáticas de forma contextualizada é um trabalho árduo, que envolve pesquisa e lei-
tura ampla por parte dos professores. Este pode ser um dos motivos que geram a resistência dos mesmos em desenvolverem práticas nesta ver-
tente, considerando também que não há como apresentar um contexto que está centrado apenas
em uma única área de conhecimento. Além disso, a reforma curricular ainda não é uma realidade
nas escolas, pois ainda se ensina de forma linear e fragmentada, onde cada professor trabalha, geralmente, de forma isolada na sua própria disciplina.
Assim, destaca-se o uso e conhecimento sobre os PCN, no qual se apresenta um eixo estruturador da reforma do currículo numa perspectiva interdisciplinar (Brasil, 2002; Abreu; Lopes, 2010).
Logo, considera-se que uma abordagem con-
textualizada que explora aspectos associados a
Ciência, Tecnologia e Sociedade, torna-se bastante ampla, não pertencendo a uma única forma de ensino, mas apresenta a necessidade de interação com outros campos do conhecimento, sendo uma
possibilidade da reforma curricular. Exigindo-se assim, muito mais que a incorporação dos
conhecimentos, é preciso levar o aluno a perceber
50
dos entre as áreas afins.
Segundo Nolêto (2002) a interdisciplinari-
uma vez que todas elas são inter-relacionadas e que algumas, por sua própria natureza, pedem a
interdisciplinaridade. Dessa forma, ao se propor essa estratégia, é preciso conhecer bem os conhe-
cimentos específicos de cada disciplina, sendo necessário o diálogo entre professores de disci-
plinas distintas, mas que apresentam objetivos comuns, sendo possível planejar ações que englo-
bem a interdisciplinaridade, através da identificação de intersecção entre as disciplinas.
Destaca-se, ainda, que a interdisciplinaridade
não visa desvalorização das disciplinas nem o abandono delas. Como critica Fazenda (1979,
p. 89) em relação a abordagem das disciplinas ocorrerem de forma isolada, na qual ela propõe
a promoção de grupos interdisciplinares a partir
de professores com conhecimentos em disciplinas específicas, onde os mesmos irão compartilhar objetivos comuns entre disciplinas, trabalhando
os conceitos de forma integrada, percebendo e mostrando para os alunos as relações entre as disciplinas.
Pois, como apresentado nos PCN,
A natural relação entre interdisciplinaridade e contexto pode levar à conclusão apressada de que seria mais difícil a presença do contexto no aprendizado de uma única disciplina. O fato de o contexto ser usualmente transdisciplinar não dificulta seu tratamento em cada disciplina. Isso deveria ser objeto de atenção na preparação para o ensino, por exemplo, ao se sistemati zarem e organizarem os temas, em torno dos quais se conduz o aprendizado disciplinar que chamamos de temas estruturadores do ensino (Brasil, 2002, p. 29).
Ou seja, a exploração dos conteúdos através
de temas ou temáticas, de forma estruturada,
possibilita que os estudantes possam participar de forma inteligente na tomada de decisões e isto
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
não só afeta o seu aprendizado, mas também a
culturas de bactérias do gênero Staphylococcus,
é o principal recurso utilizado pelo professor em
não haver proliferações dessas bactérias próxi-
comunidade ao seu redor e o ambiente escolar
(Krasilchick, 2000). Como o livro didático ainda sala de aula (Echeverría et al., 2010), se faz neces-
sária a adoção de outros materiais que podem ser utilizados nesta proposta de ensino, como jornais,
filmes, vídeos, programas de TV, livros, revistas etc. (Brasil, 2002, p. 136).
Nessa perspectiva, o presente trabalho apre-
senta uma Oficina Pedagógica Interdisciplinar (OPI) explorando a Penicilina como temática. A
oficina buscou apresentar a estrutura e funções orgânicas presentes na molécula deste antibiótico,
além de promover nos alunos a identificação das relações entre Química e Biologia, evidenciando a ação biológica da Penicilina e sua atuação no orga-
nismo contra infecções bacterianas, bem como
a conscientização destes no que se refere ao uso indiscriminado dos antibióticos. 2
Considerando que a descoberta da Penicilina
representa um marco importante da era dos antibióticos e da saúde pública, foi a partir deste feito
que houve a diminuição das mortes causadas por
doenças infecciosas (Calixto; Carvalheiro, 2012). Sendo os antibióticos uma classe de substâncias
terapêuticas que combatem de forma eficaz as
infecções bacterianas (Menegatti et al., 2001), o
feito realizado em 1928, pelo médico e professor de bacteriologia Alexander Fleming e seus colabo-
radores, possibilitou explorar os ferimentos nos soldados oriundos das guerras, investigando uma
grande variedade de microrganismos que acometiam os enfermos.
Os estudos tinham como foco o combate às
bactérias responsáveis pelas patologias infeccio-
sas humanas. Nesse período, Fleming e os demais realizavam
experiências
experiências, objetivando identificar o porquê de mas aos fungos (Menegatti et al., 2001; Pereira;
Pita, 2005; Calixto; Cavalheiro, 2012). Ao isolar o bolor, Fleming descobriu que este pertencia ao
gênero Penicilliumnotatum, e através de seu metabolismo produzia uma substância que apresen-
tava ação antibacteriana, denominando-a assim de Penicilina (Goodman; Gilman, 2010; Calixto; Cavalheiro, 2012).
Em 1939, no contexto da II Guerra Mundial,
os cientistas da Universidade de Oxford, com des-
taque para Howard Florey e Ernst Chain, intensificaram o estudo sobre a Penicilina, realizando
experimentos com animais infectados com estreptococos demonstrando a validade das proprieda-
des terapêuticas da Penicilina (Fleming, 1974). Posteriormente, comprovaram a eficácia do novo
medicamento no tratamento em humanos. Assim, em 1945 foi atribuído a Alexander Fleming,
ASPECTOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DA PENICILINA
pesquisadores
investigando a presença de um bolor em suas
com
Howard Florey e Boris Chain o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia pela descoberta e aplicação da Penicilina (Pereira; Pita, 2005).
Mesmo com a validação do uso do medica-
mento, um dos grandes desafios encontrados pelos cientistas era a produção em larga escala da
Penicilina. Nessa época, eram necessários 100L do caldo produzido pelo bolor para tratar um
paciente por 24 horas. Devido à grande demanda da Penicilina para tratar soldados feridos, em 1942, os EUA iniciaram um programa de incentivo à pesquisa para sua produção. No ano seguinte, o
programa obteve êxito e duzentos soldados puderam ser tratados com a Penicilina natural, deno-
minada Penicilina G (Silva, 2003; Guimarães et
al., 2010; Calixto; Carvalheiro, 2012), devido ao procedimento de fermentação para a biossíntese dessa Penicilina (Goodman; Gilman, 2010).
A resistência bacteriana e a instabilidade em
meio ácido da Penicilina G estimulou a produção
51
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
das Penicilinas semi-sintéticas, que foram produ-
Cavalheiro, 2008). Destacando-se a Penicilina G de
que reduziu significativamente os custos de sua
o tratamento de doenças causadas por bactérias
zidas após a descoberta do ácido 6-amino penicilâ-
nico (6-APA), em 1976, pelo pesquisador Beecham, comercialização (Menegatti et al., 2001). Assim, foi possível a sua produção em larga escala.
Considerando a variedade de Penicilinas sin-
téticas, a sua estrutura química, de modo geral,
é composta por um anel de cinco membros, com três ramificações, duas metilas e um grupo car-
boxílico na posição 3 (Figura 1). Em um contexto mais biológico, destaca-se que os β-lactâmicos
possuem em sua estrutura molecular, os amino-
ácidos cisteína e valina (Menegatti et al., 2001). Na descrição química, informa-se que o primeiro
anel da estrutura é denominado anel tiazolidínico, devido à presença dos átomos de enxofre e nitro-
gênio e está fundido a um segundo anel de quatro membros com uma função amida, denominado
anel azetidinona ou β-lactâmico, com três átomos de carbono e um átomo de nitrogênio. Da união
desses dois anéis, origina-se o ácido 6-amino
origem natural, ela apresenta como cadeia lateral R um anel benzeno (Figura 2a), e é utilizada para
Gram-positivas. Esta, por não ser resistente ao
pH do suco gástrico, não é adequada para ser administrada pela via oral. Também cabe ressal-
tar que essa Penicilina não apresenta resistência ao mecanismo de defesa criado pelas bactérias,
através de uma enzima denominada penicilinase, a qual hidrolisa o anel β-lactâmico, inutilizando a ação da Penicilina (Dewick, 2001). O segundo
tipo de Penicilina, representado na Figura 2b, é semissintética denominada a amoxicilina, a qual
apresenta um espectro de atividade mais amplo,
exercendo atividade contra algumas bactérias Gram-negativas, e também não apresenta resis-
tência a penicilinase, além de apresentar melhores propriedades de absorção por via oral (Guimarães et al., 2010). (a)
H N
penicilânicos (6-APA) que se fixa a uma cadeia lateral (R) por intermédio de uma função amídica
O
na posição α à carbonila. O 6-APA garante a ação
de Penicilinas sobre agentes infecciosos e essa ação consiste na destruição da síntese da parede
celular provocando a sua quebra (lise), matando a bactéria (Rodrigues, 2009). R
S
N COOH
(b)
NH2 H N O
S
H
O
HO
H N
H
H
S
N O
O
N O
O O
OH
Figura 1. Estrutura química geral das Penicilinas.
Na estrutura molecular, o grupo ‘R’ é o que
Figura 2. Penicilinas com diferentes substituintes no grupo ‘R’: Penicilina G (a) e Amoxicilina (b). Fonte: Guimarães et al. (2010, p. 668).
Assim, considerando que os antibióticos são
diferencia as Penicilinas, pois é através da modi-
substâncias químicas que podem ser naturais
atividade antimicro biana específica (Calixto;
pode ser bem explorada de forma interdiscipli-
ficação da cadeia lateral que se obtém uma
variedade de substâncias, as quais apresentam
52
OH
ou semi sintéticas, que inibem o crescimento de fungos e bactérias, acredita-se que esta temática
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
nar relacionando assuntos que são explorados
Referência do Ensino Médio (EREM) do município
e molecular; pH e temperatura; Interações bio-
metodologia da intervenção didática, os pres-
nas disciplinas de Química e Biologia (Funções orgânicas e suas classificações; Estrutura química lógicas entre as espécies; Vacinas e antibióticos;
Metabolismo bacteriano e humano; Interação
enzimática; Morfologia de uma bactéria, dentre outros). Dentro desta abordagem, algumas discus-
sões podem ser levantadas pelo professor como: o uso indiscriminado dos antibióticos; a alta dosa-
gem e seus efeitos colaterais; as ‘superbactérias’ e a resistência desenvolvida por elas com o trata-
mento de antibióticos. Parte destes conteúdos e discussões foram exploradas na OPI apresentada neste trabalho conforme será visto a seguir. 3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A intervenção didática apresentada neste tra-
balho foi estruturada e aplicada por uma bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Química da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UAST-UFRPE) e uma monitora de Microbiologia,
da mesma instituição, em uma turma com 31 alunos do 3º ano do Ensino Médico de uma Escola de
de Serra Talhada no Estado de Pernambuco.
Para a sua estruturação foi considerada como
supostos da Oficina Pedagógica Interdisciplinar (OPI) que é uma metodologia de ensino que explora atividades contextualizadas, as quais possibilitam a exploração de diversos aspectos rela-
cionados a várias disciplinas, de forma integrada,
possibilitando o desenvolvimento de uma visão mais ampla de mundo (Albuquerque et al., 2009). Segundo as autoras, o eixo norteador de uma OPI
é uma situação problema, a qual permite definir o contexto a ser compreendido de forma interdisci-
plinar. Divididas em etapas, a OPI possibilita que o participante da mesma reveja suas ideias prévias;
a identificação de conceitos; o desenvolvimento de trabalho em grupo e utilização de situações próxi-
mas a realidade para a exploração das concepções (Albuquerque et al., 2009, p. 113-115).
Nesta intervenção, devido ao tempo limitado
por parte dos alunos, foram exploradas as etapas
de identificação das concepções prévias, a discussão de uma situação problema e atividade experimental ilustrativa. O fluxograma apresentado na
Figura 3 apresenta todas as etapas desenvolvidas durante a realização da intervenção didática.
Sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o uso de antibióticos
Contexto histórico da descoberta da Penicilina
Abordagem dos conteúdos biológicos: Morfologia geral dos fungos e bactérias
Explicar atuação dos antibioticos no organismo
Abordagens dos conhecimentos Químicos: classificação da cadeia carbônica e funções orgânicas
Atividade prática com fungo do gênero Penicilliun
Discurssão sobre o uso inadequado de antibióticos e suas consequências para saúde
Aplicação de questionário final
Figura 3. Fluxograma das etapas estruturais da aplicação da OPI.
53
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
Na primeira etapa, foi utilizado como ponto
e a formação de ligações cruzadas bacterianas.
namentos que se referiam ao conhecimento dos
no organismo, modelo este formulado por Emil
de partida o antibiótico, amoxicilina, que é um
Utilizou-se a analogia do esquema chave-fecha-
dos mais utilizados pela sociedade, com questio-
dura, que acontece com a atividade enzimática
alunos sobre este medicamento e para qual fina-
Fisher;
lidade ele era utilizado. Ampliando-se as discus-
poderia ser relacionado com os conteúdos de
uma vez identificada a estrutura do fármaco (a chave) e sabendo-se quais grupos funcionais estão presentes em sua molécula (os “dentes” da chave) poder-se-ia “compor” a topografia provável, aproximada, do bioreceptor (a fecha dura) (Barreiro, 2001, p. 7).
das para um contexto mais histórico sobre a des-
Por fim, a problemática discutida em sala de
sões, foi questionado se eles conheciam a origem desse medicamento, e de que forma o assunto Química e Biologia.
Posteriormente, as discussões foram conduzi-
aula se referiu ao uso desenfreado dos antibióti-
coberta da Penicilina e a importância deste feito no tratamento de enfermidades. A explanação foi
cos pela sociedade, relacionando com a necessi-
pela temática. Esta contextualização possibili-
por parte das novas espécies de bactérias, com
dade de se compreender a ação de um antibiótico
realizada com projeção de slides, na qual os alu-
no organismo e o desenvolvimento da resistência
nos foram participativos, demonstrando interesse
fins de diminuição de seu uso de forma irregular.
tou uma exploração do contexto biológico, com a
Após a realização das apresentações dialo-
estrutura do fungo e da bactéria bem como sua
gadas e dos debates, os alunos responderam um
diferenciação. Ainda foi realizada uma atividade
questionário que apresentava cinco questões
prática demonstrativa sobre um fungo do gênero
abertas não diretivas (Quadro 1). Estas questões
Penicillium que foi visualizado no microscópio
possibilitaram no estudante a apresentação de
do laboratório de Ciências da escola. No contexto
respostas mais argumentativas, as quais refletiam
químico, foi apresentada a estrutura molecular da
o que efetivamente eles compreenderam sobre a
Penicilina G, as funções orgânicas presentes em
temática explorada.
sua molécula e sua relação com a ação do medicamento no organismo e a classificação da cadeia carbônica da referida substância.
Após a apresentação destas relações, foi
explorado como ocorre a atuação dos antibióticos derivados da Penicilina no organismo, discu-
tindo sobre as Proteínas de ligação das Penicilinas (PLPs) que impedem a reação de transpeptidação
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO No início das discussões, foram realizados
alguns questionamentos para os alunos se situ-
arem sobre a temática e para identificar se eles conheciam informações referentes aos antibió-
Quadro 1. Questões apresentadas no questionário final após a OPI.
1. Quais suas considerações sobre vivência interdisciplinar entre biologia e química? 2. Durante o estudo sobre Penicilina, você gostou mais da parte química ou da parte biológica do tema abordado. Justifique sua resposta. 3. Quais temas você gostaria de estudar de forma interdisciplinar que envolva as disciplinas de Química e Biologia. 4. Sobre a Penicilina o que você considerou mais relevante. 5. De acordo com o estudo sobre Penicilina, comente como os antibióticos β-lactâmicos atuam no organismo.
54
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
ticos, especificamente sobre a Penicilina. Sobre
são geradas a partir de adaptações biológicas
planta”. Esta foi a resposta mais atrativa, no início
isso possibilita um mecanismo de defesa contra
como a Penicilina é produzida, o aluno P3 respondeu que era “Alguma coisa que foi extraída de uma das discussões, o que fomentou o direcionamento
para as monitoras da OPI explorarem o contexto histórico da Penicilina, relacionando com outros
antibióticos mais conhecidos popularmente como a Amoxicilina, que é um derivado da primeira.
Ao se explorar o contexto histórico, percebeu-
-se que os alunos ficaram mais atentos, o que pode
proporcionar um melhor aprendizado, que instiga a curiosidade, tornando-os mais atentos às infor-
oriundas do uso abusivo dos antibióticos e a sua posologia de forma incompleta, explicou-se que
o antibiótico (Calixto; Cavalheiro, 2012). Assim,
foram explicadas as problemáticas da automedicação e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), referente à orientação de venda de anti-
bióticos apenas sob prescrição médica.
Como prediz Mortimer e Machado (2003) a
construção do pensamento químico e a (re)elabora ção de visões de mundo (p. 9) é que possibilitam o
mações e compreendendo que a Ciência não está
diálogo entre os diferentes sujeitos presentes
dos cientistas. O desenvolvimento científico é acom-
da interdisciplinaridade. Assim, percebeu-se que
pronta e acabada (Pozo; Crespo, 2009). Ou seja,
acontece com o tempo e por meio de erros e acertos panhado de conflitos (São Paulo, 1988, p. 15-16), como os que ocorreram na descoberta da Penicilina.
Em seguida, foram explorados os conteúdos
de Química e Biologia que serviram de base para
compreensão do mecanismo de ação do antibi-
ótico, onde foi descrito a estrutura morfológica da bactéria e sua diferenciação comparada aos
fungos. Além disto, também foram exploradas
as funções orgânicas presentes na molécula, tais como: amida, ácido carboxílico, amina, fenol,
entre outros. Os alunos também visualizaram o
Penicillium com auxílio de um microscópio e ficaram empolgados com esta experimentação.
Na sequência das discussões, ao perguntar
se os alunos se automedicavam por antibióticos, cerca de 15 alunos informaram que sim, como
o aluno P12 que informou que tomou o medicamento por orientação da mãe, que possuía
amoxicilina em casa e este poderia ser utilizado
na sala de aula, no caso, os professores e alunos,
sendo este fato um dos mais importantes dentro mesmo com uma limitação no tempo de realização
da oficina, os alunos demonstraram-se preocupa-
dos em relação às consequências do uso inadequado deste tipo de medicamento.
Após as discussões e análise do Penicillium no
microscópio, visando analisar as percepções dos alunos sobre a aula interdisciplinar, foi aplicado
um questionário com 5 perguntas. O objetivo geral
do questionário era verificar se os alunos percebiam que a temática explorada apresentava conte-
údos distintos mas que poderiam ser relacionados entre as disciplinas, e se essa metodologia tinha
melhorado a percepção deles em relação à aprendizagem das mesmas, uma vez que estas, quando
exploradas de forma fragmentada e descontextua-
lizada, acabam por não despertar tanto interesse no aluno. O Quadro 2 apresenta os objetivos esperados para cada questão e os resultados obtidos.
Os critérios analisados foram construídos a
para tratar de inflamação na garganta. Esse erro
partir da estruturação da intervenção didática.
vido deste tipo de medicamento.
esperava que os alunos compreendessem e a par-
ainda é cometido pela sociedade, a qual precisa de uma maior orientação sobre os riscos do uso inde-
Ao se ampliar as discussões sobre a auto-
medicação e a origem das ‘super bactérias’, que
Ou seja, no momento em que foi escolhido o que
seria explorado na oficina, foi definido o que se tir disto, foi possível organizar as perguntas que estariam presentes no questionário.
55
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
Quadro 2. Porcentagem de respostas dos alunos que se enquadram nos critérios de análise das questões. Questões
Porcentagem de alunos que alcançaram o objetivo da questão
1. Quais suas considerações sobre a vivência • Perceber a relação entre as disciplinas na interdisciplinar em uma aula que explorou temática explorada. Biologia e Química ao mesmo tempo?
58
2. Durante o estudo sobre Penicilina, você gos – tou mais da parte química ou biológica do tema abordado. Justifique sua resposta.
–
3. Quais temas você gostaria de estudar de for • Compreender a proposta interdisciplinar; ma interdisciplinar que envolva as disciplinas • Identificar e propor temática com a inte de Química e Biologia? gração de Química e Biologia.
52
4. Sobre a Penicilina o que você considerou • Analisar e definir pontos importantes fun mais relevante. damentados na aula.
74
5. De acordo com o estudo sobre Penicilina, • Apresentar os principais pontos da ação comente como os antibióticos β-lactâmicos do antibiótico; atuam no organismo. • Empregar os termos e conceitos científi cos explorados.
53
Como apresentado no Quadro 2, na primeira
conhecimento, ultrapassando as fronteiras que
correlação entre as áreas de conhecimento, como
as discussões sobre a interdisciplinaridade nas
questão 58% dos alunos evidenciaram a relação entre as disciplinas, percebendo que existe uma é apresentado em algumas respostas dos alunos:
P26: “As ciências ‘andam’ juntas. Não pode separar Biologia e Química, uma precisa da outra.”
P8: “Colossal, pois ambas são ligadas por
sua natureza, e utilizar uma para conhecer profundamente a outra é fundamental para uma melhor compreensão.”
P5: “Eu simplesmente amo Biologia e odeio Química, mas adorei a junção das duas disciplinas.”
P23: “Auxiliará nos estudos para o ENEM, pois a intertextualidade está presente na prova. Um ótimo recurso disciplinar.”
Na descrição dos alunos P26 e P8, identifica-
-se que eles compreenderam o objetivo da aula,
a qual buscou compreender a temática de forma
integrada, tendo em vista que a interdiscipli-
naridade possibilita a relação entre as áreas de
56
Critérios de análise
são impostas no ensino linear e tradicional. Como defende Moura e Santos (2006), é preciso ampliar escolas, visto que esta abordagem é um caminho
para superar o ensino tradicional, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento de uma visão mais crítica e complexa dos fenômenos que são explo-
rados na sala de aula. Entretanto, ressalta-se que essa forma de ensino é reflexo da formação exclusivamente disciplinar dos professores das disci-
plinas de Ciências da Natureza (Química, Física
e Biologia) que possuem muita bagagem teórica e pouca didática direcionada para o ingresso à
Universidade, ao invés de uma formação substantiva (Pozo; Crespo, 2009, p. 247).
Considerando que os alunos precisam de moti-
vação para estudar (Pozo; Crespo, 2009, p. 40), pode-se considerar que a proposta interdiscipli-
nar apresentada motivou o aluno P5 a perceber a ‘Química’ com outros olhos, pois o mesmo diz ‘odiar’ Química, possibilitando assim o seu inte-
resse em querer aprender. Consequentemente, o aluno P23, faz referência à prova do ENEM que apresenta em suas questões abordagens inter-
disciplinares e contextualizadas, mas o mesmo se
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
confundiu quando apresentou a ideia de ‘recurso
relacionassem a Química e a Biologia, uma relação
de ‘metodologia’. Ressalta-se que, inicialmente, o
disciplinaridade no primeiro questionamento,
interdisciplinar’, o qual considera a ‘intertextu-
alidade’ um recurso, que é melhor ser chamado
aluno não precisa saber desta informação, mas é preciso deixar claro que as abordagens interdis-
ciplinares, as quais podem ocorrer com duas ou mais disciplinas, podem auxiliar os alunos a compreenderem os fenômenos do dia a dia.
Os demais alunos fizeram suas considerações
separando as disciplinas, o que evidencia que não
conseguiram de forma nítida perceber as relações exploradas na temática, como o aluno P22 que disse que “Foi bom. A biologia fala geral e a quí-
mica só as substâncias”. Assim, percebe-se que este aluno ainda identifica a estratégia de forma frag-
mentada, separando os ‘assuntos’ por disciplinas, não explorando as relações existentes entre elas.
Também destacamos a fala do aluno P19:
“Aprendizado de conhecimentos avançados”. O argumento do aluno, mostra sua dificuldade em
relacionar os conceitos explorados, tendo em vista
que os conhecimentos avançados, na verdade, não são apenas os específicos de cada disciplina, mas a
junção deles. Entretanto, isto era esperado devido à prática escolar ser vivenciada de forma fragmentada. Assim, explicita-se que a abordagem temática se faz necessária para que os alunos possam compreender de forma mais ampla o que é explorado na mesma (Santos; Mol, 2005).
Na segunda pergunta os alunos apresentam
respostas mais variadas, nas quais 58% deles informaram que se identificaram mais com a
parte biológica, destacando a relevância do tema
devido às relações com fungos e bactérias. 29% dos alunos informaram ter gostado de ambas, demonstrando que existiam pontos comuns
entre as disciplinas e 13% se identificaram com a parte química. Contudo, os alunos não justifica-
ram suas respostas. No questionamento seguinte, os alunos, para responder de forma consciente,
deveriam apresentar exemplos de temáticas que
direta com a pergunta 1. Assim, identificou-se que dos 58% dos alunos que apresentaram a inter-
52% propuseram temas interdisciplinares, como
o aluno P26, que propôs os temas como “Lixo, medicamentos e Meio Ambiente”. Ressalta-se que seria interessante explorar deste aluno, quais
os conteúdos que seriam explorados dentro da temática, mas considerou-se que estes questiona-
mentos seriam melhor explorados se os sujeitos investigados fossem os professores das discipli-
nas de Química e Biologia, pois o desenvolvimento
de projetos interdisciplinares pelos professores possibilitariam a construção do conhecimento e a
(re)elaboração do ensino fragmentado.
Outros alunos (32%) apresentaram temas mais
gerais, como: Bioquímica, corpo humano, doenças e plantas. Os demais alunos (16%) apresentaram
os temas de forma fragmentada, demonstrando
assim não compreender o que foi proposto, como o aluno P12 que apresentou a seguinte resposta:
“Fungos e Bactérias: Biologia. Radioatividade e oxidação: química”.
Na quarta pergunta, foi solicitado que eles
explorassem os pontos mais relevantes sobre a oficina realizada sobre a Penicilina. 74% dos alu-
nos apresentaram pontos relevantes, conforme destaca-se as respostas a seguir.
P2: “As formas como são ‘criadas’ a Penicilina, e a sua estrutura molecular.”
P29: “Como a descoberta do antibiótico ajudou os feridos na guerra.”
P14: “Ser derivado de um fungo e como atua no organismo”
P1: “Que seu uso pode trazer riscos à saúde se ingerido sem prescrição médica.”
Identificou-se que na escrita do aluno P2 ele
destacou a ‘criação’ das Penicilinas; quando per-
guntado ao mesmo sobre o processo, ele argumen-
57
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
tou que “parte da criação é no laboratório e outra
organismo vivo, possibilitando que haja o des-
deu o processo de modo geral, pois atualmente
(Santos; Schnetzler, 2003).
parte de forma natural”. Como isto foi explorado
na oficina, identificou-se que o aluno compreena criação de derivados da Penicilina ocorre em duas etapas. Na primeira, a partir da produção de
um intermediário biossintético, o ácido 6-amino-penicilâmico obtido da interação catalítica entre
a enzima Pencillium acilase e a Penicilina G (ori-
ginada a partir da fermentação de fungos). Na segunda etapa, a reação do intermediário biossintético com cloretos de acila substituídos é útil
configurando uma formação cidadã consciente
Por fim, na última pergunta do questionário,
foi solicitado aos alunos que eles explicassem como os antibióticos β-lactâmicos atuam no orga-
nismo. Para analisar as repostas, foram estabelecidos 3 critérios:
1. Satisfatória: para as respostas que esta-
vam completamente de acordo com atuação do antibiótico no organismo;
para a produção semissintética de outros tipos de
2. Pouco satisfatória: para as respostas que
ram a ação da Penicilina no organismo e a desco-
3. Insatisfatória, para as respostas confusas
Penicilina (Menegatti et al., 2001).
Destaca-se, ainda, que 22% dos alunos indica-
berta deste antibiótico; isso foi considerado um
ponto relevante porque eles conseguiram apre-
sentar informações que contextualizam os conte-
apresentavam afirmações verdadeiras, mas com ideias não concluídas e
ou com informações equivocadas.
Os 53% de alunos apresentados no Quadro 2
údos explorados em Química e Biologia, pois esta
representam as respostas ‘satisfatória’ (12%) e
Além disto, foi identificado que 19% dos alunos
responderam que não sabiam ou deixaram em
abordagem pode trazer motivação e um conhecimento mais integrado com o cotidiano do aluno.
destacaram a importância de se compreender a estrutura molecular da Penicilina e a sua atuação
no organismo, o que vai além do que é explorado nas tradicionais aulas sobre as Funções Orgânicas
no Ensino Médio. Como também foi identificado no trabalho de Pazinato et al. (2012), que sugere uma atividade experimental para explorar o
assunto, identificando que tanto os professores quando os livros didáticos não exploram o assunto
de forma experimental e relacionado com o cotidiano dos alunos.
A identificação, por parte dos alunos, da estru-
tura molecular, vai além da simples identificação das funções orgânicas presentes na molécula, con-
siderando que é necessário explorar cada vez mais como ocorre a interação dos sítios ativos e ligantes presentes na mesma com os receptores biológicos. Assim, é possível compreender a real função
destes ligantes e como ocorre a sua atuação no
58
pertar para o uso consciente dos medicamentos,
‘pouco satisfatória’ (41%). 25% dos alunos ainda
apresentaram respostas ‘insatisfatórias’ e 22% branco. A classificação e avaliação das respostas estão descritas no Quadro 3.
Identificou-se que o quantitativo de respos-
tas classificadas como satisfatórias foi baixo, mas
conseguiram expor os pontos principais do mecanismo de ação de antibióticos, que é a destrui-
ção da parede celular bacteriana, pois segundo Lehninger (2006) a parede bacteriana é constituída por um polímero denominado peptideogli-
cano, formado por ligações (β1→4) com ligações
cruzadas entre N-acetilglucosamina e o ácido N-acetilmurâmico. A enzima lisozima hidrolisa as
ligações (β1→4), destruindo a síntese da parede
celular e matando a bactéria. Mesmo o aluno P29 não apresentando estas explicações, a sua resposta resume este entendimento.
As respostas classificadas como pouco satis-
fatórias, apesar de apresentarem afirmações verdadeiras, foram superficiais, indicando que o
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Quadro 3. Exemplos de parte das respostas dos alunos seguindo os critérios de classificação da quinta pergunta do questionário. Critérios
Respostas dos alunos
Satisfatória
P26: “Os antibióticos tem como principal função, destruir a parede bacteriana.” P29: “Esse antibiótico é ligado a enzima nas paredes das bactérias rompendo-as e assim destrói esse micro ‑organismo.”
Pouco satisfatória
P3: “Atuam combatendo doenças e melhorando o funcionamento do organismo.” P4: “Os antibióticos lactâmicos atuam para melhorar o funcionamento do organismo para que as bactérias não criem defesas contra os medicamentos.” P5: “Elimina as bactérias.” P6: “É ligado a uma enzima nas paredes das bactérias.” P8: “Inibi a síntese da parede celular.” P11: “Ele atua contra as infecções em diferentes partes do corpo.” P14; P27: “Atua contra infecção no corpo e como inibidor.” P20: “Como inibidor.” P24: “Eliminando as bactérias.”
Insatisfatória
P12: “Os antibióticos quebram as enzimas do nosso organismo.” P13: “Eles atuam no intestino acelerando o metabolismo, fazendo a pessoa ter uma boa digestão.” P15: “Ajuda no funcionamento do organismo intestinal.” P17: “Ele ajuda o intestino a funcionar melhor.” P19: “Inibindo.” P28: “Ajuda a melhorar o funcionamento e aceleramento intestinal.” P30: “Como protetor de bactéria.” P31: “Inibindo os fungos.”
aluno não apresenta conclusões sólidas sobre as
antibióticos, como se possibilitasse a sua produ-
que isso pode ter acontecido porque os alunos não
certa confusão no que se refere a ação de bactérias
questões, com ideias fragmentadas sem relacio-
nar com o conhecimento científico. Acredita-se estavam adaptados a este tipo de questionamento,
como se identificou nas respostas dos alunos P3 e P4, que generalizaram a mesma sem apresentar informações sobre o mecanismo de ação dos anti-
bióticos. Merece destaque, também, as respostas dos alunos P8 e P25 que falam sobre a ‘eliminação’
da bactéria, o que não deixa de estar certo, porém a resposta foi considerada simplista mediante as informações que foram apresentadas a eles. Além
destas, os outros alunos (P5, P11, P24) apresen-
taram respostas baseadas no senso comum, iden-
tificando-se, assim, a pouca assimilação com os termos que foram explorados.
Por fim, as respostas classificadas como insa-
tisfatórias foram equivocadas, conforme se apresentou no Quadro 3. Por exemplo, as respostas
dos alunos P30 e P31, que invertem a ação dos
ção. Destaca-se que as respostas dos alunos P15 e
P28 falam sobre a ação no intestino, identificando no organismo humano e a ação dos antibióticos no mesmo, conforme foi explorado na OPI sobre as bactérias benéficas que constituem a mucosa
intestinal e com inúmeras funções fisiológicas. Assim, percebeu-se que 47% dos alunos se distanciaram completamente do que foi abordado no encontro.
Com a análise dos resultados, percebeu-se
em alguns alunos a dificuldade de relacionar as
disciplinas, como consequência de um ensino
tradicional e descontextualizado. Destaca-se, assim, a necessidade de se propor aos professores da Educação Básica que estruturem aulas
que viabilizem a aprendizagem dos seus alunos,
deixando-os mais curiosos, incentivando-os a per-
guntarem, contestarem e pesquisarem de forma crítica os fatos que lhes são apresentados (Santos;
59
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 01
Schnetezler, 2003). Ainda assim, ao se realizar a
oficina temática, houve o despertar da atenção da
comunidade escolar, atentando para novos cami-
nhos de se trabalhar os conhecimentos escolares, articulando-os diretamente à vida dos estudantes, como a abordagem temática sobre os antibióticos e medicamentos afins. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo não sendo utilizadas todas as etapas de
uma OPI na estratégia apresentada neste trabalho,
compreendeu-se que a interdisciplinaridade e as relações dos conteúdos com o cotidiano dos alu-
nos podem ser exploradas através de temáticas, sendo uma estratégia válida que pode ser incorpo-
rada no ambiente escolar, com fins de desenvolver
nos alunos um conhecimento mais amplo sobre os antibióticos e os cuidados de seu uso.
Mediante a análise realizada no questionário,
principalmente na questão 5, identificou-se que
os alunos não compreenderam de forma eficaz a ação dos antibióticos no organismo. Isso evidencia a fragilidade de se ter unicamente esta forma para
avaliar se os alunos entendem como ocorrem as ações metabólicas do medicamento no organismo. Por outro lado, os resultados apresentados neste trabalho expõem as potencialidades existentes em uma OPI, que utilizou a observação do fungo no
microscópio para instigar a curiosidade dos alunos
a respeito desse fármaco e a sua ação frente a uma bactéria, além de identificar as funções orgânicas e sua importância. Assim, reforça-se a perspectiva de
se explorar diferentes assuntos que são correlatos em diferentes disciplinas dentro de uma mesma temática, viabilizando, assim, uma aprendizagem mais ampla e significativa para o aluno. 6
REFERÊNCIAS
ABREU, R. G.; LOPES, A. C. A interdisciplinaridade e o ensino de química: uma leitura a partir das políticas de currículo. In: SANTOS, W. L. P.;
60
MALDANER, O. A. (Orgs.). Ensino de química em foco. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. p. 77-100.
ALBUQUERQUE, E. S. C.; MAYER, M.; BASTOS, H. F. B. N. Oficina pedagógica interdisciplinar como estratégia para a formação da cidadania. In: ALMEIDA, M. A.; BARBOSA, R. M. N. (Orgs.) Projetos interdisciplinares em ciências e matemática: fundamentos e vivências. Recife: Bagaço, 2009, p. 105-124.
BARREIRO, E. J. Sobre a química dos remédios, fármacos e dos medicamentos. Cadernos Temáticos da Química Nova na Escola, n. 3, maio 2001, p. 4-9. BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). PCN + Ensino médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002. CALIXTO, C. M. F.; CAVALHEIRO, E. T. G. Penicilina: efeito do acaso e momento histórico no desenvolvimento científico. Química Nova na Escola, n. 34, v. 3, 2012, p. 118-123. DEWICK, P. M. Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 2. ed. Wiley, 2001.
ECHEVERRÍA, A. R.; MELLO, I. C.; GAUCHE, R. Livro didático: análise e utilização no ensino de química. In: SANTOS, W. L. P.; MALDANER, O. A. (Orgs.). Ensino de química em foco. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010, p. 263-286. FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1979.
FLEMING, A. Penicilina e suas aplicações práticas. São Paulo: Progresso, 1947. GARRUTTI, E. A.; SANTOS, S. R. A interdisciplinaridade como forma de superar a fragmentação do conhecimento. Revista de Iniciação Cientifica da FFC, v. 4, n. 2, 2004, p. 187-197. GONDIM, M. S. C.; MOL, G. S. Saberes populares e ensino de ciências: possibilidades para um trabalho interdisciplinar. Química Nova na Escola, n. 30, nov. 2008, p. 3-9.
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 11. ed. Rio de Janeiro: McGrawHill, 2010.
GUIMARÃES, D. O.; MOMESSO, L. S.; PUPO, M. T. Antibióticos: importância terapêutica e perspectivas para a descoberta e desenvolvimento de novos agentes. Química Nova, v. 33, n. 3, 2010, p. 667-679.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
KRASILCHICK, M. Reformas e realidade: o caso em ensino das Ciências. São Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 1, 2000, p. 85-93. LEHNINGER, A. L. Princípios de bioquímica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.
MENEGATTI, R.; FRAGA, C. A. M.; BARREIRO, E. J. A síntese de fármacos. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, v. 3, 2001, p. 16-22.
MORTIMER, E. F.; MACHADO, A. H. Química para o ensino médio: assessoria pedagógica. São Paulo: Editora Scipione, 2003.
MOURA, A. M.; SANTOS, W. L. P. Percepção de professores do ensino médio sobre interdisciplinaridade em projeto de educação ambiental. In: EDEQ, 13, 2006, Campinas. Anais... Campinas-SP, 2006, 1p. CD-ROOM.
NOLÊTO, F.P. Ressignificação da interdisciplinaridade no contexto pedagógico reflexivo e interativo na educação básica. Revista Latino Americana de Tecnologia Educativa, v. 2, n. 2, 2002, p. 29-35. PAZINATO, M. S. et al. Uma abordagem diferenciada para o ensino de funções orgânicas através da temática medicamentos. Química Nova na Escola, v. 34, n.1, 2012, p. 21-25.
PEREIRA, A. L.; PITA, J. R. Alexander Fleming (18811955): da descoberta da Penicilina (1928) ao Premio Nobel (1945). Revista da Faculdade de Letras, História, Porto, III Série, n. 6, 2005, p. 129151. POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano
ao conhecimento científico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
RODRIGUES, D. S. Inovações na produção de antibióticos β-lactâmico. Tese (Doutorado) – São Carlos: UFSCar, 2009.
SANTOS, W. L. P. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v. 1, número especial, 2007, p. 1-12. ______.; MÓL, G. S. (Coords.) Química e sociedade. Manual do professor. São Paulo: Editora Nova Geração, 2005.
______.; SCHNETZLER, R.P. Educação em química: compromisso com a cidadania. 3. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Educação, Coordenadoria de Estados e Normas Pedagógicas. Proposta curricular para o ensino de química: 2º Grau. 2. ed. São Paulo: SE/Cenp, 1988. SCHNETZLER, R. P. Trilhas e projeções da pesquisa em ensino de química no Brasil. In: MÓL, G. S. (Org.). Ensino de química: visões e reflexões. Ijuí: Unijuí, 2012, p. 65-84.
SILVA, R. G. A inferência de variáveis do processo de produção da Penicilina G Acilase por Bacillus Megaterium ATCC 14945. 2003, 265f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Programa de Pós‑graduação em Engenharia Química, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2003.
61
RELATO DE EXPERIÊNCIA 02 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 62-68
Memória química: uma maneira divertida de aprender química Chemistry memory: a way of learning chemistry with fun Francisca Belkise de Freitas Moreira1, Igor Rannes da Costa Sousa1, Karla Andrômeda Nobre de Oliveira1, Maria Alcilene Gomes de Menezes1, Edson Fernandes Moreira2 e Paulo Roberto Nunes Fernandes1
Resumo Os jogos educativos visam estimular o raciocínio lógico, proporcionando uma forma
dinâmica de aprendizado e construção de conhecimentos. Estes podem atuar como um recurso de ensino auxiliando o professor na complementação das aulas, proporcionando estímulo e interesse aos alunos. Reconhecendo a relevância deste recurso tão importante, este trabalho propõe o desenvolvimento de um jogo intitulado “Memória Química”, para auxiliar no ensino das Reações Químicas. Os materiais
utilizados na construção das peças do jogo foram: folha A4 peso 60, fita transparente para fixar as cartelas em sua respectiva base, tesoura, computador e impressora. Antes da aplicação do jogo foi ministrada uma aula teórica sobre o assunto
em questão e logo após foi realizado um teste para avaliar o nível da aprendizagem. Em seguida, o jogo foi aplicado com 28 alunos da 1ª série do Ensino Médio da
Escola Estadual Professor Antonio Dantas do município de Apodi. A dinâmica ocor-
reu como num jogo da memória tradicional, porém numas peças continham as reações e em outras os nomes. Os resultados obtidos após o jogo foram satisfatórios. O percentual de notas abaixo e acima de 6,0 foram respectivamente 29% e 71%, tendo uma melhora de 16% com relação ao teste antes do jogo. O jogo Memória Química
mostrou ser um recurso lúdico válido, tornando o ensino de Química no Ensino Médio mais contextualizado, interessante, atrativo e divertido.
Palavras-chave: Memória química, jogos educativos, reações químicas. 1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – Câmpus Apodi. 2. Escola Estadual Professor Antonio Dantas.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Abstract The educational games are designed to stimulate logical reasoning, providing a dynamic learning and knowledge building. These can act as a teaching resource in assisting the teacher complementation classes, providing stimulus and interest to students. Recognizing the significance of this resource as important, this work proposes the development of a game called “Memory Chemistry”, to assist in the teaching of Chemical Reactions. The materials used in the construction of parts of the game were: A4 paper weight 60, clear tape to secure the cards in their respective base, scissors, computer and printer. Before the application of game theory was given a lesson on the subject in question and after a test was performed to assess the level of learning. Then the game was applied to 28 students from the 1st grade of High School State School Professor Antonio Dantas municipality of Apodi. The dynamics occurred as a traditional memory game, but some pieces contained reactions and other names of the reactions. The results were satisfactory after the game. The percentages of grades below and above 6.0 were respectively 29% and 71%, with an improvement of 16% compared to the test before the game. The game proved to be a chemistry Memory feature playful valid, making the chemistry teaching in high school more contextualized, interesting, attractive and fun. Key-words: Memory chemistry, educational games, chemical reactions.
1
INTRODUÇÃO O ensino da Química é de fundamental impor-
tância na formação da cidadania, pois esta ciência faz parte da sociedade tecnológica moderna.
Tradicionalmente, as ciências têm sido ensinadas
como uma coleção de fatos, descrição de fenômenos e enunciados de teorias que o aluno tem
que memorizar (Santos, 2004). A maioria dos educadores não procura fazer com que os alunos
discutam as causas dos fenômenos, estabeleçam
relações da ciência com o cotidiano, enfim, ou
que entendam os mecanismos dos processos que estão estudando (Zanon, 2008).
Segundo Silva et al. (2009), é muito comum
que não seja dada a devida importância ao que é chamado, na literatura, de processo da ciência,
ou seja, aos eventos e procedimentos que levam
às descobertas científicas. Em geral, o ensino fica limitado à apresentação dos chamados produtos da ciência. Assim, como afirma Domingos
e Recena (2010), para muitos alunos, aprender Química é decorar um conjunto de nomes, fórmu-
las, descrições de instrumentos ou substâncias e enunciados de leis.
Diante dessas circunstâncias, as atividades
lúdicas, mais do que serem aceitas como rotina da educação dos alunos, são uma prática privilegiada para a aplicação de uma educação que visa o desenvolvimento pessoal e a atuação coopera-
tiva na sociedade. Eles são também instrumentos
motivadores, atraentes e estimuladores do pro-
cesso de construção do conhecimento, podendo ser definida, de acordo com Soares (2004), como uma ação divertida, seja qual for o contexto lin-
guístico, desconsiderando o objeto envolto na
ação. Se há regras, essa atividade lúdica pode ser considerada um jogo.
O jogo, considerado como um tipo de atividade
lúdica, segundo Kishimoto (1994 apud Santana,
2006) possui duas funções: a lúdica e a educativa,
em que as mesmas devem coexistir em equilíbrio. Se a função lúdica prevalecer, não passará de um
jogo e se a função educativa for predominante será
apenas um material didático. Segundo Campos (2002) o lúdico apresenta dois elementos que o
63
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 02
caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo,
ramentas alternativas que dão um bom suporte/
ções com regras pré-definidas. O mesmo deve ser
adquirir conhecimento. Eles têm inúmeras van-
além de integrarem as várias dimensões do aluno,
apoio tanto para o professor que quer transmitir
como a afetividade, o trabalho em grupo e as rela-
conhecimento, quanto para o aluno que deseja
inserido como impulsor e instigador nos traba-
tagens, mas uma das principais é que, ao mesmo
lhos escolares, isso por apresentar funções tão
tempo em que ensinam, eles divertem facilitando,
importantes.
assim, a aquisição de conhecimentos.
O jogo pedagógico ou didático tem como obje-
Diante disso, o objetivo principal do trabalho
tivo proporcionar determinadas aprendizagens,
foi desenvolver e aplicar o jogo didático Memória
diferenciando-se do material didático por conter
Química como metodologia alternativa didático-
o aspecto lúdico e por ser utilizado para atingir
-pedagógica, visando melhorar o processo de
determinados objetivos pedagógicos, sendo uma
ensino-aprendizagem na disciplina de Química
alternativa para melhorar o desempenho dos alu-
aos alunos da 1ª série do Ensino Médio, na Escola
nos em alguns conteúdos de difícil aprendizagem
Estadual Professor Antonio Dantas (EEPAD), do
(Cunha, 1998).
município de Apodi, no Rio Grande do Norte (RN).
O jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a
Diante das inúmeras possibilidades de diversifica-
um conteúdo didático específico, resultando em
ção de recursos didáticos no ensino de Química,
um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de
essa seria uma tentativa de superar o desinteresse
informações (Kishimoto, 1996). Segundo Borges e
dos alunos por esta ciência e promover uma reor-
Schwarz (2005), ao criar ou adaptar um jogo ao
ganização diferenciada dos conteúdos.
conteúdo escolar ocorrerá o desenvolvimento de
O desenvolvimento deste material didático
habilidades que envolvem o indivíduo em todos os
para o Ensino de Química da 1ª série do Ensino
aspectos: cognitivos, emocionais e relacionais. A
Médio na referida escola, foi realizado por alunos
atividade lúdica tem como objetivo tornar o indi-
do Curso de Licenciatura em Química do IFRN
víduo mais competente na produção de respostas
campus Apodi, e que fazem parte do Programa
criativas e eficazes para solucionar os problemas.
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
Ser competente implica saber mobilizar, de forma
(PIBID). Este programa, assim como outros, veio
criativa e eficaz, as habilidades nas quais os conhe-
para melhorar a realidade do ensino, não só inse-
cimentos, valores e atitudes são usados de forma
rindo o aluno da licenciatura na sala de aula,
integrada frente às necessidades impostas pelo
como também buscando melhorar o processo de
meio. As habilidades se constroem e manifestam
ensino-aprendizagem desta disciplina, visto que
na ação, a qual se aprimora pela prática, levando à
o ensino nas escolas estaduais do município de
reconstrução do conhecimento.
Apodi encontra-se fragilizado, descontextualizado
Na elaboração de um jogo didático deve-se ter
bastante cuidado, respeitar as condições físicas e o desenvolvimento dos educandos, bem como o nível de interesse, a faixa etária e o(s) tema(s)
escolhido(s) para ser trabalhado. Cumprindo
2
METODOLOGIA O processo de realização deste trabalho envol-
esses pontos os resultados esperados serão alcan-
veu várias etapas, a primeira foi a confecção do
no processo de ensino e aprendizagem, sendo fer-
troca e dupla troca para serem utilizadas no jogo,
çados com sucesso (Nardin, 2010).
Os jogos didáticos têm um valor indispensável
64
e desmotivado.
jogo. Foram selecionadas 36 Reações Químicas
envolvendo as de decomposição, síntese, simples
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
sendo 9 de cada tipo. Algumas peças continham
Para dar início à atividade, as peças foram
as equações das reações e outras os nomes das
espalhadas numa mesa. Foi necessária a interrup-
A4 peso 60, fita transparente para fixar as carte-
o assunto explicado. O jogo só acabava quando
mesmas, como mostrado na Figura 1. Os materiais
ção do jogo durante alguns minutos para fazer um
utilizados na construção das peças foram: folha
levantamento das dificuldades e dúvidas sobre
las em sua respectiva base, tesoura, computador
não tivesse mais peças na mesa, e o vencedor
e impressora.
era o grupo que tivesse o maior número de pares formados.
Após a aplicação do jogo foi realizado um
segundo teste, diferente do primeiro, para a verificação da aprendizagem. 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO No teste feito antes do jogo observou-se que os
alunos tiveram dificuldades para responder algu-
mas das questões. O teste continha seis questões Figura 1. Peças que compõe o jogo Memória Química.
A aplicação do jogo Memória Química envol-
veu ao todo 38 alunos da 1ª série do Ensino Médio
envolvendo Reações Químicas (Figura 3). A cada
questão foi atribuída uma nota, somando-se dez
pontos no total. Houve notas elevadas, porém muitas abaixo da média. A Figura 2 mostra o percentual das notas obtidas antes do jogo. 60
da Escola Estadual Professor Antonio Dantas do
50
interessados em participar da atividade.
30
município de Apodi; os alunos mostraram um Inicialmente, os alunos tiveram uma aula sobre
40 %
grande interesse pelo jogo, e estavam bastante
as Reações Químicas e em seguida foi aplicado um
20
tação do jogo, em que foram expostas as regras
0
teste para avaliar o nível de aprendizagem.
Em um segundo momento ocorreu a apresen-
e estratégias que eram idênticas a um jogo de
memória tradicional, porém o reconhecimento das Reações Químicas era primordial para que o joga-
10 Abaixo de 6,0
Acima de 6,0
Figura 2. Resultados do teste antes do jogo.
Observando a Figura 2, percebeu-se que 55%
dor pudesse ir formando seus pares, o que obrigava
dos alunos obtiveram uma nota acima de 6,0
alunos em grupos, permitindo aos mesmos, num
que requer muita prática e atenção, uma parte dos
o aluno/jogador a identificar as reações corretamente. Nesta etapa da atividade dividiram-se os
primeiro momento, a familiarização com o material e de como seriam as regras e a prática do jogo.
enquanto que para 45% as notas foram inferiores
à média escolar. Talvez por se tratar de um assunto
alunos não obteve êxito, e o percentual abaixo da média foi bastante preocupante.
65
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 02
Figura 3. Teste aplicado antes do jogo.
Durante a aplicação do jogo pôde-se obser-
var a curiosidade dos alunos pelo assunto traba-
que envolveu questões diferentes do primeiro
aula mais dinâmica, tornando mais significativa a
ber que o jogo ajudou a melhorar o desempenho
lhado, a socialização entre os grupos, a interação da turma, a diversão e, ao mesmo tempo, uma aprendizagem.
Figura 4. Teste aplicado após o Jogo.
66
Após a aplicação do jogo foi feito outro teste,
teste (Figura 4). Ao comparar os resultados obtidos nesse teste com o primeiro pôde-se perce-
dos alunos com relação ao conhecimento sobre
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Reações Químicas, como pode ser observado na
aluno e o professor, entre o aluno e o jogo e entre o
Figura 5. 80
mesmo e o conteúdo a ser trabalhado. 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
70
O desenvolvimento de jogos com seus objetivos
60
definidos proporciona aos alunos diversas intera-
%
50
ções, promovendo construções e aperfeiçoamentos
40
de conceitos, habilidades e a valorização do conhe-
30
cimento, resgatando as lacunas que o processo de
20
ensino e aprendizagem atual deixa em aberto.
10 0
Abaixo de 6,0
A função educativa do jogo “Memória Química”
foi facilmente observada durante sua aplicação ao
Acima de 6,0
verificar o favorecimento da aquisição de conheci-
Figura 5. Notas do teste após o Jogo.
mento em clima de alegria e prazer.
Cabe ressaltar que os jogos pedagógicos não
De acordo com a Figura 5, o jogo foi uma ferra-
são substitutos de outros métodos de ensino, eles
menta lúdica bastante importante que contribuiu
são apenas suportes para o professor e podero-
para essa melhora, pois é possível verificar que os
sos motivadores para os alunos que usufruírem
alunos que possuíam dificuldades com a matéria
dos mesmos como recursos didáticos para a sua
ministrada, após jogarem o Memória Química, as
aprendizagem.
mesmas foram minimizadas, efetivando, assim, o processo de aprendizagem e o interesse pela Química.
O jogo foi bem aceito pelos alunos, pois ao
complementar a aula teórica com exercícios e com jogos lúdicos, a mesma se tornou mais atrativa, divertida e interessante.
A importância da utilização de atividades lúdi-
cas mobilizam esquemas mentais, ativando funções neurológicas e psicológicas estimulando o pensamento. E quando o sujeito está diretamente
envolvido na ação fica mais fácil a compreensão
do aspecto cognitivo, pois ocorre um desbloqueio mental (Santana, 2006).
Os jogos são um importante recurso não só
para as aulas de Química, mas como para qualquer outra disciplina, pois facilitam a aprendiza-
gem do aluno, além de motivar o mesmo. Através dos jogos podem ser trabalhadas diretamente as
habilidades dos alunos, além de existir uma maior socialização entre os colegas da turma, entre o
5
REFERÊNCIAS BORGES, R. M. R.; SCHWARZ, V. O. O Papel dos jogos educativos no processo de qualificação de professores de ciências. In: IV Encontro Ibero-Americano coletivos escolares e redes de professores que fazem investigação na escola, 4, 2005. Anais eletrônicos... Lajeado. ed. UNIVATES.
CAMPOS, L.; BORTOLOTO, T. M.; FELÍCIO, A. K. C. A produção de jogos didáticos para o ensino de Ciências e Biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Disponível em: <www.unesp. br/prograd/PDFNE2002/aproducaodejogos. pdf>. Acesso em: 29 out. 2015. CUNHA, H. S. Brinquedo, desafio e descoberta. AE/ MEC/RJ, 1998.
DOMINGOS, D. C. A.; RECENA, M. C. P. Elaboração de jogos didáticos no processo de ensino e aprendizagem de química: a construção do conhecimento. Rev. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro,v. 15, n. 1, p. 272-281, jan. 2010. KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
67
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 02
NARDIN, I. C. B. Brincando aprende-se química. Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov. br/portals/pde/arquivos/688-4.pdf>. Acesso em: 29 out. 2015.
SANTANA, E. M. A Influência de atividades lúdicas na aprendizagem de conceitos químicos. Universidade de São Paulo, Instituto de Física – Programa de Pós-graduação Interunidades em Ensino de Ciências, 2006. Disponível em: <http://www. senept.cefetmg.br/galerias/Arquivos_senept/ anais/terca_tema1/TerxaTema1Artigo4.pdf>. Acesso em: 29 out. 2015. SANTOS, M. S. M. A. Roleta de iões: uma nova aplicação para o ensino de química. 2004. 134f. Dissertação (Mestrado em Educação Multimídia) – Universidade do Porto, 2004.
68
SILVA, L. M. et al. Master química: a utilização de jogos educativos como motivação para aprender química. IFPB – JP. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, 2009.
SOARES, M. H. F. B. O lúdico em química: jogos e atividades aplicados ao ensino de química. 2004. 71f. Tese (Doutorado em Ensino de Química) – Universidade Federal de São Carlos, São Paulo. 2004. ZANON, D. A. V.; GUERREIRO, M. A. S.; OLIVEIRA, R. C. Jogo didático Ludo Químico para o ensino de nomenclatura dos compostos orgânicos: projeto, produção, aplicação e avaliação. (UNESP) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Araraquara, São Paulo, 2008.
RELATO DE EXPERIÊNCIA 03 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 69-81
Produção de modelos para investigação de representações sub-microscópicas de estudantes do ensino médio sobre mudanças de estado físico da matéria Production of models for investigation of submicroscopic representations of high school students about changes in physical state of matter Tânia Cristina Vargas Sana1, Daisy de Brito Rezende2 e Agnaldo Arroio3
Resumo Este artigo apresenta os resultados de um estudo sobre a percepção de 32 estudantes
do 2º e 3º anos do Ensino Médio, de um colégio particular de São Paulo, quanto à representação sub-microscópica de processos de mudança de estado físico de diferentes
materiais. A sequência didática desenvolvida iniciou-se pela leitura de um texto sobre propriedades da matéria, seguindo-se de um experimento sobre pontos de fusão e ebulição de substâncias puras e misturas. Após discussões em pequenos grupos e no cole-
tivo sobre os resultados coletados, foi proposto que os estudantes elaborassem imagens sub-microscópicas acerca do fenômeno estudado. Nessa fase, além de simples, as representações apresentavam erros conceituais, tais como: a posição espacial das partículas ou a indistinção entre substância e mistura. Na fase subsequente, após algumas
discussões sobre as imagens produzidas, foi elaborada uma animação por grupo, tendo sido identificada uma evolução considerável dos modelos expressos por apresentarem
características mais consistentes cientificamente, como também o discurso dos estu1. Mestre pelo Programa de Pós-graduação Interunidades no Ensino de Ciências – área de Ensino de Química, na Universidade de São Paulo. Professora de Química do Ensino Médio. 2. Licenciada e Bacharel em Química pela USP, Mestre e Doutora em Química Orgânica pelo IQUSP. Professora do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da USP desde 1991.
3. Bacharel em Química pela USP e em Imagem e Som pela UFSCAR, Mestre e Doutor em Físico ‑Química pela USP, Pós-doutorado em Educação pela USP, Livre Docente em Metodologia do Ensino pela Faculdade de Educação da USP. Professor Associado na Faculdade de Educação da USP.
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
dantes tornou-se mais coerente e seguro. Estes resultados sugerem que sejam criadas diferentes oportunidades para que os estudantes construam modelos sobre fenômenos, pois essa atividade favorece a percepção de suas dificuldades conceituais e os ajuda a desenvolver concepções escolares acerca do assunto estudado. Palavras-chave: Imagem, representação, sub-microscópico. Abstract This article reports the results about a study on the perception of high-school senior students concerning representations of the sub-microscopic level model of physical state change process. The participants were 32 students of a private school settled in São Paulo city (Brazil). The developed instructional sequence begins by the reading of a text about the properties of matter, followed by an experimental class on melting and boiling points of pure substances and mixtures. After discussions concerning the collected results conducted both in small groups and with the whole class, it was proposed that students draw up images that represent their understanding of the physical change of phenomenon in the sub-microscopic level. At first, students have difficulties to express their models in the sub-micro domain, and explanations are both simple and the representations present misconceptions such as: the space position of the particles or indistinction between substances and mixtures. In the second phase of the instruction, after some discussion about the drawings previously produced, each group of students is asked to produce an animation concerning the phenomena. It was possible to identify considerable evolution of the expressed mental models because they present more features scientifically consistent, as well as the speech of students has become more coherent and secure. These results suggest that a lot of opportunities are created for students to build and express models of phenomena. This practice besides favor the perception of their conceptual difficulties helps the students to select and to organize their information, contributing to the development of educational concepts on the subject studied closer to those accepted by the scientific community. Key-words: Image, representation, sub-microscopic.
1
INTRODUÇÃO As imagens fazem parte das relações entre os
homens desde os tempos mais remotos, bastando
citar, como exemplo, os diversos sítios em que se encontram pinturas rupestres ou a escrita egípcia
figurativa. Entretanto, mesmo após a introdução da escrita, tal como a conhecemos, as imagens continuaram a ser essenciais na comunicação
humana (Rodrigues, 2007). Atualmente, além de ocuparem um lugar central na sociedade, elas têm sido amplamente utilizadas como recurso discursivo. No que se refere especificamente ao ensino
das Ciências da Natureza, é praticamente consen-
70
sual que o emprego de imagens facilita a explica-
ção de conceitos, constituindo-se em um recurso essencial para a comunicação de ideias científicas (Klein; Laburú, 2000).
A escrita não é mais considerada o modo cen tral de representação nos livros didáticos, ou em materiais produzidos pelos professores. Imagens estáticas (bem como as em movi mento) estão se tornando cada vez mais pro eminentes como portadoras de sentido (Klein; Laburú, 2000, p. 3).
Apesar de serem reconhecidamente importan-
tes para veicular informações através do emprego
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
frequente de novas ferramentas visuais, é preciso
tendem a ater-se apenas ao sensorial quando, por
porque há um grande risco de se introduzirem
de critérios tais como mudança de cor, liberação
enfatizar a necessidade de se atribuírem senti-
exemplo, se utilizam de experimentos em que se
dos às imagens por meio de diversas abordagens,
indica a ocorrência de uma reação química através
concepções erradas caso a ilustração ultrapasse o
de gás ou formação de precipitado, sem problema-
horizonte conceitual do aluno (Ferreira, 2010). As
tizarem as limitações dessa abordagem. Essa pos-
diferentes formas de emprego das representações
tura pode, assim, contribuir para instigar apenas
visuais levarão a desenvolvimentos distintos das
o poder de observação sensorial do estudante, em
funções mentais, as funções dialógicas serão dife-
detrimento de outros níveis de compreensão do
rentes e, portanto, o processo de elaboração de
fenômeno que levariam à ampliação da represen-
significados também será outro (Ferreira, 2010).
Nosso cérebro foi desenvolvido para processar
as informações visuais, organizando-as em mode-
los que reconstroem internamente a realidade
e, assim, atribuindo-lhes sentido (Costa, 2005,
tação do conceito. 2
MODELOS E AS REPRESENTAÇÕES A importância do uso de modelos para o
p. 32). O uso de imagens está, portanto, relacio-
ensino de Ciências tem sido amplamente discutida
que sejam elaborados modelos que representem
los especificamente para o ensino de Química
nado à elaboração de representações internas, ou
seja, por meio da visualização há possibilidade de a realidade para determinada pessoa ou grupo social.
Para muitos pesquisadores da área de Ensino
de Química, um dos grandes desafios no ensino
dessa ciência seria fazer com que os alunos tran-
sitassem entre os três componentes do chamado triângulo de Jonhstone (Ferreira, 2010).
De acordo com Johnstone (2000), haveria um
entendimento completo dos fenômenos químicos quando ocorre a integração dos três níveis em que se organizaria o conhecimento químico: o nível
macroscópico, referente aos fenômenos, ao que é observável, mensurável; o nível microscópico (ou
sub-microscópico), ao não observável, aos mode-
los atômico-moleculares; e, por fim, as representações simbólicas, equações e símbolos que auxiliam no entendimento da Química.
Kosma e Russel (1997) afirmam que, mais do
que outras ciências, a compreensão da Química
baseia-se em atribuir sentido ao invisível e intocável, ou seja, muito da compreensão da Química
ocorre em um nível molecular que não é acessível à percepção direta; no entanto, os professores
na literatura, sendo que muitas dessas pesquisas mostram a importância da construção de mode-
(Ferreira; Justi, 2008; Kuhn, 2007; Greca; Moreira,
1997; Johnson-Laird, 1983; Norman, 1983; Borges, 1997).
Borges (1997) define modelo, de forma sim-
ples, como sendo algo que existe na mente de
alguém, enquanto Johnson-Laird (1983) sugere que as pessoas raciocinam através de modelos mentais.
Moreira (1996) ressalta que os modelos men-
tais são representações um tanto abstratas e que, no geral, não retêm aspectos específicos de um
objeto ou fenômeno. Propõe que esses modelos
sejam representações dinâmicas manipuláveis mentalmente para explicar determinado fenô-
meno sendo que, embora criados para resolver uma situação específica, podem ser úteis uma vez
e serem armazenados, para serem recuperados da memória de longa duração,4 quando necessário.
4. Na psicologia cognitiva, a Memória de Longa Duração é muito importante, porque está diretamente relacionada ao processo de aprendizagem, pois a nova informação precisa ser classificada, organizada, conectada e armazenada com a informação que já existe na Memória de Longa Duração, enquanto, na Memória de Curta
71
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
Entretanto, não há uma definição geral, ou
Quando o modelo consensual é trabalhado e aceito
al,, 1997) que visou discernir o sentido do termo
passa a ser um modelo histórico. Ainda segundo
única, para modelo mental na literatura. Assim, em um trabalho de revisão da literatura (Krapas et
modelo em uma série de trabalhos referentes à Educação em Ciências, analisaram-se 130 artigos, tendo sido construídas cinco categorias para as 93 referências feitas ao termo modelo, como mostrado no Quadro 1.
Quadro 1. Categorias para modelo na literatura, conforme Krapas et al. (1997). • Modelo mental: modelo pessoal, construído pelo indivíduo e que pode ser expresso de diferentes formas; • Modelo consensual: modelo formalizado e compar tilhado por um grupo social (também referido como representação social); • Modelo pedagógico: modelo construído com o pro pósito de promover a educação, isto é, o processo de transformação de conhecimento científico em conhecimento escolar; • Meta-modelo: modelo construído com o propósito de compreender/explicar o processo de construção e funcionamento de modelos consensuais ou de modelos mentais; • Modelagem como objetivo educacional: enfatiza a promoção da competência em construir modelos como propósito central do ensino de Ciências.
O trabalho de Gilbert (2004) acrescenta algu-
mas categorias ao que havia sido proposto por Krapas et al. (1997). Assim, aponta que, embora
o modelo mental de um indivíduo seja pessoal e inacessível para outras pessoas, ao ser exteriori-
zado, sendo chamado de modelo expresso, pode ser submetido a um grupo social, por exemplo, um grupo de alunos. Quando aceito pelo grupo,
torna-se um modelo consensual (vide Quadro 1).
Duração, a informação precisa ser ensaiada ou repetida para se manter nessa posição (Boruchovitch, 1999). Entendemos que a aquisição de um conhecimento sólido envolve que as informações recebidas permaneçam na Memória de Longa Duração, pois assim, sempre que requerido, ela poderá ser recrutada, tanto para aquisição de novos conceitos como para a reformulação deles, quando necessário.
72
pela comunidade científica é, então, denominado modelo científico que, por sua vez, se substituído,
Gilbert (2004), existem versões simplificadas
de modelos científicos e históricos, as quais ele
chama de modelos curriculares. A partir desses, para apoiar os processos de ensino e aprendiza-
gem, podem ser criados modelos para o ensino, que envolvem analogias como, por exemplo, o uso
do sistema solar para explicar o modelo atômico de Rutherford.
Não obstante as diferentes designações, é
amplamente consensual ser essencial o uso de modelos para a construção do conhecimento científico. Embora sua condição epistemológica esteja
aberta a debates, os modelos funcionam como
uma ponte entre a teoria científica e a realidade em que vivemos (Gilbert, 2004).
Atualmente, vários pesquisadores têm aban-
donado a ideia de que haveria isomorfismo entre
as representações externas e os modelos construídos mentalmente por uma pessoa, ou seja,
as representações internas (Ferreira; Arroio; Rezende, 2011). Acreditamos que as representações internas sejam construídas a partir de
algo visualizado, imaginado ou ouvido e que são criadas ao se internalizarem características, ima-
gens ou sensações associadas a conceitos, sendo, portanto, subjetivas (idiossincráticas), o que não implica em serem não compartilháveis e, portanto, inalteráveis por interação com o grupo social.
No presente artigo, considera-se que represen-
tações internas sejam modelos mentais, enquanto
as representações externas são uma forma de expressão das representações internas, não se constituindo necessariamente em cópias fiéis das representações criadas mentalmente.
As pessoas, estudantes, professores ou cien-
tistas, produzem modelos acerca de um determinado conceito, ou seja, elaboram modelos com o
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
objetivo de explicar fenômenos. O que os diferen-
cia é sua complexidade, mas, segundo Norman
(1983), independente de quem os crie, os modelos são incompletos, instáveis, têm fronteiras indefi-
nidas e exprimem as crenças das pessoas sobre o assunto. Porém, Borges (1997) ressalta as carac-
terísticas comuns aos modelos, não obstante sua subjetividade ou acepção teórica:
• diferem de uma representação de infor-
mações isolada sobre um determinado sistema por serem estruturas mais elaboradas;
• possuem diferentes tipos de informações sobre o sistema, seu conteúdo, seu funcionamento e a razão para um dado comportamento;
• envolvem um grau de sistematicidade e coerência determinado.
Ainda segundo Borges (1997), um mesmo
modelo mental pode ser coerente para alguém e
incoerente para outra pessoa, pois ele depende do grau de conhecimento do indivíduo sobre o
fenômeno/conceito representado e das ideias construídas ao longo de sua vida social, dentre outros fatores. Ou seja, o modelo mental elabo-
rado pela pessoa está relacionado a sua vivência e
seus conhecimentos prévios, sendo muito comum o apoiar-se em analogias para a construção do
modelo, provavelmente devido às associações analógicas estarem enraizadas desde muito cedo (Gentner, 1983). Ao nos depararmos com algo
novo, intuitivamente o relacionamos ao já conhecido, que servirá como referência para explicar aquilo que ainda não se sabe.
Um modelo pode ser definido como uma repre sentação de um objeto ou uma ideia, de um evento ou de um processo, envolvendo analo gias. Portanto, da mesma forma que uma ana logia, um modelo implica na existência de uma correspondência estrutural entre sistemas dis tintos (Borges, 1997, p. 71).
3
O USO DE MULTIMÍDIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS Embora muitas pesquisas na área de ensino
de Ciências tenham valorizado o emprego de diferentes recursos tecnológicos para uma aprendiza-
gem significativa (Mendes, 2010; Arroio; Giordan,
2006; Mayer, 2001), é importante enfatizar que
sua forma de aplicação é mais importante do que a própria ferramenta.
Uma das acepções para o termo multimídia é
a de um sistema que combina som, imagens está-
ticas, animação, vídeo e textos, com funções educativas, dentre outras. Nessa mesma concepção,
Mayer (2001)5 afirma que multimídia é a apresen-
tação simultânea de palavras e imagens, podendo
as palavras ser escritas e faladas e as imagens ser estáticas ou dinâmicas. Nesse contexto, Mayer
(2001) desenvolveu a teoria da aprendizagem
multimídia, que tem como base três pressupostos: • o pressuposto do canal duplo, segundo o
qual o ser humano possui dois canais de processamento de informações, o visual e o auditivo;
• o pressuposto da capacidade limitada,
em que se admite capacidades diferenciadas de processamento de informação para cada canal;
• o pressuposto da aprendizagem ativa, segundo o qual a aprendizagem requer,
essencialmente, o processamento cognitivo em ambos os canais.
Após várias pesquisas envolvendo o uso
da abordagem multimídia, Mayer propôs ser o ambiente interativo multimodal a melhor forma de
construção do conhecimento (Mayer, 2007); esse
5. Richard Mayer é professor de Psicologia da Universidade da Califórnia e tem dirigido sua pesquisa à aprendizagem multimídia, no qual estabelece que pessoas aprofundem mais seus conhecimentos a partir de imagens e palavras, do que apenas palavras isoladas, como é geralmente feito nas escolas atualmente.
73
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
ambiente é caracterizado quando o que acontece
(Mayer, 2007), como sumariado na Figura 1, em
dando em um único sentido, como ocorre quando
Em síntese, a utilização de diferentes ferra-
depende das ações do aluno, ou seja, é um ambiente
em que a comunicação é multidirecional, não se
o professor detém toda a ação, tanto na sala de aula como no uso de ferramentas multimídia. Em um
ambiente não interativo de aprendizagem multimodal, uma mensagem multimídia é apresentada
de forma pré-determinada, independente de qual-
quer movimento do aluno durante sua aprendizagem. Nessa perspectiva, Mayer (2007) distinguiu duas visões de aprendizagem: aquisição de informação e construção do conhecimento. A aqui-
sição de informação ocorre quando há adição de
informações à memória do aluno, por exemplo, a demonstração de uma animação narrada ou a lei-
tura/lição de um livro didático. Na visão da cons-
trução do conhecimento, a aprendizagem envolve a
construção de uma representação mental, processo durante o qual o aluno seleciona, organiza e integra
novas informações ao conhecimento já existente
Mídia instrucional
Memória sensorial
Narração Som
Auditivo Visual
Texto Imagens
Tátil
que se apresenta um esquema do modelo de aprendizagem em um ambiente interativo multimodal.
mentas nos processos de ensino e aprendizagem, de acordo com o proposto na literatura (Mayer,
2007), deve favorecer a construção do conheci-
mento quanto à produção de modelos. Assim, a
partir da expressão de modelos mentais e sua socialização, o estudante pode construir um novo
modelo, através da produção de uma animação,
ou seja, Mayer (2007) propõe a construção do conhecimento a partir da manipulação autônoma
do estudante, seja através de uma animação ou de outra ferramenta multimídia.
Neste contexto, o presente artigo apresenta
uma investigação sobre a proposta da constru-
ção do conhecimento utilizando a produção de
uma animação a partir de modelos consensuais (modelos aceitos pelo grupo). Nossa proposta está representada na Figura 2, que foi estruturada com
Memória de trabalho
Atenção
Seleciona
Seleciona Olfativo Paladar
Motivação e afeto Metacognição Fonte: Adaptação de Mayer (2007).
74
Conhecimento semântico
Organiza
Percepção
Figura 1. Modelo de aprendizagem com a mídia.
Integra
Memória de longo prazo
Recupera
Conhecimento episódico
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Experimento (Macro)
Modelo mental (representação interna)
Modelo expresso (representação externa) Socialização do modelo
Modelo consensual
Reconstrução do modelo Figura 2. Proposta da elaboração do modelo.
base na literatura sobre aprendizagem em um
ambiente interativo multimodal e concepções de
sobre a relação entre estados físicos e as intera-
OBJETIVOS
vocos conceituais propositais, com o objetivo de
modelo (Mayer, 2007; Gilbert, 2004). 4
O objetivo deste artigo é o de relatar uma
investigação sobre as representações sub-micros-
cópicas de estudantes do Ensino Médio sobre um experimento de mudança de estado físico da maté-
ria, mostrando se houve alteração desse modelo durante o processo de intervenção didática, que foi finalizado pela produção de uma animação em vídeo pelos alunos sobre seu modelo consensual. 5
própria6, abordavam-se alguns conceitos básicos
METODOLOGIA
A abordagem da pesquisa é a de uma investi-
gação qualitativa, sendo as informações obtidas
por meio de relatórios, representações pictóricas e entrevistas que foram submetidas a técnicas de
análise de conteúdo (Bardin, 2000). O grupo par-
ticipante do estudo foi de 32 estudantes do 2º e 3º anos do Ensino Médio, de uma escola particular da
cidade de São Paulo, que se prontificaram espon-
taneamente a participar da pesquisa no contra-turno do período escolar.
Foram realizados, durante um mês, cinco (5)
encontros, de aproximadamente 50 minutos cada. No primeiro, feito com o conjunto dos estudantes,
fez-se a leitura de um texto denominado “Por que sentimos o cheiro?”. Neste texto, de elaboração
ções moleculares, porém de uma forma não tão imediata; no texto havia, também, alguns equí-
verificar, através das respostas ao questionário e da análise dos desenhos propostos, algumas con-
cepções dos alunos sobre o tema materiais. Assim, a partir do texto, eles responderam algumas ques-
tões acerca de substâncias e misturas para inves-
tigarmos seus conceitos sobre esse assunto, sem que as perguntas fossem facilmente respondidas por jargões escolares. Em outro encontro, foram
constituídos 13 grupos, formados pelos próprios
estudantes, sendo que em 7 dos grupos havia dois integrantes enquanto, nos 6 demais, havia três. Essa formação foi aleatória e devida à afinidade
entre os alunos. Em seguida, foram realizados dois experimentos, abordando ponto de fusão da água
e da mistura água/glicerina e ponto de ebulição da
parafina e da naftalina, com o objetivo de que os alunos observassem e registrassem os diferentes comportamentos dos materiais.
Em encontro subsequente, e após a atividade
no laboratório, os estudantes responderam indi-
vidualmente a algumas questões relacionadas ao experimento e foi feita uma discussão geral
sobre suas respostas. Em seguida, foi proposto que os alunos, nos mesmos grupos em que fizeram o experimento, produzissem, em cartolina,
6. Adaptado de <https://angelitascardua.wordpress.com/ os-sentidos/olfato/>.
75
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
imagens, no domínio sub-microscópico, sobre o
misturas. Foi observado que, para o ponto de ebu-
menos ambígua das imagens produzidas, foram
entrevistas e os grupos afirmaram terem feito
processo de mudança de estado físico de qualquer substância ou mistura. Para uma interpretação
feitas entrevistas com os grupos, para que eles
pudessem explicitar suas representações. Em um
próximo encontro, houve exposição e discussão entre os grupos, direcionadas pela professora,
sobre algumas representações produzidas, com
o objetivo de interação e reavaliação dos modelos dos estudantes. Em seguida, foi pedido que os gru-
pos produzissem um vídeo de animação desses modelos, referente aos fenômenos observados. Usamos a animação como outra forma dos estu-
dantes expressarem suas representações pois, como afirmado por Gibin e Ferreira (2010), o uso
de animações como ferramenta metodológica para a investigação de modelos é interessante,
devido às animações serem similares aos modelos cinemáticos/dinâmicos que são processados na
mente do estudante. Novamente, para um melhor entendimento, foi feita uma entrevista gravada
com cada um dos grupos, para que os integrantes explicassem suas representações. 6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A princípio, quando foi pedido para os estu-
dantes produzirem imagens sub-microscópicas sobre mudança de estado físico, eles se apresentaram muito perdidos, indicando que não faziam
ideia de como expor essas imagens, mas, aos poucos, foram se familiarizando com essa possibili-
dade. Isso indica que representações sub-microscópicas não são exploradas como deveriam, pois a
falta de intimidade que todos demonstraram em relação ao domínio sub-micro foi muito grande,
como se isso quase não tivesse feito parte de sua vida escolar.
No total, foram produzidas 13 cartolinas,
sendo uma por grupo, todas abordando ponto de
fusão e ponto de ebulição de substâncias puras ou
76
lição, 10, dos 13 grupos, escolheram a substância
água para a representação. Isso foi ressaltado nas essa escolha pela maior facilidade de apresenta-
ção da substância, talvez por fazer parte de sua vida cotidiana. Já no ponto de fusão, houve uma
maior variedade na escolha do representado: das 13 imagens, somente 5 utilizaram a água. Na ani-
mação, houve produção de 11 vídeos, pois houve a fusão de 4 grupos em 2, devido à falta de tempo de alguns integrantes para dedicarem-se à montagem da animação. No total, das 11 animações,
9 utilizaram água na representação; novamente, foi dito na entrevista que essa escolha deveu-se à facilidade de se elaborar a imagem sub-microscó-
pica, o que também sugere a falta de intimidade
dos alunos quanto à expressão de seus modelos mentais no domínio sub-microscópico, ao longo
de sua escolarização em Química, apesar do que se sugere na literatura quanto ao domínio dessa
linguagem para a compreensão desse campo do conhecimento (Johnstone, 2000).
A partir da análise das representações dese-
nhadas em cartolinas, vimos que, mesmo com a
dificuldade inicial, os estudantes apresentaram modelos coerentes, porém com algumas falhas
conceituais. Por exemplo, a posição espacial das partículas ou a indistinção entre substância e
mistura, na representação. É importante desta-
car que a linguagem científica existe, mas, em alguns momentos, é usada de forma desconexa.
Conclui-se, portanto, que há necessidade de refletir sobre a apropriação da linguagem científica
pelos alunos, desenvolvendo práticas que mostrem sua importância no ensino de Ciências, já
que, para muitos pesquisadores, a aprendizagem está relacionada à apropriação desse discurso.
No geral, comparando as imagens da cartolina
com as animações produzidas pelo grupo, juntamente com as análises das entrevistas, houve uma evolução nas representações na maioria dos gru-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
pos, pois, em torno de 64% produziram imagens
quanto a, naquele momento, estar representando
Neste artigo, selecionamos, arbitrariamente, 2
Aluno ER: “Quando a gente pega no estado
mais consistentes no domínio sub-micro, como, também, em suas argumentações nas entrevistas.
produções para discussão, a título de exemplo. O
grupo 1 indicou, na cartolina, tanto o macro como o sub-micro conforme mostrado na Figura 3.
uma mistura.
sólido, as forças intermoleculares são mais apropriadas, ajeitadas, organizadas, como você tá vendo aqui [mostra a imagem]”
Percebemos que ele sabe das forças inter-
moleculares, mas as utiliza de forma confusa. Provavelmente, deve ter ouvido esses termos em suas aulas associados à forma organizacional
das moléculas nos diferentes estados físicos sem, entretanto, sequer problematizar o fato do gelo
ser menos denso do que a água líquida, por exem-
plo. Esse exemplo, por si só, sugere fortemente
a importância de se desenvolver um ensino de Ciências mais problematizador e menos dogmáComentário: No ponto de ebulição, utilizou a água, representando-a por bolinhas; na fusão, representou manteiga derretendo, sendo que, no sub-micro, a mistura foi representada também com bolinhas, não havendo distinção entre substância pura e mistura. Os alunos desse grupo procuraram indicar a distância entre as partículas nos diferentes estados físicos, como também que as partículas estão em movimento, porém somente no estado gasoso.
Figura 3. Representação no domínio sub-micro da transformação de água/manteiga, feita por um dos grupos.
Este grupo, durante a entrevista para a expli-
cação das imagens, citou as forças intermoleculares, o que não ocorreu com quaisquer dos outros grupos.
Aluno ER: “No estado líquido, as moléculas ficam mais soltas, assim... As forças intermoleculares são mais fracas, e quando você passa para o vapor, as forças intermoleculares já não existem mais”.
Na explicação acerca do ponto de fusão, o
aluno cita, novamente, as forças intermoleculares,
porém se perde no que se refere a alguns termos científicos, além de não ressaltar informações
tico em nossas escolas para que o aluno possa vir a desenvolver algum tipo de raciocínio crítico.
Para isso, a linguagem científica é uma pre-
ocupação no ensino de Ciências, já que perce-
bemos que os termos até existem na linguagem dos estudantes, porém eles não necessariamente sabem o significado da palavra no contexto da Química.
Entretanto, este aspecto não é de somenos
importância. O conhecimento científico está
relacionado à linguagem científica, sendo assim, dominá-la, tanto na forma oral, quanto na forma
escrita, é uma competência essencial para a prática científica e o seu aprendizado (Villani;
Nascimento, 2003). Para Lemke (1997), aprender ciência significa se apropriar de seu discurso, ou seja, compreender a linguagem empregada pela
comunidade científica, ainda que transformada em conhecimento escolar.
Na animação produzida por este grupo, a
imagem sub-microscópica não apresentou uma
melhora acentuada, porém, a partir dos argumen-
tos expostos na entrevista, percebemos a evolução conceitual do grupo.
77
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
Aluno PR: “Nós escolhemos demonstrar
no ponto de fusão como no de ebulição, utilizou-
estado sólido, líquido e gasoso. Mas, nor-
do mar, conforme a Figura 4.
algo geral, porque normalmente falamos da água, mas toda substância tem, no
malmente, a gente as encontra no estado sólido”.
-se a representação da água, porém, na ebulição, tratava-se de uma mistura, pois indicaram a água
A princípio, o grupo diz que demonstrou a
mudança de estado de ‘algo geral’, porém, em seguida, especifica que é sobre substância. Então,
aqui, se percebe que, para eles, ainda permanece
a ideia de que substância e mistura apresentam o mesmo comportamento durante a mudança de estado físico, também não farão diferença entre
esses materiais na perspectiva do domínio sub-micro.
Aluno PR: “Se começar a colocar temperatura... esquentando, a força intermolecular
dela vai diminuindo, isso vai fazendo com
que ela mude de estado físico. Se você perceber, elas vão se espalhando e, quando
chega no líquido, elas ficam menos organizadas”.
Nesse discurso, já não ocorrem confusões em
relação às forças intermoleculares e à organização
Figura 4. Representação no domínio sub-micro da transformação de água/manteiga, feita por um dos grupos.
Nenhum grupo dessa pesquisa, em suas repre-
molecular, como na primeira entrevista. Também
sentações na cartolina, considerou a formação do
intermolecular (embora com alguma incorreção
pria apostila utilizada no colégio, existem muitas
houve alguma referência à quantidade de ener-
gia envolvida no processo, relacionando-a à força conceitual: as forças não diminuem, sua efetivi-
dade sim), caso não citado anteriormente. Então,
pode-se depreender que este discurso apresenta
retículo cristalino entre as moléculas de água no
estado sólido, o que é até esperado, já que, na próimagens que somente ressaltam o distanciamento
das partículas nos diferentes estados físicos da matéria, não esclarecendo o comportamento dis-
uma linguagem mais robusta e coesa, expondo
tinto da água, por exemplo, cuja densidade no
estrutura particular e características específicas,
Na entrevista, o aluno informa que há um des-
melhor a forma de pensar do estudante, mostrando que a linguagem científica possui uma
indissociáveis do próprio conhecimento cientí-
fico, estruturando e dando mobilidade ao próprio pensamento científico (Villani; Nascimento, 2003) No grupo 2, também houve a inserção de ima-
gens macroscópicas e sub-microscópicas e, tanto
78
Comentário: Foi usada a representação de bolas, sendo que, no estado sólido/líquido, indica o distanciamento das moléculas, porém não elucida que as moléculas de água no estado sólido encontram-se dispostas simetricamente em uma estrutura em que as pontes de hidrogênio formam um retículo cristalino. O átomo de oxigênio de cada molécula de água está rodeado de átomos de hidrogênio de outras moléculas, em uma disposição tetraédrica.
estado sólido é menor do que no estado líquido (o gelo flutua na água líquida).
prendimento das moléculas no processo de fusão, o que nos leva a crer que ele entende que há inte-
rações moleculares fortes, mas, em seu discurso, não cita quaisquer dos aspectos relativos a forças intermoleculares ou à formação de um retículo,
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
embora utilize o termo correto em relação à substância representada, no caso: a molécula.
Aluno JR: “Aqui está no estado físico sólido, mas, com o aumento da temperatura, as
moléculas se soltam um pouco uma das
outras, assim transformando no estado líquido”.
Fato interessante encontrado nessa entrevista
é que, quando indagados para explicar o processo
de ebulição, eles dizem que se basearam no ciclo
da água, conteúdo muito abordado no Ensino Fundamental, mostrando que, para eles, a ima-
gem do ciclo da água faz todo sentido no que diz respeito à mudança de estado físico da água. Isso reforça a ideia de que modelos são formulados a partir da vivência de cada um, ou seja, são formados a partir das ideias construídas ao longo da vida social das pessoas (Borges, 1997).
Aluno JR: “Aqui a gente se baseou no desenho do ciclo da chuva, que tem a evapora-
ção dos rios. Aqui, é a água do mar (mostra
na imagem), que é uma mistura, contendo várias substâncias e que tem as moléculas um pouco mais separadas”.
É importante destacar que, no discurso, é
percebido o uso correto em relação aos termos mistura e substância, e que, quando informam a
mistura, no domínio sub-micro, indicam as diver-
sas substâncias presentes no mar, também com
modelos de bolas, porém com cores distintas em relação à água, assim, as diferenciando.
Profª: “E o que seriam essas bolas de cores diferentes?”
Aluno JR: “São os átomos... Como posso falar...
em seu discurso, quando cita átomos e, em seguida, diz substâncias, adequadamente. No entanto, há a
dúvida sobre se ele realmente sabe a distinção dos termos, ou seja, ele realmente se apropriou desses
termos científicos, ou repassa um discurso ouvido? Vemos, aqui, um importante caminho para pesquisa, porém não entraremos nesse contexto, por não ser nosso objetivo neste momento.
Na animação, vimos uma evolução nas repre-
sentações sub-microscópicas, já que, agora, o grupo informa a formação do retículo cristalino da água
no estado sólido, referindo-se à formação da ligação de hidrogênio, pois, na imagem, há a ligação entre
o hidrogênio de uma molécula (polo positivo) com
o oxigênio de outra (polo negativo) formando uma estrutura rígida de forma hexagonal, fato que não
ocorreu nas imagens da cartolina. Durante a entre-
vista, foi confirmado esse entendimento, porém o aluno indica que a carga do Oxigênio é negativa,
sendo um ânion e o Hidrogênio com carga positiva,
sendo um cátion, embora se saiba que essas cargas
parciais são provenientes da diferença de eletronegatividade entre os átomos envolvidos na ligação,
formando-se moléculas dipolares, não envolvendo formação de íons.
Profª: “A posição dessas moléculas tem algum motivo? Ou é aleatória?”
Aluno ML: “Sim, como a carga do Oxigênio é negativa, o ânion, o Hidrogênio tem uma
carga positiva que é o cátion, o cátion e
o ânion vão estar se atraindo e, logo, o Hidrogênio vai estar do lado do Oxigênio, que é carga negativa, isso ocorre numa ligação de ponte de hidrogênio”.
Gentner (1983) destaca que os modelos mentais
As substâncias, porque como é uma mistura,
geralmente não são precisos, mas o objetivo do uso
Aqui, novamente, o aluno utiliza os termos
retas para que, a partir dessas informações sobre
existem vários tipos de substâncias”.
científicos corretos, inclusive ele se autocorrigiu
da modelagem é capturar o conhecimento do estudante, incluindo, principalmente, as crenças incor-
o modelo expresso, sejam revelados equívocos no
79
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 03
processo de aprendizagem, além de se criarem for-
percebemos que, para esses alunos da pesquisa,
rentemente da entrevista sobre o desenho em car-
Percebemos que as representações expressas
mas ou materiais que minimizem esses erros.
É importante ressaltar que o grupo, agora, dife-
tolina, cita a quantidade de energia envolvida no
processo e que esta, por sua vez, está relacionada às forças intermoleculares e à mudança de estado.
Aluno JR: “As moléculas se movimentam (falando no estado sólido), mas elas não se ‘desgrudam’, porque há uma força intermolecular forte”.
Aluno JR: “Elas recebem uma energia, tor-
nando a força intermolecular mais fraca,
se desestruturando e mudando de estado físico do sólido para o líquido”.
Percebemos que não só esse grupo, mas todos
os estudantes falam sobre forças intermoleculares nos diferentes estados físicos e indicam que
elas são mais fortes no estado sólido e mais fracas
no estado líquido. Embora a força seja a mesma, havendo diferença apenas no aumento da energia cinética das moléculas, que se sobrepõe às forças
intermoleculares permitindo maior liberdade de movimento às partículas, essa concepção alter-
nativa dos estudantes é muito comum, pois, fre-
quentemente, quando esse conteúdo é abordado, o professor o expõe desta mesma forma. 7
CONCLUSÃO No desenvolvimento dessa pesquisa, foi possí-
vel perceber a importância de transitar entre os
diferentes níveis de representação, macroscópico, simbólico e sub-microscópico (Johnstone, 2000), porém percebemos o quão difícil é para os estu-
dantes expressarem (representações externas;
modelos expressos) seus modelos (representações internas; modelos mentais). Concluímos que
isso se deve à pouca utilização e valorização do uso de modelos sub-microscópicos no ensino, pois
80
foi uma grande novidade trabalharem segundo essa perspectiva, ou seja, com modelagem.
no domínio sub-micro, a princípio, eram mais sim-
ples e apresentavam alguns erros conceituais e,
após discussões para a socialização dos modelos expressos através de desenhos na cartolina, houve uma melhora significativa nas representações sub-
-microscópicas expressas através da construção da animação. De fato, além de 64% dos modelos
consensuais apresentarem características mais
consistentes cientificamente, o discurso dos estu-
dantes tornou-se mais coerente e seguro, o que nos mostra a viabilidade dessa estratégia de ensino.
Concluímos que esse sistema de aprendiza-
gem multimodal é importante, pois, com o uso de
diversas formas de abordagem, através de diferen-
tes ferramentas (textos, experimento, imagens),
conseguimos não só alcançar maior interesse dos estudantes – manifestado por suas participações –,
mas, também, percebê-los como participantes ati-
vos e críticos, fazendo parte da construção do seu
conhecimento, ao invés de serem simples ouvintes que absorvem informações.
Por fim, recomendamos o uso mais assíduo
da construção de modelos pelos estudantes, pois
isso faz com que eles selecionem e organizem suas informações, desenvolvendo melhor suas con-
cepções científicas acerca do assunto estudado. Vemos, também, a relevância de pesquisas sobre
a dificuldade dos estudantes do Ensino Médio quanto à exposição das representações sub-
-microscópicas dos fenômenos, pois há um blo-
queio nesse processo, ou seja, por que é tão difícil para alguns alunos construírem uma imagem no
domínio sub-micro? É um problema subjetivo ou está afeto ao próprio contexto social? Portanto, ressalta-se, aqui, que ainda existe muito campo a
ser pesquisado com relação à construção de modelos e, principalmente, sobre o que dificulta que os
estudantes os explorem e os exponham no ensino
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
de Ciências, em particular no ensino de Química.
Esses questionamentos apontam para a grande
viabilidade e necessidade de pesquisas futuras para maiores esclarecimentos desse assunto. Agradecimentos
Aos alunos e alunas participantes dessa pes-
quisa e à CAPES, pela bolsa de mestrado concedida. 8
REFERÊNCIAS
ARROIO, A.; GIORDAN, M. O vídeo educativo: aspectos da organização do ensino. Química Nova na Escola, n. 24, p. 7-10, 2006.
BORGES, A. T. Modelos mentais. In: XII Simpósio Nacional de Ensino de Física, 1997, Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Física, 1997.
BORUCHOVITCH, E. Estratégias de aprendizagem e desempenho escolar: considerações para a prática educacional. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 12, n. 2, p. 361-376, 1999. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.1590/S0102-79721999000200008>. Acesso em: 2 jun. 2015. COSTA, C. Educação, imagem e mídias. São Paulo: Cortez, 2005, p. 198.
FERREIRA, C. R. O. Uso de visualizações no ensino de química: a formação inicial do professor de química. Dissertação (Mestrado), 2010. FERREIRA, P.; JUSTI, R. Modelagem e o “fazer ciência”. Química Nova na Escola, v. 28, p. 32-36, 2008.
FERREIRA, C.; ARROIO, A.; REZENDE, D. B. Uso de modelagem molecular no estudo dos conceitos de nucleofilicidade e basicidade. Quim. Nova, v. 34, n. 9, p. 1661-1665, 2011. GENTNER, D.; STEVENS, A. L. Mental models. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, 1983.
GIBIN, G.; FERREIRA, L. H.; A formação inicial em química baseada em conceitos representados por meio de modelos mentais. Química Nova, v. 33, n. 8, p. 1809-1814, 2010.
GILBERT, J. K. Models and Modelling: routes to more authentic science education. International Journal of Science and mathematics Education, v. 2, p. 115-130, 2004. GRECA, I. M.; MOREIRA, M. A. Un estudio piloto sobre representaciones mentales, imágenes, proposiciones y modelos mentales respecto al concepto de campo electromagnético en alumnos
de física general, estudiantes de postgrado y físicos profesionales. Investigações em Ensino de Ciências, v. 1, n. 1, p. 95-108, 1996.
JOHNSON-LAIRD, P. Mental models. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983.
JOHNSTONE, A. H. Chemical education research: where from here? University Chemistry Education, v. 4, n. 1, p. 34-38, 2000.
KLEIN, T. A. S.; LABURÚ, C. E. Imagem e Ensino de ciências: análise de representações visuais sobre DNA e biotecnologia segundo a retórica da conotação. Disponível em: <http://posgrad. fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1639.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2014. KOZMA, R. B.; RUSSELL, J. Multimedia and understanding: expert and novice responses to different representations of chemical phenomena. Journal of Research in Science Teaching, Malden Ma, p. 949-968. 27 jun. 1997.
KRAPAS, S. et al. Modelos: uma análise de sentidos na literatura de pesquisa em ensino de ciências, 1997. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ public/ensino/vol2/n3/krapas.htm>. Acesso em: 2 jun. 2015. LEMKE, J. L. Aprender a hablar ciencia. Buenos Aires: Paidós, 1997.
MAYER, R. The promise of multimedia learning: using the same instructional design methods across different media. Learning and Instruction, Pergamon, v. 13, p. 125-139, 2003.
MENDES, M. A. A. Produção e utilização de animações e vídeos no ensino de biologia celular para a 1ª série do ensino médio. Dissertação (Mestrado) – Brasília, 2010. MOREIRA, M. A. Modelos mentais. Investigações em Ensino de Ciências, v. 1, n. 3, p. 193-232, 1996.
MORENO, R.; MAYER, R. Interactive multimodal learning environments. Educational Psychology Review , v. 19, n. 3, p. 309-326, 2007. NORMAN, D. A. Some observations on mental models. In: GENTNER, D.; STEVENS, A. L. (Ed.). Mental models. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1983, p. 6-14.
RODRIGUES, R. C. Análise e tematização da imagem fotográfica. Ciência da Informação, Brasília, v. 3, n. 36, p. 67-76, 2007.
VILLANI, C. E. P.; NASCIMENTO, S. S. A argumentação e o ensino de ciências: uma atividade experimental no laboratório didático de física do ensino médio. Investigações em Ensino de Ciências, v. 8, n. 3, p. 187-209, 2003.
81
RELATO DE EXPERIÊNCIA 04 | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 82-96
Projeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’: apontamentos iniciais Thematic project ‘Chemistry and Energy Towards Sustainable Development’: initial appointments Fernanda Welter Adams1, Dayane Graciele dos Santos2 e Simara Maria Tavares Nunes3
Resumo O uso de metodologias diferenciadas permite tornar as aulas de Química mais atra-
tivas e promover melhorias no processo de ensino/aprendizagem. Assim, buscando propiciar a construção ativa do conhecimento, as bolsistas do subprojeto de Química
do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão (UFG/RC) desenvolveram o Projeto Temático ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’. Uma das ativida-
des propostas foi a elaboração/desenvolvimento de aulas contextualizadas/problematizadas denominadas de ‘Sensibilização’. Estas abordaram a temática ‘Energia
e Sustentabilidade’ e o foco das aulas foi a conscientização para o uso de Energias Sustentáveis. Assim, buscou-se propiciar que os discentes se tornassem sujeitos ativos
na construção do conhecimento. Para avaliar o impacto deste Projeto na formação dos
alunos foi utilizada a análise qualitativa, tendo-se os questionários como instrumento
1. Unidade Acadêmica Especial de Educação/Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão; Licenciada em Química. 2. Unidade Acadêmica Especial de Educação/Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão; Mestre em Química. 3. Unidade Acadêmica Especial de Educação/Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão; Doutora em Química.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
de coleta de dados. Avalia-se que as aulas contextualizadas serviram como metodologia facilitadora do processo de ensino/aprendizagem, pois permitiram a formação de cidadãos autônomos e críticos. Palavras-chave: Contextualização, projeto temático, metodologias diferenciadas. Abstract The use of different methodologies makes the Chemical lessons more attractive and promotes improvements in the teaching/learning process. Seeking to promote the active construction of knowledge, scholarship holders of the subproject of Chemistry of the Institutional Program of Teaching Initiation Scholarships (Pibid), of the Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão (UFG/RC) developed the Thematic Project ‘Chemistry and Energy towards sustainable development’. One of the proposed activities was the preparation/development of contextualized/ problematized lessons called ‘Sensitization’. These lessons addressed the theme ‘Energy and Sustainability’ ant the focus was on awareness for the use of Sustainable Energy. We sought to promote that the students become more active in knowledge construction. To assess the impact of this project on student’s formation we used the qualitative analysis, having the questionnaires as a tool for data collection. It was estimated that the contextualized methodology served as facilitator of the teaching/learning process because allowed the formation of autonomous and critical citizens. Key-words: Contextualization, thematic project, differentiated methodologies.
1
INTRODUÇÃO A educação deve acompanhar as constantes
mudanças que a sociedade enfrenta, buscando
motivar os alunos para o aprendizado. Acredita-se que uma forma de tornar as aulas mais dinâmi-
cas e atrativas é a promoção da diversificação dos
recursos didáticos e das metodologias de ensino, fazendo uso, por exemplo, da contextualização do
conhecimento. A contextualização vem ao encontro do desenvolvimento do aluno tanto cogniti-
vamente quanto socialmente, buscando formar um cidadão crítico/ativo na sociedade, torna o conhecimento científico mais significativo e atra-
tivo, aguçando o senso crítico da realidade, pois o aluno transfere o conhecimento científico para as situações reais.
Uma estratégia de ensino que busca introdu-
zir a contextualização em sala de aula é o trabalho
com Projetos Temáticos; esta metodologia procura superar a maneira tradicional de se ensinar
a Química. Do ponto de vista de aprendizagem
no trabalho por projeto, Prado (2001) destaca a
possibilidade de o aluno contextualizar aquilo que aprende, bem como estabelecer relações signifi-
cativas entre conhecimentos. Nesse processo, o aluno pode ressignificar os conceitos e as estratégias utilizados na solução de um problema do
cotidiano inserido no projeto e, com isso, ampliar a sua aprendizagem.
Pensando em desenvolver conhecimentos e
atitudes como a criticidade, resolução de problemas, autonomia e pensamento reflexivo, as
bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência do Curso de Licenciatura
em Química da Universidade Federal de Goiás/ Regional Catalão (Pibid/Química/UFG/RC) ela-
boraram um Projeto Temático. Este objetivava
incentivar os alunos a compreenderem as diversas fontes de energias renováveis e também o papel da Química dentro desta temática. O projeto foi
denominado ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’.
83
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
Assim, relatar-se-á a experiência na elabo-
ração/desenvolvimento das aulas contextualizadas/expositivo/dialogadas
denominadas
de
‘Sensibilização’ com alunos do segundo ano do
Ensino Médio de uma escola pública do interior
do estado de Goiás, que teve como tema ‘Energia e Sustentabilidade’. Neste trabalho, através de uma pesquisa qualitativa/quantitativa, avaliou-se o impacto destas aulas contextualizadas na cons-
trução do conhecimento dos alunos e na formação integral do sujeito. Este trabalho permite ainda a reflexão do uso da contextualização como um
recurso metodológico facilitador dos processos de ensino e aprendizagem, pois acredita-se que esta promova uma aprendizagem diferenciada e
efetiva. Buscou-se, ainda, configurar os Projetos
Temáticos como uma metodologia diversificada que busca a formação de cidadãos autônomos e críticos, pois acredita-se que eles permitem que os educandos se motivem pelo aprendizado. 2
MARCO TEÓRICO
A partir da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) (Brasil, 1996), a contextualização do Ensino ganhou prioridade na
Educação. Assim, as Leis e subsídios Educacionais
Em 2002 os PCN+ (Orientações Educacionais
Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais) (Brasil, 2002) também discutiram o
uso da contextualização. Para estes, o ensino de Química contextualizado deve contribuir para
dar significado aos conteúdos. Para tal, o ensino deve enfatizar situações problemáticas reais, de forma crítica, possibilitando ao aluno desenvolver
conhecimentos e atitudes como analisar dados, informações, argumentar, concluir, avaliar e tomar decisões a respeito da situação proposta. Estes
ainda enfatizam que as escolhas dos conteúdos e temas devem favorecer a compreensão do mundo natural, social, político e econômico.
As Orientações Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio (OCN’s) sugerem a
contextualização de temas socialmente relevan tes para o ensino de Química, defendendo uma abordagem de temas sociais (do cotidiano) que não sejam pretensos ou meros elementos de motivação ou de ilustração, mas efetivas possibi lidades de contextualização dos conhecimentos químicos, tornando-os socialmente mais rele vantes (Brasil, 2006, p. 117).
Assim, contextualizar não é apenas ligar o coti-
posteriores têm enfatizado a importância da con-
diano com os conhecimentos químicos usando a
afirmam que a partir da contextualização, os alunos
alunos e o contexto no qual os mesmos estão
textualização e orientado para a compreensão dos
conceitos para uso no cotidiano. Tais documentos
podem construir/reconstruir conhecimentos que permitam uma leitura mais crítica do mundo físico,
o que deve possibilitar aos mesmos tomar deci-
sões fundamentadas em conhecimentos científicos,
favorecendo o exercício da cidadania (Brasil, 1999). No que tange ao ensino de Química, os PCN’s
sugerem que
se utilize a vivência dos alunos e os fatos do cotidiano, a tradição cultural, a mídia e a vida escolar, de forma a construir os conhecimentos químicos que permitam refazer essas leituras de
84
mundo, agora com fundamentação também na ciência (Brasil, 1999, p. 242).
simples exemplificação. A contextualização deve
ter como ponto de partida as experiências dos inseridos. Mas, para esta metodologia atingir o
objetivo de promover a motivação e o protagonismo do aluno, deve estar associada a um tema
gerador presente na realidade social do aluno. Assim, a temática deve apresentar aos alunos uma
situação-problema embasada nos conhecimentos químicos, estimulando os alunos a pensarem e buscarem uma solução para o problema proposto. Os PCN’s (Brasil, 1999) enfatizam que as situa-
ções problemáticas facilitam o desenvolvimento de capacidades como interpretar e analisar dados,
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
argumentar, tirar conclusões, avaliar e tomar
Federal de Goiás/Regional Catalão (UFG/RC)
vida dos educandos, também são propostos por
de Um Desenvolvimento Sustentável’. Uma das
decisões.
Os temas geradores, extraídos da prática de
Paulo Freire (1987); o autor afirma que os temas geradores surgem de uma investigação temática,
por meio de um método que objetiva propor aos indivíduos dimensões significativas de sua reali-
dade, contribuindo para os sujeitos pensarem o
mundo, no mundo e com o outro. Freire (1987) descreve como sendo os temas geradores aqueles
que independentemente de sua natureza podem ser desdobrados e compreendidos em demais temas, proporcionando a construção de conheci-
mento e atitudes para explicar o mundo com uma consciência crítica, transcendendo a ingênua. A
investigação temática se faz, assim, num esforço
comum de consciência da realidade e de autoconsciência que a inscreve como ponto de partida
do processo educativo ou de uma ação cultural de caráter libertador (Freire, 1987).
A importância do estabelecimento de temas
geradores no âmbito escolar consiste em auxiliar
os professores na identificação dos conhecimen-
tos de que os estudantes precisam se apropriar para compreender os fenômenos, situações e temas da perspectiva do conhecimento cientí-
fico (Delizoicov; Angotti; Pernambuco, 2002). Acredita-se que os temas geradores relacionados a situações problemáticas vivenciadas pelos alunos
podem permitir a reestruturação de um currículo
que possa contribuir para a melhoria do processo de ensino/aprendizagem dos educandos. 3
METODOLOGIA
Pensando em promover a motivação e a cons-
trução ativa de conhecimentos e atitudes com
educandos do segundo ano do Ensino Médio, as bolsistas de iniciação à docência (ID) do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(Pibid) do curso de Química da Universidade
propuseram o desenvolvimento de um Projeto Temático denominado ‘Química e Energia em Prol
atividades propostas neste projeto foi a elaboração/desenvolvimento de aulas contextualizadas/
problematizadoras que abordavam a temática ‘Energia e Sustentabilidade’. Assim, o foco deste
projeto foi a conscientização para o uso de uma Energia Sustentável e limpa, de modo que os alu-
nos fossem incentivados a buscar soluções para a problemática de uma futura escassez energé-
tica, conscientes de todos os processos Químicos envolvidos em cada etapa para a produção da energia.
A escolha desta temática se deu em virtude de
esta já ser uma temática trabalhada na própria
escola (prevista no Projeto Político Pedagógico da
mesma) e por ser esta uma problemática atual e de grande importância para a sustentabilidade. A busca pelo rápido avanço tecnológico e a ausên-
cia de reflexões sobre consequências futuras, têm levado a uma escassez da matriz energética não
renovável. Ao notar estes problemas, o homem passou a buscar formas de produzir energia que
possam ser reaproveitadas, diminuindo a escassez dos recursos naturais não renováveis.
O problema em questão vem sendo abordado
há muitos anos e ainda será assunto por muito
tempo. Para que haja resultados positivos no
futuro, é importante a conscientização dos alunos de hoje, já que os mesmos serão futuros profis-
sionais atuantes, e devem estar preparados para trabalhar em prol da sociedade em que vivem. Assim, devido à preocupação com a temática
energia, este projeto trabalhou o tema de forma contextualizada, pretendendo gerar uma discus-
são com os alunos sobre o uso de combustíveis
fósseis e outras formas de produção de energias,
apresentando aos alunos as energias provenientes de fontes renováveis como o sol (energia solar), os ventos (energia eólica), e a biomassa.
85
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
Dentro destas discussões pretendeu-se abran-
ger a obtenção dos combustíveis, sua disponibi-
lidade na natureza, o custo da energia gerada, a quantidade de poluentes atmosféricos produzidos na queima (reação de combustão), os efeitos
desses poluentes sobre o meio ambiente e a saúde
humana, os meios eficazes para minimizá-los ou evitá-los, a responsabilidade individual e social envolvida em decisões dessa natureza e a viabili-
dade de outras fontes de energia menos poluentes, tendo como foco a Biomassa.
As aulas introdutórias do projeto temático
foram denominadas de ‘Sensibilização’; estas ser-
viram de suporte conceitual para o entendimento global da temática, sendo que as mesmas foram desenvolvidas em seis aulas contextualizadas/
problematizadas e expositivas/dialogadas, uma
aula experimental e quatro aulas destinadas à discussão do chamado ‘Cantinho da Química: ener-
gia e sustentabilidade’, uma atividade de caráter lúdico e cultural.
O Projeto Temático iniciou com a discussão do
tema lixo; a diferença entre lixo orgânico e inorgâ-
nico; a quantidade de lixo produzida pelo homem, por Catalão e pelo Brasil; exemplos do tempo de degradação de alguns materiais (latas de alumínio, sacolas plásticas, garrafas pet, pneus, fraldas,
entre outros) na natureza também foram discuti-
dos com os alunos. Nas discussões deu-se ênfase à
questão das sacolas plásticas, pois o uso das sacolas oxibiodegradáveis e biodegradáveis estava
repercutindo na mídia no momento do desenvolvimento do projeto. Dentro desta discussão, realizou-se, ainda, um experimento com os alunos com
o objetivo de determinar o tempo de degradação de diversos tipos de sacolas plásticas (comuns, oxibiodegradáveis e biodegradáveis).
Para realizar este experimento, as pibidianas
apresentaram ao alunos uma história em qua-
drinhos onde os três personagens (Ana, Carlos e Maria Eduarda) estão discutindo uma reportagem
que fala do uso, da poluição e os tipos de sacolas
86
plásticas. O intuito da história em quadrinhos era
iniciar a discussão sobre o uso e descarte de sacolas plásticas, e instigar os alunos a expressarem a sua opinião sobre o assunto.
Após as discussões da história em quadrinhos,
as pibidianas apresentaram aos alunos o tempo
de degradação de cada tipo de sacola (comum: 30 a 40 anos; oxibiodegradáveis: 18 meses; biode-
gradáveis: 6 meses). Em seguida discutiram com os alunos o objetivo da atividade experimental a
ser realizada, qual seja, verificar se as informa-
ções sobre o tempo de degradação de cada tipo de sacola plástica, veiculadas na mídia, são corretas. A partir disto, as pibidianas apresentaram
o procedimento experimental aos alunos. Para a
realização do experimento três buracos foram
cavados no chão de terra com uma profundidade de aproximadamente 15 cm, e em cada um deles colocou-se uma das sacolas (comuns, oxibiodegradáveis e biodegradáveis); em seguida os buracos
foram fechados com terra e foram inseridas pla-
quinhas de identificação de cada sacola. Depois de feito tudo isto as pibidianas explicaram que após
seis meses eles voltariam ao pátio da escola para
desenterrar as sacolas e ver o resultado da degra-
dação de cada uma. Vale destacar que, durante todo o desenvolvimento da experimentação, discutiu-se a presença da Química na degradação das
sacolas plásticas, como, por exemplo, os diferentes materiais que constituem cada tipo de sacola
e a influência do oxigênio e da temperatura na degradação da sacola.
A ‘Sensibilização’ seguiu discutindo-se a polí-
tica dos 5 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar, repensar,
recusar) que prioriza o reaproveitamento e a redução do consumo de materiais, buscando-se dimi-
nuir a quantidade de lixo que é jogada na natureza e a quantidade de energia e de matéria-prima que é utilizada para a produção de novos produtos. Ou
seja, as pibidianas buscaram a mudança de atitude
dos alunos (cidadãos) através da política dos 5 R’s levando o cidadão a repensar seus valores e prá-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
ticas, incentivando a redução do consumo exage-
salvação depende apenas de se praticar atitudes
Foram fornecidos, ainda, alguns dados atuais
Dando continuidade às discussões, estabeleceu-
rado e do desperdício. A Energia, que era o foco do Projeto Temático, foi inserida nesta parte.
quanto à produção de lixo da cidade de Catalão/
GO, e, desta forma, os alunos puderam analisar a sua realidade. Ressalta-se que, quando as pibidia-
nas discutiram a reciclagem, relembraram com os
alunos o que é uma reação química (as reações químicas são transformações que envolvem alte-
rações, quebra e/ou formação, nas ligações entre
partículas: átomos, moléculas ou íons da matéria, resultando na formação de nova substância com
propriedades diferentes da anterior) e os fatores que evidenciam a ocorrência de uma reação quí-
mica (mudança de cor, de cheiro, desprendimento de gás, absorção ou liberação de energia).
As pibidianas fizeram, ainda, uso de um vídeo
de autoria de Mauricio de Souza Produções, cha-
mado Turma da Mônica em: um plano para salvar o planeta. Este vídeo foi exibido após o termino da discussão do tema lixo. No vídeo, o menino-cientista Franjinha cria uma poção para deixar tudo
limpo e cheiroso. A turma visita seu laboratório, e no meio da bagunça, um pouco da fórmula cai
sobre o Cascão, que fica limpíssimo. Toda a turma
tem a ideia de usar esta poção para melhorar o
mundo, começando pelo bairro em que moram; ao
sair para cumprir sua missão a turma se encontra com Dorinha, que chama a atenção deles para toda a poluição que está ao seu redor e para as
consequências desta poluição para toda a população; mas a ideia da poção não deu certo, pois a
turma se encontra com Cascão que está imundo novamente, a turma descobre que a poção seria uma solução temporária e as pessoas voltariam
a poluir a cidade intensamente. Eles, então, procuram uma nova solução para salvar o planeta, e
propõem a prática dos 3R’s (reciclar, reutilizar e reduzir) para sanar este problema; o vídeo trans-
mite a mensagem de que não adianta tentar criar uma poção mágica para salvar o planeta, pois esta
corretas. Sendo assim, a preservação do planeta depende da mudança de atitude do cidadão.
-se uma relação entre produção de matéria e gasto de energia, em que se discutiu com os alunos que
a matéria produzida, em algum momento, irá gerar
lixo e, como consequência, poluição. Discutiu-se, também, que esta matéria, que vira lixo está des-
perdiçando energia, um bem de grande importân-
cia para a sociedade. Em seguida, foram discutidos
os tipos mais comuns de energias (energia hidrelétrica, solar, eólica, nuclear, geotérmica, biomassa,
biocombustíveis), suas vantagens e desvantagens.
Encerrou-se a sensibilização com algumas dicas
de como evitar o desperdício de energia, como, por exemplo, evitar acender luzes durante o dia,
diminuir o tempo de banho, não deixar aparelhos eletroeletrônicos ligados quando ninguém estiver usando, entre outras.
Após o término das aulas de ‘Sensibilização’
fixaram-se alguns painéis nas salas, onde os alunos
seriam os principais autores destes, pois seriam
eles os responsáveis por ‘alimentar’ os mesmos. Para isso os alunos deveriam pesquisar, trazer para a sala de aula e discutir charges, poemas, reporta-
gens e músicas relacionados com a problemática ‘Energia Sustentável’. Esta atividade foi denominada ‘Cantinho da Química: energia e sustentabilidade’.
Dentro das discussões continuou-se o desen-
volvimento do projeto temático onde pretendeu-se, também, abranger a discussão sobre a obtenção dos combustíveis, sua disponibilidade na
natureza, o custo da energia gerada, a quantidade de poluentes atmosféricos produzidos na queima
de cada um deles, os efeitos desses poluentes
sobre o meio ambiente e a saúde humana, os meios eficazes para minimizá-los ou evitá-los, a responsabilidade individual e social envolvida em decisões dessa natureza e a viabilidade de outras fon-
tes de energia menos poluentes, tendo como foco a Biomassa. Em toda essa discussão, a Química
87
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
serviu de base científica para o entendimento da
Rudio (2002), os questionários são constituídos
de energia, na produção e consumo de energia, na
dos pesquisados. Optou-se pelos questionários,
temática, ou seja, a Química estava presente em
por um conjunto de questões, organizadas e sis-
toda a discussão da temática, como na definição
tematizadas, que procuram captar as concepções
produção e uso de energia nos sistemas naturais
pois eles permitem que os pesquisados respon-
e tecnológicos; na definição de combustíveis, na
dam aos questionamentos livremente e expres-
queima de combustíveis para produção de ener-
sem suas opiniões de forma clara e segura. O ques-
gia (reação de combustão), para compreender as
tionário aplicado aos alunos visou investigar se as
ideias que explicam a origem do petróleo, carvão
aulas contribuíram para os processos de ensino/
mineral e gás natural, no processo de origem de
aprendizagem; os questionários, tanto o prévio
combustíveis renováveis tais como a biomassa, no
quanto o posterior, possuíam questões abertas.
uso do gás metano (oriundo da decomposição do
Dessa forma, os dados foram agrupados de acordo
lixo) como uma fonte energia, na compreensão da
com a proximidade das respostas fornecidas pelos
poluição causada pelas fontes não renováveis de
pesquisados, e, em seguida, as pibidianas elabora-
energia (gases liberados como o metano e o dió-
ram um texto a partir das conclusões e reflexões
xido de carbono, chuva ácida e efeito estufa) etc.
Para avaliar o impacto das aulas na formação
dos alunos, realizou-se uma pesquisa de caráter
quantitativo/qualitativo. Esta última é diferente da quantitativa (que se preocupa em quantizar,
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO A construção do conhecimento deve ser per-
traduzindo em números os dados obtidos); a pes-
manente. É preciso estar ciente das transforma-
siderar os diferentes pontos de vista dos partici-
desenvolver conhecimentos e atitudes como o
quisa qualitativa se caracteriza por ter o ambiente
natural como fonte de dados descritivos e por conpantes (Godoy, 1995). Segundo Bogdan e Biklen
(1994), na pesquisa qualitativa os pesquisadores
interessam-se mais pelo processo em si do que
propriamente pelos resultados, interessando-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado que os participantes atribuem às suas experiências. Para isto utilizou-se da observação participante, que não é a contemplação passiva,
pois é observando situações que reconhecemos as pessoas e emitimos juízos sobre elas (Laville;
Dionne, 1999). Utilizou-se, ainda, para a coleta de dados, questionários com o objetivo de primeira-
mente levantar os conhecimentos prévios dos alunos e ao final para se avaliar o conhecimento que
os alunos construíram. Além disto, buscou-se ava-
liar/investigar a aceitabilidade das aulas contextualizadas como uma metodologia que promove a
motivação dos alunos pelo aprendizado. Segundo
88
das respostas obtidas.
ções científicas e tecnológicas a fim de se resgatar
a função principal da escola: a social. É preciso pensamento crítico e a tomada de decisões para
uma formação cidadã. Para isso, é necessário implementar discussões que levantem aspec-
tos sociocientíficos concernentes às questões ambientais, econômicas, sociais, políticas, cultu-
rais e éticas. Isto torna as aulas mais atrativas e dinâmicas e promove o interesse dos alunos pelo
aprendizado, além de desenvolver a tão desejada formação cidadã. Se a Química está presente na
vida do cidadão, poderemos ensiná-lo a partici-
par da sociedade por meio do conhecimento dos seus problemas sociais. O cidadão participa ativa-
mente, na medida em que faz julgamentos críticos, assentados no conhecimento da lei (fatos quími-
cos e sociais) e julgamentos políticos (discussão pública) (Santos; Schnetzler, 2003). Uma forma de se proporcionar que o aluno construa conhecimento com prazer e de forma significativa é ado-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
tar metodologias diversificadas como os Projetos
demonstraram mais interesse e expressaram com
a Química para mais próximo dos alunos, pois
pibidianas pudessem comparar o conhecimento
Temáticos e as aulas contextualizadas/problema-
tizadoras a partir de temas geradores, que trazem nestes estaremos trabalhando com problemas do cotidiano dos alunos.
Assim, visando-se desenvolver o senso crítico
e proporcionando a formação cidadã dos alu-
nos de segundo ano do Ensino Médio da escola
parceira do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência do Curso de Química da
Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão (Pibid/Química/UFG/RC)
elaborou-se/desen-
volveu-se o projeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um Desenvolvimento Sustentável’
cuja problemática (tema gerador) foi ‘Energia e a Sustentabilidade’.
Observou-se durante o desenvolvimento das
aulas contextualizadas/problematizadas que os
alunos das duas turmas do segundo ano do Ensino Médio que participaram das atividades demonstraram mais interesse pelas aulas que tiveram um
caráter diferenciado (durante estas aulas abor-
dou-se um assunto presente no cotidiano dos alunos, ou seja, a escassez energética), do que pelas
aulas observadas anteriormente (aulas expositivo/dialogadas ministradas pela professora
supervisora regente das turmas. Apesar de que as aulas ministradas pela professora supervisora tinham um caráter dialógico e a mesma utilizava
recursos didáticos diferenciados como jogos didá-
ticos e metodologias como a experimentação). Os
alunos foram participativos durante a discussão da problemática do lixo e deram dicas para evitar o desperdício de energia. Eles já possuíam algum
conhecimento: sobre o assunto, e isto se deve ao fato de a escola também possuir um projeto rela-
cionado com essa problemática que faz parte do cotidiano dos alunos. Já o conceito de energia renovável e não renovável foi algo novo para eles. Portanto, observou-se que, quando a problemática
fazia parte do cotidiano dos alunos, os mesmos
mais facilidade as suas opiniões sobre o assunto.
A análise dos questionários permitiu que as
dos alunos antes e depois das aulas de sensibilização. Assim, os questionários prévio e posterior foram aplicados a 48 alunos do Ensino Médio,
sendo 65% do sexo feminino e 35% do sexo masculino, com idades entre 15 e 20 anos.
Nos questionários prévios, 76% dos alunos
afirmaram que gostavam das aulas de Química
ministradas pela professora supervisora, porque
a Química é uma disciplina muito interessante e importante para o seu aprendizado e também
ajuda a entender fenômenos de seu cotidiano. Alguns ainda citaram que gostavam especial-
mente da parte experimental da Química. Pôde-se perceber uma boa aceitação das aulas de Química.
Observa-se, através das respostas e da observação das pibidianas em sala de aula, que a disciplina
de Química não é trabalhada de forma tradicional nesta escola, fazendo-se uso, inclusive, da relação
teoria-prática. Os outros 24% afirmaram que não gostavam da disciplina de Química porque sen-
tiam muita dificuldade em compreender a mesma; as dificuldades apontadas estavam relacionadas
com os cálculos necessários para resolver questões propostas pela professora. Ou seja, as dificul-
dades apresentadas pelos alunos estavam mais relacionadas com dificuldades advindas da área
de Matemática do que de Química propriamente
dita. Já no questionário posterior, a maioria dos alunos (96%) afirmou que gostou das aulas de Química ministradas pelas pibidianas por saírem
da rotina das aulas tradicionais, por estas serem contextualizadas e pelo fato de as pibidianas inte-
ragirem mais com os alunos durante as aulas. Ou
seja, gostaram do fato de as pibidianas os incentivarem a expressar a sua opinião sobre o conteúdo químico/social discutido.
Alguns alunos afirmaram que as aulas do pro-
jeto foram mais interessantes do que as aulas
89
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
rotineiras, porque estavam relacionadas com o
outros 4% não responderam esta questão. Pode-se
garam a proporem soluções. Assim, pôde-se per-
seja, a maioria dos alunos soube responder uma
cotidiano deles, por exemplo, as pibidianas apresentaram um problema para os alunos e os insti-
ceber que houve um crescimento na participação dos alunos com as aulas contextualizadas e exposi-
tivo/dialogadas, pois estas são mais motivadoras.
Um dos alunos afirmou: “[...] eu acho interessante e acabo me envolvendo mais com a aula”. Com as
aulas diferenciadas e saindo do ambiente tradicio-
nal, observa-se que quase toda a turma gostou e que houve uma participação mais ativa nas aulas de
Química. Em um dos comentários, um dos alunos afirmou: “[...] As aulas chamaram a minha atenção
e saíram da rotina da sala de aula [...]”. Esta afirma-
ção nos faz crer que a motivação na escola é essencial para que o aluno construa uma aprendizagem
efetiva. Segundo Norman e Sprinthall (1993), a melhor forma de motivar um trabalho escolar con-
siste em apresentá-lo como atividade ou experiên-
cia interessante que conduz a um fim valioso, ou como situação problemática cuja solução importa
ao educando; este foi um dos objetivos das aulas de ‘Sensibilização’, problematizar o conteúdo químico
de forma a despertar a curiosidade do educando e estimular o mesmo a propor uma solução para tal situação-problema, gerando aprendizagem e fazendo o aluno gostar de aprender.
Dos alunos que responderam ao questionário
prévio, 77% não sabiam o que eram energias reno-
váveis, os outros 13% responderam que energias renováveis eram aquelas que se renovam e não
prejudicam o meio ambiente, observou-se, assim, respostas bastante simplistas. Já no questionário
posterior, 96% dos alunos responderam que ener-
gias renováveis eram aquelas originárias de fontes naturais, mas que também podem ser obtidas do
lixo (biomassa); também afirmaram que estas fon-
tes de energia possuem matérias-primas capazes de regeneração (renovação) e são um tipo de ener-
gia que respeita o meio ambiente e que podemos
utilizar em prol da sustentabilidade energética; os
90
observar que, após as aulas contextualizadas, os
alunos adquiriram uma aprendizagem efetiva, ou questão que antes não tinha conhecimento e de
forma elaborada. Um dos alunos citou: “[...] energia renovável é aquela que utilizamos em prol da
sustentabilidade energética [...]”. Percebeu-se que,
além de adquirir conhecimento, os alunos foram
capazes de elaborar respostas mais bem estruturadas. Ou seja, as aulas contextualizadas foram
capazes de promover um aprendizado significativo
e ainda de desenvolver a habilidade de escrita e de estruturação de textos (respostas). Estas habili-
dades são descritas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCN’s) (Brasil,
1999), que afirmam que o aluno deve ter a habi-
lidade de elaborar comunicações orais ou escritas para relatar, analisar e sistematizar eventos. Os
PCN’s afirmam, ainda, que o educando deve ser capaz de argumentar e posicionar-se criticamente
em relação aos diversos temas, neste caso, se posicionar criticamente perante a problemática de escassez energética (Brasil, 1999).
As aulas contextualizadas desenvolveram o
senso crítico dos alunos e a preocupação com o
desenvolvimento sustentável. Pôde-se observar isto a partir dos comentários dos alunos durante as aulas, quando afirmavam que a temática da aula trouxe um problema real e para o qual não davam
a devida atenção. Mas relataram que, a partir das
discussões, levantadas começaram a refletir e tive-
ram a consciência da importância de se preservar os recursos energéticos. As aulas interligaram as
informações químicas (como, por exemplo, o conceito de energia e processos de obtenção de ener-
gia) e o contexto social (consumismo e desperdício de energia) para que o aluno desenvolvesse competências como o senso crítico e pudesse participar ativamente da sociedade. Para isso, os alunos precisaram compreender a relação entre a Química e a sociedade, e serem capazes de provocar mudanças
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
na busca de uma melhor qualidade de vida para
ção para a escassez energética. Pode-se perceber
contribuir para a formação da cidadania e, dessa
energética e, principalmente, se conscientizaram
todos. Segundo os PCN’s (Brasil, 1999), nunca se
deve perder de vista que o ensino de Química visa forma, deve permitir o desenvolvimento de conhe-
cimentos e valores que possam servir de instrumentos mediadores da interação do indivíduo com o mundo.
Perguntou-se, em outra questão, quais tipos
de energias renováveis os alunos conheciam; no questionário prévio 61% dos alunos marcaram
dentre as alternativas a biomassa, energia eólica,
solar, energia hídrica e madeira como fontes de energia renováveis; porém, pôde-se observar que 23% dos alunos responderam a questão erroneamente e citaram que o petróleo, o carvão
e a energia nuclear são fontes de energias reno-
váveis; 16% dos alunos não responderam a esta
questão no questionário prévio. No questionário posterior pôde-se observar que 28% responderam que o petróleo, a energia nuclear e o carvão,
sendo a última a mais citada, são fontes de energia
renováveis; obteve-se uma porcentagem maior no
questionário posterior de alunos citando errone-
amente fontes de energia não renováveis como sendo renováveis. Podemos concluir que os alunos sabem definir o que é uma fonte de energia
renovável, mas ainda confundem as energias reno-
váveis com as energias não renováveis. Essa dis-
crepância também pode ser resultado da pressa e falta de atenção de muitos alunos ao responderam o questionário posterior.
Dentre os alunos que responderam ao ques-
tionário prévio, 62% afirmaram que são a favor das energias renováveis porque estas prejudi-
cam menos o meio ambiente. Os outros 38% não responderam a questão ou não são a favor das energias renováveis, mas não justificaram a sua
resposta. Já no questionário posterior, 91% dos alunos responderam que são a favor das energias
renováveis porque estas fontes de energia preju-
dicam menos o meio ambiente e são uma solu-
que, a partir das aulas contextualizadas, os alunos
tomaram conhecimento do problema de escassez sobre a forma para evitar/solucionar tal problema. Ou seja, as aulas permitiram que os alu-
nos refletissem sobre um assunto atual e de suma importância para o desenvolvimento/sobrevivên-
cia da sociedade. Alguns alunos afirmaram que: “[...] Preservando as fontes de energia e usando as
energias renováveis teremos garantia por muitos
anos que a energia não vai faltar” e “[...] Elas são fontes de energia inesgotável, que não causam
poluição exagerada”. Podemos observar que, nos
questionários posteriores, os alunos associaram
o uso de energias renováveis como uma forma de garantirmos o nosso futuro energeticamente, o
que nos mostra que as aulas de Química contextualizadas proporcionaram uma formação cidadã
para estes alunos, tornando-os mais informados e críticos perante o assunto abordado nas aulas; eles deixaram de ser espectadores e passaram a
ser sujeitos ativos e críticos na construção de seu conhecimento.
Assim, percebeu-se que as aulas desperta-
ram nos alunos a consciência do impacto de suas
ações no seu cotidiano e, principalmente, favoreceram uma postura reflexiva que permitirá a
estes adotarem novos valores e, principalmente, novas atitudes para que busquem a solução
do problema abordado. Assim, a partir do projeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um
Desenvolvimento Sustentável’ os alunos construíram um conhecimento sobre a sustentabilidade.
Inclusive, um dos alunos afirmou “[...] Consegui construir um conhecimento químico mais sustentável” e isto mostra a importância de se abor-
dar a sustentabilidade na sala de aula. O Pibid/
Química/UFG/RC fez o compromisso de abordar
a sustentabilidade no ensino com o objetivo de formar cidadãos que pensem em como melhorar o mundo em que vivem.
91
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
Questionou-se, ainda, quais tipos de energias
uma formação cidadã, ajuda o aluno a lidar com
sabiam quais fontes de energias renováveis utiliza-
tro das competências desenvolvidas pelo pro-
renováveis os alunos utilizavam em seu cotidiano, e 27% afirmaram no questionário prévio que não vam; os outros 63% responderam que utilizavam a energia eólica, solar e hídrica, sendo a última a
mais citada pelos alunos; os 10% restantes responderam que a energia nuclear e petróleo são
fontes de energia renováveis que utilizam no seu
cotidiano. Podemos concluir que, no questionário prévio, uma parte dos alunos não sabia qual a diferença entre energia renovável e não renovável, e acabaram citando energias que conhecem ou já
ouviram falar, mas que não são fontes renováveis
de energia. Já no questionário posterior obteve-se 19% dos alunos respondendo que utilizam petróleo, carvão e energia nuclear no seu cotidiano e
81% responderam que utilizam energia hídrica (sendo esta a mais citada), energia solar, biomassa
(combustíveis) e madeira. No questionário posterior obteve-se uma porcentagem maior de alu-
nos respondendo que utilizam petróleo no seu cotidiano. Pode-se observar, mais uma vez, que
os alunos ainda confundem quais são as fontes de energia renováveis e as não renováveis.
Em outra questão os alunos foram inqueridos
sobre o que entendem por energia proveniente da biomassa; no questionário prévio, 95% dos alunos não souberam responder à questão ou deixaram
a mesma em branco; os outros 5% responderam que energia proveniente da biomassa é a energia
proveniente da natureza. No questionário posterior, 43% dos alunos ainda não responderam à
questão e os outros 57% responderam que a bio-
massa é toda a matéria orgânica que se decompõe
e gera gases como o metano, por exemplo, e estes gases são usados como combustíveis para gerar
energia. Pôde-se perceber que os alunos construíram um conhecimento químico envolvido com a
decomposição e geração de gases, e melhoraram a clareza da sua escrita. Isto mostra que traba-
lhar com projetos temáticos, além de promover
92
as linguagens (fala e escrita) de forma dinâmica e segura. Os PCN’s (Brasil, 1999) vêm ao enconjeto temático ‘Química e Energia em Prol de Um
Desenvolvimento Sustentável’ quando citam que
a Química deve desenvolver competências como a representação e comunicação que envolvem a leitura e a elaboração de comunicações orais ou
escritas para relatar, analisar e sistematizar even-
tos, fenômenos, experimentos, questões, entrevis-
tas, visitas, correspondências. Portanto, percebe-se aqui a importância desse tipo de atividade na formação crítica/reflexiva dos educandos.
Perguntou-se, ainda, se tudo o que jogamos
fora é inútil; no questionário prévio, todos os alunos responderam que não, que os produtos
podem ser reciclados ou reutilizados. No questio-
nário posterior também se obteve 100% da turma respondendo que nem tudo o que jogamos fora é
inútil, porque podem ser reciclados e economizar a matéria-prima e energia. Um aluno afirmou que “[...] Tudo que se produz consome energia e se
descartamos sem a preocupação de reciclar essa
energia [lixo], causamos desperdício [...]”. Por esta afirmação podemos observar que os alunos melhoraram a redação de suas respostas e passaram a
associar a não reciclagem do lixo ao desperdício de energia que causa a escassez energética, o que vem a ser um problema para a sociedade e que foi um
dos principais pontos discutidos durante as aulas
contextualizadas. Ou seja, os alunos se tornaram aptos a julgar com fundamentos a Química e sua
relação com os sistemas produtivos. Assim, o pro-
jeto atingiu o objetivo de conscientizar os alunos sobre a importância da energia para a sociedade, e
que ela não deve ser desperdiçada. Mais uma vez, os PCN’s (Brasil, 1999) corroboram com os conhe-
cimentos desenvolvidos pelo projeto, afirmando que o aprendizado de Química deve possibilitar
ao aluno tanto a compreensão dos processos quí-
micos em si, quanto a construção de um conheci-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
mento científico em estreita relação com as apli-
da importância de tais energias para a preserva-
problemas reais, os alunos puderam desenvolver o
destacar o trabalho de um grupo que desenhou e
cações tecnológicas e suas implicações ambientais,
sociais, políticas e econômicas. Ou seja, a partir de senso crítico e se tornar cidadãos ativos e preocu-
pados com a sociedade e, ainda, capazes de julgar e tomar decisões autonomamente enquanto indivíduos e cidadãos.
Outra atividade desenvolvida dentro da cha-
mada ‘sensibilização’ foi a atividade de cunho lúdico denominada ‘Cantinho da Química: energia e sustentabilidade’. Para o início da ‘alimentação’
dos painéis, as pibidianas pesquisaram algumas
charges, músicas e poemas que remetiam à problemática ‘energia e sustentabilidade’ para levarem
para a sala de aula. As charges, poemas e músicas
pesquisadas serviram tanto de exemplo para os
alunos quanto para promover o início da discussão em sala de aula.
Para motivar a curiosidade dos alunos, as pibi-
dianas solicitaram que alguns deles lessem as
charges e os poemas. Após a leitura, alguns alunos expressaram sua opinião e o que entenderam
sobre o conteúdo das charges e dos poemas. As pibidianas, com a ajuda da professora supervi-
sora, explicaram aos alunos a essência dos textos
lidos. Observou-se que a maioria dos alunos ficou empolgada com a atividade diferenciada proposta,
pois estes se levantaram para ver o painel que foi fixado no fundo da sala e ainda se dispuseram a discutir o assunto criticamente.
Assim, observou-se durante a realização do
‘cantinho da química’, que esta atividade chamou a atenção dos alunos, pois estes se interessaram
e buscaram materiais para apresentarem em sala e colarem no painel, e algumas vezes procuraram
as pibidianas mostrando trabalhos previamente e questionando a estas se estes se encaixavam no
tema do projeto. Os alunos apresentaram muitos
artigos e charges referentes aos diversos tipos de energias renováveis que foram trabalhadas
durante as aulas contextualizadas; estes falavam
ção do meio ambiente e das tecnologias neces-
sárias para o desenvolvimento das mesmas. Vale
criou uma charge com os personagens Cebolinha e Mônica discutindo as energias renováveis. Assim, percebe-se que, através do ‘cantinho da química’, pôde-se, também, explorar a criatividade e a escrita nos alunos.
Percebe-se que alguns alunos também tiveram
a oportunidade de aprender a se comunicar em público ao expor suas contribuições para a sala,
professora e pibidianas. Canives (1991) destaca
a necessidade de preparar o educando para o
debate, ou seja, preparar o aluno para expor suas ideias, levando estes a perceberem o poder de influência que têm como cidadãos.
Assim, o foco deste projeto foi o de cons-
cientizar os alunos para o uso de uma Energia
Sustentável e limpa, de modo que os mesmos foram incentivados a buscar as soluções para
a problemática energética atual, conscientes
de todos os processos químicos envolvidos em cada etapa da produção de energia. O projeto
temático ‘Química e Energia em Prol de Um
Desenvolvimento Sustentável’ permitiu desenvolver os mais diversos conhecimentos e atitudes
como autonomia, cooperação, socialização e orga-
nização, trabalho em equipe e responsabilidade; os alunos puderam relacionar conhecimentos químicos com os problemas sociais, ambientais e com
os avanços tecnológicos a fim de compreender os fenômenos que seriam incompreensíveis com os conhecimentos de apenas uma área.
O projeto temático buscou a formação de
um aluno consciente de suas obrigações com a
sociedade; evidenciou a importância dos tipos
de energia existentes e suas implicações tecnológicas, ambientais, sociais, políticas e econômi-
cas; promoveu-se uma educação que possibilitasse o crescimento da consciência ambiental de maneira que o aluno adquirisse conhecimentos,
93
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | RELATO DE EXPERIÊNCIA 04
valores, habilidades, experiências e determinação,
aulas diferenciadas e contextualizadas ministra-
presentes e futuros. Permitiu, também, analisar
pelos questionários, que muitos alunos ainda con-
os tornando aptos a agir individualmente e coletivamente para resolver problemas ambientais
e investigar a construção do conhecimento referente ao conceito de energia, a produção de gases a partir da decomposição de matéria orgânica
(biomassa), definição de combustíveis e reação de combustão, a diferença entre matéria orgânica e inorgânica etc. Através da utilização de aulas con-
textualizadas/problematizadoras a partir de um tema gerador do cotidiano dos alunos.
Depois de passados seis meses do início do
Projeto Temático ‘Química e Energia em Prol de
Um Desenvolvimento Sustentável’, as pibidianas, juntamente com os alunos da escola parceira, voltaram ao pátio da escola e desenterraram as
sacolas plásticas. Com o auxílio dos alunos, as pibidianas constataram que a sacola biodegradável possuía pequenos furos, o que corrobora com a
informação divulgada na mídia de que estas sacolas contribuem com o meio ambiente se degra-
dando em tempo consideravelmente menor, já que
o plástico biodegradável se decompõe pela ação da natureza e de micro-organismos. Assim, discutiu-
-se com os alunos que as sacolas biodegradáveis são a opção mais sustentável. Apesar de os alunos terem achado a experiência interessante e ter sido
possível discutir novamente o tempo de degra-
dação de sacolas plásticas e, consequentemente,
alertar os alunos para o perigo do uso indiscriminado de sacolas plásticas, constatamos que deve-
ríamos ter feito a experimentação em condições ambientes de chuva e sol, simulando condições de abandono das sacolas no meio urbano a fim de se avaliar melhor a degradação das sacolas plásticas. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise das informações presen-
tes nos questionários e da observação das aulas,
percebe-se que a maioria dos alunos gostou das
94
das pelas pibidianas, e que estas foram bastante produtivas para a maioria deles. Pôde-se observar
fundem energia renovável e energia não renovável,
que esses conceitos devem ser revistos em sala de aula, pois o objetivo do projeto na escola parceira
era que os alunos construíssem um aprendizado efetivo através das aulas, mas além disso, que fossem capazes de pensar criticamente sobre a questão energética e pudessem, ainda, optar pelo
uso de fontes energéticas menos poluentes para o meio ambiente. Para isso, é de suma importância
que os alunos saibam diferenciar os conceitos de energia renovável e não renovável.
Vale ressaltar que a simples transmissão de
informações não é suficiente para que os alunos
elaborem suas ideias de forma significativa. Hoje, o professor deve ser o mediador do conhecimento
e o aluno deve ser sujeito ativo na construção de seu conhecimento, sendo a educação voltada
para a formação de cidadãos. Para a formação
cidadã é importante que o professor aborde em
sala de aula temas relacionados com o cotidiano dos alunos, problematizando o conhecimento.
Além disso, o uso de metodologias diferenciadas e recursos didáticos diversificados é importante para a transposição do cotidiano para a sala de
aula. Neste trabalho, a utilização de aulas contex-
tualizadas numa temática problematizadora, com a utilização de vídeos, experimentação e debates através do Cantinho da Química mostraram
motivar os alunos para o aprendizado de forma
ativa e crítica. Promoveram ainda a construção de conhecimentos e atitudes como a capacidade de
se comunicar, de argumentar, de redigir textos e
de refletir criticamente sobre o conteúdo químico e social abordado.
Conclui-se que o trabalho com projetos temá-
ticos permitiu o desenvolvimento dos educandos, estes se tornaram sujeitos ativos na construção do seu conhecimento, foram capazes de propor solu-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
ções para a problemática trabalhada, construíram
um conhecimento sobre sustentabilidade e, prin-
cipalmente, vão colocar este conhecimento em prática. O projeto temático atingiu o seu objetivo
de formar cidadãos críticos e conscientes da sua
atuação para melhorar a sociedade em que vivem. 6
REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. D.O.U de 23 de dezembro de 1996.
______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Química. MEC/SEF, 1999.
______. Secretaria de Educação Média e Tecnológica – Ministério da Educação e Cultura. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Orientações Curriculares Nacionais: Química. MEC/SEF, 2006.
BOGDAN, R. C.; BIKLEN. S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Editora Porto, 1994.
CANIVEZ, P. Educar o cidadão? Campinas: Papirus, 1991. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GODOY, A. S. Introdução à pesquisa e suas possibilidades. Revista Administração de Empresas – ERA, v. 35, n. 32, p. 57-63, 1995.
LAVILLE, C., DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999. PRADO, M. E. B. B. Articulando saberes e transformando a prática. Boletim do Salto para o Futuro. Série Tecnologia e Currículo, TV Escola. Brasília: Secretaria de Educação a Distância – Seed. Ministério da Educação, 2001.
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa cientifica. Petrópolis: Vozes, 2002. SPRINTHALL, N. A.; SPRINTHALL, R. C. Psicologia educacional. McGraw Hill, 1993.
95
QUÍMICA VERDE | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 97-106
The responsibility of Chemists for a better world: challenges and potentialities beyond the lab A responsabilidade dos Químicos para um mundo melhor: desafios e potencialidades para além do laboratório Ingo Eilks1, Jesper Sjöström2 and Vânia G. Zuin3 AbstrAct There is no doubt that chemistry is in the heart of the economy of every developed or emerging country. Chemistry is necessary to make the world a better place in terms of prosperity and welfare. It is the ground for modern agriculture, pharmacy, and provides the basic materials for any other producing industries. However, not all developments in which chemistry was involved in the past were of benefit to the world in terms human health, raw materials consumption, and the environment. Green chemistry is suggested to provide a more responsible alternative of doing chemistry in research and industry – today and for the future. This article supports the view that the way towards more sustainability in this field needs a change in doing chemistry, but in the same time it argues that the responsibility of the chemists for sustainability goes much further. The stewardship of the chemists also covers responsibility to contribute to societal decisions and discourse about chemistry and, at the same time, to help developing a different, more balanced and contemporary view on chemistry in both society and chemistry education. Key-words: Sustainability, green chemistry, scientific literacy.
1. Department of Biology and Chemistry, Institute for Science Education (IDN), University of Bremen. 2. Department of Science-Environment-Society, Faculty of Education and Society, Malmö University. 3. Department of Chemistry, Federal University of São Carlos.
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | QUÍMICA VERDE
Resumo Não há dúvidas de que a Química esteja no coração da economia de todo país desenvolvido e emergente. A Química
é necessária para tornar o mundo melhor, promovendo prosperidade e bem-estar. Alicerça a agricultura moderna, farmácia e fornece materiais fundamentais para todas as demais indústrias. Entretanto, nem todo desenvolvi-
mento no qual a Química esteve envolvida no passado foi benéfica em termos de saúde, consumo de recursos e ambiente. Neste sentido, a Química Verde é sugerida como uma alternativa mais responsável para possibilitar a
prática da Química de forma mais sustentável, seja na pesquisa e indústria, nos dias atuais e futuros. Este artigo
parte da visão de que o caminho em direção à sustentabilidade neste campo necessita de uma mudança no modo de realizar a Química, mas ao mesmo tempo argumenta que a responsabilidade dos químicos para tal vai além.
Tal novo modus operandi também significa a responsabilidade em contribuir para a tomada de decisão e discurso sobre Química e, ao mesmo tempo, a contribuição para o desenvolvimento de uma diversa, mais balanceada e contemporânea visão sobre Química e Educação Química.
Palavras-chave: Sustentabilidade, química verde, literacia científica.
1
INTRODUCTION There is no doubt that chemistry is in the
heart of the economy of every developed or emer-
ging country all over the world (Bradley, 2005). Chemistry forms the ground for modern life, technology, agriculture, pharmacy, and provides the
basic materials for any other producing industries. More efficient use of energy, new functional
materials, or developments in nanotechnology are
indispensable bound to the creative and innovative work of today’s chemists. However, many develop-
ments in the past in which chemistry was involved were harmful to the world in terms human health,
raw materials consumption, or the environment
(Hicks et al., 2016). Quite often, chemistry neither concerned themselves with the preservation of natural resources, nor did they give much thought to protecting the environment. Accidents and
neglected risks both large and small significantly
contributed to the negative public image of industrial chemistry undertakings and chemistry as a
science in many countries (Hartings & Fahy, 2011;
98
Zuin, 2016). From local environmental impacts,
via insensitive treatment of chemical waste, towards global challenges, like global warming or the depletion of the ozone layer, chemistry and
chemical’s production were not in line with sustainable development as it is understood today (Burmeister, Rauch & Eilks, 2012).
Sustainable development became a central
issue of international policy by the work of the
Brundtland Commission. The Brundlandt report devised a definition of sustainable development
which is still in use today: Sustainable develo-
pment is development that meets the needs of the present generation without compromising the ability of future generations to meet their own needs (UN, 1987).
With the Agenda 21 (UNCED, 1992) sustainable
development became a world-wide acknowledged policy goal. Just recently this worldwide agenda
of sustainability was put into 17 Sustainable
Development Goals (SDGs) issued by the United Nations (2015) with the support by 193 nations (Figure 1).
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
1. End poverty in all its forms everywhere. 2. End hunger, achieve food security and improved nutrition and promote sustainable agriculture. 3. Ensure healthy lives and promote well-being for all at all ages. 4. Ensure inclusive and quality education for all and promote lifelong learning. 5. Achieve gender equality and empower all women and girls. 6. Ensure access to water and sanitation for all. 7. Ensure access to affordable, reliable, sustainable and modern energy for all. 8. Promote inclusive and sustainable economic growth, employment and decent work for all. 9. Build resilient infrastructure, promote sustainable industrialization and foster innovation. 10. Reduce inequality within and among countries. 11. Make cities inclusive, safe, resilient and sustainable. 12. Ensure sustainable consumption and production patterns. 13. Take urgent action to combat climate change and its impacts. 14. Conserve and sustainably use the oceans, seas and marine resources. 15. Sustainably manage forests, combat desertification, halt and reverse land degradation, halt biodiversity loss. 16. Promote just, peaceful and inclusive societies. 17. Revitalize the global partnership for sustainable development. Figura 1. Sustainable development goals.
In 1998, Anastas and Warner in the US sugges-
ted the idea of green chemistry as a change in prac-
tice in chemistry laboratories and industry. Green
chemistry was suggested as being chemistry’s res-
ponse to the challenge of sustainability. From an approach of changed lab practices green chemis-
try turned over into a movement or philosophy
Sadly there is little evidence of awareness of the SDG’s, and their central importance, among the majority of chemists or their professional bodies. […] Chemists too often busy themselves with compartmentalized, short-term problems and research and fall to see the bigger picture.
To activate chemistry’s potential to contribute
permeating most fields of chemistry (Sjöström,
to the SDG’s, Matlin et al. (2015) state further
responsibility for sustainability as it was descri-
Education in chemistry at all levels needs reforms that will place its past achievements and current capacities in the context of the wider picture of global development. Such a change will not only motivate those who study chemistry in order to practice it, but also help to develop better chemistry literacy among the population as a whole […]. Importantly, many of the contributions that chemistry can make towards the SDGs require working in close concert with other disciplines to identify solutions that are practical, affordable and sustainable. Chemistry should not be taught or practiced without an in-built consideration of
2006; Bodner, 2014). However, original idea of green chemistry focused only a part of chemistry’s bed in the Agenda 21 or the SDGs (Sjöström, Eilks
& Zuin, 2016). This view was recently also ackno-
wledged from within chemistry. Referring to the SDGs, Matlin et al. argued in 2015 how central
chemistry is to achieve the SDGs. However, they also mentioned that there is little evidence so far to which extend different nations are able and willing to implement the SDG’s in general and in
their academic and industrial chemistry practices in particular. For the case of chemistry Matlin et al. (2015) even stated:
”there cannot be business as usual” since:
99
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | QUÍMICA VERDE
these wider relationships – that is, education and practice in chemistry must be re-oriented so that it inculcates skills in inter-disciplinary and transdisciplinary approaches informed by systems thinking and by concerns for the principles of sustainability and responsibility (p. 942).
Actually, embedding concepts as sustainabi-
lity, well-being and inequality in chemistry education is an urgent matter all over the world, but
especially important for emerging and developing countries (Zuin & Pacca, 2012). The main ques-
tion about what vision of chemistry (or science) literacy should be the aim for chemistry education both at the schooling and academic levels
remains open at this place. It might be allowed to
ask whether a traditional, pure academic, struc-
ture-of-the-discipline oriented approach in the chemistry curriculum will be enough to make the
“population as a whole“ skillful and motivated
to engage in societal discussions about modern developments in chemistry related areas? (see e.g. Sjöström, 2013; Eilks et al., 2013; Sjöström & Talanquer, 2014; Sjöström et al., 2016). 2
DIFFERENT VISIONS OF SCIENTIFIC (CHEMISTRY) LITERACY In 2007, Doug Roberts suggested to unders-
tand science learning by two different visions of
scientific literacy. In the more traditional Vision I, science learning in general and chemistry education in particular focuses mainly on learning
chemistry content for later application and fur-
ther education. This approach is often driven by the inner structure of the academic discipline and
mirrors traditional academic chemistry textbooks
– both on the secondary schooling and tertiary academic level. Roberts suggested that science learning should be driven by a more student-
-oriented Vision II. Vision II should focus on providing the learner understanding about the usefulness of scientific (chemistry) knowledge in life
100
and society by starting science learning from mea-
ningful contexts. Aikenhead described the tension between the two approaches as being related to the tension between “pipeline science – preparing
future scientists” and “science for all” (Aikenhead, 2006).
Recently many scholars suggested some of
them inspired by the idea of education for more
sustainability, that there should be a third vision (as discussed by Sjöström and Eilks, 2017). It emphasizes science learning for scientific enga-
gement (Liu, 2013; Yore, 2012) and ‘knowing-
-in-action’ (Aikenhead, 2007). This point of view wants to strengthen the learning beyond the knowledge of chemistry content, contexts and processes. It argues for general skill development via
contention with issues of chemistry that is rele-
vant for a sustainable development of our society
and global world. Figure 2 provides an organizer to understand the difference of Vision III from
Visions I and II. Where Visions I and II focus on individual content knowledge development and
how it is applied in everyday life and Science-
Technology-Society contexts, Vision III aims on critical skills development for actively shaping the future society in a sustainable fashion.
The SDGs ask for active citizens that take res-
ponsibility and act accordingly. It asks for them in both fields among the scientists and the non-
-scientists. Content knowledge of chemistry and contextual understanding about chemistry might
be considered being necessary pre-requisites to participate informed in scientific and societal discourses on the technological applications of che-
mistry and its corresponding effects on the environment and society. However, this is not enough.
A critical stance is also needed that promotes
understanding of the responsibility of any individual and in the same time directs the individual to act accordingly.
For preparing the young generation to acti-
vely participate in societal discourse and deci-
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Scientific lireracy vision
VISION I: Conceptual scientific literacy
VISION II: Contextual scientific literacy
VISION III: Critical scientific literacy
Goals
Learning for individual skill development, personal growth, and further academic education
Learning for individual and societal participation by understanding science and its applications
Science education for values-driven transformation of both individual learners and society
Curriculum types (examples)
Traditional structure-of-thediscipline and history-of-science driven curricula
Context-based science education and classical Science-TechnologySociety curricula
Socioscientific issues-based science education (”hot” type) and curricula oriented towards critical sustainability
Focus on general educational skill development (education through science) Focus on traditional science content learning (science through education)
Figura 2. Visions of scientific literacy.
sion making, teaching about those socio-scientific issues (SSIs) is needed that is relevant for sustainable development of our society today and in
the future. Teaching chemistry needs to take into
3
CHEMISTRY RELATED INFORMATION IN AND FOR PUBLIC DISCOURSE To better understand the argument for a more
account a broad perspective on chemistry related
societal embedded chemistry education Eilks,
Especially so called “hot-type” SSIs are of potential
phical works of the Polish philosopher Ludwik Fleck.
issues including their ecological, economic, and
societal impacts (Sjöström, Rauch & Eilks, 2015).
to provoke a critical view towards development in science and technology (Simonneaux, 2014). Hot-
type SSIs can be characterized by their authenticity and controversial perception in society. Examples are alternative materials, renewable
energy supply, nanotechnology, or use of new dyes, cosmetics, biopesticides or pharmaceuticals which all can provide chances, but also can cause
risks. Pedagogies are needed in chemistry education where students learn how to argue, how to
use scientific evidences to inform the public, and how corresponding information can be obtained,
and also how careful respective information needs
to be evaluated and used (Sjöström et al., 2015; Sjöström et al., 2016). This is the case for school education for all learners, but it should be also the
case for the next generation chemists educated in our universities.
Nielsen and Hofstein in 2013 suggested a model on the linkage of science to society based on the philosoIn 1935 he wrote his famous book “The Development
and Genesis of a Scientific Fact” that for the first time was translated into English only in 1979. Fleck deve-
loped a first sociological theory of science within society. In 2015, Stuckey, Heering, Mamlok-Naaman,
Hofstein and Eilks (2015) provided a review on Fleck’s works from the perspective of science education and identified potential meanings of his works for the learning of and about science.
One of the central ideas of Fleck is that a
community of scientists in a certain field forms a thought collective; Kuhn has later called his
similar ideas the scientific community. The common issues of a thought collective is a joint thought style that provides the group with a common
understanding, acceptance of certain theories, a
joint language, and a set of beliefs. He called this the esoteric core of a certain domain of science.
101
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | QUÍMICA VERDE
This domain is characterized by the “journal
other just on the level of the educated amateurs.
that this esoteric core is surrounded by several
related media for the public if at all. In Stuckey
science”, the information and discussion in the
corresponding scientific journals. He described exoteric spheres. The first exoteric sphere he called handbook science, followed by the science for the
educated amateur. All this is science, however, the
more we move away from the esoteric core, the more the information gets selected, simplified and interpreted (Figure 3). Fleck further outlined that any individual can be a member in different thou-
ght collectives, but everyone is only a member in
one professional thought collective. You are either a synthetic organic chemist or an astrophysicist.
In recognizing Figure 3, it is clear that all of us
are only experts in one certain domain of exper-
tise. Among the chemists we might be able to
communicate with each other on the level of the handbook science. With physicists and biologists
in certain areas we might be able to talk to each
The further, most people in society come into con-
tact with science just only on the base of science et al. (2015) interpretation of Fleck the authors argued that for the normal citizen aside unders-
tanding some basics of the different fields of science it might be also important to understand
the filtering mechanism how scientific information is filtered step by step until it reaches us in
the news media, popular magazines, TV, Internet or social media. This should be the case at least
for the non-scientist. However, what is about the (future) scientist/chemist? It can be argued that
also the future chemist needs to learn about what
happens to his findings on the way into public debate. One can claim that it should become also
an issue for future chemists to learn how ‘their’ chemistry is communicated and used in the public.
This is especially the case when now important Society
Politics
Science-related media for the public Handbooks, academic textbooks
Economy Advertising Consumer tests ...
Science
and non-academic hand and textbooks Newspapers Magazines TV ...
Formal and informal education
Selection Simplyfication Interpretation ... ...
Figura 3. An interpretation of Ludwik Fleck’s understanding of the science-to-society link (from Stuckey et al., 2015; based on Bauer, 2009).
102
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
decisions are pending about the future of doing
Theory aiming at promoting experiences in and
WHAT DO WE NEED TO DO?
Borgonovi, 2016). In Brazil, for instance, the deve-
chemistry under recognition of the need for more sustainability and respecting the SDGs.
4
So far most chemists leave it to politicians,
stakeholder groups and the media to inform and influence the public about what chemistry did in the past and is doing today in terms of a greener
and more sustainable chemistry (Matlin et al.,
2015). Academic and school curricula in many cases do not cover sections about green chemistry and sustainability in chemistry related areas or lack even in references to corresponding developments (Vilches & Gil-Pérez, 2013). Curriculum
materials are often rare and if reference is made to green chemistry it is often fringed to specialized courses instead of permeating the whole curriculum.
In 2012, Burmeister et al. described different
potential roles green chemistry can play in the chemistry curriculum. They described that just
applying green chemistry principles in lab-work
in schools and the academia has some potential to
contribute to sustainability in chemistry, but this approach is limited in making the learner skillful
for a thorough reflection on chemistry in terms of sustainability. They suggested that chemistry edu-
cation in terms of Roberts‘ Visions I and II of scientific literacy is very limited in understanding the
change in chemistry that is happening these days
and should happen more intensified in the future. In line with Vision III, as outlined above, they sug-
gested starting chemistry learning from authentic and not yet decided developments to allow skill’s
development beyond the learning of chemistry.
This will lead to both the learning of chemistry and about chemistry and should start latest at
the secondary schooling level and continue in
university studies. For instance, some contem-
porary pedagogical strategies based on Critical
beyond our universities have been applied, taking
into account SSIs on green technologies (Zuin &
lopment and application of bio-formulations to control plagues towards sustainable agriculture and processing systems is gaining momentum,
representing also an opportunity to contextualize and bring together fundamental conceptual,
procedural and attitudinal educational contents (Zandonai et al., 2016). Such approaches can
help students in terms of the use of contexts from everyday life problems and solutions, bringing
awareness to the green chemistry movement and sustainability in a deeper sense (Sjöström et al., 2016).
Learning about chemistry by socio-scientific
issues is suggested to contribute to general skill
development due to reflecting scientific and technological developments against the background
of a sustainable development. This perspective
on chemistry is important for all learners and it is something that especially future chemists should not abstain from. From our point of view che-
mists should personally – not only via their pro-
fessional organizations – play a more active role in informing the public discourse about current
developments in their domain, transcending the laboratory walls. More non-formal and informal
channels are needed from chemistry to society to give the young generation a more accurate picture
of contemporary chemistry as chemistry did not only cause many problems in the past – chemistry
is a central part of science that can help solving
certain challenges and within the same time avoiding to create new ones.
We see a responsibility of us chemists and
science educators to more thoroughly help the young generation becoming chemically literate in the means of Vision III of scientific literacy as
described above. We have responsibility to connect our knowledge to society, e.g. supporting
103
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | QUÍMICA VERDE
education in schools by informal learning opportunities, networking of schools with the academia
and chemistry-related businesses, TEDx talks, social media, etc. It is also our responsibility to,
together with professional organizations, start
influencing a change in the chemistry curricula both for the academia and the schooling level in
terms of incorporating sustainability and green chemistry thoroughly. It is about 20 years ago that
the ideas of a green chemistry were suggested by Anastas and Warner (1998) in the USA. Together with the change in international policy towards
more sustainability it is still a pity that sustainability thinking and green chemistry found so limited
recognition by chemistry curricula in many coun-
tries. This should be discussed collectively, in a transfrontier and transdisciplinary manner. 5
REFERENCES
Aikenhead, G. S. (2006). Science education for everyday life: Evidence-based practice. New York: Teachers College Press.
Aikenhead, G. S. (2007). Expanding the research agenda for scientific literacy. In C. Linder et al. (Eds.), Promoting scientific literacy: Science education research in transaction. Uppsala: Geotryckeriet. Anastas, P. T. & Warner, J. C. (1998). Green chemistry theory and practice. New York: Oxford University Press.
Bauer, M. W. (2009). The evolution of public understanding of science – discourse and comparative evidence. Sci. Techn. Soc., 14, 221-240.
Bodner, G. (2014). Green chemistry and sustainability education in the US. In I. Eilks, S. Markic & B. Ralle (Eds.). Science education research and education for sustainable development (pp. 113-122). Aachen: Shaker. Bradley, J. D. (2005). Chemistry education for development. Chemical Education International, 7. Retrieved from: <http://old.iupac.org/ publications/cei/vol6/index.html>. 01 jul. 2011.
Burmeister, M., Rauch, F. & Eilks, I. (2012). Education for sustainable development (ESD) and secondary chemistry education. Chem. Educ. Res. Prac., 13, 59-68.
104
Eilks, I., Nielsen, J. A. & Hofstein, A. (2014). Learning about the role of science in public debate as an essential component of scientific literacy. In C. Bruguière, A. Tiberghien & P. Clément (Eds.), Topics and trends in current science education (pp. 85-100). Dordrecht: Springer. Fleck, L. (1935/re-published 1980). Entstehung und Entwicklung einer wissenschaftlichen Tatsache. Frankfurt: Suhrkamp.
HICKS, C. C. et al. (2016). Social science and sustainability; engage key social concepts for sustainability. Science, 352, 38-40.
Hofstein, A., Eilks, I. & Bybee, R. (2011). Societal issues and their importance for contemporary science education – A pedagogical justification and the state-of-the-art in Israel, Germany and the USA. Int. J. Sci. Math. Educ., 9, 1459-1483. Liu, X. (2013). Expanding notions of scientific literacy: A reconceptualization of aims of science education in the knowledge society. In N. Mansour & R. Wegerif (Eds.). Science education for diversity – Theory and practice (pp. 23-39). Dordrecht: Springer.
Matlin, S. A., Mehta, G., Hopf, H. & Krief, A. (2015). The role of chemistry in inventing a sustainable future. Nat. Chem., 7, 941-943. Roberts, D. A. (2007). Scientific literacy/science literacy. In S. K. Abell & N. G. Lederman (Eds.). Handbook of research on science education (pp. 729-780). Mahwah: Lawrence Erlbaum. Simonneaux, L. (2014). From promoting the technosciences to activism – A variety of objectives involved in the teaching of SSIs. In L. Bencze & S. Alsop (Eds.). Activist science and technology education (pp. 99-111). Dordrecht: Springer. Sjöström, J. (2006). Green chemistry in perspective – Models for GC activities and GC policy and knowledge areas. Green Chem, 8, 130-137.
Sjöström, J. (2013). Towards Bildung-oriented chemistry education. Sci. & Educ., 22, 1873-1890.
Sjöström, J. & Eilks, I. (2017, in press). Reconsidering different visions of scientific literacy and science education based on the concept of Bildung. In Y. J. Dori, Z. Mevaresh & D. Baker (Eds.). Cognition, metacognition, and culture in STEM education. Dordrecht: Springer. Sjöström, J., Eilks, I. & Zuin, V. (2016). Towards ecoreflexive science education – A critical reflection about educational implications of green chemistry. Sci. & Educ., 25, 321-341.
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Sjöström, J., Rauch, F. & Eilks, I. (2015). Chemistry education for sustainability. In I. Eilks & A. Hofstein (Eds.). Relevant chemistry education – From theory to practice (pp. 163-184). Rotterdam: Sense Publishers.
Sjöström, J. & Talanquer, V. Humanizing chemistry education: From simple contextualization to multifaceted problematization. J. Chem. Educ., v. 91, p. 1125-1131, 2014. Stuckey, M., Heering, P., Mamlok-Naaman, R., Hofstein, A. & Eilks, I. (2015). The philosophy of Ludwik Fleck and its potential meaning for the teaching and learning of science. Sci. & Educ., 24, 281-298.
UN Report of the World Commission on Environment and Development. 1987. Retrieved from: <http:// www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. 10 jul. 2011.
UN UN adopts new global goals, charting sustainable development for people and planet by 2030. Retrieved from: <http://www.un.org/apps/ news/story.asp?NewsID=51968#.Vm_z6ocHQs>. 16 dec. 2015. UNCED Agenda 21. 1992. Retrieved from: <http:// www.un.org/esa/dsd/agenda21/>. 10 jul. 2011.
Vilches, A. & Gil-Pérez, D. (2013). Creating a sustainable future: Some philosophical and educational considerations for chemistry teaching. Sci. & Educ., 22, 1857-1872.
Yore, L. D. (2012). Science literacy for all: More than a slogan, logo, or rally flag! In K. C. D. Tan & M. Kim (Eds.). Issues and challenges in science education research (pp. 5-23). Dordrecht: Springer.
Zandonai, D. P., Saqueto, K. C., Lopes, A. P. & Zuin, V. G. (2016). Alternative experiences in the undergraduate chemistry laboratory considering the Brazilian context. In Eilks, I., Markic, S. & Ralle, B. (Orgs.). Science education research and practical work (Vol. 1, pp. 81-92). Aachen: Shaker Verlag. Zuin, V. G. & Pacca, J. L. A. (2012). Formación docente en química y ambientación curricular: Estudio de caso en una Instituición de Enseñanza Brasileña. Enseñ. Cienc., 31, 77-91.
Zuin, V. G. & Mammino, L. (Ed.). (2015). Worldwide trends in green chemistry education. Cambridge: Royal Society of Chemistry. Zuin, V. G. (2016). Circularity in green chemical products, processes and services: Innovative routes based on integrated eco-design and solution systems. Curr. Opin. Green Sust. Chem., 2, 40-44.
Zuin, V. G. & Borgonove, C. M. (2016). Environmental education in distance learning in Environmental Engineering at Federal University of São Carlos, Brazil: Potentialities and limitations towards a critical techno-scientific education. Braz. J. Sci. Techn., 3, 1-14.
105
HISTÓRIA DA QUÍMICA | VOL. 12 | NÚM. 01 | JAN./JUN. 2017
p. 107-116
Registro da contribuição de Theodoro Ramos para atomística Record of Theodoro Ramos contribution to atomistic Nielson José Silva Furtado, José Machado Moita Neto e Janildo Lopes Magalhães1
1
INTRODUÇÃO O primeiro modelo atômico quântico foi proposto em 1913 pelo dinamar-
quês Niels Bohr e sua teoria sobre a constituição dos átomos já possui mais de um século (Braga; Filgueiras, 2013), mostrando o grande potencial didático dessa
teoria, pois ainda é muito utilizada para explicar de modo qualitativo transições espectroscópicas. Do ponto de vista quantitativo, essa teoria foi logo superada e substituída por outras que eram bem mais fundamentadas quantitativamente.
Por volta de 1915, o físico alemão Arnold Sommerfeld usando os princípios
da relatividade restrita e os fundamentos de quantização das orbitas eletrônicas,
sugeriu que as órbitas fossem elípticas possuindo diferentes excentricidades, estas responsáveis pela presença de diferentes energias numa mesma camada
eletrônica. No entanto, Sommerfeld não foi o único a propor uma resposta para o comportamento atomístico com base na teoria da relatividade. 1.1
A contribuição científica de Theodoro Ramos
Embora não conste na corrente majoritária da história da ciência interna-
cional dos modelos atômicos, houve um cientista brasileiro, contemporâneo a Sommerfeld, que no início da década de 1920 mostrou uma explicação para o fun-
cionamento da estrutura da matéria. Esse brasileiro foi o engenheiro e matemá-
tico Theodoro Augusto Ramos (Theodoro Ramos) (Studart; Costa; Moreira, 2004;
1. Universidade Federal do Piauí – UFPI, Centro de Ciências da Natureza-CCN, Departamento de Química – DQ.
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | HISTÓRIA DA QUÍMICA
Braga; Filgueiras, 2013). A contribuição de Theodoro Ramos foi semelhante à de Sommerfeld, distinguindo apenas na teoria da relatividade usada. O brasileiro
utilizou os princípios da relatividade geral e deu uma explicação para o comportamento das raias espectrais do átomo de hidrogênio. Como na época não exis-
tiam computadores, Theodoro Ramos apresentou sua contribuição baseada em um conjunto de cálculos trabalhosos, bastante complexos e de difícil interpretação (De Boni; Goldani, 2007).
Quadro 1. Resumo da biografia de Theodoro Augusto Ramos.
Theodoro Augusto Ramos foi um engenheiro (civil) e matemático brasileiro nascido na cidade de São Paulo em 1895. Ele introduziu no Brasil a análise matemática moderna, sendo considerado o mais ilustre e produtivo (cientificamente) matemático de sua geração. Obteve na escola politécnica do Rio de Janeiro o título de doutor em Ciências Físicas e Matemáticas (1918) ao defender a tese: Sobre as Funções de Variáveis Reais. Esta tese de doutorado foi uma das contribuições mais importantes para pesquisa matemática no Brasil. No ano de 1918 foi eleito membro da Sociedade Brasileira de Ciências. Em 1919 com a tese Questões sobre Curvas Reversas foi aprovado no concurso da escola politécnica de São Paulo e nomeado professor substituto interino das disciplinas matemática elementar, geometria analítica, cálculo infinitesimal, cálculo diferencial e integral. Em 1922, por decreto do governo estadual foi nomeado professor efetivo da escola politécnica de São Paulo. Ele foi um dos primeiros a introduzir em uma escola de engenharia o ensino de cálculo tensorial e cálculo vetorial, este último considerado uma importante ferramenta matemática bastante empregada nos estudos de física teórica, geometria analítica e mecânica. Theodoro Ramos foi um matemático renomado com publicação de vários artigos originais na área e também publicou em Paris o livro Leçons sur le Calcul Vectoriel. No ano de 1923, aos 28 anos, realizou a primeira pesquisa sobre relatividade geral e teoria quântica no Brasil. Além disso, atuando como engenheiro civil projetou a construção do serviço de águas do Ipiranga de São Paulo. Theodoro Ramos também deu contribuição na área da Educação, participando em 1931 da comissão nomeada por Francisco Campos (ministro da educação e saúde pública) para propor a reforma do ensino de engenharia no país. Em 1934 foi diretor de ensino superior do ministério da educação, nesse mesmo ano chefiou a comitiva acadêmica que foi à Europa contratar pesquisadores para Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, da qual foi o primeiro diretor. Exerceu também cargos públicos tendo sido, em 1933, prefeito de São Paulo por três meses. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 5 de dezembro de 1935.
Fonte: Adaptado de Silva (2006) e De Boni; Goldani (2007).
Em 1923 Theodoro Ramos apresentou nos Annaes da Academia Brasileira de
Ciência, o artigo: A theoria da relatividade e as raias espectraes do hydrogenio. Neste
estudo as raias do espectro fino do átomo de hidrogênio foram, pela primeira vez, explicadas com os princípios da relatividade geral (Ramos, 1923a; Ionescu; De Boni, 2005). No mesmo ano, Theodoro também publicou outro trabalho na revista
Polytechnica com o título: Sobre a theoria da estrutura do espectro das raias do
108
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
hydrogenio (Ramos, 1923b), no qual mostrou que a adição de um potencial do tipo
1/r2 ao potencial coulombiano reproduzia o valor encontrado por Sommerfeld
para a transição (2,2) → (2,1), sendo válido no caso particular das transições (n, k) → (n, k´) (Studart; Costa; Moreira, 2004).
No ano de 1931, Theodoro Ramos realizou na escola politécnica do Rio de
Janeiro conferências sobre mecânica quântica. Destas foram publicados quatro
artigos no boletim do instituto de engenharia nos números de novembro de 1931, fevereiro (1932), junho (1932) e agosto de 1933. Todos esses artigos foram repro-
duzidos na Revista Brasileira de Ensino de Física em 2003 e 2004 (Ramos, 2003a, 2003b, 2004a, 2004b).
Em 2004, algumas contribuições de Theodoro Ramos para o desenvolvimento
da física moderna no Brasil foram publicadas no artigo Notas da história da física
no Brasil: Theodoro Ramos e os primórdios da física moderna no Brasil (Studart;
Costa; Moreira, 2004). Já no ano de 2005, os autores Ionescu e De Boni (2005) publicaram no periódico Tchê Química um estudo sobre o artigo A theoria da relatividade e as raias espectraes do hydrogenio. Estes autores destacaram o aperfeiço-
amento feito por Theodoro Ramos ao modelo atômico de Bohr e caracterizaram O modelo atômico de Theodoro Augusto Ramos como contribuição brasileira para
a história dos modelos atômicos. A inserção de informações como essas em livros
didáticos de química são importantes para que os leitores conheçam a contribuição dada pela ciência brasileira.
Os livros didáticos, além de orientar a seleção dos conteúdos ministrados pelos
professores nos diversos níveis de ensino, também estabelecem um diálogo entre docente-discente-texto (Lopes, 1992). Nesse sentido, as informações no capítulo
Estrutura da matéria são essenciais para que discentes e docentes conheçam os acontecimentos envolvidos na evolução dos modelos atômicos, bem como seus
principais protagonistas, pois o livro didático age como meio de comunicação transmitindo a ciência e sua gênese para os leitores, fazendo com que esses leitores
transmitam essas informações e, ao mesmo tempo, reflitam sobre a diversidade de questões envolvidas, como, por exemplo, em um tema que aborda a história da ciência dos modelos atômicos. Nesse contexto, tratando-se da contribuição do brasileiro Theodoro Ramos, esperava-se que a mesma fosse mais mencionada nos
livros didáticos de química, tanto por sua importância histórica para ciência bra-
sileira quanto por seus resultados qualitativos que são semelhantes ao de Arnold
Sommerfeld. Dessa forma, surgem alguns questionamentos, a saber, por que essa contribuição brasileira continua sendo desconhecida? Por que não apresentá-las, pelo menos em título de curiosidade científica, em livros que tratam da história
dos modelos atômicos?. Questões como essas nos instigaram a fundamentar o pre-
sente estudo, no qual foi investigado se os livros didáticos de química do ensino médio trazem a contribuição dada pelo brasileiro Theodoro Ramos à história dos
modelos atômicos, analisando acerca de como essa contribuição deve ser abordada nos mesmos livros.
109
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | HISTÓRIA DA QUÍMICA
2
METODOLOGIA Para conhecer quais livros didáticos de química do Ensino Médio trazem algum
tipo de informação sobre a contribuição de Theodoro Ramos para história dos modelos atômicos, realizou-se uma investigação em 22 livros de Química Geral (conteúdos apenas da 1ª série) que foram mais adotados nas escolas públicas do Ensino Médio das cidades de Parnaíba e Teresina, ambas situadas no estado do
Piauí. Vale destacar que, muitos dos livros investigados participaram da análise do
plano nacional do livro didático (PNLD) como é o caso das edições dos livros mais recentes, que datam do ano de 2013 e foram aprovadas na avaliação do PNLD de 2015. Ressalta-se, também, que não foram investigados livros em volume único por estarem em condições diferenciadas. Esses livros investigados e seus respectivos editores estão listados no Quadro 2.
Quadro 2. Livros investigados de Química do Ensino Médio.
01. BIANCHI, J. C. A.; ALBRECHT, C. H.; MAIA, D. J. Universo da química. São Paulo: FTD, 2008. 02. DE BONI, L. A. B.; GOLDANI, E. Introdução clássica a química geral. Porto Alegre, Tchê Química Cons. Educ. LTDA, 2007. 03. FELTRE, R. Química geral. 7. ed. São Paulo: Moderna, 2008. 04. ______. Química geral. 6. ed. São Paulo: Moderna, 2004. 05. FONSECA, M. R. M. Química: química geral. São Paulo: FTD, 1992. 06. FONSECA, M. R. M. Química: meio ambiente, cidadania e tecnologia. São Paulo: FTD, 2010. 07. FONSECA, M. R. M. Química. São Paulo: Ática, 2013. 08. FRANCO, D. S. Química 1. São Paulo: FTD, 2008. 09. GALLO NETO, C. Química: da teoria à realidade. São Paulo: Scipione, 1995. 10. LEMBO, A. Química: realidade e contexto. 2. ed. São Paulo: Ática, 2001. 11. ______. Química geral: realidade e contexto. 3. ed. São Paulo: Ática, 2005. 12. LISBOA, J. C. F. Ser protagonista: química. São Paulo: Edições SM, 2010. 13. ANTUNES, M. T. Ser protagonista – química. 2. ed. São Paulo: Edições SM, 2013. 14. MORTIMER, E. F.; MACHADO, A. H. Química 1. São Paulo: Scipione, 2010. 15. ______. Química 1. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2013. 16. PERUZZO, F. M.; CANTO, E. L. Química na abordagem do cotidiano. 3. ed. São Paulo:Moderna, 2003. 17. ______. Química na abordagem do cotidiano. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2010. 18. SANTOS, W. L. P.; MÓL (Coords.), G. S. Química cidadã. São Paulo: Nova Geração, 2010. 19. SANTOS, W. L. P.; MÓL (Coords.), G. S. Química cidadã. 2. ed. São Paulo: Editora AJS, 2013. 20. SARDELA, A.; MATEUS, E. Química fundamental.18. ed. São Paulo: Ática, 1992. 21. SARDELA, A. Curso de química: química geral. 25. ed. São Paulo: Ática, 2004. 22. USBERCO, J.; SALVADOR, E. Química: química geral. 14. ed. Reformulado. São Paulo: Saraiva, 2009.
Os livros investigados pertencem a 15 diferentes editores, que em grande
parte são renomados na publicação de livros didáticos de Química para o Ensino Médio. Nos livros, o foco da investigação foi o capítulo Estrutura da matéria, nos
quais se buscaram informações sobre a contribuição dada por Theodoro Ramos e
110
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
Sommerfeld à história dos modelos atômicos. Como hipótese, assumimos que se
o capítulo do livro investigado trouxesse o modelo atômico de Sommerfeld, seria possível encontrar alguma informação relacionada à contribuição de Theodoro
Ramos. Tal hipótese é fundamentada porque acreditamos que a contribuição da
ciência brasileira deve ser apresentada sempre que for de mesma importância/ relevância que a internacional.
Em um segundo momento, realizou-se uma pesquisa bibliográfica da contribui-
ção de Theodoro Ramos à história dos modelos atômicos e fez-se uma comparação dessa contribuição com o modelo atômico de Arnold Sommerfeld, ressaltando os
possíveis motivos para o reconhecimento científico. Avaliou-se também a influência internacional da pesquisa científica brasileira na época em que Theodoro apre-
sentou seu artigo. Para isto, fez-se um resgate histórico de sua contribuição, obser-
vando seu desprestígio em relação à corrente majoritária científica internacional da época. 3
RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1
A contribuição de Theodoro Ramos está presente nos livros didáticos de química adotados no Ensino Médio?
Os livros didáticos investigados desconhecem esta importante contribuição
da ciência brasileira, sendo marcante em muitos livros a ausência de informações referentes à contribuição de Theodoro Ramos para a história dos modelos atômi-
cos. Dos 22 livros investigados, apenas um faz citação ao estudo do brasileiro, o qual apresenta como título: Introdução clássica à química geral, com a 1ª edição de
2007, autoria de Luis Alcides Brandini De Boni e Eduardo Goldani (Furtado et al.,
2012). Um dos co-autores desse livro conhecia bem a contribuição de Theodoro
Ramos, tendo publicado sobre o assunto (Ionescu; De Boni, 2005). Portanto, esse livro é uma das raríssimas referências que trazem a contribuição brasileira em livros didáticos de química do Ensino Médio.
No livro de De Boni e Goldani, o capítulo Estrutura da matéria aborda todos os
modelos atômicos e, após discutir o modelo de Sommerfeld, os autores também
relatam informações acerca da contribuição de Theodoro Ramos. Nesse livro, o capítulo possui 10 páginas (entre a 3-13), em que as informações sobre o tema estão na metade da página 12. Nessa meia página há informações qualitativas
sobre o estudo desse brasileiro, como, por exemplo, aplicação da relatividade geral em relação à relatividade restrita do modelo de Sommerfeld, bem como apresentação de uma sucinta biografia de Theodoro Ramos. Por ser uma contribuição da
ciência brasileira e devido à importância do tema para as aulas de atomística e
para a história dos modelos atômicos, confirmamos que o livro De Boni e Goldani traz uma abordagem adequada para apresentação do tema no Ensino Médio. Nesse sentido, os outros livros precisam incluir esse conhecimento histórico, dando a devida importância a essa contribuição brasileira. Em um contexto mais amplo
111
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | HISTÓRIA DA QUÍMICA
de história da ciência seria necessária uma abordagem conjunta entre o modelo atômico de Sommerfeld e a contribuição de Theodoro Ramos.
Uma característica marcante foi notada nos 21 livros que não fazem citação
à contribuição de Theodoro Ramos, a saber, todos esses livros serem de editores renomados na publicação de livros didáticos de química para o Ensino Médio, entre
os quais estão: Feltre, Peruzzo e Canto, Sardela, Marta Reis, Usberco e Salvador, dentre outros. Em seus livros não foram encontrados nenhuma espécie de informação sobre a contribuição brasileira, existindo apenas a abordagem e contextu-
alização dos modelos atômicos propostos por Dalton, Thomson, Rutherford, Bohr e do modelo atômico atual (fundamentado na teoria quântica), este que continua
sendo o mais aceito pela comunidade científica. Mesmo não havendo enfoque do
modelo de Sommerfeld e da contribuição de Theodoro Ramos, seria relevante que os editores desses livros fizessem uma abordagem dessas duas contribuições e trouxessem esse conhecimento histórico em suas próximas edições de livros.
Neste contexto, para que as informações sobre a contribuição brasileira à his-
tória da ciência sejam apresentadas e levadas a conhecimento da comunidade
de estudantes e professores do ensino médio é necessário que a contribuição da ciência brasileira (como essa de Theodoro Ramos e outras que tenham a mesma importância e que foram esquecidas com o passar dos anos) faça parte dos crité-
rios de escolha exigidos no PNLD, pois verificamos que na sua última edição esse
critério não foi exigido como item avaliativo para escola do livro didático (Brasil, 2014; Educa, 2014). Isso porque os livros didáticos de química avaliados e aprova-
dos no PNLD de 2015 também não trazem essa contribuição no capítulo Estrutura da matéria. Dessa maneira, acreditamos que a inclusão do item: Contribuições importantes da ciência brasileira que foram esquecidas com o passar dos anos, como
critério avaliativo, seja suficiente para que nas próximas avaliações os livros já reformulados e com a contribuição brasileira possam obter aprovação no PNLD, o
que tornará essa contribuição conhecida para comunidade de professores e estu-
dantes de química do ensino médio, principalmente, das escolas públicas. Esse é um passo relevante para que informações sobre a história dos modelos atômicos e da ciência brasileira ganhem fluxo e cheguem aos mais diversos leitores de todos os níveis de ensino e de áreas correlatas. 3.2
Contribuição de Theodoro Ramos à história dos modelos atômicos
O surgimento da relatividade geral, no final de 1915, introduziu na corrente
acadêmica da época discussões entre opositores e defensores da teoria da relativi-
dade (restrita e geral). Nessa época, o uso da relatividade geral permitiu calcular
a precessão do eixo da órbita do planeta mercúrio, na qual a aplicação da relativi-
dade restrita para resolução desse problema mostrava-se incorreta por um fator de 1/6 (Studart; Costa; Moreira, 2004).
Em 1919, a relatividade geral obteve sucesso após a constatação da deflexão
da luz pelo sol (Nussenzveig, 1998). Depois deste fato, alguns cientistas passaram
112
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
a debater sobre uma possível aplicação da relatividade geral na descrição de siste-
mas atômicos, pois estes, em muitos aspectos, são semelhantes ao modelo planetário (Studart; Costa; Moreira, 2004). Desse questionamento surgiu a pergunta: será
possível analisar o espectro do átomo de hidrogênio partindo da relatividade geral? Theodoro Ramos, em 1923, tentou responder exatamente isso, ele usou a regra da
quantização de Sommerfeld para um sistema formado por um elétron em órbita em torno do núcleo, estando o referido elétron ligado a esse núcleo pela força de
Coulomb. Com isso verificou a influência da curvatura do espaço-tempo sobre o
sistema. Theodoro Ramos reproduziu o resultado encontrado por Sommerfeld para as frequências das transições eletrônicas encontrando as pequenas contri-
buições provenientes da relatividade geral (Ramos, 1923a). Os resultados obtidos
por Theodoro Ramos usando realitivade geral explicam de maneira mais precisa o
espectro fino do átomo de hidrogênio, isso se comparado aos resultados encontrados por Sommerfeld empregando a relatividade restrita. Nesse sentido, a contri-
buição de Theodoro Ramos aperfeiçoou a correção que Sommerfeld fez ao modelo atômico de Bohr, mostrando que o estudo da orbital do elétron pode ser realizado
com as equações elípticas. Dessa forma, acreditamos que seria relevante uma nova denominação para o modelo atômico de Sommerfeld, assim como a inserção dessa contribuição brasileira no capítulo Estrutura da matéria dos livros didáticos de química. 3.3
Abordagem da contribuição brasileira a ser inserida nos livros de química do Ensino Médio
Propõe-se uma nova denominação ao modelo atômico de Sommerfeld presente
em livros didáticos de Química, passando a chamá-lo de Sommerfeld-Ramos, pois os dois cientistas fizeram uma correção do modelo atômico de Niels Bohr diferen-
ciando apenas na teoria da relatividade aplicada na descrição de seus modelos
atômicos. Nessa perspectiva, o modelo atômico de Sommerfeld-Ramos propõe
a existência das orbitas elípticas, dividindo os níveis energéticos em subníveis (regiões de menor energia). Além disso, houve o acréscimo de mais dois números
quânticos (azimutal e magnético), mostrando que os orbitais não precisavam se estabelecer num mesmo plano. Os elétrons estão na eletrosfera em camadas subdivididas em subníveis de energia que não eram, necessariamente, circulares. Em
outras palavras, o espectro de emissão de átomos mais complexos era admitido em cada camada eletrônica (n), havendo para esta uma órbita circular e n-1 órbi-
tas elípticas com diferentes excentricidades. Nessa situação, o elétron era determinado pela distância em que se encontrava do núcleo e pelo tipo de órbita que descrevia. Essas órbitas elípticas foram representadas pelos subníveis s, p, d e f.
A demonstração matemática envolvida na contribuição de Theodoro Ramos
(modelo atômico de Theodoro Augusto Ramos) é bastante complexa e, para o Ensino Médio, a exploração dessa abordagem torna-se inviável, sendo apenas
abordados seus aspectos qualitativos, os quais foram apresentados anterior-
113
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | HISTÓRIA DA QUÍMICA
mente. Vale ressaltar que o modelo atômico de Theodoro Ramos foi apresentado aos leitores na forma de artigo publicado na revista Polytechnica em 1923 (Ramos,
1923a) e na Academia Brasileira de Ciência em 1929 (Ramos, 1929), bem como
pelos autores Ionescu e De Boni (Ionescu; De Boni, 2005) em 2005. Tais artigos devem ser consultados por aqueles que querem aprofundar o conhecimento na abordagem matemática dessa contribuição basileira. 3.4
Reflexões que surgem do pouco reconhecimento histórico dado à contribuição de Thedoro Ramos
O pouco reconhecimento histórico da contribuição brasileira à história dos
modelos atômicos pode trazer várias reflexões para leitores, editores de livros
didático, bem como para professores e alunos em sala de aula. Um dos primeiros motivos apontados é que Thedoro Ramos apresentou, em 1923, uma correção ao modelo atômico Bohr, antes descrita por Arnold Sommerfeld em 1920. Embora a
correção de Theodoro Ramos (relatividade geral) explicasse de maneira mais adequada o espectro fino do átomo de hidrogênio (Ionescu; De Boni, 2005), essa não
chega a apresentar um novo modelo atômico propriamente dito. Mesmo assim, por que a contribuição de Theodoro Ramos não ficou conhecida tal qual a Arnold
Sommerfeld? Será que o motivo foi o fato de Theodoro Ramos ser brasileiro e não europeu ou estadunidense? Outro motivo pode estar relacionado à publicação do
artigo A theoria da relatividade e as raias espectraes do hydrogênio que só foi repro-
duzida apenas em 1929 nos Annais da Acadêmia Brasileira de Ciência, seis anos
após ter sido apresentado nessa mesma acadêmia (Studart; Costa; Moreira, 2004), já que em 1929 os questionamentos sobre a aplicação da relatividade geral em sistema atômicos estavam superados.
Outra reflexão que deve ser levantada está atribuída à revista brasileira (revista
Polytechnica em 1923) em que o artigo foi publicado: o fato de essa revista na época
ter apenas penetração nacional. Se o artigo de Theodoro fosse submetido a uma
revista com grande penetração internacional acreditamos que seu trabalho seria hoje citado em livros que tratam da história da química e da Física Quântica no Brasil
(Studart; Costa; Moreira, 2004). Portanto, se essa importante contribuição brasileira
tivesse sido reconhecida pela comunidade científica internacional da época, certamente, a ciência brasileira seria hoje vista com um “olhar diferente” do que é notado atualmente. 3.5
A influência da ciência brasileira na comunidade científica internacinal
Um fato interessante consolidado na comunidade científica internacional são
as informações relacionadas às origens dos cientistas que propuseram os mode-
los atômicos, pois são em sua grande maioria europeus, não possuindo nenhum cientista sul-americano. Na década de 1920, o Brasil ainda não tinha um cientista
com grande reconhecimento internacional na área da Física e Química. Uma influência como essa seria necessária para que a contribuição de Theodoro Ramos
114
VOLUME 12 | NÚMERO 01 | JAN./JUN. 2017
pudesse ter sido considerada importante em meio à corrente majoritária da época. Essa forma de desprestígio está enraizada na comunidade científica bra-
sileira desde tempos remotos, continuando marcante até hoje. Embora existam muitas contribuições científicas brasileiras que não foram devidamente reconhe-
cidas internacionalmente, são em parte reconhecidas pela comunidade científica nacional, como exemplos de tais contribuições temos: a descoberta da doença
de Chagas feita pelo médico e cientista Carlos Chagas (Pittella, 2009); a contribuição do físico curitibano Cesar Lattes, principal responsável pela descoberta do méson pi; o isolamento do fator de potenciação da bradicinina realizado por Sérgio Henrique Ferreira (médico e farmacologista brasileiro), sendo que essa descoberta possibilitou a criação do captopril e de um geração de medicamentos
mundialmente usados no tratamento da hipertensão e da insuficiência cardíaca.
Mesmo assim, este pesquisador brasileiro acabou sendo excluído do processo de patente do captopril. Outro caso importante, mas que demorou a ser reconhecido pela comunidade científica brasileira e internacional, foi o ensaio de compressão diametral ou ‘brazilian test’, como é mundialmente conhecido, descoberta brasi-
leira realizada pelo engenheiro civil Fernando Luiz Lobo Carneiro. Com isso, pode-
mos nos questionar o porquê de contribuições importantes como essas, muitas
das vezes, não estarem presentes em livros didáticos de suas respectivas áreas ou se estando presentes, não é dada pelos editores dos livros a importância que se espera.
A história da ciência é uma construção humana que traz os valores de quem os
narra, por isso não podemos desvincular de contribuições brasileiras importantes
como essa realizada por Theodoro Ramos. Isto é comum a todas as culturas científicas, não existe apenas uma história da ciência. Portanto, é necessário contarmos a nossa! 4
CONCLUSÃO A investigação nos livros didáticos de Química mostra que apenas um livro
traz informações sobre a contribuição de Theodoro Ramos à história dos modelos atômicos. Essa contribuição continua sendo desconhecida, principalmente, para professores e estudantes que utilizam o livro didático de química como fonte de
informação e até para maioria dos editores de livros didáticos de química do Ensino Médio.
A contribuição de Theodoro Ramos foi embasada na relatividade geral e
melhora a correção de Sommerfeld ao modelo atômico de Bohr, mas não chega à
apresentação de um novo modelo atômico. Além disso, o pouco reconhecimento
científico também pode estar relacionado à publicação do artigo de Theodoro numa revista científica brasileira com pouca penetração internacional na época.
Portanto, esta investigação propõe que os editores de livros didáticos de quí-
mica do Ensino Médio incluam no capítulo Estrutura da matéria, um tópico que
115
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE QUÍMICA | HISTÓRIA DA QUÍMICA
aborde e faça um paralelo entre o modelo atômico de Sommerfeld e a contribuição
de Theodoro Ramos, denominando a junção desse paralelo de modelo atômico de Sommerfeld-Ramos. 5
REFERÊNCIAS BRAGA, J. P.; FILGUEIRAS, C. A. L. O centenário da teoria de Bohr. Química Nova, v. 36, n. 7, p. 1073-1077, 2013.
BRASIL. Guia de livros Didáticos. [s.l: s.n.]. 2014. Disponível em: <http://www.fnde.gov. br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/5940-guia-pnld-2015>. Acesso em: 25 mar. 2016.
DE BONI, L. A. B.; GOLDANI, E. Introdução clássica a química geral. Porto Alegre: Tchê Química Cons. Educ. LTDA, 2007. EDUCA, S. D. E. Ministério da educação fundo nacional de desenvolvimento da educação secretaria de educação básica. Vol. 64, p. 1-81, 2014. Disponível em: <http://www. fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais>. Acesso em: 26 mar. 2016.
FURTADO, N. J. S. et al. Investigação da presença do átomo de Theodoro Ramos em livros didáticos de química do ensino médio. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 64, 2012, São Luis. Anais... São Luis: UFMA, 2012. p. 1807. IONESCU, L. G.; DE BONI, L. A. B. O modelo atômico de Theodoro Augusto Ramos. Periódico Tchê Química, Porto Alegre, Grupo Tchê Química, v. 2, n. 1, p. 30-37, 2005. LOPES, A. R. C. Livros didáticos: obstáculos ao aprendizado da ciência química. Química Nova, v. 15, n. 3, p. 254-261, 1992.
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica – 4 Ótica, Relatividade, Física Quântica. São Paulo: Edgard Blucher, 1998.
PITTELLA, J. E. H. O processo de avaliação em ciência e a indicação de Carlos Chagas ao prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 42, p. 67-72, 2009. RAMOS, T. A. Teoria da relatividade e as raias espectrais do hidrogênio. Revista Polytechnica, v. 74, p. 181-188, 1923a. ______. Sobre a theoria da estrutura do espectro das raias do hydrogenio. Revista Polytechnica, n. 78/79, p. 503-507, 1923b.
______. Teoria da relatividade e as raias espectrais do hidrogênio. Annaes Acadêmia Brasileira de Ciência, n. 1, p. 20-27, 1929. ______. Introdução à mecânica dos “quanta” parte I. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 25, n. 3, p. 326-332, 2003a.
______. A. Introdução à mecânica dos “quanta” parte II. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 25, n. 4, p. 418-425, 2003b.
______. A. Introdução à mecânica dos “quanta” parte III. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 26, n. 1, p. 71-74, 2004a.
______. A. Introdução à mecânica dos “quanta” parte IV. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 26, n. 1, 75-78, 2004b.
STUDART, N.; COSTA, R. C. T.; MOREIRA, I. C. Notas da história da física no Brasil: Theodoro Ramos e os primórdios da física moderna no Brasil. Física na Escola, v. 5, n. 2, p. 34-36, 2004. SILVA, C. M. Politécnicos ou matemáticos? História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13, n. 4, p. 891-908, 2006.
116
Resenhas Review
Fundamentos da Cromatografia Gasosa Fernando M. Lanças 1ª edição | Editora Átomo | 2017 | 240 páginas
Esta obra tem como escopo os fundamentos da cromatografia gasosa
e abrange teoria, instrumentação, colunas, métodos de análise, assim como a prática − demonstrada em alguns exemplos de aplicação.
Trata-se de um estudo atual cuja intenção é a de que sirva como texto
introdutório aos interessados em se iniciarem nesta modalidade de cromatografia. É uma técnica analítica, ainda insuperável, para a análise qualitativa e quantitativa de misturas complexas de compostos voláteis e semivoláteis.
Comunicação e Linguagem Científica: guia para estudantes de Química Jane Raquel Silva de Oliveira e Salete Linhares Queiroz 2ª edição | Editora Átomo | 2017 | 116 páginas
O livro tem como objetivo mostrar, principalmente aos ingressantes nos
cursos de graduação, de forma simples e sucinta, aspectos relevantes da comunicação científica. Nele são encontrados exemplos extraídos de conceituadas revistas científicas nacionais da área de Química e
também de revistas de divulgação científica de grande circulação, que são úteis para auxiliar o leitor no entendimento dos tópicos em foco.
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Revista Brasileira de Ensino de Química (ReBEQ) é uma publicação semestral da Editora Átomo que aceita colaborações em forma de artigos, resenhas, relatos de experiência, notícias e memória fotográfica da Química no Brasil. Os textos poderão ser publicados em português e espanhol. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião ou pensamento da coordenação e conselho editoriais. Os originais submetidos a análise do Comitê Científico serão encaminhados a, no mínimo, dois conselheiros do seu corpo editorial, os quais avaliarão de forma específica e decidirão sobre a pertinência dos textos à linha editorial da revista. Em caso de necessidade de revisões de conteúdo ou adequações às normas editoriais, o autor receberá os pareceres dos conselheiros, ficando, assim, responsável pela reapresentação do trabalho reformulado no prazo de 45 dias, contados a partir da data de recebimento da comunicação. O anonimato entre autores e conselheiros, durante o processo de arbitragem dos textos, é garantido pelo Comitê. O prazo médio estipulado para a apresentação do resultado final é de até 60 dias, a contar da data de recebimento do texto. Os trabalhos não aprovados pelos conselheiros, ou não devolvidos no prazo estipulado para reformulação, serão arquivados e os autores informados.
Sobre a apresentação de originais para avaliação Ao encaminhar os trabalhos para análise do Comitê Científico, os autores deverão observar as seguintes orientações: 1. Originalidade e ineditismo dos textos: o autor deve enviar, junto com o trabalho, uma declaração na qual se compromete a não apresentá-lo, simultaneamente, em outro periódico, durante o prazo estipulado para avaliação, e autoriza a sua publicação nesta revista. 2. As colaborações devem ser redigidas em português ou espanhol. Em casos excepcionais, cuja pertinência será analisada pelo Comitê, serão aceitos textos em inglês e francês, que deverão ser traduzidos para a língua portuguesa. 3. Em folha à parte, devem ser informados os dados de autoria: título do trabalho, nome completo, vinculação institucional, formação acadêmica e endereço residencial ou institucional do autor (incluindo telefone e e-mail) para o encaminhamento de correspondência pela Secretaria de Redação. 4. No caso de artigos, os originais não poderão exceder o limite máximo de 40.000 caracteres (com espaço), incluindo todos os elementos gráficos disponíveis no arquivo. Para resenhas, notas críticas e outros, observar o limite de 10.000 caracteres (com espaço).
5. Quanto à estrutura do texto, devem ser observadas as seguintes orientações: na primeira página, apresentar o título e subtítulo do trabalho, o resumo e as palavras ‑chave (até 05, evitando-se combinações extensas que não correspondam ao conteú do do texto). Todos esses elementos devem ser apresentados em português ou espanhol e inglês. 6. Os textos devem ser digitados no programa Word for Windows, em fonte Times New
Roman, tamanho 12, com espaço duplo, e enviados por correio eletrônico para o seguinte endereço: rebeq@atomoealinea.com.br
Sobre referências bibliográficas e notas O autor do trabalho é responsável pela exatidão, organização e utilização correta das referências e citações constantes no texto, bem como na listagem bibliográfica a ser apresentada no final dos artigos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT – www. abnt.org.br) fornece, por meio da NBR 6023 (agosto/2002), as orientações necessárias para a organização das referências bibliográficas. No caso de notas, esse recurso tem seu uso limitado ao caráter explicativo-informativo, neste periódico, evitando-se a utilização de notas bibliográficas. As notas, quando utilizadas, devem aparecer em sequência representada por asterisco (*,**,***) no rodapé da página a que se refere. As citações autorais deverão ser feitas em sequência numérica e apresentadas ao final do artigo.
Sobre a utilização de imagens As tabelas, quadros e figuras (ilustrações, fotografias, gráficos, entre outros) devem ser apresentados com o máximo de resolução (300dpis em diante), em preto e branco, em arquivo à parte e, de preferência, finalizados para sua inserção direta no texto. Para a produção das tabelas, recomenda-se seguir as orientações do IBGE (www.ibge.gov.br) publicadas em suas normas de apresentação tabular. Todos esses elementos gráficos devem estar indicados e numerados, consecutivamente, ao longo do texto, de acordo com a ordem em que aparecem.
Sobre a natureza da colaboração e recebimento de exemplares Fica aqui expresso que a participação dos autores neste periódico é de caráter espontâneo, portanto, não remunerado. O autor principal receberá, gratuitamente, um (01) exemplar da edição em que seu artigo foi publicado, mais separata eletrônica deste; os co-autores receberão um (01) exemplar e separata eletrônica do texto. No caso de resenhas, cada autor terá direito a um (01) exemplar e separata eletrônica.
Solicitação de Assinatura: Primeira assinatura / First subscription
Renovação de assinatura / Subscription renovation
Nome / Name: ____________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________ Sexo / Gender: M
F
Data de Nascimento / Date of birth: ______ /______ /___________
Endereço / Address:________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________ CEP / Post Code: |__|__|__|__|__| - |__|__|__|
Bairro / District: ____________________________________
_________________________________________________________________________________________________ Cidade / City: ________________________ DDD / DDI: _____
UF / ST: ______
País / Country: ____________________________
Telefone / Phone #: ________________________
Fax: _______________________________
E-mail:___________________________________________________________________________________________ CPF: |__|__|__|__|__|__|__|__|__| - |__|__|
RG: |__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|
/ SSP: |___|___|
CNPJ: |__|__|__|__|__|__|__|__|/|__|__|__|__|-|__|__| Inscr. Estadual: |__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|__|__| Obs.: Para alteração de dados cadastrais enviar apenas o formulário preenchido.
Como tomou conhecimento da ReBEQ / How did you know about ReBEQ: Anúncios / Ads
Amigos / Friends
Faculdade / University
Outros / Others: _______________
Preço para Anuidade: R$ 50,00 Assinatura para 2 edições semestrais Opção de Pagamento
Depósito bancário Caixa Econ. Federal / Agência: 3914-4 / Conta Corrente: 180-7 Os valores acima são válidos para venda nacional US$ 30,00 – Venda para o exterior – cheque nominal à Editora Átomo Ltda.
PABX: (19) 3232-9340 ou 3232-0047 Website: www.grupoatomoealinea.com.br/rebeq E-mail: rebeq@atomoealinea.com.br Se precisar de outro impresso, basta fazer cópia (If you need additional forms, simply photocopy the blank form)