Sociologia da Ciência: contribuições ao campo CTS

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SOCIOLOGIA

DA CIÊNCIA CONTRIBUIÇÕES AO CAMPO CTS

Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi Camila Carneiro Dias Rigolin Maria Teresa Miceli Kerbauy Organizadoras


DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Marídia R. Lima REVISÃO DE TEXTOS Cristian Vieira EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Camila Lagoeiro Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Sociologia da ciência : contribuições ao campo CTS / Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi, Camila Carneiro Dias Rigolin, Maria Teresa Miceli Kerbauy, Organizadoras. -Campinas, SP : Editora Alínea, 2014. Vários autores. Bibliografia. 1. Ciência - Aspectos sociais 2. Ciência Filosofia 3. Ciência - História 4. Sociologia do conhecimento 5. Tecnologia - Aspectos sociais I. Hayashi, Maria Cristina Piumbato Innocentini. II. Rigolin, Camila Carneiro Dias. III. Kerbauy, Maria Teresa Miceli. 14-01726

CDD-306.45

Índices para catálogo sistemático: 1. Ciência, tecnologia e sociedade : Sociologia 306.45 ISBN 978-85-7516-570-6 Todos os direitos reservados ao

Grupo Átomo e Alínea Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br Impresso no Brasil


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Sumário Apresentação............................................................................................ 7 Capítulo 1 Ciência e Tecnologia: uma perspectiva histórico-filosófica.................. 13 Marisa Bittar e Amarílio Ferreira Jr.

Capítulo 2 A Ciência Guiada por Fatores Sociais: a abordagem de Boris Hessen e sua contribuição para a Sociologia da Ciência.................................................................. 41 Geovane Ferreira Gomes

Capítulo 3 A Sociologia do Conhecimento em Karl Mannheim............................. 59 Vera Alves Cepêda

Capítulo 4 Racionalização e Sociologia da Ciência em Max Weber....................... 91 Marco Aurélio Nogueira e Lucas Cid Gigante

Capítulo 5 A Sociologia da Ciência Mertoniana................................................... 117 Edson Ronaldo Guarido Filho

Capítulo 6 David Bloor e o Programa Forte em Sociologia da Ciência: primeiras aproximações....................................................................... 143 Camila Carneiro Dias Rigolin


Capítulo 7 Pierre Bourdieu e a Noção de Campo Científico: contribuições para o estudo da prática científica e técnica.................. 161 Airton Ferreira Moreira Jr. e Thales Haddad Novaes de Andrade

Capítulo 8 As Contribuições de Bruno Latour para os Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade....................................... 183 Henrianne Barbosa

Capítulo 9 John Ziman: físico e epistemólogo em uma “ciência pós-acadêmica”..................... 211 Verusca Moss Simões dos Reis

Capítulo 10 A Relevância da Teoria da Sociedade de Risco para os Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia................................ 239 Danilo Rothberg e Maria Teresa Miceli Kerbauy

Capítulo 11 Fertilizações Cruzadas entre a Cientometria, a Sociologia da Ciência e os Estudos Sociais da Ciência.................... 267 Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi

Sobre os Autores.................................................................................. 307


Apresentação A relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade pode ser tomada a partir de vários pontos de vista e abordagens teóricas, a maioria delas, interdisciplinares. A perspectiva buscada nesse livro, pois, tem como pressupostos as ideias de que a ciência não é neutra ou desinteressada, de que a tecnologia não se reduz a artefatos e sistemas produzidos pelo homem para o bem-estar da sociedade e de que, na produção do conhecimento científico, participam inúmeros atores, inclusive não-humanos. Assim, a produção de conhecimento é afetada por fatores históricos e sociais internos e externos à ciência. Ou seja, ciência e tecnologia são atividades humanas construídas e situadas histórica e socialmente. Esses temas estão contemplados na presente obra, a qual representa o esforço coletivo de um grupo de pesquisadores que se dedicaram a elaborar textos dirigidos não só aos iniciantes nos Estudos Sociais da Ciência, mas também aos interessados em compreender as complexas imbricações entre ciência, tecnologia e sociedade. Assim, a proposta deste livro é oferecer uma visão das principais ideias e implicações das obras de alguns autores clássicos e contemporâneos da Sociologia da Ciência e de campos correlatos, como a Antropologia, a Filosofia e a História da Ciência. Os textos apresentados são um convite aos leitores para revisitarem os principais autores destes campos, nem sempre suficientemente abordados nas disciplinas de graduação e pós-graduação, de forma a permitir uma reflexão sobre suas teorias e contribuições para a grande área dos Estudos Sociais da Ciência, comumente referido como campo CTS. Marisa Bittar e Amarílio Ferreira Júnior elaboraram um texto no qual traçam uma perspectiva histórico-filosófica da ciência e da tecnologia. Os autores partem da visão de que a ciência e a tecnologia, enquanto elementos teóricos e instrumentais que possibilitam o desenvolvimento


8 Apresentação material e espiritual dos homens estão condicionados, em última instância, a uma concepção de mundo em que há uma ligação universal entre os fenômenos societários de ordem econômica (o crescimento das forças produtivas por meio do trabalho humano), social (as condições materiais de vida das pessoas), política (os valores morais e intelectuais que regulam os relacionamentos entre os homens), cultural (as manifestações psicológicas e ideológicas professadas pelas pessoas) e ecológica (a consciência humana de que o mundo natural é finito). Tendo como pressuposto o conhecimento enquanto construção humana, o texto aborda a Filosofia e suas relações com a teologia e a ciência nos diversos períodos históricos, desde a Antiguidade Clássica, passando pela revolução técnico-científica e chegando ao século XX. O texto finaliza com uma reflexão sobre o papel atual da universidade enquanto produtora de conhecimento, conclamando-a a formar intelectuais, além de cientistas e especialistas. O texto de Geovane Ferreira Gomes, por sua vez, apresenta o pensamento social do físico russo Boris Hessen a respeito da Ciência e da Tecnologia, que o russo vê como atividades socialmente orientadas e voltadas para o atendimento de interesses econômicos. O ponto de partida é a análise de um texto – As Raízes Sociais e Econômicas do “Principia” de Newton – apresentado por Hessen no Congresso Internacional de História da Ciência e da Tecnologia, realizado em Londres, em 1931. O autor mostra que o trabalho Hessen desmonta a visão acrítica e essencialista da ciência, que a vê sob uma perspectiva de desenvolvimento linear e contínuo. Além das repercussões e dos desdobramentos políticos que provocou sua apresentação, o trabalho de Hessen acabou por influenciar destacados historiadores e sociólogos da ciência, tais como John Desmond Bernal e Robert King Merton, ao mostrar que a ciência era influenciada por forças supostamente “estranhas” ao seu domínio, isto é, forças econômicas e sociais. Já o texto elaborado por Vera Alves Cepêda apresenta um panorama sobre a tese mannheimiana da Sociologia do Conhecimento, através de seus aspectos fundamentais. A autora procura despertar o interesse do leitor em aprofundar o estudo da obra de Karl Mannheim, autor seminal desse campo científico. O texto se inicia com uma discussão sobre a ideo-


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logia e a formação do campo da ciência e da cultura, mostrando como o autor construiu uma abordagem teórica – a Sociologia do Conhecimento - que lhe permitiu compreender, com critérios científicos, a produção do pensamento social. Além disso, a autora situa a formação intelectual de Mannheim no contexto do historicismo alemão e, a partir de uma visão histórico-temporal, traça sua trajetória acadêmica e examina sua obra em diversas fases de sua produção intelectual. Em seguida, apresenta o esquema conceitual da Sociologia do Conhecimento e os conceitos de estilo de pensamento, ideologia e utopia presentes na produção teórica mannheimiana. O texto finaliza com reflexões sobre aspectos da obra do de Mannheim pouco incorporados, mas nem por isso menos importantes, como o método de pesquisa. Racionalização e Sociologia da Ciência em Max Weber, por sua vez, é o título do texto elaborado por Marco Aurélio Nogueira e Lucas Cid Gigante. Os autores iniciam o texto com um breve panorama histórico da trajetória deste pensador que, além de economista, jurista, sociólogo, filósofo e historiador, também é considerado um dos fundadores da Sociologia. Em seguida, expõem a principal conceituação teórica de Weber, o “tipo ideal”, e na sequência, o que denominam de “quarteto temático” weberiano, isto é, os quatro processos destacados por Weber implicados no desenvolvimento particular da ciência no Ocidente: a racionalização, o desencantamento do mundo, a secularização e a intelectualização. Por fim, os autores refletem sobre a concepção de neutralidade axiológica, ou seja, o papel dos valores na atividade científica, mostrando que, na concepção weberiana, a ciência não poderia ser a base para a escolha de valores que, em última instância, são escolhas dos próprios indivíduos. Por sua vez, o objetivo do texto de Edson Ronaldo Guarido Filho é o de resgatar as ideias de Robert King Merton sobre a Sociologia da Ciência, além de alguns de seus desdobramentos, os quais permitem compreender aspectos fundamentais da ciência enquanto instituição social. O texto inicia com considerações acerca da Sociologia do Conhecimento e da influência da obra de Merton, cujas peculiaridades formam a base de sua Sociologia da Ciência. Em seguida, expõe o ethos científico mertoniano, conjunto normativo da ciência expresso em imperativos institucionais, discutindo o sistema de recompensa da ciência e,


10 Apresentação de modo associado, sua estratificação, o que foi chamado por Merton de “Efeito Mateus”. O autor também faz comentários sobre a proximidade das ideias de Merton e Thomas Kuhn e suas implicações sobre o simbolismo na comunicação científica por meio da prática de citações. Nas conclusões do texto são destacados o legado e impacto de Merton sobre outras abordagens da Sociologia da Ciência. Camila Carneiro Dias Rigolin, por sua vez, dedica-se a analisar em seu texto o significado do Programa Forte da Sociologia da Ciência e as contribuições de seu principal formulador, David Bloor, para esse campo de conhecimento. O texto inicia com uma breve digressão sobre as formulações teóricas do Positivismo Lógico, do Neopositivismo e do Funcionalismo, correntes teóricas antecedentes ao Programa Forte, apontando os pressupostos comuns que estão na base conceitual desses programas e suas diferenças epistemológicas. Em seguida, a autora apresenta os postulados do Programa Forte, apontando sua oposição frontal à clivagem entre o “contexto da descoberta” e o “contexto da justificação”, e destacando o papel central que Bloor representou para essa nova corrente teórica da Sociologia da Ciência ao responder positivamente que a Sociologia do Conhecimento poderia investigar o conteúdo e a natureza do conhecimento científico. O texto também mostra que coube a David Bloor mostrar que o núcleo forte da Sociologia da Ciência, isto é, o conteúdo das teorias científicas, permanecia intocado, cabendo aos sociólogos analisarem os êxitos e fracassos científicos partindo do pressuposto de que essas trajetórias são construídas socialmente. Já o texto de Airton Moreira Junior e Thales Novaes de Andrade apresenta as contribuições da Sociologia de Pierre Bourdieu e da noção de campo científico cunhada esse autor para o estudo da prática científica e técnica. Os autores iniciam o texto apresentando os diferentes paradigmas da Sociologia da Ciência e da Técnica. Em seguida, discutem a visão de Bourdieu sobre a Sociologia e o referencial teórico-metodológico proposto pelo autor, problematizando o modo como utiliza esse referencial para uma análise sociológica da prática científica. Para isso, explicitam os conceitos bourdieusianos de campo científico e habitus para investigar as dinâmicas sociais que configuram as práticas dos pesquisadores. Posteriormente, tratam de dois elementos que interferem


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diretamente nas práticas dos agentes que compõem um campo científico: as tensões internas e as pressões externas à dinâmica do campo. O texto ainda apresenta uma breve discussão realizada por Bourdieu sobre uma instituição científica francesa que sintetiza os principais elementos de sua análise, encerrando com reflexões acerca dos desdobramentos da visão de Bourdieu acerca da atividade científica. As contribuições de Bruno Latour para os estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade são enfocadas no texto de Henrianne Barbosa. A autora faz uma exposição introdutória ao pensamento de Bruno Latour, apresentando uma breve biografia. Em seguida, alguns aspectos das principais formulações teóricas de Latour são examinados, com ênfase em seus estudos etnográficos – principalmente sobre os cientistas e os laboratórios científicos, desenvolvidos juntamente com Steve Woolgar –, bem como à teoria ator-rede, que estabeleceu em parceria com Michel Callon e John Law. Posteriormente, a autora expõe o que chama de “tramas da rede”, isto é, o conjunto de referências que Latour utilizou para dar significado ao conceito de rede. A autora ainda mostra o redimensionamento das teorias latourianas após as inúmeras apropriações da teoria ator-rede e as perspectivas de suas teorias em ação. As contribuições do físico e epistemólogo da ciência John Michel Ziman ao campo dos estudos sociais da ciência são analisadas por Verusca Reis. A autora inicia o texto com uma breve biografia desse físico teórico que se interessou em estudar as relações sociais subjacentes à produção de conhecimento científico, pontuando sua trajetória por meio dos diferentes papéis que ele desempenhou ao longo de sua carreira acadêmica. Em seguida, a autora apresenta as principais teses de Ziman referentes aos aspectos sociais da ciência, bem como o conceito de “ciência pós-acadêmica”, formulado pelo autor com o intuito de avaliar as transformações ocorridas na atividade científica nos últimos anos. Para cumprir esses objetivos, a autora recorre à ampla produção teórica de Ziman, refazendo seu percurso intelectual com a finalidade de demonstrar a intrínseca relação que estabeleceu entre a estrutura social da produção científica e a sociedade, além de tratar das transformações ocorridas na cultura acadêmica e na universidade, sobretudo nos últimos 20 anos, que levaram ao surgimento de uma “ciência pós-acadêmica”, termo que o autor utiliza para mostrar


12 Apresentação que o que está em jogo é a capacidade de o sistema de pesquisa continuar produzindo, em longo prazo, conhecimento confiável. O texto de Danilo Rothberg e Maria Teresa Miceli Kerbauy, revisita os principais conceitos da Teoria da Sociedade de Risco a fim de oferecer uma contribuição à compreensão de sua relevância para os Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia. Na primeira parte do texto, os autores recorrem a nomes clássicos do campo da Sociologia que refletiram sobre a modernidade, entre eles Max Weber. A seguir, revisam os pilares dessa teoria, com ênfase sobre os seus aspectos mais importantes. O papel principal de Ulrich Beck na construção dessa teoria e o de outros autores – entre eles David Harvey e Anthony Giddens – é destacado na construção de modelos teóricos que procuraram explicar esses acontecimentos. Rothberg e Kerbauy ainda analisam a atualização que a teoria sofreu em função de eventos posteriores à sua criação, como a guerra contra o terrorismo empreendida após os ataques aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. Finalmente, os autores descrevem as críticas de diversos matizes contrapostas à teoria e realizam um balanço final, sugerindo questões de pesquisa advindas das considerações atuais sobre a sociedade de risco. O texto que fecha o livro é de Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi, e as fertilizações cruzadas entre a Cientometria, a Sociologia da Ciência e os Estudos Sociais da Ciência compõe o tema analisado. O propósito da autora é mostrar as relações da Cientometria – esse campo de estudos métricos – com os Estudos Sociais da Ciência, o que é realizado por meio de um panorama histórico que permite recuperar os principais elementos teóricos e as formulações conceituais que conformam esses campos de conhecimento. Além disso, a autora lança mão de alguns conceitos-chave dessas áreas para mostrar como eles podem iluminar as pesquisas dedicadas a realizar análises das dimensões sociais da ciência e da tecnologia. Boas leituras! As organizadoras


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