2ª Edição | Revisada
A Produção do Fetichismo e Dependência
Helton Ricardo Ouriques
DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Willian F. Mighton COORDENAÇÃO DE REVISÃO E COPYDESK Alice A. Gomes REVISÃO DE TEXTOS Bruna Oliveira Gonçalves Carolina Felicori EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Fabio Cyrino Mortari Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ouriques, Helton Ricardo A produção do turismo: fetichismo e dependência/ Helton Ricardo Ouriques. - Campinas, SP: Editora Alínea, 2015. 2ª edição. Bibliografia. 1. Capitalismo 2. Lazer – Aspectos sociais 3. Turismo – Aspectos sociais I. Título. 04-6275
CDD-338.4791
Índices para catálogo sistemático: 1. Produção do turismo: Economia 338.4791 2. Turismo: Produção: Economia 338.4791 ISBN 978-85-7516-702-1 Todos os direitos reservados ao
Grupo Átomo e Alínea Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br Impresso no Brasil
Dedico este trabalho a ValÊria, pela alegria cotidiana de conviver... pela graça dos seus passos, gostos e gestos deliciosamente sorrindo...
Sumário Prefácio.................................................................................................... 7 Apresentação.......................................................................................... 11 Introdução.............................................................................................. 13 Capítulo 1 Lazer e Turismo na Sociedade Capitalista............................................. 29 A preparação dos trabalhadores para o turismo............................... 30 Tempo de trabalho e tempo de lazer turístico.................................. 35 Turismo, massificação e simulacro.................................................. 43 O turista, sujeito atuante no mundo da mercadoria.......................... 46 Capítulo 2 Turismo: do fetichismo ao espetáculo................................................... 51 Fetichismo da mercadoria e sociedade do espetáculo...................... 52 Turismo: expressão do tempo espetacular........................................ 56 A fé religiosa, uma mercadoria turística........................................... 64 Capítulo 3 Produção Científica em Turismo: síntese crítica................................... 71 A corrente liberal.............................................................................. 73 A corrente do planejamento estatal.................................................. 76 A corrente pós-moderna................................................................... 80 A corrente crítica.............................................................................. 86 A geografia serve, antes de mais nada, para fazer turismo?............. 91
Capítulo 4 O Turismo na Periferia do Capitalismo................................................. 95 Turismo, a reafirmação do mito do desenvolvimento...................... 97 O arquétipo colonial: o sexo como constituinte do turismo periférico............................. 104 Os residentes como mercadoria: força de trabalho e exotismo cultural............................................. 113 Turismo e cinema: reforçando estereótipos.................................... 118 Capítulo 5 Brasil: de colônia de exploração a colônia de férias............................ 125 Um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”.................. 126 O trabalho do turismo no Brasil..................................................... 133 Turismo no Brasil: apropriação do espaço e espetáculo................ 139 Considerações Finais........................................................................... 149 Referências .......................................................................................... 153 Bibliografia..................................................................................... 162
Prefácio A atividade turística é, tradicionalmente, apresentada envolvendo lazer, ócio, atividades, prazer e no geral, paisagens bonitas para os turistas. É tida, também, como solução para problemas, tais como indução de desenvolvimento econômico e progresso em regiões, áreas e lugares do Brasil, sem prejuízo para o ambiente natural. O “descanso” seria propiciado pelo lazer/ócio, pelas atividades programadas, diversidade de novas paisagens e hotéis, além de por toda a infraestrutura. Desta forma, seria quebrada a rotina da vida cotidiana dos turistas que, por sua vez, pagariam para usufruir do “conforto”. A resolução dos problemas econômicos ocorreria, então, pela implantação de infraestrutura turística através de recursos financiados, em geral, pelo Estado. Por fim, o turismo propiciaria uma geração de empregos permanentes para os moradores. Este livro, por sua vez, analisa várias dimensões da atividade turística, procurando identificar olhares, discursos, análises, propostas, ideias, ideários, ideologias, fetiches e realidades. Mostra que a maior parte dos discursos que enaltecem o turismo aponta, apenas, uma parte da realidade, enquanto a outra parte fica oculta pelo ideário de desenvolvimento como potencialidade de transformá-la, sem revelar quem lucra e quem perde com a implantação da atividade. O lugar ideal para atrair turistas é, como mostra o livro, aquele com qualidades de paisagem natural (praias, florestas, lagos etc.) e/ou características exóticas, englobando, desde a possibilidade de assistir representantes das comunidades locais realizando suas principais atividades, como caçar, pescar e brincar com animais nas florestas, lagos e oceanos; até nadar em águas límpidas e praticar esportes; ver encantadores de serpentes; mercados ao ar livre; experimentar comidas típicas; a possibilidade de
8 Prefácio se fazer sexo com pessoas liberais, bonitas e disponíveis, ou “disponibilizadas” pelo e para o incremento do turismo, em especial, nas áreas pobres ou tidas como subdesenvolvidas. O que deve permanecer no ideário para atrair o turismo é uma das dimensões que, aqui, será logo explicitada. O lugar para atrair os turistas precisa ser dotado de uma infraestrutura hoteleira, específica com abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, coleta e tratamento dos resíduos sólidos e rede de transportes, tudo equipado com ar condicionado, em ambientes limpos e asseados onde se apregoa a incorporação dos “cuidados” com o meio ambiente. Para se alterar tal lugar, o fundamento é o de promover o progresso econômico, a transformação para atender a necessidade da vida moderna do lugar e dos turistas. Seria o turismo uma atividade que muda as características primitivas dos lugares, tornando-os modernos? Nesse caso, como se explicaria que, apesar disso, precisa-se manter as características tradicionais do ambiente para oferecer um mundo exótico a ser desfrutado? Eis questões instigantes para compreender o processo histórico do que é, no livro, chamado de “novo colonialismo”. Afinal, quem lucra com a implantação da atividade? E quem paga os custos sociais/ambientais/econômicos? É o que o autor nos instiga a analisar. O livro mostra o que, genericamente, caracteriza as falas sobre a atividade turística, mas busca um outro olhar, analisando discursos, falas, projetos, planos de governos, folhetos de propaganda, filmes, vídeos, sítios da Internet. O olhar de Ouriques é o de quem procura desvendar o significado das atividades turísticas com relação às propostas de desenvolvimento, de progresso dos lugares e dos seus habitantes, comumente denominados de nativos. O olhar aqui contido é, dessa forma, o de quem quer ir além do discurso dominante, verificar se o ideário contido no desenvolvimento se concretiza, da mesma maneira que as alterações que sofrem os lugares e o que eles representam para os moradores. Pressupõe-se a necessidade de abordagens que auxiliam a compre ensão do significado e do significante da atividade turística. Utiliza-se uma abordagem que mostra a centralidade do discurso de uma nova mercadoria – a mercadoria paisagem – que cristaliza, ainda, antigos conceitos de dominação.
A Produção do Turismo
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Desconstrói, por sua vez, discursos dominantes, e analisa, no processo histórico, as virtualidades da atividade turística como fonte geradora de desenvolvimento, de empregos permanentes. Mostra, também, a proveniência de ideário colonialista, de discursos que fetichizam a atividade turística, de interesses na permanência do exótico e que sempre deve lembrar o passado como fonte de prazer. O autor demonstra alguns dos interesses na transformação do lugar em moderno para atender aos que se deslocam atraídos pelo fetiche. Ouriques analisa, ainda, de forma crítica, alguns autores, filmes, livros, textos, que expressam diferentes ideias, ideários e ideologias para compreender o significado da atividade turística, em especial, a (re)apropriação da dependência e de ideias de dominação colonial. Desvenda‑se uma característica da constituição do mito do turismo como solução para problemas existentes, mostrando que novos problemas são gerados e decorrentes da prática. O autor, em sua trajetória, retoma noções e conceitos de fetiche, mito, colonização e dependência, para analisar o significado e a significância da “nova” mercadoria-paisagem ao longo de um processo histórico, em que novas características da mercadoria inserem-se no ideário de progresso e na expansão do controle do capital sobre os lugares e os moradores. Um livro indispensável para quem quer desvendar uma das formas pelas quais o capital se apropria da reprodução da vida, dos moradores, dos turistas, dos visitantes, dos trabalhadores e, até mesmo, dos pesquisadores, visando a continuidade de sua reprodução ampliada. Um livro de leitura agradável que nos remete a pensar no futuro para quem sabe compreendermos porque muitos turistas afirmam não ter sido nada como imaginava ou porque uma única atividade não pode ser indutora de desenvolvimento se o processo de industrialização, em sua complexidade, não promoveu o desenvolvimento social junto com o progresso econômico. Arlete Moysés Rodrigues Ex-presidente da AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros); Professora Livre Docente (aposentada) e colaboradora no IFCH (Departamento de Sociologia) e no IG (Departamento de Geografia) da UNICAMP.