As filosofias são diferentes: um convite ao diálogo

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Filosofias

As sรฃo diferentes

um convite ao diรกlogo Regis de Morais Hermas Gonรงalves Arana


DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Willian F. Mighton COORDENAÇÃO DE REVISÃO E COPYDESK Alice A. Gomes REVISÃO DE TEXTOS Helena Moysés EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Paloma Leslie Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Morais, Regis de As filosofias são diferentes : um convite ao diálogo / Regis de Morais, Hermas Gonçalves Arana. -- Campinas, SP : Editora Alínea, 2016. Bibliografia. 1. Filosofia 2. Filosofia comparada I. Arana, Hermas Gonçalves. II. Título. 15-10554

CDD-10

Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia 100 ISBN 978-85-7516-758-8 Todos os direitos reservados ao

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Ah! a deliciosa ironia de Voltaire! Lembrou que Aristóteles dizia que a incredulidade era o fundamento da sabedoria; e que, com certa semelhança, Descartes estabeleceu a necessidade da ‘dúvida sistemática’ como início da busca do saber. Acrescenta o ironista Voltaire que ambos – Aristóteles e depois Descartes – foram tão seguros e afirmativos em seus ensinos, que acabaram ensinando-nos a não acreditar neles. São paradoxos básicos da filosofia. (Hélio de Tagaste, em torno a O filósofo ignorante, de Voltaire) Sê um filósofo; mas, no meio de toda a tua filosofia, sê ainda um homem. (Hume. Investigação sobre o entendimento humano)



Sumário Introdução......................................................................................................... 7 Capítulo 1 O Rosto Humano da Filosofia......................................................................... 11 Regis de Morais Capítulo 2 A Modéstia dos Filósofos............................................................................... 25 Hermas Gonçalves Arana Capítulo 3 Filosofia e Cultura: a construção do universo simbólico................................ 47 Regis de Morais Capítulo 4 A Filosofia como Ciência Rigorosa................................................................ 61 Hermas Gonçalves Arana Capítulo 5 A Consciência Mítica: fonte e resistência do sagrado.................................... 91 Regis de Morais Capítulo 6 As Filosofias são Diferentes: esboço de problematização............................ 103 Hermas Gonçalves Arana



Introdução No que respeita ao ser humano, muitos são os estranhamentos pelos quais passam os estudiosos. A própria ciência não deixa de ser, antes de tudo, um problema para si mesma; mas não precisa viver se lembrando disso, de vez que, por vocação e intenção, se debruça sobre as expressões mais palpáveis, visíveis ou mensuráveis do mundo e do universo. Ocorre que seu questionamento é aquele um dia chamado “de causa-e-efeito”, hoje, mais precisamente, questionamento de “relações de função”; em suma, a pergunta típica da ciência é: como? Mas as tessituras e os estudos filosóficos têm uma forma de problematização muito mais difícil: qual o sentido? Ou, simplesmente, por quê? Razão pela qual o primeiro e maior problema da filosofia é o próprio “problema da filosofia”. Há mais de setenta anos o notável filósofo argentino Aníbal Sánchez Reulet advertia ser a primeira exigência da filosofia a de questionar a si mesma.1 Lembra Reulet que nas múltiplas passagens em que Platão discute minuciosa e cuidadosamente a natureza da filosofia, e, também, nos numerosos textos de Aristóteles – mormente os dois longos capítulos com que este abre sua Metafísica –, ambos tratam de elucidar, na medida possível, o sentido da tarefa filosófica. Mais ainda observa Reulet que, na Idade Moderna, obras nucleares como o Discurso do método (Descartes), a Crítica da razão pura (Kant), a Doutrina da ciência (Fichte) e a Fenomenologia do espírito (Hegel) – todas discutem o problema do sentido da filosofia. Da mesma forma, vamos encontrar no Mundo Contemporâneo – e os textos do presente livro o mostrarão – preocupações semelhantes. Tudo a mostrar que o primeiro grande problema da filosofia é o problema da filosofia.1 1. REULET, A. S. Raiz y destino de la filosofia. Cuadernos de Filosofia. Universidad Nacional de Tucumán, 1942, p. 9.


8 Introdução Cientes das próprias possibilidades e dos próprios limites, os autores deste livro tomam para estudo novamente o problema do sentido da filosofia, bem como o interesse de como esta imensa e profunda área do saber humano vem sendo tratada. Seis textos compõem este pequeno livro e, diga-se, a todos é comum certa desconfiança dos absolutos filosóficos e de algumas questões decorrentes desta postura interpretativa. Em O rosto humano da filosofia, Regis de Morais medita sobre sua área filosófica como um elemento civilizacional, portanto em interação com características culturais, algo perfeitamente humano e, consequentemente, um domínio da doxa. Este autor, aliás, descobre, como elementos de maior fascinação na filosofia, suas oscilações de princípios e suas humanas transformações cromáticas. Morais em absoluto não pontifica. Apenas opina. Assim, “O rosto humano da filosofia”. O texto A modéstia dos filósofos conversa com o leitor sobre o alcance e os limites do conhecimento filosófico. Quanto pode a razão humana? Doxa, episteme... Hermas Gonçalves Arana convida o leitor a deixar-se envolver pelo que têm de sinuosos e reticentes os percursos do texto, mais indagações que respostas, mais ensaio que tese. No correr das páginas retorna Reis de Morais com o ensaio Filosofia e cultura: a construção do universo simbólico. Fiel às ideias básicas do seu texto anterior (O rosto humano da filosofia), o que Morais agora pretende é dar ideia da complexidade do universo simbólico que é o humano, a fim de que o leitor, podendo lidar mais com a filosofia da cultura, possa ver – quem sabe? – todas as áreas do conhecimento humano como expressões de necessidades, a um tempo, subjetivas e civilizacionais. Arana tem pesquisado a fenomenologia husserliana. Seu segundo texto neste livro A filosofia como ciência rigorosa estuda de modo introdutório uma dimensão importante da obra husserliana, “decênios de meditações” dirigidos à construção de um saber que, por sua objetividade, por sua universalidade, por suas bases últimas, fizesse jus à multissecular ideia da ciência filosófica e subministrasse, em níveis de máximo recuo, os fundamentos às ciências particulares e à filosofia fenomenológica propriamente dita. Qual o objeto final desta ciência? Em que consiste o seu método? Quanto dele podemos esperar? Algumas reflexões são feitas sobre o assunto. O terceiro ensaio de Morais, embora ainda no âmbito da filosofia da cultura como o segundo, volta-se mais especificamente para A consciência


Introdução 9

mítica: fonte e resistência do sagrado. Este autor, sempre interessado nas forças da consciência mítica como fundamento dos muitos desdobramentos culturais (dentre estes o “numinoso” de Rudolf Otto), vai, principalmente, em procura de preciosas elucidações no filósofo Georges Gusdorf (Gusdorf, Mito e metafísica, 1979). O autêntico mistério do existir busca suas fontes de compreensão em remotas convicções. Oxalá a filosofia tenha o alcance que Regis de Morais vislumbra neste seu ensaio. Já o sexto texto do livro, texto de Hermas Arana, leva o título As filosofias são diferentes. Um primeiro acervo de anotações a partir das quais talvez seja possível, no futuro, a feitura de um texto mais elaborado, mais conforme às exigências formais da Academia. Por enquanto, o autor se contenta com assinalar que as filosofias são diferentes no que diz respeito às suas teses, conceitos, métodos e linguagem, o que suscita questões enleantes como: é a filosofia um saber? Há verdades filosóficas? Que dizer do próprio conceito de filosofia? Que dizer da crítica filosófica, seu peso arguitivo, sua efetividade? As conversas entre os autores, suas realizações ensaísticas, tudo foi muito agradável e, nos limites e possibilidades de cada qual, muito fecundo. Apenas precisamos repetir, ao concluirmos esta Introdução, que no correr de todo o tempo, em nenhuma altura os autores falaram de sua cátedra – como quem ensina; falaram, ambos, sempre do âmago de suas inquietações quanto ao sentido da filosofia. Será ótimo que as ideias aqui traçadas possam ser discutidas. Os autores


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