O Resgate da Fala Autêntica na Psicoterapia e na Educação

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O Resgate da Fala Autêntica na psicoterapia e na educação

Mauro Martins Amatuzzi


DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Marídia R. Lima COORDENAÇÃO DE REVISÃO E COPYDESK Alice A. Gomes REVISÃO DE TEXTOS Paola Maria Felipe dos Anjos EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Paloma Leslie Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Amatuzzi, Mauro Martins O Resgate da Fala Autêntica na Psicoterapia e na Educação / Mauro Martins Amatuzzi. -Campinas, SP : Editora Alínea, 2015. Bibliografia. 1. Educação - Filosofia 2. Fala 3. Fenomenologia 4. Linguagem 5. Psicoterapia I. Título. 15-06845

CDD-370.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia da educação 370.1 ISBN 978-85-7516-746-5 Todos os direitos reservados ao

Grupo Átomo e Alínea Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br Impresso no Brasil


Sumário Prefácio........................................................................................................... 5 Introdução....................................................................................................... 7 capítulo i A Fala Original e as Expressões Segundas: Merleau-Ponty..................... 23 capítulo ii O Diálogo Genuíno e o Palavreado: Martin Buber.................................. 39 capítulo iii Dizer Sua Palavra: Paulo Freire............................................................... 63 capítulo iv A Autenticidade: Rogers........................................................................... 89 capítulo v A Expressão como Decisão.................................................................... 121 capítulo vi Decisão, Interpretação e Reciprocidade................................................. 131 capítulo vii Linguagem Direta, Presentificação e Poder........................................... 151 capítulo viii O Resgate da Fala Autêntica na Prática.................................................. 171 Considerações Finais.................................................................................. 187 Referências.................................................................................................. 199



Prefácio Resolvi realizar uma nova edição deste livro, mais de vinte anos depois da primeira, em razão da solicitação de amigos, alguns dos quais foram alunos meus e hoje são professores ou colegas de profissão. Assumo esse pedido como indicativo da necessidade de um texto que possa ser usado como roteiro e fundamentação para disciplinas relacionadas com uma visão fenomenológica, existencial e humanista de educação e de psicoterapia. Desde os tempos de docente da Pós-graduação, eu vinha oferecendo uma disciplina correspondente a essa temática. Muitos alunos escolheram passar por ela. Recentemente, fora de qualquer contexto acadêmico formal, coordenei um grupo de estudos sobre o tema. Relendo o texto, pude perceber que ele ainda é válido e suscita reflexões necessárias tanto no campo da clínica psicológica como no da educação formal ou informal. Fiz poucas modificações no original, cujo objetivo foi melhor expressar alguma ideia que, na redação primeira, pudesse estar obscura ou de difícil compreensão. Não fiz uma atualização bibliográfica, pois julguei que, se fosse fazer isso, teria também de discutir ou comentar essa nova literatura, o que resultaria num outro livro. Espero que essa nova edição possa servir aos educadores e aos psicólogos na tarefa de refletirem e fundamentarem aquilo que eles fazem por ofício, mas também possa ser útil a todos aqueles que lidam com relações humanas, seja em instituições ou organizações de trabalho, seja como pais, filhos, maridos, mulheres, participantes de movimentos, enfim, membros ativos de qualquer tipo de grupo. Este livro corresponde à minha tese de doutorado na Unicamp. Quando terminei de redigir o texto da tese, naquela mesma ocasião, busquei


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Prefácio

uma visão de conjunto de seu percurso e, para isso, escrevi um sumário descritivo, o qual foi a última expressão da tese. Ele constou do volume apresentado para a defesa, mas não da primeira edição do livro. Nesta edição, achei que valeria a pena acrescentar, no começo de cada capítulo, a parte do sumário que lhe corresponde. Pensei que isso poderia ajudar na leitura e reflexão dos assuntos apresentados, pois essa pequena parte acrescentada diz o essencial a respeito deles, de forma compacta e, às vezes, até mais clara. Também nessa parte fiz pequenas modificações, sempre visando a uma maior clareza. Somente o sumário do capítulo oito, trata mais diretamente da aplicação prática dessa elaboração filosófica, foi reescrito totalmente, pois achei que isso o valorizaria. O autor Campinas, dezembro de 2014


Introdução

1 | Educação e psicoterapia podem ser consideradas em conjunto, como formas do dizer-se a si mesmo. 2 | O fato de estarem voltadas para o agir não significa que sua natureza não possa ser clarificada por uma consideração do falar, não só porque é diretamente com ele que lidam o educador e o terapeuta, mas também porque uma justa compreensão da fala implica uma compreensão do próprio ser humano. Falar é comprometer-se. 3 | O que vai interessar aqui não é a língua como idioma, mas a fala. Não qualquer fala, mas aquela que compromete. Podemos ver nela uma dimensão semântica, segundo a qual ela significa algo; uma dimensão semiótica, segundo a qual ela é sinal de algo diferente daquilo que ela significa direta e imediatamente e uma dimensão política, segundo a qual ela realiza algo no mundo das relações. 4 | Subjacentemente às dimensões semântica, semiótica e política, aparece, como dando-lhes apoio, a realidade simbólica da fala. Com base nela, essas três dimensões poderão ser alargadas. Aparecem, então, mais claramente, a polissemia da fala (na dimensão semântica), seu aspecto de sinal capaz de abranger disposições mais ou menos escondidas do sujeito (na dimensão semiótica) e seu aspecto artístico, ou construtivo, de um mundo (na dimensão política). 5 | A interpretação deverá agora manifestar-se como uma ampliação de nosso próprio horizonte de compreensão diante de uma fala e como nossa resposta à pessoa que nos fala. A interpretação só será suscitadora de novos sentidos, se estiver inserida no contexto de um diálogo vivo. 6 | Fazer filosofia, educar-se e propor-se a trilhar um caminho terapêutico de reapropriação de si têm em comum o fato de serem, os três, uma busca de discernimento comprometido. Se não forem isso, seus falares irão reduzir-se a sons mais ou menos vazios, falas inautênticas. Até mesmo seu valor de verdade fica abalado.


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Introdução

7 | As considerações anteriormente tecidas sobre a fala não seriam possíveis sem uma tomada de posição que seja também ética. Algumas coisas são melhores que outras e não apenas diferentes. A fala autêntica é melhor que a descomprometida. 8 | A hipótese básica com a qual estaremos lidando é a de que o processo de aprendizagem significativa, tanto em educação como em psicoterapia, pode ser concebido como um processo de resgate da fala autêntica. 9 | Na interlocução com os diversos autores, não se busca, simplesmente, refazer a história de seus pensamentos, mas expressar aquilo que eles nos fazem pensar, tendo como pano de fundo a tarefa do educador e do psicoterapeuta.

Minha profissão consiste, basicamente, em conversar com as pessoas e ver se, com isso, se cria a possibilidade de maior discernimento e mobilização ante os desafios do viver. Possibilidade de crescimento, enfim. Não creio que essa formulação deva restringir-se ao que se faz no consultório de psicoterapia. De alguma forma, é isso também que se faz numa sala de aula – um encontro em que, no ato de entrar em contato com algum legado cultural, as pessoas possam tornar-se ativas diante dele, contribuir para sua recriação ou mesmo transformação e, dessa maneira, possam vir a ser atuantes perante o mundo. Como psicoterapeuta e professor, desde há alguns anos, procurei um espaço e um tema em torno do qual pudesse fazer uma revisão de minhas atividades profissionais. A busca acabou, naturalmente, focalizando a palavra ou, mais precisamente, a fala. E o espaço se me apresentou como o de uma reflexão filosófica. O contexto disso tudo: uma tese de doutorado na área da filosofia da educação, na Unicamp, defendida em dezembro de 1988. Este livro, que você, leitor, tem agora nas mãos, é o resultado dessa caminhada reflexiva, com algumas adaptações. Procura explorar duas questões fundamentais: “Que significa falar, para o ser humano, e falar com todo o envolvimento e comprometimento que esse ato implica? e “Como uma reflexão sobre esse assunto pode ajudar-nos a compreender o sentido de uma relação psicoterapêutica e de uma relação educativa?”


O Resgate da Fala Autêntica na Psicoterapia e na Educação

1 Pode ser relativamente fácil discorrer sobre a fala autêntica; mais difícil será fazê-lo autenticamente. Assim, logo percebi que meu assunto tinha uma relação direta com o próprio processo de produzir este texto. Em outras palavras, minhas vivências no processo de estar fazendo esse trabalho, produzindo um discurso articulado, podiam ser um caso daquilo mesmo que eu estava procurando pesquisar. Foi então que, em determinado momento, em meio à plena ebulição do estado nascente da tese, escrevi um relato do que se passava comigo. É preciso que eu o transcreva nesta introdução porque ele permitiu que eu me orientasse em relação ao que eu buscava. Foi como se, por meio dele, eu tivesse conseguido uma síntese que me possibilitava dar então outros passos na elaboração de alguma coisa que, embora ainda não completamente elaborada naquele momento, eu já havia apalpado. Eis aqui aquele relato: 1.  Pouco a pouco, foi-se delineando, em mim, uma direção, não ainda um título. 2.  Escrevendo, essa direção vai se tornando mais firme, embora ainda não consiga denominá-la com uma exatidão que me satisfaça. 3.  Sei que o que escrevo poderá integrar o texto da tese, mas não sei exatamente onde vai inserir-se e, por isso, é meio difícil concluir cada escrito. 4.  À medida que vai ficando claro para mim o “para quem escrevo” – eventuais leitores ou destinatários – também vai ficando mais fácil saber o que dizer e isso aparece também sob a forma de um aumento de segurança no momento de escrever. 5.  Quando penso sobre de onde surgiu aquela direção, vêm-me dois tipos de resposta. Uma é que eu ignoro de onde surgiu, pois ela só foi se delineando mais claramente à medida em que ia se tornando mais consciente. Lembro-me de que, quanto mais informe era ela, menos consciência eu tinha dela e de sua força propulsora.

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