A escola como Cultura: experiência, memória e arqueologia

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Agustín Escolano Benito

A ESCOLA COMO CULTURA Experiência, Memória e Arqueologia

Tradução

Heloísa Helena Pimenta Rocha Vera Lucia Gaspar da Silva


DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Marídia R. Lima REVISÃO DE TEXTOS Clarice Villac REVISÃO TÉCNICA Heloísa Helena Pimenta Rocha Vera Lucia Gaspar da Silva EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Patrícia Lagoeiro IMAGEM DA CAPA La Escuela de Doloriñas (1941), óleo sobre tela de Julia Minguillón. A obra faz parte do acervo da Diputación Provincial de Lugo (Galícia, Espanha). Mostra uma escola instalada em âmbito doméstico, onde uma professora, com boa experiência e severa disciplina, ensina os rudimentos culturais aos meninos e meninas de seu entorno rural Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Escolano Benito, Agustín A escola como cultura : experiência, memória e arqueologia / Agustín Escolano Benito ; [tradução e revisão técnica Heloísa Helena Pimenta Rocha, Vera Lucia Gaspar da Silva]. -- Campinas, SP : Editora Alínea, 2017. Título original: La escuela como cultura : experiencia, memoria, arqueología. Bibliografia. 1. Cultura escolar 2. Educação 3. Experiência 4. Práxis I. Título. 16-09321

CDD-371.001

Índices para catálogo sistemático: 1. Cultura escolar : Educação 371.001 ISBN 978-85-7516-790-8 Todos os direitos reservados ao

Grupo Átomo e Alínea Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047 www.atomoealinea.com.br Impresso no Brasil


“São nossas paixões que desenham nossos livros, e o intervalo de repouso que os escreve”. “Son nuestras pasiones las que diseñan nuestros libros, y el intervalo de reposo el que los escribe”. Marcel Proust


1ª Edição: Volta la Carta Edizioni (Ferrara, 2016), com o título La Cultura Empirica Della Scuola.


Sumário Prefácio...................................................................................................... 7 Diana Vidal

Traduzir Agustín Escolano: notas das tradutoras.................................... 11 Heloísa Helena Pimenta Rocha e Vera Lucia Gaspar da Silva

Introdução: a escola como cultura............................................................ 21 CAPÍTULO 1

Aprender pela Experiência...................................................................... 29 O retorno da experiência.................................................................... 31 Vida e fenomenologia das salas de aula.............................................. 34 Confissões de um professor................................................................ 45 A atividade na escola renovada........................................................... 50 Cultura efetiva e história.................................................................... 62 Viagem às lembranças e à ficção......................................................... 69 A ritualização da experiência.............................................................. 77 Culturas escolares em interação.......................................................... 92 CAPÍTULO 2

A Práxis Escolar como Cultura............................................................. 107 A práxis como cultura....................................................................... 109 As três culturas da escola.................................................................. 118 Professores “ignorantes”, mestres de ofício....................................... 125 Cultura popular e pedagogia vernácula............................................. 131 A “caixa-preta” da escola................................................................... 136


Do tato à phrónesis ......................................................................... 151 Experiência e hermenêutica.............................................................. 155 Etno-história da escola..................................................................... 160 CAPÍTULO 3

A Escola como Memória....................................................................... 177 Memória da escola e identidade narrativa........................................ 179 A escola nas lembranças................................................................... 182 Os conteúdos da memória................................................................ 186 Padrões da cultura escolar................................................................. 200 Relato e memória terapêutica........................................................... 205 Hermeneutizar a memória................................................................ 213 CAPÍTULO 4

Arqueologia da Escola........................................................................... 223 O olhar arqueológico sobre a escola.................................................. 225 Materialidades com memória........................................................... 227 Primeira imersão: a infância recuperada........................................... 228 Segunda imersão: escola palimpsesto................................................ 232 Terceira imersão: o legado de outra cultura...................................... 238 Quarta imersão: vestígios no lixo...................................................... 242 Arqueologia e memória: uma nova subjetividade............................. 251 Coda: cultura da escola, educação patrimonial e cidadania.................... 269


Prefácio Diana Vidal

C

om a sugestiva epígrafe de Marcel Proust, “São nossas paixões que desenham nossos livros, e o intervalo de repouso que os escreve”, Agustín Escolano Benito convida o leitor a percorrer as páginas de A Escola como Cultura: experiência, memória e arqueologia. O protocolo de leitura sensibiliza para uma escrita, ela também, sensível. Não lhe falta rigor teórico, mas sobeja a delicadeza que entrelaça vivências do autor ao exercício refinado do pensamento científico. Como não nos encantarmos pela prosa de Escolano se a trajetória que nos propõe é tomar a prática como fonte da cultura? Ou seja, reconhecer que “tudo parte da experiência e tudo se encarna ao final nela”? Ao valorizar a empiria, coloca de maneira radical o sujeito no centro da análise sobre a escola e o escolar. Portanto, os termos experiência, memória e arqueologia usados como subtítulos não são meros ornamentos agregados ao título, mas explicitam simultaneamente o primado teórico e a aproximação metodológica que conferem coesão ao texto. Subjaz o desafio epistemológico de tornar perene aquilo que é fugaz: uma cultura da prática. Como diria Michel de Certeau, referência mobilizada pelo autor, evidenciar as regras operatórias que tramam as relações entre pessoas e coisas; ou como quer Pierre Bourdieu, inquirir pelas razões práticas. Para tanto, o “estudo das materialidades, dos usos institucionais e do valor narrativo que lhes atribuem os atores” é imperativo no que sustenta uma investigação


Prefácio

arqueológica sobre a efemeridade da vida individual no moto contínuo das gerações, constituídas por e constituintes de tradições e inovações. Reaparece o destaque à cultura material e imaterial escolar, tópica recorrente sob a pena de Escolano em várias de suas publicações, traduzidas ao português ou em espanhol, que circulam no Brasil. Portanto, o que se encontra aqui não é uma nova interpretação do tema, mas a consolidação da vertente interpretativa proveniente do acúmulo e do amadurecimento da reflexão. Aliás, este é um elemento que fascina o leitor acostumado a acompanhar a prosa de Escolano. No livro, sentem-se os ecos de outras escritas do autor. No entanto, há sempre uma nota de frescor que embala o argumento, produzindo o efeito de renovação, isto é, de tornar novo o conhecido. Os termos do subtítulo organizam o argumento dos quatro capítulos que compõem a obra. Por mais densa e esteio das demais questões mobilizadas na análise, Experiência abre a discussão e se desdobra em dois capítulos. No primeiro é a aprendizagem que assume a cena. No segundo, a práxis enfeixa o debate. Memória é a questão central do terceiro capítulo. Confere elã necessário para estabelecer a passagem entre reflexão inicial e a abordagem sobre Arqueologia, objeto do último capítulo. Nele, o autor retoma a ideia enunciada na Introdução, de construir uma nova subjetividade. De fato, é a compreensão da dimensão histórica e sociológica da subjetividade humana que dispõe Escolano a fazer a travessia proposta no livro. Ela se alicerça na concepção de que o olhar sobre o contorno subjetivo da práxis permite decifrar a cultura escolar. Daí a importância conferida à imersão etnográfica, intuitiva e fenomenológica na realidade factual e nos testemunhos. Para o autor, este é o caminho pelo qual podemos acercar ao empírico a etno-história e a hermenêutica. É esta última inflexão que possibilita a redação do texto, com o qual se encerra o livro. A argamassa que compõe a narrativa é coesa. Os fios mobilizados pelo autor tecem uma trama, ao mesmo tempo bela e profundamente instigante. Este é um daqueles raros livros de cuja leitura não podemos escapar. Ele nos permite retomar a análise do cotidiano e da cultura escolar na capilaridade das ações humanas e do trânsito dos sujeitos no universo da escola, ~ 8 ~


A Escola como Cultura: experiência, memória e arqueologia

e nas formas como as pessoas simbolizam e entendem essas passagens ao longo do tempo. Inescapável talvez seja o melhor adjetivo a conferir a esta obra. Não simplesmente porque de leitura obrigatória a todos que se interessam pela escola e se dispõem a penetrar em sua caixa-preta. Mas pela escrita cativante que retém o leitor na poltrona, ou na cadeira do escritório, e o seduz a continuar a percorrer as páginas em um fôlego até que último ponto final posto pelo autor restabeleça sua liberdade de deixar cair o livro sobre a mesa, ainda com a mente em torvelino sob o enlevo da leitura. São Paulo, verão de 2016

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