2ª Edição revisada
Psicanálise e
Psicossomática Maria Adélia Jorge Mac Fadden
DIRETOR GERAL Wilon Mazalla Jr. COORDENAÇÃO EDITORIAL Marídia R. Lima COORDENAÇÃO DE REVISÃO E COPYDESK Catarina C. Costa REVISÃO DE TEXTOS Clarice Villac EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva Tatiane de Lima CAPA Patrícia Lagoeiro Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Central da Unicamp Mac Fadden, Maria Adélia Jorge M161p Psicanálise e psicossomática / Maria Adélia Jorge Mac Fadden. - Campinas, SP: Editora Alínea, 2017. 2ª Edição 1. Psicanálise. 2. Medicina Psicossomática. I. Título
20. CDD - 616.89 - 616.08 Índices para catálogo sistemático: 1. Psicanálise 616.89 2. Medicina psicossomática 616.08 ISBN 978-85-7516-795-3 Todos os direitos reservados ao
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Aos meus pais, in memoriam, pela generosidade em não medir esforços na orientação dos filhos para seus objetivos. Ao Charles, meu marido, pelo apoio, incentivo e incansável companheirismo. Às minhas filhas Cláudia, Paula e Roberta pela compreensão e estímulo na superação das dificuldades durante a realização deste trabalho. Às minhas netas, Mariana e Valentina pelo enriquecimento e felicidade pessoal. Aos meus irmãos que estiveram sempre atentos, com amizade e carinho. Quero agradecer de uma maneira especial aos pacientes, que me confiaram fatos de suas vidas, permitindo a realização deste trabalho.
Sumário
Prefácio.........................................................................................................................7 Apresentação...............................................................................................................13 Capítulo 1 Temas Introdutórios....................................................................................................15 Conceito................................................................................................................15 Breve histórico......................................................................................................17 Capítulo 2 Algumas Teorias Psicanalíticas sobre Desenvolvimento Infantil...............................25 Contribuições de René A. Spitz.............................................................................28 Contribuições de Margareth Mahler.....................................................................30 Contribuições de Melanie Klein............................................................................32 Contribuições de Donald W. Winnicott.................................................................36 O conceito de self verdadeiro e falso self..............................................................44 Contribuições de Heinz Kohut..............................................................................47 Capítulo 3 Aspectos Relevantes para a Constituição do Psicossomático.....................................51 Corpo e a imagem corporal...................................................................................52 Representação mental............................................................................................55 Fantasia..................................................................................................................59 Afetos....................................................................................................................63 Processo de simbolização......................................................................................66
Capítulo 4 Casos Clínicos.............................................................................................................81 Resultados.............................................................................................................83 Conclusão............................................................................................................111 Discussão dos casos clínicos...............................................................................114 Comentários Finais...................................................................................................131 Referências................................................................................................................133
Prefácio
Desde que existe, buscou o homem explicar e controlar – ou explicar para controlar – os fenômenos do mundo, incluindo entre tais fenômenos ele próprio, seu corpo, seus atos, a razão de seu existir, sua destinação, suas relações com os outros entes. Em meio a erros e acertos, levado pela intuição e pela observação, e mais tarde usando seu raciocínio e fazendo experiências, colecionou uma espantosa soma de conhecimentos que, para nosso mal e para nosso bem, hoje possuímos e desfrutamos. Nesse longo caminho, desde as selvas às cidades, o seu pensamento penetrou, vitoriosamente, os meandros da existência e da constituição dos seres de que se encarregam as ciências naturais, mas andou e anda mais lentamente no conhecimento daquilo que é objeto das ciências humanas, de acesso mais difícil, dadas a sua natureza e peculiaridades e, frequentemente, entrou e entra por caminhos enganosos, abertos pelas crendices e pelos preconceitos, quando não por mistificações feitas a serviço de grupos sociais, que tentam subordinar as verdades a seus interesses econômicos e políticos. Entre os fenômenos de que se ocupam tais ciências, quanto à dificuldade de se fazer virem à luz, mostrando suas causas, seus efeitos e suas leis, realçam-se os que constituem o objeto da Psicologia, magna ciência, que, passo a passo e a custo, vai desvendando os mistérios do aparelho psíquico, no qual se geram os pensamentos, sentimentos e atos humanos. Tais fenômenos ficaram muito mais obscuros a nosso entendimento, em consequência de que, à Psicologia, principalmente, homens como Augusto Comte chegaram a negar o direito de figurar no quadro de honra das
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ciências, tentando mantê-la, amarrada em cueiros, no berço de sua matriz, a Filosofia. Apesar disso, ela aí está, embora talvez ainda adolescente, florescendo sob várias formas, desde a quase totalmente descritiva, que ganhou vida pelo sopro do deus Aristóteles, à Psicologia Subjetiva dos Ribot e James, à Psicologia Experimental semeada por Wundt nos jardins de seu laboratório, à escola Behaviorista dos Watson e Skinners, à Psicologia Social, à Gestaltista, à Psicologia Dinâmica, a que deu vida à Psicanálise de Freud... Colaboraram para seu desenvolvimento – e de todas as ciências – dois tipos de pensamento que o homem possui: um, mais primitivo, é baseado em associações de ideias e intuições, criador de mitos e fábulas, mas também de concepções legítimas; o outro, racional, nos veio dos filósofos, especialmente do gênio de Aristóteles, o criador da Lógica, e, impregnado por Bacon, Galileu e Newton, do espírito empirista, buscou, comprovando hipóteses pela observação e experimentação, criar teorias e descobrir as leis regentes dos fenômenos da Natureza. O primeiro, que nasceu nas hordas e nas tribos, foi embalado pela magia dos feiticeiros e xamãs, não desapareceu com a evolução do Homem e com o progresso científico. Antes, ainda vive em nós, presente em nossos pensamentos e em nossas relações com o mundo. Ele é o bom companheiro dos poetas e dos artistas, propiciador de nosso prazer diante do Belo, ligado à afetividade e aos instintos, habitante das regiões do encéfalo não comprometidas com a racionalidade, depositário de nossa criatividade. Frequentemente pode ser fonte de equívocos em relação ao mundo, mas suas intuições muitas vezes voam como rápidas setas no encalço de conhecimentos, e, com uma pontaria certeira, atingem a verdade sem necessidade de raciocínio. Dizia Nietzsche que, se um poeta e um cientista fossem atravessar um rio que fornecesse passagem a vau, o primeiro, num salto, já estaria sobre a primeira pedra de apoio, e logo na margem oposta, enquanto o cientista, antes da travessia, teria de munir-se de inúmeros dados, obtidos por raciocínio e cálculo, que a Razão lhe impusesse, até provar a possibilidade da travessia, antes de degustar o prazer de a executar. Aplicando isso ao tema desta obra que contém a trabalhosa pesquisa da dra. Maria Adélia Jorge Mac Fadden, sobre a relação entre o aparelho psíquico e o resto do organismo humano, podemos dizer que tal relação sempre foi conhecida pelos homens de letras e
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pensadores, poetas e prosadores, e mesmo pelo povo, figurando em histórias de muitos países a menção a fatos às vezes espantosos, que evidenciam o conhecimento das influências de sentimentos, concepções e conflitos emocionais, no aparecimento de enfermidades e até na ocorrência da morte. E só muito recentemente, as ciências biológicas e a Medicina se puderam permitir a aceitação de tais fatos e a busca de seu esclarecimento: ao cientista cabe o ônus da prova! Até o século XIX, a Medicina era eminentemente biológica, presa à busca de relações de causa e efeito comprovadas e de leis explicativas para os fenômenos normais e patológicos. As enfermidades eram atribuídas a disfunções bioquímicas e físicas e a lesões tissulares que prejudicavam a atividade dos órgãos. Quando não fosse possível detectar tais disfunções ou lesões, recorria-se a uma outra explicação, ainda biológica, para a causalidade das doenças, que era a hereditariedade, então pouco conhecida. Brilhante e honrosa exceção coube a Felipe Pinel, que, além de causas biológicas para as perturbações dos seus “alienados”, descobriu a importância de fatores psicológicos e sociais, iniciando na Medicina a prática da psicoterapia, chamada então “reeducação moral”. De resto, a Medicina dormia sob os louros de suas grandes descobertas, feitas pelos cultores de suas ciências básicas, e o pensamento médico, hoje chamado de organicista, era dominante. As próprias “nevroses”, assim denominadas por Cullen, e para as quais não se encontrava nenhuma causa orgânica, eram definidas por ele como “afecções nervosas sem febre”, desde o século anterior. E aí está bem claro o selo do organicismo, pensamento médico biologista. Em fins do século XIX, ocorreu a reintrodução, na Medicina, por Braid, do magnetismo de Mesmer, despojado da charlatanice que o caracterizou, e rebatizado com o nome de hipnotismo. Dando resultados no tratamento de pequenos distúrbios somáticos e em algumas neuroses, ele se disseminou pelo mundo, promovendo anestesias de dores, permitindo operações sem anestésicos, removendo medos e outras perturbações. Charcot o usou na Salpetrière, quando tentava elucidar a causa e a natureza da Histeria, doença que se manifestava no soma, mas que contrariava todos os conhecimentos da ciência oficial, criando sintomas que a Anatomia e a Fisiologia mostraram
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impossíveis de existir. Ele conseguiu, usando o hipnotismo, produzir fenômenos iguais aos histéricos em pessoas normais, equivalendo, pois, tais sintomas, às manifestações daquela enfermidade, descobrindo que a Histeria era uma doença psíquica, embora se mostrasse como somática. Ela dependia de uma representação predominante na consciência, a qual podia também apresentar um estado de dissociação, o que ocorria nos ataques e nas “ausências” histéricas. Pierre Janet deu prosseguimento a esses estudos, e afirmou que não era necessária a dissociação total da consciência, bastando um só pensamento separar-se dos outros, contidos na mente, para que tal ideia ficasse inconsciente, estando ligada aos sintomas e a fatos da vida pessoal. Tanto Charcot quanto Janet, entretanto, viam os fenômenos apontados como resultado de uma “tara” hereditária, e Janet dizia que os doentes de Histeria haviam sido hereditariamente despojados da capacidade de “síntese psíquica”. Em 1880 a 1882, Josef Breuer, de Viena, descobre que os sintomas eram realmente frutos da inconscientização de pensamentos, mas que estes consistiam em recordações de traumas psicológicos que ficavam inconscientes, aparentemente “esquecidos”, sendo que a carga emocional, ligada a tais lembranças de traumas, retida (sem descarga) acabava deslocada para o soma, gerando os sintomas. Fez estes desaparecerem provocando a descarga das emoções (catarse) e a conscientização da lembrança do trauma, excluída da consciência. Freud, que a ele se associou, acrescentou que a inconscientização das lembranças era inicialmente feita voluntariamente, para evitar angústia (defesa do Eu, para não sofrer) e depois descobriu que os traumas eram de natureza sexual, ocorrendo na infância, em situações de sedução da criança por adultos ou por outras crianças, ou ainda por violentação ou pelo súbito contato do infante com cenas de natureza sexual. Posteriormente, afirmou que, embora tais traumas causassem a Histeria, esta dependia mais dos conflitos entre impulsos e fantasias sexuais da própria criança, que conflitavam com as exigências da educação, e que ficavam inconscientes, aflorando, depois, como sintomas não só de Histeria como de outras neuroses. Nesse rápido repasse dos fatos ocorridos em Paris e em Viena, podemos ver como uma doença, que se manifestava no corpo, foi progressivamente sendo “psicologizada”, o que veio a abalar os alicerces da Medicina organicista, e serviu para introduzir a Psicologia na Medicina.