2ª Edição | ampliada e revisada
QUEM EDUCA OS IDOSOS? Um estudo sobre professores de universidades da terceira idade
Meire Cachioni
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Cachioni, Meire Quem educa os idosos? : um estudo sobre professores de Universidades da Terceira Idade / Meire Cachioni. - 2ª ed - Campinas, SP: Editora Alínea, 2018. - - (Coleção velhice e sociedade) Bibliografia ISBN 978-85-7516-835-6 1. Gerontologia 2. Professores - Formação profissional 3. Universidades da Terceira Idade - Brasil 4. Velhos - Educação I. Título. II. Título: Um estudo sobre professores da Universidades da Terceira Idade. 03-2135 CDD-378.1208460981 Índices para catálogo sistemático: 1. Universidades da Terceira Idade: Professores: Brasil: Educação 378.1208460981
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Coordenadora Anita Liberalesso Neri – Unicamp Membros Acacia Aparecida Angeli dos Santos – USF Beltrina da Purificação da Côrte Pereira – PUC SP Carla Witter – USJT Célia Pereira Caldas – UERJ Eduardo Ferriolli – USP RP Ibsen Bellini Coimbra – Unicamp Irenio Gomes da Silva Filho – PUC-RS Maria da Luz Rosario de Sousa – Unicamp Maria Elena Guariento – Unicamp Marilene Rodrigues Portella – UPF Meire Cachioni – EACH-USP Milton Luiz Gorzoni – FCM Santa Casa de São Paulo Monica Rodrigues Perracini – Unicid São Paulo Monica Sanches Yassuda – EACH-USP Olga Rodrigues de Moraes Von Simson – Unicamp Rafael Dias Moreira – CPqAM/NESC - FioCruz Rodolfo Herberto Schneider – PUC-RS Rosângela Corrêa Dias – UFMG Silvia Helena Koller – UFRGS Sofia Cristina Iost Pavarini – UFSCar Spencer Luiz Marques Payao – FAMEMA Suzana Carielo da Fonseca – PUC-SP Vicente Paulo Alves – UCB
Aos meus pais, Maridalva e Levy, pelo amor incondicional. Ao Marcelo, meu irmĂŁo, pela amizade. Aos meus avĂłs Dolores e JosĂŠ, pelo legado de sabedoria e integridade.
Agradeço à Profª Drª Anita Liberalesso Neri, minha mestre, incentivadora e amiga. Pela generosidade com que compartilha seu conhecimento, pelo exemplo de profissional digna e competente. Pelo grande privilégio de trabalharmos juntas. Ao Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Faculdade de Educação da Unicamp, minha escola. Aos docentes das universidades da terceira idade investigadas, que gentilmente se dispuseram a participar deste trabalho, dando sentido aos meus esforços. Aos coordenadores e equipe técnica dos programas, pelo apoio e confiança.
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. Guimarães Rosa
Sumário
Prefácio à segunda edição.......................................................................... 13 Apresentação.............................................................................................. 19 01
Educação e gerontologia: Desafios e oportunidades................................. 23 Gerontologia, educação e interdisciplinaridade............................................... 24 Gerontologia educacional: um novo campo de atuação profissional............... 29 A formação de professores para universidades da terceira idade..................... 33 Conclusão......................................................................................................... 44 02
Universidade da terceira idade: Contexto para a educação de pessoas idosas............................................. 47 Do pioneirismo de Pierre Vellas à experiência brasileira................................. 52 Desdobramentos do modelo de Toulouse......................................................... 58 Princípios teóricos norteadores dos programas................................................ 59 Universidades da terceira idade no Brasil........................................................ 61 Seis modalidades de universidades da terceira idade no Brasil....................... 63 Conclusão......................................................................................................... 89
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Um estudo sobre o perfil de docentes de universidades da terceira idade.... 91 Objetivos.......................................................................................................... 92 Caracterização das instituições e dos docentes................................................ 93 Instrumentos..................................................................................................... 95 Procedimentos para coleta de dados................................................................. 96 Procedimentos para análise de dados............................................................... 96 04
Quem são os docentes das universidades da terceira idade?..................... 99 Objetivos........................................................................................................ 100 Variáveis analisadas........................................................................................ 100 Conclusão....................................................................................................... 119 05
Motivos e vantagens pessoais e profissionais para trabalhar em universidades da terceira idade................................... 121 Objetivos........................................................................................................ 128 Instrumentos................................................................................................... 128 Resultados...................................................................................................... 129 Discussão........................................................................................................ 133 Conclusão....................................................................................................... 140 06
Crenças em relação à velhice................................................................... 141 Objetivos........................................................................................................ 154 Instrumentos................................................................................................... 154 Resultados...................................................................................................... 156 Discussão........................................................................................................ 162 Conclusão....................................................................................................... 164 07
Conhecimentos básicos sobre velhice...................................................... 167 Objetivos........................................................................................................ 174 Instrumentos................................................................................................... 175 Resultados...................................................................................................... 179 Discussão........................................................................................................ 184 Conclusão....................................................................................................... 187
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Crenças sobre desenvolvimento pessoal.................................................. 189 Objetivos........................................................................................................ 203 Instrumentos................................................................................................... 203 Resultados...................................................................................................... 205 Discussão........................................................................................................ 209 Conclusão....................................................................................................... 214 09
Relações entre conhecimentos e crenças sobre velhice, percepções sobre vantagens e motivos de trabalhar com idosos e crenças sobre o desenvolvimento pessoal: Uma análise multivariada........................................................................ 217 Resultados das análises de correspondência múltipla.................................... 217 10
Conclusões e implicações........................................................................ 229 11
Quem educa os idosos? Revisão sistemática do período de 2004 a 2017...................................... 243 Método........................................................................................................... 247 Resultados...................................................................................................... 248 Discussão........................................................................................................ 256 Considerações finais....................................................................................... 260
Referências............................................................................................... 263 Anexos..................................................................................................... 277 Anexo 1.......................................................................................................... 277 Anexo 2.......................................................................................................... 278 Anexo 3.......................................................................................................... 287
Sobre a autora.......................................................................................... 301
Prefácio à segunda edição
Pedagogia (do grego paidos = criança + ágein = guiar, conduzir) é a ciência e a arte de educar crianças, mas, ao longo dos séculos, o termo passou a ser usado para designar, de modo amplo, a Educação. Em meados do século XX, foi proposto o uso do termo Andragogia (de aner = pessoa adulta + ágein = guiar, conduzir) para designar a educação de adultos, mas a repercussão foi pequena, de maneira que Pedagogia continuou e continua sendo o termo usado para designar Educação em qualquer idade. Atualmente, a despeito dos avanços da neurologia, da psicologia e da informática, continua-se a pensar que a educação é uma empreitada cultural preferencialmente orientada aos membros jovens da sociedade, para que se transformem em adultos autônomos e produtivos. Educadores e leigos continuam se referindo à ciência e à arte de educar com metáforas, tais como cultivar (disso advém o termo ‘jardim da infância’), orientar (‘o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender’), inculcar ou incutir (com os significados igualmente metafóricos de gravar na mente ou de fazer entrar na mente) ou moldar (como um artesão que transforma um bloco de argila disforme em um belo vaso). Essas metáforas e esses pensamentos são lastreados em uma sólida tradição filosófica que influenciou os argumentos dos psicólogos da infância e da adolescência, dos psicometristas e dos psicólogos educacionais que produziram nos primeiros sessenta anos do século XX. Com raras exceções, todos pensavam não somente que o desenvolvimento intelectual
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Prefácio à segunda edição
seria um processo típico da infância e da adolescência, como também que seria vedado aos adultos e aos idosos. Foi necessário que o aumento da longevidade e, mais que isso, a adição de anos de saúde, atividade, produtividade e satisfação ao curso da vida até então conhecido, trouxessem novas evidências sobre a existência de vida inteligente depois de uma certa idade. A observação dos próprios processos cognitivos empreendida pelos especialistas que envelheceram em meados do século XX teve influência capital na mudança do velho foco no déficit para um novo foco na possibilidade de manutenção e de ganhos em capacidades. Tornou-se difícil negar esses fatos, cada vez mais perceptíveis à medida que o envelhecimento se tornava uma experiência coletiva e usual, e que aumentou significativamente a chance de as pessoas terem contato com velhos cada vez mais saudáveis e funcionais. Então, as opiniões dividiram-se entre os que achavam que os idosos mais competentes para continuar a aprender e a funcionar como adultos mais jovens eram apenas a exceção que confirmava a regra da velhice doentia e derrotada; os que pensavam que os velhos deviam ou mereciam afastar-se das atividades típicas dos adultos, recolhendo-se ao recesso do lar ou, então, que eles deveriam dedicar-se ao lazer e ao tempo livre como forma de justificar sua existência e de se manterem satisfeitos, ativos e saudáveis, em beneficio de si mesmos e da sociedade. Nesse cenário, gradualmente, os profissionais da Psicologia e da Educação passaram a considerar a continuidade do desenvolvimento intelectual e social nos anos da vida adulta e da velhice. Aos poucos, surgiram novos paradigmas científicos, que investiam na ideia de que o desenvolvimento é um processo contínuo, presidido por ganhos e perdas concorrentes, que ocorrem ao longo de toda a vida, sob a influência de fatores genético-biológicos e socioculturais. Segundo esses novos paradigmas, em face das perdas normativas do envelhecimento, as pessoas podem beneficiar-se dos recursos educacionais, sociais, ergonômicos e arquitetônicos que a cultura lhes oferece, para otimizar suas capacidades mais desenvolvidas e preservadas, e para compensar o inevitável declínio de outras, mais dependentes da biologia. Sob a influência dessas novas visões sobre o ser humano, desenvolveu-se uma quantidade crescente de pesquisas sobre os aspectos psicoló-
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gicos da velhice, entre eles, principalmente, a cognição, por certo pela sua importância para a adaptação individual e para o bem-estar da sociedade. O princípio mais importante gerado por esses estudos foi o de que, embora seja real a tendência à perda lenta e gradual das funções cognitivas em decorrência do envelhecimento, uma parcela considerável da plasticidade intelectual se mantém nos anos iniciais e intermediários da velhice. A plasticidade comportamental é a expressão do nível da riqueza e da variedade dos repertórios comportamentais, da capacidade de usá-los em situações novas, da capacidade de adaptação às mudanças do ambiente e das reservas de capacidade. As reservas de capacidade são produto dos investimentos em saúde, educação e estilo de vida realizados por cada um, valendo-se das oportunidades oferecidas pela sociedade. Assim, quanto mais enriquecedora e instigadora da aquisição de novos repertórios forem a escola fundamental e a escola média; quanto mais prepararem para o novo e para a diversidade, calçadas por uma formação básica de alta qualidade, e quanto mais atuarem precoce e continuamente, mais condições de desenvolvimento de reservas cognitivas oferecerão aos seus membros. Sobre essa base, e não sobre o nada ou quase nada formatado pelo analfabetismo, a pobreza, o trabalho rotineiro e a escassez de oportunidades sociais, poderão investir, de forma mais eficaz, outras agências educacionais. Entre elas, podem ser citadas as organizações industriais, comerciais e de prestação de serviços, a TV, a imprensa, a literatura, as artes, a propaganda, a política, as religiões e a internet. Investirá a Universidade, ao dar asas ao projeto de oferecer educação não formal às pessoas mais velhas, não mais como forma de mantê-las ocupadas, satisfeitas e saudáveis, com menores custos pessoais e sociais, como se pensava à época da fundação das primeiras universidades da terceira idade, mas como meio de acesso à informação sobre si mesmos, o mundo, a saúde e as novas tecnologias; como incentivo à participação social e como estímulo à busca de conhecimento e à criatividade. A tese de doutorado da Profa. Meire Cachioni, publicada em formato de livro em 2002, Quem Educa os Idosos? Um estudo sobre professores de Universidades da Terceira Idade, pela Editora Alínea, respondeu à necessidade de mapear o que se fazia no Brasil em termos da formação de
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Prefácio à segunda edição
docentes para as universidades da terceira idade e os motivos que os impulsionavam para o trabalho com idosos. Paralelamente, a professora levantou quantos, onde estavam e de que tipo eram os programas para idosos oferecidos pelas universidades brasileiras. Com uma bolsa FAPESP, ela percorreu pessoalmente vários programas dessa natureza, onde observou, entrevistou e aprendeu. Descobriu que seu trabalho se desenvolvia em tempos quase heroicos. Professores e pesquisadores com espírito inovador, e com um aval das respectivas instituições, que variava entre o forte e o francamente desestimulante, faziam o que imaginavam como correto e necessário, geralmente de conotação informativa, lúdica e social. Percebeu que eram escassas as oportunidades de formação de recursos humanos em nível superior, em Gerontologia. Mais escassas ainda, constatou, eram as investigações sobre o impacto dos programas para idosos sobre aspectos selecionados de seu comportamento. Dessas observações, nascia o embrião das linhas de pesquisa que a professora veio a desenvolver no curso de graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/ USP), fundado em 2005, o primeiro do gênero no Brasil. Posteriormente, a professora viria a pesquisar e a orientar, com esses interesses, no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Unicamp e no Programa de Mestrado em Gerontologia da EACH/USP, este fundado em 2015. O livro que tenho a honra de prefaciar foi construído com base na visão propiciada por pesquisas desenvolvidas pela professora na EACH/ USP e na Unicamp, parte delas em colaboração com universidades portuguesas. Oferece a descrição do panorama atual da formação de recursos humanos para atuar em Gerontologia, no Brasil, bem como uma visão sobre o número de universidades da terceira idade que existem em funcionamento no país. Em estudos realizados em 2016, a professora identificou 166 cursos de pós-graduação presenciais em Gerontologia e 14 a distância. Verificou a existência de 202 universidades da terceira idade afiliadas à Associação Brasileira de Universidades da Terceira Idade (Abrunati). Em 2009, a Universidade Federal de São Carlos estabeleceu o segundo curso brasileiro de graduação em Gerontologia. Desde o doutorado da professora, os programas de pós-graduação stricto sensu em Gerontologia, que eram apenas dois, passaram a ser 11.
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Todas essas ocorrências atestam o amadurecimento da Gerontologia, da Educação de Idosos e da pesquisa sobre Educação de Idosos no Brasil, neste início dos anos 2000. A necessidade de formar profissionais para educar idosos permanece intacta, felizmente, agora, em um contexto de maior institucionalidade dos esforços. Oxalá, também, de maior cientificidade dos conhecimentos. A novidade para os que dispõem de boa formação teórica em Gerontologia e de um olhar crítico sobre a realidade da velhice no Brasil, hoje, é que é possível pensar a Educação de Idosos à luz do conhecimento sobre a evolução do pensamento gerontológico nos últimos trinta anos e à luz do conhecimento sobre os avanços da Psicologia Cognitiva, das Ciências da Informação, de conceitos e teorias tais como reserva cognitiva, resiliência psicológica, seletividade emocional e seleção, otimização e compensação, e, finalmente, de uma visão não preceituosa e não romântica da educação de idosos. A segunda edição revista e ampliada do Quem Educa Idosos? Um estudo sobre professores de Universidades da Terceira Idade ajuda-nos a olhar para esse futuro em gestação, com base nos conhecimentos hauridos em fontes existentes na contemporaneidade e, mais atrás, em um passado recente, conduzidos pelas mãos habilidosas da Profa. Meire Cachioni. Campinas, 15 de maio de 2017 Anita Liberalesso Neri