Psicologia, política e esquizoanálise

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PSICOLOGIA, POLÍTICA E

ESQUIZOANÁLISE Domenico Uhng Hur


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hur, Domenico Uhng Psicologia, política e esquizoanálise / Domenico Uhng Hur. -- Campinas, SP : Alínea, 2018. Bibliografia ISBN 978-85-7516-844-8 1. Deleuze, Gilles, 1925-1995 2. Esquizofrenia 3. Esquizofrenia - Aspectos sociais 4. Guattari, Félix, 1930-1992 5. Psicanálise - Aspectos sociais 6. Psicologia - Aspectos sociais 7. Psicologia política 8. Psicologia social I. Título. 18-16909 CDD-150.19 Índices para catálogo sistemático:

1. Esquizoanálise : Psicologia  150.19

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

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SUMÁRIO PREFÁCIO......................................................................................................................................... 5 Gregório F. Baremblitt

INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO I

FORÇAS, POTÊNCIA E MICROPOLÍTICA........................................................................................... 15 Magma: fluxos e estratos.......................................................................................16 Potência e afetos....................................................................................................22 Diagrama e poder de resistir..................................................................................31 Agenciamento e estrutura......................................................................................35 Micropolítica e ‘método esquizoanalítico de intervenção’...................................41 CAPÍTULO II

SUBJETIVAÇÃO............................................................................................................................... 47 Constituição da subjetividade e o hábito...............................................................48 A dobra e a subjetivação........................................................................................50 Subjetividade, subjetivação e indivíduo................................................................55 Coeficiente de territorialização.............................................................................58 CAPÍTULO III

CÓDIGOS, INSTITUIÇÃO E DISCIPLINA........................................................................................... 63 Imagem do pensamento.........................................................................................64 Inscrição-registro do código: o diagrama de inscrição..........................................69 Sobrecodificação dos fluxos: o diagrama de captura/soberania............................72 Institucionalização do código: as instituições concretas.......................................76 Autonomização do código: norma e diagrama disciplinar....................................79 Subjetividade disciplinar.......................................................................................82


CAPÍTULO IV

CAPITALISMO: AXIOMÁTICA DO CAPITAL E DIAGRAMA DE RENDIMENTO........................................... 87 Desterritorialização dos fluxos..............................................................................88 Axiomatização dos fluxos: classe universal e CMI/Império.................................91 Diagrama de forças: controle e rendimento..........................................................97 Instituições imateriais e noopolítica....................................................................101 Subjetividade capitalista e corpocapital..............................................................108 Capitalismo mafioso............................................................................................117 CAPÍTULO V

PRÁTICAS E AGENCIAMENTOS PSICOPOLÍTICOS.......................................................................... 121 Discursos conscientes e investimentos desejantes..............................................122 Investimentos desejantes e agenciamentos psicopolíticos: estratopolítica, tecnopolítica e nomadopolítica...................................................126 Modos de funcionamento....................................................................................134 CAPÍTULO VI

MICROFASCISMOS E NEOCONSERVADORISMOS........................................................................... 139 Micropolítica do fascismo...................................................................................140 Governamentalidade fascista e destrutividade....................................................142 Dos fluxos à recodificação: neoconservadorismos.............................................147 CAPÍTULO VII

ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E NEOCOLONIZAÇÃO................................................................... 155 Estado estratopolítico..........................................................................................156 Estado tecnopolítico............................................................................................159 Políticas públicas e neocolonização....................................................................163 CAPÍTULO VIII

MOVIMENTOS SOCIAIS NÔMADES............................................................................................... 167 A máquina de guerra...........................................................................................168 Movimentos sociais como máquina de guerra....................................................173 Ecosofia: um mundo por vir................................................................................181 REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 185 Bibliografia..........................................................................................................191


PREFÁCIO

Quando o autor deste livro-máquina-de-guerra me solicitou um prefácio para seu esplêndido escrito, em função de nossa comprovada afinidade esquizoanalítica e da amizade que firmemente nos une, aceitei honrado de imediato. Não obstante, pedi para Domenico um bom tempo para efetuar a leitura desse texto, ainda inédito. É claro que o amigo me concedeu o prazo de que precisasse. O recorrido desse escrito me criou um dilema: li o mesmo aceleradamente, porque queria possibilitar sua edição o mais rápido possível. O texto, se bem está redigido de uma maneira rigorosa, também é muito fluido; mas constatei um pouco surpreendido que tinha de estudá-lo. A copiosa bibliografia publicada nestes últimos vinte anos em torno da obra de Deleuze e Guattari inclui, desde logo, artigos e volumes muito valiosos. Lamentavelmente, a meu entender, a potência da letra desses autores não teve ainda a difusão, adoção, recriação e encarnação que brinda e merece. Isso acontece não apenas no âmbito acadêmico, jugulado pelo utilitarismo do adestramento, ou pastoreado por religiões estruturalistas. A recomendável aplicação da práxis da esquizoanálise des-acontece na imensa maioria estatística das minorias singulares, nos seus heroicos movimentos, nas suas épicas campanhas, nas suas fraternas iniciativas autogestionárias, em suma, nas suas Utopias Ativas. Desde logo, em muitos casos, essa assimilação demorada pode ser perfeitamente prescindível. A criatividade revolucionária pode produzir a inteligência do que faz sem precisar de nenhum saber erudito.


6  Prefácio Mas se, em alguma medida, esse valor desperdiçado se deve às peculiaridades dessa fecunda obra, não só vale a pena destinar-lhe um ótimo livro como este que estou prologando, senão, que autoriza algum breve comentário. Segundo me parece – e creio concordar com Domenico nestas páginas –, a biblioteca de Deleuze e Guattari, composta a duas mãos, assim como a publicada separadamente, tem poucos textos propriamente pedagógicos ou destinados a militantes populares ou de nível não sofisticado. Talvez o “Abecedário de Deleuze”, a “Revolução Molecular” e “As Três Ecologias” de Guattari sejam exceções. A isso se tem de acrescentar que tampouco para o leitor culto muitos desses escritos são fáceis de entender, não apenas pelo denso e douto do conteúdo, senão pelo estilo da exposição – dito em esquizoanalês, pela forma e substância de conteúdo e expressão. O Anti-Édipo e Mil platôs são exemplares nesse sentido. Robert Castel (1978), numa publicação quase que simultânea com o primeiro, o qualificou como “fulgurante e elíptico”. Embora nossos grandes pensadores sustentem que se pode entrar e sair de seu universo por onde se queira, porque cada parte implica o todo, por outro lado, têm acunhado uma sentença esquizossêmica concluintemente reveladora: não há todo; cada todo se acrescenta aos todos como um todo a mais. Essa pluralidade das totalizações não equivale, para nada, a dizer (segundo certos cultos do negativo) ‘não todo’ e é uma bela amostra de originalidade, da potência da afirmação e da diferença conceitual. A sucessão editorial cronológica dos livros de nossos autores não significa nada por relação ao tempo Aiônico de sua tessitura. Seu ‘estroma’ e seu ‘parênquima’ oscilam constantemente entre os espaços lisos e os estriados, entre desestratificação e re-estratificação, entre descodificação e recodificação, entre desterritorialização e territorialização, entre desaxiomatização e axiomatização. Linhas duras, flexíveis e de fuga transversalizam as páginas. Forças não vetorizadas diagramatizam seus subterrâneos. Formações molares e moleculares se imanentizam em seus parágrafos, os gêneros literários se multiplicitam e rizomatizam. Há, nos capítulos, especialmente os de ‘Capitalismo e Esquizofrenia’, um funcionamento polissemiótico que não aceita em absoluto reduzir-se a uma semiologia maneirista do significante. Talvez se possa qualificar de quântica (matéria-forma e energia-fluxo permutáveis) a uma escritura que lembra aquela que Deleuze descobre nos Escólios da ‘Ética’ de Espinosa. O leitor, que é peça autoral influente nesse redemoinhado oceano no qual emergem incessantemente colossais cordilheiras móveis (ver Solaris), vive expe-


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riências alucinantes. Não obstante, bastante amiúde naufraga nas turbulências, e no melhor dos casos, tem de remontar às correntes que o arrastam; em outros, o achamos aferrado numa pedra estriada, repetindo como um eco uma noção ‘salvadora’ da ‘demoníaca’ correnteza. Durante minhas leituras (muitas) de Capitalismo e esquizofrenia, tenho-me elevado aos firmamentos cósmicos, às vezes me precipitei nas protopáticas profundezas e noutras fiquei boiando nos rios de lava ou me precipitei nas cataratas estilísticas (tal como estão descritas as superfícies na Lógica do sentido). Frequentemente me acometeram impulsos solidários que pretendiam responder ao SOS de meus companheiros leitores, alunos etc. Escrevi alguma “Introdução”, mas senti que se precisava algo do tipo de “Para ler...” que as publicações existentes não resolviam. Penso que Psicologia, Política e Esquizoanálise cumpre exaustivamente essa missão. Não é por casualidade que o afluente de entrada – e o promontório de atalaia – deste livro é a esquizoanálise. Desde esse portal zaratustriano se divisa a geopolítica do planeta deleuzo-guattariano na hora da Aurora e não necessariamente na do meio-dia ígneo de Kafka, por uma literatura menor ou na do aristocrático crepúsculo de O que é a filosofia?. Por certo, não se trata de privilegiar – nem muito menos de excluir – nenhum volume dessa formidável e generosa prateleira. Nossos autores não o tolerariam. Trata-se de enfatizar paragens-chave, olhando para a vasta paisagem esquizossêmica com uma lente que mereceria ser lavrada por Espinosa, e calçada por Marx. Mas enfatizar exige selecionar e definir com clareza e precisão, o qual não implica engessamento, senão, que denota sensibilidade para o nascimento do novo radical: revolução, produção, invenção, criação. É a partir desse insólito que se re-definem os domínios, continentes, regiões, locais e povoações, tanto de outras localidades do mapa deleuzo-guattariano como o das velhas disciplinas; suas vozes sem dúvida enriquecem o coro, mas elas ressoam segundo uma partitura cuidada por princípios, não por fundamentos. Isso ajuda a equacionar o que em seu ‘discurso’ pode eventualmente soar como palavras de ordem. A esquizoanálise não ‘importa’ materiais de ‘outros’ campos para enriquecer um Império de especificidade solipsista. A esquizoanálise navega como nômade que é – ‘entre’ – embora, pitorescamente, diga que ‘rouba’. A esquizoanálise não dissimula sua ética-política com nenhum ardil ‘purista’ de extramundanidade. O amigo Domenico nos obsequiou esta bela caixa de ferramentas, mas dotada de uma sistematização caosmótica que permite escolher com segurança no estrondo


8  Prefácio dos mais de quarenta volumes, sabendo em que consiste cada instrumento e quais são as principais opções para empregá-lo. Tal precisão sem dúvida promoverá e melhorará em muito as performances esquizoanalíticas dos leitores. Apesar desse esmero, a travessia por estas folhas é bem amena, tem muito de cartografia, mas também de uma viagem “à la Julio Verne”. Este tomo não é para ser só ‘alegremente’ folheado, com o espírito desses ocos embalos carnavalescos que contaminaram até alguns pesquisadores. A futilidade demagógica, igual ao enciclopedismo atemorizante, são inimigos da idoneidade heurística. Este livro, como disse ao princípio, tem de ser cuidadosamente estudado... para poder ser operacionalizado. Parabenizo ao autor e a seus expedicionários.

Gregório F. Baremblitt1

1. Nascido em Santiago del Estero, Argentina. Médico-psiquiatra formado e livre-docente em Psiquiatria pela Universidade Nacional de Buenos Aires. Autor de 14 livros e dezenas de artigos publicados. Realizou inúmeras intervenções institucionais. Professor da Cátedra de Medicina do Hospital das Clínicas, Buenos Aires e da Faculdade de Humanidades da Universidade Nacional de la Plata, Argentina. Professor convidado de diversas Instituições: na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, no mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais e no curso de especialização na Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Ministrante de cursos e grupos de estudo sobre temas de filosofia, esquizoanálise, esquizodrama, psiquiatria, psicanálise e psicologia social em diversas cidades, como: Montevidéu, Caracas, Cidade do México, Lisboa, Bolonha e Zurique. Membro fundador do grupo Plataforma argentino, filiado à Plataforma internacional, Zurique. Fundador do Instituto Brasileiro de psicanálise, grupos e instituições (IBRAPSI), Rio de Janeiro. Membro honorário da Fundação Gregorio Baremblitt de Belo Horizonte, da Fundação Gregorio Baremblitt de Uberaba e do Instituto Gregorio Baremblitt de Frutal. Cidadão de honra das cidades de Belo Horizonte e de Uberaba, Minas Gerais.


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