Introdução aos pensadores do imaginário

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Introdução aos

Pensadores do

Imaginário

organizadores

Nyrma Souza Nunes de Azevedo Reuber Gerbassi Scofano


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Introdução aos pensadores do imaginário / organizadores Nyrma Souza Nunes de Azevedo, Reuber Gerbassi Scofano. -- Campinas, SP : Editora Alínea, 2018. Vários autores. Bibliografia ISBN 978-85-7516-848-6 1. Epistemologia 2. Filosofia 3. Imaginação 4. Imaginário 5. Psicologia analítica 6. Psicologia social 7. Simbolismo (Psicologia) I. Azevedo, Nyrma Souza Nunes de. II. Scofano, Reuber Gerbassi. 18-19772 CDD-128 Índices para catálogo sistemático:

1. Pensadores : Imaginário : Filosofia 128

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

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Sumário Introdução.....................................................................................................................5 Nilma Figueiredo de Almeida CAPÍTULO 1

Ernst Cassirer e o Imaginário......................................................................................13 Reuber Gerbassi Scofano CAPÍTULO 2

A Importância da Psicanálise para os Estudos do Imaginário....................................27 Nilma Figueiredo de Almeida CAPÍTULO 3

O Imaginário na Psicologia Analítica de C.G. Jung...................................................51 Nilma Figueiredo de Almeida CAPÍTULO 4

A Imaginação em Gaston Bachelard...........................................................................77 Reuber Gerbassi Scofano CAPÍTULO 5

Gilbert Durand e a Imaginação Simbólica..................................................................95 Reuber Scofano e Maria Vitoria Campos Mamede Maia CAPÍTULO 6

Cornelius Castoriadis: imaginário e autonomia........................................................111 Nyrma Souza Nunes de Azevedo


CAPÍTULO 7

Michel Maffesoli e a Consolidação dos Estudos do Imaginário...............................129 Reuber Gerbassi Scofano P O S FÁ C I O

Serge Moscovici e a Produção Atual do Estudo de Representações Sociais............145 Mary Rangel, Jéssica do Nascimento Rodrigues e Vanessa Lima Blaudt Rocha

Autores......................................................................................................................161


Introdução N i l m a Fi g u e i r e d o d e A l m e i d a

Toda revolução científica traz consigo uma série de transformações socioeconômicas, políticas, culturais e comportamentais. Uma mudança de paradigma implica uma mudança de cosmovisão, de visão de mundo, e isso faz toda a diferença para o encaminhamento de soluções para as crises enfrentadas na contemporaneidade. As considerações de Boff (2012) a respeito de como enfrentar os desafios colocados à pedagogia e à educação – oriundos das várias áreas do conhecimento, das novas tecnologias, dos sistemas econômicos, da concepção utilitarista da educação que transforma a escola em empresa e mercado a serviço da dominação mundial – nos colocam diante de uma complexidade cujo deslindamento não é favorecido por uma ótica mecanicista. Dentro de um processo educativo de dimensões globais, em que nos deparamos com um contexto de diversidades culturais, verificamos a dominação de um pensamento único, que se autointitula portador exclusivo das competências capazes de responder às demandas deste século, difundido por americanos ou europeus. Por meio dele se justificam as ditaduras e guerras para garantir uma hegemonia imperial sobre o mundo ou a detenção de conhecimentos para a eficácia empresarial, destrezas, habilidades que globalizam os negócios penalizando a humanidade e a vida na Terra.


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Que estamos passando por um momento crítico, uma profunda mudança, que se manifesta em todos os domínios da existência humana, é notório, basta observar o último relatório lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 23/02/2017, que mostra um aumento de 18% nos casos de depressão no mundo entre os anos de 2005 e 2015 (ONUBR, 2017). Quando se chega a níveis de sofrimento físico, psíquico e moral tão altos, significa que a humanidade está enferma, necessitando de um novo sentido para a vida. As guerras, a fome, a violência, o estresse no trabalho, a angústia da falta de emprego, o aumento demográfico, o consumo desenfreado, as mudanças climáticas, a poluição, a ameaça de extinção da vida no planeta são apenas alguns dos sintomas do grave desequilíbrio que assola a humanidade. De acordo com Capra (1997), o que experienciamos hoje é uma crise complexa e multidimensional, que abarca aspectos intelectuais, morais e espirituais, além de fatores econômicos, tecnológicos e políticos que comprometem a própria saúde física e mental do ser humano. Para Rocha Pitta (2012), o sofrimento é o componente da vida emocional que merece ser destacado nas sociedades industrializadas pós-modernas pelo fato de ser uma consequência da visão dicotômica da existência, na qual se percebe a diferença como oposição e não como complementaridade. Assim, o indivíduo passa a ter de realizar escolhas e definir uma identidade, abrindo mão de várias possibilidades em diversas esferas de sua vida, com muito sofrimento. Dentre as dicotomias formadas, estão as dimensões do real/imaginário, que, vistas como opostas, sugerem a necessidade de se domesticar as emoções, com consequências graves para a saúde. Tal dicotomia é fundamentalmente excludente, o que atende a propostas políticas e a uma lógica de dominação diante dos anseios de progresso e igualdade social. Em Weil (2000), o sentido da mudança está em sair do paradigma Newtoniano-Cartesiano – no qual prevalecem a fragmentação


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da realidade, as leis da causalidade e do determinismo – e ir para um paradigma holístico. Vivemos atualmente em um mundo marcado por uma extrema valorização do que é racional, material, científico, mensurável e passível de ser observado diretamente. De acordo com Capra (1997), uma das consequências dessa forma de produzir conhecimento é o fato de se excluírem do discurso científico a sensibilidade estética, as intenções e a alma. A experiência como tal foi substituída pela busca por uma descrição objetiva dos fenômenos da natureza, por retirar da ciência qualquer vestígio de subjetividade. Posteriormente, ideias da física quântica apontaram para a ilusão dessa objetividade pura, pois todo fenômeno depende e está diretamente relacionado a seu observador (Capra, 1997). Para Cardoso (1993), o pressuposto desse novo paradigma é o de que a realidade é estruturada em múltiplos níveis, nos quais mente e matéria se inter-relacionam e em que, segundo Bateson, há uma ordem implicada que está além da percepção dos sentidos. Trata-se de um paradigma emergente que considera a diversidade e a multiplicidade e é, portanto, holístico. Epistemologicamente, a abordagem que nele prevalece – trazida da Física por Capra e aplicada à Psicologia por Stanislav Grof – é conhecida como bootstrap e propõe que, com o novo paradigma, não se invalide nenhum modelo ou teoria, colocando-se apenas o limite de generalização possível dos modelos ou teorias em confronto, desde que sejam consistentes. A abordagem holística e sistêmica remete a uma visão ecológica, pois compreende os seres vivos e o ser humano como organismos de Gaia, que, na mitologia grega, representa o planeta Terra como um ser vivo. Nosso destino é comum. Nossas vidas são tramas que se interligam a muitos enredos, como se relata nos mitos e contos de fada. Essa nova abordagem resgata as bases do conhecimento, retomando, segundo Lepera (2004), as ligações entre Ciência, Filosofia e Sabedoria.

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De acordo com a autora, o novo paradigma fornece um apoio para pesquisas que utilizam o raciocínio causal como também para o pensamento processual em rede de relações. O ser humano é estudado na rede da vida e não fora dela, pois o processo de conhecer [...] está sempre ligado ao despertar de diferentes padrões e níveis de consciência (Lepera, 2004, p. 17). E, como disse Habermas citado em Santos e

Sommerman (2014), entre a teoria e a prática existe o mundo da vida. Santos e Sommerman (2014) comentam a observação de Morin sobre dois movimentos que representam atitudes diferentes quanto ao processo de se construir no mundo, que são a retroação, quando se acomoda conhecimentos emergentes à antiga estrutura mental à qual se está acostumado, e a recursividade, que consiste no diálogo com o novo, avançando para transformar o velho e evoluindo para a construção de novas estruturas cognitivas de explicação da realidade. Verificamos assim que o modo de pensar é o maior obstáculo para as mudanças em educação. Para compreender a contemporaneidade, é preciso estar atento à dinâmica dos acontecimentos e mudanças para assim lançar mão de novas epistemologias. Com Cassirer, Jung e Bachelard novos caminhos foram abertos levando-se em conta as emoções, os afetos, a complexidade do ser humano e sua expressão simbólica. Por essas veredas, estudiosos como Gilbert Durand e Michel Maffesoli, na França, Muniz Sodré, entre outros, no Brasil, desenvolveram novas possibilidades de reflexão e atuação no mundo (Rocha Pitta, 2012). Shamdasani (2005, p. 35) coloca que, para Jung, a psicologia analítica era uma ciência, não uma visão de mundo, que tinha um papel especial a desempenhar na formação de uma nova visão de mundo. Sua

importância consistiria no reconhecimento dos conteúdos inconscientes, o que permitiria a construção de uma visão de mundo relativista, não mais absoluta.


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