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MUSEU DO INGÁ RECEBE MEGA E RARA EXPOSIÇÃO NESTE FIM DE SEMANA

Paulo Knauss, curador de ‘Arte do retrato – variações de olhar’, conversou com A TRIBUNA

VÍTOR D’AVILA

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O Museu do Ingá apresenta, a partir deste final de semana, a exposição “Arte do retrato – variações de olhar”. A proposta é mostrar um panorama diversificado da história do retrato no Brasil antes das selfies. A mostra reúne pinturas, gravuras e fotografias do século XIX e XX. A visitação inicia neste sábado (4), e vai até o dia 30 de julho. O melhor de tudo: gratuitamente.

A organização é da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj). A curadoria é dos doutores em História Ana Maria Mauad e Paulo Knauss. Este último, em conversa com a reportagem de A TRIBUNA, explicou um pouco sobre o conceito da mostra. Ele também demonstrou orgulho e animação com a abertura da exposição.

“Estamos muito animados. Abrir uma exposição grande nesses tempos difíceis. A exposição apresenta um panorama da história do retrato no Brasil e tem de tudo um pouco. Apresenta as variações das práticas de se criar retratos. Temos D. João VI, Carmen Miranda, Zumbi dos Palmares, os artistas da MPB, modernistas, damas da sociedade, políticos”, contou.

Além das fotografias e pinturas, Knauss explicou que a exposição irá reunir objetos associados ao retrato. O curador explica que, com o avanço da industrialização, muitos objetos do dia a dia passaram a ser associados com imagens.

“A mostra reúne retratos pintados e fotográficos em vários em objetos. Quando chega a era industrial, muitos objetos passam a ser identificados como retratos de pessoas. Há desde porta-retratos até abajures e pequenos objetos decorativos com retratos”, contou.

TRADIÇÃO

De acordo com Paulo Knauss, o retrato é uma tradição antiga, que geralmente era restrita a figuras que representavam o poder, como reis e imperadores. Com o passar do tempo, foi se tornando mais democrática e acessível a todas as camadas da população.

“O que interessa a gente sublinhar é que o retrato tem uma presença muto grande na nossa sociedade. Isso é uma tradição muito longa. Era uma forma de expressão muito elitizada, associada ao poder, que, com o passar do tempo, se tornou uma expressão da democratização da imagem na sociedade”, enfatizou.

CAETANO VELOSO

A ERA DAS SELFIES O auge da democratização do retrato pode ser representado pela “era das selfies”, que é a prática de produzir o próprio retrato por meio de um aparelho celular. Knauss explica que o momento atual da história do retrato terá um espaço especial na exposição.

“Na era das selfies todo mundo pode reproduzir sua imagem. A exposição caracteriza uma história marcada pela difusão na prática do retrato. A gente começa com os retratos de aparato, que representam os governantes, até os dias de hoje”, afirmou.

Maria Beth Nia

POLÍTICA

Além disso, um ambiente foi destinado à política, historicamente dominada por homens. Entretanto, para quebrar com esse paradigma, o curador revelou que a atração principal, no centro da sala, será a imagem de Alzira Vargas, que teve papel de protagonismo enquanto seu pai, Getúlio Vargas, ocupou a Presidência da República.

“Temos uma sala dedicada à política. Nessa sala a gente em vez de apresentar os retratos de homens como destaque, colocamos no centro o retrato da Dona Alzira Vargas. Uma mulher que se destacava no meio dos homens”, orgulhou-se.

Retratos Improv Veis

Ao longo do tempo, diversos personagens históricos acabaram morrendo sem serem retratados. Posteriormente, artistas imaginavam como seria a fisionomia dessas pessoas e as retratavam em suas obras. Um dos casos mais emblemáticos é de Zumbi dos Palmares, uma das primeiras vozes contra a escravidão e o preconceito racial.

“Temos outra sala dedicada aos retratos improváveis. Todos os personagens que não foram retratados e não sabemos como eram seus rostos. Ao longo da história da arte, os artistas começaram a representar personagens que não tinham retrato. É o caso de Zumbi dos Palmares, fruto da criação artística”, ressaltou.

Estrelas Da M Sica

Os grandes nomes da música terão espaço de destaque na exposição. a exposição exibe as fotografias pouco conhecidas de Fernando Goldgaber, da década de 1960, que retratou os artistas da chamada geração AI-5.

A exposição surpreende ainda ao estabelecer o diálogo entre os retratos hollywoodianos de Carmem Miranda e as imagens de caráter íntimo dos artistas da MPB, como Caetano, Maria Bethânia e Gal, ressaltando a importância da criação de Thereza Eugênia como fotógrafa da cena musical brasileira da década de 1970, cuja obra se associa à atividade de Guilherme Araújo como produtor cultural.

“Misturamos a Carmen Miranda e depois, junto dela, colocamos a coleção de retratos da Thereza Eugenio, com os artistas da MPB, que é quando os artistas tomam conta da arte. O que importa é que esta exposição fará com que o público conheça a coleção do Estado do Rio de Janeiro, somando acervos de várias instituições”, completou Paulo Knauss.

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