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CULTURA CULTURA UM BAR LIVRARIA QUE AMPLIA O LEQUE BOÊMIO E CULTURAL
Boemia e literatura sempre conversaram. Localizado na Praça Leoni Ramos, no coração da Cantareira, em São Domingos, região central de Niterói, o Yorùbar é uma prova viva dessa máxima. Na atmosfera e pelas prateleiras do espaço – um misto de bar e livraria , perpassa muita vida inteligente, no que pode ser considerado um local cuja arquitetura foi feita, literalmente, de livros.
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Numa esfera da metalinguagem, os frequentadores e os “objetos” estão ali, contando a vida e a obra de gênios, igualmente boêmios: de Vinícius de Morais a Mário Quintana; passando-se por Paulo Leminsk e – indo mais longe – ao poeta, contista e romancista maldito norte-americano - nascido na Alemanha -, Charles Bukowsk.
Em tempos de modismos passageiros e fake news emburrecedores, o estímulo à ambiência cultural é, aliás, a tônica e a razão da própria existência do espaço.
Todas as segundas-feiras, há, ali, as “Segundas Insurgentes”, uma reunião, com debates, transmitidos pelas redes sociais do local, do artista plástico Luiz Carlos Carvalho e de Renato Cruz, o Renato da Cantareira, que administrava o antigo ‘Bar do Renato’.
Foi Carvalho, aliás, quem tomou a iniciativa de realizar, no Yorùbar, essa resenha semanal – às segundas-feiras - para debater, a partir das 18h, temas afeitos à diversidade cultural da alma humana: artes plásticas e cênicas; música; balé; religiões de matriz africana e o que mais vier às mentes criativas de quem esteja na roda de conversa. “É uma iniciativa do underground, de uma forma insurgente e de resistência. Imediatamente, compramos a ideia e, toda segunda-feira, fazemos uma resenha com um convidado, de diversas tribos da cultura, que a gente quer conversar”, resume Renato.
Como Tudo Come Ou
O projeto do Yorùbar teve início durante a pandemia, em 2021, na perspectiva da retomada das atividades da Universidade Federal Fluminense (UFF). Livreiro há mais de 40 anos, Cícero Nascimento, que é o fundador da livraria Soletrando, ajudou na empreitada no novo projeto, em comum acordo com Renato da Cantareira. Nascimento trabalha há 45 anos trabalho com livros. Ele do Rio e está em Niterói, há cerca de 30. Abriu o primeiro sebo, a Soletrando, no Centro de Niterói:
“A livraria sempre teve uma característica muito interessante: nunca nos limitamos a uma atividade meramente comercial. Sempre teve uma perspectiva também cultural. O objetivo do comércio é financeiro. Vivo disso. Mas
BASTIDORES das “Segundas Insurgentes”: amizade, cultura e boemia
Fotos: Saulo Andrade
(PDT), também usava o espaço da livraria para organizar reuniões com o movimento ambientalista. “A gente acabou, de certa maneira, fazendo história na cidade”, rememora o livreiro. Segundo Cícero, atualmente, no Yorùbar, “a experiência está sendo muito positiva”, porque o espaço –que conta com programações pujantes - vem se tornando, de fato, um local de referência cultural. No ano passado, lançou-se, ali, o livro "Pixinguinha, um perfil biográfico" (Editora Numa), de André Diniz. Na ocasião, o Yorùbar abrigou uma grande roda de samba: “Sempre achamos que aqui deveria haver um ‘point’. A Cantareira é um local de referência cultural. Não faria sentido não ter um espaço que comercializasse livros e reunisse pessoas. Daí veio a ideia dessa parceria e composição, aceita pelo Renato”.
Renato Cruz celebra seu parceiro comercial, que comprou um “grande acervo” de livros, mas precisava de um lugar para guardá-los. Em tempos pandêmicos, Cruz vinha passando por muita dificuldade financeira e concordou, no ato, com a proposta de Cícero: sempre tivemos uma perspectiva cultural, de fazer lançamentos”.
“Ele se propôs a colaborar com o meu aluguel, em troca do espaço. Concordei, obviamente. Foi um momento de salvação para mim. Subsequente a isso, a UFF retorna em 2022 e eu retornei com o bar. O Yorùbar é uma corruptela de bar com Yorùbá”.
Dentre os “clientes ilustres” da Soletrando, Cícero cita o atual presidente da Empresa Brasileira de Turismo, o ex-deputado Marcelo Freixo (PT) e o ex-governador do estado do Rio, Saturnino Braga (PSB), por exemplo. O atual prefeito de Niterói, Axel Grael
Renato da Cantareira ressalta ainda que, diferentemente da maior parte das livrarias, que fecha às 18h, a Yorùbar fica aberta a madrugada toda, enquanto o bar estiver aberto, “vendendo livros e cerveja”:
“A livraria ajuda na manutenção do espaço. Às vezes, vendo cerveja por causa do livro e vice-versa. No sábado, chegou gente para beber e levou livro. Também chegou gente para ler e levou bebida. É uma soma”.
CONVERSAS culturais animam as segundas-feiras do Yorùbar