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ARTISTA PLÁSTICO LUIZ CARLOS CARVALHO

Graffiteiro e pintor conta como história do Brasil influenciou em suas obras

Fotos: Saulo Andrade

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SAULO ANDRADE

‘Um belo dia vou lhe telefonar pra lhe dizer que aquele sonho cresceu’.

A trajetória e a militância cultural do artista plástico Luiz Carlos Carvalho pode ser resumida naquela frase de Rita Lee. Anarquista, este jovem há mais tempo, na altura dos seus 70 anos – 50 deles dedicados às artes plásticas -, respira a vanguarda da contracultura niteroiense, em seu dia a dia, cultivando o inconformismo e a revolta “com o sistema, de uma forma geral”. E isso se reflete em suas obras: afinal, não é qualquer brasileiro que testemunhou momentos marcantes da história do país, a partir da varanda de sua própria casa, no Ingá.

“Já nasci no rock. Peguei uma repressão muito grande. Testemunhei o golpe civil-militar: morava na rua Presidente Pedreira, 28, próximo ao palácio do governo. Saí para comprar pão e o padeiro disse que não havia nada, porque ‘hoje é a revolução!’. As crianças jogavam futebol, achando um barato”, rememora.

Ele nunca achou aquilo normal. A infância e a juventude de Carvalho foram marcadas por uma visão que o intrigava: do alto de um prédio, em frente ao Palácio do Ingá, havia uma metralhadora apontada. O artista vivia dentro de uma área de segurança nacional. De acordo com Carvalho, a perseguição era muito grande, princi- palmente com quem que, como ele, fumava maconha: “Tudo era monitorado. Os estudantes eram presos e torturados. Não cheguei a ser perseguido. Eu tinha cabelo grande. Como a gente fumava maconha, a perseguição era grande. Eu não sofria o que uma pessoa da guerrilha sofria, mas quem fumava maconha era denunciado e preso. A perseguição era muito grande”.

Inconformado, Luiz Carlos Carvalho não entende o motivo de ainda ter gente que vote na extrema direita, sem saber em quem está votando. “Não sabem o que é tortura. O pior é um cara que se diz cristão, apoiando um candidato a favor da tortura. Jesus Cristo foi julgado, condenado, crucificado e morto. Não dá para entender”, questiona-se.

O In Cio

Nascido e criado em Niterói – mais especificamente no bairro do Fonseca, na Zona Norte -, Luiz Carlos Carvalho começou a sua longa carreira em 1973, publicando cartoons no jornal O Fluminense e em jornais de bairro da cidade.

Chegou a atuar, também, como desenhista do Pasquim. Filho de calígrafo com cartógrafo, o artista plástico e graffiteiro enveredou-se no mundo das artes cedo, aprendendo, com o pai, que lhe deu régua, caneta e compasso.

LUIZ CARLOS

Carvalho é, em essência, um artista libertário

Àquele ano – de chumbo -, inscreveu-se num curso de verão do Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio. Na ocasião, não conhecia nada de artes plásticas e se encontrou, nas aulas do pintor, escultor, ilustrador, ator, cenógrafo e professor Aluísio Carvão - “um neocon- cretista”, como sublinha: “Inscrevi uns trabalhos. O primeiro deles foi aprovado na bienal internacional de São Paulo, em 1973. O antigo governo, no Palácio do Ingá, pagou a minha estadia, alimentação e passagem. Entrei com o pé direito, numa vernissage, numa bie- nal internacional, em plena ditadura”, recorda-se. De acordo com Luiz Carlos, o curso de Belas Artes não era uma “boa opção”, nos anos 1970, por conta, justamente, da ditadura civil-militar. Ele frequentava o MAM, a biblioteca e as exposições, mas lamenta que, na sua própria cidade, Niterói, não havia “ninguém para conversar”: “Fui mais ligado ao pessoal da fotografia e do fanzine, no universo underground. No mundo da música, convivi muito, em casa, com artistas como o Paulinho Guitarra”.

CENTRO CULTURAL PASCHOAL CARLOS MAGNO

A maior parte da trajetória artística de Luiz Carlos Carvalho passou pelo Centro Cultural Paschoal Carlos Magno (CCPCM). Foi ele quem fez o primeiro logotipo do espaço. “Passei a ser diretor. Fui convidado, antes, para dar aulas de pintura e xilogravura. Cheguei a atuar como coordenador de artes visuais. Com a entrada do prefeito Jorge Roberto Silveira, passei a dirigir o centro. Metade da minha carreira foi no CCPCM”, destaca.

Carvalho lembra ainda que, na época do ex-prefeito Waldenir Bragança, criou um centro de experimentação, cujo foco era “o artista de Niterói, dando oportunidade a quem não tinha espaço para expor”, rememora.

Outro projeto que Carvalho legou foi o “Música no Campo”, que serviu de palco, por exemplo, para artistas como Emilinha Borba. “Um legado foi mantido. O problema é que, quando muda a bandeira partidária, muda-se o pensamento. Não há uma continuidade das políticas públicas”, lamenta. Confira a matéria completa no site: www.atribunarj.com.br

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