Ficha Técnica Edição Município de Ponte da Barca e Tradisom Apoio à produção José Pedro Carneiro (Câmara Municipal de Ponte da Barca), José Costa (Banzé), José Augusto Borges (design da capa e cartaz) Direcção editorial, textos e entrevistas António Pires Desenho gráfico Rodrigo Madeira
António Vassalo Abreu Presidente
da
C â m a r a M u n i c i pa l
de
Ponte
da
B a r ca
Este Guia Oficial do Festival Folk Celta de Ponte da Barca 2013 tem distribuição gratuita
decorrer nas margens do rio Lima, o Festival Folk Celta de Ponte da Barca tem sido uma das apostas da Câmara Municipal, a que tenho a honra de presidir, pelo seu enorme potencial e por ser um evento impulsionador na divulgação do património tradicional e cultural do concelho que tem fortes ligações à cultura celta, como acontece, também, com os Congressos Transfronteiriços de Cultura Celta que levamos a cabo desde 2006. Evento que se vem afirmando como referência a nível nacional, o Festival Folk Celta de Ponte da Barca revela, desde a edição inaugural (2008), que tem na qualidade da interculturalidade sonora a sua marca, direcionando-se, ano após anos, no sentido de permitir um real cruzamento de influências celtas, fazendo com que cada concerto seja um espetáculo contagiante de ritmos, em que se descobre um novo caminho, uma via de fusão, um ponto de encontro que não obedece a fronteiras. Como não só de música se vive um festival, oferecemos a quem nos visita uma experiência única, complementada pela fantástica comunhão entre a sonoridade e a natureza envolvente, cujas belas paisagens deste cantinho minhoto não deixam ninguém indiferente. Nas incríveis margens do rio Lima, num misto de tradicional e místico, haverá ainda espaço para uma Feira Alternativa com bancas de artesanato, refeições vegetarianas, yoga, massagens terapêuticas, danças orientais e danças do mundo, entre muitas outras atividades. Este é um festival que anualmente tem trazido ao concelho barquense artistas nacionais e internacionais de elevada qualidade, onde a música, a natureza e as terapias alternativas se fundem por três dias de pura festa. Estou certo que à margem do festival, esta passagem por Ponte da Barca vai proporcionar momentos agradáveis a quem nos visitar, já que este concelho central do Parque Nacional da Peneda Gerês, que viu nascer entre outras figuras da história Diogo Bernardes e Fernão de Magalhães, para além da hospitalidade das suas gentes, tem realmente motivos mais que suficientes de visita, que vão da gastronomia à paisagem, dos desportos radicais ao turismo religioso e da Natureza. c
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Brigada Victor Jara
F e s t i val Folk C e lta de Pon t e da Barca
Seis Anos de História Se contarmos com a edição de 2013, que já está a fazer História mesmo que por antecipação, o Festival Folk Celta de Ponte da Barca já leva seis anos de História e de muitas histórias. As histórias, essas, podem estar guardadas na memória dos músicos participantes, dos membros da organização, da equipa técnica e, claro, dos espectadores — razão primeira deste Festival. Mas da História (com H grande), mesmo que muitíssimo resumida, dá-se conta aqui.
2008
O Folk Celta de Ponte da Barca teve a sua primeira edição em 2008, no Choupal e com quatro nomes no cartaz: os representantes de Terras de Miranda Galandum Galundaina e os sevilhanos Amigos de Guinness (que, tal como o nome indica não fazem flamenco, antes optando por sonoridades mais irlandesas) no primeiro dia (25 de Julho); os portugueses Som Ibérico e a fantástica gaiteira galega Susana Seivane no segundo (26 de Julho).
2009
No ano seguinte, o festival teve uma extensão na belíssima aldeia de Lindoso no primeiro dia (24 de Julho), que recebeu actuações dos portentosos portuenses Mu e da banda espanhola Xarnege. Mas no segundo dia (25 de Julho) voltou ao Choupal, onde se puderam assistir a concertos da folk francófona canadiana com os Mauvais Sort e do veterano e seminal grupo da folk galega Berroguetto. No último dia (26 de Julho), as honras da casa estiveram reservadas para os transformadores da tradição aguedense Toques do Caramulo e para a folk alemã (mas de alma celta) Cobblestones.
2010
Em 2010, o festival começou (14 de Agosto) com a folk fernética dos catalães Keympa e continuou com uma das maiores instituições da renovação da música tradicional portuguesa, a Brigada Victor Jara. No segundo dia houve lugar para a folk mais experimental dos Lufa-Lufa e para outra instituição, esta da música galega, os Luar na Lubre (onde, na altura, pontificava a cantora portuguesa Sara Vidal).
2011
Já em 2011, os Mu tornam-se a primeira banda a bisar no festival, tendo celebrado a sua música de inspiração europeia — e um pouco de todo o mundo — no primeiro dia (12 de Agosto), com a violinista asturiana mas apaixonada pela música irlandesa Judith Mateo a encerrar a noite em beleza. No segundo (13 de Agosto) tocou o originalíssimo projecto Aduf, liderado pelo percussionista José Salgueiro, e cantou uma das maiores transmissoras da cultura da Galiza (e lusófona em geral) Uxia.
2012
Finalmente, em 2012, o festival abriu (dia 10 de Agosto) com o quarteto lisboeta MagMell, a que se seguiram os bascos Briganthya — que buscam inspiração em vários outros locais (Galiza, Irlanda, Escócia…) — e uma grande banda de folk celta vinda de onde se calhar não se esperaria, a Polónia: Beltaine. No segundo dia (11 de Agosto) subiram ao palco do Choupal os portugueses Pé na Terra, os reinventores da folk galega (com hip-hop incluído) Quempallou e celebrou-se a tradição portuguesa com José Barros e o seu grupo Navegante. Finalmente? Finalmente não: neste ano de 2013 vai fazer-se outra vez História. c
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Palco B r i c e lta
Novos Valores da Folk Nesta sexta edição, o Festival Folk Celta de Ponte da Barca tem como principal novidade a existência de um segundo palco, baptizado como Bricelta, em que vão actuar quatro novas bandas portuguesas. Criado para evitar «tempos mortos» entre as actuações dos grupos e artistas no Palco FolkCelta, o Bricelta vai servir no entanto, e sobretudo, para mostrar o trabalho de algumas das mais promissoras propostas folk da actualidade, escolhidas através de concurso promovido no Facebook do festival. Nesta página fica uma breve resenha de cada um dos projectos escolhidos.
Música Profana
Cabra Çega
GiraSol
Dunya
1 Originários de Ponte de Lima, aqui mesmo ao lado de Ponte da Barca, os Música Profana formaram-se em 2009 e, no início, conjugavam o heavymetal com a tradição musical portuguesa. O metal ainda lá está — na memória e na inspiração —, mas os Música Profana estão agora mais próximos das raízes e, com uma formação inteiramente acústica, mais longe do peso e da electricidade rock. E, apesar de interpretarem maioritariamente temas originais inspirados na tradição oral e nos mitos e lendas do nosso país, também há lugar para releituras de tradiciuonais como «Meninas Vamos à Murta» ou «Entrudo». O seu primeiro álbum, «Abakir», foi editado no passado mês de Junho.
2 Apesar de todas as idiossincrasias do acordo ortográfico, não é por causa dele que esta banda de Braga usa uma cedilha no «c» de «cega». A razão é ao mesmo tempo mais prosaica e pitoresca: a cedilha é a representação gráfica da barbicha da cabra. Com a base da sua inspiração musical a vir das percussões tradicionais portuguesas e das gaitas-defoles e tendo como influências grupos mais ou menos puristas e outros mais radicais e experimentais (numa panóplia de referências que vai dos Velha Gaiteira, Gaiteiros de Lisboa ou Brigada Victor Jara aos… Corvus Corax, passando pela tradição galega) a sua música tanto se dá bem em ambiente de concerto como em romarias ou feiras medievais.
3 Formados no Porto, em 2011, os GiraSol são mais um belo exemplo de como um grupo de músicos de várias proveniências (Bailebúrdia, Capagrilos e Mandrágora, entre outros) se pode unir num objectivo comum: a criação de perenes «lhaços» — passe o trocadilho — entre eles e, paralelamente, entre eles e o público que dança e ouve a sua música. Nos GiraSol é de danças tradicionais de variadíssimas proveniências (de Portugal e de todo o mundo!) que se trata — como se aprendem, como se dançam, como se partilham, como se transmitem, como se enriquecem, como se transformam — mas trata-se também, e sempre bem, de grande música. Festa, baile, calor, celebração.
4 Uma certeza: no duo portuense Dunya (formado por Diana Azevedo, ex-Mu, e Miguel Moreira, fundador dos Rakia ao lado de Diana) coabitam sempre, e alegremente, a tradição e a modernidade, as suas canções originais e a recuperação de memórias de canções antigas, a vontade de os pés darem as voltas ao baile e, por vezes, a vontade de se escutar, escutar apenas. E mais uma certeza: apesar de muitas vezes, haver elementos electrónicos na música dos Dunya, esta nunca deixa de ser orgânica, viva, verdadeira e está a quilómetros daquilo que por vezes leva o epíteto de chill-out. Se se quiser dormir ou «meditar a sono solto» (copyright Fernando Magalhães) não é num concerto e/ou baile dos Dunya que se deve estar.
Membros: Catarina Amorim (voz), Daniel Moreira (guitarra e bouzouki), Fausto Silva (guitarra), Nuno Silva (baixo), Nelson Fernandes (bateria e percussão) e Hélder Cerqueira (gaita-de-foles)
Membros: Diogo Martins, Hugo Caseira, José Silva, Maurício Brito, Óscar de Barros e Pedro Grade
Membros: João Martins (guitarras, gaita-de-foles, sopros e voz), João Lázaro (percussões e voz), Remi Kesteman (violoncelo e voz), Rute Mar (ensino das danças e voz) e Tiago Candal (acordeão e voz)
Membros: Diana Azevedo (violino, voz e adufe) e Miguel Moreira (piano, sintetizador, bateria electrónica e percussões) 5
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Capagrilos O trio Capagrilos surpreendeu a crítica especializada da folk com o seu álbum de estreia, «São Bassáridas», em que apesar de apresentar uma música visceralmente portuguesa tem também referências subtis a muitas outras músicas. Nesta entrevista éCarlos Batista a ter a palavra. Antes de formarem os Capagrilos, os seus músicos passaram por outros grupos musicais. Podem falar-nos um pouco desse «background» e qual a razão porque formaram uma banda nova a três? Os elementos dos Capagrilos fizeram e fazem parte de outros projectos, alguns com alguma história no folk português como é o caso dos Mandrágora. Entre outros projectos dos quais os elementos dos Capagrilos fizeram parte destacam-se os Ogham, os Trovas d’Amigo e os Elementos. Os Capagrilos começaram como um grupo de amigos que gostavam de tocar juntos e ao fim de algum tempo fazia sentido materializarmos o que já era matéria na verdade. Apesar de muita da vossa música ter inspiração directa na tradição oral portuguesa, há muitas vezes elementos exteriores — seja de outros músicos portugueses (Carlos Paredes, Fausto…) seja de outras músicas do mundo — que nela se podem identificar. Podem falar um pouco de onde vem essa influência? Bom, é natural que se notem certas influências de outros músicos na nossa música. Essas influências reflectem os nossos gostos musicais e a nossa «educação» musical desde crianças. São linguagens entranhadas na nossa forma de fazer música.
Para além dessas referências estritamente musicais, os Capagrilos juntam a instrumentos tradicionais portugueses vários instrumentos vindos de outras paragens e pouco usuais... Hoje em dia é difícil criar barreiras, criar filtros para criar algo estritamente tradicional e também não é nossa ideia «recriar» música. A nossa ideia é usar linguagens próximas da música tradicional para compor. Vindo das nossas influências musicais, trazemos á nossa música outros instrumentos e outros imaginários+. À nossa música trazemos instrumentos do Crescente Fértil como é o caso do santur, do oud e do saz, instrumentos do norte da Europa como o caso do jouhikko e vários aerofones de várias culturas. Apesar de tocarmos instrumentos de outras culturas a portugalidade transparece na forma de tocar. Mas damos mais importância aos instrumentos tradicionais portugueses como a viola campaniça, a sanfona as percussões tradicionais, entre outros. Tocar esses instrumentos «estrangeiros» serve apenas como uma forma de dar novas e diferentes harmonias e cores à música, que apesar disso nunca deixa de soar «portuguesa», ou ocupam também um lugar decisivo na composição dos temas? A liberdade de alguns instrumentos faz-nos criar mais despreocupadamente e libertar-nos para
uma música mais nossa, mais representativa de nós os três. Mas foi uma coisa que surgiu, não algo pensado. Na pergunta anterior fala-se de «composição» porque a maior parte dos temas que vocês interpretam, tanto em disco como ao vivo, são originais vossos que muitas pessoas julgam ser tradicionais. É esse o vosso objectivo? Nunca pensamos nisso na verdade, mas se por algum motivo essa ideia passa, achamos positivo. Ficar na tradição oral contemporânea é um orgulho para nós... Depois de um EP homónimo, os Capagrilos editaram o ano passado o seu álbum de estreia, «São Bassáridas». Mas não o gravaram sozinhos. Quem foram os outros músicos que convidaram para a aventura? Capagrilos nunca pretendeu ser uma banda fixa, a ideia romântica de banda que estamos normalmente acostumados a ouvir. Capagrilos é muitas vezes um laboratório de experimentação e os amigos são fundamentais nisso. Por isso chamámos músicos “amigos” para a gravação deste trabalho como o caso do Quiné, do Nuno Silva, do Ricardo Coelho e do Miguel Marinho, entre outros. Já há ideias ou temas compostos para um novo trabalho? Neste momento estamos a trabalhar em novos temas e na renovação do grupo com a entrada de um novo elemento. Já temos várias ideias de músicas e brevemente haverá novidades «capagrilianas». c
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Sentiu a necessidade de contrapor à sua música para gaita uma música mais «séria»? Foi uma mistura de razões. Por um lado o nosso amor pela música tradicional e por outro o facto infeliz de que em 1985 não havia educação oficial para estudar gaita, pelo que paralelamente fomos para o conservatório para poder ter uma formação musical completa. Comecei com a gaita aos quatro anos e com o piano aos cinco. Continuo a estudar os dois instrumentos intensivamente! Há alguns anos acompanhou os Chieftains. Acha que há mesmo uma conexão «celta» entre a música galega e irlandesa ou fê-lo apenas pelo prazer de tocar com grandes músicos? Eu tinha 18 anos quando me convidaram a fazer uma digressão com eles, quando eu já levava muitos anos a fazer digressões pelas Nações Celtas (Bretanha, Escócia, Irlanda, norte de Espanha) e essa conexão sempre foi para nós uma referência histórica, emocional e musical. Depois de se ter mudado para Nova Iorque, em 2005, só gravou mais dois álbuns a solo. No entanto, tem colaborado em inúmeras gravações de outros artistas e grupos. Pode destacar algumas destas colaborações que considere mais importantes? Mudei-me para Nova Iorque para cumprir esses sonhos que estavam pendentes, como fazer o meu doutoramento numa universidade americana. Fui com o intuito de voltar à Galiza mas o destino quis que começasse a trabalhar com compositores de música contemporânea, clássica e jazz, De repente, vi-me a trabalhar em discos de Yo-Yo Ma e do Silk Road Ensemble, no «Miles Español» de Bob Belden ou na Afro Latin Jazz Orchestra de Arturo O’Farril, onde a gaita teve a liberdade de viajar entre outras linguagens e estilos musicais.
Cristina Pato
Uma das mais celebradas gaiteiras galegas da actualidade, Cristina Pato, que desde há alguns anos reside em Nova Iorque, étambém a protagonista de várias aventuras musicais que a cruzaram com outras músicas do mundo e com o jazz. Agora já é habitual verem-se mulheres a tocar gaita-de-foles, mas quando a Cristina começou a tocar, as gaitas eram geralmente vistas como um instrumento dos homens. Foi também a primeira mulher-gaiteira a gravar um disco a solo. Viu-se como uma pioneira? A verdade é que foi um passo natural na minha vida. As minhas irmãs mais velhas também tocavam gaita e na minha casa, onde éramos cinco mulheres, todas nós tocávamos. Percebi que o meu papel dentro do mundo da gaita era uma responsabilidade muito maior do que eu pensara no princípio e nesse momento não me senti pioneira, mas sim com a responsabilidade de levar o meu instrumento para além das
nossas fronteiras. Fazer descobrir ao mundo as maravilhas da nossa gaita. De onde veio esse gosto pela gaita e pela música tradicional galega? Sou a mais nova de quatro irmãs, elas começaram com a gaita quando eu tinha quatro anos e eu também comecei. O nosso pai era acordeonista e tinha um reportório que incluía todos os clássicos populares galegos, para além dos da Venezuela, onde foi emigrante. Na minha casa sempre havia música, de todas as cores e tradições. Quando é que começou a estudar piano?
O disco «The Galician Connection» foi uma forma de prestar homenagem às suas raízes e aos seus músicos? Ou foi mais do que isso? Foi um laboratório de estilos, uma espécie de reafirmação do caminho que a partir daí iria seguir e explorar: jazz, clássica, contemporânea… Na minha formação todas essas linguagens tiveram o seu espaço. E porque não na minha carreira profissional? E tudo isso ficou conectado com a Galiza através do nosso instrumento-pátrio: a gaita. Este disco deu origem a um festival multidisciplinar que dirijo todos os anos em Santiago de Compostela: Galician Connection Festival. Já «Migrations» (2013) tem como sub-título «Roots & Jazz in NYC». Será este álbum o reflexo da sua condição de «emigrante» e da sua vivência em Nova Iorque? Tenho a teoria de que numa cidade como Nova Iorque todos os que estamos ali, emigrados, levamos as nossas raízes connosco, e essas raízes enraízam de novo. Dessa nova raiz sai algo diferente mas conectado com a raiz original. Este é um disco em que exploro a minha viagem pessoal como emigrante através da linguagem que me aceitou como uma mais: o jazz, com gaita! c 7
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Niamh Ni Charra Uma das mais talentosas violinistas, concertinistas e cantoras a emergir da sempre fértil cena folk da Irlanda, Niamh Ni Charra estreia-se em Portugal no Festival Folk Celta de Ponte da Barca. É uma honra para nós… E para ela também.
Como é que define a sua música? Profundamente enraizada na tradição irlandesa ou também influenciada por outras músicas? As duas coisas. Cresci a ouvir os músicos da minha terra, e a tocar com eles, a música local. Mas passei muitos anos a viajar pelo mundo e penso que as músicas locais de todos os sítios que visitei também me influenciaram. Eu gosto da música tradicional porque é realmente a música do povo, seja lá de onde for, mas também oiço jazz, música clássica e muitos outros géneros (excepto rap! Odeio rap!). Aprendeu a tocar vários instrumentos quando ainda era criança. Como começou esta paixão? Foram influências familiares? Os meus pais estavam ambos muito interessados em música. As minhas irmãs mais velhas começaram a aprender na escola e eu também quis aprender. E assim que comecei fiquei logo «agarrada». O que é que apareceu primeiro na sua vida: o violino ou a concertina? E porquê a escolha destes dois instrumentos tão diferentes? Na realidade eu comecei com o tin whistle (Nota: a flauta irlandesa com som mais agudo), quando tinha quatro anos. Quando já tinha cinco, o Pai Natal deu-me uma concertina e, um ano depois, chegou o violino. A combinação dos dois é um pouco estranha, mas a mim pareceu-me natural. Já tinha visto outros músicos a tocar os dois instrumentos e sabia que também tinha que experimentar. A Niamh é originária da região de Sliabh Luachra, onde a música é diferente de outras partes da Irlanda. Pode explicar as principais características da música desta região (com polkas e slides, embora também com jigs, reels e airs) e a importância que ainda tem na sua própria música? Todas as regiões têm as suas características. Sliabh Luachra é famosa pelas suas polkas e slides em particular, mas os outros géneros também são tocados. O nosso estilo tem mais a ver com a velocidade, o swing e o sentimento da música, que estão muito ligados às danças que acompanham as melodias. Este estilo ficou, definitivamente, registado em mim e, nos concertos, tenho sempre o cuidado de fazer uma boa mistura de temas da minha terra e de temas de outros lugares. Tem três álbuns a solo — «From Both Sides» (2007), «Happy Out» (2010) e «Cuz» (2013). Quais são as principais diferenças entre eles? O primeiro foi uma enorme experiência de aprendizagem e isso afectou a escolha e os arranjos das canções. Também não canto no primeiro álbum, embora tenha uma cantora convidada. O segundo já está mais próximo do que faço agora em palco e fui convencida a cantar nesse! Isso dá uma boa mistura
do que faço. O terceiro é um pouco diferente e é um álbum de homenagem a um músico local (Nota: Terry «Cuz» Teahan) que emigrou para os Estados Unidos em 1928. Era um grande músico e compositor mas nunca teve a atenção devida. Na sua última visita de regresso à Irlanda, nos anos 80, ele viu-me tocar e fez uma gravação para mim. Esta foi a inspiração para o álbum, que teve a colaboração de muitos músicos que também o conheciam. Este foi um álbum temático, mais focado na música de Sliabh Luachra, enquanto os outros dois eram mais uma mistura de música local com melodias de outros lugares como a Galiza, a Bretanha ou a Nova Escócia. Antes de iniciar a sua carreira a solo andou em digressão durante muitos anos com o popular espectáculo «Riverdance» (entre 1998 e 2006). Foi importante para a sua carreira futura? Foi muito importante. Aprendi imenso com este espectáculo e conheci grandes músicos. Mas também me deu a confiança necessária para ter uma carreira na música a tempo inteiro. Porque antes eu tinha tirado um curso de Engenharia Electrónica! Em anos mais recentes tocou com os lendários músicos dos Chieftains. Como é que os conheceu e o que é que fez com eles? Quando eu era muito nova, os Chieftains deram um concerto na minha cidade e eu mais as minhas irmãs fomos convidadas para actuar na primeira parte. Tudo começou aí. Mais recentemente, através do meu trabalho com Carlos Núñez acabei por tocar com Paddy Moloney e gravar com os Chieftains. Foi uma grande experiência. Acabou de referir o Carlos Núñez, que é da Galiza. Mas, se as ligações da música irlandesa com a galega são bem conhecidas (via conexão celta), o que é que a levou a gravar também com um músico basco, Ibon Koteron? Foi a música de Kepa Junkera que me apresentou à música do País Basco. Ele é um músico espantoso que toca o acordeão basco (trikitixa). E eu, como concertinista, que é um instrumento da mesma família, oiço muitos acordeonistas de todo o mundo. E cheguei ao Ibon, mais uma vez, através do meu trabalho com o Carlos Núñez. Finalmente, o que podemos esperar do seu concerto em Ponte da Barca? Estamos muito entusiasmados com este concerto. Vamos tocar e cantar temas da minha terra mas também de outros lugares, como da vossa vizinha Galiza. Também vou cantar em gaélico irlandês, no estilo tradicional, que tem técnicas ornamentais similares à do fado português; espero que gostem. Acima de tudo espero divertir-me e que o público se divirta também. c
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Riobó
agarrado: quando se começa a dar voltas à roda é difícil parar! Antes de se lançar a solo, tocou com alguns dos mais importantes nomes da música galega (Carlos Núñez, Susana Seivane ou Anxo Lorenzo). O que destaca no seu trabalho com todos eles? O facto de ter feito parte das bandas de todos estes músicos famosos fez-me crescer como músico e aprender a estar em cima de um palco sem sentir demasiada pressão, embora em todos esses casos o peso do espectáculo recaía sobre o solista. Por outro lado, aprender de que modo se relacionavam com o público e o conceito de espectáculo de cada um. É necessário ter as coisas controladas quando se sobe a um palco. O que a levou a seguir uma carreira a solo? A vontade de criar uma música mais pessoal e com a qual se identifica mais? Ou há outras razões? Até ao momento de criar Riobó sempre tinha estado ligada a bandas de gaiteiros, o que pressupõe estar de algum modo condicionada pela música que cada um deles queria fazer e à qual tinha que me adaptar. Apesar de ter sido uma boa escola, senti que com eles era difícil mostrar o meu estilo e a forma como entendia a música. Esse foi o motivo principal para iniciar uma experiencia musical mais pessoal.
Begoña Riobó éuma das mais reconhecidas violinistas galegas e a primeira intérprete deste instrumento a gravar um disco a solo, «Riobó»… Um disco que, afinal, éde banda. Como é que a música tradicional galega entrou na sua vida? Começou logo a aprendê-la e a tocá-la em criança? O meu primeiro contacto com a música tradicional deu-se através dos bailes e, dançando, comecei a familiarizar-me com os ritmos e melodias que vieram a fazer parte da minha vida. Aprendi a tocar violino com quinze anos dentro da formação clássica (na altura não havia escolas de música tradicional onde pudesse aprender violino). Mas assim que comecei a juntar duas notas tentei logo reproduzir a tradição musical da Galiza. Quais são as suas principais influências na interpretação de temas tradicionais galegos em violino? Vêm também de outros lugares (ex: Irlanda) ou de outros géneros musicais (ex: a música erudita)? A minha formação enquanto violinista de música tradicional é praticamente autodidacta, mas tenho várias referências: o reportório para gaita galega, que era o que tinha interiorizado e cujo fraseado e ornamentação tratei de reproduzir no violino e, mais tarde, decobri as gravações de Florencio, O Cego dos Vilares (Nota: lendário violinista galego), que se tornou uma referência para mim, e, por último, os
chamados violinistas «celtas» — escoceses, irlandeses, bretões… Com todos eles aprendi qualquer coisa. Para além de violino, a Begoña também toca sanfona e harpa céltica, que têm características bastante diferentes do violino. De onde veio essa paixão por estes dois instrumentos? E o que é que procura musicalmente em cada um? Por um lado, a harpa céltica foi o instrumento que escolhi para me introduzir no mundo da harmonia e do acompanhamento. Tocar um instrumento puramente melódico estava muito longe do que eu fazia na música e, por ser um instrumento tão diferente do violino, certos procedimentos da harpa fizeram-me entender o violino de outra forma. A aproximaçõo à sanfona deu-se num momento de dúvidas acerca do meu trabalho com o violino na adaptação do reportório de gaita; quis aprender a tocar sanfona para ver como se tinha conseguido adaptar o reportório tradicional galego e o seu sistema de ornamentação a um instrumento diferente do original. Quis, com a sanfona, ver se estava ou não no bom caminho com o violino. O problema com a sanfona é que é um instrumento a que é muito fácil ficar
«Riobó» (o seu álbum de 2011) foi o primeiro álbum a solo de uma violinista tradicional galega. Presumo que seja motivo de grande orgulho pessoal… Orgulho à parte, para mim o que era importante foi deixar registada esta fase da minha carreira, o que não quer dizer que não vá evoluir mais, pelo contrário, mas que este é o primeiro marco da minha carreira de violinista. Apesar do seu grupo (e do respectivo disco) se chamar Riobó, também o seu nome de família, costuma dizer que este é um projecto mais de banda do que um projecto seu, pessoal. De que modo os músicos que tocam consigo contribuem para isso? Antes de mais, e apesar de soar pouco credível, devo dizer que não fui que dei o nome ao grupo, mas sim os meus companheiros. E considero que, apesar de Riobó ter como pedra angular o som do violino e ser o projecto em que me sinto mais realizada como músico, o resultado final é um som contundente de grupo. Isto acontece devido ao empenho dos meus companheiros, aos múltiplos timbres que se conseguem com os instrumentos melódicos, ao modo como a gaita, as flautas, etc, se juntam ao som do violino e ao modo como entendemos o fraseado das melodias. Por outro lado, a secção harmónico-rítmica proporciona uma base sobre a qual é muito fácil tocar. c
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Gaiteiros de Lisboa
Já uma verdadeira instituição da música tradicional portuguesa, os Gaiteiros de Lisboa vêm a Ponte da Barca apresentar o seu novo álbum «Avis Rara». Em conversa com Carlos Guerreiro. Ao fim de mais de vinte anos de carreira, os Gaiteiros de Lisboa são unanimemente vistos como a banda mais importante e influente da reinvenção da música tradicional portuguesa. O que os levou a essa «renovação»? Quando nos formámos, no início dos anos 90, já muitos grupos da área da reinterpretação da música tradicional tinham nascido e morrido, e já muito trabalho havia sido feito no campo da descoberta de repertórios, instrumentos, tradições musicais, etc. Cada novo grupo que surgia procurava trazer algo de novo para aquele «movimento» iniciado pelo GAC e Brigada Victor Jara a partir da segunda metade dos anos 70. Quase todos os elementos que hoje integram os Gaiteiros de Lisboa passaram por diversos grupos dessa área, e era claro para nós que no fim dos anos 80 estavam esgotadas as soluções no que restava do inicial movimento de reinterpretação da música tradicional. Quando o núcleo inicial dos Gaiteiros de Lisboa se reuniu, tinha como principal objectivo pegar nas mesmas fontes e dar-lhes um tratamento mais criativo, servindo os temas tradicionais mais como ponto de partida para caminhos mais experimentais do que para uma contemplação museológica da tradição. Por outro lado fomos o primeiro grupo a dar uma importância determinante à gaita-defoles e muitos outros aerofones tradicionais, bem como às polifonias vocais e instrumentais. De que modo sentes que os Gaiteiros de Lisboa evoluíram desde o lançamento do seu
primeiro álbum, «Invasões Bárbaras» (de 1995), até à sua fase actual? Ao longo de mais de 20 anos de existência, os GL sempre tiveram a preocupação de não se instalarem em fórmulas ou soluções, procurando sempre novos caminhos e desenvolvendo novas ideias. Cada disco reflecte as vivências, tanto do grupo, como de cada um dos seus elementos ao longo do processo criativo. Em todos os CDs estão presentes novas propostas, novos sons, novos instrumentos, muitas vezes fruto de alguma pesquisa, intercâmbios e parcerias com grupos e artistas portugueses e estrangeiros. Em «Avis Rara» há mais artistas convidados do que é normal nos vossos discos: Ana Bacalhau, Sérgio Godinho, Zeca Medeiros, Adiafa. Como é que os temas que partilham com eles sobrevivem sem a sua presença em quase todos os concertos? Sem qualquer problema, uma vez que esses temas já existiam antes de termos escolhido os convidados. Apesar de cada convidado dar aos temas uma característica muito particular, a interpretação ao vivo, sem eles, parece-me funcionar lindamente. Outra característica marcante de «Avis Rara» é uma presença maior de temas que podem ser considerados «de intervenção», nomeadamente «O Avejão». O que os levou a escrever esse e outros temas?
Uma das características do nosso grupo tem sido a assumpção de uma atitude irreverente e de certa forma provocadora em relação aos valores sociais instalados por um poder que só pensa no dinheiro e não quer saber da cultura para nada. Sob esse aspecto os sucessivos governos que têm dirigido o país têm assumido uma atitude bem coerente. A actual ausência de um Ministério da Cultura é apenas a «cereja em cima do bolo». Não se pode dizer que tenhamos optado por uma via panfletária, mas em relação ao tema «Avejão», reconheço que a metáfora foi mais longe do que o habitual. Para mim, isso foi apenas mais um caminho a explorar, entre os muitos que o grupo tem ensaiado ao longo da sua carreira. Como é que um grupo com as vossas características sobrevive durante vinte anos, mais a mais quando o núcleo duro fundador (Paulo Marinho, Carlos Guerreiro, José Manuel David, Rui Vaz) ainda se mantém? Talvez porque na sua essência, os valores que defendemos hoje se mantêm imutáveis desde o início. O facto de serem imutáveis não significa que não sejam dialécticos, e por isso, quanto a mim se pode falar de evolução estética. Por outro lado acho também que a nossa longevidade se deve ao facto de não andarmos a correr atrás do mercado nem de modismos sazonais. Tocamos pelo prazer de estar juntos e apresentar propostas que encerrem em si elementos inovadores ditados pelo nosso próprio gosto. c 11
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Melech Mechaya Em 2009 lançaram o seu primeiro álbum, mas já antes disso os Melech Mechaya se tinham feito notar em variadíssimos concertos pela música pouco habitual que tocavam, o klezmer, e pela vivacidade que davam aos espectáculos. Estivemos à conversa com Miguel Veríssimo.
De onde veio a inspiração e o que significa o vosso nome, Melech Mechaya? O nosso nome é hebraico para “Os Reis Da Festa”, numa humildade ímpar! Está relacionado com a música que fazemos (o klezmer) e com a maneira como a fazemos (animada, dançável e divertida). O que é que levou um grupo de rapazes de Almada e de Lisboa a tocar num género musical pouco comum em Portugal como o klezmer? A génese dos Melech está relacionada com um livro de partituras de músicas tradicionais judaicas. Um dia experimentámos tocálas, e quando demos por nós estávamos a partilhá-las em concertos, a compor as nossas próprias músicas e a fazer discos. Como é que caracterizam a música klezmer e o que é que ela, em concerto, vos proporciona a vós enquanto músicos e a nós enquanto espectadores? A música que nós fazemos (que se inspira sobretudo no klezmer mas que vai além do mesmo) caracterizarse-á por ser muito enérgica e dançável, com balanços que se querem contagiantes e melodias cantaroláveis. Nos concertos o nosso objectivo é criar um momento de comunhão entre nós e o público, colocar a malta a dançar, a cantar, a rir e a fazer figuras tolas despreocupadamente. Nós divertimo-nos muito, sobretudo quando o público se diverte também. Os Melech Mechaya passam também por outros géneros como a música árabe, os Balcãs, o ska ou o swing. Está tudo ligado naturalmente ou é só por soar bem ao ouvido? Talvez seja uma e a mesma coisa: o que soa bem ao ouvido, regra geral, é o que está ligado naturalmente. No trabalho que fazemos não categorizamos o vocabulário musical, procuramos apenas seguir o que a música pede. Mas é muito fácil caminhar em ambientes vizinhos, pois as fronteiras nem sempre são perceptíveis. No vosso segundo álbum «Aqui Em Baixo Tudo É Simples»
(de 2011) têm temas cantados em português. Sentiram algum tipo de necessidade de aproximar mais a vossa música de um sentir mais nacional? A nossa música tem sempre elementos portugueses; é natural e inevitável. O arranjo para o «Chapéu Preto» foi feito logo após termos lançado o primeiro disco, e sempre nos fez muito sentido. Para este «Aqui Em Baixo Tudo É Simples» pusemos a nós próprios o desafio de fazermos uma canção, de criar no álbum um momento diferente, cantado, calmo e delicado como o «Gare no Oriente». Nesse álbum contaram com a presença de dois convidados ilustres: a fadista Mísia e o lendário trompetista Frank London (Klezmatics). O que é que vos levou até eles? Para a «Gare No Oriente» queríamos uma voz muito forte, com uma personalidade muito própria, que tivesse uma ligação ao fado mas não de uma forma convencional. Esta linha de raciocínio levou-nos naturalmente à Mísia. Ela apropriou-se da música, tornou-se uma Melech honorária e uma amiga com quem trabalharemos no futuro. Já com o Frank London a história foi diferente, pois a música já estava concluída e fechada (aliás, a versão que tocamos ao vivo é sem trompete). Mas convidámo-lo, pois os Klezmatics são uma referência incontornável e são ídolos nossos. Ele aceitou e juntou a sua trompete ao «Caleidoscópio». Ficámos muito contentes com ambas as músicas. Tanto no vosso primeiro disco, «Budja Ba» (2009), como no segundo apresentam tradicionais klezmer mas também alguns originais. Sempre se sentiram à vontade para mergulhar nesse imaginário e com liberdade para criar dentro dele? Não temos qualquer reverência pelas canções tradicionais, respeitamos o património klezmer e quem o toca da maneira tradicional, e nesse sentido nunca tivemos pudor nem impusemos limites à nossa criatividade. Neste momento quase metade do nosso repertório é composto por temas originais, e vários fogem já bastante do que é o imaginário klezmer. E o que é que o público de um festival chamado Folk Celta pode ou não esperar de um grupo klezmer como os Melech Mechaya? Bom, não pode esperar gaitas-de-foles! Mas pode esperar uma hora e meia de diversão, dança, patetice e... boa música! c
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Ponte da Barca Ponte da Barca é um dos dez municípios do distrito de Viana do Castelo. Em pleno coração do Alto Minho, a vila deve o seu topónimo à “barca” que fazia a ligação entre as duas margens do rio Lima, muitas vezes levando a bordo peregrinos a caminho de Santiago de Compostela. Ponte da Barca viu nascer junto ao bucólico Lima os irmãos Bernardes, Diogo e Agostinho, poetas da paisagem, das fontes e da saudade. Desta terra é oriundo também o navegador Fernão de Magalhães. Para além do importante património histórico-monumental, do qual se destaca a Ponte Medieval, o Pelourinho ou os Mosteiros das freguesias de Bravães, Crasto e Vila Nova de Muía, o concelho barquense, que tem vindo a apostar no turismo, distingue-se, também, pelas suas riquezas naturais como parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a albufeira do Alto Lindoso e valiosos núcleos rurais e históricos. Se a tudo isto juntarmos a bem afamada gastronomia, a excelência dos seus vinhos verdes, o artesanato, o folclore e as magnificas condições para a caça, pesca, desportos náuticos e de aventura, temos então um concelho muito apetecível para a actividade turística que convida à visita, dando boas razões para voltar. Em Ponte da Barca ainda se praticam diversas artes, sendo possível encontrar artesãos que ainda laboram de acordo com os ensinamentos dos seus antepassados. Para quem nos visita, dispomos de um Centro de Exposição e Venda de Produtos Regionais (CEVPR) onde se encontra uma mostra e venda de produtos regionais, que vai desde o tradicional mel, passando pelas compotas, até à doçaria local. Ainda neste local, tem destaque especial a área dedicada ao afamado vinho verde da região. c
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F e s t i val F olk C e lta
A Nossa Matriz Cultural
A origem, as motivações e a importância do Festival Folk Celta ficam aqui explicadas nas palavras de Manuel Joaquim Pereira, vereador da cultura da Câmara Municipal de Ponte da Barca.
O que levou a Câmara Municipal de Ponte da Barca a realizar anualmente o Festival Folk Celta? A presença dos celtas no Norte de Portugal e na Galiza é um tema que nos fascina, pelo que, face à existência no concelho de tradições como o Pai Velho e de topónimos como Anobrega, Grovelas, Danaia, entre outros, acolhemos, com entusiasmo, a ideia lançada em 2006, pela Professora Doutora Fátima Lobo, para a realização dum congresso, o Congresso Transfronteiriço da Cultura Celta, realizado alternadamente em Espanha e Ponte da Barca. A partir da realização do congresso nasce a ideia da realização dum Festival de Musica Celta. Conhecedores do Intercéltico de Sendim, para nós uma referência, decidimos organizar um festival que abarcasse a música folk e tradicional. No que se distingue este festival de outros festivais folk e de música em geral? O facto de se realizar com um enquadramento paisagístico único e que por si só constitui já um cartão de visita do Festival é sem dúvida uma das especificidades. O facto de assumidamente se afirmar como um festival transfronteiriço procurando permanentemente a aproximação também ao público galego é outro dos aspectos diferenciadores. A construção de um cartaz que tem permitido aliar nomes consagrados a novos que despontam sempre com um grau de qualidade elevado e que tem permitido também fruto do ambiente único que se gera uma interacção permanente entre o público e os artistas e que extravasa em muito a área do palco. Ao longo das suas várias edições tem notado alguma evolução do festival, tanto em termos de público como em termos de músicos envolvidos? A notoriedade do Festival tem evoluído de forma consistente não só pelo crescente número de participantes como pelo interesse demonstrado por bandas de diversas proveniências, em especial da Galiza. O público alvo tem sido transversal, o que se tem revelado uma agradável surpresa, em que temos um festival para gente de todas as idades que se diverte e volta todos os anos. Este tem sido sem dúvida uma das melhores marcas deste evento, a crescente identificação do público com este evento. Em 2013 o Festival Folk Celta tem a sua sexta edição. Que balanço faz dos cinco anos anteriores de festival? O balanço é francamente positivo, não só pelo festival em si, mas também pela notoriedade que representa para o concelho. Ponte a Barca, situada em pleno Parque Nacional de Peneda Gerês, viu recentemente qualificado um vasto património megalítico, tem paisagens duma beleza ímpar como as margens do Rio Lima, locais com apetência para a prática de desporto
constituindo o Festival mais um meio de divulgar o rico património do concelho de Ponte da Barca. Dos nomes principais do cartaz desta edição quais é que destaca e porquê? Por razões diversas, os nomes que compõem a edição deste ano do Festival são nomes fortes no panorama da musica folk. Cristina Pato, gaiteira e pianista, prémio “galega do ano 2012”, atribuído pelo Correo Galego e galardoada este ano com o Prémio “Trasalba”, um prémio que distingue personalidades pelo seu labor cultural e galeguista. Os Gaiteiros de Lisboa, um dos grupos mais emblemáticos da Música Tradicional Portuguesa, memoria viva da nossa identidade cultural com um prestigio que ultrapassa as fronteiras do País. Para além destes o destaque para a irlandesa Niamh Ni Charra, pela primeira vez em Portugal para apresentar o seu mais recente disco e para os Melech Mechaya, um quinteto de música klezmer, tradicionalmente judaica, com inspirações nas músicas cigana, árabe e dos Balcãs. Completam o cartaz do Palco Folk Celta os portugueses Capagrilos, que tocam temas originais e reinterpretações originais de temas tradicionais e os Riobó, um grupo galego que se caracteriza pelo virtuosismo dos seus músicos que se mantêm fieis a melodias de tradição galega. Este ano vai haver um palco para novos valores. Como surgiu essa ideia? Temos recebido um número elevado de propostas de grupos portugueses, da Galiza e de partes tão diversas da Europa para participar no Festival que entendemos que seria uma mais valia para o festival este segundo palco que nasce de uma selecção perfeitamente democrática do público através da sua votação na página do Facebook. Em edições passadas, para além da música, o Festival Folk Celta apresentou outros motivos de atracção – feiras, teatro, etc… Estão previstas algumas actividades paralelas para este ano? Paralelamente ao festival realiza-se uma feira e uma panóplia de actividades como workshops de danças, de instrumentos tradicionais e de outra natureza. À semelhança de edições anteriores, para além da música portuguesa e de outros países e regiões, a música galega volta a ter lugar de destaque. De que modo é importante essa ligação à Galiza, tão próxima de Ponte da Barca? Aproveitamos o Folk Celta para divulgar a Música Tradicional Portuguesa e a Música Tradicional Galega, por gosto pessoal e por entendemos que nos compete divulgar a nossa música e dar a conhecer a música dum povo com o qual temos muito em comum. Este diálogo intercultural tem sido importante na defesa da nossa matriz cultural. Inicialmente prevista, a actuação de Né Ladeiras foi depois cancelada… Sim. O festival deste ano fica marcado pela impossibilidade da presença da Né Ladeiras, uma voz de referência da Musica Tradicional Portuguesa, fazendo votos para que vença os obstáculos e no próximo ano tal seja possível. Entretanto, fica o convite para assistirem ao Festival e pernoitarem numa das muitas casas de habitação em espaço rural ou no Parque de Campismo de S. Miguel Entre Ambos os Rios, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês. c
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In’Folk Celta Datas:
26 e 27 de Julho de 2013
Local:
Praça Terras da Nóbrega (Campo da Nucha) Ponte da Barca
Actividades Paralelas:
Feira Alternativa, com yoga, reiki, massagens terapêuticas, compra de produtos alternativos, danças orientais e danças do mundo, acupunctura, entre outras atividades.
Bilhetes:
Os bilhetes diários custam 5€ e podem ser adquiridos à entrada do festival, embora haja um pack promocional à venda por 10€ que além do bilhete de dois dias inclui também a oferta do CD compilação das edições passadas do Festival Folk Celta + T’shirt.
Onde Ficar:
Parque de Campismo de S. Miguel Entre Ambos os Rios (Parque Nacional Peneda Gerês) Residencial San Fernando Rua S. António, Ponte da Barca Hostel Magalhães (Rua Dr Joaquim Moreira Barros) Ponte da Barca Casas de Turismo de Habitação e Turismo em Espaço Rural Central de Reservas da ADERE Peneda Gerês (Largo da Misericórdia) Ponte da Barca
Sites Informativos:
https://www.facebook.com/folkcelta http://www.cmpb.pt/
Horário dos Espectáculos: Sexta-feira, 26 21h00 Abertura de portas Performance de Abertura Palco FolkCelta 22h00 – 22h40 CapaGrilos Palco Bricelta 22h40 – 23h00 CABRA Çega Palco FolkCelta 23h00 – 00h00 Niamh Ni Charra Palco Bricelta 00h00 – 00h20 Música Profana Palco FolkCelta 00.30 – 02.00 Cristina Pato
Sábado, 27 21.30 Abertura de Portas Palco FolkCelta 22h00 – 22h40 Riobó Palco Bricelta 22h40 – 23h00 girasol Palco FolkCelta 23h00 – 00h00 Gaiteiros de Lisboa Palco Bricelta 00h00 – 00h20 dunya Palco FolkCelta 00h30 – 02h00 Melech Mechaya
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