Paiagua para apreciacao

Augusto Figliaggi | Elaine G. Conceição

paiagu OBS: Caros pareceristas Vale citar que já houve um publicação dessa história, mas foi feita de modo independente, custeada por um edital federal, com distribuição independente e extremamente setorizada.

A intenção agora é levar ao mercado editorial.

donos do rio

não

existem

fatos, apenas interpretações.

Friedrich Nietzsche 05

Lúdica mistura de forma e linguagem: quadrinhos de uma história Que surpresa bonita, reencontrar os Payaguá nas páginas de um gibi. Pois, sim! Ultrapassando barreiras temporais e estilísticas, aqui estão eles, graças ao desenho seguro e criativo de Augusto Figliaggi e da lapidada narrativa de Elaine Conceição.

Contar histórias é uma tarefa fascinante, porém árdua e cheia de desafios, ainda mais se a linguagem for múltipla e não linear como a utilizada nos quadrinhos.

Entretanto Augusto e Elaine, como se espera de artistas, aceitam provocações.

Para dar forma ao seu HQ, estes talentosos jovens permitiram-se licenças poéticas, conjugaram invenções com fatos, e com raro equilíbrio, conseguiram balancear imagem e texto, fazendo surgir o Payaguá donos do rio. Nele se conta com sabor de aventura, pitadas de humor e fluidez de fatos, uma passagem de enredo colonial, ocorrida no coração molhado da América do Sul. O personagem central é um Payaguá, ou melhor, um Evuevi “gente do rio, gente da água”, filho do peixe pacu conforme esses índios contavam em seus mitos –. Ele é um sobrevivente do grande massacre ocorrido na década de 1730, sobre as águas e margens dos rios pantaneiros, numa guerra (in) justa. Este é o mote que os multifacetados artistas usam para visitar com liberdade, a história de conquista e ocupação das terras mato-grossenses.

Através das belas páginas deste mangá pantaneiro Augusto Figliaggi e Elaine Conceição fazem com que, os hoje exterminados, destruídos, miscigenados, esquecidos... índios anfíbios, os canoeiros Payaguá, retornem ludicamente à cena.

Cuiabá, no calor de dezembro, Maria de Fátima Costa

Cabaça paiaguá feito de cabaça natural, com grafismos abstratos. (Magalhães, 1999)

05

uma palavra dos autores Foi muito prazeroso e doloroso tornar esse projeto realidade. O prazer está em poder fazer algo que gostamos e com uma temática que respeitamos muito. Está em levar uma produção que nos empenhamos bastante para que amigos, colegas, conhecidos e apreciadores vejam e desfrutem. Está na possibilidade do surgimento de novos espectadores dessa arte a partir desse álbum. Está na força potencial de trazer a discussão de que todos somos iguais.

Está em cada momento que alguém virar uma página dessa publicação com a vontade de saber o que está na folha seguinte. Está na possibilidade de união das duas habilidades intelectuais que temos, de uma lado Elaine é historiadora e pesquisa já há alguns anos temas indígenas em seus estudos acadêmicos, de outro Augusto é artista visual, e também leva às Histórias em Quadrinhos para suas investidas na academia. O prazer está em cada momento que ficamos pensando que, por mais difícil que fosse, estávamos fazendo a coisa certa. A dor por sua vez está em perceber que, por mais que se discuta sobre o assunto, as ‘guerras justas’ nunca deixarão de existir.

Fazer essa obra foi se aventurar, ficar noites em claro, discutir sobre como deveria ser feito, perceber na prática que toda pesquisa é uma ficção, são sempre construções de óticas sobrepostas à outras construções.

Isto é, nada do que está aqui é realmente fiel ao que se aconteceu, em alguns momentos nos aproximamos mais das descrições contidas nos documentos históricos, em outras nos distanciamos em favor da narrativa. Essa história age mais como uma reflexão sobre o que realmente ocorreu com o povo Paiaguá, do que uma reprodução fiel do ocorrido. Eem realidade isso nos rendeu muitas e muitas discussões, levando a perceber quando deveríamos estreitar nossa visão com as dos documentos pesquisados, e quando valia a pena nos afastarmos deles.

Esperamos que a História em Quadrinhos traga aquilo que esteve silenciado pelo tempo: parte da trajetória desses indígenas, hoje extintos. Queremos realmente que essa HQ sirva de caminho introdutório para àqueles interessados pelo tema. Que essa HQ os sirva tanto quanto nos serviu.

Cabaça paiaguá feito de cabaça natural e grafismos abstratos. (Magalhães, 1999)

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foi numa viagem, pensando no nosso centro-oeste, que a ideia surgiu.

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prólogo

sabe, ainda não tenho certeza sobre como as pessoas vão ler isso. será que desse jeito não vai parecer que queremos ser donos da verdade?

depende,

e se a gente assumir que tudo se trata apenas de uma ficção? somente uma reflexão.

hum, interessante...

isso.

algo como ‘não existem fatos, apenas interpretações’ ?

porque o ponto é esse. não temos como contar uma história real,

podemos até colocar essa frase na folha de rosto do livro.

então o que iremos contar?

nenhum documento permitiria isso. sempre seria apenas nossa visão sobre o ocorrido.

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01 ‘bom...’

‘como é aquele ditado mesmo?’

‘‘não importa o tamanho do peixe...

há sempre um peixe maior.’’

poderíamos começar com aquelas expedições fluviais, como era mesmo o nome?

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ah sim, as monções!

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Algum local da Bacia Hidrográfica do Paraguai ­ 1734

eita! meu remo deu um trompaço num peixe enorme.

óia o tamanho dos dente dele. é a maior piranha que já vi.

piranha é um bicho perigoso. mas podia ser pior nicolau.

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podia ter sido muito pior.

é? e o que podia ter sido?

duas piranha!

hehehehe

nicolau, piolho de cobra. fiquem quietos os dois.

o barulho pode atrair a atenção dos índios canoeiros.

ao invés de preocuparem-se com as piranhas, preocupem-se com eles.

capitão, acho que o sinhô tem que ver isso.

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santo deus!

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eita! nossa senhora!

volta que ‘‘para que o cacique na rresse mo o fizesse ao alojament , mo de pas

...

cortaram os soldados aos mortos cinquenta cabeças e as deixaram espetadas em paus na borda d’água na praia’’ ¹

...

vamos desembarcar e ver o que aconteceu aqui.

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os guias podem ficar aqui. os outros me acompanhem. filho, tem certeza? eu acho que...

quem fez isso com eles pode acabá com uns vadios que caçam ouro.

pai! temos que saber o que nos espera na curva desse rio. esses índio canoêro não são conhecidos por serem guerreiros?

por isso mesmo a preocupação.

e ao que parece não foi uma guerra.

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se fizeram isso aos guerreiros, o que fariam com a gente?

foi uma matança. vejam!

vixe!

eu não tô me sentindo bem.

destruíram a aldeia inteira, seria muita sorte alguém sobreviver.

ugh!

é, alguém tá com sorte.

ugh!

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02 Portugal ­ Lisboa ­ Ums dos palácios de D. João V 2 anos antes

majestade, o decreto da ‘guerra justa’ precisa de vossa assinatura.

hum.

os índios da colônia, majestade.

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me lembre o porquê devo fazer isso mesmo?

eles impedem o avanço de nossas investidas ao sertão da colônia.

humpf! aos espanhóis? roubam nosso ouro e vendem aos espanhóis.

se esse decreto não resolver o problema, veja quantos papéis mais são precisos para vencer esse empecilho.

... aos espanhóis ... tsc, tsc.

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03 naquele dia a água estava mais fresca do que de costume, ela carregava um pote para ajudar anapichaguá no preparo da comida. ele pescava, preparava e ela entornava os tonéis...

mas não saía água...

... e sim, sangue!

anapichaguá!

nãããããooo!

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uma crosta sob seus olhos dificulta abrí-los.

capitão, foi o sinhô mesmo que falô pá tomá cuidado com os índio.

mas precisamos dele para saber que perigo corremos, quem fez isso com eles pode fazer conosco.

mas somos eu, meu pai e nicolau que tomamos as decisões por aqui.

esse selvagem vai acabá com nós todos. assim são os índio, uma praga.

anapichaguá reconhece o idioma: português.

o sinhô não faz ideia do que tá falando, é mais perigoso com ele. já viajei demais por vários rio, sou um vadio entendido, acredite.

os brancos brigam. desconfia que estão falando sobre ele.

piolho de cobra, você só entende de mineração por isso tá aqui, senão nem estaria.

eu e meus guia num vamo ficá a sua mercê capitão.

o que aconteceu? porque está aqui?

pessoal...

acho que ele acordou.

calma selvagem, queremos apenas conversar.

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entende o que eu falo?

anapichaguá entende um pouco, mas não costuma falar o idioma desses brancos. ele num vai responder com o sinhô tratando ele como se fosse um rei.

precisamos saber quem destruiu vossa aldeia...

um branco nervoso.

amarrado.

se num falar por bem...

escuta aqui ô animal, vosmecê vai nos dizer agora o que sucedeu aqui. maldito branco nervoso.

vai falar por m...

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o branco nem percebe o que o puxou. uh!

ahhhhhhhhhh!

maldito selvagem, alguém dá um tiro nesse bicho.

capitão, atiro?

o que vosmecê dizia sobre meus métodos? que eles não funcionavam? vejo que os teus funcionam. não nicolau, ainda preciso entender se podemos continuar na viagem sem perigo.

o sinhô que sabe. o índio percebe quem é o cacique desse grupo. o cachimbo.

mas é complicado confiar no que ele vai falá.

isso se a gente entendê.

ei, fala nossa língua?

o cacique.

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dias atrás o cacique viajou.

//atenção!//* //vou para assunção, vender o ouro que tomamos dos brancos.// *traduzido do idioma paiaguá

ouro. //levarei vários guerreiros comigo, aqueles que ficarem cuidem da aldeia.//

//todo o ouro que levaremos foi da virada que demos naquelas canoas que vieram de cuiabá.//

cuiabá. //aquelas que o lúcio disse para a gente que estariam carregadas.//

//só não podemos esquecer que o lúcio é um deles, ele é um branco.//

lúcio, cuiabá.

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tocaram os instrumentos milita

‘’Já dia claro.

res,

de cujo estrondo movido,

os gentios vieram subitamente armados com lanças de 25 palmos’’

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indígena ou não.

‘’A procura da praia onde os nossos os esperavam e as suas canoas estavam.’’²

qualquer um saberia o próximo som a se escutar.

bang!

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lúcio, cuiabá.

cuiabá? é de lá que veio quem fez isso?

quem é lúcio?

lúcio, cuiabá!

lúcio, cuiabá!

foram os mineiros de cuiabá, é isso?

eu falei prá vosmecê capitão, o bicho num vai falá. vamos deixá-lo.

não.

ele vai com a gente.

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04

Vila Real Senhor Bom Jesus de Cuiabá

minha mulher bem que queria uma escrava.

hahaha! foi a melhor batalha que participei.

aqueles índios acabaram...

foi a melhor coisa que já vi.

senhores...

ainda que o tenente coronel não esteja aqui

à guerra justa!

gostaria de propor um brinde

nossa senhora lúcio, mas me conta como foi essa batalha.

ao funesto e desgraçado fim dos salteadores e tiranos paiaguás.

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hehe! foi um ataque esplêndido

assim que o negro avisou que a aldeia estava toda sonolenta

tudo começou na noite anterior,

cercamos as canoas que estavam perto da margem

mandamos um negro ir a nado para checar o momento em que os índios dormiram.

tudo muito silenciosamente.

com os primeiros raios de sol, ficamos com as armas em punho.

os soldados tocaram o tarol, os índios saíram assustados da mata.

e o ouro que você havia ajudados eles a pegarem, você conseguiu roubar de volta?

e quando nos viram, levaram chumbo nas banhas. hehehe!

não! raios!

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até agora num entendi essa história do ouro.

é o seguinte, o lúcio aqui sempre contava para os paiaguá quais embarcações que eles deviam saquear.

ele era uma informante dos índios. acontece que quando o império pediu ajuda para caçar os gentios,

posso não ter encontrado o ouro.

ele se viu diante da oportunidade única de roubar o ouro que ele mesmo tinha ajudado os índios à saquear.

ele só não sabia que não ia encontrar o ouro, né?

mas num voltei de mãos abanando, hehe!

trouxe umas coisinhas que vão me render umas boas moedas, hehe!

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guardavam em seus depósitos tudo o que podia ser interessante aos homens e mulheres de uma vila.

essa era uma época em que poucas pessoas comerciavam muitos produtos.

sabe, eu já vendi coisa bonita. mas vosmecê é a melhor delas.

ainda bem que te peguei antes de você ficar embuxada.

fiquei sabendo que os peitos das índias ficam pendurados quando têm filhos.

e eu não ia querer ter que testar uma mercadoria que já tivesse sido usada por outro.

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capitão, esses índio danaram a vida de todos os monçoeiros que por esses rios passaram. eu estou assumindo a responsabilidade. ele irá nos ajudar, nem que seja minerando.

05

as monções eram marcadas por dificuldades.

cachoerias. acampamentos. doenças.

ele não serve nem para ser escravo, não entende isso? piolho de cobra, garanto que ele minera e monta acampamento melhor do que você e teus homens.

sobreviver a essas situações era melhor do que o ouro. mas era o tipo de coisa que só se percebia já viajando. anapichaguá os observa, enquanto os brancos não lhe veem.

não é você quem decide nada por aqui, e assim ficamos.

ele sabia sobreviver.

num acredito que embarquei com um maluco que quer levar um índio assassino.

mas essa viagem num vai ficá assim.

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não se preocupe, não quis ofendê-los, só estava irritado com o piolho.

capitão, o sinhô me descurpe pelo acampamento montado às pressa.

mas porque montaram tão rápido? seu pai não tá bem. precisava descansar. não sei quanto tempo aguenta.

é a febre? talvez.

‘‘é, essa noite será longa.’’

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noite.

momento em que os pensamentos ganham vazão.

se eu tivesse coragem capitão.

seria tão fácil liderá essa expedição sem o sinhô.

mas vou acatar suas vontades. e você mesmo verá como o índio é um selvagem.

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hã?

antes que o capitão pudesse entender exatamente o que estava acontecendo, anapichaguá chega.

e a faca que ora apontava para um...

agora apontava o outro.

e atravessa duas costelas como se tivesse sido enfiada direto no bucho.

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o capitão sabe apenas o que viu.

o que?

piolho de cobra apontando a faca, como se o fosse matar. o que mais explicaria a situação?

jesus.

atiro capitão?

não. capitão...

‘‘o sinhô tem certeza do que tá fazendo?’’ ‘‘tenho.’’

e a manhã surge.

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duas pessoas se vão em uma noite. a febre e anapichaguá os motivos que os levaram.

o capitão opta em confiar.

fé!

era isso que seu pai havia o ensinado.

fé!

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anapichaguá entende a dor.

mas porque deixar um objeto de prata para trás?

fé? sabe o que é perder alguém.

falaram de jesus para ele uma vez.

jesus?

mas ele ainda vê apenas um objeto de prata.

os grupos se dividem.

amistosamente.

ainda que jesus não os salve.

que o cuiabá não acabe com vossas vidas.

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06 sabe...

devo dizer que são realmente apetitosas.

ouvi dizer que as espanholas têm inveja de vossos corpos...

ao menos enquanto estão na mocidade.

mas não trocaria nenhuma espanhola ou portuguesa por uma de vocês..

são sujas e caladas demais.

amanhã volto.

já para te passar a outro dono.

é bom que continue calada, para que ele não saiba que a mercadoria já foi usada, hehe!

fé!

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07

anapichaguá sonha com um mito paiaguá.

nesse mito seu povo é representado por um pacu.

um dos maiores peixes do rio paraguai.

mas de súbito surge um dourado, o homem branco e o afronta.

o pacu está prestes a revidar.

quando percebe que o homem branco está com medo.

porque junto do paiaguá existem outros.

junto ao pacu, estão dois dourados.

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e os peixes seguem viagem.

diga nicolau.

capitão?

vosmecê tem certeza? digo, dormindo ele parece inocente, como um homem comum.

mas ele é um índio. nicolau. se um índio mostrasse que valoriza sua vida... te salvando da morte certa.

você não pensaria seriamente que ele pode ser tão importante quanto você? a vida dele não seria a sua própria?

ele me salvou nicolau.

acho que você devia fazer como ele, encostar a canoa e descansar.

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ao descansar o capitão também sonha.

no sonho ele é o próprio índio.

suas vidas são as mesmas.

e para que o índio que o habita continue vivo.

é necessário que um dourado morra.

42

hã?!

uma onça, capitão.

agora que ela tá abatida o índio vai peitar ela sozinho.

pense no que mais ele pode fazer.

se ele consegue enfrentar uma onça com uma faca capitão.

como assim nicolau?

o sinhô realmente entende o que esses canoêro fazem?

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‘‘um monçoeiro que conseguiu voltar para são paulo disse que encontrou com alguns.’’

‘‘percebeu que eles chamam a si mesmos de ‘evuevê’, que significa ‘gente do rio’.’’

‘‘viu como eles atacam’’ ‘‘mergulhados embaixo d’água...’’

‘‘ deixam para sair no último instante.’’

‘‘ficam em frente às armas dos paulistas, como se fossem invencíveis.’’ ‘‘e suas lançam perfuram tudo o que há pela frente.’’

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eles sequestram e vendem portugueses, brasileiros e todo tipo de gente que encontram pela frente.

eles roubam nosso ouro.

eles matam nossa gente.

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Augusto Figliaggi | Elaine G. Conceição

paiagu ESSA É UMA VERSÃO PARA APRECIAÇÃO.

CASO QUEIRA VER O ARQUIVO COMPLETO FAVOR ENTRAR EM CONTATO TERRIVELDEJAVU@GMAIL.COM

donos do rio