Meios & Modos - Caderno Experimental

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Caderno experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I 1ª EDIÇÃO

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EDITORIAL por Profª. Danielle Araújo

M

eios e Modos é resultado de uma atividade experimental da disciplina de Tópicos Especiais em Comunicação I, do Curso de Comunicação Social da UFPI. Foi criado para tratar a moda numa abordagem ampla, entendo que o termo é algo maior ligado não somente a indumentária, mas a cultura e ao comportamento humano.

Neste cenário, o caderno de moda objetiva tratar assuntos de interesse da comunidade universitária de Teresina, comprometidos com a ética e a prática jornalística de qualidade. Mostrando as várias interfaces da moda com as diferentes áreas do conhecimento e que o jornalismo de moda pode ser mais uma opção instigante na área da comunicação.

Para tanto, consideramos o reconhecimento da moda, pelo Ministério da Cultura com um assento no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), que já apontou quatro grandes eixos norteadores na definição das diretrizes executivas e ações do Ministério da Cultura para o segmento, sendo elas: Cultura, Memória e Criação; Estado, Instituições e Redes; Formação, Educação e Pesquisa; e Financiamento, e Economia da Cultura.

Nesta Edição, trazemos matérias que mostram as iniciativas locais de desenvolvimento de produtos sustentáveis, destacamos o trabalho de alguns artistas plásticos e seu olhar sobre a moda, a parceria do Curso de Moda da UFPI com a SEMDEC em prol da comunidade, curiosidades sobre moda e cinema, um pouco da história de algumas peças do vestuário e a moda do shopping da cidade. Boa Leitura!

HUMOR

EXPEDIENTE Orientação:

Profa. Danielle Araújo

Disciplina: Tópicos Especiais em Comunicação I Projeto Gráfico: Aureliano Machado Tirinha: Thyago

REPÓRTERES: Aline Rocha Anna Thays Anne Beatrice Carlienne Carpaso Claryanna Alves Daiane Bezerra

Dariana Ribeiro Diego Barlo Diego Rodrigues Frank Feitosa Isabela Leite Jamila Carvalho Jéssica Patrícia

João Victor Rolin Rafaele Ribeiro Josiane Sousa Ranielly Veloso Luciana Rodrigues Thalita Castelo Branco Mayara Araújo Thays Fernanda Michelly Brito Vinícius Ferreira Priscila Florêncio Wérica Geys Priscila Sousa Willame Lucas


Acreditar que não existem regras e padrões é a chave pra surpreender: Não importa a situação, os trajes que você veste, ou mesmo o ambiente; o que realmente importa é ser quem quiser, quando quiser e como quiser.

DISCIPLINA: Produção de Moda PROFESSORA: Gizela Falcão EQUIPE: Adélia Rebello Jhulie Freitas Rafael Lopèz Sahâmia Isabel

MODELOS: Verbiany Leal Yngred Carvalho Kim Carlos FOTÓGRAFOS: Yuri Ribeiro Thiago Oliveira Evelin Santos


Desnudando a História da Moda

Como o surgimento de uma vestimenta pode mudar os costumes e pensamentos de uma época.

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ocê já parou para pensar como surgiram as peças de roupa? Quais contextos históricos elas foram criadas? Quais as mudanças econômicas e sociais que elas causaram? Pois é, a maioria das pessoas nem suspeita que a roupa que veste hoje com a maior naturalidade já foi um símbolo de revolução, ou já causou uma grande revolta na sua época de criação. Cada peça de roupa tem sua história tem seu porquê. As roupas dependendo da época na qual foram criadas ilustram um pensamento, uma atitude, uma revolta ou qualquer outro sentimento seja ele bom ou ruim, que muitas vezes não percebemos na hora de vestir essas roupas. Por exemplo, houve um tempo em que elas foram símbolo de protesto, como na década de 70, com o movimento hippie e a ideia da antimoda, ou seja, da negação daquelas roupas que todos usavam. E com isso acabaram criando um novo estilo não só de roupa, mas de vida.

O jeans, por exemplo, um tecido de origem marginal, que era usado por mineradores, virou o símbolo da juventude transviada da década de 60. O biquíni criado numa época conservadora foi um verdadeiro escândalo, tanto é que as mulheres a princípio se negaram a usá-lo tamanha era a rejeição pela peça. A minissaia que foi criada em Londres nos anos 60 pela estilista Mary Quant, ofendia a sociedade que olhava com desprezo o uso de roupas curtas demais. Diante de todas essas afirmações surgem os questionamentos: Quando foi criada tal roupa? Como foi criada? Onde foi criada? Porque foi criada? Então elegemos três peças de roupa bem conhecidas do público para explicar um pouco mais a história das mesmas, são elas o jeans, o biquíni e a minissaia, peças que geraram grande repercussão e muitas críticas no momento em que foram criadas e hoje estão assimiliadas pela população e mais que presentes no cotidiano.

por Anna Thays e Michelly Brito

A minissaia criada em 1968 revolucionou a moda parisiense, as mulheres agora tinham mais liberdade de se mostrar, e fizeram isso adotando a nova peça. Entretanto a minissaia não é apenas um símbolo de revolução, mas é também ícone de uma tradição milenar na China. Os povos de Duan Qun Miao, já usavam saias muito curtas e justas ao corpo muito antes de se pensar em moda como a conhecemos hoje, mas foi Mary Quant, estilista francesa, que ousou produzir a peça para ser incorporada ao cotidiano das jovens de sua época. As minissaias que inicialmente tinham cerca de 30 centímetros e deixavam as pernas bem à mostra viraram, em bem pouco tempo, uma febre entre as jovens que se sentiam mais femininas e libertas sexualmente. Testes com bombas nucleares no Atol de Bikini, e dois audaciosos estilistas europeus nos anos de 1945. Foi o contexto necessário para a criação da peças mais usada hoje nos litorais brasileiros: O biquíni, que causou na sociedade da época um sentimento de rejeição, afinal as pessoas não estavam preparadas para uma peça tão reduzid. Vale ressaltar que o primeiro modelo de biquíni produzido era bem maior do que os usados hoje. A peça foi tão rejeitada pela sociedade que nenhuma modelo quis desfilar usando-o. Foi preciso que uma stripper, Micheline Bernardini, tivesse a ousadia necessária para vesti-la e se mostrar ao mundo em uma borda de piscina em París.

O Jeans teve sua origem das roupas de lona usada pelos mineradores norte-americanos, e que o primeiro a testar a confecção do jeans foi LéviStrauss, nos anos de 1850, nos Estados Unidos, a roupa foi um sucesso entre os trabalhadores por causa da durabilidade da peça e logo passou a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas. Com o surgimento do cinema, atores como James Dean e Marlon Brando incorporaram o conceito de juventude rebelde com o uso da peça. Na década de 1970, o estilista Calvin Klein ousou colocar pela primeira vez peças de jeans em seu desfile, e foi duramente criticado. Mas logo a peça caiu no gosto dos demais estilistas e consequentemente da sociedade, tornando-se assim uma das peças mais usadas e mais desejadas pelos consumidores tanto os antenados em moda quanto os leigos no assunto. E hoje é uma peça premium em qualquer guarda-roupa.

Contudo esse é apenas um breve relato sobre a história da moda, até porque existem muitas outras peças de roupa aqui não citadas que tem histórias igualmente interessantes.A exemplo das peças do vestuário masculino que historicamente vem sendo deixada de lado, mas que atualmente é motivo de muita pesquisa por parte dos estilistas. É preciso revolucionar a produção de moda masculina no mundo. E uma boa forma de se chegar a boas ideias é voltando os olhos para a História e buscando lá o glamour perdido da vestimenta masculina. O que poucas pessoas sabem é que em séculos passados os homens eram os maiores consumidores de moda. Era para eles e não para as mulheres que a moda era produzida. Eram eles que se exibiam com suas roupas bem costuradas. Cada um a seu gosto, mas todos bem vestidos. O mais importante é saber que moda não é só roupa, acessório e tendência. Moda é comportamento, é cultura, é renovação, é escolha, é obrigação, é reafirmação, é customização, é o que está na televisão ou no meio da multidão, enfim é modo de vida.


NA

por Diego Rodrigues, Josiane Sousa e Priscila Sousa

Parceria entre UFPI e prefeitura marca presença no PFW

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curso de moda, recém-criado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), firmou uma parceria com a prefeitura de Teresina, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SEMDEC), para desenvolver e aperfeiçoar os centros de produção comunitários apoiados pelo poder municipal. A parceria teve início em maio deste ano, sob orientação da professora Célia Santos, do curso de Moda da UFPI, a fim de planejar uma coleção que fosse apresentada no Piauí Fashion Week (PFW), trabalhando junto aos centros, com acabamento e design das roupas, pois a prefeitura já havia identificado um déficit técnico dos empreendedores. O que se buscou mostrar na coleção com a parceria UFPI – SEMDEC foi o olhar sobre a identidade teresinense, tendo como tema o misticismo e a religiosidade local. A coleção recebeu o nome de “Olhar Pitoresco ao Misticismo Teresinense”.

De acordo com a organização, a coleção buscava retratar as principais lendas da cidade, como “cabeça de cuia” e “não se pode”, assim como as tradições católicas típicas de cidades ribeirinhas como as procissões fluviais que fluem em preces de rosários, e o adro arquitetônico das igrejas antigas que remetem as ondulações das águas calmas dos rios que cercam a cidade.

Centro de Produção para comunidades carentes A terceira etapa deste projeto tem como finalidade a capacitação dos empreendedores dos centros de produção. Através de minicursos oferecidos pelos alunos do curso de moda, estes costureiros empíricos terão a oportunidade de aprender aspectos técnicos e melhorar seus produtos. A metodologia de ensino já está sendo desenvolvida e dentro de dois meses será implantada dentro da Academia. A prefeitura arcará com os custos e os estudantes terão a oportunidade de mais uma vez colocar em prática o que aprendem em sala de aula. Dessa forma, além de realizarem uma ação social, ocorre uma troca de conhecimento e o apoio a comunidades de baixa renda.

No início do projeto houve uma relutância por meio dos costureiros dos centros de produção em relação aos alunos de moda. Acreditavam que por ter muitos anos de carreira, não necessitavam de ajuda, mas com o tempo a barreira foi se quebrando e então começaram a aceitar o apoio dos jovens estilistas. De acordo com Camila Carvalho “os frutos colhidos pelos estudantes de moda foi a oportunidade que tiveram de mostrar um trabalho desenvolvido com seriedade, além de desenvolver as técnicas que eles aprendem na academia. Já os produtores aprenderam que a moda não é só copia e que eles possuem a capacidade de criar um conceito.”

O primeiro evento foi considerado um sucesso, que rendeu aos alunos do curso de Moda uma palestra do estilista Ronaldo Fraga, patrocinada pelo SEBRAE, além de convites de trabalho com planejamento de coleções em empresas do setor de vestuário da capital. A parceria continuou com a participação desses centros de produção no desfile da Semana de Moda de Teresina.

A estudante Camila Carvalho que participou das duas edições explica a importância da parceria com a prefeitura, “Este evento foi mais difícil, por que deixamos de apenas orientar e passamos a modelar, até mesmo costurar. A coleção que apresentamos tinha o tema ‘a moda assim como a construção de um local se descortina de um esboço de ideias; e, através da modelagem do concreto toma a dimensão do real que se complementa e se moderniza no tempo, em espaços ainda não tomados, em formas ascendentes e representativas do desenvolvimento de uma Teresina que amadurece. ’”. As associações e os centros de produção alcançados nesse projeto de extensão do curso de Moda da UFPI, podem utilizar-se desses espaços de desfile para divulgar seus trabalhos, feitos com seriedade e compromisso. Com a loja que ganharam no Piauí Center Moda, durante a Semana de Moda, expuseram suas peças ao público alvo do evento, os empresários e assim atingiram o êxito da coleção.


MODA As influências do cinema [não vistas] sobre o comportamento e o mercado de moda.

[Além] das Telonas

S

empre tem aquele personagem ou aquele filme que você se identifica. Ao sair do cinema, muitas vezes, pensamos: “isso bem que poderia acontecer comigo. Eu bem que queria viver aquele romance. Gostaria tanto de visitar aquele país. Amei a roupa da protagonista. Vou querer uma igual!” Pois é, o que é mostrado nas telas do cinema interfere, sim, em nossas vidas. De um simples modo de falar de um personagem ao comportamento extravagante de outro. O cinema cria moda! Em Maio desse ano, estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí realizaram uma pesquisa com cem jovens nas portas dos principais cinemas da capital, Cinemas Teresina e Cinemas Riverside, onde eles responderam, por unanimidade, que se vêem influenciados pelos filmes exibidos nas telonas. E que, também, vêem os filmes como fundamental forma de aprendizado. No momento em que se coloca o cinema como uma expressão da arte, ele passa a influenciar e a ser influenciado pelo dia-a-dia das pessoas, pois como tal, ele se firma em certas bases ideológicas, que a mídia acaba dando visibilidade ao promover o filme. Levando a história do ser retratado naquele filme para vida do cidadão, fazendo-o incorporar e se identificar com as características daquele personagem.

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A história do cinema tem nos mostrado que, de uma forma ou outra, ele vem influenciando o modo de se vestir das pessoas, ligada por uma construção ideológica que envolve o contexto histórico do momento. Por exemplo, na década de 50, com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo “New Look”, de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram utilizados para confeccionar um vestido bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias. Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de grande importância. Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela naturalidade, jovialidade e o estilo sensual e fatal. Nos cinemas, Audrey, viveu a personagem Sabrina, no filme com o mesmo nome. O filme descreve essa ascensão da moda. A cintura sempre marcada e afunilada, os vestidos até os tornozelos acompanhados pelos sapatos de salto alto. O figurino da personagem se fez indispensável ao guarda roupa feminino.

Claryanna Alves, Isabela Leite, Jamila Carvalho, Wérica Geys

Atualmente, a moda dos anos 2000 tem um ar de liberdade total. Não existe mais um “padrão” a ser seguido, mas sim, tendências que não necessariamente são extendidas à toda população, justamente por essa liberdade de modificar a roupa, como uma individualidade. Apesar de tantas releituras, os movimentos culturais igualmente marcaram a época, como o grunge (inspirado no rock de Seattle), o estilo “clean” (roupas básicas e ajustadas) e o estilo esportivo (uso de listras e inspiração nos esportes, que trouxeram para o dia-a-dia os tecidos inteligentes). O cenário da moda demonstra que as peças já não classificam alguém, e sim, etiquetas, que possibilitam status às pessoas. Esse consumismo exorbitante de marcas é a característica da personagem de Carrie (Sarah Jessica Parker), em “Sex and the City”. Uma mulher totalmente independente no âmbito financeiro, que tem a liberdade de consumir tudo que desejar, no caso da personagem: sapatos. A maior influência que o filme traz é a justificativa de se ter guarda-roupa invejado por outras mulheres, onde só se encontra grandes marcas, como: Chanel, Dolce&Gabbana, Luis Vuitton, Prada, Yves Saint Laurent. O filme retrata a mulher contemporânea, com múltiplos papéis dentro da sociedade: o papel de mãe, de dona de casa, de trabalhadora; no entanto é uma mulher muito forte, viva e independente. O traje visto como a criação de uma identidade do indivíduo ajudou a alavancar o mercado de customização de roupas. Foram criados nos últimos anos diversos sites e blogs onde são confeccionadas roupas em baixa escala ou onde o próprio consumidor cria sua estampa. E uma das principais inspirações são filmes e personagens que o consumidor se identifica. “Eu crio algumas estampas e coloco disponíveis no blog. Essas são as que mais vendem, pois tem para todos os gostos. Mas também os clientes pedem muito para criar algo para ele, ou enviam a ideia toda pronta e eu só a concretizo. Harry Potter, por exemplo, que é uma febre. A procura da camiseta do filme foi enorme quando lançaram o último filme da série. Até hoje são as camisetas mais procuradas. Harry Potter é de longe o mais consumido. Também, procuram por clássicos, como Charlie Chaplin.”, conta o artista e empresário Carlos Moura, dono do blog Cam Shirts.


O estudante de Comunicação Social, Victor Lages, é um dos adeptos das camisetas personalizadas. E assim como a grande maioria dos admiradores dessa moda, suas camisetas são inspiradas em filmes ou personagens: “Às vezes faço camisas de filmes que eu gosto, mas procuro fazer de filmes que poucas pessoas conheçam, pra que se torne algo mais original e único”.

Como se pode ver, a sétima arte influencia sim os seus seguidores, tanto em questão de moda, como no comportamento em geral, que também não deixa de ser moda. Ícones atuais como Angelina Jolie e Scarlett Johansson definem padrões de estilos, até mesmo corporais. Se nos anos 30, Clarck Gable reinou absoluto em “E o vento levou”, hoje em dia, quem dita é o descolado Johnny Depp, juntamente com o vampiro Robert Pattinson. Infelizmente, como nos conta Professora de Moda, Design e Estilismo da UFPI, Msc. Maria de Jesus, “O cinema tem mais esse poder de elitizar. É muito mais restrito. Essa elitização não influencia a massa. Então, em parte ela influencia a moda”. No entanto, já não é como nos tempos antigos, onde somente a elite poderia “consumir” o cinema. Hoje em dia, se consome o cinema tanto nas grandes marcas, como na 25 de março em São Paulo, um dos maiores pontos de referência em comércio popular do Brasil, ou mesmo em Teresina, no Shopping da Cidade. O cinema chega às classes menos abastadas, mesmo na ilegalidade. Esses comércios populares reproduzem o que é mostrado nos cinemas, mas claro, de uma forma mais acessível.

Quando questionada sobre as pessoas que baseiam seu vestuário e comportamento nos filmes, a Mestra Maria de Jesus é categórica: “Você consome imagem, você consome tudo que é material e imaterial. O cinema não é feito fora desse esquema, tem toda uma campanha da publicidade, o marketing da logística. Tem todo um arsenal que envolve essa estratégia de vender aquele produto. Esse produto é simbólico, então, nesse sentido, quando o cinema se propõe a vender, por exemplo, a imagem, ele pode inventar ou reinventar uma história”.

“Você consome imagem, você consome tudo que é material e imaterial. O cinema não é feito fora desse esquema.”


Piauiense Piauiense éé destaque destaque no no cenário cenário Brasileiro Brasileiro da da Moda Moda Martins Paulo só falta ganhar as passarelas internacionais por Jéssica Patrícia, Rafaele Ribeiro, Ranielly Veloso

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io Moda Hype - janeiro de 2012 é a próxima parada do estilista piauiense. Pela 6ª vez, Martins Paulo foi selecionado para participar de uma das maiores plataformas de moda do país que garante o lugar no Fashion Rio. Serão três meses para preparar e produzir a coleção de inverno 2012 e ele já partiu em busca da primeira fase de criação, escolha de materiais e tecidos. As cores fortes são características do seu trabalho, é fácil identificar a marca Martins Paulo, existente desde 2006. Consolidá-la é o objetivo do teresinense de apenas 25 anos. “Eu tento passar conteúdo, informações, por trás tem todo um contexto histórico e um viés artístico”.

Acima, uma das peças que compõe a coleção Verão 2012 “Por acaso”, foi assim que ele começou. Aos 16 anos fez o curso de iniciação em estilismo e design de moda pelo Senai, a partir daí descobriu a afinidade pela área. Quando fez vestibular optou por Artes Visuais, na Universidade Federal do Piauí. “É fácil conciliar arte e moda, são duas coisas que andam juntas, acho muito interessante esse envolvimento”.

A coleção apresentada no Rio Moda Hype 2011 é inspirada nas obras da artista plástica Beatriz Milhases.

Martins uniu o útil ao agradável e procurou mostrar seu trabalho através de projetos dedicados a novos estilistas, “todo estilista que está começando procura mostrar suas idéias e criações e o espaço mais democrático, a princípio, são os concursos porque estes abrem possibilidades para todo mundo”. Com essa idéia na cabeça, participou do Dragão Fashion, em Fortaleza, e já tem carteirinha do Rio Moda Hype, o mais importante celeiro de novos talentos da moda do Brasil.


OPORTUNIDADES EM COMPETIÇÕES O primeiro trabalho de destaque aconteceu no Dragão Fashion 2006, apresentando a coleção “O teatro do oprimido”, inspirada no universo da comédia e da tragédia. No ano seguinte, retornou ao evento com o nome mais forte e reconhecido nas passarelas pela ousadia. Movido pelas suas raízes levou para a passarela um trabalho inspirado no piauiense Torquato Neto e a tropicália na coleção “Alinhavando Torquato”. O Fashion Rio veio dois anos depois, em 2009, acrescentar experiências na carreira promissora do estilista e não saiu mais. “O que for feito por mim terá a minha identidade”. No Rio Moda Hype a confirmação dessa identidade em seus trabalhos: cores intensas, recortes geométricos e inspirações que vão dos poemas de Cecilia Meireles (inverno 2009) ao cinema de Almodóvar (verão 2010).

“Não sou deslumbrado com o ‘Sonho do Glamour’, quero é mostrar meu trabalho” MARTINS COLHE RESULTADOS EM ESPAÇO PARA POUCOS Este foi um ano muito cheio e produtivo, o jovem apresentou duas novas coleções no Fashion Rio. Em janeiro, mostrou a cara do inverno 2011, inspirada do musical CATS da Broadway, e em junho o Verão 2012, guiado pelas obras da artista plástica Beatriz Milhases. Para a 15ª edição do Fashion Rio ele está preparando uma coleção inverno 2012. Entre um trabalho e outro, fez viagens de pesquisa, participou da produção da Semana da Moda, esteve no Piauí Fashion Week, desenvolveu um trabalho com os joalheiros de opala de Pedro II apresentado em São Paulo no Piauí Sampa. Também esteve no The Fashion Trends e fez curadoria para o Ecomoda 2011. O Brasil conheceu mais o trabalho de Martins Paulo quando ganhou espaço na Rede Globo participando no quadro Estilista Revelação do programa Tv Xuxa. Não saiu em primeiro lugar, mas aponta pontos positivos “aproveitei ao máximo e fiz um bom network”.

O reconhecimento da arte de Martins era perceptível desde sua primeira temporada no Fashion Rio 2009, além das publicações em revistas consagradas como, Vogue, Elle, e Marie Claire. “fico feliz, porque são meios que realmente entendem de moda, pessoas que tem gabarito para falar disso”.

Como o Piauí não poderia deixar de reconhecer a contribuição do mais novo nome da moda no cenário nacional, Martins Paulo foi agraciado recentemente pelo Mérito Renascença 2011, a maior comenda outorgada pelo governo estadual, por levar o nome do Piauí em todo seu trabalho a nível nacional.

Revista Elle de junhho de 2011 traz o trabalho de Martins Paulo Entrega do Mérito Renascença

CRIATIVIDADE VEM A QUALQUER HORA A inspiração vem das coisas que fazem parte do seu universo, seja um filme ou artista que Martin goste. Viagens também despertam o processo criativo no estilista, “é sempre bom ter a oportunidade de se reciclar, ver novidades”, relembra a ida à Paris no início deste ano.

Quando questionado sobre o desenvolvimento do setor da moda no estado, ele diz que isso é uma história recente e está bem no comecinho, lembrando que a primeira turma de moda formada no Piauí não tem nem dois anos e o curso na Ufpi começou em 2009.

“Tem muita gente com idéias boas aqui, mas talvez faltem opções de como desenrolar e mostrar trabalho aqui. Tive que mostrar meu trabalho fora”. Planos para o futuro? Ele tem muitos, mas confessa que pode mudar tudo da noite para o dia. “Penso em continuar com minha formação em Artes, quero fazer pós-graduação, talvez em História da Arte”. Mas, em momento nenhum esconde que a prioridade é fortalecer o trabalho autoral que leva seu nome.

Em visita a Galeria Michal Batory


Influências das novelas, tendência e preço acessível na moda do Shopping da Cidade Aline Rocha Anne Beatrice João Victor Rolin Priscila Florêncio

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fácil perceber que as novelas contribuem na popularização da moda que é produzida nas passarelas. Os personagens de novela seguem as tendências e repassam para os telespectadores que buscam sempre estar em dia com a moda. O renomado estilista Alexandre Herchcovitch, em uma entrevista, fala sobre a influência dos figurinos da televisão sobre a maioria dos brasileiros: “O alcance das novelas é muito maior (em comparação aos desfiles). A novela é a grande revista de moda das camadas populares.”

O alcance da novela é muito maior (em comparação aos desfiles de moda). A novela é a grande revista de moda das camadas populares.

Em certos casos, o impacto de um personagem é imprevisível e torna-se inspiração para uma estação, outras vezes o personagem apenas divulga a tendência da estação. De um jeito ou de outro, a moda que advêm das grandes marcas não é acessível a toda a população. Para agregar um maior número, existem outras opções, e no Piauí uma boa opção é o Shopping da Cidade. Inicialmente, a construção do Shopping da Cidade visava apenas a alojar os vendedores ambulantes em um único lugar, para melhorar o tráfego no Centro. Atualmente, existem 1.800 boxes (divididos nos três pavimentos) em toda a extensão do Shopping, além de praça de alimentação, postos da Caixa Econômica Federal, Correios, Eletrobras, Banco 24h, Agespisa e um supermercado.


Caminhando por entre os boxes, fica clara a influência da TV nos modelos que as vendedoras colocam nos manequins para exposição. “O que está na moda, aparece na TV, nos personagens, temos que comprar, senão a gente não vende. As pessoas procuram muito por modelos que vêem nos personagens das novelas”, afirma Elisângela Soares, dona de um dos boxes no Shopping da Cidade. Além de personagens das novelas, cantores também ditam moda. Com o sucesso recente e estrondoso da cantora Paula Fernandes, o Shopping da Cidade se encheu de corseletes com estampas e modelagem parecidas com as que a cantora costuma usar. Além da importância econômica e estrutural que o Shopping da Cidade representa, a população constata a característica mais estimada: o valor dos produtos. “O preço acessível é, sem dúvida, a melhor coisa daqui, porque essas roupas ‘de marca’ eu não posso comprar. E eu tenho certeza que a maioria das pessoas vem aqui por que também não podem”, assegura Ana Célia Ribeiro Silveira, compradora do Shopping da Cidade.

Muito do que se vê na mídia de massa, pode ser encontrado no comércio popular. Abaixo, modelo semelhante ao usado pela cantora Paula Fernandes à venda no Shopping da Cidade.

Colares, saias tubinhos, estampas florais, blusas assimétricas, tudo que é tendência da estação vigente, pode ser encontrado lá. “Encontro tudo o que eu quero aqui. A minha filha queria um colar com pingente de dinossauro que a personagem da Adriana Esteves usa na novela Morde & Assopra, das 19h, depois de uma busca rápida, ela encontrou aqui e comprou”, constata Ana Célia Ribeiro, que também recorre ao Shopping.

De acordo com a escritora Marília Carneiro em seu livro ‘No Camarim das Oito’, quando entra uma novela nova no ar, seus figurinos são sempre baseados em coleções e mostruários da próxima estação, criando uma proximidade entre telespectador e as atuais tendências, atingindo até as pessoas mais leigas, já que o alcance da telenovela é surpreendente. Ao contrário dos circuitos de desfiles, a novela é exibida diariamente o que facilita a absorção dos figurinos, e a identificação com os personagens.

Dessa forma, o Shopping da Cidade, junto aos magazines, tem um papel social e cultural muito importante, já que facilitam o acesso e o consumo da moda. Como afirmou o sociólogo Zygmunt Bauman, “Nós do líquido mundo moderno buscamos, construímos e mantemos as referências comunais de nossas identidades em movimento, lutando para nos aliar a grupos igualmente móveis que procuramos, construiímos e tentamos manter vivas por um momento, mas não por muito tempo”. A importância do Shopping vai além do mercantilismo, ele constitui-se como ferramenta sociológica no que tange ao acesso facilitado à moda e às tendências, consolida e molda o significado de vestir-se na sociedade atual.

Personagens que lançaram tendências

N

ão é de hoje que as roupas e acessórios dos personagens das novelas fazem sucesso. Muitos personagens ditaram moda e serviram de inspiração para as pessoas, tanto no modo de se vestir como na maneira de falar. Algumas personagens são lembradas até hoje. Quem não se lembra do visual over, cheio de exageros, brilhos e adereços enormes e laçarotes no cabelo, inspirados no estilo Madonna, de Viúva Porcina personagem de Regina Duarte na novela Roque Santeiro (1985). A personagem Julia Mattos (Sônia Braga) popularizou nos anos 1970, as meias Lúrex com sapato de salto alto. Em 1994, A personagem Babalu (Letícia Spiller)

da novela Quatro por Quatro inspirou milhares de adolescentes com suas mini blusas tipo bustiê, minissaia jeans e sandália plataforma. A Jade da novela O Clone levou milhares de mulheres a pintar os olhoes e a comprarem anéis-pulseiras de todos os estilos. Os lenços de pescoço da personagem Laura da novela Celebridade (2003). A Bebel (Camila Pitanga) com seus brincos grandes, estampas de tigre e, recentemente, a personagem de Débora Secco, Natalie Lamour da novela Insensato Coração (2011), com vestidos ajustados e estampas de animais, e o colar com pingente de dinossauro usado pela personagem de Adriana Esteves na novela Morde e Assopra (2011).


M DA

SUSTENTÁVEL É POSSÍVEL?

A

por Dariana Ribeiro, Luciana Rodrigues, Thays Fernanda

mídia brasileira e mundial vem abordando , constantemente, temas relacionados ao meio ambiente. Tal insistência temática tem feito com que muitas pessoas voltem à atenção para as causas ambientais, assim como a diminuição dos problemas quem causam danos ao planeta. Sabendo que pensamentos ecológicos passaram a compor o cotidiano de muitas famílias, as indústrias , de um modo geral, têm investido em materiais menos poluentes a fim de conquistar consumidores mais engajados com a causa ambiental.

Pensar sobre a questão ecológica e na melhor utilização dos recursos naturais no desenvolvimento de qualquer produto é importante, bem como pertinente. Mas somente pensar não basta para que uma empresa seja reconhecida por esse diferencial. Hoje, a sustentabilidade vai muito além da simples racionalização dos recursos naturais, ela preconiza um desenvolvimento economicamente viável, socialmente equilibrado e que agregue valores éticos e culturais àquele produto, evitando assim o reducionismo do passado - que atrelava a sustentabilidade apenas ao aspecto ambiental.

Embora muitas empresas e áreas de produção tenham focado na sustentabilidade, o termo ,assim como vem sendo usado, é novo e surgiu com a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, pela ONU, em 1980. Com essa onda verde, surgia então, a expressão “Desenvolvimento sustentável”, que se refere às formas como as atuais gerações devem satisfazer as suas necessidades no presente sem, no entanto, comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades.

Vale frisar que as ações sociais são a essencia do conceito de sustentabilidade. No momento em que uma empresa oferece meios para que uma comunidade possa apresentar produtos ao mercado consumidor, ela faz mais do que aliar-se a pequenos produtores. Essa ligação potencializa o trabalho de quem antes produzia pouco por não saber a quem vender. Tal união faz com que a empresa também saia ganhando. Ter o rótulo de empresa amiga do meio ambiente ou ajudante de pequenos produtores agrega valor ao nome da empresa.


FIBRA DE ALGODÃO:

Produção de tecidos ecológicos A indústria da moda que polui bastante por incentivar o consumo de produtos lançados a cada coleção, também tem se preocupado com um consumo mais consciente. Não podendo perder o auge das causas ambientais tem lançado coleções feitas com algodão colorido e roupas com fibras feitas a partir de garrafas PET recicladas. Nesse contexto, o desenvolvimento da indústria dos tecidos sustentáveis vem se amplaindo, sendo o algodão colorido o grande precursor. Não é possível citar com exatidão quando surgiram os primeiros tecidos de algodão, mas se sabe que por volta de 3.000 a.C., no continente asiático, já se usavam tecidos com essa fibra. Atualmente, o algodão entra no mundo da eco-moda e ganha destaque em lojas de todo o mundo.

O tecidos feito de elementos orgânicos é resultado de muitas pesquisas da indústria têxtil, mas só recentemente se tornou viável fazer roupas que aliassem o consumo sustentável ao design, à tecnologia e à ecologia. A fibra natural, para garantir a qualidade, requer cuidados especiais no cultivo, na criação e na extração, além de ser um produto sazonal e sofrer com as condições do clima. 0 algodão colorido, cujas fibras se apresentam nas cores marrom, verde, safira e rubi, e caracterizado por ser antialérgico, com boa absorção e resistentea à lavagem, dentre outras vantagens que contribuem para sua utilização na confecção de peças para cama, mesa, banho, limpeza, decoração, capas para móveis, além de vestuários como camisaria, roupa íntima e jeans.

Comercialização Em Teresina, a Fio e Flor, há apenas dois meses, vem apostando na venda de produtos produzidos a partir do algodão colorido. Camisetas e roupas infantis que não passaram por um processo de tingimento e , portanto , deixaram de poluir rios e lagos com resíduos do processo de coloração . As peças são confeccionadas na Paraíba em 100 % algodão e carregam uma etiqueta exaltando a preocupação com o meio ambiente. A ideia da loja surgiu depois da feitura do documentário Tecelagem e Cerâmica em Pedro II. Encantados com o trabalho das artesãs da região, resolveu-se criar a Fio e flor. Embora a loja venda produtos a partir do algodão colorido, as peças confeccionadas em teares manuais são a identificação do espaço. As peças vendidas na loja apresentam muito mais do que beleza. Trazem na sua etiqueta informações sobre a origem artesanal do produto e o compromisso com a sustentabilidade. Afinal, tudo o que está à venda é feito por pessoas pertencentes a pequenas comunidades que antes produziam artesanato, mas não tinham um mercado consumidor certo. Depois da parceria entre loja e artesãs, todos saíram ganhando.

Consumir produtos naturais é valorizar a qualidade de vida. Isso é compromisso com o meio ambiente e sua sustentabilidade.

Jogos-americanos, case para notebooks, bolsas e artigos para casa, cama, mesa e banho, são confeccionados seguindo o pensamento de valorização do artesanato do Estado. Uma peça produzida dessa forma engrandece a agricultura familiar e enaltece o artesanato local ressalta Jesus Rufino,uma das proprietárias da loja. Contraditoriamente, embora essa relação de consciência ecológica, consumo e moda venha fazendo sucesso, não é tão fácil assim comercializar peças que carregam essa preocupação. Para Jesus Rufino, muitas pessoas veem de forma desconfiada algo feito artesanalmente. Por conta de uma análise ,inicialmente preconceituosa , pensam se tratar de produtos com qualidade inferior. Para outras, o preço é um empecilho para a compra. Muita gente gosta do que vê, mas não quer pagar o que é cobrado. Um produto fabricado de forma artesanal traz em si um valor de preservação de toda uma comunidade de artesões produtores e , por ser confeccionado de forma caseira, não pode ter o mesmo preço de outro comercializado fora desse contexto.

Mesmo com algumas dificuldades iniciais, a loja tem conquistado os clientes. Alguns compram porque abraçam a causa da sustentabilidade. Perguntam sobre a origem dos produtos e o modo com foram confeccionados. Outros compram apenas pela beleza das peças. De fato, vender é a preocupação de todo lojista, mas o que sentimos quando visitamos o local pela primeira vez , e sem nos identificarmos, foi um empenho na divulgação daquilo que a loja acredita e vende. Íamos sendo apresentadas aos produtos e suas origens. Não sairíamos de lá sem saber pelo menos isso. O trabalho desenvolvido pela Fio e Flor é sério e traz valores agregados. O que nem sempre ocorre com todos que exaltam a preocupação com o planeta. A moda , seja ela aplicada a produtos artesanais ou não, tem utilizado toda essa mídia e vem exaltando essa parceria como possível e lucrativa. No entanto, até quando o mundo do glamour, do consumismo e da renovação constante vai ostentar a bandeira verde da sustentabilidade? Só o tempo dirá se essa será mais uma ideia a ser reciclada pelo mundo fashion.


Cravo

Carlienne Carpaso Diego Barlo Frank Feitosa Thalita Castelo Branco

O

C an e l a

O design de jóias produzido pela Cravo & Canela referencia a moda, com criatividade e sustentabilidade

setor de jóias apresentou crescimento de 35% nos últimos cinco anos no Brasil, e isso acontece agregado às inovações proporcionadas pela criatividade dos designers, que buscam novos materiais e processos para a execução de jóias e acessórios, além de inspirações que se diferenciem no mercado. Esse setor é responsável por empregar mais de 400 mil pessoas em todo o país, tendo faturamento anual de aproximadamente 1,3 bilhão de dólares. No Piauí, uma das matérias-primas mais conhecidas para criação de joias é a opala, encontrada na cidade de Pedro II, a 220 km da capital, Teresina. Segundo a Associação de Joalheiros e Lapidários de Pedro II (AJOPI), o setor movimenta cerca de R$ 2,5 milhões por ano no Estado, com previsão de crescimento de 40 % nas vendas de joias regionais com a proximidade da Copa do Mundo de 2014.

E foi Aliando sustentabilidade ao design de joias que, há oito anos, a marca Cravo& Canela, idealizada por Lene Pires e Márcia Andrade, produz peças com criatividade, o nome da marca representa a união do delicado e rústico Cravo junto à força da Canela, fazendo assim o elo entre a delicadeza das jóias com o comercial do mercado.

As matérias experimentais, como fibras e pedras naturais, sementes, couro de peixe etc. agrupadas, ou não, aos metais preciosos juntam-se as inovações proporcionadas pela criatividade dos designers que atuam como agentes transformadores no uso das matérias-primas e nos processos para a execução de jóias e acessórios, além de unir o estilo com a sustentabilidade promovendo a proteção ao meio ambiente. Sendo assim, a consciência ambiental alia-se aos moldes de produção das joias e promovem uma moda com sustentabilidade.

Para Márcia, as peças da Cravo & Canela aliam conforto e design diferenciado para que gere bem-estar em seus/suas clientes, pois a marca busca trabalhar não só com a matéria física, mas também com psicológico das pessoas. “Não é só produto; é o belo, é o saudável, é o design, é a sustentabilidade! Nós fazemos e refazemos uma peça até ela sair legal, enquanto não achamos vamos exploramos o máximo as potencialidadese regionais, e tudo que podemos extrair dela, colocando em cada peça nossa identidade”, afirma Lene.

As designers trabalham com o reaproveitamento e a reciclagem de metais, fibras naturais, couro de peixe, coco, alumínio reciclado, opala, entre outros. Contribuindo assim, para o desenvolvimento sustentável que aplicado nas suas produções reflete o diferencial no mercado local e nacional. “Ser design e sustentável em Teresina não é desafiador, é necessário. Teresina precisa de inovação, de diferenciação. Temos um público exigente sim, e quem pensa o contrário, se engana”, afirmam as empresárias.

Ser design e sustentável em Teresina não é desafiador, é necessário. Teresina precisa de inovação, de diferenciação. Temos um público exigente sim, e quem pensa o contrário, se engana


O Piauí no design de jóias

Cravo & Canela pelo Brasil

A cultura piauiense é retratada nas peças produzidas pela Cravo e Canela; sendo uma identidade da marca valorizar o Piauí, traduzindo suas belezas em inspirações. A exemplo, da Serra da Capivara que influenciou peças recém lançadas; as idéias na criação das mesmas se voltou para as figuras clássicas representativas do local, dentre elas as pinturas rupestres da Capivara e a Cena do Beijo.

Sempre em busca de renovar e firmar parcerias, A Cravo e Canela já se associou a renomados artistas, como exemplo, o estilista brasileiro Jum Nakao, que pediu as designers, a criação de um pingente de opala ao formato do mapa do Brasil, incluindo as divisórias entre os estados. Outra parceria foi com o estilista piauiense Martins Paulo que organizou um desfile agregando a sua produção com os acessórios da Cravo & Canela. Atualmente, a marca participa do Projeto “Moda Piauí”, em fase inicial, com o estilista Ronaldo Fraga, considerado como um dos nomes mais importantes no processo de construção da identidade da Moda e Cultura Brasileira e representante do Colegiado de Moda no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), biênio 2010/2011.

O(a) designer deve sempre dar um significado especial aos sinais e aos códigos linguísticos do cotidiano. É preciso traduzir todo o simbolismo do dia-a-dia para que possam surgir ideias que fomente a criatividade no processo de composição e conceito das peças. As designers contam que em viagem a Brasília, observaram o cotidiano da cidade e gostaram das paradas de ônibus em formato circular. A partir dessa imagem, elas criaram um anel que foi moldado a partir daquele singular lugar, ganhando o gosto dos seus clientes.

Coleção Amarras

Peça confeccionada em fibra de buriti com delicadas e pequenas amarras pontuadas ao longo da peça com detalhe retangular em prata e opala presa em fios naturais. Composições com inspiração na arte nordestina de tecer utensílios e adornos utilizando como matéria prima, fibras naturais a exemplo do buriti, nas confecções de jóias artesanais rústicas e contemporâneas em prata e opala.

Ser design envolve mais do que conhecer técnicas de manuseio e produção das peças que podem ser feitas. Envolve um estudo do cotidiano, uma percepção treinada para analisar os detalhes e nuances da cultura que se estrutura diante do próprio designer. Tudo isso com o intuito de entender suas influências,

Coleção Rendá

Anel em prata com detalhes vazados e assimétricos cravados de pedra brasileira olho-de-tigre em forma de rosa. A coleção inspira-se no trabalho minucioso realizado pelas rendeiras do ‘’Morro da Mariana’’ que dominam a arte de tecer delicadas rendas de bilros, arte que passa de mãe para filha e que há décadas vêm fazendo parte da cultura nordestina.

o cotidiano de sua cultura e valorizar, dando novos olhares aos detalhes, além de manter atualizada sua fonte de inspiração, crucial para a produção de peças que carreguem valores que encantem aos olhos dos que vêem essas expressividades tornando-se materiais, e peças com design inovador, diferenciado e único.


Eu trabalho para a obra existir

►A década de 70 é um marco para a cultura do Piauí, na imprensa jornais contraculturais explodiam, Teresina passava por uma efervescência cultural ímpar em sua história. As manifestações culturais, que até então estavam cercadas pelos muros dos grandes casarões, começavam a ganhar um público maior e a cultura europeizada dava lugar aos traços locais.

E

por Daiane Bezerra - Mayara Araújo Vinícius Ferreira - Willame Lucas

m 1973, o curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Piauí é formado e a contracultura sai do universo marginal para chocar a cultura dita erudita, exposições realizadas por Hostyano Machado como, por exemplo, a do Museu do Piauí, repleto de modelos nus, deram início a um novo fazer artístico.

Hostyano Machado é sem dúvida o artista mais completo do nosso estado, seu trabalhos, que utilizam os mais variados materiais, da tinta ao ferro bruto, combinados à diversas técnicas, como a pintura, cerâmica, escultura, modelagem, e design, são provas vivas que explicam seu reconhecimento como tal. Além de incorporar em suas obras a sua assinatura, Hostyano trouxe para o artista piauiense a pesquisa e a técnica que possibilitaram o experimentalismo que influenciou toda uma geração de artistas, como a paranaense Elda Ferreira Ribeiro, filha de um piauiense com uma descendente de alemães, que desde menina vinha passar as férias em Teresina e aqui descobriu a pintura. Elda incorpora em suas telas a realidade nordestina, mas buscando um discurso estético que consiga alcançar a alma de outras pessoas, já que para a artista a arte captura a porção mais íntima do ser humano sem ser invasiva. E a artista consegue com primazia atingir seu objetivo.

“O grito de dor” foi escolhido pela Unicef, símbolo da campanha contra o abuso infantil.

Seu trabalho mais recente, composto por 4 quadros, com rostos em close representando a oração, o bom humor, a dor e a morte quando expostas atraíam a atenção de diferentes espectadores, as obras tem o poder de despertar uma emoção que por vezes estava adormecida. Pode se destacar o figurativo repleto de personagens femininas como um dos pontos em comum que entrelaçam os artistas, que através dos elementos e um olhar sobre o local, acabaram por ganhar a atenção do mundo: Hostyano tem obras expostas na Alemanha, França e Itália [e, infelismente, é mais reconhecido fora do que em sua terra natal]. Enquanto Elda, anualmente participa do Circuito Internacional de Arte Brasileira College Arte.

Alheios aos proselitismos dos estilos que caracterizam o transcorrer de sua época ativa, ambos trafegam pela arte carregando apenas a bandeira da livre expressão – não enquadram e não se enquadram por razões que não sejam o prazer do dialogo estético fundamentado na essencial liberdade expressiva que, acreditam seja de fato a única bandeira da arte, “ Ao artista a liberdade da escolha pelo estilo que melhor lhe preencha a necessidade e o senso expressivo” como define Elda Ribeiro ao ser questionada sobre a inadequação histórica da retórica de superfície, proclamada como ultrapassada diante dos apelos e aparatos intelectuais da era conceitual que hoje rege a expressão artística e brincou com uma definição do artista Brian O’Doherty – “O espaço é hoje apenas um lugar onde as coisas acontecem; as coisas fazem o espaço existir. E qualquer artista tem o direito de configurá-lo a partir do objeto gerador que lhe convier..” Hostyano é um artista libertário por opção, trafega pelos estilos figurativos e não figurativos tendo como guia o prazer da composição, da construção e da livre criação, sua inspiração esta onde sua curiosidade e necessidade estética o mandarem, uma cor que surge, uma mudança de ponto de vista, uma bela mulher, os apelos estéticos da fé, um diálogo com os grandes mestres do passado ou a simples vontade de pintar ditada pelo agora. Hostyano é fluxo que mantém em si a verve filosófica dos modernos aliada a sagacidade transgressora dos primeiros conceituais. O espaço

que ocupa na arte piauiense deriva da conquista de um espaço interior, fruto de uma consciência plena das vantagens de suas escolhas como artista, conduzidas pela mistura das emoções mais simples do ser humano, a sensualidade, a ironia , a performance, a transcendência, o mito e o comercio; articuladas em suas obras com simplicidade, transparência, liberdade estilística, técnica e de constante diálogo com a beleza. Esta ultima claramente demonstrada em sua estreita ligação com a moda – sobre a qual comentou, “ arte também é moda” . Tudo isto combinado com muita leveza, tranqüilidade e isenção de culpa ou desculpa. O oposto da sua contemporânea, cuja densidade expressiva denota um mergulho angustiado ao cerne das emoções e experiências conflituosas de cada ser. Suas cores vibrantes e enquadramentos em zoom conferem a sua obra um ar de dramaticidade mesmo na mais cotidiana ação. E cujas definições de liberdade e expressão seguem por pressupostos radicais e bem definidos de qualidade estética e ideológica, gerando um olhar mais crítico e psicologicamente engajado que remete a tensão primordial das suas escolhas estéticas.


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