Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 03
04 | Junho 2015 | Av. IndependĂŞncia
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 05
06 | Junho 2015 | Av. IndependĂŞncia
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 07
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 09
Naquela quarta não chove.
10 | Junho 2015 | Av. Independência
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 11
Maquinário para a
alquimia “A necessidade aguça o engenho”. Dos ditos populares vêm as mais diferentes histórias, tão inusitadas quanto as voltas do tempo. Do trecho acima podemos extrair uma lição que se aplica ao trabalho quase vocacional de quem faz a máquina funcionar, permitindo que a mágica da música aconteça.
Por Pedro Henrique Rezende
No tortuoso caminho do fazer musical existe uma luz (vermelhinha) no fim do túnel, geralmente acompanhada pela sigla REC. Ora, se fazer música pressupõe que alguém eventualmente escutará o som produzido, quando esse som é gravado ele atinge um número muito maior de ouvintes em potencial. Entretanto, entrar num estúdio de gravação era utopia para bandas independentes tempos atrás. Era tudo mais complicado, das horas extras de gravação que custavam caro às fitas desgastadas após manipulação excessiva. A tecnologia avançou e as gravações se tornaram uma realidade mais palpável. Hoje pipocam home studios, com instalações mais modestas, que atendem a um público com menor poder de investimento. Contudo, a tecnologia trouxe consigo variáveis um tanto mais complexas. Vivemos a era do download grátis, do streaming, do financiamento coletivo e de tantas outras práticas inovadoras que interferem diretamente na indústria fonográfica. Para dar conta de tanto assunto na discussão quase infindável que representa o cenário da música, nós convocamos reforços. Trocamos figurinhas com o alquimista Wesley Carvalho e com o homem das máquinas João Cordeiro. O álbum completo vem a seguir.
cursos de música, fazer a produção, gravar bandas [...] tudo ligado a essa questão da música, são várias pequenas engrenagens que fazem com que a máquina toda rode. Daí veio essa ideia do Maquinaria.” E certamente pode-se dizer que a ideia do Maquinaria deu certo. Tanto no incentivo a novos músicos, oferecendo serviços num formato mais acessível, como no estímulo à concorrência, incentivando indiretamente a criação de outros estúdios de gravação na cidade. E como o espaço requer uma logística menor, ganha-se o trunfo de não ter a necessidade de lotar uma casa com capacidade para um sem número de pessoas, o que facilita de certa forma a organização de eventos e possibilita que o estúdio traga ações inovadoras, criativas e efetivas no cenário local, como são, por exemplo, os ensaios abertos. Esse exemplo de evento é primordial para entender a tônica de todo o trabalho feito por lá. O estúdio Maquinaria, ao promover ensaios abertos a um público menor (apenas em quantidade), contribui na frente de batalha da música autoral. E não é nada difícil perceber essa predileção: cinco minutos de conversa com qualquer um dos colaboradores do local são suficientes para perceber a admiração e a seriedade com a qual a música própria é tratada por lá. Tanto que, (NÃO) PAREM AS MÁQUINAS! quando perguntado sobre o fato de acreditar no autoral, a resposta de João é a mais Um baterista que queria um lugar pra endireta possível: “Se eu não acreditasse não saiar resolveu montar um estúdio para chaestaria aqui”. mar de casa. João Cordeiro (31), sua esposa e seu cunhado uniram anseios e criaram um OS ALQUIMISTAS ESTÃO espaço único na cidade. Um estúdio bar, CHEGANDO todo montado com a finalidade de acompanhar os mais diversos estágios de produção: Um grupo desistiu de fazer um disco e reo músico marca seus ensaios, faz a pré-pro- solveu comprar uma Tascam de quatro cadução de seu álbum, grava seu extended play nais de gravação. A Eminência Parda, banda (EP) e ainda tem a possibilidade de lançá-lo juiz-forana que ingressou no cenário nos num ensaio aberto ao público. Tudo isso vem anos 1990, acabou por decidir o futuro de no “pacote” e segundo João a ideia era essa um de seus integrantes na compra de um desde o princípio. “Com essa ideia de ser um equipamento. A partir do momento em que bar, de ser um estúdio de ensaio e promover adquiriram a simbólica mesa de gravação, Av. Independência | Junho 2015 | 13
passaram a realizar pequenos trabalhos e fomentaram em Wesley Carvalho uma veia além da de instrumentista: a de produtor musical. O então guitarrista foi gradativamente adquirindo equipamentos até o ponto em que da banda só havia mesmo a Tascam. Associado a outro integrante da banda no estúdio Alquimia, Wesley embarcou em carreira solo, teve o projeto de seu disco contemplado pela lei Murilo Mendes e optou por gravá-lo no próprio estúdio. Saindo da informalidade da compra esporádica de equipamentos razoáveis, ele afirma que hoje não tem nem coragem de assinar publicações sobre o tema devido ao tanto que investiu em equipamentos para o estúdio. Hoje o Alquimia situa-se no complexo da casa de shows Cultural Bar (empreendimento no qual também é sócio), conta com duas salas de gravação e com a possibilidade de registro das apresentações feitas na própria casa. A visão de Wesley acerca do fazer musical na cidade é ampla e embasada por conta das suas diversas ocupações. Enquanto produtor musical, músico e ainda com a função de gerenciar uma casa de shows referência na região, ele tenta extrair dessa matriz de funções (que são por muitas vezes conflitantes), novas maneiras de pensar a música em Juiz de Fora. Uma das práticas que encontrou para gerar visibilidade para novos artistas da cidade, o Projeto Sangue Novo, é a “menina dos olhos” do músico atualmente. “O projeto do Sangue Novo é isso. Cê quer tocar? Você é uma banda nova, então eu vou te dar o caminho das pedras, você vai me dizer o que você toca, e a gente vai junto tentar achar uma melhor forma de fazer isso pra você poder tocar dentro do Cultural”. Nesse “meio-de-campo” entre a necessidade de trazer atrações que deem retorno financeiro e a vontade de incentivar as novas gerações de músicos, nota-se a influência da visibilidade dada por uma grande casa de shows na carreira daqueles que estão começando. 14 | Junho 2015 | Av. Independência
QUANDO O MAQUINÁRIO E A ALQUIMIA SE JUNTAM Em meio às diferenças evidentes entre nossos dois personagens, dois agentes locais da música, ideais que podem parecer opostos mostram-se surpreendentemente próximos. Gerenciar espaços de proporções diferentes não faz com que pessoas com o mesmo intuito pensem distintamente. E é notável perceber o quanto a causa se sobrepõe à forma, aos recursos e às limitações. Acerca das complexidades que permeiam o cenário existem alguns consensos. A cidade é contemplada por uma lei de incentivo que proporciona uma produção bastante abrangente e diversificada, porém existem dificuldades para o escoamento dessa produção. O espaço universitário, antes primordial para difundir a música de forma inegavelmente autêntica e encantadoramente espontânea, hoje representa um lapso, uma lacuna, uma carência desde que as festas e os eventos musicais vêm sofrendo entraves burocráticos. O músico contemporâneo, não por opção, deve ser seu próprio produtor e saber utilizar as diferentes ferramentas que pipocam das telas de computadores e smartphones. Porém, a mais patente das constatações é o fato de que existe público para a música autoral na cidade. Falta atingir esse público. Nesse quesito ficamos com os prognósticos esperançosos de ambas as partes. De João, ficamos com o brilho nos olhos, o romantismo ao tratar do autoral e a promessa de permanecer como combatente nessa frente de batalha. De Wesley, ficamos com o compromisso de injetar sangue novo no cenário musical local, com a trajetória desde a icônica Tascam até o estúdio – com a vontade de passar uma bela tarde de domingo numa bela casa de shows ouvindo a cidade.
Por Isabella Gonçalves
RODA DE GENTE
Formavam uma roda sem simetria ou lei. Atrás, alguns tocavam pandeiros, tambores e cavaquinhos. A música era improvisada, cantoria exprimida em notas que logo viravam vibração e liberdade. Não tardava e alguns se aventuravam, entravam e dançavam. O ar histórico e as casas já idosas dali davam ainda mais poesia ao pequeno evento. Perto, um grupo tomava cerveja, ria e conversava. Ninguém censurava ninguém. Nem notavam erros. Só viviam. Aquilo ali era saber viver. Depois de três músicas, um rapaz entrou na roda com uma moça. Ele a lançava para cima e pulava. Ela parecia dançar ballet. Vestia saia por cima de uma calça legging, estava descalça e usava uma blusa azul apertada. Seus cabelos eram curtos e voavam ao vento, indomesticados pelo arco vermelho. Quem olhasse, não saberia se eram namorados. Imaginariam. Mas não importava muito. O espetáculo estava na cena. Carros passavam lentos, assistindo, quase batendo. Pedestres caminhavam, paravam e andavam, olhando para trás vez ou outra, ainda curiosos com o que acontecia. Não importava quais problemas existissem. Esqueciam ali. E só. Mais tarde, se lembrariam. Ou os adiariam – quem sabe? – ainda comovidos com toda aquela energia boa de um grupo que só fazia o bem. Um menino desses raquíticos, de rua, chegou para dançar. A mãe que o olhava de longe ficou um pouco envergonhada, porque não queria interromper a arte. Pediu que a desculpassem, não tinha visto o garoto indo... Ele era meio impulsivo. O pobre foi censurado pelos braços da mãe, que o puxaram de volta, o aprisionavam em um abraço sem qualquer afeto. O dançarino, vendo aquela situação, só riu. Disse que não fazia mal algum. Pelo contrário. Ajudava a roda. Puxou o menino que, assustado, entrou no meio do casal sem saber ao certo o que fazer. A garota pegou em seus bracinhos para que ele se soltasse e, depois de alguns poucos segundos, não se fazia necessária qualquer intervenção. Ele entrou na dança. E aí se esqueceu da fome. Esqueceu-se que apanhava do pai à noite. Da escola que não frequentava. Esqueceu-se de tudo. Sorriu sincero. Riu demais mesmo. Foi feliz. Naquele espetáculo, o milagre vinha e ficava. Dançou muito. Ele ali, no meio do casal, que ninguém sabia se era de namorados. Nem importava. No final, o garoto, com o jeito inocente de toda criança, perguntou se namoravam. A moça riu, e o rosto do rapaz ficou vermelho. Não responderam. Nem precisavam.
Av. Independência | Junho 2015 | 15
A
i e L
e
as
l
s i e
e d
J
z i u
e d
a r o
F
Em debate promovido pela Av. IndependĂŞncia, mĂşsicos de Juiz de Fora discutiram a Lei Murilo Mendes e a cena da mĂşsica autoral da cidade
O
trânsito do horário do rush parecia não incomodar aqueles que estavam dentro da Livraria Liberdade, naquela quinta-feira, 28 de maio. O que se discutia ali tinha um peso muito maior: a Lei Murilo Mendes. O debate foi uma ação idealizada pela Av. Independência e tinha o intuito de entender quais eram as aflições da classe musical autoral independente juiz-forana em relação à Lei que existe há 20 anos. Os convidados e participantes do debate travaram discussões significativas sobre os rumos que a música autoral independente tem percorrido na cidade e sobre os desafios existentes para a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), responsável pela Lei. O texto abaixo tentou ser o mais fiel possível ao que foi o debate, acrescido de minhas impressões sobre tudo que foi discutido. É importante pontuar que, acima de uma definição de certo ou errado, o que se pretende aqui é colaborar para o fomento de uma reflexão sobre a Murilo Mendes e de que forma os pontos levantados podem ser compreendidos pela classe artística, Estado e sociedade. Por último, mas não menos importante, gostaria de manifestar meu imenso apreço pela classe, não só pelo talento, mas pelo conhecimento adquirido durante pouco mais de duas horas de discussões. Duas horas, sem dúvida, muito proveitosas. Muito obrigado!
Por Danilo Terra 18 | Junho 2015 | Av. Independência
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 19
Os Desafios da Lei Murilo Mendes Confesso que sabia bem pouco sobre a Lei. Foram necessários dias de estudo, reflexão e conversa com músicos e com os responsáveis pela Murilo Mendes para que pudesse tomar dimensão do tamanho da discussão que promovíamos. Prova disso era o meu nervosismo, aparente no início do debate. Ao meu lado, participando da roda, estavam Fernanda Amaral, secretária da Lei, Edson Leão, jornalista e músico da cidade e Marcelo Castro, músico também juiz-forano e integrante da banda Silva Soul. Porém, logo os convidados dividiram os microfones com outros presentes naquele espaço, tão aptos para discutir a questão quanto. Para começo de conversa, questionei os desafios de uma Lei de Incentivo em uma cidade tão efervescente na produção cultural quanto Juiz de Fora. Um a um, os convidados foram se apresentando, tomando posse de um discurso que partia de uma impressão de quase todos aqueles com quem conversei: a Lei não é entendida em seu propósito. Seja pelos proponentes, pela população ou qualquer agente que se relacione com ela. Edson foi feliz quando pontuou que “o principal desafio é que se depositam quase todas as expectativas da dinâmica cultural da cidade em cima da Lei Murilo Mendes. O que a gente precisa é fazer com que a Lei não seja o limite final da discussão sobre a produção cultural em Juiz de Fora. A Lei tem seus limites”. Fato. O que se propõe com a Lei é fomentar a 20 | Junho 2015 | Av. Independência
produção cultural na cidade. O que se exige para além disso é um desafio a ser superado pela Funalfa. Avançando na discussão, Fernanda destacou que a descentralização da Lei é necessária, visto que “ainda é muito pouco abrangente diante da demanda de Juiz de Fora. A população precisa conhecer a Lei e usufruir do que a Lei possui”. De fato, quem mora em Juiz de Fora já ouviu falar sobre, mas sabe bem pouco o que ela representa. Mais do que um projeto de financiamento, a Murilo Mendes permite a viabilização direta, sem intervenções por parte de empresários ou captação de recursos, de projetos nas mais diversas áreas da arte. Como afirmou Marcelo, “as principais leis do país, como a Roaunet, são leis de incentivo fiscal. É necessário captar essa grana por meses para você ser realmente financiado por aquele edital”.
A centralização da Lei Descentralizar e facilitar o acesso à Lei. Uma necessidade para fazer de um instrumento governamental de fato democrático. Uma das críticas é a mesmice nos projetos aprovados e, como Fernanda mesma pontuou, é “uma questão de estar no mesmo lugar, no meio das mesmas pessoas, do mesmo nicho artístico”. “E a quem cabe o papel de descentralizar?”, indagou Thiago Lopes, um dos músicos presentes. A reflexão me tocou profundamente, desde que a ouvi. Em conversa com Roger Resende, músico que já teve projetos aprovados na Lei e que fez parte da Comissão Municipal de Incentivo à Cultura (Comic), foi relatado que não se veem muitos projetos da periferia da cidade sendo agraciados, talvez nem inscritos na Lei.
Isso trouxe a curiosidade de entender os limites desse instrumento no sentido de chegar até as pessoas. Antes do debate, indaguei Fernanda Amaral, a secretária da Lei, a respeito da afirmação. Foi levantada a questão da formação [no sentido de acesso à informação, através da educação]. Durante o debate, o mesmo ponto surgiu. Fernanda declarou que “a Lei já teve um viés mais elitista. Hoje, certamente, ela está mais aberta. Mas o brasileiro ainda tem um bloqueio, as pessoas ainda não têm consciência dos canais de participação que elas têm direito, muito parte do processo de formação do brasileiro”. Talvez a pontuação de Fernanda justificasse a escassez de projetos de bairros mais afastados do centro. Mas ainda faltava uma outra questão importante. “Cabe ao poder público divulgar, criar mecanismos e oferecer capacitações. Ainda acho que cabe às diferentes coletividades da classe artística, se reunir por ‘n’ afinidades e fazer esse trabalho de capacitação”, propôs Edson. No final de sua fala, ele citou a falta de articulação por parte dos músicos. Marcelo reiterou esse discurso, falando da criação do Conselho Municipal de Cultura (Concult) e de como poucas pessoas participam das deliberações que acontecem nas reuniões do Conselho. Para ele, “o porquê a classe não se une é difícil responder. Os conselheiros simbolicamente representam a classe. Eu digo simbolicamente, porque pouca gente vai votar. Acho que a pergunta é mais o contrário. Por que os músicos se interessariam nisso? A classe é muito desigual, desnivelada”. De fato, sem mobilização em prol de objetivos comuns, pouco se avança em termos de mudanças significativas.
A cena musical de Juiz de Fora Foi neste momento que o debate tomou um outro rumo. Legítimo e incontestável. Percebi que a realidade diante dos meus olhos era diferente da que imaginei quando pautei a Lei Murilo Mendes. Falta uma cena, seu fomento, e um trabalho efetivo voltado para a mesma. Álvaro Rosa, músico e compositor juiz-forano, foi direto: “nossa cidade sempre careceu de uma cena. Mesmo a Lei, ainda que quisesse, não teria como suprir a cena, porque a Murilo Mendes é para fomentar a produção cultural. Os meios de produção estão mais acessíveis, o que significa que a produção cultural vai subir em ‘pg’ [progressão geométrica]. Vivemos uma inversão de valores. Mas o que é que custa você abrir o Tributo aos Los Hermanos com um disco do Silva Soul?”, perguntou. E, de fato, o que custa? Vivemos tempos em que as casas de shows da cidade são movimentadas por tributos (longe de mim criticá-los, gosto muito inclusive). Mas por que não abrir espaços continuados, e não pontuais, para a música autoral independente? Não nos faltam nem produtores, nem consumidores. Falta-nos, talvez, interesse em investir. E foi assim, sem querer querendo, que chegamos a uma realidade para os músicos independentes na atualidade. “Tem uma hora que você tem que entender: não vão fazer nada por você. Não espere do poder público, muito menos do mercado”, afirmou enfaticamente Edson Leão. O mercado, com sua dinâmica própria, exige mais de cada um daqueles que decidem viver de música. E, muitas vezes, impossibilita a exclusividade. Marcelo destacou a importância de a classe acompanhar a evolução pela qual o mundo tem passado: “é necessário que os músicos se modernizem pelos novos meios de comunicação e briguem de igual com esses lugares. Hoje, nós 22 | Junho 2015 | Av. Independência
brigamos com o entretenimento”. Que entretenimento é esse? Do que falávamos naquele momento? No texto “A crítica do entretenimento no jornalismo cultural”*, o pesquisador Márcio Serelle afirma que, comumente, o entretenimento é contraposto à ideia de arte. De acordo com esse pensamento disseminado, “a arte trata cada receptor como um indivíduo, com respostas únicas a cada interação; o entretenimento lida com a audiência como se fosse uma massa disforme. A arte é inventiva; o entretenimento preso a fórmulas, pois procura combinações já testadas para multiplicá-las e conseguir as respostas prescritas. A arte é, enfim, do campo das causas, e o entretenimento, dos efeitos” (SERELLE, 2012, p. 55). Essa distinção permaneceria entre nós, segundo o autor, como manifestação de preconceito e clivagem social. Desconfiaríamos tanta assim da sensibilidade popular? Orientar a produção musical comercialmente relegaria a essa produção, necessariamente, o mais baixo escalão do ramo? Fico com a ideia de que podemos ser afetados por muitas sensibilidades: uma das quais o prazer
Aí estava o fio da meada. Sucesso significa milhares de pessoas em uma apresentação? Só dá certo um projeto musical que lota todos os lugares em que se apresenta? Quantitativamente sim, qualitativamente talvez. E é em cima deste “talvez” que se travaram várias discussões.
imediato; essa desenfreada busca do entretenimento. Entretanto, mesmo mercadoria, música é performance, foge da embalagem quase sempre, é sentimento, movimento, cultura. Identidade. Aqui em Juiz de Fora, existem iniciativas que caminham na direção de uma “luz no fim do túnel”, como, por exemplo, o Festival JF Rock City – Rock contra o câncer. Para Marcelo, “é possível atrelar cultura com entretenimento, uma coisa não exclui a outra”, referindo-se ao Festival. Mas, afinal, o que faz do JF Rock City um sucesso, de público e crítica? Álvaro responde: “porque o JF Rock City dá sucesso? Porque para o povo é grátis. O evento não é grátis [no sentido que houve custos de produção], mas para o povo é. O grande barato é isso, como fomentar a cena. A gente precisa de uma cena”. Chegamos ao ponto do debate em que estava claro que a receita é buscar mecanismos de estímulo para que o público frequente os shows. No entanto, veio uma provocação. “Existe a necessidade de começar a relativizar um pouco a ideia de que resultado é quantitativo.
O trabalho autoral muitas vezes é qualitativo, é você formar um público que vai ser formador de público. Você não precisa encher uma praça, você precisa é ter continuidade. Não quero cortar o viés quantitativo, mas todos, poder público, mercado, todos pensam em resultados quantitativos, e resultado quantitativo é voto e venda. Vamos pensar o quantitativo, mas pensar no qualitativo também. Isso implica em aceitar menores públicos, mas que tenham acesso continuado”, alfinetou Edson.
O mercado da música “Eu entendo a preocupação da galera de ter público na praça, é para manter o projeto. Disputa de mercado, não tem jeito”. Marcelo Castro iniciou assim outro momento do nosso debate. Mas até onde o mercado controla as ações e inibe as reações? Álvaro pontua que “a questão do mercado é importantíssima. Eu não posso fazer arte em detrimento do mercado. Mas também morro de medo do mercado em detrimento da arte”. Se não existem formas de desassociá-los, qual seria um ponto de equilíbrio? Edson discorreu que hoje temos diversos mercados, bem segmentados e que sobrevivem com pequenos públicos. Marcelo rebateu fazendo uma digressão: “nos anos 1980 no Brasil, você precisava estar em uma gravadora para entrar nos lugares todos. Hoje, qualquer computador simples tem mais Av. Independência | Junho 2015 | 23
tecnologia que uma gravação do Elvis, por exemplo. Você não precisa entrar nessas grandes mídias para aparecer, você tem uma outra hipótese. Você vê a galera do funk ostentando grana por quê? Porque tem mais de duas milhões de visualizações no Youtube. Não tem jeito, se o seu show está cheio, rola mais grana. Se rola mais grana, tem mais gente interessada”. Bastaria se adaptar ao mercado e todos saímos ganhando? Ledo engano. A partir desse momento, vários músicos resolveram partilhar suas impressões sobre o mercado e como lidar com o mesmo. Vinícius Polato, músico juiz-forano da banda Vivenci, fez um relato interessante: “quando tocamos uma música sem falar que é nossa, eu vejo pessoas tentando saber a nossa música, tentando procurar na mente onde ela ouviu aquela música. O que eu acho engraçado é que, às vezes, tem um filme que a pessoa nunca viu, e porque em um show ela não vai ouvir uma música que ela nunca ouviu?”. Bom questionamento, que causou risos entre os participantes e, em mim, profunda reflexão. Como somos preconceituosos, todos os dias! Dudu Costa, também músico da cidade, aprofundou a questão para além dos imperativos do mercado. “O principal desafio que temos hoje é fortalecer a política pública para artistas do campo independente. Não tenho nenhuma ilusão de que o mercado vai se interessar por mim. Brigar com o mercado, com a iniciativa privada, para que ele se interesse por você, eu acho um pouco ilusório”, pontuou. Voltamos a uma discussão iniciada um pouco antes, a ideia envolvida na expressão do it yourself. Dudu encerrou sua fala ponderando que “hoje, sobrevive o artista produtor, aquele que consegue fazer seu produto circular. Mas só isso não basta. Precisa haver uma pressão sobre o poder público para a diversificação das políticas de circulação, de incentivo também à produção”. 24 | Junho 2015 | Av. Independência
Marcelo, respondendo a Dudu, declarou que é preciso “modernizar as formas de divulgação, de distribuição. Iniciativas coletivas são sempre bem-vindas e levantam a bandeira da sua cidade. E não tem jeito, quem paga a conta da música autoral ou é o Estado ou é o público”. Se é o Estado ou se somos nós, o público, quem paga a conta da música autoral, não seria interessante conhecer melhor esse cenário? Durante algum tempo fiquei imaginando que contribuí, através dos meus impostos, para o lançamento de diversos trabalhos dos quais nem tomei conhecimento. Edson voltou a provocar, desta vez em cima da lógica do músico produtor: “o artista ter que ser um produtor é uma realidade, mas não é uma estrutura saudável de mercado. Temos sempre que problematizar o mercado. A partir do momento em que a gente começa a naturalizar algumas premissas do mercado, está errado. Naturalizando uma coisa que é de alguns”. Fernanda pontuou que “falta essa articulação. É importante cobrar do poder público a continuidade desses projetos. Tem que cobrar continuidade das ações, tem que cobrar recursos, política pública efetiva, continuada e permanente”. Caminhando para o fim da discussão, depois de mais de duas horas pautadas pelo cenário juiz-forano da música autoral e independente, Edwald José Winand, dono da Livraria Liberdade, solicitou o microfone e resumiu muito do que se discutiu ali. “A Lei coloca um milhão de reais na rua, e nós podemos fazer muito mais com isso. Não só financiar o artista, conexão do artista com a sociedade, mas beneficiar a própria prefeitura, beneficiar a própria qualidade da gestão municipal. Por que não temos uma sociedade esclarecida quanto à Lei? Além disso, falta que artistas e agentes da cultura sejam capazes de atuar isoladamente ou coletivamente, para policiar o Estado, nos argumentos insistentemente. A comunidade artística tem conhecimento da realidade e se não
tem, deve descobrir e levar isso até o poder público. O nosso público está se satisfazendo com muito pouco”. Estamos nos satisfazendo com pouco, em todos os pontos. Quando o músico aceita um cachê exploratório para se apresentar, se satisfaz com pouco. Quando eu escolho pedir para que um músico autoral da minha cidade toque outra música que não seja a sua, estamos nos satisfazendo com pouco. Quando não me preocupo com o andamento dos projetos da Lei e com a própria Lei, es- saídas para os problemas levantados. Talvez seja mesmo preciso superar o protou me satisfazendo com pouco. Estaríamos tagonismo da Lei, como bem pontuado por todos nos contentando com migalhas? Lara Linhalis, editora-chefe da Av. IndepenO que se pode levar de dência, referindo-se à necessidade de se habitar os canais disponíveis de participatudo isso ção política nas articulações pertinentes ao Marcelo trouxe a opinião que mais me mar- cenário musical, como a própria Concult. E cou das considerações finais: “falamos mui- também de se discutir sobre o que a cidato do problema e pouco da solução. Vamos de oferece em termos de políticas públicas colocar mais em prática”. Vamos colocar em para a cultura, no geral, o que vai além da Lei prática. Mas, em todo o caso, discutir os pro- Murilo Mendes. Há saídas, mas não sem esblemas talvez seja necessário para entender forço e mobilização. Do percurso do debate, que eles existem, e estão batendo à nossa fica uma certeza: há muita gente interessada porta. Existem respostas paras as várias per- em ouvir a cidade. Vamos juntos! guntas feitas ao longo do debate. Existem *SERELLE,
Márcio. A crítica do entretenimento no jornalismo cultural. Revista Comunicação Midiática, v.7, n.2, p.47-62, maio/ago. 2012. Av. Independência | Junho 2015 | 25
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 27
28 | Junho 2015 | Av. IndependĂŞncia
''Tem uns menino bom pra lรก e pra cรก, que
FESTIVAIS
m novo hoje aí na rua, corre pelo certo'' Criolo - Subirusdoistiozin
Embora o céu descoberto seja o teto, foram raras as vezes em que a chuva impediu a disseminação das rimas.
Por Thaís Andrade Fotos Igor Pires e Isabella Campos
As batalhas de improviso embalam as sextas-feiras de Juiz de Fora, sem lar permanente, levando a Cultura Hip Hop às praças da cidade. A busca pela união dos 5 principais elementos do Hip Hop Breaking, Graffiti, RAP (composto por DJ’s e MC’s) e Conscientização - é constante, bem como o caráter de resistência e ocupação dos espaços públicos. Esse é o Encontro de Mc’s. Nascido em fevereiro de 2011, o movimento independente tem como programação a tradicional Roda de Sexta, que acontece toda sexta-feira em alguma praça da cidade, a ser divulgada na página do Facebook do Encontro. Além disso, há eventos mensais e anuais, como a Roda Absurda, realizada no espaço cultural Casa Absurda, que conta com diversas atrações, como apresentações de dança, sarau e varal de poesias. A Roda promove, inclusive, o intercâmbio cultural através de pocket shows de artistas de outras cidades. A consolidação do movimento não se deu de modo tão simples desde o primeiro momento. Há quatro anos o público era diferente, principalmente no que diz respeito à quantidade: as rodas aconteciam de 15 em 15 dias, não contavam com auxílio de equipamento de som, e o público girava em torno de 15 a 20 pessoas. Hoje, as Rodas de Sexta atraem normalmente de 200 a 250 pessoas, em sua maioria jovens. Uma das maiores dificuldades para a organização do Encontro de Mc’s é a infraestrutura. Em diversas etapas de seu processo de construção, o evento não recebeu nenhum tipo de apoio senão a vontade e o esforço dos colaboradores em prol da movimentação do cenário na cidade, como conta Pedro Henrique Rezende, mais conhecido como Mc Oldi, integrante da organização desde que o movimento começou a dar seus primeiros passos. “Ainda é complicado ser lucrativo a modo de ser
sustentável, estamos sempre tentando entender e contribuir para que a cena musical e cultural possa se fortalecer a modo de conseguir andar com as próprias pernas. Cada um pode contribuir com sua cena local, nós do Encontro estamos há 4 anos nessa missão, de poder deixar algo que foi realmente importante e tocou pessoas no nosso meio, esse é nosso maior combustível atualmente. As dificuldades estruturais foram muitas. Em cada etapa tivemos quase que criar uma infraestrutura específica. Mas nada que o bom improviso, que não é só levado nas rimas, desse um jeito. O apoio é pouco ainda, mas contamos com o auxílio de algumas pessoas e iniciativas que estão sempre do nosso lado”. Apesar das dificuldades e obstáculos, realizar eventos e festivais independentes em qualquer cidade também tem suas vantagens. A autonomia para selecionar a programação, os artistas, o repertório e o local é um benefício indiscutível, diz Fábio Souza, DJ residente do Encontro de Mc’s e membro da organização. “Não temos que nos render ao mainstream, podemos fazer algo diferente do que a maioria faz e mostramos a
todos que também temos voz ativa”. De acordo com os organizadores, não há restrições de idade, gênero, sexualidade ou cor para participar das Rodas, tampouco é cobrado algum valor para frequentar os eventos que são realizados em espaços públicos - exceto para inscrição nas batalhas de improviso. No entanto, percebe-se que o público predominante é masculino, principalmente quando se trata de encarar a plateia e o nervosismo de uma batalha de freestyle. Thainá Gomes, uma das Mc’s de Juiz de Fora, quebra essa homogeneidade. “A maioria das pessoas sempre me deu força pra rimar, mas existem sim algumas pessoas que tem preconceito, acredito que eles pensem que só os homens podem participar como Mc até porque o preconceito está bem arraigado e reproduzido na sociedade. Esse preconceito não existe só no rap, existe em toda a sociedade inclusive em outros nichos musicais, você pode observar em bandas de outros estilos, são poucas as instrumentistas mulheres. Eu acredito, sim, que a nossa simples presença já quebra barreiras e que, nas nossas rimas, podemos criar reflexão e transformação. A educação, como em quase tudo, é a chave, e a música, sem dúvida, tem
grande papel de formação”. No dia 17 de maio, a cultura Hip Hop de Juiz de Fora perdeu um de seus nomes. Uma das maiores referências no Rap da cidade, Aice NP, foi assassinado. Mc Oldi conta que o artista apoiou o movimento desde os primeiros Encontros, quando os eventos tinham proporções menores. Ele acredita que a tragédia é um estímulo para encarar o futuro com garra. “O alcance era quase nulo diante da cidade, mas existia muita cumplicidade e vontade de fazer Hip Hop, de estar presente, de viver aquele momento. No presente e futuro, pretendo tentar, cada dia mais, resgatar esses valores e sempre recriar em cima das grandes raízes do movimento Hip Hop”. Para além das barreiras sociais e dos empecilhos facilmente encontrados no processo de constante construção do cenário musical independente de Juiz de Fora, a valorização de movimentos como o Encontro de Mc’s e a disseminação da música como instrumento transformador, e não só de entretenimento, são cada vez mais necessárias. “Vamos estar sempre ali...pelas praças e espaços da cidade, ocupando e preocupando quem não quer ver o avanço do nosso movimento e se detém em conservadorismos que não contribuem para o real crescimento do Hip Hop”, avalia Mc Oldi. Reconhecer e estimar a produção local, bem como os espaços criados para a difusão desses trabalhos tornam-se questões imprescindíveis e cabíveis de uma discussão ininterruptamente atual.
Av. Independência | Junho 2015 | 33
34 | Junho 2015 | Av. IndependĂŞncia
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 35
36 | Junho 2015 | Av. IndependĂŞncia
Av. IndependĂŞncia | Junho 2015 | 37
NA GARAGEM
PATUÁ é um sonho brincante Por Isabella Gonçalves Foto: Divulgação
A banda Matilda, formada por Juliana Stanzani, Bia Nascimento, Fabrícia Valle e Amanda Martins, tem uma identidade que oscila entre poesia e magia. Recentemente contemplado pela Lei Murilo Mendes, o grupo de meninas se prepara para o lançamento do CD de estreia. Trata-se do álbum Patuá, cuja capa convida o ouvinte a embarcar num sonho. Ao apertar o play, basta fechar os olhos para fazer um percurso pelo Brasil inteiro. Uma obra inspirada em nossa cultura popular e influenciada por ritmos que nos dão orgulho, Patuá tem uma atmosfera brincante e nos faz libertar a alma e percorrer mundos belos e inocentes. A primeira faixa, composta por Bia Nascimento, Gustavo Lira e Juliana Stanzani, já é um desbunde. Degradê em Lua Nova é poesia em forma de música, uma história cantada de maneira intimista. Parece que a banda está bem perto da gente e nos faz sorrir junto. O eu lírico resolve mudar de cor para ver se desmancha uma dor. Que outra metáfora poderia ser tão inspirada? Logo, todos vamos mudando de cor também para inventar uma flor. Estamos voando fora da asa. E já não é presente. O tempo não importa mais. A dança nos chamou para junto dela. Estamos rodopiando e cantando, indo para bem longe... E quando nos damos conta, estamos dentro de um livro, no qual os contos são contados por meio das notas mais belas. Sem ponto sem nó, composta por Juliana Stanzani, fala de uma mulata trabalhadora e com uma vida difícil. Lentamente, somos levados para o enredo. Flautas e dedilhadas de violão nos transportam e logo a percussão complementa o ritmo. Música cantada ora por Juliana, ora por todas. Trata-se da história de uma moça tão brasileira quanto nós. O disco nos faz girar por entre versos transcendentes e poéticos, nos quais a metáfora é um dos principais elementos. Tem música sobre o tempo e o sol. E tem aquela que se revela uma sinestesia pura, na qual os sentidos se misturam. Como diz a letra: “É o verde do cheiro. É a forma da noite.” Somos desafiados a um sentir completo. Há também a faixa Patuá, composta por Amanda Martins, Bia Nascimento e Fabrícia Valle, que dá nome ao disco, comprovando a maior inspiração da banda: tudo que é brasileiro. Por meio dela, somos presenteados com uma série de ritmos, como o baião, afoxé, ciranda, maracatu e outros... Matilda nos mostra que o bom mesmo é a mistura do verde e amarelo. O CD Patuá deixa claro que a banda veio para explorar terras várias, além de levar seus fãs a uma viagem repleta de poesia. Se você ficou curioso e inspirado, aguarde! A grandeza do álbum só se revela por completo quando ouvido, esse texto é apenas uma tentativa de ver música. Você poderá apreciar todas as sutilezas sonoras no início do segundo semestre. Banda Matilda Patuá Previsto para o segundo semestre de 2015 Av. Independência | Junho 2015 | 49
LETRA ILUSTRADA
Quando a lua tá cheia É sinal que São Jorge tá em casa E a nossa alegria vai voar fora da asa Fui mudar de cor Que é pra ver se desmancho essa dor Fui mudar de dor Que é pra ver se invento outra cor Que não lembre o cheiro do sonho da flor Que presenciava os beijos que eu dava no meu amor Fui mudar de cor Que é pra ver se desmancho essa dor Fui mudar de dor Que é pra ver se invento outra cor Quando a lua tá cheia É sinal que são Jorge tá em casa E a nossa alegria vai voar fora da asa... Da dor que for Fora em outras águas Regando outra flor Voando fora da asa Mudando a cor Pisando sem graça Preto e branco a dor Eu mudei de cor Inventei uma flor Pra sumir com a dor Eu fiz outra cor Eu mudei de cor pra sumir com a dor
Banda Matilda Degradê em Lua Nova Bia Nascimento | Gustavo Lira | Juliana Stanzani
PLAYLIST DO CATÁLOGO
HTTPS://GOO.GL/5NWE1V
HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/ALEXANDRE-BOUHID
HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/ALEXANDREBRILHANTE
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=7-SNS9CN6LO HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=Z0_VVGPFQEC
WWW.BANDAMATILDA.COM
HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/BLEND87
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/CHANNEL/UCE1H4DNQ9YQJGUVVB-BWWGW
WWW.CARLOSFERNANDOCUNHA.COM.BR
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/CARLOSFERNANDOCUNHA1
WWW.FACEBOOK.COM/CHADASUSTUNTASPAGE
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=BX-9A5RATP4 HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=5MWRCJ8OCGU
HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/CONTAGIORAP?FREF=TS
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=WGS46VW-AGQ HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=EREYVRGIUC4
WWW.DARANDINOS.COM HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/DARANDINOS HTTPS://GOO.GL/P8EK3O
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/DARANDINOS
WWW.SOUNDCLOUD.COM/FERROVELHO WWW.BANDAFERROVELHO.COM FACEBOOK.COM/BANDA.FERROVELHO
WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=FUTMNZU-Y5I HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=1JNBNWQRIBI
HTTPS://GOO.GL/PSQEGN
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/GILBERTSALLESJF HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=PEVVVHM2IOU
WWW.FACEBOOK.COM/GUIDODELDUCA
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=WCLPRF-OCVG HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=AJY5BMEYEWS
FACEBOOK.COM/HARDDESIREBAND
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=CSJV5DMARC0 HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=IMZ3TNIQHI0
FACEBOOK.COM/INSANNICA
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/INSANNICA/VIDEOS
FACEBOOK.COM/KELMERBLUES
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/KELMERMUSIC1
WWW.LAMACCHINA.INFO
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=CZDOW4DN3KQ HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=MZMRUMM_JA4
FACEBOOK.COM/LAURAJANNUZZIMG
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=EECOFC6XPWY HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=IHJLEZU_HKK
WWW.MARTIATAKA.COM
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=BNFZRIUXVBG HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=RZFY4V9LGZW
FACEBOOK.COM/RAFAELXGONCALVES
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/USER/RAFAELXGONCALVES
FACEBOOK.COM/RAIFREITAS20
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=AW6NSBB3PKY HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=VJG6EW_2FB0
SOUNDCLOUD.COM/RENATO-DA-LAPA-MACEDO
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=HZNDDDNY6AC HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=J4GC3N19MW4
HTTPS://SOUNDCLOUD.COM/R-MULO-HELENO
WWW.SEUNADIR.COM
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=GXRCG_2SD_M HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=T-3QC6R9UKQ
FACEBOOK.COM/OFICIAL.THIAGO.LOPES
WWW.THIAGOMIRANDA.COM.BR
WWW.YOUTUBE.COM/THAGOMIRANDAVIDEOS
WWW.UIARA.NET FACEBOOK.COM/UIARALEIGO WWW.SOUNDCLOUND.COM/UIARA-LEIGO
WWW.YOUTUBE.COM/UIARALEIGO
WWW.BANDAVISCO.COM FACEBOOK.COM/BANDAVISCO INSTAGRAM.COM/BANDAVISCO SOUNDCLOUD.COM/BANDAVISCO
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=YH0BQV1UGAQ HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=9BQI_FBHCTY
FACEBOOK.COM/VIVENCIROCK
HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=WN6__TFKS8E HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=QIKXGBLVRCW
AV. INDEPENDÊNCIA
APOIO
PARCEIROS