ABANDONAR UM PODER PARA RECUPERAR UMA AUTORIDADE
Observa-se na prática que algumas atitudes favorecem a actividade dos alunos, outras a passividade. Poderia abordar esse problema da atitude do professor na aula? As consequências da atitude do professor na aula são qualquer coisa que creio ser muitas vezes subestimada. Não se têm em devida conta as consequências do comportamento do professor sobre o grupo que se encontra diante dele. De facto, sempre se consideraram os professores que tinham autoridade e os que se deixavam dominar. É um fenómeno de todos os tempos. Mas o que se não viu foi que isso resultava da atitude do professor. Se este pensa de um modo radicalmente diferente do dos alunos, se recusa integrar-se na classe, se evita abordar os verdadeiros problemas das crianças, a classe não é mais que um conjunto de indivíduos submetidos, indiferentes ou turbulentos. O professor continuará a monopolizar a função docente, sem admitir que uma criança de doze anos possa, nalguns assuntos, raciocinar melhor que um adulto de trinta anos. Continuará a abarcar todas as iniciativas, a concentrar as atenções na sua pessoa, e portanto a reduzir o resto da classe à passividade. A escola não pode tornar-se num conjunto vivo se o professor se não integrar no grupo dos alunos. Todavia os professores são muitas vezes vítimas da vitalidade da sua classe. Como explicar este fenómeno de turbulência? A turbulência é uma reacção contra a passividade vivida anteriormente pela classe. Explica-se da seguinte maneira: os alunos estão habituados a ser dirigidos, a andar nos carris e fechados num sistema rígido. O professor está encarregado, por meio de um conjunto de coacções e de sanções, de manter os alunos neste contexto.
Ele é a chave e a válvula do sistema. Se surge como 'vulnerável, a energia comprimida explodirá pela fresta e fará estoirar a máquina. A turbulência é portanto consequência da passividade que é imposta aos alunos. Se o professor deve abandonar qualquer atitude de coacção não acha que deve manter uma certa influência? Acho que sim, efectivamente. É preciso passar de uma pedagogia do poder a uma pedagogia de autoridade. O poder é o domínio apoiado em regras e sanções. A autoridade é a influência que um indivíduo adquire através dos seus conhecimentos e da sua experiência. Se alguém conhece muitas coisas, recebe informações e se as não armazenar em seu proveito, se as difundir, terá influência sobre os outros - uma autoridade, portanto. É o que é pedido aos professores. O ensino assenta pelo contrário, nos nossos dias, no poder: se me prestares atenção terás uma boa nota e o teu diploma. Se tiveres um diploma terás na sociedade um lugar onde podes exercer o poder que neste momento eu exerço sobre ti. Portanto, escuta-me e imita-me. Creio que a chave da questão do ensino está na análise deste poder. O professor não é como outrora um homem de influência. Tornou-se como todos os outros um homem de poder. Isto vê-se claramente no exame de entrada no «sixieme». A princípio tratava-se de saber o que os professores da primária pensavam de cada candidato. Para melhor elucidar os processos pensou-se em instituir mais algumas provas complementares.
André Peretti Publicado 5th August 2014 por JMA http://terrear.blogspot.pt/