FOTO DE LAERTE GOMES
FOTO DE JULIO CESAR VIEIRA
Passageiros vindos do Ceará desembarcam em Rio das Pedras para aumentar a lista de clientes das agências de turismo da comunidade.
Do comando da sua escolinha de futebol, o escultor Fernando Estanislau conta a experiência de 58 anos de vida na nossa comunidade. PÁGINA 3
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I N F O R M A Ç Ã O
ANO I - N0 9 - RIO DE JANEIRO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
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C I D A D A N I A
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Queremos ir de van ao metrô da Barra ARTE DE EDUARDO JARDIM SOBRE FOTO DE LAERTE GOMES
EDITORIAL
SONHAR NÃO CUSTA NADA
DECISÃO PERIBOLÉTICA
... E o meu sonho é tão legal, assim começa o samba enredo do Salgueiro, que levantou a arquibancada do Sambódromo e levou a vermelho e branco ao título, num de seus inesquecíveis desfiles. Se outras comunidades do Rio, outros bairros têm o chamado metrô de superfície, ligando-os a estações do metrô, por que nossa comunidade não pode ter as vans, com o bilhete único integrando Rio das Pedras a linha 4 do metrô, na nova estação da Barra da Tijuca?
“A imagem do caos econômico e social não para de se cristalizar, mostrando que, de fato, a situação se torna a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo mais angustiante e dramática para uma comunidade de gente trabalhadora, honesta, empreendedora, consumidora, que só quer ter o direito de ser feliz.” JOSÉ FIRMINO BERNADES, FERRUGEM, de 43 anos, casado, pai de 5 filhos
“Além de não conseguir subir e descer dos estribos muito altos dos ônibus, de não poder viajar em pé, nas vans há lugar para esticar a perna, tem o cobrador para me amparar na hora de subir e eu só pagava R$ 5,00 para eles me levarem até o hospital. Na última vez tive de pegar um táxi e gastei R$ 75,00. Sem estar ganhando, como vou poder pagar isso?” CILENE, 51 anos, trabalhadora doméstica
“Não sei o que fazer daqui pra frente se esse trabalho que faço terminar (segundo o ato do prefeito, acaba no dia 9 de novembro) e não voltar mais.” VOLVERINE, como é conhecido Mauro Gustavo, de 34 anos, fiscal dos direitos e gratuidades dos passageiros das vans de Rio das Pedras
“Sem as vans, tive uma queda de no mínimo 50% no faturamento do treiler que eu e meu marido, que também é lancheiro, arrendamos há três anos e que funciona 24 horas por dia (ao lado do Ciep Professor Lauro de Oliveira Lima). É dele que tiramos o nosso sustento e o de nossas duas filhas, uma de 16 e outra de 10 anos, que, por sorte, estudam em escolas públicas.” LILIAN DOS SANTOS, 33 anos, dona de trailer e moradora de Areal 1
Confesso que fiz coisa errada na vida. Por causa de mulher paguei dois anos e meio na prisão. Estou na condicional, não fui aceito para trabalhar de cobrador na Redentor, me discriminaram até. Estava passando fome, só fui mesmo acolhido pelo pessoal das vans. E agora, se eu perder o emprego, o que vou fazer da vida?” JOSÉ, paranaense de 30 anos, cobrador de van
Todo o caos econômico-social causado pelo corte abrupto do serviço prestado pelas vans em nossa comunidade está retratado na matéria central desta edição do nosso jornal. São números e depoimentos impressionantes a influenciar a vida dos mais de 100 mil moradores de Rio das Pedras. Páginas 4 e 5
Influente político e jornalista nas décadas de 1950-60, o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda (1914-1977), dizia que desde os tempos de “Pepino, o grande”, governantes tomam decisões erradas que prejudicam certo núcleo da população e não beneficiam ninguém. O político italiano Cosmo de Médici (1389-1464) afirmava que era bravata do destino na mão de um auxiliar desatento ou subornado. São atos periboléticos sobre os quais Lacerda tanto falava e propalava que devem ser tornados sem efeito, de imediato, para serem esquecidos, não só para o bem da comunidade, como para o do próprio governante que o expediu, porque seu prestígio pode ser levado de roldão. Nesta edição apontamos o resultado do ato insólito do prefeito Eduardo Paes, que retirou as vans de circulação. Em relação à nossa comunidade, ele foi pouco estudado, porque, certamente, beneficiou o “tubaronato” dos donos de empresas de ônibus – tido como grande contribuinte de campanhas eleitorais – e, numa consequência desastrosa, desarticulou a vida dos mais de 100 mil moradores do Rio das Pedras e arredores. O prestígio de seu parceiro, o governador Sergio Cabral, como se sabe, começou a desabar quando chamou o finado piloto Marcelo Almeida, que estava dormindo, para buscá-lo e à nova namorada e família, porque o helicóptero caiu e todos morreram. O governador, que viajaria no voo seguinte, nunca mais descansou e carrega nos ombros a praga do engano cometido. A besteira que o prefeito carioca fez ao suprimir o transporte de vans em Rio das Pedras, fortalecendo ainda mais o monopólio do “tubaronato”, é um mal tão dramático como a queda do helicóptero que enlutou algumas famílias. Ao infernizar a vida de toda uma comunidade, Paes criou contra si um sentimento de repulsa e indignação. Nenhum dos pais da pátria, que na época de eleições vêm garimpar votos na nossa comunidade, apareceu para defender nossa gente. Onde estão os irmãos Brazão, o Eduardo Cunha e o próprio Eduardo Paes, campeões de votos que, até agora, fingem que essa catástrofe não é com eles? Há um olho grande de uma parte dos moradores e outro de maldição em troca do horror causado, todos, porém, desejosos de que o prefeito tenha grandeza e volte atrás para permitir a circulação das vans a partir do Rio das Pedras. FOTO DE JULIO CESAR VIEIRA
SÓ NO PELO DÁ O TOM DA FESTA FOTO DE JULIO CESAR VIEIRA
A festa da bola não para em Rio das Pedras. Só o cenário é que mudou na largada de 16 times em busca do título da Copa Verão de 2013. PÁGINA 8 No Campo 3, o SNP abriu 1 a 0 no jogo de ida contra o Rua Larga num clima de muita alegria e descontração de sua irreverente torcida FOTO DE LAERTE GOMES
FOTO DE JULIO CESAR VIEIRA
A Escolinha do professor Pepeta, da Amarp, prepara hoje os craques de amanhã
Na Areinha, reduto do campeão Juventude, a comemoração do título não tem dia nem hora para acabar
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A VOZ DA CIDADANIA
LEIA NA PÁGINA 2
MÁRCIO MOTHÉ
A VOZ DO DIREITO CRISTINA GOMES CAMPOS DE SETA
A VOZ DO LEITOR Cehab não esclarece as dúvidas
TALENTO NOVO PARA CANTAR, SAI DOS BANCOS DO CAIC Na época do compositor da Vila Isabel, Noel Rosa, Araci de Almeida cantava que samba não se aprende no colégio. Na era de hoje da música gospel, a cantora Lya Muniz, 16 anos, prova o contrário e ganha concurso na tradicional escola pública de Rio das Pedras. PÁGINA 6
Procure o Ministério Público e denuncie através do telefone 127. Faça prevalecer o seu direito, o direito de ser gente
ADOVOZ LEITOR
A propósito das mensagens dos moradores Davyd Souza (cobrando as bocas de lobo) e Paulino Conrado (questionando as obras da Rua Carambolas, na Areinha), a Companhia Estadual de Habitação (Cehab)informou o seguinte: “As obras de infraestrutura realizadas em uma área de 200,8 mil metros quadrados na comunidade de Rio das Pedras segue dentro do cronograma de execuções. Foi necessário mais de um ano de estudos para chegar ao melhor projeto possível para a região, devido à complexidade do lugar. Maquinários especiais, como miniescavadeira e minicarregadeiras, precisaram ser usados para vias mais estreitas, com dois metros de largura. A dragagem da Rua do Canal será feita por uma escavadeira anfíbia. Além de pavime ntação, as obras de infraestrutura foram projetadas para garantir a drenagem de água superficial adequada. A obra é acompanhada pela associação de moradores e mais de 70% dos 200 empregos gerados por ela foram preenchidos por moradores da localidade.” Nota da Redação: A mensagem da Cehab não responde concretamente os moradores. Fica o registro.
Sobre a cobertura e o álbum de fotos do campeonato Solazer, recebemos as seguintes mensagens pelo Facebook: Lula Andréa Capoccino: “A Voz de Rio das Pedras já é um grande divisor das águas. Agora é esporte antes e após. Parabéns a vocês. Essa galera estava precisando.” Paulinho Almeida: “Só tem fera aí. Vem pro Botafogo kkkk.” Joãozinho Alves: "Showwww." Márcio Guimarães: “Valeu locutor, tirando onda.” Diêgo Santana: “Elias é o melhor zagueiro do campeonato. Tem que tirar o chapéu!”
Uma pessoa pode ser considerada ‘superendividada’ quando comprometeu mais de 30% do rendimento mensal com o pagamento de dívidas.
2 RIO, 7 NOVEMBRO DE 2013
CONSUMIDOR E CRÉDITO: UMA DIFÍCIL RELAÇÃO
O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS DIREITOS HUMANOS
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ecentemente, os jor- ação e o juiz limita o pagamento mennais publicaram a in- sal das prestações a no máximo 30% formação de que está dos ganhos do consumidor. Estes 30% tramitando no Con- serão divididos entre os credores. O gresso Nacional projeto prazo para pagamento é aumentado de lei para alterar o Código de Defesa para que haja o pagamento total das do Consumidor. Uma das mudanças dívidas, mas isto permite ao consumique se pretende é tentar responsabili- dor que esteja precisando de um temzar bancos, empresas de cartões de po para reorganizar as finanças, crédito, lojas que consiga fa zê-lo. vendem a crédito, Outra possisupermercados etc bilidade, ainda pela concessão de se utilizando do crédito a pessoas já Código de Defeendividadas, evitansa do Consumido-se, assim, o supedor em vigor, é rendividamento dos tentar diminuir consumidores. O os juros aplicaque se busca com a dos a empréstinova lei é “responsamos, cartões de bilizar” instituições crédito, mesmo de crédito que conde lojas e supercedem créditos mercados. Mesàqueles que já estão mo nas comprometendo o transações enessencial de seus gavolvendo crédiCRISTINA GOMES CAMPOS DE SETA * nhos para a sua soto, é obrigatório brevivência. A que o consumifacilidade na obtenção de crédito, dor seja informado claramente dos vaatravés de cartões de supermercado, lores dos juros e do valor total a ser lojas de roupas, de eletrodomésticos, pago com o parcelamento. Essas empréstimos bancários e outros, trou- ações buscam revisar os contratos dixe uma nova figura para a realidade minuindo as taxas de juros mensais e, brasileira: o super endividado. em alguns casos, retirando os chamaO projeto de lei ainda não é obriga- dos “juros sobre juros”, prática bancátório, mas, mesmo assim, o consumi- ria muito comum principalmente em dor que perdeu as rédeas de sua vida cartões de crédito, quando não se pafinanceira já conta hoje com a ajuda ga a totalidade da dívida no vencido Poder Judiciário. Em razão da facili- mento e esta só faz aumentar a cada dade de compras a crédito, é imenso o mês. número de pessoas que, por estarem Outra possibilidade é de modificar superendividadas, ajuízam ações bus- as taxas de juros aplicadas quando cando auxílio para reorganizarem elas estão muito acima da prática de suas vidas financeiras. mercado, o que acontece, principalQuando uma pessoa pode ser con- mente, com cartões vinculados a lojas siderada “superendividada”? Quando e supermercados. Logicamente, não ela comprometeu mais de 30% do ren- há solução única, sendo os negócios dimento mensal com o pagamento de analisados caso a caso para verificar se dívidas envolvendo empréstimos, car- havia no contrato a informação da tatões de crédito, parcelamentos em lo- xa de juros, a informação para a cojas, crediário em geral. Se brança de juros sobre juros. mensalmente essas prestações já esÉ o Código de Defesa do Consumitão comprometendo o orçamento fa- dor em defesa do cidadão também pamiliar, fazendo com que o dinheiro ra auxiliar na sua reorganização que sobra não seja o necessário para a financeira. sobrevivência, é possível ajuizar ação para tentar recuperar o fôlego finan- *Cristina Gomes Campos de Seta é juíza da 5ª Vara Cível do ceiro. Reúnem-se todos os credores na Méier
partir da Declaração dos Direitos do Homem, produzida em plena Revolução Francesa (1789) e após os horrores dos regimes nazifascistas, com o surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), enfim nasce a proteção dos direitos do homem como garantia fundamental dos cidadãos. Atualmente, no Brasil, conforme o artigo 127 da Constituição Federal, o Ministério Público constitui “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindolhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Como se verifica, é estreita a ligação entre o direito de ser gente e a instituição encarregada de assegurar e proteger os direitos das pesMÁRCIO MOTHÉ * soas. O Brasil enfrenta grandes problemas e compete ao Ministério Público identificá-los, ajudando o povo na busca da solução de seus problemas. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança, embora nada disso tenha sido conquistado na sua plenitude. Na área da educação, por exemplo, embora haja previsão expressa como crime de responsabilidade dos governantes pela não aplicação de um quarto do orçamento, o número de pessoas fora da escola é alarmante. Não há creches, faltam vagas, a maior parte da população ainda é pobre e vive em condições inadequadas, sem higiene, sem salubridade, sem segurança. E é neste contexto que o Ministério Público passa a ter, por expressa determinação constitucional, a função de promover e proteger os direitos humanos. Quer atuando no papel de promotor da ação penal, punindo os criminosos, quer na implementação dos direitos sociais, através da denominada tutela coletiva, o promotor de Justiça atua como verdadeiro promotor da cidadania, assegurando a todos o exercício dos direitos necessários a uma vida digna, humana. Procure o Ministério Público e denuncie através do telefone 127. Faça prevalecer o seu direito, o direito de ser gente.
A VOZ DO
A VOZ DA
DIREITO
CIDADANIA
* Márcio Mothé é procurador de Justiça, coordenador de Direitos Humanos do MP/RJ. Este espaço está reservado para o Ministério Público do Estado orientar a Comunidade de Rio das Pedras sobre seus direitos e como pode ser amparada por aquele orgão.
Lalinho Silva: “Que é isso em Maicon Almeida? Imperador aqui da Bahêa!” ARQUIVO - 7 DE OUTUBRO 2013
Lucinaldo Braz: "Perder da maneira que nós perdemos é foda!” André Oliveira: “Kkkkkkk...com um pênalti ridículo daquele....”
ANTES
Brunão Pereira: “João, fera demais .” João Araújo: “Você que é o cara Brunão Pereira. É isso ai mano Maicon matador.” Marcos Silva Castello Branco: “Convoca um fera dai, o Luiz Carlos Guedes, conhecido como Picolé.” Maicon Almeida, craque do Juventude, postou três comentários: “É nós na fita. Fim de semana promete, sobrou muito dinheiro ainda kkk.” “Com Valter artilheiro.” “Para Paulinho, não brinca assim Botafogo não, rsrs. Valeu mano!” João Araújo “Esse Rodolfo Luiz acabou com o jogo outra vez, kkk valeu meu rei, Parabéns...” Pablo Graché: “Time fraco, pra não dizer o contrário....rs” Sergio Santos: “Agora e só comemorar!!!.... Fabiano, Paulo, Neto e João, vocês também fazem parte disso...” Leandro Silva: “Saudade de voltar a vestir essa camisa com meus irmãos” Paulo Duarte: “Mais um caneco Rodolfo Luiz? Kkk” 쐀 Cartas para a redação de A Voz de Rio das Pedras, a/c do Núcleo de Cidadania, Rua Nova n0105, loja 2. e -mails para contato@avozderiodaspedras.com.br
28 DE OUTUBRO 2013
Ah! dona Cedae. Que vergonha! Que decepção! Que forte mau cheiro exalando desse bueiro numa das entradas da Vila Pitanga! O mesmo que foram consertar. Mas que conserto é esse? Pois no dia 30 de outubro voltamos lá para conferir o resultado da nossa denúncia e o que encontramos: água suja escorrendo do ralo e do bueiro, em quantidade menor é verdade, mas o suficiente para impedir a passagem dos moradores, das crianças, dos idosos, obrigados a subir no estreito meio fio, andando de lado, raspando o corpo na parede do elevado para não pisar na merda. E, o que é pior e muito, mas muito grave mesmo: mães se queixando de que os filhos apareceram na segunda-feira, 28 de outubro, com diarreia e sintomas de vômito, como revelou Roseane, moradora do local há dois anos e mãe de Renan, cinco anos, que estuda no pré-ensino médio da Escola Municipal Clarice Lispector, e de Daniela, de três anos. A situação chegou a tal ponto que Roseane fez até chacota: “A coisa aqui só melhorou mesmo quando faltou água.”
DEPOIS?
EXPEDIENTE EDITOR-CHEFE
CHEFE DE REPORTAGEM
FOTOGRAFIA
Aziz Ahmed
José Antonio Gerheim
Fábio Costa
(Reg. 10.863 - MTPS) azizahmed@avozderiodaspedras.com.br
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TRATAMENTO DE IMAGENS
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EDITOR EXECUTIVO
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ANALISTA DE MÍDIA E WEBMASTER
Laerte Gomes www.avozderiodaspedras.com.br
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Uma publicação da Livraria e Editora Citibooks Ltda. CNPJ: 05.236.806/0001-5 Rua Jardim Botânico, 710, CEP 22.460-000 para a Associação Comercial do Rio das Pedras (em organização). Rua Nova 105 – Loja, Rio das Pedras
Publicação quizenal / Tiragem: 20 mil exemplares / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA / Impresso na Gráfica e Editora Jornal do Commercio
CLASSIFICADOS GRÁTIS! A partir dos próximos números, este jornal vai reservar espaço para que você, morador ou comerciante de Rio das Pedras, possa anunciar bens, serviços ou produtos que esteja disposto a alugar, vender ou, simplesmente, doar. Basta que seja um texto curto e grosso, que vamos publicar de graça. Se quiser "vender seu peixe", encaminhe o anúncio para o setor de classificados para o e-mail contato@avozderiodaspedras.com.br.
APROVEITE!
De 1981 a 1987, trabalhei na dragagem da Lagoa de Marapendi. Mergulhava ligando os tubos à draga que sugava a areia que formou o bairro chamado Areal
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Aqui a gente precisa de um hospital. Tem UPA, Clínica de Família, mas isso aqui cresce muito e o que temos não dá conta das nossas necessidades básicas
RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
O XERIFE DO CAMPO DE FUTEBOL
FOTOS DE JULIO CESAR VIEIRA
S
ão sete horas da manhã de segunda-feira e Fernando Estanislau, de 70 anos, já está no campo de futebol da comunidade para a primeira tarefa de inclusão social do dia: mostrar às 117 crianças da sua escolinha os caminhos para se tornar um craque no esporte mais popular do planeta. Aposentado como metalúrgico, esse xerife do campo de futebol, nascido no Recife (PE), chegou a Rio das Pedras quando tinha apenas 12 anos de idade e aqui viveu as mais duras e fascinantes experiências, até tornar-se um escultor porreta, que molda com rara habilidade peças de bronze e resina, em seu ateliê na Rua Velha. – Quando cheguei aqui isso era um sítio. Havia vacas pastando e uma profusão de árvores frutíferas. Bananeiras, goiabeiras, jambeiros, tamarineiras e muitos coqueiros. Havia poucos moradores, era uma área inóspita, sem estrutura alguma. Não havia água potável, energia elétrica e nenhum saneamento. Era a época em que os coronéis eram os donos das grandes propriedades no Brasil e aqui não era diferente – conta Fernando. Ele lembra, com ar de nostalgia, que nesses 58 anos que vive aqui, a comunidade foi sendo invadida, numa ocupação realizada de forma invasiva e desordenada. Começou a favela pela Rua Velha, então de terra batida, expandiu-se até sofrer algumas raras intervenções do poder público, como a criação do bairro do Pinheiro, a abertura da Rua Nova e
O PIONEIRO FERNANDO ESTANISLAU CONTA HISTÓRIAS MARCANTES QUE VIVEU DA COMUNIDADE
Fernando, no seu trabalho de inclusão social, passa instruções, no campo principal que ele administra, às crianças da sua escolinha de futebol. Nas outras fotos, em seu ateliê na Rua Velha, em meio às esculturas que produz com bronze e resina
outras vias e becos que cortam a comunidade. – Isso aqui cresceu muito. Lembro que, de 1981 a 1987, trabalhei na dragagem da Lagoa de Marapendi. Eu mergulhava para fazer, no fundo da lagoa, a conexão dos tubos ligados à draga que sugava a areia que era despejada na margem. Foi se acumulando e acabou formando uma área onde hoje se chama de Areal, formada pela areia da dragagem. Lembro que vinham peixes também dragados e que ficavam no areal. Era tanto peixe que a gente distribuía para os moradores, que faziam a festa. Verdadeiro pau pra toda obra, Fernando criou e organiza o Campeonato Solazer de Futebol, já conhecido como o “Brasileirão” de Rio das Pedras, este ano disputado por 20 times e conquistado pelo Juventude, de Areinha. Sem contar com a ajuda de patrocinadores, ele faz um rateio entre os participantes para comprar bolas, rede, troféus e medalhas e ainda formar um caixa para pagar o cachê dos árbitros e os prêmios aos vencedores: R$ 9 mil para o campeão, R$ 4 mil para o vice e R$ 2 mil para o terceiro colocado. – Neste ano sobrou dois mil e pouco e a turma mandou ficar pra mim. Mas preferi bancar uma cervejada pra galera na festa final. O rachuncho é interessante, porque cada um dá o que pode e todos contribuem com a maior satisfação. A garotada que tem aula de futebol e educação física comigo ajuda na limpeza e em dar uma guaribada no campo depois dos jogos. Fernando lembra que a comunidade é formada de gente trabalhadora, de bom coração e muito amiga. Ele lembra o caso de um rapaz que quebrou o braço num jogo e teve de ficar sem trabalhar. E contou: – O pessoal se reuniu e resolveu suspender uma rodada do campeonato para fazer um torneio para arrecadar dinheiro a fim de ajudar o rapaz a se manter enquanto estava impossibilitado de ganhar a vida. Exemplos de solidariedade como esse são comuns aqui na nossa comunidade. Nesse momento da entrevista chega um menino de uns 12 anos e
Fernando interrompe a entrevista e cobra dele: – Ô Lucas! Você não veio hoje? – Na quarta-feira eu venho, tem jogo contra – respondeu o garoto, dizendo-se contrariado porque torceu durante todo o campeonato Solazer pelo Corinthians por causa de um vizinho que joga no time e lamentou a derrota na final para o Juventude: – Eles deram mole – lamentou Lucas. Com seu jeito professoral, Fernando consolou o menino: – O perdedor de hoje é o ganhador de amanhã. Lucas ouviu atento e resignado. E tomou o caminho de casa. Fernando vai estendendo a prosa, contanto que o pessoal daqui não espera pelo poder público para fazer algumas obras essenciais e de emergência. – Certa vez, na Rua Velha, cheguei a pedir para fazer uma “vaquinha” para pavimentar com pó de pedra, extraída de uma pedreira que existe aqui perto. Uns entraram no rateio, outros não deram bola e saíram para o trabalho. Quando voltaram, viram que a rua ficou tão legal que até contribuíram com o dobro do que eu havia pedido. Trabalho muito aqui pela comunidade. Já promovi maratona,
corrida de bicicleta. Tá vendo essas árvores? Fomos nós que plantamos. Depois da enchente de 1996, tivemos de fazer tudo de novo. Essa Via Light foi criada depois. Cheguei aqui depois da enchente e o campo já não existia. E foi criado esse rio que margeia a Via Light, que nem nome ainda tem. Fizemos um mutirão e Rio das Pedras ressurgiu não das cinzas, mas da enxurrada. Perguntamos a Fernando como é a vida hoje na comunidade e ele veste a camisa: – Aqui a gente precisa de um hospital. Tem UPA, Clínica de Família, mas isso aqui cresce muito e o que temos aqui não dá conta das nossas necessidades. Seria importante que Rio das Pedras virasse bairro, fosse legalizada. A maioria dos moradores quer pagar impostos, quer ter o fornecimento de água e energia legalizado, viver como cidadãos, para poder cobrar das autoridades as providências que a comunidade exige. Aqui só tem trabalhador, guerreiro. Você chega aqui às 4 horas da manhã e vê um movimento intenso de gente saindo e gente chegando do trabalho. E quanto à violência, Fernando é taxativo:
– Há quanto tempo você está aqui? – pergunta ao repórter e ele mesmo responde: – Você já viu alguém aqui de fuzil ou revólver circulando pelas ruas? Aqui não tem tráfico, não há violência. Tem muitas brigas de marido e mulher, de familiares, mas isso, como se diz na sociedade, acontece nas melhores famílias. Lembra Fernando que Rio das Pedras é uma comunidade plana e essa característica geográfica dificulta o comércio de drogas. Além disso, só tem duas saídas: uma para Barra e outra para Jacarepaguá: – O pessoal vai sair como? Voando? Temos aqui 20 mil adolescentes entre 14 e 17 anos. Seria um show de bola. Mas não tem boca de fumo disputando território. Sobre a confusão das vans, ele diz que foi a ganância das empresas de ônibus que motivou a criação do transporte alternativo na região. – Já passei muito sufoco para pegar um ônibus. Tinha de sair daqui e ir para o Anil. O cartel dos donos de ônibus acha que o bolo deve ser dividido só para eles. Já peguei coletivo com 180 passageiros. Sem exagero. Quando achava que a nossa conversa já estava se estendendo, chega da pelada o morador Anacleto, de 38 anos e há 23 morador da comunidade. Ele observa que a entrevista de Fernando já durava quase uma hora e resolveu entrar no papo: – É compadre. Para falar de Rio das Pedras uma hora só não chega, né? – Nem uma semana – respondeu essa figura pioneira e querida da comunidade.
COMPARE 0S SALÁRIOS
VANS
ÔNIBUS
R$ 3.000 MOTORISTAS
R$ 800 MOTORISTAS
R$ 2.000 COBRADORES
R$ 678 COBRADORES
"Sem as vans, meu faturamento desceu ao fundo do poço"
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Vans sempre deram cestas básicas para os mais carentes e para as festas das crianças no Natal. Esse ano, tá a perigo
RIO DAS PEDRAS / IPANEMA R$ 75
TÁXI
R$ 5
VAN
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RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
O DRAMA DAS VANS PARADAS
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MORADORES ENFRENTAM PROBLEMAS PORQUE OS ÔNIBUS NÃO ATENDEM A COMUNIDADE
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As duas vivem dos comércio popular na Rua Nova, uma do lado onde as vans serão proibidas de parar com a extinção das seis linhas, o que significa menos movimento, menos fregueses, menos faturamento. Dona Lliian Santos (foto 1) tem um trailer aberto 24 horas do lado do Cieps. Dona Diana (2) dirige o Bar do Zeca, aberto também 24 horas, ponto de encontro de motoristas e de passageiros das vans e de quem passa pelo local
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4.400 EMPREGOS CORTADOS
LINHAS CORTADAS 왘RIO DAS PEDRAS - PEDRA DA GÁVEA 왘RIO DAS PEDRAS - BARRASHOPING 왘RIO DAS PEDRAS - RECREIO 왘RIO DAS PEDRAS - TAQUARA 왘RIO DAS PEDRAS - FREGUESIA 왘RIO DAS PEDRAS - MADUREIRA
Antonio Cobe Neto, (3), 58 anos, transporta passageiros de vans, desde 1997, na linha pioneira, entre Rio das Pedras e Pedra da Gávea. Agora está sem saber que rumo tomar, mesma dúvida de seu companheiro, José Barbosa de Lima (4), pernambucano, há 17 anos vivendo do transporte alernativo com as vans. Inseguraça que também atinge a jovem comerciante da barraquinha de doces e balas, Meriana Araujo (5)
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A entrada da Oficina do Alemão (10), antes cheia de carros e vans, agora tem vaga de sobra e serviço de menos, o que também ocorre na pastelaria do menino Anderson (11) para a revolta do também comerciante Ferrugem(12) e do fiscal de vans Wolverine(13)
PRESTAÇÕES MENSAIS DE UMA VAN
OUTROS DRAMAS SOCIAIS E FINANCEIROS
VANS SEM USO
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R$ 2.500 a 3.000
RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
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esde a suspensão pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) dos serviços de transporte feito pelas vans, ligando Rio das Pedras a outros bairros do Rio, principalmente aos locais onde trabalham e ganham seu sustento e de suas famílias a maioria dos moradores da nossa comunidade, que a perplexidade tomou conta de todos. A começar por ter de enfrentar, logo pela manhã, filas imensas nos pontos finais dos ônibus na Rua Nova e nos pontos de saída da Avenida Engenheiro Souza Filho, tanto os que saem do Pinheiro e vão em direção a Jacarepaguá para depois pegar a Via Amarela, como os que saem pela Estação Azul, na Via Light, para seguirem rumo à Barra, Gávea, Ipanema e Copacabana. E depois, na situação inversa, para aqueles que trabalham à noite e de madrugada, como garçons, frentistas, balconistas de farmácias e empregados de supermercados, porque , a partir das 22 horas, os ônibus começam a parar de circular. – É desesperador você trabalhar horas e horas e no momento de voltar para casa ainda ter de esperar longamente em um ponto a passagem de um ônibus, que pode vir lotado, e ainda ver durante a espera outros passarem, muitas vezes em alta velocidade, muito acima da normal, com o letreiro escrito “Garagem” ou “Especial”. No meu caso, que sou pescador, vivo da venda do que minha rede pega no quebra-mar da Barra. Não dá para trazer nos ônibus, ao contrário das vans. Situação que se agravou ainda mais para mim porque, com a proibição das vans, minha barraca de peixe na Rua Nova sofreu uma queda de, no mínimo, 80% no faturamento diário, primeiro porque os motoristas e cobradores deixaram de almoçar aqui, segundo porque os passageiros deixaram de parar aqui e levar os peixes ou mesmo fazer um lanche, comer um peixinho fresco, feito na h ora, acompanhado de uma cervejinha ou um refrigerante ou suco – queixa-se o pescador e comerciante Cristiano, de 23 anos, morador da Rua Nova, acrescentando que agora se vê obrigado a pedir carona ou “morrer” numa corrida de táxi (raríssimos) principalmente de madrugada, que é a hora boa de ir pescar na Barra. Os números, tanto os dos donos das vans, como dos comerciantes que se sentem prejudicados em seu movimento diário e no faturamento mensal, impressionam, depois das seis linhas extintas pelo decreto do prefeito e, portanto, impedidas de continuar circulando para fora de Rio das Pedras. A pioneira, Rio das Pedras-Pedra da Gávea, criada em 1997 com permissão dada pelo então prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM), como informa o motorista pernambucano José Barbosa de Lima, há mais de 16 anos fazendo esse trajeto e que agora é mais um desempregado. – As outras cinco linhas foram Rio das Pedras-Barrashoping, Rio das Pedras-Recreio, Rio das Pedras-Taquara, Rio das Pedras-Freguesia e Rio das Pedras-Madureira – explica Barbosa. As queixas e desabafos partem de todos os lados, notadamente dos que vivem o dia-a- dia da principal e mais badalada via da comunidade, a Rua Nova. Outro motorista, o bem articulado José Firmino Bernardes, de 43 anos, pai de cinco filhos, três meninos e duas meninas, joga no ar a pergunta que ele diz fazer e não encontrar resposta que justifique o ato do prefeito, e que ainda, segundo ele,seria a chave de todo o enigma: – Por que o prefeito não fez, como em outros locais, licitação para legalizar o transporte alternativo em Rio das Pedras? 10 E, prossegue Ferrugem, como Bernardes é mais conhecido por todos que não se cansam de parar para debater o problema, sempre que o encontram na Rua Nova, parado, em vez de estar, como era comum, sentado, pilotando uma van: – Como vamos conseguir a grana para pagar aluguel, comprar comida para nossos filhos, remédios, seguir cuidando dos mais idosos, manter as crianças nos colégios, pagar as prestações aos bancos e financeiras das vans que compramos e que eles não aceitam de volta? São prestações mensais que vão de R$ 2.500 a R$ 3.000, em prazos que variam de 36 a 48 meses. Como pode uma autoridade tomar uma decisão como essa sem ouvir todos os lados, principalmente o mais afetado? Cada van significa pelo menos a garantia de quatro pessoas trabalhando e ganhando seu sustento e de suas famílias. A imagem do caos econômico e social não para de se cristalizar, mostrando que, de fato, a situação se torna a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo mais anMOTORISTAS COBRADORES gustiante e dramática para FISCAIS LAVADORES uma comunidade de gente trabalhadora, honesta, empreendedora, consumidora, que quer como todas as pessoas de bem ter o direito de ser feliz – afirma Ferrugem. Quem também fez um desabafo sincero foi o paranaense José, de 30 anos. Ele disse: – Confesso que fiz coisa errada na vida. Por causa de mulher paguei dois anos e meio na prisão. Estou na condicional, não fui aceito para trabalhar de cobrador na Redentor, me discriminaram até. Estava passando fome, só fui mesmo acolhido pelo pessoal das vans. E agora, se eu perder o emprego, o que vou fazer da vida? Já fui garçon de churrascaria, da Estrela do Sul, em Botafogo, boy da Caixa Econômica.Mas em nenhum desses empregos ga-
DÍVIDAS COM BANCOS E FINANCEIRAS
O vendedor da oficina que fica em frente à entrada da Quadra 5 na Rua Nova (6), perplexo, viu o movimento diário da procura por peças e pelos consertos cair 80 por cento. Dona Cilene (7), em tratamento pós operatório, não pode subir em ônibus e nem viajar em pé, para ir ao hospital em Ipanema fazer curativo. Cristiano (8), pescador e dono de uma barraca onde vende os peixes que pesca de madrugada no Quebramar da Barra da Tijuca, além de ver as vendas cairem, ficou sem o transporte noturno e agora tem de pedir carona ou pegar táxi. Já o cobrador José Firmino(9), teme voltar a ficar desempregado e passar fome
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– Os serviços que as vans prestam a comunidades como a nossa não se limitam ao transporte de passageiros no dia-a-dia – fala com firmeza o motorista paraibano Antonio Cobe Neto, de 58 anos e há 17 anos na linha pioneira Rio das Pedras-Pedra da Gávea. E ele completa: – Nós também atendemos os moradores e suas famílias nas festas de aniversário, casamentos. Na pior hora, dos enterros, levamos doentes e acidentados até aos hospitais. Fazemos excursões, idas às praias no fim de semana, eventos religiosos, esportivos, bailes dos jovens nos fins de semana. Quem comprova com forte exemplo o que diz o veterano motorista é uma trabalhadora doméstica, Cilene, de 51 2 anos, que não tem condições físicas para subir num degrau de ônibus. Aliás, não é novidade, motivo de muitas queixas, os degraus altíssimos na maioria dos coletivos, e Cilene, devido a uma operação de um câncer, é obrigada a deslocar-se semanalmente ao Hospital de Ipanema, do INSS, para fazer revisão e curativo. Ela conta: – Além de não conseguir subir e descer dos estribos muito altos dos ônibus, de não poder viajar em pé, nas vans há lugar para esticar a perna, tem o cobrador para me amparar na hora de subir e eu só pagava R$ 5,00 para eles me levarem até o hospital. Na última vez tive de pegar um táxi e gastei R$ 75,00. Sem estar ganhando, como vou poder pagar isso? Os comerciantes da Rua Nova não estão conformados com a situação e querem uma solução que beneficie a todos e não seja olhada apenas pelos interesses dos donos das empresas de ônibus. – Sem o movimento das vans e seus passageiros, meu faturamento desceu ao fundo do poço e eu dependo disso para manter a minha família. Calculo uma queda de pelo menos 50%. Montei essa barraquinha aqui para vender balas, doces, chocolates, servir pequenos lanches para quem trabalha nas vans e para os passageiros que passavam e paravam por aqui. Fiz isso com o dinheiro que economizei 7 trabalhando durante sete anos e meio em padarias e ainda estudava até completar o ensino básico. Casei e felizmente por ora não tenho filho. Como iria sustentar? – questiona Meriane Araujo Almeida, de 23 anos, moradora da Curva do Pinheiro. Na mesma linha de preocupação, Lilian dos Santos, de 33 anos, moradora de Areal 1, observa: – Sem as vans, tive uma queda de no mínimo 50% no faturamento do treiler que eu e meu marido, que também é lancheiro, arrendamos há
três anos e que funciona 24 horas por dia (ao lado do Ciep Professor Lauro de Oliveira Lima). É dele que tiramos o nosso sustento e o de nossas duas filhas, uma de 16 e outra de 10 anos, que, por sorte, estudam em escolas públicas. A insegurança quanto ao futuro é indisfarçável na expressão e no olhar do fiscal de vans Volverine, como é conhecido Mauro Gustavo, de 34 anos. Ele cuida para que a lei das gratuidades seja cumprida para idosos (dois por viagem), crianças de até cinco anos e portadores de necessidades especiais. – Não sei o que fazer daqui pra frente se esse trabalho que faço terminar (segundo o ato do prefeito, acaba no dia 9 de novembro) e não voltar mais. Queda ainda maior no faturamento, de 80%, é o da pastelaria chinesa no passeio em frente ao ponto das vans na Rua Nova, o que ameaça o emprego e o salário (R$ 599,00 mensais) do adolescente de 13 anos, Anderson, pasteleiro, que não estuda mais e trabalha para ajudar no próprio sustento e de mais dois irmãos. – Meu drama está sendo muito grande. Minhas vendas caíram brutalmente, já que aqui era o ponto de encontro dos motoristas, cobradores das vans e também dos muitos passageiros que davam uma paradinha para um lanche, um refrigerante, uma água, um cafezinho, até mesmo uma cervejinha – revela com um olhar de interrogação sobre o que vai ser a vida daqui para frente, sem esse movimento diário, Diana, de 30 anos, solteira, mãe do Enzo, de oito, ao seu lado no balcão do Bar do Zeca e de mais dois meninos. O mesmo ar de desolação com a falta de clientes é encontrado na loja e na oficina mecânica do Alemão, que atende e socorre as vans na hora dos consertos e trocas de peças: – Será que não vai haver alguém que mostre ao prefeito o tamanho de nosso drama, o prejuízo geral que essa medida está causando à nossa comunidade? Os ônibus sozinhos não dão e nem vão dar vazão às necessidades de um transporte mais rápido e mais ao alcance de todos nós moradores de Rio das Pedras, que precisamos de pelo menos manter nosso padrão de vida, que é simples, sem ostentações. Tudo o que queremos é melhorar e subir na vida – diz Alemão ao lado de Ferrugem, que faz mais duas importantes revelações: – Sabem quanto de uma passagem que custa R$2,75 fica para os donos das vans? R$1,00 ele mesmo responde. Os outros R$1,75 vão para a Prefeitura. Sabem quanto custa para instalar um relógio da Riocard? R$7.500. Será que o governo vai abrir mão dessas receitas só para agradar as empresas de ônibus? No primeiro dia dias das manifestações postamos no nosso site e no Facebook as notícias sobre a desastrada medida tomada pela prefeitura. Imediatamente, mais de 500 acessos foram registrados e duas moradoras postaram mensagens ponderadas sobre o problema. Uma delas, Ana Carolina Mora, faz uma reflexão: – Acho que tudo que entra na legalidade vale a pena. Tenho ido trabalhar de ônibus agora e por enquanto não tenho reclamações. Mas a questão é que a população, na maioria, sempre reclama de tudo. Na época das vans criticavam motoristas e cobradores, agora criticam os motoristas de ônibus, comparando o tempo de viagem. Enfim, vale a pena parar e refletir um pouco. Sair da ilegalidade nos torna mais cidadãos, ou não? Já Márcia Pinheiro foi direto ao ponto: – Tem que regularizar sim a categoria. Mas regularizar os que já estão na estrada, não tirar o emprego das pessoas que estão há muito tempo trabalhando.
LINHA DE INTEGRAÇÃO RIO DAS PEDRAS-METRÔ DA BARRA, ESPERANÇA E UMA SOLUÇÃO
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Sexta-feira, 10 de novembro, 22h30m, Rua Nova, esquina da Estrada Velha de Jacarepaguá: nossa reportagem seguiu a dica do pescador Cristiano e voltamos lá para conferir. Só passavam ônibus com os letreiros “Garagem” e “Especial”. Não era mesmo história de pescador.
No calor dos atos de protesto das vans, entre a sexta-feira 11 e a segunda-feira 14 de outubro, realizados sem violência, sem quebra-quebra, sem incêndio de ônibus, como é da índole pacífica da população de Rio das Pedras, começou a florescer do desejo de quem está acompanhando de perto o problema dos transportes na nossa comunidade de encontrar uma solução. Interpretando um pleito consensual dos moradores, este jornal sugere à prefeitura que realize um debate sobre algumas propostas. A criação da linha de integração Rio das Pedras-Metrô da Barra, a tão aguardada linha 4, que irá ligar a Barra da Tijuca à Zona Sul, passando pela Rocinha, Vidigal, São Conrado, Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo,Flamengo, Laranjeiras, Catete, Glória, estações do centro da cidade, Central do Brasil, até chegar à Tijuca, cuja linha que por ora termina na Praça Saenz Peña, já
estará a partir de 2014 esticada até a nova estação da Rua Uruguai, integraria nossa comunidade aos locais de trabalho da maioria dos moradores de Rio das Pedras, através da implantação do sistema do Bilhete Único, o qual foi muito bem aceito por todos o que dele se utilizam. Essa integração Rio das Pedras-Metrô da Barra, cuja estação Jardim Oceânico está programada para entrar nos trilhos em 2016, começaria desde agora a ser planejada e organizada, começando pela ordenação e volta das linhas extintas, criando mecanismos de convivência com os ônibus, permitindo que as vans voltem a circular durante a noite, atendendo assim a todas as reclamações e anseios da nossa cada vez maior população de Rio das Pedras, não uma simples comunidade ou favela, mas que por seu dinamismo, seu trabalho, seu comércio, já é um verdadeiro bairro da nossa cidade.
Nosso carro-chefe é o rodoviário. Muita gente prefere ir de ônibus devido à bagagem, já que de avião o limite é reduzido. Ou ainda porque tem medo de voar
A maratona começou às 5h10m da sexta-feira, dia 18, na rodoviária de Crateús, interior do Ceará, parou em Nova Russas, município de onde vem boa parte da grande colônia cearense que vive hoje em nossa comunidade
6 RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
FOTOS DE LAERTE GOMES
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ão 11h20m do domingo, 20 de outubro. Na porta do Supermarket, estaciona o ônibus da Viação Gontijo, uma empresa mineira, das mais poderosas do País. No volante, o experiente motorista Marco Antonio Simões, morador aqui da comunidade. Entre outros passageiros, descem Francisco das Chagas e Antonio Bento com a filha Ana Alice e a neta Samara, de 10 anos. Todos, apesar do cansaço, exibem um ar de felicidade, mesmo depois de 50 horas de viagem. – A maratona começou às 5h10m da sexta-feira, dia18, na rodoviária de Crateús, interior do Ceará, parou em Nova Russas, município de onde vem boa parte da grande colônia cearense que vive hoje em nossa comunidade – explica o piloto Marco Antonio, que revezou com outros dois motoristas durante o percurso. Ele revelou também que o roteiro Rio das Pedras/Crateús, com escala em Nova Russas, é o campeão de vendas de passagens aqui em Rio das Pedras, inclusive na época das férias. Depois das férias, a passagem individual custa R$ 425,00. Embora o ônibus procedente de Cratéus esteja incorporado à nossa rotina dominical, as agências de turismo daqui de Rio das Pedras afirmam que, seja durante as férias de fim de ano ou no período de festas juninas, o destino mais procurado pelos nossos moradores é mesmo o Ceará, seguido de longe pela Paraíba, Maranhão e Piauí. Destinos internacionais representam apenas
Os passageiros deixam o ônibus (foto ao lado) carregando suas bagagens. Abaixo, o motorista Marco Antônio descansa sentado enquanto Francisco das Chagas e Antônio Brito não parecem ter sentido as 50 horas de viagem
S A R O H 0 5 E D A N O T A R A M A UM
3% do faturamento das empresas instaladas na comunidade. Apesar de as passagens aéreas liderarem as vendas, há ainda os que preferem viajar de ônibus, como destaca a agente de turismo Gabriela Ramos, da VAG Turismo: – Nosso carro-chefe é o rodoviário. Muita gente prefere ir de ônibus devido à bagagem, já que de avião o limite é reduzido. Ou ainda porque tem medo de voar, como é o caso de algumas pessoas da terceira idade. Outra questão é que quem decide viajar de última hora dificilmente encontra preços acessíveis nas passagens aéreas. Pela VAG Turismo, os ônibus da Itapemirim para o Ceará partem aos sábados e todo dia 7 de cada mês. Algumas empresas firmam acordos para oferecer passagens rodoviárias. É o caso da IRTD, de responsabilidade de Antonio Claudio Rodrigues Soares, que administra a agência em sociedade com um tio. – Temos parceria com outra agência que vende passagem de ônibus. Enquanto isso, focamos no aéreo – diz Soares, destacando que priorizar o melhor atendimento é o objetivo dos agentes. E acrescenta: – O nosso trabalho não termina com o fim da venda. Temos que dar todo o respaldo necessário, porque pode haver alterações, como cancelamento, feitas pelas companhias ou a pedido do próprio cliente. Isso tudo exige uma equipe qualificada para cuidar dos casos, uma vez que um erro cometido pode gerar um prejuízo muitas vezes maior do que a margem de lucro que a empresa receberia. É preciso estar sempre atento. Sobre a possibilidade de vender pacotes turísticos, Soares é cauteloso: – Queremos implantar a ideia, mas precisamos fazer isso aos poucos, treinando profissionais e estudando o momento certo. É preciso subir um degrau de cada vez. O público-alvo das agências é bem variado. São comuns passagens emitidas para famílias inteiras. Mui-
CEARENSES CHEGAM E MOVIMENTAM AS AGÊNCIAS DE TURISMO NA NOSSA COMUNIDADE
FOTO DE FABIO COSTA
Uma das jovens empreendedoras desta comunidade, Gabriela Ramos conhece como poucos as preferências dos nossos moradores na hora de viajar FOTOS DE JULIO CESAR VIEIRA
Tanto a IRTD, de Antônio Claudio (foto acima), como a Rua Nova Turismo, de Roberto da Silva (à direita) são focadas no aéreo
tos moradores da comunidade preferem fazer pagamento à vista ou pelo cartão de crédito. Porém, outra modalidade vem ganhando destaque nos últimos tempos: a viagem programada. A Rua Nova Turismo é uma das duas empresas que trabalham com essa forma de pagamento, como explica Roberto da Silva: – O cliente tem a possibilidade de parcelar a passagem até a data da viagem, pagando por meio de boleto bancário. A Rua Nova Turismo também é uma empresa com foco em passagens aéreas. Tem dois anos de existência e mudou da Avenida Engenheiro Souza Filho para a Rua Nova há seis meses. Silva conta como nasceu a iniciativa: – Eu e um amigo queríamos montar uma empresa de turismo, oferecendo passeios partindo daqui da comunidade. Começamos com a venda de passagens de avião e oferecíamos o serviço de traslado até o aeroporto. Com o tempo fiquei sozinho com o empreendimento. Já que não era possível manter o serviço de traslado, optei por focar somente nas vendas de bilhetes aéreos. Para Roberto da Silva, agência de viagens é um bom empreendimento a ser montado em Rio das Pedras: – Já reparou na imensidão de gente que tem aqui? Todo negócio que investir dá certo. Já Antonio Claudio Rodrigues Soares, da IRTD, pondera: – Muita gente pensa que quando vendemos uma passagem de mil reais, por exemplo, temos todo esse lucro para a gente. Não é bem assim. Vendemos um serviço e somos comissionados por isso. Sendo assim não rende o suficiente para alcançar a independência financeira, mas conseguimos ter um salário digno para viver. O horário de funcionamento das empresas é das 9 às 21 horas de segunda a sexta, e sábados, das 9 às 14 horas.
FOTOS DE JULIO CESAR VIEIRA
LYA MUNIZ, A VOZ QUE SURPREENDE
AO TODO FORAM NOVE CONCORRENTES, QUE SE APRESENTARAM NESTA ORDEM:
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m clima de festa, a plateia lota o auditório, muuuuita energia da juventude era o que rolava durante o concurso. A meninada só ficava quieta, sem se expressar entre gritos, gestos, aplausos e assobios, durante as apresentações. Parecia auditório dos antigos Festivais da Canção, da “Dança dos Famosos”, do Faustão, ou do “Altas Horas”, do Serginho Groissman, mesmo quando eram apresentadas músicas cantadas em cultos de igrejas evangélicas. O projeto "Ponto de Cultura Caminho das Pedras" apoiou o evento ofertando o cenário, a luz e os troféus. A aluna que cantou música gospel Lya Muniz, interpretando "Jamais deixarei você" foi a vencedora do segundo concurso do “Festival de Novos Talentos”, organizado pela atriz e produtora Norma Magalhães, que trabalha como animadora cultural no Caic Euclydes da Cunha. O resultado do festival foi recebido com certa surpresa. A cantora mais aplaudida, Joyce Lourenço, vencedora do concurso anterior, cantou o louvor “Espírito Santo” e acabou ficando em terceiro lugar. A intérprete, que parecia ser a favorita, não conseguiu disfarçar a decepção. O segundo lugar foi para Cláudia Ferreira, que interpretou a canção “Descansarei”. Polêmicas à parte, a plateia foi abaixo, mesmo, com o anúncio do prêmio "revelação" dado aos intérpretes da música “Roar”, de Lia Rippi e Doug Hudson. Carismática, a vencedora Lya Muniz, cujo nome verdadeiro é Aline Muniz de Araujo, tem 16 anos e cursa a 8ª série do Ensino Fundamental. Um dos jurados, o produtor de eventos musicais Jefferson Luís, que já tratou shows da cantora Alcione, do Emilio Santiago entre outros, argumentou que Lya tem grande potencial e talento para vencer na carreira, dentro do gênero que escolheu. O corpo de jurados foi composto por Jefferson Luís (produtor de eventos), Lanna Rodrigues (cantora, compositora e multi instrumentista), Marcelo Veríssimo (professor de Geografia), Eliety Camargo (professora de Física e Matemática) e Vânia Lima (professora de Português e literatura).
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1 - Os concorrentes posam nos bastidores; 2 - Cláudia Ferreira; 3 - Joyce Lourenço; 4 - o corpo de jurados; 5 - Josefa Guimarães, diretora do Caic, Lya Muniz e Norma Magalhães
1 – “Espírito Santo” (autor desconhecido) intérpretes: Bruno Silva e Idiuvania Araujo 2 – “Roar” (Katy Perry) intérpretes: Lia Rippi e Doug Hudson; músicos: Angeliel, Maria Clara e Henrique 3 – “Não Para” (Anitta) intérprete: Stefany e o grupo As Atrevidas, Andressa, Kettelen e Andressa 4 – “Descansarei” (Jotta A) intérprete: Cláudia Ferreira 5 – “Acenda a Luz” (Girls) intérprete: Gabe Anart 6 – “Novo Mundo” (Beatriz e Isabella) intérpretes: Isabella e Wallace, músicos: Beatriz e Cristian 7 – “Jamais Deixarei Você” (Jean Domingues) intérprete: Lya Muniz 8 – “Espírito Santo” (autor desconhecido) intérprete: Joyce Lourenço 9 – “Força e Vitória” (Eliane Ribeiro) intérpretes: Jessica Gomes e Bruna Fernandes; músico: Eduardo
É um orgulho para nós, da Areinha, essa conquista e contemplar o sucesso do nosso esforço em campo retratado pelo jornal. Vou mandar fazer um quadro
Sou disciplinador. Aprendi com mestres como Leônidas, um craque como zagueiro, que nunca foi expulso, que foi campeão no América Mineiro e América do Rio antes de se consagrar no Botafogo e na seleção brasileira
7 RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
FOTOS DE JULIO CESAR VIEIRA
O DOMINGO DOS CAMPEÕES A
os poucos eles vão chegando à beira do campo favorito, o emblemático campo 3, localizado atrás do Supermarket, ao lado da mais bem frequentada área de lazer da nossa comunidade. Campo que, conforme contam o técnico Val e o capitão Elias, só traz boas recordações ao Juventude, o time da Areinha que acaba de conquistar o título de campeão do Solazer, o “Brasileirão” de Rio das Pedras, na primeira vez que disputou a competição contra 19 adversários, jogando no campo do Martelão, na Via Light, numa final inesquecível contra o Corinthians. Jogo que eles não se cansam de relembrar nos bate-papos e na contemplação do pôster publicado na página 8 do nosso A Voz de Rio das Pedras, uma novidade para quem se acostumou a ver sempre nos grandes jornais cariocas posteres dos gigantes Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. – É um orgulho para nós, da Areinha, essa conquista e contemplar o sucesso do nosso esforço em campo retratado pelo jornal. Vou mandar fazer um quadro – afirma Elias, zagueiro e capitão do time, um dos fundadores do Juventude juntamente com o craque dos gols de cabeça, Cabeça, e do técnico Val, amigos inseparáveis desde os tempos das peladas nos terrenos baldios da localidade onde moram e vivem, a Areinha. A conversa ia rolando animada mas teve de ser interrompida porque os outros jogadores, Cabeça e o artilheiro do time Maicon, já estão uniformizados para o amistoso comemorativo contra o time do Brejo. Surge então uma pergunta que se impõe: por que a camisa azul e preta em listras verticais, como as da Inter de Milão, em vez da verde e branca usada na final contra o Corinthians? – É porque essa foi nossa primeira camisa desde a fundação do time em 1998, no beco dos Genipapos e Embus, na Areinha.. Este ano, no Solazer, usamos três modelos de camisas: esta, que é o nosso uniforme número um; uma tricolor, laranja, azul e branca; e, finalmente, a verde e branca, com a qual nos sagramos campeões. Mas essa azul e preta tem muita história para nós. Com ela fomos a seis finais e ganhamos três títulos. Nós dependemos muito, como os outros times daqui, de patrocinadores para mantermos o nível das competições. Por isso é preciso ter opções de camisas, já que quando um jogo completo está lavando, temos de usar o outro. Nosso time é de gente que trabalha a semana inteira e que tem como diversão e obrigação jogar todos os domingos, seja em campeonatos, seja em amistosos. É por isso também que o prêmio do título, de R$ 9 mil, não é distribuído entre os jogadores, fica todo para o clube poder adquirir os equipamentos fundamentais – explica o capitão Elias. . O jogo com o Brejo foi mesmo um amistoso para relaxar, muito mais uma pelada dominical, muito diferente do que foi a batalha da final com o Corinthians. E o campeão, sem muito esforço, tal a sua superioridade técnica, meteu 3 a 0. A novidade é que Cabeça, dessa vez, não usou sua arma fatal e saiu sem marcar. – Ele é assim mesmo. Só faz gols nos jogos decisivos – disse rindo o técnico Val, antes de se dirigir com o grupo para mais um churrasco regado pelas tradicionais geladinhas na Rua dos Cajás, na Areinha.
PARA O JUVENTUDE A MELHOR COMEMORAÇÃO PELO TÍTULO DE 2013 FOI MATAR A SAUDADE DO CAMPO ONDE COMEÇOU SUA HISTÓRIA DE CONQUISTAS E DEPOIS CHURRASCO E MUITA CERVEJA NA AREINHA
A Rua dos Cajás na Areinha, transformou-se numa imensa mesa para o churrasco e as cervejas comemorativas da festa do primeiro domingo depois do título do Juventude, junto a seus familiares, amigos, tudo sob o comando do capitão Elias e do técnico Val
A ESCOLINHA DO PROFESSOR PEPETA FOTOS DE LAERTE GOMES
Antes da aula o professor Vagner Tadeu, o Vagner Pepeta, dos tempos do Botafogo em Marecha Hermes, dá as diretrizes do trabalho. Ao lado Pepeta e seus auxiliares
Se você tem até 18 anos incompletos, leva jeito para dominar uma bola com carinho, driblar, chutar, se possível com as duas, ou prefere só defender o gol de seu time e, mais adiante, sonha em ser jogador de futebol, ganhar a vida numa das profissões mais bem remuneradas, mais ambicionadas, mais badaladas do Planeta Terra, seus problemas acabaram. Para ajudá-lo a dar o pontapé inicial rumo ao estrelato, não deixe de procurar o espaço oferecido pela Escolinha de Futebol, mantida pela Associação de Moradores de Rio das Pedras (Amarp) em sua sede na Rua Nova, sob o controle administrativo de uma mulher que tem nome de craque: Neymar. E ao chegar ao campo, de grama sintética, muito bem cuidado e arrumado, você será recebido às segundas, quartas e sextasfeiras, das oito ao meio dia, pelo professor Vagner Tadeu, o Vagner Pepeta, há oito anos preparando e ensinando seus alunos o caminho do sucesso com a bola nos pés: – Fui jogador formado na base do Botafogo, em Marechal Hermes, onde moro até hoje. Fui bicampeão carioca juvenil (hoje chamados de juniores), cheguei ao time principal no final dos anos 1980, era titular da lateral esquerda na equipe dirigida pelo Valdir Espinosa, que foi campeã de 1989, quebrando um jejum de 20 anos sem título, mas me machuquei gravemente, fui operado e perdi o lugar para o Mazolinha, que veio do Volta Redonda. Depois de recuperado, voltei a jogar mas já não tinha o mesmo pique. Fiquei na reserva do Renato Martins, que era reserva de Branco, no Fluminense. Acabei indo para o Bangu e depois parei e me
formei em Educação Física. Hoje sou o professor aqui no Rio das Pedras e lá em Marechal Hermes – conta Pepeta, enquanto orienta os pupilos, com muita educação, mas com severidade na hora de cobrar: – Sou disciplinador. Aprendi com mestres como Leônidas, um craque como zagueiro, que nunca foi expulso, que foi campeão no América Mineiro e América do Rio antes de se consagrar no Botafogo e na seleção brasileira. Digo sempre para todos aqui na escolinha que talento é bom, mas para vencer no futebol, disciplina é indispensável. Já revelamos aqui na comunidade alguns bons jogadores para o Madureira, Boavista, Bangu. Daqui já saiu, nos anos 1990, o Iranildo, que fez sucesso no Madureira, e de lá saiu para ser campeão brasileiro pelo Botafogo, em 1995, para depois brilhar e virar ídolo no Flamengo e no Brasiliense. Quem sabe daqui não sairá um Garrincha, um Pelé, um Zico, um Reinaldo, um Neymar? É um sonho, mas para quem trabalha, quem sabe? – conclui. (José Antonio Gerheim)
COPA VERÃO DE RIO DAS PEDRAS - JOGOS DE IDA NOVA ESPERANÇA trocou o verde pelo roxo e amarelo para brigar pelo título inédito RIO, 7 DE NOVEMBRO DE 2013
CHAVE A
CHAVE B
São Caetano 0 x 1 Sertão Sport 1 x 1 Inter SNP (Só No Pelo) 1 x 0 Rua Larga Águia 0 x 1 Elite
Nova Esperança 1 x 0 Estrela Corinthians 2 x 0 Ceará Juventude 4 x 0 Caranguejo Porto 3 x 1 Palmeiras
A BOLA AGORA ROLA É NO BELO CENÁRIO DO CAMPO 3 FOTOS DE JULIO CESAR VIEIRA
"Se a camisinha estourou, Só no pelo; Se a mulher engravidou, Só no pelo".
Paulo, nº 10 do SNP, marcou o gol da vitória de 1 a 0 sobre o Rua Larga e comemorou mostrando (no detalhe) a frente da camisa com a foto do companheiro Nildo, morto em acidente de moto
A CORRIDA PELO TÍTULO DA COPA VERÃO 2013
O GOL MAIS BONITO Cabeça, o artilheiro do Juventude e autor, de cabeça, do gol do título do verde e branco da Areinha, no “Brasileirão” de Rio das Pedras, voltou a brilhar no jogo de ida do seu time na Copa de Verão, no domingo, 3 de novembro: marcou três dos quatro gols na goleada de 4 a 0 sobre o time do Caranguejo, deixando a classificação praticamente assegurada e a sensação de que é o maior favorito para ganhar mais um título. Mas, dos 16 gols da primeira rodada, o mais bonito, foi o do meia esquerda do Elite, Léo (foto), na vitória suada sobre o Águia por 1 a 0. Foi um chute perfeito da intermediária que entrou no canto e deu ao seu time a vantagem do empate no jogo de volta. Léo jogou o Solazer pelo Ceará, terceiro colocado. – Estava emprestado ao Ceará. Mas meu time mesmo é o Elite, que no ano que vem vai disputar o Solazer. Mas antes queremos ganhar o título aqui no Campo 3.Nosso time é bom e pode surpreender os favoritos Juventude e Corinthians – disse o jogador, de 26 anos.
SNP (SÓ NO PELO) está ganhando do Rua Larga: 1 a 0
ESTILO largou na frente contra o Águia, 1 a 0
ÁGUIA precisa reverter a vantagem do Estilo
SÃO CAETANO está em desvantagem contra o Sertão
RUA LARGA espera virar o jogo (0 a 1) com o SNP
CORINTHIANS abriu boa frente contra Ceará: 2 a 0
INTER saiu na frente, mas sofreu empate com o Sport(1 a 1)
SPORT - Gol de pênalti adiou decisão para o jogo de volta
PRÊMIOS E REGULAMENTO A 3ª Copa Verão de Rio das Pedras é disputada como é a Copa do Brasil, da CBF. Os 16 times inscritos (cada um paga R$ 359) foram divididos em duas chaves, cada um se enfrentando em jogos de ida (no domingo, 3 de novembro, e volta, no domingo 10 de novembro). Se houver igualdade de resultados, haverá disputa de pênaltis, cinco para cada lado e em caso de persistir o empate, cobranças alternadas até um errar uma cobrança. Na última e decisiva etapa, no domingo, 17 de novembro, os quatro finalistas da chave A e os quatro da chave B se enfrentam em dois jogos: vencedor do jogo 1 x vencedor do jogo 2 e vencedor do jogo 3 x vencedor do jogo 4. Os dois vencedores fazem um jogo que apontará o vencedor de cada chave. Os campeões de cada chave, A e B, fazem o jogo final, que apontará o campeão, que levará, além do troféu, o prêmio de R$1.500. O vice-campeão ficará com o troféu menor e o prêmio de R$ 600. Haverá ainda prêmios e troféus para o artilheiro e goleiro menos vazados (R$ 50) para cada.
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cenário do belo campo 3 de Rio das Pedras, que fica atrás e ao lado do Supermarket, estava perfeito: muito verde em volta, céu azul, sol forte já dando os ares do verão que se aproxima. Aos poucos, os jogadores dos times inscritos vão chegando: de carro , vans alugadas, motos,muitos de bicicletas e a maioria a pé mesmo. Nem o grande atraso, que o organizador do evento, Marquinho. promete não mais se repetirá nos domingos seguintes, tirou o humor dos jogadores, familiares e torcedores presentes. Afinal era domingo e domingo. dia de relaxar e curtir os prazeres da vida. Finalmente, a bola rola para o primeiro jogo. Em campo, o time de camisa azul, o São Caetano e o forte Sertão, time lá do alto do morro, que acaba vencendo por 1 a 0, gol de Bruno no segundo tempo, o que lhe dá a vantagem de só precisar empatar o jogo de volta e continuar sonhando com o título. Não sem antes, ares exaltados na disputa ferrenha, tudo quase terminar em briga geral. Mas com uma intervenção das cabeças menos quentes, a coisa acabou mesmo só entre alguns tapas e beijos. No segundo jogo, pela Chave A, muito equilibrado, Sport e Inter ficam no 1 a 1, o gol do Inter feito por Marcelo e o do Sport, por Joaquim, batendo pênalti. É no terceiro jogo que a festança explode e a todos contagia, a letra de versos irônicos é cantada por um time de bela camisa amarelo-ouro,ao entrar em campo: "se a camisinha estourou, só no pelo; se a mulher engravidou, só no pelo". Sim, SNP (abreviação de Só no Pelo) é o nome do time, que tem como destaque o meia esquerda Paulo, cuja camisa 10 trás na frente, em fundo branco, uma foto relembrando um companheiro de time, Nildo, de 22 anos, morto no ano passado num acidente de moto no Largo da Barra, que jogava com a camisa 9 do Só No Pelo. E, coisas do futebol, foi de Paulo o gol da vitória do seu time (1 a 0), dirigido pelo inquieto técnico Ricardo sobre o Rua Larga, do técnico Madri. A comemoração de Paulo mostrando a imagem de Nildo foi emocionante. O quarto jogo da tarde, ainda pela Chave A, entre Elite e Águia, foi marcado por um golaço de Leo, dando a vitória ao Elite por 1 a 0 e a vantagem do empate na volta. Enfim, é chegada a hora da chave B entrar em campo. E começa com o Nova Esperança, quarto colocado do “Brasileirão”, estreando nova camisa: no lugar da verde, uma amarela e cor de púrpura, muito bonita, mas ficando só na foto, sem jogar e ganhando por 1 a 0, segundo o regulamento, isso porque,pelo atraso inicial, o Estrela não pôde comparecer. Mas não foi eliminado e no próximo domingo, eles decidem quem continua na disputa. Já ao final da tarde e da maratona, estreias tranquilas dos dois maiores favoritos que, colocados na mesma chave B, não podem repetir a final do Solazer, apenas podendo se encontrar na decisão da chave: o vice campeão Corinthians marcou 2 a 0 no Ceará e o campeão Juventude massacrou o Caranguejo por 4 a 0, vantagens muito difíceis de serem revertidas. E para encerrar o domingo alegre e festivo do Campo 3, o Porto fez 3 a 1, no Palmeiras.