Quer ser colaborador de A VOZ DE RIO DAS PEDRAS? Faça contato por contato@avozderiodaspedras.com.br ENTREVISTA
“O Estado só investe em favela onde há tráfico.” PÁGINA 3 ANO I - N0 1 - RIO DE JANEIRO, 26 DE MAIO DE 2013
I N F O R M A Ç Ã O
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C I D A D A N I A
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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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EDITORIAL
AGORA OU NUNCA Sou um velho idealizador da constituição da Associação Comercial do Rio das Pedras. Estou convencido de que a nossa cidade passa por um raro momento de progresso e esplendor. Temos um prefeito jovem e dinâmico que está alinhado com o governador do Estado e a presidenta da República. Tal parceria quebrou uma histórica rotina de conflitos entre as três esferas da administração pública e os resultados são flagrantes. Vamos hospedar megaeventos como a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Está na hora de o Rio das Pedras virar bairro. É agora ou nunca! Convidei para fundar a nossa Associação Comercial dois legítimos empreendedores e interessados, que possuem terrenos e empreendimentos vizinhos a construir: Carlos Fernando Carvalho, cuja empresa Carvalho Hosken é responsável pela construção do que há de melhor na Barra da Tijuca, e Paulo Cesar Meirelles, da Construtora Santa Cecília, que com seu falecido pai, o inesquecível Cleto, construíram milhares de casas e especialmente a Cidade Ocidental, nos arredores de Brasília. Apresento-me dizendo que sou proprietário da empresa dona dos apartamentos vizinhos invadidos, cuja construção foi paralisada por essa mesma razão. Porém, já aprovadas pelo Município, brevemente as obras serão reiniciadas, construídos os demais apartamentos previstos no projeto original, mas adaptados para os dias de hoje. Um novo projeto de obras apresentado para análise à Prefeitura prevê um shopping center, cinemas, praça de alimentação, teatro, centro cívico, área para shows, hospital, consultórios, escritórios, escola técnica e universidade. Venho mantendo nesta comunidade o Núcleo da Cidadania, sob a coordenação da professora Claudia Franco Corrêa, minha colega na UniverCidade, cujo trabalho é conhecido de todos. Tive a oportunidade, nos últimos 15 anos, de conceder milhares de bolsas de estudo ao pessoal de Rio das Pedras, um benefício que pretendo continuar a outorgar se o novo dono da UniverCidade, reverendo Dr. Adenor Gonçalves dos Santos concordar. Obtive o apoio do presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Antenor Barros Leal, que colocou toda sua equipe à disposição para ajudar o pessoal do Rio das Pedras. Ronald Guimarães Levinsohn
Agora a gente tem voz FOTOS DE FÁBIO COSTA
A VOZ DE RIO DAS PEDRAS SAÚDA A COMUNIDADE E PEDE PASSAGEM. NO ABRE-ALAS, UMA CRIA NOSSA, A FILHINHA DA MORADORA STEPHAY DOS SANTOS, QUE EXIBE, COM SORRISO ESPONTÂNEO, O NÚMERO ZERO, CUJOS 5 MIL EXEMPLARES SE ESGOTARAM RAPIDAMENTE. DISTRIBUÍDO NO DIA DO TRABALHO, E RECEBIDO COM EXPRESSÕES DE ALEGRIA E ESPERANÇA - COMO REVELA REPORTAGEM NAS PÁGINAS 4 E 5 DESTA EDIÇÃO -, ESTE JORNAL É UM INSTRUMENTO ATRAVÉS DO QUAL VAMOS PODER SOLTAR A VOZ NA LUTA POR UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA E, PRINCIPALMENTE, PELO DIREITO À CIDADANIA.
A ‘PRETA LOURA’, SEUS PATRULHEIROS E O XERIFE DO LIXO
Comandante da Patrulhinha da Limpeza, a cabelereira Cleusa da Cruz Florença quer ganhar o jogo contra a sujeira de Rio das Pedras no apito. Ela está à frente de um grupo de crianças que sopra o pequeno instrumento quando flagra algum porcalhão jogando lixo na rua. A iniciativa da "Preta Loura", como é conhecida, ganhou a mídia e o reconhecimento do presidente da Comlurb, Vinícius Roriz, que a considera um exemplo para toda a cidade. PÁGINAS 6 e 7
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Perguntas contém questionário que é informatizado e são respondidas em um tablet.
Todas as informações são sigilosas. A pesquisa busca também estabelecer parcerias com entidades públicas visando promover as melhorias.
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2 RIO, 26 DE MAIO DE 2013
Fabrício defende a criação de uma espécie de subprefeitura local para dar um choque de ordem em Rio das Pedras, que não é favela, nem é bairro.
mil casos foram resolvidos desde que ele assumiu a presidência da associação
Esta comunidade me acolheu de braços abertos. Meu pai é nordestino e até pela minha origem me identifiquei de pronto com a vizinhança, predominantemente nordestina.
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Esse pessoal que vem do Nordeste vem para trabalhar, vencer na vida e não para. Só fecham o comércio deles quando tiram férias e vão visitar a terra.
Sou advogada, pós-graduada, com especialização em Direito Previdenciário. Tenho escritório há 10 anos
FOTO DE FABIO COSTA
FABRÍCIO JOSÉ DOS SANTOS
PORTAS ABERTAS PARA A CIDADANIA PESQUISADORES DO NÚCLEO DE CIDADANIA CONTAM COM A SIMPÁTICA E TRABALHADORA POPULAÇÃO PARA FAZER O MAIOR CENSO JÁ FEITO NUMA FAVELA DO BRASIL
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ocalizado na Rua Nova nº 105, loja 2, o Centro de Cidadania, mantido pelo Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), além de oferecer atendimento jurídico gratuito e mediação de conflitos a todos os moradores da comunidade, está realizando o maior Censo já feito em uma favela do Brasil. É um trabalho inovador, com o objetivo de
promover melhorias para da nossa comunidade. O Censo busca fazer uma radiografia local, identificando quais as maiores reclamações e sugestões de comerciantes e moradores, visando buscar soluções para que Rio das Pedras se torne um bairro com infraestrutura, saneamento básico, coleta de lixo, entrega de cartas, escolas de qualidade para as crianças, áreas de
lazer e dotada de aparelhamentos urbanos dignos de um bairro de verdade. Todas as moradias e estabelecimentos comerciais serão visitados. Logo, abra as portas de sua residência e de seu comércio para o pesquisador, que é identificado com camisa, boné e crachá da UniverCidade. Todas as informações são sigilosas. A pesquisa busca também estabelecer parcerias com entidades públicas visando promover as melhorias necessárias em Rio das Pedras. Alias, já está em andamento uma parceria da Prefeitura com o Centro de Cidadania para formalizar os nomes das ruas da comunidade, para que o morador, em breve, resida numa rua com nome e CEP. Ter endereço legalizado é o primeiro passo para o reconhecimento da comunidade como bairro. O questionário é informatizado e contém apenas 39 perguntas a serem respondidas em um tablet. Assim, a pesquisa não gastará mais do que 10 (dez) minutos do seu tempo. Colabore com essa iniciativa que pretende melhorar a vida na comunidade!
CONHEÇA ALGUNS DOS NOSSOS PESQUISADORES
DIA D CONTRA A GRIPE É UM SUCESSO! FOTOS DE FABIO COSTA
Clarisse e Janice (aplicando a vacina) aliaram eficiência e simpatia
No dia do trabalho, uma ação conjunta entre a CAP4 e a Prefeitura, batizada como Dia D Contra a Gripe, realiz o u aproximadamente Andréa (no alto), Viviane e Ana 350 vacinas em um orientaram os moradores posto montado na sede da Associação de Moradores. Coordenado por Andréa Souza, da CAP4, a iniciativa é mais uma entre tantas que visam trazer melhorias para nossa comunidade e bemestar para os moradores. O próximo alvo é o lixo.
ADMINISTRADOR DE ‘BARRACOS’
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izem os esportistas que há coisas que só acontecem com o Botafogo. Pois existem coisas que só acontecem em Rio das Pedras. Uma delas está presente na gestão de Fabrício José dos Santos, de 36 anos, cria da comunidade, à frente da associação dos moradores. Frequentemente, tem de administrar “barracos”. E não são os de madeira, comuns em favelas, mas problemas de briga de marido e mulher e conflitos entre vizinhos. E por quê? - Essa é a cultura local – explica Fabrício, que tem dado prioridade ao empenho em conscientizar a comunidade sobre a obediência aos seus direitos e deveres. Ao recepcionar nossa equipe, que foi entregar exemplares do número zero deste jornal, Fabrício revelou-se entusiasmado com a iniciativa da criação de um veículo que dê voz à comunidade e possa transformar-se num instrumento de pressão junto às autoridades para conquista das aspirações mais legítimas dos moradores: - Vejo várias comunidades serem transformadas em bairro e fico triste porque, aqui, o dever público não é cumprido. Rio das Pedras tem muita gente solidária, tem um povo trabalhador, altamente capacitado, guerreiro. São pessoas que não têm medo de encarar a realidade, por mais dura que seja. Merecia um tratamento mais digno por parte das autoridades. Acho que esse jornal vem preencher uma lacuna, ao dar ao povo daqui a oportunidade de se manifestar, de soltar a voz e expressar aquilo que tem dentro dele. Fabrício disse que há uma consistente cultura nordestina dentro da comunidade e que, por isso, a liderança comunitária tem de ser exercida atenta a essa peculiaridade, que está na raiz, na própria essência da maioria dos moradores. - Rio das Pedras sempre foi uma comunidade pacífica. É da tradição nordestina obediência à regra de “olho por olho, dente por dente”. Hoje vejo a necessidade de uma presença, ainda que não ostensiva, de segurança pública. Estou me referindo à questão da violência doméstica, que acaba fluindo para o meu gabinete. Não raro chega aqui uma mulher que brigou com o marido e foi agredida por ele. Ela não quer dar parte na delegacia. É a cultura dela. Seria mais fácil mandar para a delegacia resolver o problema, mas acabo me envolvendo e me transformando num administrador desses conflitos. Perguntado se são muitos os casos que têm resolvido, ele faz as contas por alto: - Desde que tomei posse, foram uns sete mil. Não é de espantar. Estou falando de uma comunidade com 167 mil habitantes, convivendo com problemas comuns a todas as grandes favelas. E bastou a reportagem percorrer a comunidade para constatar os problemas expostos a olhos vistos, como os próprios moradores revelam em depoimentos publicados nas páginas 4 e 5 desta edição. Por isso, Fabrício defende a criação de uma espécie de subprefeitura local para dar um choque de ordem em Rio das Pedras, que, como mostrado na edição anterior, convive com uma situação insólita: não é favela, nem é bairro.
A VOZ DE RIO DAS PEDRAS ENTREVISTA FABRÍCIO SANTOS, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES E AMIGOS DE RIO DAS PEDRAS
EXPEDIENTE DIRETOR-RESPONSÁVEL
Ricardo Gomes
Aziz Ahmed
ricardogomes@avozderiodaspedras.com.br
(Reg. 10.863 - MTPS)
FOTOGRAFIA
EDITORES
TRATAMENTO DE IMAGENS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Laerte Gomes
Eduardo Jardim CONSULTORA Cláudia Franco Corrêa
Impresso na Gráfica e Editora Jornal do Commercio
azizahmed@avozderiodaspedras.com.br Fábio Costa
www.avozderiodaspedras.com.br
Publicação mensal Tiragem: 20 mil exemplares
laertegomes@avozderiodaspedras.com.br
Uma publicação da Livraria e Editora Citibooks Ltda. CNPJ: 05.236.806/0001-5 Rua Jardim Botânico, 710, CEP 22.460-000 para a Associação Comercial do Rio das Pedras (em organização). Rua Nova 105 – Loja, Rio das Pedras
CLASSIFICADOS GRÁTIS! A partir dos próximos números, este jornal vai reservar espaço para que você, morador ou comerciante de Rio das Pedras, possa anunciar bens, serviços ou produtos que esteja disposto a alugar, vender ou, simplesmente, doar. Basta que seja um texto curto e grosso, que vamos publicar de graça. Se quiser "vender seu peixe", encaminhe o anúncio para o setor de classificados para o e-mail contato@avozderiodaspedras.com.br. APROVEITE!
Ela não é tipo mulherão, não tem o corpão sarado e nem o caminha com o glamour de uma modelo na passarela. Mas quando passeia por Rio das Pedras, literalmente, para o trânsito. Essa recepção de pop star reflete o respeito e o apreço conquistados com um trabalho de muita entrega e determinação. A reportagem andou pelas ruas com a advogada Daniela Moreira de Lima Neves, de 38 anos, e testemunhou, ao vivo e em cores, uma cumplicidade fraterna que mantém com a vizinhança e a distinta clientela. Ela não dá três passos sem ser parada para uma consulta breve, nem pode atravessar a rua sem que os carros parem, o motorista abra o vidro para cumprimentá-la efusivamente. Essa história começou há 12 anos, quando Daniela mudou-se para a comunidade para impedir que os filhos continuassem submetidos às leis do tráfico que dominava a favela do Vidigal, onde morava. Nesta entrevista A Voz de Rio das Pedras, diante da ausência do Estado em atender aos pleitos mais elementares, ela lembra que, no Rio de Janeiro, os governos federal estadual e municipal fazem tanta propaganda da união entre eles, mas esquecem Rio das Pedras. E bate pesado: “Por que não se constrói aqui uma Vila Olímpica, não se coloca equipamentos para a terceira idade? Os melhoramentos que temos são feitos com os recursos e a iniciativa dos nossos comerciantes e moradores. As autoridades só investem em favelas onde há tráfico.”
DANIELA MOREIRA DE LIMA NEVES - advogada especialista em Direito Previdenciário
FOTOS DE FABIO COSTA
ENTREVISTA
“O ESTADO SÓ INVESTE EM FAVELA ONDE HÁ TRÁFICO” Uma demanda muito intensa que atendo é de requerer segunda via de documentos, como certidões de nascimento, de casamento e de óbitos, que tiro em qualquer local do Brasil. As pessoas vêm do Nordeste e às vezes perdem a documentação ou são furtadas ou destruídas pelas inundações. Não cobro nada dessa gente, apenas as custas.
A Voz de Rio das Pedras – Qual a sua história nesta comunidade? Daniela – Vim para Rio das Pedras buscando nova opção para residir. Morava de aluguel no Vidigal, onde nasci. Tinha dois filhos e a relação com o tráfico local estava insustentável. O tráfico era invasivo na vida da comunidade e isso me incomodava profundamente. Sou uma pessoa politizada e observei que meus filhos não estavam tendo a infância que tive lá. Aqui você reencontrou o ambiente que procurava? - Esta comunidade me acolheu de braços abertos. Meu pai é nordestino e até pela minha origem me identifiquei de pronto com a vizinhança, predominantemente nordestina. Qual a sua formação e como ela ajudou você a se integrar na comunidade? - Sou advogada, pós-graduada, com especialização em Direito Previdenciário. Tenho escritório há 10 anos na Estrada de Jacarepaguá,
3145-A, Rua 5, casa 4, onde também moro.E lá atendo muita gente. Qual a principal demanda da sua clientela? - Atendo basicamente pessoas interessadas em requerer aposentadoria, pensão por morte, benefícios assistenciais. Toda demanda de aposentadoria voltada para essa área da Previdência é comigo mesmo. Também presto serviços de consultoria, tanto para pessoa física quanto ju-
FOTO DE FABIO COSTA
CEDAE TAMBÉM É GRANDE VILÃ
Além dos casos específicos da sua especialidade, você atende outros tipos de causas? - Na realidade, acabo atendendo causas de guarda e tutela de família, problemas de inventários. Dou assistência à lavratura de escrituras de compra e venda de imóveis da comunidade.
Por que só cobra as custas e não os honorários também? - É uma política de boa vizinhança, uma estratégia que vem dando resultado ao criar uma relação de afetividade e confiança com a clientela. Ao não cobrar honorários acabo fidelizando o cliente e ele passa a ser meu melhor instrumento de propaganda e marketing, recomendando meus serviços a amigos e parentes.
Como você avalia esse fenômeno? - O que se constata é uma gama inesgotável de criação de novos empreendimentos na comunidade. Isso facilita muito a vida dos moradores. Rio das Pedras mantém-se viva, cheia de energia, dia e noite. A qualquer momento você pode comer um cachorro quente, uma sopa, uma carne de sol, um baião de dois, um sushi ou sushimi, um variado cardápio é encontrado na comunidade. Esse pessoal que vem do Nordeste vem para trabalhar, vencer na vida e não para. Só fecham o comércio deles quando tiram férias e vão visitar a terra. Aí deixam o estabelecimento fechado e vão à luta, como grandes guerreiros.
Rio das Pedras continua a receber novos moradores? - Toda semana chega aqui um ônibus lotado, procedente do Ceará. Ainda existe muito êxodo da população do interior para as grandes cida-
Esse é o perfil do imigrante, do morador? - É. São pessoas de caráter, trabalhadores e muito corretos. Aqui ainda vale os acordos fechados pelo fio do bigode.
MUTIRÃO DA LIMPEZA
OPORTUNIDADE DE OURO PARA O ESTADO SE FIRMAR
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ascidos e criados em Rio das Pedras, Ercílio de Oliveira Alonso, de 49 anos, e Danilo de Oliveira Alonso, de 46, apontam também a Cedae como uma das grandes vilãs da comunidade. E com carradas de razão. Apontando um buraco jorrando água, Ercílio desabafa: - Esse vazamento da Cedae existe há quatro anos e ninguém nunca fez nada, tomou providência alguma. Indignado, Danilo dá o tom da falta de respeito e da indiferença das autoridades para com os moradores, acrescentando: - Fomos à Cedae do Tanque. Eles nos ouviram, disseram que resolveriam o problema e nada. O problema está aí, como vocês podem constatar. Conclusão: além de não dispor de uma estrutura, ainda que precária de tratamento de esgotos, que correm pelas ruas a céu aberto, Rio das Pedras padece com o desprezo da Cedae, que não providencia nem mesmo o conserto de uma tubulação rompida, desperdiçando água e criando transtornos para os pedestres e prejuízos no abastecimento.
rídica, e as causas acabam se misturando, porque na maior parte dos casos o comerciante e dono do negócio é morador ao mesmo tempo.
des, a despeito do programa Bolsa-Família, que tende a inibir esse fluxo migratório.
Será que o vazamento vai fazer aniversário de cinco anos?
No próximo dia 8 de junho, a partir das 9h, na praça principal em frente a Associação dos Moradores, o Estado vai ter uma oportunidade única de mudar a opinião da nossa Daniela (que cravou o que está no título acima) e da maioria dos moradores da nossa comunidade, que não aguentam mais o descaso do poder público. Idealizado pela Associação de Moradores e Amigos de Rio das Pedras, o evento é uma parceria com a Prefeitura com diversos braços de atuação, como Secretaria de Conservação, Defesa Civil, Light entre outros. Segundo Alan Werneck, vice-presidente da associação, ocorrerão ações como retirada de carros abandonados, troca de bueiros, lâmpadas dos postes e buracos nas ruas. - Queremos mostrar que os problemas serão solucionados. O objetivo é aproximar o Estado da nossa comunidade - diz Alan, convicto de que o evento não será uma ação pontual e sim um primeiro passo para que a Prefeitura e seus diversos órgãos se instalem de vez por aqui. Alan vai aproveitar o evento para apresentar um projeto que vai mudar a cara das nossas ruas. - É uma grande parceria com os moradores para criar consciência urbanística através da valorização da casa de cada morador e do entorno - afirma esperançoso por um lugar à altura dos seus moradores. O piloto será na Vila Joel com a Bareta.
A Light veio, colocou o cabo para o comércio e cortou dos moradores. E a Light é na Freguesia, fica difícil se deslocar até lá. Tinha que haver um escritório aqui. Manoel Ferreira dos Santos, pedreiro
Falta administração para arrumar a casa. Ninguém faz nada por ninguém. É preciso resgatar a dignidade e a cidadania dos moradores daqui.” Francisco Januário, motorista
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O subprefeito veio aqui, bateu foto, disse que ia resolver e nada! Eli Lessa, comerciante
Nossa! Gostei muito! A gente estava precisando disso.” Roberta Bernardo, comerciária
RIO, 26 DE MAIODE 2013
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Era o que a gente esperava para lutar para que isso aqui fique 100%.” Wilson de Souza, barbeiro
O jornal foi muito bem recebido pela nossa comunidade. Dos mais jovens e descolados, passando pelos adultos e chegando aos mais idosos, todos afirmaram que Rio das Pedras precisava de um veículo forte e que os representasse com legitimidade. Um jornal que tivesse a voz da comunidade para fazer valer os seus direitos junto às autoridades.
Precisamos de água encanada. Os ’gatos’ também incomodam. Antônio Rodrigues, operador de máquinas
EQUIPE DE DISTRIBUIÇÃO Essa é a galera que distribuiu a nossa edição de número zero. Saibam os nomes dessa verdadeira seleção brasileira. Sandro Lopes da Silva, Dirceu da Silva Gouveia Neto, Márcio Baçalo Rodrigues, Rísia Batista Vieira, Rosilene Bispo Oliveira, Celmara Cardoso dos Santos, Márcia Ilda da Silva Gomes, Luzinete Nogueira Gama, Rosilene Araújo de Brito, Rosinete Cardoso dos Santos Silva e Patrícia dos
RIO DAS PEDRAS AGORA TEM VOZ Jurandir Alcides, 38, cria da região, é vendedor
Stephany dos Santos, 23, cria de RDP, estudante
"A Light não vem aqui. Tem morador vendendo casa por causa das enchentes e dessa situação (lixo, esgoto e os gatos)."
"A limpeza é horrível! O esgoto a céu aberto exala esse cheiro e mais oportunidades para as pessoas é o que precisamos aqui."
Maria Helena Morais Macedo, 50 anos, mora há mais de 35 na comunidade e faz parte da Igreja Católica da região "Amo este lugar, mas sinto vergonha de tanta irregularidade. É muito lixo, mas não dá pra culpar só o governo, é preciso conscientizar a população."
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um dia iluminado pelo sol e pelo brilho do olhar receptivo dos moradores, dez mil exemplares do número zero deste jornal foram distribuídos em Rio das Pedras. Grata pela oportunidade de ter um veículo para repercutir sua voz, a comunidade é unânime em reclamar do precário fornecimento de energia elétrica por parte da Light. O comerciante Marquezam Ferreira dos Santos, há sete anos mantendo um bar numa das vielas, resume em poucas palavras o principal problema: - Sou caseiro, não fico observando muitas coisas. Acho os problemas daqui iguais aos de todas as outras favelas, mas um se destaca, que é o da energia elétrica. Enquanto nossa equipe percorria as ruas estreitas distribuindo o jornal e ouvindo o burburinho das conversas carregadas pelo forte sotaque nordestino e desviando do intenso tráfego de motocicletas, dos buracos, dos ralos jorrando esgoto fedorento e evitando bater a cabeça no emaranhado de fios, o barbeiro Wilson de Souza, que desde 1996 toca a barbearia com mais três colegas, abriu o exemplar e afirmou que ficava contente com a oportunidade de ver um veículo disposto a dar voz à vizinhança, que é pacata, amiga e sofrida. E completou otimista:
Antonio Rodrigues, operador de máquinas "O saneamento básico é urgente aqui, precisamos de água encanada. Os gatos também incomodam."
- Era o que a gente esperava para lutar para que isso aqui fique 100%. Já Roberta Bernardo, de 19 anos, que há três veio da Paraíba e empregou-se como comerciária numa das lojas do local, adora viver na comunidade, mas é outra que foca a sua crítica no problema da falta de luz. Para Roberta, um jornal comunitário “é super-bem-vindo”. Ao folhear com atenção o número zero, ler as matérias principais, exclamou: - Nossa! Gostei muito! A gente estava precisando disso. A mesma festiva recepção ao nosso jornal foi manifestada por outra jovem, a estudante Ethiene Silva, de 16 anos, cria da favela, que até mos trou interesse em colaborar com A Voz de Rio das Pedrasescrevendo matérias expondo suas observações pessoais sobre o comportamento e os anseios dos vizinhos. Católica, frequentadora assídua da paróquia local, de São João Batista, ela elogia o trabalho do padre Marcos Vinicius e fala que está auxiliando num mutirão para reunir o maior número de jovens da comunidade para participar da Jornada Mundial da Juventude, organizada pela Arquidiocese do Rio e que acontece de 23 a 28 de julho na cidade, com a presença confirmada do Papa Francisco. Outro que saudou a nossa chegada foi o motorista Francisco Januário, de 67 anos e há 11 morador de Rio das Pedras. Ele faz coro à reclamação geral: - O problema aqui é a luz. E não vemos ela brilhar no fim
Catiana da Silva, 30 anos, veio da Paraíba há 7 anos
Maria Mendes, moradora há 20 anos
Antonio Hott, 21, morador da Muzema, trabalha com refrigeração "A Voz de Rio das Pedras tem que informar o que acontece de verdade. A violência que está ocorrendo e denunciar o saneamento."
"O esgoto está impossível! Depois das obras da rua Goiás piorou."
Angela Maria e Marcondes Guilherme, moradores há 6 anos "Tem muita enchente, o aluguel é muito caro e não tem nada de bom."
Rafael Henquire, 18, morador da Freguesia
Rafael Balbino, 32, nascido em Rio das Pedras, trabalha com manutenção de máquinas "Antigamente não tinha nada disso (fiação, enchente e lixo espalhado) aqui.”
do túnel - ironiza. Francisco também pegou pesado ao reclamar da ausência do poder público na comunidade que, segundo ele, é carente de uma autoridade que faça o meio de campo entre os moradores e as diversas repartições, prestadoras serviços e concessionárias para dar um choque de ordem no visível caos urbano que, a cada dia, se agrava. - Falta administração para arrumar a casa. Ninguém faz nada por ninguém. É preciso resgatar a dignidade e a cidadania dos moradores daqui – completou Francisco. Exibindo uma conta da Light paga (código de instalação 041317066), no valor de R$ 32,24, o aposentado João Oliveira, de 72 anos, levou a reportagem até a pequena varanda da sua casa e mostrou o relógio de luz com o corte feito pela concessionária. Em pleno feriado do Dia do Trabalho, estava sem o fornecimento de energia, apesar de estar em dia com o pagamento das contas. O operador de máquinas Antônio Rodrigues coloca o saneamento básico como primeiro na lista de prioridades, e afirma: - Precisamos de água encanada. Os ’gatos’ também incomodam – diz Antônio, explicando que está se referindo aos gatos de luz e não aos felinos de verdade, porque esses não conseguiriam ocupar a comunidade, infestada de ratos (também de verdade). Para a estudante Stephay dos Santos, de 23 anos, cria da comunidade, a sujeira, com lixo espalhado por todos os
"A lama, o esgoto, os ratos e o lixo espalhado são insuportáveis. A água que vem da rua Nova vai para os becos e inunda tudo."
Izabel do Açougue, "O esgoto absurdo, os gatos e, principalmente, o lixo." lados, é um cenário horrível na rotina da favela. Ao lado da filha (que aparece na capa deste número) ela tapa o nariz e reclama: - O esgoto a céu aberto exala esse cheiro. O que mais precisamos? De mais oportunidades para as pessoas daqui. Outro cria de Rio das Pedras, Rafael Balbino, de 32 anos, que trabalha em manutenção de máquinas, aponta para a reportagem o emaranhado de fios pendurados assustadoramente sobre as vielas, o lixo espalhado pelas ruas e calçadas, o esgoto vazando dos ralos e bueiros, e lembra que a comunidade ainda padece com o problema das enchentes: - Antigamente não tinha nada disso aqui – afirma Raimundo, com certa nostalgia. O vendedor Jurandir Alcides, de 38 anos, também cria da região, faz coro às reclamações recorrentes contra a Light, dizendo que a concessionária não aparece por lá. E desabafa: - Tem morador vendendo casa por causa das enchentes e dessa situação de sujeiras, esgoto e os ‘gatos’ de energia, que transformam isso aqui numa bomba prestes a explodir. Par a Natanael dos Santos, de 50 anos e há 35 morador no local, “no Areal a situação é ainda pior”. E explica por quê: - Fizeram uma obra aqui de encanamento que piorou tudo. Quando chove a água corre da Rua Nova para as ruas menores e enche tudo. O morador da Muzena Antonio Hott, de 21 anos, que trabalha em refrigeração, recebe com esperança o nosso jornal,
"Venho encontrar meus amigos pra andar de skate no condomínio, mas aqui não tem um espaço só pra gente. Temos que andar na rua e os moradores reclamam. E olha que tem mais de 50 pessoas que anda aqui..."
Cleide Oliveira, 23 anos, estudante, mora em RDP desde que nasceu "O excesso de fiação que é um perigo, o lixo e o som alto em todas as casas também é insuportável. Todo mundo quer colocar o som mais alto que o outro, cada um com um estilo de música diferente."
elogia a qualidade gráfica e o colorido e sugere: - A Voz de Rio das Pedras tem que informar o que acontece de verdade. Noticiar a violência que está ocorrendo aqui e denunciar a falta de saneamento que, como mostra esta reportagem de vocês (disse mostrando o número zero), transforma Rio das Pedras na “Veneza do cocô”. Enquanto Izabel do Açougue reclama do “esgoto absurdo, dos gatos e, principalmente, do lixo”, Rafael Henquire, de 18 anos, morador da Freguesia, tem uma queixa particcular: - Venho encontrar meus amigos pra andar de skate no condomínio, mas aqui não tem um espaço só pra gente. Temos que andar na rua e os moradores reclamam. E olha que tem mais de 50 pessoas que anda aqui...” Moradores há seis anos na comunidade, Angela Maria e Marcondes Guilherme dizem que”aqui tem muita enchente, o aluguel é muito caro e não há nada de bom”, ao mesmo tempo em que a comerciante Eli Lessa, que mora na Ilha do Governador, mas frequenta Rio das Pedras há 15 anos, faz uma observação pertinente: - O subprefeito veio aqui, bateu foto, disse que ia resolver e... nada! Moradora há 20 anos,Maria Mandes reclama da lama, do esgoto, dos ratos e do lixo espalhado: - São insuportáveis. A água que vem da Rua Nova vai para os becos e inunda tudo.
O pedreiro Manoel Ferreira dos Santos, de 54 anos, morador há mais de 30, pega pesado: - A Light veio, colocou o cabo para o comércio e cortou dos moradores. E a Light é na Freguesia, fica difícil deslocar até lá. Tinha que haver um escritório aqui. Já Catiana da Silva, de 30 anos, veio da Paraíba há sete, e não faz por menos: - O esgoto está insuportável! Depois das obras da Rua Goiás, piorou. E muito. Uma relação de amor e ódio com a comunidade, onde mora há mais de 35, é revelada no desabafo de Maria Helena Moraes Macedo, de 50 anos, frequentadora assídua da Igreja Católica da região: - Amo este lugar, mas sinto vergonha de tanta irregularidade. É muito lixo, mas não dá pra culpar só o governo. É preciso conscientizar a população. Com um exemplar do jornal nas mãos, que considera muito bem-vindo para a comunidade, a estudante Cleide Oliveira, de 23 anos, mora em RDP desde que nasceu e faz se diagnóstico: - O excesso de fiação é um perigo. O lixo e o som alto em todas as casas também são insuportáveis. Todo mundo quer colocar o som mais alto do que o outro, cada um com um estilo de música diferente. Um horror. A solução seria isso aqui virar bairro, contar com a presença efetiva do Estado e resgatar a nossa cidadania.
É um ciclo vicioso. A população suja, o lixo se acumula, fede e quando chove invade as casas e então eles procuram o poder público em busca de auxílio-moradia, aluguel social. O governo dá, mas não conscientiza e começa tudo outra vez.”
Depois da mudança de direção da Comlurb, os horários da coleta foram modificados e isso desestruturou todo o condicionamento que Cleusa já havia conseguido junto à população para colocar o lixo nos horários corretos.
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Seria o ideal que o projeto da Patrulhinha funcionasse em todas as escolas porque são os filhos que despertam a consciências nos adultos.”
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É um excelente exemplo (a Patrulhinha da Limpeza) de mobilização da sociedade com a questão do lixo. Esta iniciativa entendeu o espírito de como devemos lidar com o lixo, onde cada cidadão é responsável pela correta destinação do resíduo que produz.”
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FOTOS DE FABIO COSTA
DE VINICIUS RORIZ, PRESIDENTE DA COMLURB, À COMUNIDADE
ATAQUE CONTRA O LIXO
seria convidada pouco depois para ser parceira da nossa A Voz de Rio das Pedras para a ampliação do projeto. É isso aí galera, agora é A Voz de Rio das Pedras e Patrulhinha da Limpeza juntos para abalar as estruturas dos porcos de plantão, mas com muito bom humor, promovendo ações que estimulem a nossa comunidade a acabar com esse aspecto que tanto nos envergonha. Para Cleusa – e para nós também – uma das coisas que mais chamam a atenção é que o lixo é uma das maiores reclamações dos moradores, mas são eles mesmo que sujam as nossas ruas. A Cleusa explica. - É um ciclo vicioso. A população suja, o lixo se acumula, fede e quando chove invade as casas e então eles procuram o poder público em busca de auxílio-moradia, aluguel social. O governo dá, mas não conscientiza e começa tudo outra vez – desabafa, com a voz firme e o olhar brilhante. Essa imagem é tão marcante que Cleusa resolveu encenar uma peça que retrata exatamente essa relação do estado com a população: - Estou montando uma peça no Caíque que mostra didaticamente essa relação improdutiva do estado com a população – explica, acrescentando que, ainda assim, após as incursões com os patrulheiros pelas ruas do Areal 1, que é a parte mais crítica, os resultados já começam a aparecer de forma lenta: - Hoje eles estão mais conscientes - completa, exibindo o permanente sorriso de esperança. Ao contrário do que afirmou a historiadora e socióloga Dulce Pandolfi na reportagem que alçou Cleusa a celebridade, na qual Dulce avalia que as ações são positivas, mas não substituem a ação do estado, nossa "Preta Loura" vê muito mais eficácia se as ações partirem da base, dos moradores, “porque eles são o instrumento de pressão legítimo frente ao estado ausente”. Pior do que a ausência do estado é a sua falta de sensibilidade com as iniciativas da população, como o projeto da nossa Cleusa. Segundo ela, depois da mudança de direção da Comlurb, os horários da coleta foram modificados e isso desestruturou todo o condicionamento que ela
COM MUITA GARRA E AMOR NO CORAÇÃO, CLEUSA FALOU COM A NOSSA EQUIPE SOBRE SEUS PROJETOS E O SEU MAIOR SONHO
já havia conseguido junto à população para colocar o lixo nos horários corretos: - Era um tal de gente batendo na minha porta reclamando que a Comlurb não tinha passado, que estava fedendo a chorume, foi um caos", recorda. Nossa atacante não se faz de coitada e também ataca o mau exemplo da população que insiste em jogar o lixo fora dos horários estipulados: - Se não tem nenhuma bolsa ninguém joga o lixo. Mas se um joga todo mundo começa a jogar e fica esse monte de lixo pelas ruas que nos envergonha – queixa-se. Cleusa ataca e contra-ataca, dessa vez com críticas à falta de placas informativas com os horários de coleta do lixo, que para ela teriam tripla função. Além da informação, serviriam como inibidoras das ações dos maleducados que insistem em sujar a nossa comunidade, que já teve o título de mais limpa da cidade e hoje é esse cenário vergonhoso. E, por último, cumpririam a função de informar uma população que mudou muito o seu perfil. Ela observa que hoje a rotatividade dos moradores é enorme e a si-
nalização serviria para educar os recém-chegados que não têm a mesma cultura dos moradores históricos, e aponta seu canhão para a própria imprensa que, segundo ela, da mesma forma que é maravilhosa também pode ser horrorosa: - Depois que o Tim Lopes foi assassinado uma reportagem do “Globo Repórter” mostrou Rio das Pedras como o lugar perfeito e no outro dia tinha fila de gente querendo alugar casa aqui. Com o aumento da população, a comunidade ficou com apenas três estações de coleta de lixo que Cleusa afirma serem insuficientes. Azul, Areal 1 e Pontal não dão conta da gigantesca demanda de lixo. Na sua avaliação, só no Areal deveria ter mais duas estações e a existente não deveria funcionar onde fica atualmente: - Não pode ter uma estação de lixo no meio das casas. Ali devia ser uma praça para as crianças – afirma, chateada, e emenda outro problema: - Na Engenheiro Souza Filho existem muitos camelôs. Eles montam as barracas, vendem seus produtos, sujam toda a rua e vão embora deixando o aspecto da rua horrível, conta, acrescentando que já conversou com os camelôs e afirma que, em frente à Igreja Universal está limpo, mas que do outro lado continua igual. Ou seja, sujo! A defensora ardorosa da nossa comunidade parte mais uma vez para o ataque e diz que Rio das Pe-
dras é injustiçada por não ter apoio do Estado como as comunidades que têm tráfico ou UPPs. Segundo Cleusa, “como aqui não tem uma coisa nem outra (tráfico e UPP), não recebemos a menor atenção”. Ela conta que certa vez foi a um programa de seleção de projetos que contemplaria diversas comunidades e só chamavam representante do Alemão e da Rocinha até que ela não resistiu e perguntou por que não chamavam Rio das Pedras, e ela recebeu o desprezo como resposta. Ao contrário do que aconteceria com qualquer outro, esse tipo de postura só alimenta a vontade dela de lutar por nossa comunidade. Provocada pela equipe do jornal, Cleusa chorou quando perguntamos qual era o seu sonho. Para quem não sabe, é a retomada do projeto “A cara do Brasil”, que consiste em 21 atividades integradas, que vão da prevenção à alfabetização, já teve o patrocínio da Casa da Moeda e funcionou por doze anos, terminando em 2009. - É o meu sonho voltar com ele – diz, com os olhos cheios de lágrimas, como quem ao mesmo tempo sente saudades, mas mantém aquela ponta de esperança que ele pode estar mais perto de ser retomado que ela imagina. A Patrulhinha da Limpeza também faz parte desse amplo projeto que Cleusa sonha ver realizado simultaneamente em todas as escolas públicas e particulares da nossa comunidade: - Seria o ideal que ele funcionasse em todas as escolas porque são os filhos que despertam a consciências nos adultos - relata com a voz embargada e com os olhos ainda mais marejados de esperança em ver “A cara do Brasil” servir de modelo para outras comunidades, ressaltando que precisa de apoio com espaço e recursos, sem se dar conta de que essa mulher que só estudou até o primeiro ano do segundo grau, é uma agente transformadora do mais alto nível e que já está com o futuro do seus sonhos mais encaminhados do que imagina. Afinal de contas, Cleusa da Cruz Florença, a “Preta Loura” é A VOZ DE RIO DAS PEDRAS.
FOTO COMLURB / DIVULGAÇÃO
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o dia 10 de maio, Cleusa da Cruz Florença virou mais uma celebridade instantânea produzida pelos diversos veículos de comunicação do Brasil ao aparecer em um dos maiores jornais do país. Desde então inúmeros jornais, rádios, revistas, sites e emissoras de televisão a procuraram para conhecer a "Preta Loura" que milita pela causa contra o lixo nas ruas, vielas e becos da nossa comunidade com a sua Patrulhinha da Limpeza. Porém, para nós, que a conhecemos há 20 anos, a luta e o sonho de Cleusa, de 45 anos, começaram bem antes de uma matéria de jornal. Ela chegou ao Rio, vinda de Goiás, com um desejo igual ao de muitos jovens. Queria ser jogadora de futebol. Chegou a jogar no Bangu em 1984, como atacante, mas quis o destino que a menina se realizasse em outro campo ainda mais difícil que os de futebol. O da cidadania. Se trabalhar com cidadania em um lugar como o nosso, onde somos privados de diversas formas de acesso aos elementos mais básicos como água, esgoto, lixo e luz já é difícil, imagina conciliando com a agitação do seu salão de beleza “Charme da Cor”. Cleusa divide o trato nas cabeças dos moradores e não moradores – como a atriz Cris Viana e o músico Diogo Nogueira –, com a amiga Cilene há 19 anos e com a barraca do marido, que vende os famosos "pastéis de tudo", compostos de variados sabores em um mesmo pastel, que ganharam fama em RP pela qualidade do rango, mas também porque o marido exige que ela fique lá para atrair a clientela: - Às vezes eu tô morta, cansada igual a um zumbi, mas meu marido pede que eu fique porque senão não para ninguém na barraca - conta rindo com a voz firme e ao mesmo tempo descontraída. É com essa mesma dedicação que Cleusa desenvolve o trabalho voluntário da Patrulhinha da Limpeza, que funciona todo sábado pelas nossas ruas tão mal cuidadas por nossa população. É um projeto que deveria ser exemplo em todas as comunidades e bairros do Brasil por ser feito em parceria com crianças, que Cleusa entende ser o público adequado para inserir consciência nos adultos e por ser o futuro da nossa Rio das Pedras. E foi uma criança, a sua filha, que a inspirou a começar o projeto, quando a interrompeu numa conversa com amigos sobre a questão do lixo que já a incomodava por causa de reportagens que classificavam a nossa comunidade como a mais suja da cidade. Ao contar que uma professora disse que existem países que prendem quem joga o lixo no chão, mandou na lata da mãe: - Por que a senhora não faz isso também? Defensora ferrenha da nossa comunidade, a “Preta Loura” não pensou duas vezes. - Aquilo mexeu muito comigo. Se falar mal daqui já é comprar briga comigo, imagina ouvir isso da própria filha? – recorda-se com orgulho da sua atitude. Ela arregaçou as mangas, conseguiu com o pastor de sua igreja o espaço, correu atrás de auxílio com a Defesa Civil para a capacitação da criançada e foi pra rua irradiar consciência cidadã sobre a questão do lixo, que é uma das piores mazelas de RP. A prefeitura também cedeu panfletos explicando os horários de colheita do lixo. Ela lamenta: - Aqui é a única comunidade na qual a Comlurb passa de segunda a segunda, duas vezes ao dia. Era para ser modelo, mas é o contrário. O projeto, que fez 1 ano agora, dia 25 de maio, já teve 100 crianças participando e hoje conta com apenas 30. Um ponto fundamental do projeto é a contrapartida que Cleusa exige das crianças que querem participar dele. Não vale a pena estudar, tem que ter boas notas e, principalmente, cumprir o dever de obediência aos pais. - É custoso por causa do lanche, uniforme e água – relata, ainda sem saber que, ao dar essa declaração,
“SIGAM O EXEMPLO DESSAS CRIANÇAS”
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e o exemplo vem de casa, a Comlurb está em boas mãos. O presidente da empresa, o carioca Carlos Vinicius de Sá Roriz, de 43 anos, tem obsessão por limpeza. Formado em Economia pela UFRJ e com mestrado em Engenharia de Produção, pela Coppe-UFRJ, ele atuou durante 12 anos em várias áreas da Companhia Cervejaria Brahma e da Ambev. Vinha dirigindo a própria empresa de consultoria, quando assumiu o cargo de diretor de Gestão e membro do Conselho de Administração da IMX Esportes e Entretenimento, do Grupo EBX, até aceitar o desafio de presidir a empresa carioca de limpeza urbana, Antenado nos problemas da comunidade, na qual a Comlurb fará um mutirão de limpeza no próximo dia 8 de junho, ele nos concedeu a seguinte entrevista:
Vinicius - Sim conhecemos. E achamos uma excelente iniciativa.
- É um excelente exemplo de mobilização da sociedade com a questão do lixo. Esta iniciativa entendeu o espírito de como devemos lidar com o lixo, onde cada cidadão é responsável pela correta destinação do resíduo que produz.
- Apoiamos com conscientização ambiental com nossa equipe do qual faz parte o grupo de samba “Chegando de Surpresa”, o gari Renato Sorriso e outros, e também com apoio operacional para eventos de limpeza e mutirões.
- São 40 garis em dois turnos, cinco pontos com caçambas grandes, quatro bases com duas caixas compactadoras cada e uma para receber
resíduo de construção civil e entulho. E mais: um caminhão satélite, um compactador de grande porte, um caminhão, dois caminhões basculantes, uma pá mecânica e um minitrator compactador, todos operando em dois turnos ou de 7h às 19h.
- São retiradas, em média, 110 toneladas por dia.
- Pode sim e estamos já fazendo diagnóstico para melhorar a logística por lá. Faremos uma ação de limpeza e mutirão, apoiada pelo nosso grupo de conscientização ambiental no próximo dia 8. Ainda está na fase de planejamento mais tem tudo para acontecer.
- Primeiro é se conscientizar de que destinar o lixo corretamente é uma responsabilidade de cada cidadão. Outro seria exatamente seguir o exemplo das crianças da patrulhinha e cobrar dos vizinhos a atitude correta.
Os moradores Elias Pereira e Geraldo varrem a rua todos os dias. E ainda regam as plantas. Mereciam Medalha de Ouro pelo exemplo, ao contrário de muitos moradores desprovidos do espírito comunitário, que sujam as ruas. Quando um vê o outro jogar um saco de lixo no chão, faz o mesmo, e assim começa a formar um lixão. Gabriela Ramos,dona de agência de viagens
Os microempresários também defendem a criação de um clínica de família que possa atender a maioria da população. A que existe, só beneficia uma pequena parcela de moradores. Também não existe um posto de saúde equipado à altura para atender uma população tão numerosa. RIO, 26 DE MAIO DE 2013
NOSSOS EMPREENDEDORES MOSTRAM O CAMINHO DAS PEDRAS “O principal problema daqui é o lixo.”
FRANCISCA DA CONCEIÇÃO SOUZA
CLEUSA, A “PRETA LOURA”
FRANCISCO CESAR BARROS FRAGA
GABRIELA RAMOS
“Quando reclamamos, o morador diz que paga impostos e o gari está ali para limpar mesmo.”
“É como se a favela estivesse dentro da pessoa e não a pessoa dentro da favela.”
“Falta educação ambiental e isso a comunidade não pode fazer sozinha, precisa de apoio do poder público.”
“Deveria ser punido com a doação de um cesta básica quem não limpar suas calçadas até 2 metros adiante.”
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eunidos no Núcleo de Cidadania de Rio das Pedras, um grupo de empresários ditou as normas para orientar a linha editorial do nosso jornal. Interessados em formalizar parceria com a redação, da qual passa a fazer parte toda comunidade, os empreendedores Mario Cesar Barroso Braga, Maria de Fátima Lima Pereira, Francisca da Conceição Souza, Gabriela Ramos e Cleusa da Cruz Florença bateram na mesma tecla para mostrar o caminho das pedras: – O principal problema daqui é o lixo – disparou Maria de Fátima, que há um ano mantém sua barraca vendendo cachorro quente, chocofruta e açaí. – Assino embaixo – completou Francisca, há cinco anos dona de uma pensão, também preocupada com a falta de educação de moradores, que jogam o lixo nas ruas. Ela completa: – Quando reclamamos, o morador diz que paga impostos e o gari está ali para limpar mesmo. Numa luta ferrenha e famosa contra os porcalhões, a cabeleireira Cleusa (objeto de reportagem na páginas 6 e 7 desta edição), com a sua Patrulhinha da Limpeza, indica
COMUNIDADE PADECE DA FALTA DE ORDENAMENTO URBANO E RESPEITO À CIDADANIA que o caminho correto a ser seguido pelo jornal é o de cobrar direitos e deveres: – Temos de conscientizar nossos moradores em manter a comunidade limpa para que possamos exigir das autoridades a contrapartida na prestação dos serviços de limpeza – disse Cleusa, apoiada pelo marido, também empreendedor na comunidade com um concorrido ponto de venda de pasteis e batatas fritas: – Falta educação ambiental e isso a comunidade não pode fazer sozinha, precisa de apoio do poder público – afirmou Francisco, no que a mulher Cleusa, a “Preta Loura”, completou: – É como se a favela estivesse dentro da pessoa e não a pessoa dentro da favela. Dona de uma agência de viagens, tradicional em Rio das Pedras, que administra desde a morte do pai, a jovem Gabriela Ramos também concorda com a análise dos vizinhos e
dá uma sugestão: – Deveria ser punido com a doação de um cesta básica quem não limpar suas calçadas até 2 metros adiante – diz, lembrando que há dois moradores que são exemplos na Estrada de Jacarepaguá: – Os moradores Elias Pereira e Geraldo varrem a rua todos os dias. E ainda regam as plantas. Mereciam Medalha de Ouro pelo exemplo, ao contrário de muitos moradores desprovidos do espírito comunitário, que sujam as ruas. Quando um vê o outro jogar um saco de lixo no chão, faz o mesmo, e assim começa a formar um lixão. Francisca da Conceição pediu um aparte para lembrar que nem sempre os garis limpam como deveriam e reclama: – Quando chega a época do Natal, eles (os garis) aparecem aqui durante a semana passando a lista. Depois passam o ano todo esnobando a gente.
CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL É BEM VISTA, MAS GERA DÚVIDAS
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epois do encontro com os comerciantes e empresários, fomos para as ruas saber o que outros empreendedores achavam da ideia de criar uma associação comercial para fortalecer os laços entre nossos comerciantes, criando melhores condições de trabalho com orientação profissional adequada para potencializar os seus respectivos negócios. Gilberto Angelo, da Ótica Povão, fez a afirmação mais contundente e reflexiva. – Como nenhuma loja tem escritura, é praticamente impossível constituir qualquer associação porque ficaremos sujeitos aos órgão reguladores e aí não tem como. Nenhum imóvel é legalizado... – disse Gilberto que é proprietário de outras lojas na Penha e usa toda a estru-
Cleusa lembra que o Bradesco, que tem uma agência na comunidade, chegou a ajudar colocando placas educativas, mas nossa alegria durou pouco: – O gerente disse que o lixo entulhado na porta da agência não atrapalha o movimento do banco – conclui em tom de lamento Cleusa sobre a infeliz declaração. Outro problema apontado foi o da falta de energia: – Aqui ninguém precisa de “gato” para ter luz. É só a Light instalar o relógio que vamos pagar a conta com prazer, porque é mais um instrumento de resgate da cidadania – disse Francisca da Conceição, cujo funcionamento da pensão é muitas vezes prejudicado pela falta de energia. Os microempresários também defendem a criação de um clínica de família que possa atender a maioria da população. A que existe, só beneficia uma pequena parcela de moradores. Também não existe um posto de saúde equipado à altura para atender uma população tão numerosa. Num só desabafo, todos concordaram que Rio das Pedras padece de ordenamento urbano para dar dignidade aos nossos moradores e resgatar a nossa cidadania. FOTOS DE FABIO COSTA
MARIA DE FÁTIMA
tura legal de lá em Rio das Pedras, como a máquina de crédito e débito. Marcia Soares, gerente da Fábrica de Óculos Ame, recebeu a ideia com reticências. – Sou a favor desde que beneficie os comerciantes. – disse. Opinião parecida tem Priscila de Oliveira, gerente da Penelop. – Acho bom, mas gostaria de saber quais os benefícios. –, afirmou. Como é um assunto fora da pauta da nossa comunidade, vários comerciantes não emitiram opinião, mas Juliana Pereira Santos,
da Amoreco, de moda praia, acessórios e bijuterias foi incisiva e se mostrou curiosa com os efeitos da constituição de uma associação comercial traria para a nossa comunidade. – Acho legal, mas além de saber quais os benefícios, gostaria de saber os malefícios – pondera com desconfiança e emenda. – Se for para divulgar o comércio local para trazer gente de fora eu apoio, porque isso é fundamental –, finalizou, antevendo o potencial de expansão que um associação comercial bem
estruturada traria para nossos comerciantes. Dono de um salão e barbearia, Evanildo Rodrigues foi cético. – Talvez seja interessantes, mas é preciso saber o que vai acontecer de fato. Se for para perder dinheiro não quero porque hoje tá bom – afirma com desconfiança de que a criação da associação só traria mais despesas com taxas que nada acrescentariam ao seu negócio. Cristina Pimentel, da Perfubella e Jaciel Manoel, da Hilu Bomboniere têm opiniões iguais. – Seria bom, mas os objetivos têm que ser claros – afirmou Cristina. Jaciel foi mais econômico em sua declaração. – Se for para melhorar, sim. Adriano Amaral e Débora Ribeiro proprietários de uma multimarcas foram enfáticos sobre o que gostariam que acontecesse com a criação da associação comercial. – Seria ótimo se fosse para acabar com o lixo e o esgoto! – afirmaram quase ao mesmo tempo. Ambos acreditam que se existisse uma união entre os comerciantes – e a associação comercial é a principal forma de reunir os interesses da classe –, eles poderiam exercer pressão sobre os órgãos responsáveis por esses e outros serviços que ainda são precários em nossa comunidade. Se houvesse uma apresentação melhor das ruas, certamente a circulação seria maior e consequentemente o comércio teria um movimento financeiro muito melhor. Como se vê, tudo volta (ou para) na questão do lixo, do esgoto, da fiação exposta e todo tipo de ausência de estrutura que impede o desenvolvimento adequado da nossa comunidade. É fundamental a presença do estado em seus mais diversos níveis, mas também é igualmente necessária a tomada de consciência da nossa população de que o quadro atual que todos reclamam é em grande parte causado por nós mesmo.