Revista VÓS

Page 1

AI - #1 - €6

EDIÇÃO NASCIMENTO


Idealização, Concepção e Organização GUSTAVO LOUVER Editor Convidado WESLEY MACEDO Diretor de Arte BRUNO OSHIRO Projeto Gráfico e Editoração AYLA VIEIRA Revisão PAULO ALVES Tradução ANA AZEVEDO VÓS CULTURA CONTEMPORÂNEA Número 01, verão 2018

Agradecemos a todos que acreditaram neste projeto. Sem a participação de cada um de vocês esta revista não seria possível. VÓS é uma publicação trimestral que projeta o cenário de efervescência cultural vivido em Lisboa nos últimos anos. Em sinergia com os criativos de diversas partes do mundo, VÓS pretende formar um tecido cultural capaz de fazer emergir novos nomes, fortalecendo assim a narrativa que coloca a cidade como a nova capital cultural europeia.

anuncie na próxima edição vos.lisboa@gmail.com


EDITORIAL WESLEY MACEDO

04

BORDADO CATARINA VILLEBLANCHE

06

05 08

CONTO FELIPE SCATAMBULO

#LIFE LUIZA TOLDI E ALVARO DOMINGUEZ

CRÔNICA MARCO MACEDO

ENTREVISTA DANIELA MONTEIRO

16

15

POEMA CHRISTOPHER SCHMIDT

23

ENGLISH

COLABORADORES

26

20


Vós sois parte do que estais por vir. E o que estais por vir é justo uma

Hoje em dia, ora embebidos, ora

daquelas ações que dão significado ao

fugazes aos fascínios das novas mídias

ato de nascer: uma origem, um começo,

que permeiam nossa cultura, o encontro

um início.

de profissionais ligados a Arte que se

proponham a refletir e a nos fazer refletir

Nascimento

evoca

estranhamentos;

surpresas

possíveis

sobre um tema resulta, se não em artigo

e

próspero e útil, numa matéria substancial

novas

para uma sinergia criativa.

emoções e sentimentos a partir do

inesperado instante no qual vemos uma

Sob auspiciosos olhares, os jovens

ação mudar o curso de um olhar.

artistas desta edição inaugural da revista

VÓS abordam o tema Nascimento. Se a

Isto me faz lembrar a perturbadora

visão psicanalítica propõe que nascer é

“Origem do Mundo”, pintura que Gustave

sempre ontem, o hoje nos indaga: o que

Courbet apresentou em 1866. Embora

virá amanhã?

não assimilada com facilidade pela sociedade de sua época, nem mesmo

Neste presente, o leitor é convidado a se

aceita na edição daqueles tradicionais

ver livre.

Salões de Paris, esta pintura incorpora o conjunto expressivo da obra do artista, referencial no desenvolvimento da arte

Wesley Macedo

moderna que prosseguiu. 04


Bordado em tecido Catarina Villeblanche 05


Nascer é sempre ontem. Estranhou a frase na cabeça. A situação era nova, vinha emocionado, estava avariando. Chegou até a soleira da porta, o quarto estava cheio, ninguém pareceu notar. Viu de longe o corpo frágil, magro e coberto de panos. Sentiu a musculatura amolecer e os olhos encherem de água. Dali cobrou-se por não ter chegado logo após o parto. Já estava vivo há horas e só chegava agora. Há quantas horas? Há quanto tempo? Tinha nascido na noite de ontem, já era madrugada. Lembrou da irmã grávida, a felicidade dos pais, a barriga nas fotos, a escolha do nome. Do dia em que ligou avisando da gravidez. Corria na praça do bairro quando viu oito chamadas perdidas no celular. Oito ligações! Alguém morreu! A irmã atendeu acanhada, se desculpando... Você não vai brigar comigo? Tô grávida. Lembrou da alegria que sentiu. Da vontade de avisar muita gente. O sobrinho nasceu ali. Não era obra de um parto. Deu uns passos e foi longa e ternamente abraçado pela mãe. Meu neto não é lindo!? Nascia uma vó também. Não se lembrava da vontade dela em ser avó... não era muito vaidosa, mas gostava quando recebia elogios dizendo não aparentar ter filhos tão grandes. Não tinha cinquenta anos e agora parecia bem adaptada ao papel. Olhou a irmã prostrada e satisfeita na cama do hospital. Parecia até que bem para quem acabava de vencer um longo processo de expelir o filho ao mundo. 06


Contava alguma coisa sobre o parto, a demora, as contrações. Sentiu uma leve dor abaixo do abdômen, entre as pernas. Imaginou a crueza, a violência da situação. Sangue? Será que sangra? Não teve coragem de perguntar, estava confuso. Mal chegou, ainda não tinha dito nada e começaria logo por algo tão esquisito? Ficou com nojo, mas tranquilizou-se: nunca passaria por isso. A irmã criança brincando de bonecas...Tinha muitos brinquedos, mas era desleixada, viviam sujos, quebrados. Os deles duravam mais, eram melhor tratados. Desejou que cuidasse bem do sobrinho. Quantas vezes ela brincou de ser mãe? Quantas vezes teve medo de ser mãe? Você não vai brigar comigo? Tinha 4 anos quando ela nasceu. Uma vaga memória da gravidez da mãe. Estava no fundo da garagem quando o bisavô chegou do hospital trazendo a irmã dentro da kombi verde. A mãe desceu com o pacote nos braços. Vinha envolta numa manta de crochê muito branca. Até então ele era a única criança da casa. As tias e avós correram para o portão e ele ficou brevemente esquecido no fundo da garagem. Ganhou uma irmã. Perdeu um reino. Deu mais uns passos e tia e prima abriram caminho para que pudesse tocá-lo. Apressado concluiu que tudo isso antes do bebê já era o bebê. O recém-nascido faz muito existia. Era mais antigo do que podiam imaginar. Pegou o sobrinho no colo e chorou. A frase da porta fez algum sentido: Nascer é sempre ontem.

Felipe Scatambulo é psicanalista. Formou-se psicólogo pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e estudou filosofia na mesma universidade, mas abandonou a escola da Verdade pelas incertezas d’isso que Freud começou a descobrir/ inventar. Atualmente gerencia o Centro de Atenção Psicossocial em Santana, na boa e bruta cidade de São Paulo. Lá convive e experimenta novas possibilidades com outros que fazem usos abusivos de diversos tipos de substâncias psicoativas. 07


#Life

Criação e nascimento Certa vez, no inicio do boom do Ins-

representa um ponto no universo que

tagram na América Latina, conversá-

contém todos os pontos do universo.

vamos com um amigo sobre as redes

Frente a esse objeto, o personagem

sociais. Ele estava fascinado por algo

se depara com a impossibilidade de

em específico: o hashtag. Neste mo-

descrever o que vê utilizando a lin-

mento, fez uma comparação entre

guagem cotidiana e por isso começa

essa nova ferramenta e a sensação

a fazer caóticas enumerações que

que Jorge Luis Borges descreve ao

levam a uma sucessão interminável.

encontrar o Aleph. Este objeto en-

Assim como a avalanche de ima-

contrado pelo personagem principal,

gens apresentadas quando digitamos 08


um hashtag no Instagram. Podemos

é só o uso da razão, senão a cons-

ver a multiplicidade de universos (de

ciência do tempo. A consciência de

subjetividades, de mundos) em um

que não é eterno. Por isso, uma das

só instante. Enquanto escrevemos

tentativas mais odisseicas do homem

esse texto, o hashtag LIFE apresen-

tem sido superar a morte, perpetuar

ta 180,653,127 publicações. Quanto

no tempo de alguma maneira, mesmo

tempo uma pessoa demoraria para vi-

que seja através de uma imagem. Em

sualizar todas estas imagens? Quan-

seu texto, “Ontologia da imagem foto-

tos universos e quantos significados

gráfica”, Andre Bazin retoma este con-

visuais pode ter #life? Infinitos.

ceito ao mencionar a pratica do embalsamento realizada pelos egípcios

A caraterística principal do ser humano

com o intuito de vencer a morte. Mu-

com respeito ao resto dos animais não

mificavam os corpos humanos para 09


“A caraterística principal do ser humano com respeito ao resto dos animais não é só o uso da razão, senão a consciência do tempo. A consciência de que não é eterno.”

materializar as aparências e impedir que o tempo cumpra sua função natural. Depois de explicar o “complexo” da múmia, Bazin analisa as estátuas e as pinturas (retratos), até chegar na fotografia. O desenvolvimento da imagem fotográfica foi o ápice para Bazin, pois a subjetividade do homem já não interfiriria mais na realidade do mundo. Finalmente, o ser humano podia se libertar da responsabilidade de manter um corpo eternamente vivo. Uma lente e um processo fotoquímico cumpriam essa função de maneira mais objetiva e “real”. Ao contrario de Bazin, Susan Sontag acredita que a fotografia esta totalmente condicionada à subjetividade humana. Tal subjetividade será responsável por decidir o que está dentro e o que está fora do quadro, ou seja, a subjetividade do homem é quem enquadra certa parte da realidade, através de um certo angulo, com uma certa intenção e para uma certa função. Assim a autora rompe com a ideia de que a realidade é fotografada de 10


11


maneira objetiva e serve como docu-

a realidade em si, pois a linguagem

mento que comprova a existência de

sempre será uma ação subjetiva e or-

algo. Reconhece que a fotografia tem

ganizadora do ser humano. Hoje em

um componente real mas não deixa

dia não existe uma busca fiel da ver-

de ser um conjunto de decisões e, por

dade, procura-se “embelezar” e ma-

tanto, é uma linguagem. Assim, o ser

quiar a realidade para eternizar uma

humano e o espaço são eternizados

vida “perfeita”. Uma vida de felicida-

em imagens através do olhar subjetivo

de, viagens, esportes, consumo. Uma

de outro ser humano.

vida que não esta sujeita à um discurso individual, mas sim à subjetivida-

Por isso, hoje em dia cada pessoa cria

de universal das imagens contempo-

a realidade que deseja eternizar e não

râneas representadas por hashtags.

12


Tudo isso é causado pelo excesso de

gens digitais carentes de profundidade

imagens. Imagens produzidas digital-

e significado. As fotos aqui presentes

mente em máquinas fotográficas cada

foram feitas em duas etapas (dupla exposição). Essa técnica possibilita

vez mais automáticas e com mais ca-

que duas imagens ocupem o mesmo

pacidade de armazenamento e facili-

espaço. Por um lado esta a resistên-

dade de compartilhamento nas redes

cia da natureza e por outro as inven-

sociais.

ções humanas destinadas a eternização de sua espécie. Seja através das

Nossa decisão de continuar fotogra-

construções urbanas, da produção de

fando em 35mm não é uma decisão

imagens cinematográficas e até a pró-

puramente estética e sim um respiro

pria múmia.

em meio a este bombardeio de ima-

13


Alvaro e Luiza se conheceram em Buenos Aires quando cursavam a Faculdade de Cinema na Universidad del Cine em San Telmo. De lá pra cá, a parceria rendeu quatro curtas, um videoclip, um programa sobre as Olimpíadas exibido em mais de 90 países e um relacionamento amoroso, cheio de cumplicidade. Ele, mexicano, trabalha como diretor de fotografia em projetos no Brasil, Argentina e no México. Ela, brasileira, divide seu tempo entre os trabalhos com cerâmica no ateliê em São Bento do Sapucaí e o showroom da marca Nicole Toldi em São Paulo.

14


Talvez os efeitos do

remédio estejam diminuindo a serotonina de novo. E eu, de fato, não produzo. Vai ser complicado mais um processo de luta à vida. Preocupação controlada da ansiedade. Estar só. Carente. Os traumas e medos de deixar o passado. Nascer sem acreditar no futuro. Embora eu sempre fantasie e é isso que me mexe. Travo. Distimia. Bipolaridade. Drogas. Pânico. Estou feliz e sei.

Marco Breve 15


16


Entrevista Daniela Monteiro Passaram-se apenas dois anos, desde que a fotógrafa Daniela Monteiro (20) mudou-se de Lisboa para Londres para cursar Film & Television na London College of Communication. Para esta gaja, tempo mais que suficiente para integrar a equipa da Ninja Tune, gravadora independente inglesa, e ser escolhida pela Nation of Bilions, plataforma britânica sobre cultu-

tenho adorado o resultado. Estou muito

ra musical, para captar os passos do

contente e finalmente a ficar satisfeita e

cantor Drake em solo inglês.

mais confiante daquilo que faço.”.

Em maio, o nome da Daniela apareceu

Na conversa abaixo, Daniela fala um

na nossa redação por conta de um dos

pouco sobre o começo do ano, como é

seus mais recentes trabalhos, desta vez,

trabalhar com fotografia na cena hip hop,

como diretora do vídeo Kabuki, single

o processo criativo e de quebra, ainda in-

produzido e escrito pelo português João Franklin Giga aka FRNKLN (23). “Voltei

dica nomes que, assim como ela, estão

a realizar videoclipes para amigos meus,

nascendo na cena portuguesa. Daniela

desde Kidonov a FRNKLN, Vaarwell, e

é daqueles nomes a se prestar atenção! 17


DANIELA – Diria que as pessoas com

VÓS – Pelo que eu andei vendo, 2017

quem tenho a possibilidade de colabo-

começou bem agitado para você, não acha?

rar têm tanta experiência com pessoas

DANIELA - Sim! Muito agitado. Quan-

trabalhar comigo, sem dúvida faz-me

do o ano começou fiquei um bocadinho

valorizar o meu trabalho, mas mais im-

nervosa porque achei que seria impos-

portante, sinto que os trabalhos são

sível de fazer tantas ou mais coisas que

bem feitos quando vejo amigos meus

no ano anterior, que em termos de tra-

a partilhar e a ficarem orgulhosos de

balho superou as minhas expectativas.

mim. Relativamente à segunda pergun-

Então, concentrei-me em pensar em tra-

ta, há tanto aspectos positivos como ne-

balhos e objectivos que gostaria de atin-

gativos. Sinto muitas vezes que, por ser

gir este ano e aparentemente funcionou

relativamente mais nova que muitos dos

a meu favor. Tive a oportunidade incrível

fotógrafos com quem me cruzo e sen-

de fazer parte da entrevista exclusiva

do rapariga, há muita gente que dúvida

que o Drake deu ao mundo antes do

aquilo que faço. Acontece-me, princi-

como eu que, quererem realmente

palmente, em eventos como concertos

lançamento do seu novo álbum, voltei a

e festivais. Muitas vezes, julgam-me

realizar videoclipes para amigos meus,

como uma “fã que está a querer entrar

desde Kidonov a FRNKLN, Vaarwell, e

no backstage”, em vez de uma fotógrafa

tenho adorado o resultado. Estou muito

que está ali para fazer o seu trabalho e

contente e finalmente a ficar satisfeita e mais confiante daquilo que faço.

ir para casa. No entanto, acho muito im-

VÓS – Imagino que essa confiança

facto de eu apostar em trabalhar nesta

deva ser importante para trabalhar com

indústria, pois sabem que não é propria-

tanta gente experiente, não acha? Você

mente fácil chegar a certos níveis. Já

sente algum tipo de tratamento diferen-

me aconteceu de dizerem “não estava

ciado por conta da sua idade ou mesmo

nada à espera que fosses assim a tirar

por ser mulher neste meio dominado por

as fotos que tiras”, o que me deixa feliz

homens?

por saber que existe um certo impacto

portante quando realmente dão valor ao

18


“O panorama artístico português está a crescer para todos os lados, o que me deixa muito feliz! Há imensa gente cheia de talento que ainda não se revelou, mas andam aí artistas incríveis.”

causado, vejo como um estereotipo que está sendo quebrado. VÓS – Recentemente você esteve em Portugal para gravar o vídeo do FRNKLN e, no começo do ano, também assinou a direção do vídeo clip do Kidonov. Como você vê o panorama artístico actual português? DANIELA - O panorama artístico português está a crescer para todos os lados, o que me deixa muito feliz! Há imensa gente cheia de talento que ainda não se revelou, mas andam aí artistas incríveis. O pessoal da ThinkMusic tem ajudado o pessoal como o Yuzi e o Oseias, valorizando-os como artistas. O meu amigo Francisco Tomás é um desenhador que merece mais reconhecimento. Dentro da fotografia, admiro imenso o trabalho da Mariana Janeiro e do Igor Pjorrt, o trabalho da Rita Mota que descobri recentemente, que consiste de caricaturas brutais, o pessoal dentro da moda, modelos como o Stef e a Rafaela Neto. Há muita gente e cada vez mais talentosos, só tem é que mostrar aquilo que faz e deixar o pessoal admirar, 19


porque realmente muita boa coisa se

vezes me custa um bocado, sendo

faz por Portugal.

que sou uma pessoa espontânea que gosta de publicar coisas que não

VÓS – Eu vi no seu Instagram que,

sejam tão profissionais ou que nada

do final de 2015 para cá, você tem se

tenham haver com o meu trabalho.

dedicado mais a postar fotos profissio-

Mas estas, aproveito para publicar

nais, qual é sua relação com o Insta-

noutras redes sociais ou outras con-

gram atualmente? Sente-se privada

tas que tenho.

de se expressar de outra maneira, mostrar mais seu cotidiano e as coi-

VÓS – Há um método na linguagem

sas mais corriqueiras?

adotada por você nos trabalhos? Poderia nos contar como funciona o seu

DANIELA - O Instagram agora funcio-

processo criativo?

na como o meu site e portfolio, então, tenho de ser mais selectiva com as

DANIELA - Eu gosto de me concentrar

publicações que faço e afunilar o meu

nas expressões e nos olhares que as

conteúdo, dando a mostrar o melhor

pessoas transmitem quando encaram

daquilo que consigo fazer, o que às

câmara. Durante todo o processo de 20


21


“Tive a oportunidade incrível de fazer parte da entrevista exclusiva que o Drake deu ao mundo antes do lançamento do seu novo álbum”

22


criação, enquanto fotografo alguém, or-

negativo, ou com aumento da cor do

bito à volta do estado de espírito da pes-

vermelho ou do azul. Isto gera um efeito

soa em questão. Considerando-me uma

relativamente impactante no conjunto

pessoa descontraída, acho importante

visual do clip. Isto foi uma concepção

transmitir às pessoas que podemos ser

sua para este projeto?

profissionais trabalhando num ambiente

DANIELA - Sinceramente tinha uma

relaxado onde os artistas e o pessoal

ideia um bocado diferente para o vi-

envolvido num projecto se sintam à von-

deoclipe - tinha a ideia de não “stres-

tade. O meu foco são as pessoas. De

sar” tanto com a edição. O Ricardo

resto, o estilo baseia-se maioritariamen-

Moreira editou o vídeo, dei-lhe a li-

te em fotografar pessoal na rua à luz na-

berdade total e ele alterou completa-

tural. É o meu favorito e o mais genuíno, na minha opinião!

mente aquilo que eu tinha em mente

VÓS – Voltando ao videoclipe do FR-

felizes com o resultado. E acho que,

inicialmente e ficamos todos muito em um processo de criação conjunta,

NKLN temos uma sequência de ima-

é importante esta liberdade.

gens cujas cores são saturadas, ou em 23


Anaphora As in cola city.

As the long drawl of an exhausted boulevard. As façades obsolete in patter.Â

As the flick and jag of tildes and accents.

As a tension of surface distributing the stresses of I do not know which to prefer.

I enter the traffic of plain speech and meaning

As the laying of gem stones over the worn.

As the architect says it, trembling como uma folha. As a leaf, I assume, and say it.

As the folded pages of an uncut volume

become the empty garages of stereo.

As fidelity, high, to the tear of the wind.

As the rip and fold of martins annotate the weather. As clouds become ornament to my mood.

As my mood becomes ornament to the weather

my desire for an object equivalent to the chaos is poignant

As a lecture on the weather in Proust.

As I assumed the worst, I become it.

As I learned the rules, they changed them. As changing the rules changed me. As if to avoid a game with losing.

24


As if symptom were symptomatic of system,

the synchronous a heavy air in the day.

As if the poem were a climate

or an imagined scaffolding no architect can build.

As a plaque on a condominium commemorating the house

of the writer whose fictions describing the the plots of the boxes containing the people.

As if biology had no place in the building. As if fossils in an age of no age.

Christopher Schmidt is a poet, critic, teacher, and scholar. He holds a B.A. from Yale University and a Ph.D. from The Graduate Center, CUNY, both in English language and literature. Author of a book of poems, The Next in Line, winner of the Slope Editions Book Prize (2008), and a chapbook, Thermae (2012). Professor of English at the City University of New York, LaGuardia Community College, Christopher has also taught at University of Michigan, Bard College, Brooklyn College, and Poets House.

25


ANUNCIE AQUI

26


this text, the hashtag life has 180,653,127 publications. How long does a person would take to view all of those images? How many universes and how many visual meanings could #life have? Infinite.

#LIFE CREATION AND BIRTH

Once, at the beginning of

Instagram’s bom in Latin America, we were talking

with a friend about social

The main characterist of the human being compared to the rest of the

networks. He was fascinated by

something specific : the hashtag. At this moment he makes a

animals is not only the use of reason, but also the conscience of time. Because of that, one of the most adventurous tentatives of men has been overcoming death, to somehow perpetuate in time. In his text “Ontology of the Photographic Image”, Andre Bazin retakes this concept by mentioning the practice of embalming done by the Egyptian with the purpose of defeating death. Mumified human bodies to materialize the appereances and preventing time from its natural function. After explaining the mummy “complex”, Bazin analyzes the statues and paintings (portraits) until arriving in photography.

comparison between this tool and the sensation Jorge Luis Borges describes when he finds Aleph. This object found by the main character, represents a point on the universe that contains all points on the universe.

Facing this object, the character comes across the impossibility of describing what he sees

using the ordinary language

and for that he starts making

chaotic enumerations that lead to an endless sequence. Just like the avalanche of images presented when we type a

hashtag on Instagram. We can

see the multiplicity of universes (of subjectivities, of worlds) in just an instant. While we write

27


The development of photographic

and therefore, it’s a language.

image was the apex for Bazin,

Thereby, the human being and

cause men’s subjectivity wouldn’t

space are eternalized in images

interfere anymore on the world’s

throughout the subjetive eyes of

reality. Finally, the human being

another human being.

could free himself from the

Therefore, nowadays each

responsability of maintaining

person creates the reality they

one’s body eternally alive. A lens

wish to eternalize and not reality

and a photochemical process

itself, because the language

would fulfill this function on a

will always be a subjective and

more objective and “real” way.

organizing action of the human

Unlike Bazin, Susan Sontag

being. Nowadays there’s realiable

believes photography is totally

search for truth, there’s tentative

conditioned by

of “embellishing” and making up reality to eternalize a “perfect”

human subjectivity. That

life. A life of happiness, trips,

subjectivity will be responsible

sports, consumption. A life that

for deciding what’s inside and

is not subject to an individual

what’s outside the frame, so,

speech but to an universal

men’s subjectivity is the one

subjectivity of contemporary

that frames a certain part of

images represented by hashtags.

reality, a certain intention and

All of that is caused by the excess

for a certain purpose. Thus, the

of images. Images digitally

author disrupts with the idea

produced on photo cameras

that reality is photographed

getting more automatic and with

in an objective way and that

a higher capacity of storage and

serves as a document proving

sharing on social media.

the existence of something. She recognizes photography has a

Our decision to keep

stop being a set of decisions

a purely aesthetic decision but

photographing in 35mm it’s not

real component but it doesn’t

28


a breath among this bombing of

INTERVIEW DANIELA

digital images, needy of depth

MONTEIRO

and meaning. Photos present here were done in two stages

(double exposure). This technique

It’s been just two years since

allows two images to occupy the

the photographer Daniela

same space. In one hand this

Monteiro (20) moved from

nature’s resistence and in the

Lisbon to London to study Film &

other hand the human inventions

Television at the London School

destinated to eternalizing the

of Communication. For her it

species. Either through urban

was time enough to integrate

constructions, the production

the Ninja Tune crew, an English

of cinematographic images or

independent record label, and to

through the mummy itself.

be chosen by Nation of Billions, a musical culture platform, to

capture singer Drake’s steps on England.

In May, Daniela’s name popped in our newsroom due to one of

her most recent works, this time

as a video director for “Kabuki”, single written and produced

by Portuguese João Franklin

Giga aka FRKLN (23). “I’m back to directing videoclips for my friends, like Kidonov, FRKLN

and Vaarwell, and I’m loving the results. I’m very glad and finally satisfied and more confident about what I do”. 29


On the conversation below,

interview Drake gave to the

beginning of her year, how’s

new album, I’m back to directing

world before the release of his

Daniela speaks a bit about the the experience of working as a

videoclips for my friends, like

scene, the creative process and

and I’m loving the results. I’m

just like her, are being born on the

more confident about what I do.

photographer for the hip hop

Kidonov, FRKLN and Vaarwell,

also, recommends names that,

very glad and finally satisfied and

Portuguese scene. Daniela is one of those names to keep an eye

VÓS – I imagine that this

on!

confidence must be important

to work with people that are so VÓS – As far I’ve seen, 2017

experient, isn’t it? Do you feel

don’t you think?

because of your age or even

DANIELA – Yes! Pretty agitated.

dominated by men?

a different type of treatment

started pretty agitated for you,

for being a woman on a field

When the year started I got a

little nervous because I thought

DANIELA – I would say that the

accomplish as many things

possibility of colaborating with are

people with whom I have the

it would be impossible to

so experienced with people like

or even more than the year

me, that really wants to work with

before, which in terms of works

me, surely that makes me value

exceeded my expectations. So I

my job, but most importantly, I

focused on thinking about works

feel that my job is done well when

and objectives that I wanted

I see my friends sharing it and

to accomplish this year and

being proud of me.

apparently, it worked in my favor. I had the incredible opportunity

About the second question, there are as many positive aspectives

to be a part of the exclusive

30


as negative ones. A lot of times

DANIELA – The Portuguese

than many photographers that I

everywhere, which makes me

I feel that because I’m younger

artistic scene is growing

know and also a woman, there’s

very happy! There’s a lot of

a lot of people that question what

talented pople that haven’t been

I do. It happens to me mostly on

revealed yet, but there’s a lot of

events like concerts and festivals.

incredible artists out there. The

I’m often judged as a “fan that

team from ThinkMusic has helped

wants to get to the backstage”,

people like Yuzi and Oseias,

instead of a photographer that is

valuing them as artists. My friend

there to work and go home after.

Francisco Tomás is an illustrator

However, I find very important

that deserves more recognition.

when the fact that I dared to

In photography, I really admire

work for this industry is really

the work of Mariana Janeiro and

valued, because people know

Igor Pjorrt, the work of Rita Mota

that is not properly easy to get

that I’ve recently discovered,

to certain levels. It was said to

that consists on impressive

me once “I wasn’t expecting

caricatures of the fashion folks,

that you would take pictures the

models like Stef and Rafaela

way you do”, which makes me

Neto. There’s a lot of people even

happy for knowing that there is a

more talented, they just have to

certain impact caused, I see as a

show what they do and let people

stereotype being broken.

admire, because there’s really a lot of good things done by Portugal.

VÓS – You’ve recently been in

Portugal to film a video of FRKLN

and, at the beginning of the year,

VÓS – I saw on your Instagram

of Kidonov’s videoclip. How do

2015 until now, you’ve been

account that, from the end of

you’ve also signed the direction

dedicated to posting more

you see the current Portuguese

professional photos, what is

artistic scene?

31


I consider myself a casual person, I find important to transmit to people that we can be professionals working on a relaxed environment where artists and staff involved on the project feel comfortable.

your relation with Instagram

nowadays? Do you feel privated of expressing yourself in other way, showing more of your

everyday and more ordinary stuff? DANIELA – Instagram now works as my website and portfolio, so

I have to be more selective with

my posts and restrain my content, showing what I can do best,

which sometimes it costs me a

lotas the spontaneous person I

am that likes to share things that aren’t professional or that have

nothing to do with my work. But those I publish on other social

networks or other accounts I own.

VÓS – Is there a method on the language adopted by you on

your works? Could you tell us

how does your creative process works?

DANI – I like concentrating

on the expressions and looks people transmit when they

face the camera. During all the

creation process, as someone’s photographer, I orbit around

the state of spirit of that person. 32


WESLEY MACEDO Bacharel e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, é pesquisador sobre espaços arquitetônicos abandonados, reconvertidos em espaços expositivos de arte contemporânea. Realizou consultorias de projetos artísticos no espaço público e de intervenção arquitetônica, em São Paulo e Milão.

BRUNO OSHIRO Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e pós graduado em Marketing e Gestão pela ESPM. Trabalhou como diretor de arte para vogue brasil, havaianas e redbull station.

AYLA VIEIRA Bacharel em Comunicação Social com especialização em Produção Editorial pela UFRJ, e Design Gráfico pelo SENAI. Elaborou projetos gráficos para o CCBBRJ e SP. Adora os momentos em que sai da frente do computador para fazer algo com as próprias mãos.

Gustavo Louver Relações Públicas graduado pela Fundação Cásper Líbero, em São Paulo, também estudou na School of Visual Arts em Nova York em 2015. É aluno da pós graduação Indústrias e Culturas Criativas pela Escola Superior de Comunicação Social em Lisboa e criador do projeto VÓS. 33


34


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.