EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM LEOPOLDINA: elaboração de material instrucional
JACQUES, FABIANA M. T. (1); MUCHINELLI, LÍVIA R. A. (2); REZENDE, DANIELE DE (3); MOREIRA, GABRIELA (4); COSTA, LUDMILA DA (5); CARVALHO, THOMÁS (6) 1. Universidade Federal de Juiz de fora. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário fabiana.jacques@arquitetura.ufjf.br 2. Universidade de São Paulo. FAU – CPG Rua Lucas Augusto, 131-A, 2ºandar, centro, Leopoldina, MG, CEP 36700-000 liviamuchinelli@gmail.com 3. Universidade Federal de Juiz de fora. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário ferezende.dani@hotmail.com 4. Universidade Federal de Juiz de fora. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário gdsmoreira@gmail.com 5. Universidade Federal de Juiz de fora. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário ludmilaalbuquerque.arq@gmail.com 6. Universidade Federal de Juiz de fora. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Rua José Lourenço Kelmer, s/n – Campus Universitário tsbc_@hotmail.com
RESUMO Em se tratando de patrimônio cultural é inevitável a associação com memória e identidade e mesmo essas duas palavras trazem um sem número de outros termos. Sabendo da importância da preservação da história de um município para a manutenção da memória e da identidade locais, entende-se que a difusão do conhecimento da forma como a sociedade se desmembra ao longo do tempo - associada à conscientização da população local acerca do tema - é a principal ferramenta
para a Educação Patrimonial e a base desse projeto. Iniciado em maio de 2013, o projeto de Educação Patrimonial em Leopoldina - elaboração de material instrucional tem por objetivo a conscientização da população de Leopoldina, MG, acerca da importância da preservação do patrimônio cultural, através dos alunos do ensino fundamental da rede pública, a partir do compartilhamento da história do município. Uma vez que, através da história do município é possível a compreensão, identificação e interação com os conceitos relacionados a patrimônio cultural, bens culturais, materiais e imateriais, preservação. Para tal fim, o trabalho foi estruturado para a elaboração de material instrucional na forma de cartilha, visando a aplicação, inicialmente, aos professores da rede pública de ensino, de forma a capacitá-los na compreensão dos conceitos e fundamentos relacionados a educação patrimonial, como arcabouço didático e metodológico, proporcionando um processo de formação integrado. O projeto tornou-se viável através de uma parceria entre o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, em um projeto de extensão, a Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura do município de Leopoldina. O material produzido procura mais do que simplesmente informar, constituindo-se como um trabalho sólido, carregado não só de dados e história, mas também de cultura e aprendizado. Dessa forma, visa compartilhar a história da cidade mineira a fim de, através do sentimento de pertencimento, promover a compreensão e a identificação dos termos ligados ao patrimônio cultural. Palavras-chave: Educação patrimonial; Cartilha; Leopoldina; Minas Gerais.
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Introdução É uma característica inerente do ser humano expressar-se. Das pinturas rupestres às galerias, vê-se a história registrada e nela reconhecem-se dramas, conflitos, alegrias. Contudo, uma forma de representação mais presente, mais visível e acessível do que obras de arte detidas em museus é a cidade em que se vive. Mudanças, seus ares, seus cheiros. Escutam-se seus ruídos quando a mesma acorda e quando descansa ao fim do dia. Percorrem-se seus caminhos. Habita-se (ZEVI, 1996). Assim, a cidade é registro da humanidade. Seus edifícios contam a história e esta ecoa por todas suas ruelas numa narrativa edificada do homem. Enquanto seres urbanos, o homem se apropria do espaço, cravando na paisagem a maior marca - sua identidade. Entender o espaço a volta é, então, entender-se. Se o homem for capaz de apreender do espaço sua história, será capaz de traçar um futuro de forma muito mais consciente, baseando as escolhas em erros e acertos já feitos. Contudo, no ritmo acelerado dos dias, o homem se fecha a essa percepção. Torna-se alheio a seu patrimônio, não se sente pertencente a ele, não se reconhece nele. É para tanto que surge a educação patrimonial. Educar para abrir a percepção do espaço, com uma postura de salvaguarda. Por meio do resgate da memória, pretende-se restabelecer o vínculo entre os cidadãos e sua cidade. É preciso transmitir às pessoas os conceitos e a conscientização do que é o patrimônio cultural, sensibilizando-as sobre a necessidade da manutenção de sua própria identidade através da conservação da história e da perpetuação da memória por ela transmitida. Com esse fim, são instituídos projetos de educação patrimonial, por meio de escolas e outras instituições de ensino. Esses projetos são atividades desenvolvidas com os interessados, independente da idade, através de oficinas, dinâmicas e palestras, a fim de lhes mostrar as noções de patrimônio cultural. Segundo o IPHAN (2008), educação patrimonial acontece toda vez que as pessoas se reúnem para construir e dividir novos conhecimentos, propiciando o entendimento e a transformação da realidade levando em conta algo que tenha relação com o patrimônio cultural. Organizações educacionais, prefeituras e órgãos de proteção se unem em prol da elaboração de projetos de educação da população, atuando para que as atividades, realizadas com crianças, jovens e adultos, ajudem no desenvolvimento de uma atitude
favorável à preservação, além de ajudar a difundir o conhecimento da história de uma comunidade que, muitas vezes, fica esquecida. Os projetos de educação patrimonial são norteados pelo desenvolvimento e manutenção de um sentimento de pertencimento da população em relação à cidade, funcionando como instrumentos de reflexão sobre como se encara o bem comum a todos. Pensando nisso, foi elaborada a cartilha de “Educação Patrimonial em Leopoldina”, com a finalidade de expandir o conhecimento acerca do patrimônio de Leopoldina (MG) para sua população, significativo tanto no município quanto no contexto regional e até nacional.
Leopoldina (MG) Segundo dados do IBGE (Censo 2010), Leopoldina abriga 51.130 habitantes, distribuídos em seis distritos: Leopoldina, Piacatuba, Providência, Tebas, Abaíba e Ribeiro Junqueira, em uma área de 943,076 km². Em Leopoldina, no setor econômico, percebe-se a manutenção da tradição: as principais atividades ainda são a indústria e a agropecuária, sendo esta a com maior ênfase no município. Além delas, o setor de serviços constitui-se como uma importante forma de emprego de mão de obra. A rua Barão de Cotegipe, no centro de Leopoldina, é o melhor exemplo de como os bens imóveis da cidade é usado para outras funções que não as originais e também de como isso, muitas vezes, não é um fator benéfico. No local, muitas edificações encontram-se em uso pelos lojistas, e, por isso, são escondidas atrás de placas e propagandas extremamente agressivas, tornando a rua visualmente poluída. Outra questão é a falta de manutenção dessas edificações, que, em muitos casos, são patrimônio local. Tal problema é recorrente, sendo possível observar muitas edificações se desfazendo, o que afeta a manutenção da memória de Leopoldina. Constituem-se como bens da cidade os edifícios, os monumentos, as construções e até mesmo os modos de fazer e os conhecimentos tradicionais da região, que se configuram como ferramentas importantes para sua história. Por isso, é importante relembrar a importância de se preservar esses bens, já que eles são instrumentos de compreensão da comunidade local, além de essenciais para a manutenção da história de seu povo, constituindo-se, ainda, como legado deixado para as gerações futuras.
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Dessa forma, o patrimônio leopoldinense relaciona-se diretamente à história local, conferindo valor às gerações passadas e salvaguardando a identidade do município, por meio da manutenção e preservação da memória.
O Projeto Tendo identificado na cidade mineira de Leopoldina a necessidade de reavivar o conhecimento de seu patrimônio cultural, a partir de um Projeto de Extensão da Universidade de Juiz de Fora, reuniu-se uma equipe de seis integrantes do curso de Arquitetura e Urbanismo, para tal tarefa. Iniciado em maio de 2013, o projeto de Educação Patrimonial em Leopoldina - elaboração de material instrucional visa a conscientização da população de Leopoldina (MG), acerca da importância da preservação do patrimônio cultural, através dos alunos do ensino fundamental da rede pública, a partir do compartilhamento da história do município. Uma vez que, através da história do município é possível a compreensão, identificação e interação com os conceitos relacionados a patrimônio cultural, bens culturais, materiais e imateriais, preservação, memória e identidade. Para tal fim, o trabalho foi estruturado para a elaboração de material instrucional na forma de cartilha, visando a aplicação, inicialmente, aos professores da rede pública de ensino, de forma a capacitá-los na compreensão dos conceitos e fundamentos relacionados a educação patrimonial, como arcabouço didático e metodológico. Posteriormente pretende-se a capacitação de monitores que passarão aos alunos mais jovens os conhecimentos que adquiriram na capacitação. Em Parceria com a Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura do município de Leopoldina o projeto vai ao encontro da proposta da Lei Municipal nº 3.657 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais que estipulam que deve haver o ensino da história local nas escolas. Inicialmente voltada aos professores, a cartilha tem por diretriz fornecer ao docente a possibilidade de pesquisar e aplicar seus conhecimentos de forma livre e conveniente à sua didática e de sua instituição de ensino. Assim, restringiu-se a relatar a história de Leopoldina e a sugerir algumas atividades, sem, contudo, prender os professores a uma metodologia, fornecendo uma ampla gama de referências para o aprofundamento das pesquisas - tendo tal iniciativa como uma forma de educar ainda mais professores, alunos e população.
Espera-se assim, que tal material possa desencadear o interesse pelo patrimônio cultural de Leopoldina, fazendo com que toda sua comunidade prossiga com a preservação de seu patrimônio, levando-a a proporcionar melhorias feitas à cidade de forma plenamente consciente da identidade de seu povo.
Justificativa Quando em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº9394/96 observa, em seu 26º artigo, que aspectos regionais e locais da sociedade e da cultura devem ser contemplados nos currículos de ensino fundamental; quando os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) possibilitam um maior diálogo entre disciplinas na educação básica (temas transversais), tem-se uma abertura à introdução da educação patrimonial nas escolas. Com este objetivo, a comunidade de Leopoldina criou a Lei Nº 3.657/2005, que dispõe da inserção da história do município na grade curricular das escolas públicas municipais. Algumas tentativas de viabilização da mesma já foram executadas, porém, já necessitam de atualização, como a confecção de uma revista com a história do município que foi distribuída nas escolas. Espera-se, portanto, que o presente projeto possa ser mais um veículo do conhecimento experimental, complementar às iniciativas já realizadas, de modo a viabilizar a aplicação desta Lei. Desta forma, o Projeto de Educação Patrimonial visa estreitar as relações entre o município de Leopoldina e sua população, permitindo que esta tome em mãos seu próprio passado e se torne capaz de refletir criticamente sobre o presente que estão a construir, possibilitando que, por conhecer sobre como se viveu em Leopoldina, possa-se determinar como se quer viver hoje.
Público-alvo O material produzido visa à capacitação sobre os conceitos de Educação Patrimonial e da história do município de Leopoldina (MG), e de acordo com a lei municipal Nº 3.657/2005, principal condutora do projeto, que pretende o ensino de história local para alunos dos 2° e 9° anos do Ensino Fundamental. Portanto, o público alvo direto deste projeto são os educadores, professores e monitores da rede pública de ensino da cidade de Leopoldina (MG). E como público alvo indireto os alunos do ensino fundamental das escolas públicas do município, incluindo os distritos. 6º SEMINÁRIO MESTRES E CONSELHEIROS: AGENTES MULTIPLICADORES DO PATRIMÔNIO Belo Horizonte, de 04 a 06 de junho de 2014 ISSN 1983-7518
Metodologia Fruto de um ano de pesquisas, a cartilha sistematiza e correlaciona as informações sobre o tema educação patrimonial com conceitos, parâmetros e técnicas didáticas, capazes de serem aplicadas no contexto do município de Leopoldina e a história do município, seu desenvolvimento, períodos históricos e sua produção cultural, arquitetônica e urbanística. Inter-relacionando os principais acontecimentos históricos com elementos da cultura popular e erudita e sua produção material e imaterial. Para atingir o objetivo da Cartilha, a metodologia que utilizada se baseou na realização de pesquisas e aplicação de oficinas, que foram divididas em quatro fases principais. A primeira fase foi de Pesquisa e Apresentação – Nesse momento focou-se em uma revisão bibliográfica acerca do tema da educação patrimonial, o estudo de políticas, planos e programas com pesquisas em meio digital (sites da internet, arquivos digitais), buscou-se também nesse primeiro momento a aproximação com as Secretarias com a apresentação do projeto de educação patrimonial na Prefeitura de Leopoldina, como apoio de interesse local. Para a fixação e organização do material coletado, elaborou-se um banco de dados com as informações que futuramente seriam utilizadas diretamente na elaboração da cartilha. Esta etapa tratou-se da estruturação e conhecimento acerca do tema com visitação e entendimento mais profundo da cidade de Leopoldina. A segunda fase foi de Elaboração do material instrucional – Sistematizou-se, analisou-se e correlacionou-se as informações pesquisadas na primeira fase, estabelecendo critérios e conceitos que norteariam a realização da cartilha. A partir daí, elaborou-se e diagramou-se o material na cartilha e revisou-se. Essa foi a etapa que demandou o maior tempo. Requereu bastante trabalho em equipe, para compreensão da cidade de Leopoldina, e os conceitos acerca do Patrimônio Cultural, a fim de transmiti-los da melhor maneira. A terceira fase foi de aplicação do projeto – Fez parte a capacitação dos monitores com palestras sobre o patrimônio cultural de Leopoldina e visitação há vários pontos de referencia da cidade. As oficinas de experimentação, desde a sua preparação e detalhamento à capacitação, foi com base no material elaborado. Programou-se palestras com apoio de professores que fazem parte da realidade da cidade, e que procuram repassar os conceitos do patrimônio cultural a seus alunos. Partilharam assim a respeito da história de Leopoldina, da legislação que protege o seu patrimônio cultural, métodos para trabalharem projetos com os alunos das escolas, transmitindo a importância de todos na preservação do patrimônio cultural. Todos esses temas são abordados na cartilha. Tendo
em mente esses conceitos, propôs-se as professoras exemplos de oficinas, como metodologia para adotarem em seus projetos. E como experimentação, realizaram-se algumas dessas propostas numa das praças da cidade, com o intuito de abordar e chamar a atenção da comunidade para o assunto. A quarta fase a de avaliação irá acontecer ao final do projeto, marcado para junho de 2014. Dela fará parte a confraternização entre os envolvidos, com depoimento das secretarias, da equipe desenvolvedora do projeto e dos professores.
A cartilha O material produzido procura mais do que simplesmente informar, constituindo-se como um trabalho sólido, carregado não só de dados e história, mas também de cultura e aprendizado. Dessa forma, visa compartilhar a história da cidade mineira a fim de, através do sentimento de pertencimento, promover a compreensão e a identificação dos termos ligados ao patrimônio cultural. Algo importante que foi frisado durante a capacitação dos professores é que a cartilha não é um projeto pronto para estes trabalharem com os alunos. Não encontrarão atividades prontas para serem desenvolvidas, mas é uma cartilha informacional e de apoio para os projetos que estes possam a vir trabalhar em suas respectivas escolas. A cartilha é dividida em cinco partes. A primeira é uma “Apresentação”, onde mostra-se o objetivo do trabalho e se introduz a temática do patrimônio cultural. A segunda trata a respeito dos “Conceitos de Patrimônio Cultural”, nela aprofunda-se mais sobre o que é o patrimônio cultural, a preservação e sua importância, sobre o tombamento e o que o envolve, e a respeito da educação patrimonial que deve ser acessível a todos. A terceira parte diz respeito as “Leis, Programas e Ações” como proteção do patrimônio cultural. Abordam-se leis de todas as esferas, desde municipal até federal, mostrando como o país se organiza a favor da preservação e proteção de nossos bens. A quarta parte conta um pouco da “História do município de Leopoldina”, desde sua origem, seu desenvolvimento até os dias atuais. Busca-se retratar várias referências tanto arquitetônicas quanto culturais da cidade. A quinta e ultima parte, fala sobre o “Inventário dos Bens da Cidade”. Procurou-se elaborar uma cartilha integrada em suas partes, de forma ilustrativa, e com uma linguagem de fácil compreensão, tanto para os professores, quanto para os alunos.
Desmembramentos 6º SEMINÁRIO MESTRES E CONSELHEIROS: AGENTES MULTIPLICADORES DO PATRIMÔNIO Belo Horizonte, de 04 a 06 de junho de 2014 ISSN 1983-7518
Conforme o projeto foi se consolidando, a equipe percebeu a necessidade de um complemento para o material elaborado, algo que fosse o mais dinâmico possível, a fim de despertar o interesse tanto por parte do corpo docente da rede pública leopoldinense como por parte dos alunos aos quais o projeto seria aplicado. No entanto, para estruturar essa nova fase do trabalho, necessitou-se estar cientes das necessidades da população da cidade no que diz respeito à educação patrimonial. Inseridos no campo da arquitetura, acredita-se que a melhor forma de conhecermos uma localidade é vivenciando o espaço onde ela se encerra. Assim, com o objetivo de ter um maior contato com a realidade de Leopoldina, acrescentou-se às reuniões semanais visitações à cidade, para formar um olhar mais fiel sobre a localidade. Essas visitas, sempre programadas junto à coordenação do projeto, ajudou a entender como a população da cidade vê o patrimônio cultural, seja ele material ou imaterial. A primeira das observações feitas é que há uma desatenção no que diz respeito à manutenção da memória na cidade, tanto quanto ao patrimônio material quanto ao imaterial. Algumas edificações antigas, marcos importantes para a história de Leopoldina, encontramse fora de uso ou muito malcuidadas. Felizmente, nesse quesito, identificamos algumas instituições, tanto públicas (como a Casa de Leitura Lya Botelho e o Museu Casa de Augusto dos Anjos) como particulares (a exemplo do Centro Educacional Conhecer, parceiro no Projeto) que, cientes da necessidade de perpetuação da memória da cidade, guiam-se em favor da preservação do patrimônio material e/ou da manutenção dos bens imateriais, contribuindo para manter viva a memória da localidade. No entanto, na maioria das vezes, o acesso a esse tipo de trabalho é restrito a alguns habitantes de Leopoldina seja fato de se tratar de instituições particulares ou, no caso dos espaços públicos, pela falta de conhecimento ou de interesse por parte da população a cerca da importância da história da cidade. Baseados nisso, formulou-se, para uma nova fase de trabalho, uma série de oficinas e atividades variadas, as quais, até o presente momento, foram apresentadas e aplicadas aos professores de forma a conscientizá-los e instruí-los sobre como realizar essas mesmas oficinas com os alunos. Para a estruturação das atividades a cartilha elaborada foi a base. No entanto, deixou-se espaço para que os professores pudessem aplicar as oficinas da forma que mais se ajustasse à sua turma, podendo inclusive, sugerir atividades novas. Sugeriu-se para os educadores cinco oficinas fundamentadas em questões sobre as quais se acha válido tornar o cidadão leopoldinense consciente: a primeira baseada em recortes e colagens de imagens que nos remetem ao patrimônio cultural; outra baseada em fotografia
(que engloba, além do patrimônio cultural, a questão ambiental); uma com o cerne em registro através de desenhos para a execução de cartões postais; outra fundamentada em desenho de observação; e, por fim, a última, com embasamento na elaboração de árvores genealógicas, feitas através de registros de história oral. A oficina de cartões postais, por constituir-se como uma atividade mais simples de ser realizada, foi posta em prática no sábado letivo em homenagem ao aniversário da cidade, comemoração anual realizada em praça pública com apoio da prefeitura. Nesse evento, montou-se uma tenda de Educação Patrimonial, na qual realizou-se a oficina citada com as pessoas que a visitaram.
Considerações Finais De acordo com o panorama apresentado acerca dos desmembramentos do projeto, assim como da forma como ele se estruturou, pode-se concluir que, em um ano de trabalho, o saldo final é positivo. Desde maio de 2013, conseguiu-se estruturar uma cartilha de educação patrimonial, conhecer a fundo um município, tornar-se cientes das deficiências da população local no que diz respeito ao olhar sobre o patrimônio cultural, realizar atividades benéficas para a conscientização dos educadores da rede pública local, capacitar o corpo docente das instituições trabalhadas para a transmissão de conhecimento aos alunos, além de aprimorar o próprio conhecimento da equipe acerca do tema. Estando cientes de que algumas adversidades atrapalharam a realização de algumas fases do projeto. Todavia, moldando os trabalhos em uma logística dinâmica, teve-se a liberdade de reestruturar as atividades a cada obstáculo encontrado, para que o projeto melhor se adequasse às condições propostas. Dessa forma, acredita-se que os prejuízos foram mínimos, senão inexistentes. Hoje, espera-se que o trabalho realizado dê frutos, tornando-se uma ferramenta de exercício da educação dos professores – agora já capacitados – para com os alunos. Estes, crianças, inevitavelmente transmitirão os conhecimentos adquiridos às pessoas que as cercam, habitantes de Leopoldina, auxiliando a difusão da informação e a manutenção da cultura na cidade mineira, melhorando, assim, a realidade de Leopoldina no que diz respeito ao patrimônio cultural. Os professores, na fase de capacitação (que ocorre através de oficinas e palestras embasadas na cartilha produzida), fazem-se elementos-chave para a difusão do conhecimento obtido para os alunos. Estes tornar-se-ão figuras conscientes da necessidade 6º SEMINÁRIO MESTRES E CONSELHEIROS: AGENTES MULTIPLICADORES DO PATRIMÔNIO Belo Horizonte, de 04 a 06 de junho de 2014 ISSN 1983-7518
de proteção do patrimônio local, seja ele material ou imaterial. E, assim, o objetivo maior do projeto, estimular a proteção e a preservação do patrimônio de Leopoldina, apresentou-se não só uma solução possível, mas sim, uma meta viável.
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