INTERVENÇÕES URBANAS PONTUAIS. LEAL, Ana Paula

Page 1

INTERVENÇÕES URBANAS PONTUAIS Propostas para a regeneração urbana da Cidade Alta Juiz de Fora, MG

Ana Paula Leal

Cataguases, 2014.


Resumo As cidades têm cada vez mais abrigado problemas sociais e ambientais. O desafio que se impõe para os urbanistas é propor, dentro de seu campo de atuação, soluções concretas para a edificação de uma cidade mais justa e saudável. É baseado nesse conceito que o presente trabalho se desenvolve. Através de um panorama geral do urbanismo contemporâneo, lançam-se conceitos a serem analisados no decorrer deste estudo. O desenvolvimento torna-se fundamental para a compreensão da região em questão, a Cidade Alta localizada na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Para tanto neste trabalho buscou-se um entendimento e diagnóstico mais abrangente da cidade, com análise histórica, caracterização das regiões, processos de descentralização e novas centralidades. As propostas de intervenções pontuais foram apontadas como uma alternativa urbanística para a área, através de projetos referenciais. Pretende-se que o trabalho incremente o estudo e diagnóstico da área, e que suas propostas atentam as suas necessidades contemporâneas. Palavras-chave: Urbanismo contemporâneo, intervenções pontuais, desenvolvimento sustentável, centralidades urbanas. Abstract The cities have increasingly more sheltered social and environmental problems. The imposed challenge to town planners is propose, within their area of operation, practical solutions to the building of a fairer and healthier city. This work is based on this concept. Through a general overview of contemporary town planning, concepts are thrown up to be analysed throughout this study.The development becomes fundamental to the comprehension of Cidade Alta, placed in Juiz de Fora, Minas Gerais. In order to achieve this purpose, it was sought a broader understanding and diagnosis of the city, through a historic analysis, characterization of regions, decentralization of processes and new centralities. Proposals for specific interventions have been identified as an alternative to the urban area, through referential projects. It is intended that this work increments the study and diagnosis of the area, and that the suggested proposals fit its contemporary needs. Keywords: Contemporary urbanism, specific interventions, sustainable development, urban centralities.

2


Introdução As cidades surgiram para atender aos nossos desejos, tal como Rogers (2001), explica em seu livro, “Cidades para um pequeno planeta”, elas vieram em resposta às necessidades humanas, para organizar os processos necessários ao desenvolvimento. Neste sentido não devem ser consideradas como local da concentração do caos, da desordem, do desconforto. O processo de mutação pelo qual passa as cidades, gerado, principalmente, pelo êxodo urbano, acarreta no inchaço de áreas centrais e consequentemente a expansão de áreas periféricas. As facilidades do transporte privado junto com a especulação imobiliária fazem com que cada vez mais as cidades sofram com o espraiamento urbano. Vazios urbanos, espaços obsoletos em áreas centrais das cidades, são cada vez mais comuns. Eles contribuem para a perda da vitalidade das centralidades que devem, ao mesmo tempo, resguardar o passado e receber o futuro, concentrar serviços e ser referência da identidade da cidade. Somam-se a este quadro, excessivos gastos em energia dos veículos, um transporte público insuficiente para atender a população, planejamentos urbanos inadequados e descontínuos, desrespeito ao meio ambiente, poluição das mais variadas formas, impermeabilização do solo, fatores estes que, contribuem para uma cidade cada vez mais insustentável. Este trabalho pretende apontar possíveis melhorias através de pequenas intervenções num espaço urbano determinado, a Cidade Alta. Localizada na região oeste de Juiz de Fora, a área foi incorporada a zona urbana em meados do século XX e atualmente é um bairro consolidado que passou por muitas transformações nas últimas décadas. Por ser uma região portadora de espaços naturais e com boa localização, tem atraído os mais diversos grupos sociais, ultimamente tem sido palco de polêmicas com a construção da BR-440. Buscou-se, através de análise de conceitos, pesquisas bibliográficas e diagnósticos, traçar o perfil da região, entender os processos da sua consolidação e o que essas transformações recentes tem trazido para o cotidiano das pessoas que moram ou usufruem da Cidade Alta. Tenta-se propor, de forma sustentável a adequação de uma área na cidade, gerando um ambiente agradável onde o convívio seja estimulado, dando alternativas para a situação em que se encontra. Desenvolvimento sustentável e pontual Contemporaneamente não se pode mais pensar em urbanismo sem ter a sustentabilidade como meta. O termo desenvolvimento sustentável é uma resposta aos anseios coletivos por melhorias globais.

3


Em “Nosso futuro comum”, relatório produzido durante o Rio 92, a Conferencia das Nações Unidas, através de pesquisas sobre questões sociais, o uso e ocupação da terra, problemas relacionados à água, educação e ao urbanismo, definiu o conceito do desenvolvimento sustentável como práticas que atendam as demandas atuais, mas que não comprometam o futuro da população e do meio ambiente. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde pretendia-se discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. No Brasil a urbanização vem ocorrendo de forma rápida, há 60 anos o país era praticamente agrícola, com apenas 25% da população vivendo nas cidades. Segundo dados do IBGE (2011), em 1940 a população brasileira era de 41,2 milhões de habitantes, e em 2000 chegou a quase 170 milhões. Motivados por oportunidades de trabalho, mas também por melhores serviços públicos nos centros urbanos, pessoas deixam suas regiões de origem e migram, principalmente para o sudeste do país. A população urbana em 1940 era de 12,8 milhões de habitantes, bem diferente da de 2000 onde atingiu 137,9 milhões, atualmente 82% da população brasileira é urbana. Essas transformações na caracterização e na quantificação da população brasileira acarretaram em mudanças no espaço urbano, que muitas vezes está ainda despreparado para atender a essa nova demanda. O processo de espraiamento das cidades é incentivado e facilitado principalmente pela popularização do veículo particular. Uma vez que os centros urbanos encontram-se esgotados e enfrentam problemas quanto à especulação imobiliária, cidadãos procuram cada vez mais instalar suas moradias em áreas localizadas nos subúrbios das cidades, espaço antes destinado principalmente a assentamentos populares, por serem constituídos de áreas de difícil acesso que oferecem poucos serviços públicos, condenando os moradores a marginalização social. O quadro hoje se inverte, uma vez que a inserção dessa camada mais privilegiada e a consolidação de comunidades fazem com que a cidade tenha suas “fronteiras urbanas expandidas”. As cidades são, antes de tudo, o lugar de encontro das pessoas. No entanto, uma grande parcela dos espaços públicos da cidade, incluindo quase toda a totalidade de ruas e praças é agora dominada pelos veículos automotivos: são lugares pensados para atender às necessidades do transito. (ROGERS, 2001 – pág.126) Deve-se, portanto tentar amenizar as conseqüências deste processo, com a busca pela urbanização sustentável, a densidade deve ser acompanhada da otimização dos

4


espaços. Deve-se incentivar o desenvolvimento dos núcleos suburbanos, fazendo com que se diminua a dependência do centro para realizar funções básicas e diárias de seus moradores. Áreas de preservação devem ser respeitadas e espaços públicos precisam ser criados incentivando a convivência os exercícios físicos e a interação do indivíduo com o espaço e a sociedade. Investimentos em transporte público de qualidade são fundamentais, uma vez que a sua existência tornaria o uso de veículos particulares menos necessário, o que geraria menos poluição e menos engarrafamentos. O combate à especulação imobiliária também se faz necessário para que o ambiente seja dinamizado. O espaço urbano deve ser pensado juntamente com questões sociais, ambientais e culturais promovendo a sustentabilidade.

A “reciclagem” de territórios é mais inteligente do que a sua

substituição. O processo de regeneração urbana consiste na recuperação de áreas que passam por transformações. A definição de novas funções para esses espaços consiste na reestruturação, que deve dar respostas rápidas e atender às novas demandas, levando em consideração questões sociais, ambientais, públicas e privadas. Diversos programas de regeneração aplicados em espaços urbanos degradados têm apresentado problemas quanto à especulação imobiliária, gerando processos de gentrificação, o que é, muitas vezes, frustrante, já que o projeto de melhoria feito para atender a demanda da população local acaba valorizando a área e “expulsando” a mesma que não tem condições para acompanhar as mudanças. Além disso, descontinuidade política e custos altos são problemas e entraves enfrentados nos projetos urbanos contemporâneos.

Para tanto adota-se a alternativa do urbanismo

pontual, que aliado a práticas sustentáveis, pretende intervir em uma área menor, de forma com que o projeto possa ser assimilado e expandido às demais localidades. Jaime Lerner (2003), em seu livro “Acupuntura urbana” considera a cidade como um organismo vivo, que pode estar “doente” necessitando de sessões de acupuntura. Ele cita exemplos como o Centro Pompidou em Paris, o Museu de Bilbao de Frank Gehry, nos quais a obra proporcionou uma mudança cultural e qualitativa do espaço. Esses pontos, locais estratégicos da cidade, se estimulados, podem gerar modificações e consequentemente requalificação do espaço urbano. O resgate da identidade local e a assimilação do espaço é fundamental, pois contribui para que o cidadão sinta-se parte da cidade. Com isso, espera-se que a participação popular se intensifique, o zelo a bens públicos e a proteção ao patrimônio tornem-se práticas comuns assim como iniciativas individuais que prezem pela qualidade de vida da sociedade como um todo. É preciso saber identificar o que falta a uma região para que esta se torne dinâmica, ou recupere tal característica.

5


A memória da cidade Juiz de Fora está localizada no estado de Minas Gerais, sua história está totalmente atrelada a sua posição geográfica, pois surge com a abertura do caminho do ouro até o Rio de Janeiro, em 1702-1705. A extração das minas atraia cada vez mais pessoas. Com isso foi preciso a criação de postos de vigilância e assentamentos nos pontos de extração, processo que deu origem a muitos povoados, como o de Santo Antônio do Paraibuna, hoje Juiz de Fora. Com o final do ciclo do ouro, a região tem como principal fonte de renda a plantação de café, que exigia melhores condições urbanas da vila. Isso trouxe grande dinamismo para a região, que destinava sua produção ao Rio de Janeiro. Vários investimentos foram feitos, como a construção da Av. Rio Branco, principal eixo de crescimento da cidade. Com isso gerou-se capital para a próxima etapa, a industrialização. O engenheiro Mariano Procópio Ferreira Lage, constrói em 1861 a rodovia União Indústria, para melhorar o sistema de transporte que ligava Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, atual Av. Getúlio Vargas.

Figura 1 - Mapa regional de Juiz de Fora Fonte: http://www.acessa.com.br

Figura 2 - Região oeste de Juiz de Fora Fonte: http://www.acessa.com.br

A região oeste, área pesquisada, teve sua ocupação iniciada neste mesmo período por operários alemães que vieram para a construção da rodovia. Esses fatores foram importantes para o crescimento e desenvolvimento da cidade. A criação da ferrovia paralela ao curso do rio Paraibuna, consolida o município como pólo urbano regional, voltado para a exportação agrícola. Juntamente com o acúmulo de capital, a indústria começou a se expandir, atraindo pessoas e investimentos

6


para configurar mais tarde o centro da cidade. Bernardo Mascarenhas incentiva a industrialização e introduz a luz elétrica na cidade em 1889. Impulsionando a transformação de Juiz de Fora num dos principais centros econômicos e sociais do Estado. Em seu traçado urbano, fica evidente a importância que elementos naturais tiveram em sua delimitação, tal como o morro do Imperador, a mata do Krambeck e principalmente o Rio Paraibuna. A cidade moderniza-se mais uma vez, a sua localização geografia impulsiona seu crescimento e vários investimentos são trazidos principalmente para o principal eixo, o centro. O arruamento da área central impulsiona ainda mais o caráter urbano da cidade. Com a queda do ciclo do café, o mercado urbano torna-se ainda mais importante, consolidando Juiz de Fora como o principal centro industrial de Minas Gerais em 1920. A taxa de urbanização da cidade dá um salto, o crescimento demográfico passa a ser superior a 100%, apresentando no início do século XX um mercado amplo e diversificado. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da cidade de Juiz de Fora foi elaborado em 1996. Nele encontram-se as características de desenvolvimento geral da cidade e as particularidades de cada região. Através de diagnósticos das partes físicas, sociais e geográficas, proposições são traçadas a fim de que sejam ditadas ações efetivas no espaço urbano da cidade. Tomando como base o Plano Diretor da cidade de Juiz de Fora, a região de São Pedro, comumente chamada de Cidade Alta, é caracterizado como uma Região de Planejamento (RP). Essas áreas são pontos específicos da cidade que foram analisadas e apresentaram potencialidades e peculiaridades. O passado histórico da região de assentamento de colonos alemães, sofreu significativas modificações, com a construção da BR-040. A área localiza-se atrás do morro do Imperador, a Av. Independência foi um elemento importante na ligação do centro com o extremo oeste da cidade, induzindo seu crescimento. A Cidade alta foi incorporada à zona urbana de Juiz de Fora no século XX e adquiriu grande relevância nos anos 80, principalmente pela inserção dos loteamentos fechados, possíveis através de políticas públicas e privadas. A escolha da área para esta pesquisa deu-se pelas intensas transformações sofridas pelo território, pela sua integração à malha do município e pelo polêmico projeto da BR440, com implicações morfológicas, ambientais e sociais.Para isso a abordagem do projeto contemplou uma análise sócio espacial e histórica. Proporcionando o entendimento dos fatores que levaram à condição atual e do que impulsionou essas transformações.

7


Plano Diretor da Cidade Alta (PDCA) O Programa de Cidades de Porte Médio (COM-BIRD), foi implantado na década de 70 em Juiz de Fora, tornando a Cidade Alta uma área de expansão urbana. A região foi destinada a receber condomínios de luxo, investimentos públicos e privados. Em 1978, no governo de Francisco Antônio de Melo Reis, a Prefeitura Municipal contrata a elaboração do PDCA, a fim de direcionar o crescimento de forma ordenada da Cidade Alta. Eixos foram traçados, gerando o tripé integrado, sistema viário, infraestrutura e uso do solo, o que resultaria em um desenvolvimento ordenado. O que o Plano pretendia a definição e organização dos espaços para habitação, equipamentos urbanos, sistema viário e sistema ecológico. A integração sócia, cultural, econômica, política e física; dar respostas às necessidades básicas da população servida. (PJF, 1978:3.2). Assemelha-se muito com propostas urbanas modernistas, devido à divisão das zonas pela função, a hierarquia do sistema viário, e a implantação de avenidas no lugar de ruas, classificando a sociedade como padrão. O projeto previa que a área fosse destinada ao público de alta renda, sendo que já possuía uma população fixa e partes já eram ocupadas legalmente e ilegalmente. O PDCA enfatiza a busca pela elitização da área, propondo uma ocupação para essa nova classe que ali seria inserida. Nega a população existente, de classe mais baixa, que teria uma saída gradativa da Cidade Alta. O planejamento foi totalmente excludente a essa população mais pobre que ali habitava, negando o passado do local e a morfologia urbana já implantada. Propunha-se a divisão da Cidade Alta em 16 áreas, como unidades de vizinhança, e os justifica como uma forma democrática de proporcionar ao cidadão experiências e aprendizados. Consequentemente as relações humanas seriam incentivadas. Porém o real sentido era delimitar e caracterizar os espaços que já estavam ocupados. Juntamente com essa proposta o PDCA apresenta a criação da Via Indutora, hoje a BR-440, que cortaria a região da Cidade Alta, ligando a BR-040 até a MG-267, com o pretexto de desafogar o transito do centro da cidade. A partir daí os condomínios fechados priorizaram sua localização à beira dessa via expressa, para facilitar e agilizar sua locomoção sem que houvesse muita dependência e contato com o entorno imediato. O Plano Diretor da Cidade Alta não foi efetivado. Incentivados pela especulação imobiliária, investimentos privados começaram a se inserir na região, os primeiros condomínios foram Bosque do Imperador e Vina Del’Mar, iniciando o processo de deslocamento da elite.

8


Morfologia Urbana: processos e transformações Segundo Maria Luisa Carcereri em sua dissertação sobre a cidade Alta, pode-se dividir o processo de transformação em quatro. A primeira (1853-1960), com a implantação dos imigrantes alemães na Colônia D. Pedro II, dava características bem particulares à região com a arquitetura fortemente influenciada pela estética alemã. A segunda etapa (1960-1970) é marcada pela divisão das áreas em lotes privados principalmente para o público de baixa renda, com carência em infra-estrutura. De 1970 a 1980 a implantação da UFJF traz à região um público diferenciado, de alunos, professores, que buscavam moradias próximas à faculdade, expandindo o setor imobiliário da região, caracterizando a terceira etapa. A quarta etapa é a partir de 1970, onde o processo de valorização da área se inicia. Incentivados por melhorias na infra-estrutura, os condomínios voltados ao público elitizado se instalam na região, juntamente com equipamentos públicos e privados. Atraídos pela prestação de serviços que poderiam exercer na área, a população de renda mais baixa se instalou na região, de uma forma espontânea, o que não era previsto no Plano Diretor da Cidade Alta. Essas etapas aconteceram de forma muito rápida, tornando a região portadora de um quadro de desigualdade social muito forte em Juiz de Fora. É possível constatar a diferença das moradias dentro dos condomínios e fora deles, como no traçado urbano. A infraestrutura é insuficiente, uma vez que não comporta a demanda das habitações. Mesmo com as modificações, a implantação de novos loteamentos sobrecarrega principalmente as redes de esgotamento sanitário. Em entrevista feita com os moradores foi relatado casos de vazamento de esgoto proveniente de condomínios fechados. O córrego São Pedro é o destino da maioria desses esgotamentos, algumas moradias utilizam fossas o que pode significar risco de contaminação de nascentes e poços.

Figura 3 – Tubulações no córrego São Pedro. Fonte: Arquivo pessoal

Figura 4 – Moradias precárias nas margens do córrego. Fonte: Arquivo pessoal.

9


Como pode-se observar na figura 4 as moradias ribeiras ao córrego são precárias, resultam de assentamentos ilegais, os moradores estão sujeitos a maior risco de contaminação por doenças, além da exposição ao mau cheiro. As pontes de acesso são improvisadas e não oferecem nenhuma segurança aos transeuntes. Com o início das obras da BR-440, que prevê a canalização do córrego, muito moradores foram desapropriados e os processos de indenização estão na justiça. O mobiliário urbano é insuficiente, faltam lixeiras em muitas vias. Mesmo com a coleta de lixo atingindo quase 100% da região, é possível vê-lo depositado em calçadas, ruas, terrenos baldios e no córrego.

Figura 5 – Lixo e vegetação nas calçadas. Fonte: Arquivo pessoal

Figura 6 – Lixo depositado próximo ao córrego. Fonte: Arquivo pessoal.

As vias não atendem de forma adequada o fluxo de veículos cada vez maior na região. O traçado é muitas vezes remodelado numa tentativa de amenizar os efeitos da reduzida dimensão das caixas de rua, a população cada vez é surpreendida com uma nova ordenação das vias. O acesso a muitos bairros, principalmente os menos privilegiados, é feito de maneira insuficiente, de formas espontâneas, pelos próprios moradores, em abertura por caminhos alternativos onde a vegetação é predominante. Via Indutora (BR-440) Resgatando um projeto de 1978 a prefeitura iniciou a construção da BR-440, obra que tem causado muita polêmica entre os moradores, técnicos e pessoas envolvidas, o projeto vinha sendo implantado sem sofrer alterações e, conseqüentemente, sem respeitar o traçado urbano, a memória e o cotidiano da região que se desenvolveu e consolidou. No projeto original a rodovia passaria pelo entorno do bairro São Pedro, porém hoje, após 30 anos, a rodovia corta a região e seus mais de 30 bairros e condomínios. É literalmente uma barreira que servirá ainda mais para segregar a população que já apresenta tantas diferenças, sociais culturais e econômicas, tornando-se ultrapassado.

10


Gera a quebra da forma urbana, a negação das características locais e da identidade, além de representar um perigo ambiental para toda a área, pela retirada de remanescentes da mata atlântica, pelo possível risco de contaminação de mananciais da represa, afetando também a segurança dos moradores, por se tratar e uma via expressa, com tráfego pesado de caminhões. Tentando impedir sua construção, entidades da sociedade civil de Juiz de Fora acionaram o Poder Judiciário, numa forma de parar as obras. Proposta de intervenções pontuais Através da análise dos diagnósticos, propõe-se para a Cidade Alta intervenções pontuais estratégicas, que atendam às necessidades da população de forma geral, permitindo uma maior convivência entre as classes que habitam e àqueles que de alguma forma se utilizam da região. Para tanto as áreas de intervenção prezam a maior participação popular, a inclusão das camadas menos favorecidas, o resgate da identidade local, o senso de pertencimento e maior qualidade de vida. Adotou-se, portanto, uma posição contrária a instalação da BR-440 na região, por essa já se encontrar consolidada, acreditando que a via trará insegurança quanto ao tráfego de veículos, além de ser uma barreira física que irá aumentar ainda mais as diferenças socioeconômicas. O curso d’água é fundamental como norteador do projeto, pretende-se que este não seja mais a destinação de esgotamentos sanitários, pois é através dele que busca-se a valorização e melhoria da área. As pontes, mobiliários, praças, quadras, ciclovias, serão ferramentas aliadas na revitalização. A educação ambiental será promovida, juntamente com a responsabilidade social e ambiental. Numa perspectiva macro, no percurso de 5,6km

de extensão ao longo do

córrego, seria proposto a criação de um Parque Linear. A área abriga ainda a Represa de São Pedro, espaço este que requer maior preocupação ambiental. Seria incentivado o replantio de espécies da mata ciliar local e maiores cuidados com a zona de preservação natural, além da retirada do assoreamento do fundo da represa. Propõe-se a criação da ciclovia às margens do córrego em toda a extensão da área estudada. Com uma topografia convidativa, a locomoção por meio de caminhadas e bicicletas será incentivada, priorizando a mobilidade urbana de forma sustentável. A repaginação das faixas de pedestres e calçadas é feita com o uso do piso intertravado, oferecendo maior durabilidade e menor manutenção. Buscando atrair mais atividades para a Av. Pedro Henrique Krambeck, pretendese incentivar gradativamente a diversificação do uso e ocupação do solo. A inserção do setor comercial na área traria maior dinamismo, a praça de caráter multifuncional poderá

11


abrigar feiras livres em determinados dias, de acordo com as necessidades da população. As áreas públicas desempenharão papeis importantes nas intervenções, pois a partir delas que as idéias de renovação serão consolidadas sofrendo expansão para os demais pontos, como o mobiliário urbano característico, que buscará a criação de uma linguagem para a Cidade Alta. A recuperação e a inserção da vegetação são importantes para dialogar com as áreas de preservação natural presentes nas redondezas, tornando possível a criação de ambientes mais agradáveis e de permanência prolongada. Conclusão final Espera-se com este trabalho contribuir para um maior entendimento das problemáticas urbanas presentes na Cidade Alta. Através das análises históricas e da situação atual foi possível uma maior compreensão dos agentes transformadores da região e de suas reflexões no cotidiano da população. Pretende-se que o trabalho tenha cunho social e ambiental, representando uma alternativa viável para solucionar e evitar possíveis problemáticas urbanas na Cidade Alta. Referencias bibliográficas CARCERERI, Maria Luisa G. Cidade Alta. Território em construção. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, 2009 CHOAY, Françoyse. O Urbanismo, utopias e realidade, uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 1965. FONTOURA, Raul de Oliveira. A arquitetura na encruzilhada da sustentabilidade: considerações à literatura e a experiências existentes. Dissertação de mestrado: Disponível em: < http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/3296> Acessado em: 22 abr. 2011 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico. Rio de Janeiro. Disponível em: <www.ibge.gov.br> Acessado em: 16 abr. 2011 LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. Rio de Janeiro: Record, 2003 MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: Alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. PJF. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora. Juiz de Fora: FUNALFA, 2000 PJF. Plano de Desenvolvimento Local – PDL/ Região Administrativa Oeste. Pré diagnóstico. Juiz de Fora, 2000 ROCHA, Cezar H. B.; NAGEA. Dos impactos sociais e ambientais do traçado da BR440 entre a BR040 (Vina Del Mar) e a BR267 (Jardim Esperança) com reflexos na MG353 (Grama) Disponível em: <http://www.ufjf.br/analiseambiental/files/2010/12/1-Impactos-sociais-e-ambientais-BR440.pdf> Acessado em: 14 mai. 2011 ROCHA, Cezar H. B.; NAGEA. Das Enchentes agravadas devido à canalização do Córrego São Pedro, do Nível da Água e da BR440. Disponível em: < http://www.ufjf.br/analiseambiental/files/2010/12/2Enchentes-agravadas-pela-BR440.pdf > Acessado em: 14 mai. 2011 ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gilli, 1997

12


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.