modelo de gestĂŁo de resĂduos sĂłlidos urbanos de belo horizonte
planejamento ambiental urbano mĂĄrcio gibram silva
Iniciar a visita ao lixão traz uma expectativa de descoberta, de novidade. De saber onde está o que não vemos mas que temos a certeza de existir. O que acontece com o lixo que o caminhão leva da minha casa. Quando eu tinha um quintal eu enterrava no chão. Mas agora o lixo vai embora.
Entrar aqui dá a sensação de estar sabendo um pouquinho mais de como funciona uma cidade grande feito Belo Horizonte. Cheguei de caminhão de lixo. Entrei correndo, despejamos o lixo num monte. Vários caminhoes seguindo uma fila controlada. Chegando, descarregando e indo embora. Na entrada cada um paga por peso. Depois do lixo no chao, alguns tratores fazem a compactação. Movimentam terra e cobrem o lixo todo ao final do dia.
Pouquíssimas pessoas envolvidas no processo. Caminhoneiro, tratorista, monitor. E alguns urubus bem espertos procurando comida numa pequena área que fica com o lixo exposto. Pouco lixo de cada vez é manuzeado para evitar odores. Os tratoristas usam equipamentos de proteção, uma máscara contra vapores. Desci do caminhão e fui conhecer o outro lado daquele mundo de lugar.
Fomos ao mirante do aterro. O monte hoje é uma montanha. Na sua base existe uma lagoa de tratamento do chorume, líquido tóxico que saía do lixo em decomposição.
A lagoa hoje está recuperada e sua água e espaço atraem pássaros e outros animais. Foi peixificada. Abaixo desta lagoa uma grande área reservada para a construção da usina de reciclagem de entulhos de obras civis. Ali o material será selecionado e depois triturado em seis tamanhos e vendido ou usado, retornando à construção civil. Este lixo vira produto e não despejo.
Na base da montanha, que tem uma forma de corte de beira de estrada. Formado por um empilhamento de platôs, sendo os superiores menores que os inferiores. Existe uma pequena revegetação de mudas produzidas por um viveiro que visitamos depois. A montanha depois de terminada poderá ser utilizada, mas para usos restritos, já que sua instabilidade e dinâmica permanecerão controladas ainda durante anos. A decomposição é um processo biológico e transformador. Instável em termos de movimento, gerador de gases e líqidos, conseqüentemente de espaços vazios.
Nesta montanha existem umas chaminés Que queimam o gás que aparece da decomposição da matéria orgânica. Já houve uma tentativa da Gasmig de elaborar um plano para o aproveitamento deste gás nas comunidades vizinhas, mas o projeto foi abandonado. Isto tudo aponta para usos deste local no futuro, que sejam dinâmicos.
Transformar esta área num parque natural seria uma boa idéia. Revegetando toda a encosta e transformando em uma área de proteção ambiental, ajudaria na estabilidade do platô e tranformaria o conforto urbano da região. Hoje com o aterro quase no fim algumas áreas estão com pequena atividade, aparecendo espaços que poderiam ser utilizados para aumentar a producao de mudas do viveiro do aterro para o programa de revegetação, ainda pouco eficiente, devido as condições do solo e outros fatores.
A visita ao viveiro traz um prazer do que poderia ser o aterro todo, depois de revegetado. Arborizado, muito bem cuidado e organizado. Localizado na entrada principal do aterro, ele é responsável pela produção de mudas para os projetos paisagísticos realizados. Ao lado do viveiro existe um prédio destinado a trabalhos de educação ambiental. Acontecem ali aulas e projetos com o objetivo de levar à população a possibilidade de um novo modelo de consumo. Onde a responsabilidade com o lixo é, em primeiro lugar, papel do cidadão.
Em 1996, o Município possuía aproximadamente 2.060 mil habitantes e produzia diariamente 4,25 mil toneladas de lixo. As principais fontes de resíduos eram a construção civil (52,90% do lixo é composto por entulho), comércio e residências (25,86% do total). A usina de reciclagem dos resíduos sólidos vai estar cuidadando de mais da metade do lixo recolhido. Estes 25,86% (dados do COPAM) restantes cabe à sociedade se responsabilizar pela diminuição dele. Participar de programas de coleta seletiva tem sido um caminho bastante eficiente
No prédio da Educação Ambiental está ainda um maquinário maravilhoso que hoje, abandonado, se transformará no Museu do Lixo. Um conjunto de peneiras e tubos enormes metálicos que eram usados para separação do lixo no início do aterro sanitário.
Dali continuamos a visita ao pátio das leiras. Montes de material lenhoso triturado, resultante de podas realizadas pela Prefeitura. Ao qual depois é misturado matéria orgânica para que seja feita sua compostagem. Colocados ao ar livre e identificados . Estes montes são abertos de tempos em tempos, molhados e misturados para que o processo de compostagem seja completo. Não há mau cheiro decorrente do processo.
Próximo ao Pátio visitamos um galpão construído com produtos da reciclagem de caixas Tetra Pack. Que além de mostruário de painéis e telhas confeccionadas com este material, funciona como espaço de armazenagem. O aterro inteiro impressiona pelo tamanho e eficiência. Aqui o lixo é depositdo em local onde é possível mantê-los confinados através de técnicas que minimizam os danos ao meio ambiente. Um encapsulamento do nosso lixo. O Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Belo Horizonte, que resultou na construção do aterro, foi implantado buscando diminuir os impactos ambientais decorrentes da geração de resíduos e sua destinação inadequada.
Já não cabe quase mais nada no aterro. Daqui a poucos anos começa a produção de outra montanha. Cabe a nós decidirmos, como cidadãos, o tamanho dela. Muita coisa ainda para se fazer, melhorar e problemas a resolver, mas depois desta visita, se tem pelo menos uma certeza: - lixão, uma ova!