DOS
Revista Bancários Ano II - Nº 23 - Outubro de 2012
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
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20 anos de c onq ui st as Bancários comemoram duas décadas da conquista da Convenção Coletiva de Trabalho, que garante muitos direitos que vão além da CLT. Instrumento também ajuda outras categorias e é referência para os demais trabalhadores do Brasil
Leia também
Entrevista exclusiva com Jaime Arôxa, ex-bancário do Recife que hoje é a maior referência da dança de salão do país
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Editorial
Mais uma vitória Nos últimos dias, os bancários receberam uma bolada de dinheiro a título de PLR (Participação nos Lucros e Resultados). Esta foi apenas a primeira conquista da Campanha Nacional deste ano a se concretizar. Depois de nove dias de greve, os bancários saíram, mais uma vez, vitoriosos da Campanha Nacional, com reajuste de 7,5% para os salários (aumento real de 2,02%) e de 8,5% para piso e vales alimentação e refeição (2,95% de aumento real), valorização da PLR e avanços na área da saúde, segurança e igualdade de oportunidades, entre outras conquistas. Com a estratégia O resultado positivo foi da unidade, garantido graças à mobilização e pressão dos bancários, os bancários mas também por conta da conquistaram estratégia adotada desde 2004 aumento real pela categoria, que uniu em em todas as torno de uma mesma pauta campanhas nos de reivindicações os funcioúltimos nove anos nários dos bancos públicos e e acumularam privados. ganhos de 16,22% De lá para cá, os bancários acima da inflação garantiram aumento real em nos salários e de todas as campanhas, valori35,57% no piso zaram a PLR e incorporaram uma série de novos direitos na Convenção Coletiva. Os ganhos acumulados acima da inflação somam 16,22% entre 2004 e 2012. No piso, o aumento real no período já soma 35,57%, valorizando o salário inicial da carreira. As conquistas econômicas dos bancários também contribuíram muito com a distribuição de renda no Brasil. Os ganhos que a mobilização da categoria conseguiu arrancar dos bancos este ano significam incremento de cerca de R$ 7,6 bilhões na economia nacional. O valor é 6% superior ao da campanha de 2011, de acordo com projeção feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com todas essas conquistas, os bancários conseguiram fechar um grande acordo para comemorar os vinte anos da Convenção Coletiva de Trabalho. E fizeram jus à história de lutas de uma categoria que é referência para todos os trabalhadores do Brasil.
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Índice Vinte anos da Convenção Coletiva
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Entrevista: Jaime Aroxa
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Dia da Criança e do Idoso
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Dicas de cultura e lazer
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Bancário artista
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Conheça Pernambuco
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Revista Bancários DOS
Opinião
Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Presidenta: Jaqueline Mello Secretária de Comunicação: Anabele Silva Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial: Jaqueline Mello, Anabele Silva, Geraldo Times e João Rufino Redação: Fabiana Coelho e Fábio Jammal Makhoul Projeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno Lombardi Capa: Arte de Bruno Lombardi Impressão: NGE Gráfica Tiragem: 11.000 exemplares
Memória
Direitos
A BÍBLIA DOS
BANCÁRIOS Convenção Coletiva de Trabalho dos Bancários completa vinte anos com uma série de direitos e conquistas que é ampliada a cada campanha. Instrumento também ajuda outras categorias e é referência para os demais trabalhadores do Brasil
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Capa
Campanha Salarial
A
té o início dos anos noventa, os bancários brasileiros tinham poucos direitos. Não havia Participação nos Lucros e Resultados, nem vale-alimentação ou 13ª cesta. O piso e os salários variavam conforme o estado e as negociações eram feitas banco a banco por sindicato. Igualdade de oportunidades, extensão de direitos aos casais homoafetivos e até mesmo o debate sobre a segurança não tinham muito espaço nas negociações. Essa história começou a mudar há exatos vinte anos, quando os bancários conquistaram, depois de muita luta, a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), assinada pela primeira vez no dia 1º de setembro de 1992. A partir daí, todas as conquistas – desde as mais antigas, como a jornada de seis horas e auxílio-creche, até os índices de reajuste e a PLR – são aplicadas igualmente aos bancários de todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Até hoje, vinte anos depois, os bancários continuam sendo a única categoria no país a ter um acordo nacional. “Os
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1992: Assembleia dos bancários no ano em que a categoria garantiu a primeira Convenção Coletiva
bancários brasileiros sempre foram pioneiros nas lutas e conquistas dos trabalhadores. Somos referência para as demais categorias”, diz a presidenta do Sindicatode Pernambuco, Jaqueline Mello. Muitas conquistas que os bancários incorporaram na CCT ao longo desses vinte anos abriram espaço para que os demais trabalhadores pudessem ter os mesmos direitos. “A PLR, por exemplo, que hoje é comum no mercado de trabalho, foi conquistada de forma pioneira pelos bancários em 1995. A cesta alimentação também. Mais recentemente, em 2010, também fomos pioneiros na assinatura de um acordo de combate ao assédio moral, que é exemplo para os trabalhadores até em outros países. E assim, a cada ano, vamos ampliando as conquistas, sempre com muita luta e mobilização”, destaca a sindicalista. Para Jaqueline, a Convenção Coletiva de Trabalho é a principal arma dos bancários contra os abusos dos bancos. “Este instrumento regula todos os nossos direitos e, caso as instituições financeiras desrespeitem a Convenção, podemos acionar a Justiça para garantir que nossas conquistas sejam cumpridas. Por isso é importante que todos os funcionários dos bancos conheçam não só a Convenção Coletiva como também a história que está por trás dessa conquista que, até hoje, só os bancários têm”, ressalta. A união dos bancários A conquista da Convenção Coletiva de Trabalho também acelerou a consolidação de uma antiga estratégia de luta dos bancários: a unidade da categoria. Até então, as negociações eram feitas individualmente entre cada sindicato e o banco. Dessa forma, os direitos, os salários e até a data-base eram diferentes, o que enfraquecia a luta. “Com a implantação da Convenção Coletiva pudemos acelerar a unidade entre os bancários, que se consolidou em 2004, quando os bancos públicos passaram a cumprir a CCT. Hoje, somos mais de 500 mil bancários no Brasil que lutam juntos durante a Campanha Nacional. Com isso, nosso poder de pressão aumentou consideravelmente e
2012: Bancários aprovam acordo para renovação da CCT com mais conquistas
desde então temos conquistado aumento real de salários e PLR maior a cada ano, valorização do piso e a incorporação de novos direitos. Não há uma campanha em que não saímos vitoriosos desde 2004”, afirma Jaqueline. As greves Se os bancários saíram vitoriosos de todas as campanhas nos últimos dez anos, também é verdade que a categoria teve de encarar fortes greves sistematicamente. Para Jaqueline, a necessidade
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de paralisar os trabalhos todos os anos vem da estrutura de negociações com os bancos, que sempre apostam na desmobilização e tentam empurrar uma proposta de acordo que não atende as reivindicações apresentadas. “Infelizmente os bancos nos forçam a fazer greve todos os anos. Os bancários sempre apostam na mesa de negociações e no diálogo para resolver os impasses, mas as instituições financeiras se apoiam no seu poder econômico e adotam uma postura
Campanha Salarial
intransigente, que só tem sido quebrada com a greve. Esperamos que nos próximos anos haja um amadurecimento por parte da Fenaban para que as negociações caminhem sem a necessidade da paralisação que, para nós, é o último recurso utilizado na campanha”, diz Jaqueline.
1992: Os protestos dos bancários sempre foram marcados pelo bom humor
2012: Jaqueline assina a 21ª CCT
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Principais conquistas dos bancários após a Convenção Coletiva
1992 Assinatura da primeira Convenção Coletiva de Trabalho, válida para todo o país. 1994 Conquista da cesta-alimentação.
1995 Bancários são a primeira categoria a conquistar a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). 1997 A saúde do trabalhador é prioridade da Campanha em que os bancários conquistam a complementação salarial para os afastados por doença ou acidentes. 2000 A luta por direitos iguais é fortalecida com a inclusão na CCT da cláusula sobre igualdade de oportunidades. 2003 Primeira campanha nacional unificada reúne bancários de instituições públicas e privadas e garante os mesmos reajustes salariais. 2004 Trabalhadores conquistam aumento real. O reajuste acima da inflação vem após 30 dias de greve e se repete todos os anos desde então. 2005 BB, Caixa e BNB incorporam o valor integral da cesta alimentação da CCT. 2006 BB e Caixa assinam a Convenção Coletiva de Trabalho junto com os bancos privados e estaduais. Os bancários conquistam o valor adicional à PLR e garantem a implantação de grupo de trabalho para debater assédio moral. 2007 Conquista da 13ª cesta-alimentação. 2009 Garantida a ampliação da licença-maternidade para 180 dias e mudanças no cálculo da PLR adicional, com melhorias para os bancários. A cláusula de igualdade de oportunidades se fortalece com a ampliação dos direitos dos casais homoafetivos. 2010 Além da valorização do piso salarial, os trabalhadores arrancam na mesa de negociação o instrumento de combate ao assédio moral e a assistência psicológica em caso de assaltos e sequestros. 2011 Bancários conquistam a proibição da publicação do ranking de performance de metas, valorização do salário e da PLR. Também garantem avanços na segurança, com a proibição do transporte de numerário. 2012 Valorização do piso e da PLR, aprimoramento do instrumento de combate ao assédio moral, avanços na igualdade de oportunidades e um projeto piloto nacional para experimentar as reivindicações de segurança bancária que será implantado no Recife, Olinda e Jaboatão. Pela primeira vez, o BNB assina a Convenção Coletiva.
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Entrevista
Jaime Arôxa
De bancário a
DANÇARINO
Maior expoente da dança de salão brasileira, o recifense Jaime Arôxa fala sobre seus tempos de bancário e sua relação com a dança
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uem gosta de dança, certamente já ouviu falar em Jaime Arôxa. Este recifense, radicado no Rio de Janeiro, é um dos maiores nomes da dança de salão brasileira. Já estudou em Cuba, Argentina, Costa Rica, França, Itália, Alemanha. Coreografou abertura de novelas como Kananga do Japão e Rainha da Sucata. E filmes, como Policarpo Quaresma e Deus é Brasileiro. Também foi o responsável pelas coreografias de dezenas de shows: Mastruz com Leite, Beto Barbosa, Negritude Júnior, Tânia Alves, Roberta Miranda... Imprime seu ritmo ainda em escolas de samba como a Mangueira, Caprichosos de Pilares e Unidos de Vila Isabel. Em várias partes do Brasil, há escolas de dança que ensinam seu método. O que nem todo mundo sabe é que Jaime Arôxa começou sua vida profissional como bancário. A Revista dos Bancários conversou com ele e divide um pouco de suas tantas histórias.
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Entrevista
Jaime Arôxa
REVISTA DOS BANCÁRIOS – É verdade que você começou sua vida profissional como bancário? Conta um pouco desta história... Jaime Arôxa – Eu comecei como auxiliar de escritório no Bradesco Sete de Setembro. Era 1977 e eu tinha meus 16, 17 anos. Dividia minha vida entre o banco e a noite, as mulheres... Era praticamente só atravessar a ponte e eu estava na zona. Então, como sou muito intenso em tudo que faço, fui deixando as mulheres me absorverem e acabei perdendo o colégio, o emprego, e ficando só com a zona. Resolvi largar o Recife e ir para o Rio de Janeiro. Com 18 anos e sem emprego, já fui peão de obra e fiz bico em tudo que é coisa... RB – E sua história como bancário termina aí? Jaime Arôxa – Não, tem mais um capítulo. Uma vez eu estava jogando bola e o dono do time era diretor do Bamerindus. Eu dei um show de bola, fiz gol e nosso time ganhou a partida. Ele disse que eu podia escolher meu presente. E eu retruquei: - Quero um teste na sua empresa. Fui lá, fiz o teste, passei. E comecei uma nova história como bancário. RB – E como era você como bancário? Jaime Arôxa – Era um bom profissional. Todo ano, era campeão em vendas. Rapidamente, comecei a fazer carreira: me tornei assistente de gerente. Já estava cotado pra ser gerente quando conheci a dança... RB – Como você conheceu a dança? Jaime Arôxa – Eu comecei a namorar uma moça que, por sinal, era cliente de minha agência. Um dia, perguntei pra ela: - Onde tem um lugar legal pra gente dançar? Ela não sabia. Mas disse que tinha uma amiga que era professora de dança. Quando eu vi a mulher dançando, eu fiquei extasiado. Pensei: - É isso que
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eu quero pra minha vida. Eu lembro que cheguei lá, na academia de dança, vestido de terno, como todo bancário. Quando falei que queria ter aulas, a professora disse que não havia vagas. Eu teria que esperar e tinha outras 28 pessoas aguardando na minha frente. Eu disse: - Tudo bem, eu espero. E sentei na frente da sala. Ela tentou
explicar que isso podia demorar meses. Eu respondi: - Eu espero. E continuei lá, sentado. No outro dia, lá estava eu, de novo. No terceiro dia sentado em frente à sala, ela não aguentou e me convidou a integrar a turma. RB – Você fazia as duas coisas: tra-
Entrevista
Jaime Arôxa
trabalhava de graça: ganhava a comida e a passagem. Mas, como sou carreirista, comecei a crescer na empresa. Ao mesmo tempo, dava aula particulares de dança. Já estava no setor de Recursos Humanos quando fui contratado pela Escola.
A companhia de dança de Jaime Arôxa tem nove nordestinos – todos da dança popular
RB – E a namorada, ainda ajudava? Jaime Arôxa – Passei três anos com ela. Mas quando comecei a crescer na dança, a relação passou a ficar difícil. Eram muitas apresentações – rosto colado com outras mulheres... ela deu um veredito: Ou eu ou a dança! Eu fiquei com a dança. Depois, fui me desenvolvendo, estudando, criando meu método. Depois de vencer quatro concursos seguidos, eu já era uma celebridade na área. Passei a coreografar para o cinema, televisão, teatro...
balhava no banco e estudava dança... Jaime Arôxa – Fiz isso durante seis meses. Depois não deu mais. Como eu já disse, sou muito intenso em tudo que faço. Não conseguia conciliar as duas coisas. Acabei largando minha vida de bancário. RB – E fazia como pra se sustentar?
Jaime Arôxa – Eu tinha uma namorada que me dava o maior apoio, me ajudava muito. As mulheres sempre foram muito generosas comigo... Depois, comecei a me sentir constrangido de ser sustentado pela mulher. Então passei a trabalhar no Banco de Empregos, preenchendo formulários para os desempregados. No começo,
RB – Você falou sobre teu método. O que o diferencia dos outros? Jaime Arôxa - Antigamente, quem não sabia dançar, tinha de aprender com o professor ou com alguém que soubesse mais que ele. Eu percebi que não. Que dois que não sabem podem aprender melhor quando dançam juntos. Houve uma resistência inicial mas, depois, quando os resultados foram se mostrando, essa ideia passou a se multiplicar nas escolas. Meu método busca a transformação pessoal através da dança. No conceito tradicional, ensinar dança de salão é ensinar uma sequência de passos para serem repetidos. Minha metodologia leva em consideração muitas outras coisas. Ela vai ensinar a modificar posturas, a lidar com nosso próprio corpo, vai ensinar a ouvir os ritmos... E, para isso, é preciso perceber as habilidades e os limites de cada um: trabalhar a autoestima, buscar um universo imenso de detalhes. Ou seja, é uma aula de dança que inclui um pouco de psicologia, RPG e mais uma porção de coisas. Com tudo isso, o aluno não aprende apenas os passos. Ele pode modificar seu corpo e sua mente, a partir da dança. REVISTA DOS BANCÁRIOS 9
Entrevista
Jaime Arôxa
RB – Como a dança afeta o desempenho profissional da pessoa? Jaime Arôxa – A gente tende a carregar pra cama nossos problemas, sobretudo do trabalho. E o bom é levar sonhos para a cama, não pesadelos. A dança funciona como uma vitamina mental. Cada vitória na dança lhe indica uma possibilidade de vitória na vida, no trabalho. A dança amplia o universo de cada um e isso vai gerar efeitos em toda a vida da pessoa. Ela pode, inclusive, ajudar um chefe a comandar fazendo felizes as pessoas que ele comanda. E ter uma equipe fiel e feliz é o passo número um para garantir boa produtividade. Em todas as áreas de nossa vida, precisamos de determinadas qualidades que a dança tem. Temos um corpo animal, racional e espiritual que precisam estar em equilíbrio. A dança ajuda. O corpo racional, por exemplo, inclui o corpo cultural, fruto do meio, e o corpo intelectual, aberto a criações e mudanças. Tudo isso precisa ser levado em conta na hora de ensinar alguém a dançar.
felizes. O defeito é a frieza, a dificuldade em ser lúdico. No Rio de Janeiro, a marca é a irreverência. O carioca gosta de fazer tudo pelo avesso. Se a gente apontar a porta de entrada, ele vai querer sair pela entrada e entrar pela saída. Por outro lado, eles têm uma liberdade e facilidade de expressão muito grande. E uma cabeça antenada com o futuro. RB – E fora do país? Jaime Arôxa – O pior de tudo é dar aula para os europeus. Eles se acham tão superiores que acreditam que você não pode lhes oferecer nada. E, cá entre nós, se a gente parar pra pensar, inteligente mesmo é o brasileiro que consegue viver na miséria e ainda ser feliz!
diatos. Por outro lado, há um pro“A dança funciona blema com como uma vitamina a dança mental. Cada vitória de salão na dança lhe indica no recife. uma possibilidade Enquanto de vitória na vida, eu faço no trabalho” questão de manter minhas raízes RB – Você que já viajou o mundo comigo no Rio de Janeiro, muita gente inteiro, conhece diferentes corpos fica querendo copiar o Sul e Sudeste. culturais. Como é o corpo cultural do Constroem um teto muito baixo. Os recifense por exemplo? melhores bailarinos do Brasil saem do Jaime Arôxa – O recifense tem um Nordeste. Mas são bailarinos da dança corpo muito bom pra dança, muito aberto. popular, do contemporâneo. Não da dança Mas é indisciplinado e passional. Ele de salão. Eu, por exemplo, tenho nove acha que já sabe dançar. Portanto, pode nordestinos em minha companhia – todos faltar à aula. O talento acaba atrapalhan- da dança popular. do a evolução. Para dar aula no Recife, é preciso ser engraçado. As pessoas queRB – E em outros lugares, como é o rem rir. Não dá pra ser técnico demais. corpo cultural? Mas é muito gratificante, principalmente Jaime Arôxa – O paulista é racional uma aula pública, para muita gente, no e super organizado. É, digamos assim, Marco Zero por exemplo. As pessoas um CDF. E são muito obedientes. Se o aprendem rápido. Os resultados são ime- professor disser “seja feliz”, eles ficam
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RB – A dança ajuda a rever preconceitos? Jaime Arôxa – A dança abre a possibilidade de novas relações sociais. Se a gente foi criado pra não falar com estranho, a dança nos ensina a ter um coração aberto e confiança no processo. Nossos preconceitos não são somente de raça ou de gênero, mas sobretudo na relação social com o outro: a gente julga antes de conhecer. E a dança abre isso, porque precisa haver cooperação. É preciso dançar juntos. Pessoas excessivamente eróticas também terão de se reconstruir para conseguir dançar. E quando falo de excessivamente erótico, falo também dos moralistas, que veem sexo em tudo, o que não deixa de ser a mesma coisa. Por isso, o melhor público para trabalhar é a terceira idade. São pessoas que já ultrapassaram esta etapa e conseguem ser sensuais sem sexualizar a dança. E querem experimentar a liberdade que nunca tiveram. Então, as senhorinhas são muito abertas, gostam de falar besteira, dar risadas e compartilhar desta coisa lúdica que há na dança. É como voltar a ser criança.
Dia do Idoso
Dia da Criança
Histórias de
UMA INFÂNCIA bem vivida Sérgio Loureiro, Rosalvo Marques, Dinamérico Palmeira, Ives Macedo, José Honório de Morais, Albérico da Gama, Agostinho Crisósteno, Reginaldo Dias, Severina Chaves, Maria da Paz, Maria de Fátima Fonseca. Entre tantas pessoas, muitas coisas em comum: todos eles já passam dos sessenta anos, são bancários aposentados e, principalmente, guardam da infância deliciosas recordações. Primeiro de outubro é o Dia do Idoso; 12 de outubro, Dia da Criança. Entre estas duas datas, uma certeza: os mais velhos têm muito a falar sobre o que é ser criança.
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História
Brasil Evandro Teixeira
C
omputador, televisão, celular, jogos eletrônicos... nada disso existia quando essa turma era criança. Para a maioria, rádio e telefone eram artigos raros e muitos sequer conviviam com a energia elétrica. “Justamente por isso, nossa infância era mais saudável. A gente corria, brincava, vivia em grupo... Hoje em dia, quem mais se diverte são os meninos da periferia, que ainda brincam na rua, ao invés de passar duas ou três horas na TV ou computador”, opina Sérgio Loureiro, aposentado do Banco do Brasil. Quando a televisão apareceu, Sérgio tinha 14 anos. E ninguém largava as brincadeiras de rua para ver a TV. “Até porque era artigo de luxo. Quem podia comprar, muitas vezes botava no terraço e os vizinhos ficavam espiando pelo lado de fora”, lembra Reginaldo Dias, da Associação de Funcionários Aposentados do Bandepe (Asfabe). A rua era o segundo lar da meninada. Depois de prontas as tarefas e quando não era hora de escola, era na rua que
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Maria da Paz, Maria de Fátima, Niuzinha... mesmo sem a liberdade dos rapazes, elas lembram com alegria dos tempos da infância
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“Eu sinto pena pelos meus netos. Às vezes, até para a praia eles levam o computador. Acho que o progresso atrapalhou a infância”.
mesma liberdade, as brincadeiras também eram coletivas e a rua também era liberada. “Até hoje eu tenho a cicatriz de uma brincadeira de esconde-esconde. Era de noite e não havia energia. Dei uma cabeçada em uma menina que abriu o talho”, lembra Maria da Paz, aposentada do Bandepe.
todos se encontravam. E, nesta época, pouca diferença havia entre o campo e a cidade. Sérgio morava na Encruzilhada, Rosalvo Marques no interior da Paraíba. Ives Macedo morava em Água Fria, José Honório em um engenho em Tiúma. Mas, em todos os casos, os prédios e automóveis não tomavam o lugar das árvores, pessoas e animais. Para os meninos, o futebol era unanimidade – com bola de borracha ou de meia. E também o peão, a bola-de-gude, o futebol de botão... “Subir em árvore, roubar fruta do vizinho, tomar banho de chuva... a gente era feliz e não sabia”, lembra Dinamérico Palmeira, aposentado do BNB. Para as meninas, ainda que sem a
Brinquedos sem consumismo Brinquedos não eram artigos de consumo, mas artefatos essenciais para a brincadeira. “A gente pegava uma lata de sardinha, amarrava um barbante e transformava em carrinho”, lembra Rosalvo, da Associação dos Funcionários Aposentados do BNB. “Ou construía um revólver de madeira pra brincar de bang-bang”, acrescenta Dinamérico. Para as garotas, nada de muitas bonecas. Era uma apenas, feita de pano pela família. Outra nova só quando esta não prestasse mais. E panelinhas de barro, feitas pelas próprias meninas. Sonho de consumo era a bicicleta, que
Dia do Idoso nem todos podiam ter. Dinamérico, por exemplo, juntava dinheiro pra alugar uma bicicleta e passear na cidade paraibana de Patos, onde cresceu. Já Agostinho, aposentado do Bandepe, passeava mesmo era no cavalo dos outros, que ele pegava escondido na cidadezinha onde morou, interior do Piauí. Depois, claro, levava surra da mãe. E José Honório, menino de engenho, pegava carona nas máquinas de transportar a cana. Transporte na cidade era o bonde, que levava as crianças para as sessões de cinema, onde assistiam os seriados do Zorro ou do Capitão América. Era o bonde também que levava de casa até a escola, quando ela era mais distante. Reginaldo, por exemplo, guarda uma lembrança amarga destes tempos. “A gente pegava o bonde e ia pro reboque pra fugir do cobrador. Numa dessas, um colega nosso caiu e foi atropelado. Isso me marcou muito, até hoje”, conta. As festas eram dias especiais. O parque de diversões nas festas da padroeira ou na Festa da Mocidade no Parque 13 de Maio; as malhações de Judas durante a Semana Santa; as quadrilhas no São João. “E tinha o circo. Quando chegava um na cidade, a gente corria pra lá. Via armarem a lona, ficava olhando os animais”, conta Rosalvo. Liberdade e disciplina A liberdade das ruas e das brincadeiras contrastava com a disciplina das escolas. “Todo mundo tinha medo da professora. Lembro até hoje da Dona Marcí. Eu era um aluno razoável, mas confesso que já apanhei de palmatória”, lembra Dinamérico. Metido a valente, ele conta que queria ser o herói dos bang-bangs. Acabava brigando na rua e, em casa, apanhava dos pais. Se a educação era rígida, o que não faltava era menino presepeiro. Ives Macedo, aposentado do BNB, era um destes. Sua diversão era montar nas porcas que se espojavam nas lamas das ruas de Água Fria, para vê-las pular. “E quando passava uma
Dia da Criança
Os meninos do BNB: “a gente era feliz e não sabia”
boiada pela ponte, eu pegava o badoque e atirava nos possuídos do bicho. Gostava de ver ele sair feito doido, espalhando a boiada pra todo lado”, lembra. Os animais eram as grandes vítimas da criatividade cruel da meninada. “Hoje eu brigo quando vejo um menino atirando em passarinho. Mas já fiz muita malvadeza. A sorte dos passarinhos era que minha pontaria era ruim”, lembra Dinamérico. A mesma sorte não tinham os sapos ou lagartixas. “Eu era perverso. Dizia que as lagartixas eram os coreanos e mandava pedra em cima”, confessa o aposentado. Para as meninas, o universo era menor. “Eu era muito presa. Morava com minhas tias e não podia chamar minhas colegas pra brincar. Adorava carnaval e dança, mas só podia ir com meus tios”, conta Severina Chaves, a Biuzinha, aposentada do Bandepe. Outras tinham um pouco mais de liberdade, mas nada que se igualasse aos rapazes.
Mas tinha aquelas que desafiavam as convenções. É o caso de Maria de Fátima Fonseca. “Eu puxava o véu das freiras pra saber se elas tinham cabelo e invadia a clausura delas por pura curiosidade. Fingia que estava doente pra ir dormir na enfermaria e pegar o lanche que serviam por lá. Na adolescência, enrolava a saia pra ficar mais curta e aprendia a fumar, escondida”, conta a aposentada, que roubava goiaba, brincava na rua e fazia tudo o que os meninos faziam. A noite era a hora das histórias, das músicas, da poesia. Albérico da Gama ouvia músicas de Luiz Gonzaga. Para Agostinho, tinha cantoria de violão e histórias de cordel. Para Reginaldo, a empregada que contava histórias longas, de trancoso, com um jeito todo especial. “Eu sinto pena pelos meus netos. Às vezes, até quando vamos para a praia, eles levam o computador. Acho que o progresso atrapalhou a infância”, opina Reginaldo.
A turma da Asfabe e suas boas lembranças
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Cultura e Lazer
Dicas
DIA DAS CRIANÇAS
Festa pra meninada
Como todos os anos, o Sindicato faz festa para a meninada no mês das crianças. No dia 14, a diversão invade o Clube de Campo dos Bancários, em Aldeia. Além de todas as opções de lazer que já fazem parte do clube, haverá recreadores, piscina de bolas, pula-pula, cama elástica, pipoca, algodão doce, tobogã e distribuição de brindes para animar o domingo da meninada. A festa começa às 11 horas, mas o parque aquático já estará funcionando desde cedo. O Clube de Campo fica no km 14,5 da Estrada de Aldeia e o Sindicato vai disponibilizar um ônibus para levar interessados até o clube. O transporte sairá da sede da entidade às dez da manhã e trará o pessoal de volta no final da tarde.
Primeira fase do Campeonato de Futebol termina este mês A primeira fase do Campeonato de Futebol dos Bancários de Pernambuco chega ao fim no sábado, 27. Oito semi-finalistas passam para a etapa seguinte, nos dias 10 e 11 de novembro. A grande final será no mês que vem. Até o fechamento desta edição, o Banco do Brasil liderava o Grupo A e o Bradesco, o Grupo B. A equipe do Banco do Brasil, aliás, começou a disputa com o pé direito. Goleou o experiente time da Apcef-PE por 4X0 e destronou o Itaú, campeão do ano passado, com vitória de 3X0. Os jogos acontecem no Clube de Campo dos Bancários, sábados e domingos, a partir das 8:30 horas.
Para crianças
RECOMENDADOS Festival da Criança
Shows, oficinas e exposições marcam o 1º Festival da Criança, de 10 a 13, na Livraria Cultura e Parque Dona Lindu. Entre as atrações, o músico Hélio Ziskind, compositor de “Cocoricó” (foto). Acesse: www.ofestivaldacrianca.com.br.
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Festival de circo
No final do mês até 18 de novembro, tem início o Festival de Circo do Brasil. Atrações circenses nacionais e internacionais se apresentam no Parque Dona Lindu. Há, também , oficinas, palestras e intervenções. Acesse: www.festivaldecircodobrasil.
Cultura
Bancário Artista
Fernando Cunha
Quando o banco vira enredo literário
A
arte, a família, o banco... tudo se mistura na vida de Fernando Cunha. As histórias no banco viram enredo de literatura. A filhinha de cinco anos vira parceira de artes e travessuras. Na verdade, ninguém sabe se é a filha quem ensina o pai a ser lúdico e inventivo. Ou se é o pai que ajuda a menina a tecer seu mundo encantado. O certo é que Fernando – sozinho, em família ou no trabalho –, nunca cessa de ter ideias. Este bancário, que brinca de caçar formigas com sua filha, é formado em matemática, pós-graduado em marketing e estratégia política, tem MBA em gestão e planejamento ambiental, é gerente geral do Santander em São José do Egito, poeta, escritor e xilogravurista. E ainda fez curso de Fotografia com Firmo Neto. Como escritor, ele já publicou “A Princesa do Capibaribe Encantado” uma viagem poética pelo município de Limoeiro. Também já publicou um cordel
sobre meio-ambiente, escreveu artigos e críticas de cinema. Mas há muitas coisas que permanecem na gaveta. E uma delas são os “Contos Bancários”. São mais de oitenta histórias, curtas e engraçadas, que revivem personagens, tramas e conversas travadas em seus trinta anos como bancário. Fernando veio do antigo Bandepe, passou pelo Real e hoje é Santander. Trabalhou durante muito tempo à noite, no setor de expedição do Bandepe na Rio Branco, e guarda muitas lembranças divertidas. “As pessoas têm uma ideia deturpada do bancário, como um indivíduo frio, que ganha muito e trabalha pouco. Este livro desmistifica um pouco disso”, conta o artista. Desta realidade bancária, ele cria personagens como Primo, caçador de paca, tatu, cotia e outros bichos, que adora comprar cachorro de caça em Minas Gerais e, para trazer os animais em seu fusca, tira o banco traseiro. É um cara que “tem insônia, enormes olheiras e pouco juízo na cabeça”. É um “cabra arrochado, valente, que não tem medo de nada” e desafia as formigas no formigueiro. E surgem histórias várias: do colega que, toda noite, via o biscoito recheado desaparecer, até que decidiu cobrir, um a um, os biscoitos com xilocaína para descobrir quem era o rato que furtava seu lanche. Ou relatos eróticos de toda espécie: do rapaz que fazia o tipo garanhão e era, na verdade “viciado em bater bronha”, ou de outro que foi atacado por uma tarada na parada de ônibus. Segundo o autor, o livro já está pronto. Resta publicar. Além desse, Fernando também tem dois outros projetos em andamento: um livro sobre vampiros urbanos, ambientado nos tempos da invasão holandesa, e outro voltado para o público infantil, que conta a história dos irmãos Cabeça de Pizza. “Eu me divirto muito em meu trabalho. E à noite, minha cabeça fervilha de ideias. Eu vou botando tudo no papel. Um dia eu retomo aquilo e corro atrás para botar em prática”, conta. REVISTA DOS BANCÁRIOS 15
Turismo
Conheça Pernambuco
ipojuca
Cinco coisas diferentes para se fazer em Porto de Galinhas
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orto de Galinhas todo mundo conhece. Ou pelo menos, já ouviu falar. Eleita dez vezes a melhor praia do Brasil, é o orgulho de todo pernambucano. Mas ainda há lugares em Porto de Galinhas que nem todo mundo conhece e onde é possível escapar da agitação e especulação que invadiram o lugar. Listamos abaixo cinco coisas diferentes que você pode fazer na praia mais famosa do estado. 1 - Estacione em Muro Alto e caminhe, ou tome um bugue, até a Praia de Camboa. Longe do agito dos turistas, a praia ainda é praticamente deserta. O silêncio permite escutar o barulho do mar, enquanto se aprecia a paisagem de coqueiros e o manguezal.
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Quando a maré baixa, os arrecifes formam uma grande piscina natural que proporciona um banho em águas calmas e pouco profundas. 2 - Experimente a cachaça e rapadura do Engenho Canoas. Fica perto do distrito de Nossa Senhora do Ó: acesso pelo km 2 da rodovia PE-009. Lá, você será recebido por um guia, que lhe mostrará uma moenda de 1850, o alambique de cobre e falará sobre o processo de fabricação da aguardente, mel de engenho e rapadura – com direito à degustação. 3 - Tente abraçar o baobá gigante, em Nossa Senhora do Ó. Mas o tronco é tão grosso, que precisa de vinte pessoas para isso. O baobá foi plantado no local pelos escravos vindos da África e possui mais de 400 anos de existência. 4 - Desfrute de um pôr-de-sol na Igreja do Outeiro. Construída no século XVII pelos portugueses, ela fica 137 metros acima do nível do mar e, portanto, oferece uma vista privilegiada que vai do Cabo de Santo Agostinho ao Cabo de Santo Aleixo. A trilha de acesso, via Maracaípe, tem mais de 300 anos de história e foi utilizada para o tráfico de escravos e circulação de mercadorias no período colonial. 5 - Passeie, a pé ou de jangada, pelo manguezal de Maracaípe e visite o Projeto Hippocampus. Pioneiro no estudo de cavalos-marinhos no Brasil, o local é aberto à visitas de terça a domingo das 9h às 13h e das14h30 às 17h. Lá, a R$ 4 por pessoa, é possível conhecer e apreciar várias espécies de cavalos-marinhos.