Revista dos Bancários 75

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nº 75 - mai. a jul. de 2019 ano 9

FUTURO DA EDUCAÇÃO Corte de 30% das verbas da Educação geram onda crescente de insatisfação popular contra o governo


Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-000 Fones (81) 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Suzineide Rodrigues Secretário de Comunicação Epaminondas Neto Conselho Editorial Epaminondas França, Beatriz Albuquerque, Josenildo Santos, Suzineide Rodrigues, Expedito Solaney e Cândida Fernandes Jornalista responsável Beatriz Albuquerque Redação Beatriz Albuquerque e Brunno Porto Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem de capa Freepik Impressão CCS Gráfica Tiragem 6.000 exemplares

Editorial

Existimos e resistimos O corte de verba para a Educação aprofundou o desmonte social que vem sendo promovido pelo governo Bolsonaro desde o início do seu mandato. Os constantes ataques ao povo brasileiro geraram indignação na população, que hoje está nas ruas para lutar pelos seus direitos, como mostra a matéria de capa da Revista dos Bancários. Além de defender a Educação pública e o fortalecimento dos bancos públicos, os bancários de Pernambuco somam forças com os estudantes e trabalhadores para barrar a nefasta reforma da Previdência, defender o emprego, exigir condições de saúde e de segurança. É certo que a proposta do governo não combate privilégios, como esclarece o economista e professor, Eduardo Moreira, na seção de entrevista; mas penaliza toda a classe trabalhadora, em especial as mulheres, trabalhadoras rurais e professoras. Nesta edição, também trazemos uma matéria sobre a MP 873/2019, que visa inviabilizar financeiramente os sindicatos. Isso porque formamos o principal setor de resistência ao desmonte da Seguridade Social e ao projeto privatista do governo. Junho será um mês de resistência política, com a greve geral convocada para o dia 14. E também de resistência cultural. Festejos juninos tradicionais, com muito forró e baião, animam da Capital ao Interior de Pernambuco. Tem dica de Cultura para o São João e, no ritmo do forronejo, apresentamos na seção Bancário de Talento, Alexandre Neto. Neste São João, ninguém larga ninguém. Boa leitura!

Sindicato filiado à

Suzineide Rodrigues Presidenta do Sindicatos dos Bancários de Pernambuco

@bancariospe

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MP 873 Organização dos trabalhadores violada

Festejos juninos esquentam a Capital de Pernambuco

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p. 14

Brasileiros defendem empresas públicas

Bancário de Talento Alexandre Neto é a voz dos bancários pelo São João p. 15

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Anny Karoliny

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Entrevista: Eduardo Moreira afirma que a reforma da Previdência não garante proteção para população

Fernando Frazão/Agência Brasil

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Educação sofre corte de 30% no seu orçamento

Brasil bate recorde de subutilizados

Vila Velha e sua vista indescritível

p. 12 Tânia Rêgo/Agência Brasil

p. 16 mai. a jul. de 2019

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Sindicato

Medida Provisória 873/2019 viola livre organização dos trabalhadores

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Contraf-CUT

Med i d a P rov i s ó ria 873/2019, que ataca diretamente o ativo financeiro das organizações sindicais, busca, primordialmente, fragilizar a luta do movimento em defesa das garantias historicamente conquistadas pela classe trabalhadora. De acordo com especialistas, esta MP traz conteúdo incompatível com a liberdade sindical garantida pela Constituição. O Ministério Público do Trabalho (MPT), em nota técnica

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divulgada no dia 14 de maio pela Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (Conalis), aponta que a MP 873 rasga a Constituição, deixando claro que é grave a intervenção do Estado na organização sindical. Em vigor desde 1º de março, a MP 873 tramita no Congresso Nacional em paralelo a outras iniciativas do governo Bolsonaro que visam retirar direitos. A medida determina que as mensalidades e contribuições sindicais só sejam recolhidas se forem autorizadas de forma prévia, voluntária e individual, por escrito, pelo trabalhador, desconsiderando Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) e acordos previamente debatidos e aprovados pela categoria. Os alvos de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, são os sindicatos e as centrais sindicais, pois são as entidades que defendem os interesses da classe trabalhadora e, diante da reforma da Previdência e das privatizações, resistirão à aprovação dessas pautas prioritárias


“O governo Bolsonaro quer retirar direitos da classe trabalhadora e para isso, tenta neutralizar os sindicatos. A MP 873 é antissindical e inconstitucional” Suzineide Rodrigues

para o governo. “O governo Bolsonaro quer retirar direitos da classe trabalhadora e para isso, tenta neutralizar o movimento sindical. Essa medida é antissindical e inconstitucional. Mas as trabalhadoras e trabalhadores estão ao lado dos seus sindicatos, pois sabem que foram as organizações sindicais que garantiram políticas de correção anual do salário, de direito à Participação de Lucros e Resultados (PLR), além de todas as garantias, como jornada de trabalho”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues. O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6), reconhecendo a violação da liberdade sindical, autorizou a continuidade do desconto em folha de pagamento da contribuição sindical dos empregados do Banco do Nordeste, Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, quando os bancos haviam suspendido os repasses aos sindicatos das mensalidades do mês de abril. Os

bancos alegaram impedimento do repasse devido à Medida Provisória 873/2019. Grande vitória dos bancários, o reconhecimento por parte do TRT sobre o importante papel que os sindicatos exercem em defesa dos direitos da categoria, reafirma o compromisso da luta do Sindicato contra o desmonte impulsionado por uma desastrosa gestão presidencial. A categoria bancária, de acordo com o Cadastro Nacional de Entidades Sindicais (CNES) e com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), ambos do Ministério da Economia, possui o maior índice de sindicalização do País. A taxa de bancários sindicalizados é de 64%. Visando retrair a força das centrais e do movimento sindical, favorecendo apenas os banqueiros, o governo Bolsonaro não está medindo esforços para cumprir as promessas firmadas nas eleições de outubro de 2018. Outras entidades representativas dos trabalhadores estão

obtendo, favoravelmente, uma série de decisões judiciais contra a proposta do governo Bolsonaro. Entre as ações vitoriosas, mandados de segurança e decisões liminares estão sendo conquistadas na Justiça do Trabalho e na Justiça Federal. Em todo o País, mais de 50 entidades sindicais cutistas conseguiram derrubar a MP 873 por meio de liminar. Para o dirigente do Sindicato e pré-candidato à Presidência da CUT-PE, Fabiano Moura, o governo não quer deixar nenhuma barreira no seu caminho para avançar com o desmonte social. “O Sindicato sempre enfrentará toda e qualquer injustiça, seja cometida pelos banqueiros, ou seja pelo governo. Asfixiar financeiramente as entidades sindicais é tentar reduzir o poder de mobilização dos sindicatos para deixar o trabalhador sem ninguém que o represente. O ataque não é contra os sindicatos, mas contra os trabalhadores brasileiros e os direitos conquistados ao longo dos anos”, alerta. mai. a jul. de 2019

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Bancos Públicos

Cresce mobilização em defesa das empresas públicas no País

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ara justificar a privatização de todas as estatais do País, a cúpula econômica do governo Bolsonaro vende a falsa ideia da ineficiência das empresas públicas. Os bancos públicos são prova de que além de cumprir o seu papel social, as estatais são lucrativas - Banco do Brasil (13,5 bilhões); Caixa (R$ 10,3 bilhões); e Banco do Nordeste (725,5 milhões). O ministro da Economia, Paulo Guedes, estima que a soma da venda de todas as empresas, inclusive a Petrobras, e imóveis do governo renda R$ 1,25 trilhões.

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Diante das ofensivas contra o patrimônio brasileiro, movimentos sindicais e sociais intensificaram as mobilizações para frear a privatização das empresas públicas. O Sindicato dos Bancários de Pernambuco participou, no dia 8 de maio, do lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, em Brasília (DF). O evento contou com a presença de deputados e senadores de diversos partidos, lideranças e representantes de centrais sindicais. A presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, afirmou que as empresas públicas possuem um papel fundamental na vida dos brasileiros. “O financiamento da agricultura familiar depende dos bancos públicos. Se isso for para os bancos privados, o alimento vai chegar mais caro na mesa do trabalhador. Se os bancos públicos acabarem, muitas cidades pequenas do Brasil vão ficar sem agências, pois os bancos privados só estão aonde o dinheiro está. O trabalhador tem que saber que vai pagar mais caro no financiamento da sua habitação. A gente precisa falar claramente com a população o que representa a entrega do patrimônio brasileiro e dizer que estamos juntos com os trabalhadores na luta em defesa dos interesses do povo brasileiro”, destacou Juvandia.


A Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos irá analisar todos os projetos em tramitação nas duas casas legislativas, Câmara e Senado, e difundir a importância das instituições financeiras públicas para o desenvolvimento do Brasil. Estiveram representando o Sindicato a secretária-Geral, Sandra Trajano, a secretária de Bancos Públicos, Cândida Fernandes, e o diretor regional, Rubens Nadiel. “Os bancos públicos impulsionam a economia, desenvolvem as regiões e reduzem as desigualdades sociais, oferecendo linhas de crédito acessíveis para população de baixa renda. Os bancários de Pernambuco vão intensificar as mobilizações em defesa do Banco do Brasil, da Caixa e do Banco do Nordeste”, afirma Sandra Trajano. Além da ferramente política, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) apresentou uma reclamação constitucional, visando impedir a retomada do processo de venda de ativos da Petrobras e de outras empresas estatais, incluindo os bancos públicos. Três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs), que tratam da necessidade de autorização do Congresso Nacional para privatizações do patrimônio público, foram analisadas pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). A Suprema Corte decidiu dispensar o aval do Legislativo para venda de subsidiárias das estatais e também processo licitatório,

desde que siga procedimento que observe os princípios da administração pública, previstos no artigo 37 da Constituição Federal (CF), respeitada sempre a exigência de competitividade. Com a decisão, o governo poderá entregar ao capital privado, sem autorização do Congresso Nacional, ativos lucrativos das empresas públicas, como a Lotex e a Caixa Seguros, no caso da Caixa; e BB cartões e BB DTVM, no caso do Banco do Brasil. Em razão do leilão das Loterias Caixa (Lotex), o Sindicato dos Bancários de Pernambuco, em parceria com o Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), reuniu mais de 300 pessoas em um forte ato público contra o fatiamento da estatal. O certame foi suspenso pela sétima vez e não há previsão para nova data. A Eletrobras é mais um alvo do atual governo. De acordo com o modelo de venda previsto pelo governo, as ações da empresa serão lançadas na Bolsa até que a participação da União seja diluída e a iniciativa privada assuma o controle da estatal. Os urbanitários lutam pela derrubada de

projetos que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado, com o objetivo de privatizar as empresas do setor. “Querem lucrar de todas as formas, sem se preocupar com o que vai acontecer com a população. Privatizar não é a solução. Precisamos nos unir e enfrentar o desmonte que atinge todos os setores”, destaca a presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que já deu sinal verde para a privatização dos Correios e que “será assim com outras estatais”. Antes de anunciar o valor da empresa, o governo lançou um plano de desligamento voluntário (PDV) com meta de 7.300 funcionários e anunciou o fechamento de 161 agências. A secretária de Bancos Públicos do Sindicato, Cândida Fernandes, critica o desmonte. “O processo de reestruturação das empresas públicas nada mais é do que a fórmula utilizado pelo governo para desvalorizar a estatal e vender por um valor rebaixado que só interessa ao mercado. Resistiremos, todos juntos, pelo nosso patrimônio”, conclui. mai. a jul. de 2019

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Entrevista: Eduardo Moreira

“A Previdência foi deficitária nos últimos três anos, mas foi superavitária durante todos os anos anteriores”

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studioso das desigualdades sociais, o renomado economista e professor Eduardo Moreira destaca em entrevista à Revista dos Bancários os impactos da Proposta de Emenda Constitucional 6/2019 – Reforma da Previdência, que está em tramitação no Congresso Nacional. A reforma da Previdência cortará privilégios como garante o governo Bolsonaro? O que acontece na reforma da Previdência é uma tremenda injustiça. Alguns poucos privilégios serão diminuídos. Porém, em contrapartida, a reforma irá prejudicar um número bem maior de brasileiros. Para uma pessoa que ganha acima do teto constitucional, essa reforma vai cobrar um pouco mais, mas o grosso do dinheiro que se pretende economizar, mais de 90% do montante, vai ser em cima das

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pessoas que ganham até dois salários mínimos. Ela não é, com certeza, uma reforma focada em cortar privilégios. O que poderá mudar com relação à garantia mínima oferecida pela Seguridade Social? Hoje, independente de quanta maldade tiverem feito com você, menos do que um salário mínimo (R$ 998) você não vai ganhar. Isso te garante o mínimo de condição para sobreviver fora da linha da pobreza. A reforma da Previdência vai acabar com essa justiça social que a Seguridade Social garante. Outro problema, é que a reforma vai excluir pessoas que trabalharam a vida inteira, mas não conseguem comprovar os 15 anos, muito menos os 20 anos estipulado pelo governo. A grande maldade do governo é que a nova Previdência vai recalcular o tempo dessas pessoas, adiantando sua aposentadoria, mas liberando apenas R$ 400. O governo adianta, mas o beneficiário vai ganhar menos. Já que essas pessoas, em geral, não têm alta expectativa de vida, consequentemente, o governo acabará pagando menos no resultado final. Quais são os principais prejuízos para população, caso a reforma da Previdência seja aprovada? Entre os prejuízos, temos um impacto direto na economia dos municípios, porque as novas pessoas que iriam se aposentar e manter o


fluxo de demanda daquele local, boa parte delas passam a não se aposentar. As pessoas não terão mais aquela receita para consumir no comércio local, causando grande impacto nas receitas das pequenas cidades, destacando o aumento no percentual de miséria. O Brasil é um dos países que conseguiu praticamente erradicar a miséria entre a população mais velha, que poderá voltar a crescer caso a reforma passe no Congresso. Isso é um prejuízo imediato. Para a economia como um todo, você deixará de repassar o dinheiro para uma parcela da população que gasta tudo o que tem e faz o dinheiro retornar para economia. A Previdência Social está deficitária? Nos últimos anos tivemos uma Previdência deficitária, mas ela não é estruturalmente deficitária. A Previdência foi deficitária nos últimos três anos e foi superavitária durante todos os anos anteriores. Se você olhar o resultado total, não houve deficit. Isso acontece no mercado. Pense em uma empresa que deu prejuízo em um determinado ano. Ela vai fechar? Não é assim que funciona. Nos anos que ela teve prejuízo, ela usa os resultados acumulados para poder passar o momento de crise. Sempre que tivemos resultado positivo na Seguridade Social, pegávamos parte da receita e desvinculávamos para pagar outras coisas. E aí, quando a gente começou a ter resultados negativos, o que é que

está sendo pensado? Acabar com a Seguridade Social? Não parece fazer muito sentido. Sobre o modelo de capitalização que o governo Bolsonaro está propondo, quais as garantias asseguradas para população? Nenhuma. Não existe nenhuma garantia, de nada. Esse regime de capitalização retira você do atual benefício definido. Você sabe quanto está contribuindo, mas não sabe o que vai ganhar mais para frente. Esse que é o regime de capitalização. Além de já ser um modelo que sujeita os trabalhadores que pouparam o seu dinheiro a intempéries do mercado, passando por crises, você está em um risco enorme. Não há seguro ou proteção, você não tem a Seguridade Social. Além de tudo isso, a PEC não define claramente a capitalização. Acaba com toda sua proteção, dando um cheque em branco para ser feito de um jeito que beneficia, com certeza, os bancos, e não beneficia a população. Hoje o sistema previdenciário corrige as injustiças do País, reduzindo a desigualdade. O que vai acontecer com essa realidade? Essa injustiça, que é em parte corrigida, vai deixar de ser corrigida. Com o sistema de capitalização, ela não só deixa de ser corrigida, como passa a ser potencializada. Porque quem ganha menos, poupa menos, então recebe menos no sistema de capitalização. Eu uso o exemplo da mulher, que tem

uma carreira mais curta, ganha menos por causa do preconceito de gênero no trabalho, e vive mais. Quando você joga tudo isso na conta da capitalização, lá na frente ela vai receber muito menos no que se refere aos seus benefícios mensais. Ou seja, aquilo que já é uma injustiça enorme pela vida de trabalho da mulher, quando ela se aposenta vai se tornar uma injustiça muito maior. Como você avalia a velocidade da tramitação da reforma da Previdência? No início o governo tentou passar tudo meio que de supetão, achando que as pessoas não entenderiam os detalhes e entrariam nessa conversa de que a reforma da Previdência combateria privilégios. O medo era que ela fosse aprovada a toque de caixa, sem a realização do correto debate. Mas isso não aconteceu. O debate já chegou na população. Então, agora eu estou achando que vai ser mais difícil para o governo passar uma reforma cruel como essa. Qual mensagem você gostaria de deixar para população? Nessa reforma da Previdência, ninguém, absolutamente ninguém, ficará melhor depois do que antes. Então, qualquer peça publicitária, postagens em redes sociais, mensagem via whatsapp, que você receber te dizendo que você estará melhor depois da reforma do que antes, é mentira. Não deixe que essa crueldade faça parte da sua vida. mai. a jul. de 2019

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

Educação

Corte de verbas da Educação compromete desenvolvimento do País

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corte de 30% das verbas discricionárias destinadas às Universidades e Ins-

titutos Federais, anunciado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, acendeu uma chama de indignação entre os brasileiros. O fato repercutiu rapidamente pelo País, avançou nas mais diferentes esferas da sociedade, gerando uma onda de insatisfação popular diante do governo Bolsonaro e suas medidas. “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo

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balbúrdia terão verbas reduzidas” e “a universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”, disse Abraham, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, para justificar a retirada de verbas para educação. Os ataques prejudicam o desenvolvimento de pesquisas científicas, além de afetar a administração dos campus, pois a verba cortada também custeia a água, luz, terceirizados, obras e equipamentos. Mesmo após mais de 2 milhões de brasileiros protestarem contra a medida, representantes do governo Bolsonaro não descartaram novos cortes, caso a equipe econômica afirme ser necessário ampliar o bloqueio de recursos no caixa do governo ainda neste semestre. A presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues, ressalta que a postura do governo Bolsonaro atinge principalmente a população mais pobre do País. “Mais de 30 milhões de brasileiros saíram da miséria durante os governos do campo progressista. Agora, Bolsonaro quer que a população, principalmente os nordestinos, volte a pedir esmola. O governo ataca diariamente as


trabalhadoras e trabalhadores deste País, desde o início do seu mandato, e agora também volta-se contra os estudantes. Cortar a verba da educação é impedir o desenvolvimento do País. Por isso, estamos nas ruas, reivindicando a manutenção de todos os nossos direitos”, afirma Suzineide. No mês de maio, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco uniu-se aos professores, estudantes, movimentos sociais e sindicais, em atos unificados em defesa da Educação pública e da Previdência Social solidária. Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), afirma que os brasileiros, insatisfeitos com o governo, deram uma positiva resposta aos desmandos da cúpula de Jair Bolsonaro. “Enchemos o Brasil de marcha como nos ensinou o patrono da Educação brasileira, Paulo Freire. É ocupar as ruas, é resistir, em defesa da Educação pública do nosso País. Estamos nas ruas para dizer não ao

corte de investimentos do governo Bolsonaro, não à reforma da Previdência pública do povo brasileiro. Estamos ocupando todas as ruas. Foi apenas um aperitivo da greve geral da classe trabalhadora”, destaca Heleno. Ao mesmo tempo em que os brasileiros tomavam conta das ruas em defesa de uma educação de qualidade e contra os cortes de verba, o presidente Jair Bolsonaro chamou de “idiotas úteis” e “massa de manobra” os professores, estudantes e trabalhadores que participavam das manifestações. O corte orçamentário também propiciou o debate sobre o papel dos bancos públicos no financiamento educacional. Com o lema “Bancos Públicos Fortes, Educação para Todos”, diretores do Sindicato percorreram agências do Recife e defenderam a Caixa e o Banco do Brasil, que além de repassar recursos para a Educação pública, são responsáveis pela concessão de programas como o Fundo de Financiamento Estu-

dantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni). Em Pernambuco, os impactos do bloqueio preocupam o corpo docente, gestores e estudantes. A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), por exemplo, precisou cancelar contratos de serviços como segurança, manutenção, limpeza e cuidados com os animais, totalizando 112 demissões. O número de postos de trabalho em risco na soma entre a UFRPE, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) e Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) chega a 3,5 mil. “É resistir, lutar contra mais esse grave ataque, e fazer valer os nossos direitos. Embora o impacto negativo dessa medida seja incalculável, sabemos que é algo grandioso. O Sindicato segue combativo e vai lutar em defesa da educação como direito fundamental dos brasileiros”, conclui Suzineide. mai. a jul. de 2019

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Trabalho

Desemprego atinge mais de 13 milhões de brasileiros

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bancos já fecharam mais de 1.600 postos de trabalho no País, nos primeiros três meses de 2019. Estamos vendo que retirada de direitos, como a reforma trabalhista, não geram emprego nem aquecem a economia. Assim como retirar o direito dos brasileiros se aposentarem no futuro também não vai gerar crescimento e geração de emprego no País”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues. Os números apresentados pelo IBGE são preocupantes. A taxa de subutilização da força de trabalho subiu para 24,9%, ante 24,2 % no trimestre de novembro de 2018 a janeiro de 2019. “O governo Bolsonaro não possui um projeto econômico sólido para o País, a falta de propostas efetivas para a retomada do crescimento é a principal preocupação dos brasileiros, que estão sem expectativa. O Sindicato seguirá defendendo os direitos dos trabalhadores, os empregos e melhores condições de trabalho”, afirma Suzineide. O número de pessoas desalent ad a s che go u a 4,9 milhões no trimestre encerrado em abril, alta de 4,2% em 1 ano (mais 199

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om a economia estagnada e sem propostas concretas do governo Bolsonaro para a retomada do crescimento, a taxa de desempregados no Brasil permanece em alta. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no dia 31 de maio, o número de brasileiros desempregados chegou a 13,2 milhões. Apesar da pequena queda do desemprego no trimestre de feve re i ro a abril, a população subutilizada atingiu 28,4 milhões, número re c o rde d a s é r i e histórica iniciada em 2012. O grupo de trabalhadores subutilizados reúne os desempregados, aqueles que estão subocupados ou fazendo bicos (menos de 40 horas semanais trabalhadas), os desalentados (que desistiram de procurar emprego) e os que poderiam estar ocupados, mas não trabalham por motivos diversos. “Mesmo lucrando bilhões, os


Vitor Abdala/Agência Brasil

mil pessoas), e também número recorde na série histórica do IBGE. Já o contingente de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas chegou ao número recorde de 7 milhões, alta de 3,3% (mais 223 mil pessoas) em relação ao trimestre móvel anterior e aumento de 11,9% (mais 745 mil) na comparação interanual. A secretária de Formação do Sindicato, Adriana Correia, destaca que a falta de investimento na capacitação da população é um grave obstáculo na busca por um emprego formal. “Os brasileiros estão descobertos em todos os sentidos. São vários ataques que dificultam o ingresso do profissional no mercado de trabalho. A falta de investimento do governo Bolsonaro para educação gera consequências para a qualificação dos trabalhadores, que enfrentarão ainda mais dificuldades para conseguir uma vaga no mercado formal”, afirma. O rendimento médio real do brasileiro, de R$ 2.295,00, ficou estável nas comparações tanto com o trimestre anterior quanto em relação ao mesmo período do ano passado. Se somadas as pessoas desempregadas, as subutilizadas por jornadas de trabalho menores e o número de pessoas com potencial de trabalho, o índice chega a 24,9%. A alta foi de 0,7 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior, encerrado em janeiro de 2019 (a taxa foi de 24,2%) e alta de 0,4 pontos em relação ao trimestre encerrado em abril de 2018, quando a taxa era de 24,5%. mai. a jul. de 2019

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Dicas de Cultura

Arraiá no Recife é bom demais

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Andréa Rêgo Barros/PCR

alorizando a cultura local, o São João do Recife 2019 homenageará o cantor e compositor Nando Cordel e o compositor Zédantas, este último em memória. A festa “São João da Paz” promete muito forró pé de serra, xote e baião. O Sítio da Trindade, localizado no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, concentra as principais atrações, com palco para show, sala de reboco, e um pavilhão para concurso de quadrilhas juninas. Com um aconchegante clima de Interior e deliciosas comidas típicas, o local reúne milhares de pessoas durante o ciclo junino.

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Processos críticos e criativos estimulados pelo teatro A oficina “Teatro-jornal: da leitura à cena” propõe uma vivência artística e pedagógica com base no método do Teatro do Oprimido e ênfase na sua primeira técnica: o Teatro Jornal. Partindo de profundas análises de textos não dramáticos e suas possíveis relações afetivas com as histórias de vida dos participantes, a oficina tem por objetivo estimular processos criativos críticos e que incentivem uma atitude autônoma de oprimidas e oprimidos frente à descoberta de suas próprias potências artísticas, estéticas e de transformação da

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realidade. A oficina será ministrada pelos arte-educadores Andréa Veruska e Wagner Montenegro, que têm como desejo aprofundar as pesquisas e as multiplicações do Teatro do Oprimido, desde quando fundaram, em 2012, o Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido (NEXTO).

SERVIÇO

Período: 27 e 28 de julho Horário: 09h às 17h Mais informações: www.nextope.com contato@nextope.com


Bancário de Talento

Alexandre Neto

Música de qualidade em todos os ritmos

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ertanejo, filho de agricultor e de uma índia, razão pela qual identifica seu gosto pela arte, Alexandre Neto nasceu em Mirandiba, no Sertão de Pernambuco. Amante da pintura e do desenho, artes mais expressivas na infância e adolescência, Alexandre dedica-se atualmente às poesias musicadas. Alexandre Neto vivencia o universo bancário desde os 14 anos, quando começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais no Banco do Brasil. Após concurso, recebeu sua nomeação como escriturário, também no BB, em 1994. Hoje, morando na sua cidade natal, a música está totalmente inserida no dia a dia desse artista e bancário mirandibense. O forrónejo, mescla entre o forró e o sertanejo, é o atual estilo musical tocado nos acordes do violão de Alexandre, mas a paixão pelos clássicos dos anos 80, som que o levou a tocar nas rádios da cidade de Salgueiro, não ficam fora do repertório. Tim Maia, Fagner, José Augusto, Fábio Júnior e outros ícones da MPB deram o tom necessário para que a música e o canto ecoassem cada vez mais na estrada desse Bancário de Talento.

Entre o forró, arrocha e o baião, Alexandre prepara para este São João um repertório que vai fazer o público arrastar o pé a festa inteira. No início as apresentações eram para pequenos públicos, mas sempre com muita emoção. Hoje, o artista canta em grandes palcos com o trabalho Alexandre Neto & Banda. Influenciado pelo já falecido “Seu Né”, tio do cantor e músico apaixonado pelos ritmos hoje tocados por Alexandre, o bancário sonha em um dia ser reconhecido como artista de renome. Mesmo diante das dificuldades do universo musical, Alexandre pretende levar sua poesia musicada para o maior número de pessoas possível. “Depois dos 40 anos, os sonhos são outros. Um dia sonhei em ser bancário e consegui. Hoje sonho em construir uma outra carreira. É algo inexplicável e que continuo sentindo correr em minhas veias. Vou seguir cantando e levando essa arte para quem quiser ouvir”, conclui Alexandre Neto. mai. a jul. de 2019

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Vila Velha, sua vista e seus encantos

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om 484 anos, Vila Velha é um dos recantos mais antigos do Nordeste brasileiro. O local esbanja poesia e oferece uma vista que é puro encantamento. Localizado na Ilha de Itamaracá, litoral norte pernambucano, o povoado está situado no mais alto ponto da terra de Lia, famosa cirandeira do Estado. Parada obrigatória na passagem para Itamaracá, a Vila oferece atrações que deixam os turistas com água na boca. Idalice Batista é a tapioqueira mais conhecida da região, e suas

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cocadas e bolos típicos também são irresistíveis. Além de deleitar-se com a gastronomia local, o turista pode visitar a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de arquitetura barroca e renascentista, que está no centro da Vila, sempre de portas abertas.A igreja foi construída entre 1524 e 1529 e é uma herança histórica do primeiro povoado da capitania de Itamaracá, uma das 15 divisões do território brasileiro no período colonial, segundo a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). A vista para Coroa do Avião contrasta com a reserva de mata atlântica, que guarda espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção. Uma trilha no meio das grandiosas árvores leva o visitante até lindas praias que margeiam toda costa. Para aqueles que gostam de história, moradores encontraram recentemente ossos de pelo menos seis pessoas. Os esqueletos que provavelmente foram enterrados antes do Século 19, agora estão visíveis na rua princial de Vila Velha devido às fortes chuvas e erosões. É mistério, beleza e história reunidos em um só lugar.

Fotos: Anny Karoliny

Conheça o NE


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