nº 50 - janeiro/2015
Criada há mais de quatro anos, a Revista dos Bancários completa 50 edições agora, em janeiro. Conheça um pouco a história desse veículo, que já se transformou num importante instrumento de comunicação plural e alternativo
É CARNAVAL Confira a entrevista exclusiva com Maestro Spok, que será o homenageado do Carnaval do Recife este ano
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Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Jaqueline Mello Secretária de Comunicação Anabele Silva Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial Jaqueline Mello, Anabele Silva, Geraldo Times e João Rufino Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem da capa assassinm / FreeImages Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares
Sindicato filiado a
Editorial
Cinquentinha Em setembro de 2010, menos de um ano depois da posse da atual direção, o Sindicato lançou a primeira edição da Revista dos Bancários. Quase quatro anos e meio depois, a Revista chega a sua quinquagésima edição como um instrumento de comunicação plural e alternativo. Pela revista, já passaram importantes entrevistados, como Maria da Penha, Naná Vasconcelos, Edilza Aires e Jaime Arôxa, além de políticos, historiadores, militantes de diversas áreas.... A ideia original foi oferecer ao bancário um instrumento de leitura que fugisse das questões sindicais e trabalhistas, que são o foco dos demais materiais de comunicação do Sindicato. E, nessas cinquenta edições, conseguimos levar até os bancários uma série de reportagens, densas ou leves, que o leitor não encontra na chamada grande imprensa. Neste momento em que os grandes veículos de comunicação do Brasil sofrem com a maior crise de credibilidade da história, o Sindicato conseguiu construir uma revista que vai ao encontro da luta pela democratização da mídia. E, sem falsa modéstia, queremos dar uma grande lição para a imprensa tradicional: a de que imparcialidade não existe. Na verdade, os grandes veículos de comunicação sabem disso, mas continuam fingindo que são imparciais, embora não convençam mais ninguém. Aqui, nossa Revista é dos bancários e nossas matérias mostram a visão do trabalhador, não do patrão e nem dos seus interesses econômicos. Por isso, bancárias e bancários, aproveitem a sua revista, pois as próximas cinquenta edições vêm aí. Nosso compromisso é continuar levando até você reportagens de qualidade, com uma visão social que, hoje, só os veículos de comunicação alternativa produzem. Nas próximas semanas, a Secretaria de Comunicação do Sindicato apresentará outras novidades para os bancários, com a reformulação do site, da TV e da rádio. Enquanto isso, aproveite a edição 50 da Revista dos Bancários e Feliz 2015.
@bancariospe
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Revista dos Bancários
/bancariospe
/bancariospe
Divulgação
assassinm / FreeImages
Índice
Entrevista do mês: Maestro Spok fala sobre frevo e cultura
Revista dos Bancários completa 50 edições
Página 4
Página 9
Confira nossas dicas de cultura e de lazer
Tiburcio dos Santos: um idealista aos 83 anos
Página 14
Página 15
Comissão da Verdade entrega relatório final
Página 16
Página 12 Antônio Cruz / ABr
Conheça Agrestina, terra da mazurca e do chocalho
Janeiro de 2015
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Comunicação
Bodas de our www.bancariospe.org.br
Ano III - Nº 34 - Setembro de 2013
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Ano III - Nº 35 - Outubro de 2013
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
DOS
Revista Bancários
www.bancariospe.org.br
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
DOS
Revista Bancários
www.bancariospe.org.br
Ano III - Nº 33 - Agosto de 2013
DOS
Revista Bancários
www.bancariospe.org.br
DOS
Revista Bancários
Ano III - Nº 36 - Novembro de 2013
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
QUE
A CAMPANHA NACIONAL DOS BANCÁRIOS JÁ ESTÁ NAS RUAS. MAIS UMA VEZ, A MOBILIZAÇÃO SERÁ FUNDAMENTAL PARA PRESSIONAR OS BANCOS E GARANTIR QUE AS REIVINDICAÇÕES SEJAM ATENDIDAS
REVISTA DOS BANCÁRIOS 1
Ano IV - Nº 41 - Abril de 2014
www.bancariospe.org.br
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
junho/2014
Revista Bancários
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julho/2014
DA ESPERANÇA
ios quebram s décadas, bancár al vitoriosa forte das última de 23 dias, a mais am mais uma Campanha Nacion Com uma greve e encerr ia dos bancos a intransigênc
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nº 45 - agosto/2014
Milhares de car por um Papai N tantos desejos,
ano 4
Lançado em julho pelo Governo Federal, o programa Mais Médicos já conta com 6.600 profissionais que cuidam da saúde de 10,3 milhões de pessoas que vivem em regiões carentes. A maioria dos médicos veio de Cuba e, a despeito da falsa polêmica criada pela grande imprensa, eles estão mudando a realidade nos rincões do país
nº 46 - setembro/2014
ano 4
DOS
DOS
Revista Bancários
DOUTORES
Mais uma ida batalha venc
A Campanha Nacional dos Bancários chegou num momento decisivo. Sem avanços nas negociações iniciadas há mais de um mês, os trabalhadores vão encarar nova greve por tempo indeterminado a partir do próximo dia 19. Mais uma vez, a mobilização dos bancários será fundamental para garantir que as reivindicações sejam atendidas
PAP
Ano IV - Nº 42 - Maio de 2014
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
www.bancariospe.org.br
DITADURA NUNCA MAIS
Há 50 anos, teria início um dos períodos mais sombrios da história de nosso país: a ditadura militar. Durante 20 anos, o silenciamento de toda oposição ao regime vigorou às custas de tortura, assassinatos, repressão, intervenção e censura. O regime mudou. Os militares deixaram o poder. Mas os criminoos não foram punidos. A tortura e assassinato permanecem vivos em priões e favelas. E ditaduras existem muitas. A do trabalho é uma delas, que escraviza, adoece e desumaniza.
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Eu posso roubar o seu emprego ;)
1950-20 Construindo nova 14 uma política Em vez de reclamar dos políticos, o brasileiro precisa fazer política, lutando por uma reforma que melhore o sistema e aperfeiçoe a democracia
As novas tecnologias têm ajudado os bancos a se modernizar e a cortar custos. Mas, para os bancários, as inovações podem custar o emprego e resultar em mais trabalho
64 ANOS DEPOIS
O BRASIL VOLTA A SEDIAR UMA COPA DO MUNDO. MAS COMO OS NOSSOS AVÓS TORCERAM NAQUELA ÉPOCA?
Revista dos Bancários
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Os bancários acabam de dar início a mais uma Campanha Nacional, em busca de aumento real de salários, PLR maior, proteção ao emprego e melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral. Na última década, os trabalhadores têm saído vitoriosos de todas as campanhas. Mas, mesmo com todas as conquistas acumuladas, os bancários querem mais este ano. Para isso, a categoria já está mobilizada e pronta para a luta
POR QUE OS BANCÁRIOS PRECISAM ENTRAR EM GREVE TODOS OS ANOS? Entenda como agem os bancos nas negociações e porque a greve é necessária
Bon de b
Os bancário encerrar ma vitoriosa. A aliás, coleci décadas, qu muitas conq a classe trab Conheça es resistência
Revista dos Bancários completa 50 edições e se consolida como instrumento de comunicação plural e alternativo
E Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Ano IV - Nº 38 - Janeiro de 2014
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Revista Bancários Ano IV - Nº 39 - Fevereiro de 2014
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
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Revista Bancários DOS
DOS
www.bancariospe.org.br
DOS
Revista Bancários
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Ano III - Nº 37 - Dezembro de 2013
DOS
ro Revista Bancários
Ano IV - Nº 40 - Março de 2014
Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco
www.bancariospe.org.br
EM QUER SER
PAI NOEL?
rtinhas escritas por crianças carentes aguardam Noel na sede dos Correios no Recife. Em meio a é possível encontrar histórias comoventes
ns briga
os acabam de ais uma greve A categoria, iona greves, há ue garantiram quistas para balhadora. ssa história de e luta
Liberdade para a arte Descontentes com a política cultural do governo estadual, artistas e intelectuais de Pernambuco se unem em busca de uma nova forma de pensar e gerir a cultura
nº 47 - outubro/2014
ano 4
nº 48 - novembro/2014
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Rebeldes com causa
Passadas as eleições presidenciais mais acirradas da história do Brasil, agora é hora do povo ir às ruas cobrar mais avanços do governo e do Congresso Nacional. O Sindicato já está preparado para as novas batalhas, e você?
Profissão retrô
O abismo continua
Neste mundo moderno, e cada vez mais acelerado, ainda há espaço para profissões artesanais que faziam sucesso antigamente, como alfaiates, tipógrafos, sapateiros. No Recife, não é difícil encontrar esses profissionais que resistiram ao tempo e à tecnologia
A discriminação contra as mulheres no mercado de trabalho continua firme e forte. Nos bancos, por exemplo, as bancárias ganham salários bem menores que os homens e ocupam os cargos mais baixos. Mas a busca pela igualdade de oportunidades ganha, agora no Mês da Mulher, um novo aliado: o Censo da Diversidade nos Bancos, que começa a ser aplicado no dia 17
nº 49 - dezembro/2014
ano 4
nº 50 - janeiro/2015
Política
MÍDIA E POLÍTICA
Cuidado, querem manipular você! Ela jura que é imparcial e que só noticia aquilo que interessa para a sociedade. Mas, por trás desta máscara, a grande imprensa brasileira tenta manipular as pessoas e impor uma agenda que, em geral, não interessa para o país
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ntão, já se passaram 50 edições desde que a Revista dos Bancários surgiu, em setembro de 2010. Com diagramação leve e moderna, ela veio para levar o bancário a discutir outros temas, além do mundo financeiro: cidadania, cultura, política, cotidiano. “As reportagens, densas ou leves, retiram o bancário de seu mundo de metas e números, para mostrar uma outra comunicação, que não está na grande mídia”, afirma a secretária de Comunicação do Sindicato, Anabele Silva. Desde o primeiro número, algumas seções se estabeleceram como fixas: entrevista; agenda cultural; e Conheça Pernambuco – um espaço para revelar os lugares lindos, e muitas vezes desconhecidos, em nosso estado. A partir do número 06, de abril de 2011, ganhou espaço o Bancários de Talento, que já revelou dezenas de artistas que conciliam o trabalho nos bancos e a dedicação à arte.
Criada há mais de quatro anos, a Revista dos Bancários completa 50 edições agora, em janeiro. Conheça um pouco a história desse veículo, que já se transformou num importante instrumento de comunicação plural e alternativo
É CARNAVAL Confira a entrevista exclusiva com Maestro Spok, que será o homenageado do Carnaval do Recife este ano
A Revista dos Bancários surgiu em tempo de eleições para presidente do Brasil. Pela primeira vez na história, uma mulher era candidata. Quatro anos depois, Janeiro de 2015
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Comunicação Jaqueline Mello, presidenta do Sindicato
ram na pauta. No número 16, por exemplo, em março de 2012, o escritor Paulo Santos falava da literatura contra a usurpação da memória. Dois anos depois, ele estava na revista novamente, junto com outros historiadores. Desta vez para escolherem locais que tinham importância histórica para o Recife e Olinda, que completavam 479 e 477 anos naquela edição, no mês de março.
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Cidadania
a revista trouxe à tona a acirrada disputa que reelegeu a presidenta. Em 2012, outra eleição ganhou as páginas, desta vez no âmbito municipal. E a Revista conseguiu ouvir os principais candidatos à Prefeitura do Recife. Para além da disputa eleitoral, reportagens com análise do perfil do Congresso Nacional ou sobre a importância da Reforma Política estiveram em pauta. “Falar de política é falar de memória”, diz a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello. “E os fatos e análises históricas também marcaram presença em várias edições. As reportagens sobre o período da ditadura militar ganharam destaque em 2014, com a passagem dos 50 anos do golpe. Mas também estiveram em outros números, em diversas matérias sobre os trabalhos da Comissão da Verdade”, lembra Jaqueline. Outros temas históricos entra-
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Revista dos Bancários
Pelas páginas da Revista dos Bancários passaram fatos marcantes para os movimentos sociais: Marcha das Margaridas, Cúpula dos Povos, mobilizações em defesa das águas, Fórum Social Mundial, protestos de junho de 2013. A luta contra a especulação imobiliária foi objeto de várias reportagens: sobre o grupo Direitos Urbanos, a expulsão das famílias na Vila Oliveira (Pina), o movimento Coque (R)existe, o Ocupe Estelita. A Revista visitou o município de Machados e conversou com os médicos cubanos e seus pacientes; ouviu pessoas que convivem com a Aids e com o preconceito; procurou especialistas para tratar dos problemas sociais e ambientais em Suape. Em várias edições, a voz dos excluídos ganhou espaço, com reportagens sobre gênero, orientação sexual ou raça. A participação na política, a ditadura da beleza, a imagem na mídia, a desigualdade de oportunidades... foram vários os enfoques que revelaram as muitas faces do machismo.
A Revista também mostrou o pioneirismo do Sindicato dos Bancários no que diz respeito à participação das mulheres no movimento sindical, desde Zita Guimarães, a primeira mulher a fazer parte da entidade; até Maria José Félix, a primeira secretária de Políticas para Mulheres; e Jaqueline Mello, a primeira presidenta. E entrevistou várias mulheres, entre artistas e militantes, como Teresa Costa Rego e Maria da Penha. No mês das mães, abordou as dificuldades de conciliar o trabalho e a maternidade; bem como o parto humanizado e a violência obstétrica. A discriminação e as desigualdades sofridas por conta de raça e orientação sexual também foram pauta da revista. Em dezembro de 2012, por exemplo, uma reportagem, com título “A maior câmara de gás do mundo”, abordou os assassinatos de jovens negros da periferia do sudeste do país, além de histórias de criminalização da pobreza. Alguns meses depois, em maio de 2013, a discussão sobre redução de maioridade penal motivou mais uma reportagem sobre o tema, com entrevista com o ex-secretário de Direitos Humanos do governo federal, Nilmário Miranda. Em foco, o então recém divulgado Mapa da Violência, que mostrava que o número de assassinatos de jovens negros era mais de duas vezes maior que o de brancos. Mas a pauta de raça na Revista dos Bancários não ficou apenas nas notícias tristes. O exemplo
Trabalhadores O trabalho nos bancos foi objeto de reflexão em reportagens sobre as reestruturações, novas tecnologias, terceirização, histórias de assédio moral e adoecimento... A cada Campanha Nacional, as matérias extrapolavam os fatos e atividades para discutir a organização dos trabalhadores, a história das greves, a militância sindical. Em agosto de 2011, por exemplo, a revista ouviu um pai e um filho, ambos bancários, que falaram sobre o que mudou na profissão e na organização dos empregados.
Em maio de 2012, uma reportagem ouviu várias personagens que compõem uma instituição financeira: não apenas o bancário, como também o vigilante, os corretores e financiários, o pessoal da limpeza. A discussão sobre trabalho ultrapassou as fronteiras dos bancos. A revista entrevistou um gari, um circense e uma bancária sobre o amor à profissão; discutiu os direitos das empregadas domésticas; falou de profissões que resistiam ao tempo, em conversa com tipógrafos, alfaiates, sapateiros...
Cultura e comunicação Nestas 50 edições, vários personagens da cultura desfilaram pelas páginas da Revista dos Bancários. Raimundo Carrero foi o primeiro entrevistado, no ano em que completava 25 anos de literatura, com um prêmio de melhor livro do ano por sua obra “A minha alma é irmã de Deus”. Menos de seis meses antes de sua morte, foi Dominguinhos quem deu entrevista, no ano em que Luís Gonzaga completava 100 anos. E vários se sucederam: Naná Vasconcelos, Edilza Aires, Fernando Duarte, Jaime Arôxa, Urariano Mota, Jessé de Paula, a dupla Mateus e Catirina, Miguel Falcão. Junte-se a eles as manifestações da cultura popular, com entrevista com vários mestres de folguedos tradicionais; e matérias sobre políticas públicas de cultura e organização dos artistas. A comunicação também foi objeto de reflexão, em matérias sobre democracia digital, Marco
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são as reportagens sobre a cultura do hip hop como instrumento de conscientização ou a entrevista com Inaldete Pinheiro, escritora e liderança do Movimento Negro em Pernambuco. A questão indígena também foi mote de várias matérias: entrevistas com líderes tuxá, tupiniquim e pankararu; com o bancário pankararu Rubens Nadiel, do BNB de Floresta; e reportagem sobre os guarani-kaiowá. A liberdade de orientação sexual foi outro tema presente em várias edições. A revista ouviu, por exemplo, dois bancários homossexuais, que falaram sobre preconceito e inclusão. Também conversou com os pais da primeira criança do país gerada a partir de inseminação artificial e registrada como filha de um casal homossexual. E entrevistou Eleonora Pereira, que teve um filho assassinado por conta de sua orientação sexual e passou a se engajar na luta contra a homofobia.
Anabele Silva, secretária de Comunicação do Sindicato
Civil da Internet, rádios comunitárias, democratização dos meio de comunicação, parcialidade da mídia. A cada edição, matérias leves e descontraídas ajudavam o leitor a manter-se atento à leitura depois de reportagens mais densas. Foi assim com as matérias sobre futebol: a paixão dos torcedores, a entrevista com alguns craques, a reportagem sobre o pior time do mundo – o Íbis – e seu jogador símbolo Mauro Shampoo. A leveza também deu o tom em reportagens sobre os casais que se conheceram nos bancos, sobre as histórias de infância de aposentados; sobre colecionadores de carros antigos; ou sobre os lugares frios de Pernambuco. “Nesta quinquagésima edição da Revista dos Bancários, o Sindicato deseja à ela vida longa e muitas novas edições! E, aos bancários, um feliz 2015!”, conclui Anabele. Janeiro de 2015
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Divulgação
Entrevista: Maestro Spok
O frevo,
de Pernambuco para o mundo
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m dia, Inaldo Cavalcante de Albuquerque sonhou ser poeta repentista. No entanto, no meio do caminho, havia um saxofone. Ele se apaixonou pelo instrumento e nunca mais deixou a música. Tornou-se o Maestro Spok. Passou a levar o frevo ao mundo e inclui-lo nos salões eruditos da música instrumental. Jamais apartou-se da folia. Mas fez o ritmo ganhar novos espaços. No meio do corre-corre de ensaios de final de ano, Spok conversou com a Revista dos Bancários. Com uma simplicidade contagiante, falou de sonhos realizados, do amor pelos cantadores e confessou sentir-se desconfortável em ser o homenageado do carnaval recifense. Explicou: “Há muitos mestres a serem homenageados!”
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Revista dos Bancários
Como começou tua relação com a música? Minha relação com a música começou em casa. Lembro que, com cinco anos de idade, meu pai ouvia muito Luiz Gonzaga, Nelson Ferreira, Levino Ferreira, Claudionor Germano, Expedito Baracho... Meu tio era saxofonista, tocava numa orquestra de frevo. Meu pai gostava muito dele e era um grande boêmio: tudo que era festa, ele ia. E eu sempre estava presente naquele universo, principalmente o dos poetas repentistas. Eu passei a sonhar em ser um poeta. Era o que eu queria ser... E o que te aproximou da música? Quando eu entrei no ginásio, minha turma de quinta série tinha muitos músicos. Um deles, chamado Ademário, quando notou que estava querendo falar a mesma língua deles, me chamou pra estudar. E eu fui. Os instrumentos de sopro sempre foram teus preferidos? Eu me encantei pelo saxofone na primeira vez em que escutei. Era uma menina quem estava tocando e eu fiquei tão encantado pela música que só fui perceber que ela era muito bonita vários dias depois, quando eu já tinha me acostumado com o instrumento. Então, eu me apaixonei pelo saxofone e o professor conseguiu um para mim. Comecei a estudar, ainda em Abreu e Lima. De lá, vim para o Recife, para o Centro de Criatividade Musical, onde passei a conviver com os mestres do frevo: Duda, Edson Rodrigues, Ademir Araújo, Guedes Peixoto, Nunes, Menezes, Dimas, Clóvis Pereira... passei a conviver e a tocar com eles.
Que sonho era esse? O frevo deixou de estar apenas nas ruas e na folia do carnaval e foi para as salas de concerto, para os teatros do Brasil e do mundo. Lógico que eu sempre amarei tocar frevo no meio da rua, para o povo se divertir e pular. Mas, desde o surgimento da orquestra, a gente tem essa vontade de tocar também para o silêncio absoluto dos teatros, durante o ano inteiro e não só nos quatro dias de carnaval. E como é a receptividade do frevo em outros países? Quando a gente viaja, é com o frevo instrumental. Não com o carnaval. Não levamos passistas, folia, cantores. E é tão maravilhoso que a gente não para de voltar, de dar oficinas. É incrível! As salas estão sempre lotadas. Mas lotadas por um público específico: de apreciadores da música instrumental.
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E Antônio Carlos Nóbrega? Tinha uma orquestra de escola, do Centro de Criatividade. Nóbrega precisava de uma orquestra pra acompanhá-lo no carnaval e, com ele, passamos a viajar pelo Brasil e para fora do país. Foi o embrião da orquestra que temos hoje. Ao mesmo tempo, percebemos que podíamos ter um trabalho independente. Quando começou a surgir essas leis de incentivo à cultura, uma amiga nossa nos inscreveu. Gravamos nosso primeiro disco e ele começou a rodar pelo Brasil, pelo universo dos músicos e da música instrumental. E o frevo começou a ser visto da forma que a gente sonhava.
Maestro Spok adora tocar nas ruas, mas são nas salas de concerto que ele e sua orquestra desenvolvem o frevo de outras maneiras
Ninguém dança, não tem folia nem carnaval. É o silêncio absoluto... No começo você não estranhou essa diferença de público? Era o que queríamos: fazer frevo para ser ouvido. Mas teve um episódio marcante. Nosso trabalho estava começando. Um passista viu o nome frevo, orquestra... Estávamos em São Paulo e, por certo, ele sentiu saudades. Era um festival de música instrumental, mas ele foi todo vestido de passista, com sombrinha e tudo. E quando a gente tocou um frevo, ele entrou no palco para pular.
Mas a gente toca o frevo com uma característica mais jazzística, momentos de improvisação do músico, alguns solos... E no arranjo que tínhamos feito, trinta segundos depois do frevo rasgado, tinha uma pausa: um músico começava outra cadência, solando... E o passista continuou naquela energia, olhando pra mim como quem diz: - Fala sério! Como é que você para o frevo quando eu estou dançando? Então, ficou aquele clima e algumas pessoas começaram a pedir pra ele fazer silêncio, pra descer do palco... E foi uma cena triste: ele desarmanJaneiro de 2015
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Entrevista: Maestro Spok
Mas o que você gosta mais: de tocar no meio da rua, para o folião, ou tocar nas salas, para os apreciadores de música? Não dá pra dizer. Eu amo carnaval! Mas, imagine que você é um repórter de TV e foi escalado pra cobrir o carnaval de Olinda. É muito bom! Mas, ao mesmo tempo, você não pode desenvolver bem seu texto, porque o barulho é imenso, às vezes você está falando e alguém joga cerveja... A mesma coisa somos nós. Tocar na rua é muito bom, mas não dá pra desenvolver a música do jeito que a gente gosta... Mas você já tocou muito em orquestra de rua? Muito!!! Toco até hoje. Não posso ver uma orquestra que eu entro. Não tanto profissionalmente, mas por prazer. Como é essa relação entre frevo e jazz? No início, alguns mestres criticavam. Chamavam a gente de americano. Mas isso nunca me abalou, porque eu sei que o que a gente faz é frevo. Eu sou daqui, meu sotaque é pernambucano. E hoje os mestres respeitam nosso trabalho. A gente faz, sim, um frevo jazzístico. Mas não o jazz como ritmo americano, mas como
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Revista dos Bancários
esta liberdade de expressão, que lhe permite introduzir improvisos e brincar com o ritmo de uma maneira livre, seja em uma ciranda, um baião ou um frevo. Você já tocou com vários artistas. O que eles deixaram de influência? Em se tratando de cantores, a gente já acompanhou quase todos da música brasileira. E todos deixam algo com a gente. Agora, eu posso dizer que os que me marcaram mais foram os com quem eu tive maior convivência: Antônio Nóbrega, Fagner, Alceu Valença, Elba Ramalho... No universo da música instrumental, é um grande sonho estar convivendo e dividindo palco com músicos que a gente sempre admirou. Gente como Wynton Marsalis, da Lincoln Center Jazz Big Band. E tudo isso por causa do frevo. Qual é a música que você gosta de escutar? Eu escuto tudo. Mas vou lhe falar: até hoje, o que eu mais escuto ainda são os repentistas. Qual o significado de ser o homenageado do carnaval do Recife? Significa muito pra mim. Mas no início eu não queria aceitar. Não por falsa modéstia. Mas porque tem muito mestre – do frevo, do caboclinho, da ciranda, do maracatu, das bandas de pí-
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do a sombrinha, indo embora no escuro... Mas, ao mesmo tempo, eu via o frevo andando sozinho. É maravilhoso que ele seja a trilha sonora para os passistas e para o carnaval. Mas é formidável que ele também possa falar por si próprio.
O frevo deixou de estar apenas nas ruas e na folia do carnaval e foi para as salas de concerto, para os teatros do Brasil e do mundo Maestro Spock
fanos... Muita gente que não foi homenageada ainda. Eles então explicaram que a Prefeitura estava homenageando, a cada ano, um mestre tradicional e alguém da nova geração. Eu acabei aceitando, mas ainda não me sinto confortável: há muitos mestres a serem homenageados!
Acervo do Instituto Vladimir Herzog
Memória
A história como ela foi Comissão Nacional da Verdade conclui relatório final, em que pede justiça e a reparação dos crimes cometidos pela ditadura militar no Brasil no militar, o respeito aos direitos humanos e o fortalecimento do regime democrático. Entre as recomendações, estão o reconhecimento institucional da responsabilidade das Forças Armadas do Brasil pelas violações aos direitos humanos, cometidas durante a ditadura militar, e a punição dos agente públicos que cometeram os crimes, a serviço do Estado brasileiro. A CNV concluiu que as violações foram resultado de uma
Presidenta Dilma se emocionou ao receber o relatório da Comissão da Verdade
Antônio Cruz / ABr
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entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) à presidenta da República, Dilma Rousseff, no último dia 10 de dezembro, representa avanços significativos para garantir a memória histórica brasileira, durante a vigência regime autoritário (de 1964 a 1985). No relatório, constam 29 recomendações que têm como objetivo garantir a justiça e a reparação dos crimes cometidos pelo gover-
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Memória
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Revista dos Bancários
estrutura de poder constituída”. Para Solaney, o conteúdo da Lei da Anistia protege os militares que cometeram crimes, que, em muitos outros países democráticos, são considerados imprescritíveis. “Além disso, é bastante discutível afirmar que a Lei da Anistia é resultado de acordos, visto que o poder dos militares era desproporcional, se comparado com o dos opositores ao regime autoritário”, comenta.
Impunidade Na perspectiva de Jurandir Bezerra, bancário que teve a família perseguida pelo governo militar, o Brasil permanece sendo o país da impunidade. “Esperamos uma punição mais exemplar, que contribua para o fim da tortura no Brasil. Sabemos que ela ainda existe [refere-se aos casos de torturas por policiais] e os torturadores só são punidos em casos específicos, em que há pressão
popular”, afirma. Jurandir é neto de Gregório Bezerra, militante e político de esquerda que defendeu a democracia brasileira e foi preso, torturado e exilado pelos governos militares. “Meu avô passou mais de 20 anos preso. Só o conheci quando eu tinha oito anos de idade. Minha família foi privada da convivência com ele. Meu pai [também Jurandir Bezerra], e minha irmã também foram perseguidos pelo governo militar”, conta. A certeza da impunidade gera a perpetuação das distorções. A postura do deputado Jair Bolsonaro é um grande exemplo disso. No dia 9 de dezembro, o deputado, mais uma vez, violou os direitos humanos e o decoro parlamentar, ao afirmar, no plenário da Câmara dos Deputados, que não estupraria a também deputada Maria do Rosário “porque ela não merecia”. “Confiante na impunidade, Bolsonaro apresenta uma postura Diretor do Sindicato, Expedito Solaney é membro da Comissão da Verdade da CUT Nacional: mais de 400 sindicatos foram alvo de intervenção da ditadura
Lumen Fotos
ação generalizada e sistemática do Estado e configuram crimes contra a humanidade. Com base na legislação internacional, a Comissão defende que a Lei da Anistia, promulgada em 1979, não deve proteger os autores desses crimes, e por isso recomenda que eles sejam julgados e punidos. Trezentas e setenta e sete pessoas foram apontadas como responsáveis por esses crimes, das quais 196 estão vivas. A polêmica em relação ao relatório final da CNV refere-se ao julgamento e à punição dos agentes públicos que cometeram os crimes. Os militares e parte da sociedade civil defendem que a anistia já ocorreu no Brasil. Muitos militantes que lutaram contra o regime, e seus descendentes, assim como os integrantes da CNV (com exceção de um deles), discordam. A presidenta Dilma Rousseff tem se colocado contrária à revisão da Lei da Anistia. No dia em que o golpe militar completou 50 anos, em 31 de março de 2014, ela afirmou, no twitter: “assim como reverencio os que lutaram pela democracia, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”. À primeira vista, o posicionamento da presidenta causa estranhamento. Ela mesma foi torturada, durante o regime militar. Para o diretor do Sindicato, secretário de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e coordenador da “Comissão Memória, Verdade e Justiça”, Expedito Solaney, “Dilma apresenta posição defensiva em relação à
Arquivo pessoal
O bancário Jurandir Bezerra (de branco) e sua família foram perseguidos pela ditadura: seu avô, Gregório Bezerra (destaque), foi torturado e é símbolo da repressão nos anos de chumbo
radical, contrária à democracia. Defende a ditadura abertamente”, completa Jurandir. Militar da reserva, Bolsonaro é conhecido por apresentar posturas homofóbicas, machistas e antidemocráticas. “Ele usa o poder que possui como parlamentar para violar os direitos humanos, e o Congresso é omisso em relação a isso. Cabe à sociedade pressionar para que sejam tomadas medidas”, reforça o bancário.
Trabalhadores Mais de 400 sindicatos foram alvo de intervenção e muitos trabalhadores foram perseguidos durante o regime autoritário iniciado em 1964. Entre as entidades está o Sindicato dos Bancários de Pernambuco. Além de participar do Grupo de Trabalho (GT) “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical” da CNV, a CUT formou sua própria “Co-
missão Nacional da Memória, Verdade e Justiça”, com o objetivo de restaurar a memória histórica dos sindicatos. A proposta é fazer um levantamento de todos os sindicatos que sofreram intervenção e de os trabalhadores que foram perseguidos, durante o governo militar. Expedito Solaney, que coordena da Comissão da CUT, destaca que, nesse período, os trabalhadores perderam direitos históricos, como a estabilidade no trabalho, a política de reposição salarial e os direitos de organização sindical e de greve. Para a CUT, o relatório final da CNV fortalece a luta por justiça e reparação de todos que sofreram repressão e tortura, foram mortos ou desapareceram, durante a ditadura militar. “No trecho do relatório intitulado ‘Mortes em conflitos armados com agentes do poder públicos’, constam nomes de trabalhadores
assassinados nessas circunstâncias. Essa é uma grande conquista para nós, trabalhadores”, afirma Solaney. As ressalvas da central sindical referem-se às recomendações do GT dos Trabalhadores que não foram incluídas no relatório final da CNV. “Das 43 recomendações que apresentamos, só entraram as mais genéricas. Também apresentamos os nomes de trabalhadores que foram mortos em conflitos armados e não entraram no relatório”, reforça o secretário da CUT. A expectativa é que, em outubro, depois de um ano e sete meses de trabalho, a Comissão dos Trabalhadores entregue seu relatório final, durante o Congresso Nacional da CUT. “Se o relatório final da CNV fecha um ciclo, abre outro. É hora de lutarmos pela justiça e reparação dos danos causados pelo governo militar. Essa pauta continua na sociedade”, finaliza Solaney. Janeiro de 2015
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Dicas de cultura CARNAVAL
Baile à Fantasia dos Aposentados
O
Sindicato realiza no dia 23 de janeiro, sexta-feira, um Baile à Fantasia de Carnaval em homenagem ao Dia dos Aposentados. A festa começa às 20h e será realizada no Círculo Militar do Recife, em
parceria com a Apcef-PE, Aeap e Uneicef. O Baile à Fantasia será animado pela Escola de Samba Sambadeiras, Banda e Orquestra Vegas e por Getúlio Cavalcanti Bloco Lírico. Bancários aposentados associados ao Sindicato não pagam nada para entrar e ainda têm direito a levar um acompanhante de graça. Sócios do Sindicato e das associações parceiras pagam R$ 20 pelo convite individual e os não sócios e convidados pagam R$ 40. A entrada dá direito ao Open Bar. Mais informações no Sindicato pelo telefone (81) 3316-4233.
EXPOSIÇÃO
O arquiteto do papelão Está em cartaz, na Casa do Cachorro Preto, até o dia 31 de janeiro, a exposição “Todos os dons”, do artista Sérgio Cezar. As esculturas são feitas de papelão e materiais descartados. A história do artista foi contada no curta-metragem de 11 minutos, “O gigante do papelão”, produzido
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Revista dos Bancários
em 2001. Sérgio produziu cenários para a novela Duas caras (TV Globo, 2007) e para o videoclipe Segue o som, da cantora Vanessa da Mata. O artista carioca também faz pinturas sobre modelos vivos. Os interessados em aprender as técnicas com o artista podem
participar da oficina, que será realizada nos próximos dias 17 e 18, das 14h às 18h. As vagas são limitadas e a matrícula custa R$ 250. A Casa Do Cachorro Preto fica na Rua 13 de Maio, 99, em Olinda. Informações: (81) 3493-2443 ou acasadocachorropreto@gmail.com
Bancário de talento
Ideais de menino aos 83 anos Beto Oliveira
TIBURCIO MARQUES DOS SANTOS Aposentado pelo BNB, Tiburcio é um militante de esquerda que segue a lição que recebeu de Dom Helder: manter-se fiel aos ideias, não envelhece
N
o Mês dos Aposentados, o Sindicato homenageia os bancários que não estão mais na ativa, mas que lutaram, e lutam, em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores. Um dos talentos de Tiburcio Marques dos Santos, bancário aposentado do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), é viver como uma pessoa de esquerda. “Ser de esquerda, para mim, é estar do lado do povo oprimido. É preciso pôr em prática, diariamente, em todas as nossas relações, o que defendemos em nossos discursos”, afirma. Ao 83 anos, Tiburcio continua sendo um militante de esquerda aguerrido. Filósofo de formação, faz “leituras selecionadas” diárias, que dão embasamento aos seus posicionamentos políticos. Trabalhou
com Dom Helder, nas comunidades de base da Igreja Católica. Militou nos movimentos estudantil e sindical – inclusive no Sindicato dos Bancários de Pernambuco – e integrou a Ação Popular. Desde a juventude, escrevia artigos para os jornais alternativos produzidos pelos grupos de que participava. Na década de 1960, coordenou o plano de equiparação de salários dos funcionários do BNB ao do Banco do Brasil. A aprovação desse plano representou uma conquista significativa para a melhoria da qualidade de vida dos funcionários do BNB. Durante parte da ditadura militar, iniciada em 1964, morou em Paris e produziu um jornal sobre a realidade política do Brasil, destinado a brasileiros que, também, moravam na cidade. Realizou estudos no Instituto de Ciências Sociais do Trabalho da Universidade de Paris para aprofundar o embasamento teórico de suas militâncias. Foi perseguido e torturado pelos militares. “Hoje, escrever e dialogar com as pessoas é a militância que a minha condição física permite. Portanto, é isso que faço”, afirma Tiburcio. “Aprendi com Dom Helder que se nos mantemos fiéis aos nossos ideias, não envelhecemos, mesmo que as rugas cheguem e a nossa saúde fique debilitada”, completa. Em 2011, Tiburcio publicou o livro “Memórias da minha vida” e está escrevendo o segundo, “Memória da história viva do Brasil: a luta da verdade contra a mentira”. O militante faz análises, frequentes, sobre a política e a economia brasileiras e as publica no blog memoriadaminhavida. blogspot.com.br. Janeiro de 2015
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Conheça Pernambuco AGRESTINA
Mazurca, chocalho e alfenim
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azurca, velha mazurca, inda se dança no meu sertão. Quando toca uma mazurca, na latada, no salão, os meninos com as meninas vão desatando com pé no chão”. A música, de Luís Gonzaga, cai muito bem para se falar de Agrestina, conhecida como Terra da Mazurca e do chocalho. A dança, de origem polaca, ganhou suas variantes em terras pernambucanas, misturou-se ao ritmo de Dona Amara – a pioneira –, e continua vivo e forte, com apresentações em dias de festa. Como agora, no começo de fevereiro, durante as festas de Nossa Senhora do Desterro. Mas nem só de mazurca vive Agrestina, onde o ruído dos chocalhos se junta ao som dos ventos e das águas em belas paisagens nas áreas rurais. Onde a doçura dos alfenins se une à beleza das igrejas e vilas históricas. A Vila de Santa Tereza, por exemplo, é a grande responsável por conferir à cidade o título de Capital Nacional do Chocalho. É lá que são confeccionados, por cerca de 150 produtores, o artesanato símbolo do município. O artefato rústico, feito para localização do gado, também pode ser adquirido em miniatura, para fins decorativos. Localizada a 12 quilômetros de Agrestina, a Vila Pé-de-serra dos Mendes tem hoje 180 famílias remanescentes de quilombolas. Entre seus tesouros, estão os casarios antigos, furnas e formações geológicas que, segundo a Fundação Cultural Palmares, serviram como abrigo para os escravos que buscavam esconderijo. Igrejas e paisagens são outro patrimônio da cidade. A área chamada de Marco Zero da cidade, por exemplo, abriga a Praça Padre Cícero e a Matriz de Santo Antônio. Além de ser um lugar agradável e bonito, tem grande importância histórica. A paróquia, de 1912, tem relação com o surgimento de Agrestina, pois a povoação da área começou por lá, quando foi encontrada uma imagem de Santo Antônio talhada em madeira.
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Revista dos Bancários