nº 55 - junho/2015
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MEMÓRIA DE LUTAS
A partir de 30 de junho, o Sindicato disponibiliza a todos um site com fotografias, vídeos, depoimentos, reportagens e outros documentos que fazem a memória de lutas dos bancários em Pernambuco. A ideia é que o projeto possa servir como um espelho em que, pelo reflexo do passado, melhor possamos compreender o presente e projetar o futuro
Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Jaqueline Mello Secretária de Comunicação Anabele Silva Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial Jaqueline Mello, Anabele Silva, Geraldo Times e João Rufino Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem da capa Montagem sobre imagem de acervo Seec/PE Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares
Sindicato filiado a
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Revista dos Bancários
Editorial
O espelho da história Conhecer a história nos permite perceber que há cenas que se repetem e circunstâncias ou cenários que se mantêm, apesar das diferenças de tempo e contexto. Observar aquilo que fica, aquilo que muda, os padrões e círculos históricos, permite ao ser humano compreender o presente e construir o futuro de forma mais consciente. Assim como nas terapias pessoais – em que o indivíduo se põe em contato consigo mesmo para lidar melhor com seus medos, anseios e angústias - o estudo da história põe a coletividade de frente ao espelho. É assim com os bancários. Ao observar a história da organização sindical da categoria, percebe-se ciclos que caminham de um perfil mais burocrático e assistencialista a outro mais combativo, de maior consciência de classe e unidade com outros trabalhadores. Entre cada um desses ciclos, momentos de crise ou interrupção. Assim, se o sindicato precisa enfrentar a burocracia em seu surgimento, vai, aos poucos, se consolidando como força de organização do trabalhador até a primeira crise que, segundo estudos, tratou-se de intervenção durante a Era Vargas. Passado esse período, novo ciclo tem início, que atinge seu ponto culminante no final dos anos 50 e início dos anos 60. Um novo golpe põe termo a essa etapa e dá início à ditadura militar. Com a redemocratização, o processo se repete: a organização começa a ser retomada para passar por nova crise nos anos 90, com os governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Em cada uma dessas fases, há pessoas que ajudaram a construir cada uma de nossas conquistas. Gente que se dedicou, que brigou, que teve direitos cassados, que perdeu o emprego, que foi presa, que foi morta... Conhecemos alguns desses personagens. Há muitos outros, anônimos. E nós, em que ciclo estamos agora? Que papel desempenhamos em nossa própria história? O que queremos para o futuro e como podemos consegui-lo? O Projeto Memória, que será lançado em breve, tem este propósito: colocar os bancários frente ao espelho, para que possamos entender o presente e projetar o futuro. A partir de 4 de julho, nova gestão tem início, em mais um capítulo da história. A atual presidenta faz um balanço da atual gestão e fala sobre as perspectivas para a próxima. A Revista dos Bancários traz, ainda, no mês em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma reflexão sobre aquilo que nos alimenta. E uma reportagem bem agradável sobre bancários do BNB que conheceram de moto a América do Sul. A todos, uma boa leitura!
Índice
MEMÓRIA DE LUTAS Projeto disponibiliza história da organização dos bancários em Pernambuco
04 MEIO AMBIENTE Uma discussão sobre política que se põe à mesa
ENTREVISTA Jaqueline Mello faz balanço da gestão Página 7
Página 12
VEJA NOSSAS DICAS DE LAZER E CULTURA Página 14
AVENTURA Bancários conhecem a América do Sul de moto
BANCÁRIA DE TALENTO A música para alegrar a festa
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Página 15
ITAPETIM São Pedro com forró e poesia Página 16
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Projeto Memória
Conhecer o passado pra construir o futuro
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partir de julho, a memória de luta dos bancários poderá ser acessada e conhecida por qualquer pessoa. Estarão disponíveis, em um site, fotografias, depoimentos, jornais antigos, matérias, vídeos, estudos e todos os documentos que fazem a história da categoria. O Projeto Memória é um desejo antigo da diretoria e fecha com chave de ouro a atual gestão. “Temos uma história riquíssima, que precisa ser conhecida, até porque conhecer nossa história ajuda a projetar o futuro. As gestões passam. O Sindicato fica”, afirma a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello. O projeto será lançado no dia 30, em evento no Sindicato. O bancário da Caixa, Geraldo Lélis, faz parte da diretoria recém eleita e está ajudando a tocar o projeto. Seu trabalho de conclusão de curso foi sobre o processo de fundação do Sindicato dos Bancários e, atualmente, ele está desenvolvendo pesquisa sobre o sindicato na era Vargas. Uma de suas principais fontes é a publicação Correio Bancário, que circulou durante mais de vinte anos. “O Sindicato foi oficialmente reconhecido em 1932. Mas, antes disso, houve uma intensa movimentação, com reuniões constantes e a briga para romper a
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Revista dos Bancários
Estudos levam a crer que Sindicato sofreu intervenção durante a Era Vargas
burocracia que emperrava o surgimento de associações sindicais”, conta o historiador. A conjuntura era bem diferente. “Praticamente não havia sindicatos. O pessoal trabalhava de dia e se reunia à noite. E vale lembrar que a jornada era de oito horas”, ressalta Geraldo. Segundo ele, o Correio Bancário só passou a circular mais de um ano e meio depois da fundação da entidade. “Os associados ainda eram poucos e uma das grandes brigas era para convencer os trabalhadores a se engajarem no Sindicato. Para conseguirem manter a publicação, eles corriam atrás de patrocínio”, lembra o bancário. No fim de três anos, já havia mais de 300 filiados.
A Era Vargas Segundo Geraldo, o Correio Bancário sofreu algumas interrupções em seus mais de vinte anos de circulação. Uma delas foi no período entre 1934 e 1938. “Tudo nos leva a crer que houve uma intervenção. Quando o Correio Bancário volta a circular, a estrutura do Sindicato é outra e a linguagem também. Antes, Getúlio era chamado de ditador. Quando a publicação retorna, já é considerado presidente”, diz. Antes desse período, uma das grandes lutas e conquistas registradas pela publicação foi o decreto das seis horas, que institucionalizou em 1933 a jornada dos bancários. Havia, também, uma intensa movimentação dos trabalhadores. “No período pós-crise de 29, as condições de trabalho eram muito ruins. Então, este foi também um período importante de organização
do movimento operário. Isso fica visível no Correio Bancário. A legislação trabalhista de Getúlio Vargas nada mais é do que uma estratégia do governo para conter esses movimentos”, opina o historiador.
Rui Alencar foi secretário-geral em duas gestões e presidente da Federação Norte-Nordeste
Trabalhadores unidos Com a morte de Getúlio e a posse de Juscelino, ampliou-se o clima de nacionalismo e houve uma maior liberdade de organização para os trabalhadores. Rui Carlos de Alencar, aposentado do Banco do Brasil, entrou na direção do Sindicato dos Bancários nesta época, durante a gestão de Gilberto Azevedo. “Havia um sindicato muito burocrático: mais assistencialista e prestador de serviços do que combativo. Era um pessoal ligado à Igreja, que tinha aquela visão de harmonia entre as classes”, lembra Rui. Com a eleição do novo grupo, o Sindicato mudou o perfil. “Organizamos comissões sindicais nas agências. Chegamos a realizar assembleias com mais de 2 mil pessoas”, conta o antigo dirigente.
Além de ter sido secretário-geral da entidade por duas gestões (a de Gilberto Azevedo e a de Darcy Leite), Rui Alencar presidiu a antiga Federação dos Bancários do Norte e Nordeste. Além da federação, havia também uma Confederação Nacional, presidida por Aluísio Palhano, do Rio de Janeiro. “O Sindicato do Rio de Janeiro era uma grande referência. E Gilberto, que tinha passado um tempo por lá, trouxe isso consigo. Aluísio Palhano foi uma grande liderança. Acabou morto pela ditadura militar”, lamenta Rui.
Mas Pernambuco não ficava muito atrás no que se refere à organização. Tanto que foi pioneiro na extinção do trabalho aos sábados. Rui lembra ainda que, naquela época, era proibida a existência de centrais sindicais. Então, à revelia da lei, eles criavam instâncias para unificar a luta. Em Pernambuco, o Conselho Sindical dos Trabalhadores funcionava na sede do Sindicato dos Bancários que, na época, era na Conde da Boa Vista. Ali se reuniam dirigentes sindicais bancários, portuários, rodoviários, metroviários, entre outras catego-
Ato contra a privatização do Bandepe
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Projeto Memória rias mais combativas. Foi assim, unidos, que os trabalhadores garantiram várias conquistas, como a aposentadoria e o 13º salário. “No final da década de 50 e começo de 60, havia um clima de mobilização muito grande. Um evento marcante foi, por exemplo, o Congresso Nacional dos Trabalhadores, no Rio de Janeiro, em 1960, que reuniu sindicatos do país inteiro. Em 1961, tivemos uma greve nacional, com participação expressiva dos bancários de Pernambuco”, lembra Rui Alencar. Outra conquista importante para a categoria foi a possibilidade de indicar os dirigentes do IAPB (Instituto de Aposentadoria dos Bancários). “Não havia INSS, mas vários institutos de aposentados, por categoria. No caso dos bancários, tanto o presidente nacional da entidade quanto os delegados estaduais eram indicados pelos sindicatos e confederação”, explica o ex-dirigente. Ele, por exemplo, chegou a ser escolhido como delegado do IAPB. Nunca tomou posse.
Organização interrompida Era dia 31 de março de 1964. Rui estava no Rio de Janeiro para tomar posse como delegado do IAPB. Foi comunicado que deveria esperar mais um pouco. Na verdade, tratava-se da movimentação militar que antecedeu o golpe. No dia 1º de abril, Rui e um colega foram até o centro do Rio de Janeiro, onde os estudantes se reuniam em comício. “Cruzamos por acaso com a condessa, que era presidenta do Jornal do Brasil, e ela estava sorrindo. Meu colega
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Revista dos Bancários
Greve dos funcionários do Banorte, 1990
comentou: - A condessa está sorrindo. Isso é um mau sinal. Passamos a acompanhar as notícias pelo rádio e, pouco depois, era tiro pra todo lado...”, lembra o ex-bancário. Rui não conseguiu voltar para o hotel onde estava hospedado. Também não conseguiu voltar pra casa, porque os aeroportos foram fechados. Ficou na Casa do Estudante e só conseguiu retornar pra Pernambuco três dias depois. “Soube que Arraes tinha sido deposto, que ele e Gilberto Azevedo tinham sido presos e levados pra Fernando de Noronha... Eu estava com todos os documentos da Confederação. Fiquei com medo de levá-los comigo. Meu amigo era do Rio Grande do Norte e, como as coisas lá pareciam mais calmas, pedi pra ele levar. Ele acabou sendo preso e os papéis confiscados”, conta Rui. Dos tempos que antecedem o golpe, ele lembra de algumas coisas: uma forte organização dos trabalhadores, as acusações da mídia e a influência religiosa. “Surgiram algumas organizações que a gente tem certeza que eram máquinas de espionagem internacional para
preparar o golpe. Tanto é que fecharam pouco tempo depois. Lembro de um padre canadense que veio fazer um ato aqui no Recife. Muitos anos depois, fiquei sabendo que este mesmo padre também fez atividade no Chile pouco antes do golpe de Pinochet”, diz. Rui foi preso várias vezes, embora não tenha chegado a ser torturado: “Os militares chegavam na agência com uma lista de nomes. Aos gerentes, só cabia entregar os colegas, para serem levados à prisão”. Ele perdeu o emprego no banco e abriu um escritório para prestar serviços como contador. O escritório era, aliás, ponto de encontro de colegas que combatiam o regime. Somente depois da anistia, ele teve o emprego restituído. Ainda chegou a participar das lutas para retomar a direção do Sindicato, que estava nas mãos dos herdeiros da intervenção militar. Uma luta da qual também fizeram parte vários dos integrantes que compõem a atual diretoria e a que assume a partir de julho, em mais um capítulo da história.
Entrevista: Jaqueline Mello
Na luta com os bancários
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s bancários de Pernambuco elegeram, em maio, a direção que vai comandar o Sindicato até 2018. A Chapa 1, encabeçada por Suzineide Rodrigues e composta em sua maioria pelos membros da atual direção, venceu o pleito com impressionantes 83,19% dos votos válidos (3.856 votos). A Chapa 2 teve 779 votos (16,81%). Suzineide ocupa o cargo de presidenta, a partir de 4 de julho, no lugar de Jaqueline Mello, bancária da Caixa e primeira mulher a assumir a presidência do Sindicato nos mais de 80 anos da entidade. Nesta entrevista, Jaqueline avalia a eleição, faz um balanço do seu mandato e aponta as perspectivas para o futuro. Qual é a sua avaliação sobre o resultado da eleição do Sindicato? Foi um resultado expressivo, que nos deixa felizes e nos incentiva a continuar na luta com os bancários e por uma sociedade mais justa. A reeleição da nossa diretoria, com mais de 83% dos votos válidos, mostra que os bancários aprovaram a nossa gestão por ampla maioria. Mais do que aprovar a gestão, os bancários de Pernambuco deram um recado claro nas urnas: as mudanças que implantamos, e que aproximam o Sindicato da base, devem continuar. Assim como a unidade nacional com os demais sindicatos de bancários do país.
“Os bancários podem esperar o mesmo trabalho e dedicação dos últimos anos”
A diretoria do Sindicato esperava uma votação tão expressiva? Essa votação nos deu um percentual de votos válidos muito expressivo, mesmo com a oposição toda se unindo em uma única chapa. Essa diferença de votos aumenta ainda mais a nossa responsabilidade à frente do Sindicato. E vamos corresponder a essa confiança depositada pelos bancários, trabalhando cada vez mais... Quero aproveitar o espaço para agradecer às bancárias e aos Junho de 2015
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Entrevista: Jaqueline Mello bancários pela votação... E que balanço você faz da sua gestão como presidenta do Sindicato? Foi um período de muita luta, mas também de muitas conquistas para os bancários e para o Sindicato. Conseguimos aumentos salariais acima da inflação em todas as campanhas e valorização histórica do piso. Garantimos um projeto-piloto de segurança, que foi implantado de forma pioneira no Brasil em Recife, Olinda e Jaboatão. Avançamos no combate às metas abusivas, ao assédio moral... Melhoramos a estrutura do Sindicato, transformando as contas, que sempre fechavam no vermelho, em superavitárias... Enfim, foram muitos avanços, que nos enchem de orgulho, mas também de responsabilidade. Além disso, quero destacar que todos os compromissos que assumimos nas eleições de 2009 e 2012 foram cumpridos à risca. Você pode citar algum compromisso que considere especial? Todos foram importantes. Mas posso citar dois, que considero emblemáticos até pela repercussão que tiveram em outros sindicatos do país. Quando assumimos o Sindicato, no final de 2009, não havia limites para a reeleição nos cargos. Limitamos a reeleição para apenas uma, para incentivar a renovação. Por isso, cumpri dois mandatos na presidência e deixei o cargo para que outra pessoa, no caso a companheira Suzineide, assumisse. Outro compromisso que cumprimos foi mudar a data das eleições para que ela não
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coincidisse mais com o período da campanha salarial. Para isso, reduzimos o nosso mandato em cinco meses, numa atitude desprendida e que mostrou para a categoria que nosso foco é o bancário. O que podemos esperar da próxima gestão do Sindicato? Os bancários podem esperar o mesmo trabalho e dedicação dos últimos anos. Vou continuar na direção executiva do Sindicato, ajudando a entidade a avançar nas conquistas da nossa categoria. Estou deixando o cargo de presidenta, mas estarei na Secretaria de Finanças contribuindo com o Sindicato. Você começou a atuar no Sindicato, ainda nos anos 90, como delegada sindical. Depois entrou para a direção da entidade e foi a primeira mulher a assumir a presidência da entidade. Quais as principais lembranças que você tem deste período? Quando eu comecei a militar, como delegada sindical da Caixa, os embates com os bancos eram grandes e as campanhas, acirradas. Naquele tempo, as negociações eram separadas, com bancos privados de um lado, e os públicos do outro. Eram tempos de Collor e FHC, as nossas lutas eram muito mais para nos defender do que para ampliar os direitos. Me lembro que, já no primeiro ano como delegada sindical, fizemos greve para reverter demissões. Vários direitos foram retirados, e só começamos a reconquistá-los na década seguinte, com muito esforço.
Os bancários de Pernambuco deram um recado claro nas urnas: as mudanças que implantamos, e que aproximam o Sindicato da base, devem continuar. Jaqueline Mello
Lazer e aventura Mano del Desierto, escultura no deserto de Atacama
Os Andes sobre duas rodas Bancários e amantes das motos, os Conterrâneos do Asfalto já planejam a próxima viagem
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o dia 3 de abril, os bancários Helenildo Freire e Marcos Tadeu de Souza partiram de moto do Recife, com três amigos, para a “Ruta de los Andes”. Durante 32 dias, rodaram 14 mil quilômetros e passaram por seis países sul-americanos. Viajar de moto pela América do Sul foi um sonho nutrido pelos bancários por muitos anos. Na década de 80, Helenildo tornou-se funcionário do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Com o primeiro salário, comprou sua primeira moto, usada. “Não tinha nem carteira de habilitação, mas já sonhava em viajar de moto pela
América do Sul”, conta. Marcos Tadeu nem sabia andar de bicicleta e já queria pilotar moto. “Aprendi a andar de bicicleta aos 10 anos, porque diziam que era preciso saber para andar de moto”, afirma. A pilotar mesmo, Marcos só aprendeu quando começou a trabalhar no BNB e pôde comprar uma moto, também com o primeiro salário no banco. Essa paixão, compartilhada com outros bancários do BNB, impulsionou o grupo a criar, em 2011, o motoclube “Conterrâneos do Asfalto”. Cinco dos 16 integrantes do motoclube fizeram a “Ruta de los Andes”, nome dado ao trajeto pelos próprios viajantes. O grupo costuma fazer viagens mensais por cidades do Nordeste. “Fazemos algumas de nossas reuniões em cidades do interior. Marcamos, por exemplo, um café da manhã em Gravatá. Assim, rodamos um pouco de moto, para ir e voltar”, conta Helenildo. Antes da “Ruta de los Andes”, a viagem mais longa que o grupo havia feito foi para Paulo Afonso, a 450 quilômetros do Recife. “Quando começamos a planejar a ‘Ruta’, muitos demonstraram interesse. No fim, só restamos nós cinco”, conta Marcos. Foi ele que, durante um ano, pesquisou sobre as rotas, o clima, as hospedagens, os equipamenJunho de 2015
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Lazer e aventura tos necessários e muitos outros detalhes, para que a viagem ocorresse conforme planejado. Cada “ruteiro” – como os integrantes do grupo se chamavam durante a viagem – levou na moto, em média, 100 quilos, entre roupas para os diversos climas, peças reservas e ferramentas.
A Rota Saíram de Pernambuco e passaram por Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. “É comum as pessoas do Nordeste saírem do Brasil pelo Sul. Escolhemos ir pelo Norte justamente para conhecer um pouco daquela região”, explica Marcos. Seguiram, então, pelo Peru, Bolívia, Chile, Argentina e Paraguai. No retorno, passaram por Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Alagoas. Os critérios de escolha das cidades pelas quais eles passaram foram as atrações turísticas e belezas naturais. Apesar disso, nos 32 dias de viagem, os “Conterrâneos do Asfalto” dedicaram-se ao turismo, sem as motos, em apenas 9 dias. “Nosso maior prazer é realmente rodar de moto”, afirma Marcos. Rodavam cerca 500 km, durante 10 a 12 horas, por dia. O combinado era que as pausas deveriam durar apenas 30 minutos. E também não almoçavam para não correr o risco de sentir sono – uma precaução, para diminuir os riscos de acidentes. Em apenas um dia, excederam bastante a média. Percorreram cerca de 900 km, entre as cidades chilenas de Iquique e São Pedro
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Helenildo e o frio na travessia do Paso de Jama, entre Chile e Argentina
de Atacama. A maior variação de altitude que o grupo enfrentou foi de mais de 4400 metros, entre as cidades peruanas Puerto Maldonado e Cusco.
“Deu tudo muito certo” Na “Ruta de los Andes”, os
“Conterrâneos do Asfalto” perderam-se apenas uma vez, entre o Distrito Federal e Mato Grosso, desviando-se 60 km da rota planejada. “Contamos com um trecho da BR 70 que só estava pronto no papel”, conta Marcos. Durante a viagem, pratica-
Marcos e Helenildo são bancários do BNB e amantes das motos
mente, não houve problemas nas motos. Foram apenas duas intercorrências: um pneu de uma delas que baixou, por ter sido montado de maneira incorreta, e a bateria de outra que baixou a carga. Helenildo ainda conseguiu evitar um terceiro incidente. “Com seus olhos treinados, ele viu que uma peça da minha moto havia se soltado. Se ele não tivesse visto, poderia ter acontecido um acidente. De fato, deu tudo muito certo”, comemora Marcos. Em Cusco, no Peru, conheceram um grupo de Garanhuns que estava fazendo praticamente o mesmo trajeto que eles, mas no sentido oposto e em jipes. “Conversa vai, conversa vem, descobri que o irmão de um dos jipeiros era meu cliente no banco”, conta Helenildo. Depois do encontro, os “Conterrâneos do Asfalto” seguiram viagem. Quando já estavam em Puno,
a 400 km de Cusco, receberam uma ligação de um dos jipeiros para avisar que Helenildo havia esquecido o documento da moto. Sem o documento, o plano de pegar a estrada logo que amanhecesse tornou-se inviável. A tentativa era, então, de perder o mínimo de tempo possível até seguir viagem. A solução encontrada foi ligar, durante a madrugada, às 2h45, para um guia turístico peruano que eles tinham conhecido em Cusco. “Compramos pacotes turísticos com ele, e ele disse que, se precisássemos de qualquer coisa, podíamos ligar para ele. Precisamos. E, sinceramente, indico para quem precisar”, conta, entre risos, Helenildo. Às 7 horas, o guia turístico peruano ligou avisando que ele mesmo iria levar o documento até Puno. Ao meio-dia, ele chegou. Outro “Conterrâneo do Asfalto” perdeu a chave da moto – ou, ao
menos, achou que houvesse perdido. “Depois de uma hora e meia procurando a chave, tentando convencê-lo a seguir apenas com a cópia, ele decidiu continuar. Nos atrasamos e, à noite, ele descobriu que as chaves sempre estiveram nas roupas dele”, lembra Marcos. Como estava tudo muito planejado, esses pequenos atrasos mudaram um pouco a rota do grupo. “Conseguimos guardar areia do Atacama. E margeamos o Pacífico, como desejávamos. Mas não conseguimos guardar a água do Pacífico, por causa das mudanças na rota”, lamenta Marcos. As paisagens mais encantadoras da viagem foram as do Deserto do Atacama. “Fiquei emocionado com tanta beleza. O céu do deserto é incrível. É um cenário místico e contraditório”, diz Helenildo. “As mudanças de temperatura são abruptas. Praticamente, não há vegetação e, em alguns lugares, não tem nem pedra. Mas é impressionante como é bonito”, completa Marcos.
Novos horizontes Os “Conterrâneos do Asfalto” já têm novos planos de viagens. Em 2017, o destino é Ushuaia, na Argentina, conhecida como “fim do mundo”, por estar localizada no extremo sul do continente americano. É possível conhecer um pouco mais dos “Conterrâneos do Asfalto” pelo blog mcconterraneosdoasfalto.blogspot.com.br ou entrar em contato com eles pelo e-mail mcconterraneosdoasfalto@ yahoo.com.br. Junho de 2015
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Mês do Meio Ambiente
Política que se põe na mesa
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que você leva à sua mesa? Um tradicional cuscuz nordestino no café da manhã? Óleo de soja, milho ou canola para fazer frituras ou refogar ingredientes? Já observou que, bem escondido, na embalagem da farinha de milho ou do óleo tem uma letra T dentro de um triângulo? São alimentos transgênicos, em geral associados a grandes doses de agrotóxico. A gente nem se dá conta, mas por trás daquilo que a gente come, há políticas ditadas pelo agronegócio, em prejuízo do meio ambiente, do pequeno produtor e da saúde da população. Se o acesso à informação sobre a origem dos alimentos já é escasso, pode ficar ainda pior. É que a Câmara
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aprovou recentemente o fim da exigência do símbolo da transgenia nos rótulos. A proposta, que está tramitando no Senado, está sendo questionada tanto pelos movimentos ligados à agroecologia quanto por órgãos de defesa do consumidor. Transgênicos e agrotóxicos trazem consigo o debate sobre o uso que se faz da tecnologia. Segundo o coordenador geral do Centro Sabiá, Alexandre Pires, que também é um dos coordenadores da ASA (Articulação Semiárido), os agrotóxicos surgiram depois da segunda guerra mundial e, já nos anos 60, se fazia a discussão sobre melhoramentos genéticos. O argumento era ampliar a produção, com controle de pragas, para combater a fome.
A quem serve a tecnologia Hoje, seis empresas controlam 60% da produção de agrotóxicos no mundo e são as mesmas que realizam as pesquisas sobre produção de sementes transgênicas. “Estas duas coisas sempre aparecem associadas. É que, a partir do momento em que as plantas passaram a sofrer danos pelos efeitos dos agrotóxicos, começaram a produzir modificações genéticas que as tornassem resistentes a estes produtos”, conta Alexandre. O pacote agrotóxico-transgênico passou a ser utilizado em proveito de uma política de favorecimento ao agronegócio, em lavouras de monocultivo que, por sua vez, causam desequilíbrio ambiental. Ou seja,
sementes pelo governo acabou gerando uma perda na prática de armazenar grãos. E, como o governo adquiria sementes do agronegócio, isso acabou repercutindo na agricultura familiar, de forma que muita gente pode estar plantando transgênico sem saber”, diz Alexandre.
Sementes da terra Alexandre Pires: O agronegócio padroniza tudo
mais pragas, mais agrotóxicos, mais sementes transgênicas. A tecnologia não teve efeitos sobre a fome, mas sobre a biodiversidade. “Na natureza, cada cultura se adapta melhor a determinadas condições ambientais: de clima, de relevo, de umidade. E isso favorece a existência de uma maior biodiversidade. O agronegócio padroniza tudo ao modificar o código genético das lavouras”, explica Alexandre. Segundo ele, a transgenia ainda é uma tecnologia muito recente para que se tenha pesquisas conclusivas sobre seus efeitos na saúde da população. No entanto, como geralmente ela vem associada aos agrotóxicos, os efeitos destes últimos já são bem conhecidos e vão de dificuldades respiratórias e problemas na fertilidade a diversos tipos de câncer.
por habitante. A maior parte da soja e algodão e uma média de 70% a 80% do milho produzidos no Brasil, sobretudo no Sul e Sudeste, são transgênicos. Há outros efeitos nefastos na transgenia. Sementes transgênicas reproduzem apenas uma vez, o que gera uma dependência: o produtor precisa estar sempre comprando novas sementes. No caso dos pequenos produtores, uma política pública que sempre fez parte das reivindicações dos movimentos sociais acabou tendo uma consequência negativa. “A distribuição de
Mapear estes efeitos dos transgênicos e retomar a prática de armazenagem de sementes é o foco do programa Sementes do Semi-árido, da ASA (Articulação Semiárido). Além de mapear as variedades de milho existentes no Nordeste, a proposta é construir Casas de Sementes. “O projeto também prevê a capacitação dos agricultores para retomarem a armazenagem doméstica e também para gestão destas Casas de Sementes, onde será garantida uma reserva comunitária. Também propomos que o programa de distribuição de sementes do governo seja feito com sementes adquiridas da própria agricultura familiar”, explica o coordenador da ASA.
Mais de 70% do milho brasileiro é transgênico
Líder mundial Desde 2008, o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxico – uma utilização que equivale à marca de 7,2 litros de agrotóxico Junho de 2015
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Dicas de cultura EVENTOS RECOMENDADOS
Bancários em ritmo junino
SÃO PEDRO Realizada tradicionalmente há mais de 50 anos, a Festa de São Pedro em Brasília Teimosa fecha a programação do ciclo junino. Além das atividades religiosas, com missa, procissão terrestre e cortejo marítimo, várias apresentações culturais fazem a programação profana da festa.
O tradicional Arraial dos Bancários movimenta o Clube de Campo, em Aldeia, no dia 27. A festa começa às 15 horas, com forró, quadrilha improvisada, barracas de comidas típicas, fogueira e animação. Três ônibus sairão da sede do Sindicato para levar os bancários ao Clube e retornarão quando a festa acabar. O interessados
no transporte devem ligar para 3316.4226 e 3316.4238. Também tem festa organizada pela Apcef-PE (Associação de Pessoal da Caixa) e pelo grupo Eu Trabalhei no Bandepe. A primeira será no dia 3, no Círculo Militar. A segunda, na sede da Asfabe (Associação dos Funcionários Aposentados do Bandepe), no dia 13.
Programação diversificada ARRAIAL OLINDANCE A Casa da Rabeca abriga, no dia 13, o Arraial Olindance. Para dar o tom, a Academia da Berlinda convida o Quarteto Olinda e a Banda Sebastião e os Maias. Nos intervalos, a turma do bloco Pife Floyd faz arrastapé no meio do salão. Ingressos: http://www. eventick.com.br/arraialolindance.
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Revista dos Bancários
Não faltam opções para quem quer aproveitar as festas juninas. Para quem for ficar na capital, há vários polos, com apresentações diárias. No Sítio da Trindade, o destaque é o concurso de Quadrilhas, com finais nos dias 25 e 26. Na Praça do Arsenal, é a caminhada do Forró, no dia 11. No Pátio de São Pedro, o Festival de Comida
de Santo, dia 22, e a Procissão das Bandeiras, dia 26. Na Rua da Moeda, o Encontro de Coco no dia 26. Tudo isso sem falar na programação dos mercados infantis, parques e polos descentralizados nos bairros. Há opções diferentes por todo estado, com destaque para cidades como Caruaru, Arcoverde, Gravatá e Limoeiro.
Bancários de talento MARTA TAVARES
Arte de encantar encontros
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inda que não exerça sua arte de forma profissional, é no teatro e na música que Marta Tavares, bancária do Bradesco, se reconhece. Durante toda a adolescência, Marta participou de atividades artísticas promovidas pela Fundação Bradesco. Nos dois últimos anos em que foi aluna da instituição, fez curso de teatro e chegou a apresentar peças no Barreto Júnior.“Sempre uni teatro e música. Tocava violão nas peças e cheguei a fazer contação de histórias com meu irmão, Daniel Pedro, que é ator e também toca violão”, conta. Em 2002, aos 18 anos de idade, começou a trabalhar no banco, o que dificultou sua dedicação à arte. “Desde então, passei a tocar violão apenas nos momentos de lazer. Meus colegas de banco dizem que o violão é meu passaporte para as festas”, conta. Seu estilo musical favorito é a Música Popular Brasileira (MPB). É também o que faz mais sucesso nos encontros nas casas dos amigos. Ela chegou a começar a tocar violino, mas não foi adiante. “Era preciso uma dedicação ao instrumento que meu ritmo de trabalho não permitia”, conta. A última atividade cultural de que Marta participou foi um trabalho voluntário. Pessoas de comunidades pobres foram à Fundação Bradesco para assistir a apresentações de Mateus e Catirina, encenadas por Marta e pelo irmão. “Meu negócio sempre foi música e teatro”, completa Marta. Junho de 2015
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Conheça Pernambuco ITAPETIM
São Pedro com forró e poesia
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ara quem ainda não tem planos para o São Pedro, visitar Itapetim pode ser uma excelente opção. Localizada a cerca de 300 quilômetros do Recife, a cidade é conhecida como o “Ventre Imortal da Poesia” e tem São Pedro como padroeiro. As festas juninas, além da programação religiosa, contam com encontros de poetas, apresentações de grupos de cultura popular e shows na Praça Rogaciano Leite. Há também a quadrilha improvisada de Itapetim, conhecida como a maior do Sertão Pernambucano. As festas de São Pedro na cidade têm sua origem na própria formação do povoado. Conta-se que os primeiros moradores construíram um pequeno santuário sobre um grande lajedo, às margens sul do Rio Pajeú, onde colocaram a imagem de São Pedro. Os proprietários desse local doaram essas terras para Igreja, onde foi construída a Capela, que recebeu o mesmo nome do povoado: São Pedro das Lajes. Quem for para a festa de São Pedro, pode aproveitar para conhecer os principais pontos turísticos de Itapetim: o Cruzeiro, as pedras com desenhos rupestres, os encontros dos Riachos da Boa Vista e do Cara-
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Revista dos Bancários
mucuqui, a Gruta Nossa Senhora Aparecida, Ponte do Rio Pajeú e a Igreja Matriz de São Pedro. Além das festividades juninas, Itapetim realiza eventos dedicados à poesia. Conhecida como a cidade natal de grandes poetas como os irmãos Batista e Rogaciano Leite, realiza, no mês de dezembro, o Congresso de Poetas Repentistas Profissionais. Mensalmente, ocorre o Itapetim “DiVerso”, que é organizado pela Associação Cultural dos Artistas de Itapetim e conta com apresentação de músicos, declamadores e violeiros. Mais informações sobre as programações culturais e turísticas de Itapetim podem ser obtidas pelo site (www.itapetim.pe.gov.br) e telefone (87 3853-1374) da prefeitura.