nº 56 - julho/2015
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De volta ao século passado Políticos conservadores, em todas as esferas, querem acabar com a discussão sobre a diversidade nas escolas, retrocedendo décadas nas lutas contra o machismo e a homofobia e por uma sociedade melhor
Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br
Presidenta Suzineide Rodrigues Secretária de Comunicação Daniella Almeida Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem da capa everett225 / ©DepositPhotos Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares
Sindicato filiado a
Editorial
Juntos para enfrentar os desafios O mês de julho começa com uma nova gestão no Sindicato dos Bancários de Pernambuco. Eleita em maio, com mais de 83% dos votos válidos, a direção encabeçada pela bancária do Bradesco, Suzineide Rodrigues, tomou posse para comandar a entidade até 2018. Serão três ano de muita luta, não só para ampliar as conquistas dos bancários, mas também para defender os direitos dos trabalhadores, ameaçados nesse período de crise. O cenário em que a atual direção toma posse não é dos melhores. Além da crise, o Congresso Nacional eleito no ano passado é dos mais conservadores e tem, cotidianamente, atacado os direitos trabalhistas, sobretudo com os projetos de lei que legalizam a terceirização ilegal. Além dos problemas gerais dos trabalhadores, os bancários enfrentam uma série de questões que precisam ser resolvidas. Entre as principais estão a proteção ao emprego, com o combate às demissões e a pressão por mais contratações. Isso sem falar no combate aos problemas das metas abusivas e do assédio moral que têm acabado com a saúde dos bancários. Há outras questões importantes, que vão desde a valorização da remuneração dos bancários até a garantia da segurança no local de trabalho. Os problemas que se avolumam, para os bancários e para os trabalhadores em geral, mostram que os próximos anos serão de muita luta para impedir retrocessos e garantir avanços. Em paralelo, a atual direção do Sindicato se compromete com o espírito de Sindicato Cidadão, buscando justiça social no Brasil, com igualdade de oportunidades e direitos para todos. Mas o Sindicato não vai conseguir encampar todas essas lutas sozinho. Para enfrentar os desafios, é preciso que os bancários estejam unidos com a entidade nas lutas que se avizinham. A história tem mostrado que todas as vitórias dos trabalhadores só vieram com garra e união. E é isso que precisamos neste momento em que os patrões estão unidos e com garra para atacar direitos que seus trabalhadores conquistaram com tanto suor.
memoriabancariospe.org.br
Mais de 83 anos de história a um clique de você
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Revista dos Bancários
Índice CAPA Os retrocessos no plano de educação
Marcos Santos / USP Imagens
Fábio Jammal
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TURISMO Noronha e a síndrome de quem mora lá Página 12
GESTÃO 2015/2018 Nova diretoria assume o Sindicato e reafirma seus compromissos
AGENDA Veja as nossas dicas de cultura
Página 8
Página 14
CONHEÇA PERNAMBUCO São Bento do Una e a Corrida das Galinhas ENTREVISTA Nova presidenta do Sindicato, Suzineide Medeiros fala sobre o futuro dos bancários Página 10
Página 16
BANCÁRIO DE TALENTO Ivonaldo Leite se divide entre o trabalho no BB e os shows de sua banda Página 15 Julho de 2015
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Educação e sociedade
Respeito e cidadania também se aprendem
na escola
Políticos querem tirar a discussão sobre a diversidade das escolas, ajudando a transformá-las num ambiente cruel para aqueles que não se adequam aos padrões de gênero e orientação sexual
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Roosewelt Pinheiro/ABr
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o Brasil, o artigo 2º do Plano Nacional de Educação, presente também nos Planos de vários estados e municípios, estabelece como uma das diretrizes a “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação” (inciso III) e a “promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental” (inciso X). No entanto, no dia 2 de julho, a Câmara de Vereadores de Olinda, capitaneada pela sua bancada evangélica, suprimiu o termo diversidade do Plano Municipal de Educação. “Negar a diversidade é querer impôr uma única história, uma única identidade, uma única visão de mundo”, afirma a educadora e deputada estadual, Teresa Leitão (PT). Este ataque à diversidade não é isolado, mas orquestrado nacio-
nalmente. No Plano Nacional, bem como no Estadual e em municípios como Recife, Caruaru, São Paulo, Maringá, Campinas e Maceió, embora o termo não tenha sido suprimido do corpo da lei, foram retiradas todas as referências a gênero, previstas nas metas dos Planos. No “Manifesto pela Igualdade de Gênero na Educação”, assinado por várias associações e coletivos da sociedade civil, especialistas alertam que o Brasil é signatário dos principais documentos internacionais de promoção da igualdade. E explicam: “Gênero, enquanto
um conceito, identifica processos históricos e culturais que classificam e posicionam as pessoas a partir de uma relação sobre o que é entendido como feminino e masculino. (…) E é nesse sentido que tem sido historicamente útil para que muitas pesquisas consigam identificar mecanismos de reprodução de desigualdades no contexto escolar”. Entre as metas suprimidas do Plano Estadual pelos deputados de Pernambuco estão: 8.5 - Implementar políticas de prevenção à evasão motivada por preconceito e discriminação racial, de orientação sexual ou identidade de gênero, criando rede de proteção contra formas associadas de exclusão; 8.35. Realizar, em parceria com os demais entes federativos, censos específicos sobre a situação educacional de travestis e transgêneros;
“Negar a diversidade é querer impôr uma única visão de mundo” Teresa Leitão
crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de hospitalização; crianças e adolescentes em medidas socioeducativas; pessoas encarceradas; moradores de rua; ciganos; entre outros; 16.14. Ampliar e garantir
as políticas e os programas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação, sobre gênero, diversidade e orientação sexual, para a promoção da saúde e dos direitos sociais e reprodutivos de jovens e
Movimentos sociais protestam durante votação do Plano Municipal de Educação do Recife
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Educação e sociedade adolescentes e prevenção de doenças. Para a deputada Teresa Leitão, estas metas podem ser reconsideradas na construção dos Planos Pedagógicos das escolas, até porque sua exclusão vai de encontro a várias resoluções, decretos e à própria Constituição. “Mas são atos que causam um impacto simbólico, e os movimentos sociais precisam ficar atentos para que não haja retrocesso dentro das escolas”, diz.
Caricatura Segundo a deputada, para orquestrar sua ação nacionalmente, as bancadas evangélicas lançaram mão da caricaturização da escola, dos educadores e dos conceitos de gênero e diversidade. “Eles colocam como se a escola e os educadores fossem adestrar os alunos para serem gays. Quando a gente fala de formação de gênero ou sobre sexualidade, eles reinterpretam como indução à pornografia”, critica Teresa. Para Heleno Araújo, do Sintepe (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco), algumas escolas vêm realizando projetos exemplares no que se refere ao respeito à diversidade. “É muito pouco em relação ao universo de escolas e de educadores. O objetivo do PNE é, justamente, amplificar isso. E esse é o grande medo dos que não aceitam as diferenças”, diz. Segundo ele, existe ainda muita dificuldade dos profissionais de educação em lidar com as diferenças de orientação sexual, com
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Revista dos Bancários
“O objetivo do PNE é amplificar os avanços. E este é o grande medo dos que não aceitam as diferenças” Heleno Araújo
problemas de violência doméstica nas famílias, com casos de gravidez precoce, denúncias de agressões sexuais e outros problemas que envolvem questões de gênero. Valéria Pereira integra a secretaria para Assuntos de Gênero do Sintepe, que desenvolve ações de formação nas escolas, com palestras, oficinas e debates. Segundo ela, uma das palestras mais requisitadas é a que trata da violência doméstica. “Durante os encontros, muitas mulheres fazem relatos de violência doméstica. É
uma situação difícil, que mistura sentimentos de medo, culpa e impotência. Tudo isso repercute nos filhos, e os educadores não estão preparados para lidar com o problema”, diz. Outro debate que costuma acontecer é o que trata das funções sociais de homens e mulheres. “É quando a gente vê o quanto ainda pesam os estereótipos de gênero. Os alunos zombam e brincam quando a gente fala de divisão das responsabilidades domésticas. Ou quando questiona estas construções de coisa de menino e coisa de menina”, afirma Valéria.
Estereótipos Segundo o manifesto publicado pelas organizações sociais, existem pesquisas que relacionam as altas taxas de evasão escolar dos meninos com os referenciais de masculinidades difundidos socialmente. “Uma identidade masculina baseada na agressividade e na indisciplina tem, cada vez mais, afastado os meninos dos bancos escolares, negando-lhes seu direito à educação e reproduzindo uma cultura da violência”, diz o documento. Simone Fontana faz parte da coordenação do Simpere (Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife) e é educadora há trinta anos. Para ela, a escola pode reforçar ou ajudar a desconstruir estes estereótipos. Mas é necessário um longo processo de formação. “As escolas ainda fazem fila de menino e fila de
sem Homofobia, foi extremamente equivocada. O programa previa a distribuição de cartilha e realização de debates nas escolas. “Dizem que estes temas têm de ser tratados pela família. Mas são as próprias famílias que, muitas vezes, expulsam de casa estes meninos e meninas que não se adequam aos padrões. Sem apoio na família e sem apoio nas escolas, que lugar vai sobrar para eles?”, questiona Simone.
Williams Aguiar / Agência JCMazella
Valéria Pereira, durante roda de conversa sobre saúde e mortalidade materna
menina; ainda pintam de rosa os banheiros femininos e de azul os masculinos; quando distribuem brindes, ainda dão bonecas para as meninas e bola para os meninos”, diz. Simone coleciona histórias que mostram o quanto estes estereótipos podem ser cruéis. “Lembro, por exemplo, de um garoto que gostava de brincar de boneca e era proibido em casa. O pai mandava carrinhos na bolsa dele. Quando ele chegava na escola, ia brincar com as bonecas das meninas. Mas ficava o tempo inteiro olhando para o portão, com medo que o pai aparecesse”, relata a educadora. Para Heleno Araújo, alguns avanços têm acontecido. Um deles é, por exemplo, na adoção do material. Os livros didáticos são discutidos pela própria comunidade escolar a partir de uma seleção prévia, feita pelos consultores do MEC. “São livros que já não mostram aquela família tradicional, na qual mulheres cuidam da casa e homens vão ao
trabalho. É importante assegurar que estes avanços continuem”, ressalta.
Escola cruel Apesar dos avanços, a escola ainda se mostra um ambiente terrivelmente cruel para aqueles que não se adequam aos padrões de gênero, particularmente a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). “Embora não existam dados oficiais, é muito fácil perceber como cai o número destes alunos no ensino médio e superior”, diz Simone. E não faltam relatos de discriminação: “No ano passado, um aluno entrou chorando na secretaria, dizendo que não aguentava mais. Começamos a observar e, quando vimos ele ser perseguido por um grupo, resolvemos intervir. Um dos alunos partiu para cima de nós e retrucou: - Vocês não podem me punir porque isso não é crime!”, conta Simone. Para ela, a decisão da presidenta Dilma, de voltar atrás no lançamento do programa Brasil
“A escola ainda é um ambiente muito cruel para quem não se adequa aos padrões de gênero”
Simone Fontana Julho de 2015
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Gestão 2015/2018
Sindicato sob nova direção A nova diretoria do Sindicato, eleita em maio com mais de 83% dos votos, assume a entidade num momento crítico, em que os direitos dos trabalhadores estão sob forte ataque de empresários e políticos conservadores
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Sindicato dos Bancários de Pernambuco está sob nova direção. Eleita em maio,
com 83,19% dos votos válidos, a nova diretoria assumiu o Sindicato em 4 e julho para comandar a entidade por três anos.
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A bancária do Bradesco, Suzineide Rodrigues, assumiu a presidência no lugar de Jaqueline Mello, empregada da Caixa que agora ocupa o cargo de secretária da Finanças. Para Suzineide, a expressiva votação obtida pela nova diretoria aumenta ainda mais a responsabilidade na gestão do Sindicato. “Queremos agradecer as bancárias e os bancários pela votação e reafirmar todos os nossos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. Vamos cumprir todos à risca e lutar muito para garantir mais conquistas para a nossa
Votação expressiva aumenta a responsabilidade da nova direção do Sindicato
Durante a posse, nova diretoria do Sindicato reafirmou todos os compromissos assumidos com os bancários
categoria e evitar retrocessos para os trabalhadores”, garante. Suzineide tem uma longa trajetória de militância, tanto no movimento popular quanto no sindical. Funcionária do Bradesco desde 1986, ela já participava de greves e manifestações antes mesmo de integrar a direção sindical. “Nas duas últimas gestões, lutamos no Sindicato para deixá-lo mais transparente e próximo da base. Conseguimos, desde o final de 2009, formar um grupo de diretores empenhado em atender os anseios dos bancários. Agora, na presidência, vamos manter esse mesmo espírito para que, cada vez mais, os dirigentes estejam presentes nas agências e departamentos dos bancos”, afirma. Embora a maioria dos dirigentes
eleitos já estivessem no Sindicato na última gestão, a atual diretoria foi renovada em mais de 23%, com novos bancários que ingressaram na entidade dispostos a lutar pela categoria. “Essa renovação oxigena o movimento sindical e contribui com novas ideias e formas de ação para enfrentarmos os patrões”, diz Suzi. Confira toda a composição da nova diretoria em www.bancariospe.org.br.
Momento crítico Para Suzineide, a nova direção do Sindicato está tomando posse num momento bastante crítico. “Estamos vivendo um período
de fortes ataques aos direitos dos trabalhadores, comandado pelo Congresso Nacional e pelo empresariado. Os bancos também não param de criar problemas para os bancários. Teremos muita luta nesta gestão para evitar os retrocessos e ainda avançar nas conquistas dos bancários”, detalha Suzi. A ex-presidenta Jaqueline Mello destaca que o Sindicato conseguiu avançar nas conquistas dos bancários nos últimos anos, graças à unidade com a base e com os sindicatos de todo o país. “Vamos manter o Sindicato neste caminho para avançar ainda mais nos próximos anos”, afirma Jaqueline. Julho de 2015
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Entrevista: Suzineide Rodrigues
Juntos para avançar nas conquistas
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ma nova gestão do Sindicato dos Bancários começou neste mês de julho. A nova diretoria, encabeçada por Suzineide Rodrigues, traz consigo dois grandes desafios. Primeiro: responder aos anseios da base, que a elegeu com mais de 83% dos votos. Segundo: enfrentar o cenário de crise e de ameaças aos direitos dos trabalhadores. Para Suzineide, o trabalho coletivo é a resposta. É preciso somar forças, manter e ampliar a presença na base, trazer o bancário de
volta à militância, se articular com outros movimentos sociais. Quais as expectativas para esta gestão? Esperamos, em primeiro lugar, responder aos anseios dos bancários, que nos brindaram com o reconhecimento de nosso trabalho ao eleger esta direção com mais de 83% dos votos. Em segundo lugar, esperamos vencer os desafios que vêm junto com uma conjuntura bastante desfavorável para os trabalhadores. Sabemos que vamos precisar trabalhar bastante e,unidos, para superar as dificuldades que se avizinham e fazer valer nossos direitos, avançar nas conquistas e barrar os retrocessos. O que muda e o que permanece na nova gestão? Essas duas últimas gestões foram credenciadas pela bela vitória nas urnas, que é fruto de um trabalho que está no caminho certo. Nas conversas com os bancários, antes e depois das eleições, nós pudemos perceber que a base confia na gente e isso nos faz ter certeza de quer a continuidade é o melhor rumo. Vamos continuar fortalecendo a presença nos locais de trabalho. Estamos, inclusive, a pedido dos bancários, estudando a possibilidade de ampliar as viagens ao interior. Vamos continuar trabalhando em equipe, valorizando o trabalho de todos os dirigentes, liberados e não liberados. Quais as prioridades da nova direção? Existem três pontos importantes: a valorização do emprego e da remuneração; o combate ao assédio moral; e a garantia de segurança no local de trabalho. Mas há outra questão fundamental que é investir em um Sindicato Cidadão, que busque a justiça social, os direitos humanos e a igualdade de direitos – independentemente de gênero, raça ou orientação sexual. Estamos vivendo um cenário de tal retrocesso que a impressão que dá é que pensar e querer um mundo diferente é ser errado. E a gente precisa deixar claro que o exercício da cidadania vai
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Suzineide é uma militante histórica, tanto no movimento sindical quanto nos movimentos sociais e comunitários
além do salário. Para isso, vamos reforçar a articulação com as várias organizações da sociedade civil e trabalhar juntos para barrar qualquer retrocesso. E com relação à cultura e ao lazer? Teremos um seminário de planejamento em agosto. Mas já existem algumas ideias em estudo para ampliar as ações. Isso vale também para a relação com os aposentados. Queremos realizar mais atividades culturais, formativas e políticas. E quanto à Campanha Nacional, que está começando? Sabemos que vamos enfrentar dificuldades redobradas por conta do cenário de crise em que vivemos. Sabemos que os banqueiros vão se utilizar destes argumentos e da inflação alta para barrar os avanços, mas também sabemos que eles são dos poucos setores do país que nunca deixam de ter lucros crescentes. Vai ser uma Campanha difícil, mas precisamos
trabalhar juntos. Para isso, é importante trazer o bancário de volta à militância e fazê-lo compreender que, se ele não estiver na porta da agência, convencendo os colegas, conversando com a população, tudo fica mais difícil. Faremos reuniões nas agências, conversas nos locais de trabalho, para que os bancários possam se conscientizar de que os resultados da Campanha são responsabilidade de todos.
Nossas prioridades são a valorização do emprego e da remuneração dos bancários, o combate ao assédio moral e a garantia de segurança no local de trabalho se todos já vinham de uma história de militância anterior, seja em comunidade, partido político ou
Como foi a renovação nesta nova diretoria? Temos 23% da direção formada por gente que está começando no movimento sindical. E isso é fruto do trabalho de uma diretoria que teve como característica marcante sua presença na base. Você é uma militante histórica, tanto no movimento sindical quanto nos movimentos sociais e comunitários. O que difere o antigo dirigente dos novos dirigentes sindicais? É bem diferente. Entre os dirigentes sindicais mais antigos, qua-
organizações sociais. O dirigente de hoje encontra no movimento sindical sua primeira militância. E isso reforça a necessidade de investirmos em formação. Na minha época, isso existia: a gente se reunia em grupos de estudo, fazia leitura de textos, debatia... Isso precisa ser retomado, seja criando oportunidades para que os dirigentes sindicais participem de cursos, seja realizando um programa amplo de discussões e grupo de estudos. Até porque, desta forma, estamos preparando o futuro do Sindicato. Julho de 2015
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Fábio Jammal
Fernando de Noronha
A neura do paraíso Noronha é um dos pedaços mais bonitos do planeta, mas viver isolado lá causa a chamada Neuronha, uma síndrome que só existe na ilha
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magine morar num verdadeiro paraíso, cercado pelas praias mais belas do planeta e por um santuário natural de encher os olhos. Um lugar onde a criminalidade é zero, onde todas as pessoas vivem a vida em harmonia com a natureza e em paz, onde todos os dias tem festa. Já imaginou viver nesse paraíso que parece ter saído diretamente de alguma música de John Lennon? Pois saiba que quem vive lá, não troca Fernando de Noronha por nenhum lugar do mundo. Mas, de vez em quando, o paraíso estressa, a falta de um shopping ou de um cinema pesa, e a monotonia bate. É aí que quem vive no paraíso sofre com a chamada Neuronha, a Neura de Noronha, uma síndrome
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Revista dos Bancários
que só existe lá. Quem mora em Noronha garante que a síndrome aflora de tempos em tempos e que o único remédio é voar para o continente o mais breve possível. “Eu preciso sair de Noronha pelo menos uma vez por semestre. Preciso comprar produtos que não tem aqui, preciso fazer coisas diferentes”, conta Renato, que cuida do marketing de duas pousadas em Noronha. Sua namorada Nora, gerente de outra pousada, também precisa do agito de uma cidade grande de vez em quando. “Aqui é o paraíso, mas como vivemos aqui, não há novidades. Além disso, tudo aqui é caro, quando vou a Recife ou para a minha cidade, no interior do Paraná, acho tudo barato”, conta. Rafael mora na ilha há dois anos, se casou com uma nativa e não pensa em sair de lá. Trabalha como caixa de um dos bares mais famosos de Noronha e, nas horas de folga, mescla sua vida entre trilhas, mergulhos e escaladas diurnas com cervejas, vinhos, petiscos, dança e muitas outras baladas noturnas. “Aqui é o paraíso, até tatuei a ilha no meu braço. Costumo dizer que um dia eu posso deixar Noronha, mas Noronha nunca vai me deixar”, diz, mostrando a tatuagem. Apesar desse amor todo, Rafael também sofre com a Neuronha, de vez em quando. “Sempre que posso, fujo para o Recife para fazer compras, ir ao shop-
A síndrome A Neuronha, ou a Neura de Noronha, é uma sensação de claustrofobia, causada, justamente, pelo fato de estar ilhado nuns poucos quilômetros quadrados de terra. Embora esse pedaço de terra seja paradisíaco, a monotonia do isolamento precisa ser quebrada de tempos em tempos. Os autores do site Minha Ilha tentam explicar a Neuronha, usando como exemplo uma história recente: Na transição de Noronha das esferas federal para estadual, chegou aqui a professora Rosa, especialista em Educação. Rosa veio fazer uma reunião lá na escola para tratar do assunto. O avião dela chegou às 9h no horário da ilha, a reunião durou até o meio-dia, quando foi interrompida para o almoço. E quem disse que depois do almoço ela queria voltar para trabalhar? Roda disse: “Vou embora. Tem voo comercial agora? Então você transita aí com minha equipe. Eu vou embora. Não é falta de respeito com você, não. É que não estou aguentando”. Outra história dá conta que durante a construção da rodovia de Noronha, em 1987, a empreiteira contratada trazia um avião cheio de trabalhadores que ficavam alojados perto da base da aeronáutica. Um dia houve uma revolta violenta entre os operários: uma turma, que já deveria ter voltado há mais de 10 dias, entrou em estado de rebelião
e tocou fogo no acampamento. Queriam voltar de qualquer jeito. Há também histórias trágicas, como a contada por um dos moradores símbolos de Noronha, Seu Domício. Quando ele era criança, escutava os adultos falando de soldados que eram obrigados a passar oito meses seguidos na ilha, mas desapareciam no mar quando, no auge do desespero, tentavam chegar ao continente em escalares ou pequenas baiteras. “Preferiam morrer!”, conta.
A antítese Mas a Neuronha não é a única síndrome exclusiva da ilha. Há
também a Euforonha, um estado de espírito oposto à Neuronha, mas relacionados entre si. A Euforonha serve para designar a sensação de extrema animação, de euforia mesmo, de quem acaba de chegar na lha e está maravilhado com a paisagem deslumbrante ao seu redor ou com a perspectiva de passar alguns dias de tranquilidade no paraíso. Portanto, para quem quer passear em Noronha como turista, é mais fácil sofrer com a Euforonha do que com a Neuronha. A euforia de visitar Noronha não passa tão rápido e as lembranças vão permanecer pelo resto da vida. Fábio Jammal
ping, pegar um cinema. Amo esse lugar, mas às vezes sinto falta de ver outras coisas”, diz.
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Dicas de cultura »»SARAU
Poesia na Boa Vista
EVENTOS RECOMENDADOS
RESISTE NASCEDOURO No próximo dia 25 tem mais uma edição do Sarau da Boa Vista, promovido com o apoio do Sindicato. O evento existe desde 2013, como iniciativa do poeta Aldo Lins. Já passou por vários espaços: Praça Maciel Pinheiro, Pátio de Santa Cruz e, agora, os poetas se concentram no Bar Maremoto, em frente ao
Teatro do Parque, na Rua do Hospício. Pelo sarau já passaram poetas como Jomard Muniz de Brito, Almir Castro, Antônio de Campos, Fátima Ferreira, Jorge Lopes, Cida Pedrosa, Manoel Constantino. Sem falar nos poetas habituais que ajudam a construir o recital. E nos músicos Raphael Kojak, Gilmar Serra e Dudé Levino.
A Biblioteca Comunitária do Nascedouro, Movimento Cultural Boca do Lixo e Releitura Rede de Bibliotecas Comunitárias promovem, no dia 17, o evento Resiste Nascedouro. Com rodas de diálogo, recital, oficinas, música e dança, eles mostram que o Nascedouro, em Peixinhos pertence à comunidade.
»»INFANTOJUVENIL
Julho é mês de teatro para crianças Até o final de julho, os palcos do Teatro de Santa Isabel, Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro) e Capiba (Sesc Casa Amarela) abrigam o 12º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco. O destaque são os espetáculos pernambucanos. São 11 produções locais: A Bela e a Fera; A Lenda do Sapo do Tarô-Bequê; Aladdin e o
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Gênio da Lâmpada; Algodão Doce; Chico e Flor Contra os Monstros na Ilha do Fogo; Era Uma Vez no Gelo – Frozen; Os Três Coroados; Meu Reino Por Um Drama; Pluft, o Fantasminha; e Sebastiana e Severina. De fora, vem o espetáculo curitibano Entre Janelas e o paulista Pinocchio: Olhos de Madeira. Confira a programação em: www. teatroparacrianca.com.br.
LIVROS 7 Sete grandes escritores pernambucanos se juntam em lançamento coletivo de suas obras. No dia 18, a partir das 12 horas, Amaro Filho, Cida Pedrosa, Ésio Rafael, Pedro Américo, Raimundo Carrero, Samarone Lima e Valmir Jordão estarão no Box Canto Sertanejo, no Mercado da Madalena.
Bancários de talento »»Ivonaldo Leite
Do clássico ao pop rock Formado em música clássica, Ivonaldo tem uma banda pop que toca nas noites recifenses. Mas ele gosta, mesmo, é de ser bancário
A
formação musical do bancário Ivonaldo Leite é clássica. Teve aulas de piano, no conservatório, dos 7 aos 12 anos. Mas é com o pop rock internacional que ele tem mais afinidade. Desde a adolescência, toca teclado em bandas covers desse gênero musical. “Só tive duas bandas até hoje. A atual, Severinus, tem 10 anos de formação. Tocamos músicas internacionais das décadas de 70, 80 e 90”, conta Ivonaldo. “Gosto de outros estilos, mas o pop rock é a essência da nossa banda”, completa. No repertório da Severinus, estão músicas das bandas A-ha, Beatles, Eagles e Information Society. “Fizemos, inclusive, um tributo à A-ha”, comenta. A Severinus costuma tocar em boates e festas de formatura e aniversário. “Tocamos, durante anos, na Downtown Pub e na antiga boate Jardins”, conta. Ivonaldo participa de ensaios semanais da banda, mas nunca pensou em dedicar-se exclusivamente à música. “Tocar para mim é um hobby. Gosto de ser bancário”, afirma. Ele é funcionário do Banco do Brasil há cinco anos, mas antes disso trabalhou no Unibanco (atual Itaú) e no Banco Real (Santander). Com 29 anos de idade, é bancário há quase 10 anos. Os interessados em contratar a banda, podem entrar em contato com Ivonaldo pelo telefone (81) 99615-4047 ou pelo e-mail ivonaldojr@ hotmail.com. Julho de 2015
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»»São Bento do Una
Acelera, galinhada!
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este mês, São Bento do Una tem uma programação cultural irreverente que celebra seu potencial econômico como maior produtor de aves de corte do Norte-Nordeste. De 27 de julho a 2 de agosto, o município realiza a 18ª Corrida das Galinhas. Além da tradicional disputa, que conta com a participação dos donos das aves que as tangem até a linha de chegada, há outras competições, apresentações musicais, espaço para negócios e um polo gastronômico. São duas modalidades da competição principal: a corrida dos galos e a das galinhas. Os campeões deixam suas patas marcadas na Calçada da Fama e desfilam em carro aberto. O público pode alugar uma galinha para participar da disputa – o serviço chama-se “Rent a chicken”. As aves vence-
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doras recebem “um milhão” (um milho grande), e os seus donos, prêmios em dinheiro. Outras competições são: “Penas, plumas e paetês” (a melhor fantasia de galinha), “Segura nos 30” (quem consegue pegar, primeiro, uma galinha d’angola), “Coma seu frango” (o homem que come um frango assado, em menos tempo), “Engula o ovo” (a mulher que come, mais rápido, 15 ovos),“O canto do galo” (o homem que imita melhor o canto do animal) e “O cocoricó da galinha” (a mulher que imita melhor cacarejo da ave). Os prêmios vão de R$ 150 a R$ 200. Após as atividades do “Galinhódromo”, blocos e trios elétricos animam o público com músicas de diversos ritmos, em um desfile num circuito chamado “Galinheiro Elétrico”. Há, ainda, o “Terreiro de Palestra”, um espaço destinado a exposições de artistas da região, palestras, rodadas de negócios e workshops relacionados ao fomento da economia local; o “Terreiro cultural”, onde são realizadas apresentações musicais; e o “Terreiro Gastronômico”, polo em que restaurantes fazem pratos à base de galinha. Localizado a cerca de 200 quilômetros do Recife, São Bento do Una é o maior produtor de ovos e de aves de corte do Norte-Nordeste. Segundo a Prefeitura, o município produz mais de cinco milhões de ovos, por dia, e vende mais 45 mil quilos de frangos, a cada semana. A programação completa da festa está disponível na página do facebook da Prefeitura: www.facebook.com/PrefeituraSBU. A expectativa é que mais de 200 mil pessoas participem dos sete dias de festa. É possível obter informações sobre hospedagem e restaurantes, na cidade, por telefone (81 3735-1027) ou por e-mail (assessoriasbu@hotmail.com).
Divulgação/PrefeituraSBU
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