nº 57 - agosto/2015
CAMPANHA NACIONAL DOS BANCÁRIOS
Bancários dão início a mais uma Campanha Nacional e denunciam os sete pecados dos bancos
ano 5
Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
Editorial
Emprego em primeiro lugar Todos os dias, cerca de 1.650 bancários são demitidos pelos bancos que operam no Brasil. Só no primeiro semestre deste ano, as instituições financeiras enxugaram seu quadro de pessoal
Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221
em 2.795 vagas, que foram fechadas sem perspectiva de serem preenchidas num futuro próximo. A situação pode piorar com a recente compra do HSBC pelo Bradesco, num negócio que, sempre, resulta em demissões e fe-
Site www.bancariospe.org.br
chamento de postos de trabalho para os bancários.
Presidenta Suzineide Rodrigues
curso no Congresso Nacional, e que são patrocinados pelos ban-
Secretária de Comunicação Daniella Almeida Conselho Editorial Suzineide Rodrigues, Daniella Almeida, Adeilton Filho e Epaminondas Neto Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Redação Camila Lima e Fabiana Coelho
E pode piorar ainda mais se os projetos de terceirização em cos, forem aprovados. Diante deste cenário, os bancários começam a Campanha Nacional deste ano colocando a proteção ao emprego em primeiro lugar. É claro que o índice de reajuste é importante, assim como combater as metas abusivas, o assédio moral e tantos outros problemas que afligem a categoria. Mas proteger o emprego, neste momento, é mais importante que qualquer um dos outros 128 itens que compõem a pauta de reivindicações deste ano. Na matéria de capa deste edição, você vai ver como a Cam-
Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação
panha Nacional de 2015 se desenrola num cenário complicado
Imagem da capa Arte da Campanha Nacional/Contraf-CUT
para o trabalhador e que a única maneira de superar a tradicional intransigência dos bancos na mesa de negociação é com muita
Impressão NGE Gráfica
mobilização.
Tiragem 12.000 exemplares
com Francisco Cavalcanti, diretor da Faculdade de Direito do
Sindicato filiado a
A revista de agosto também publica uma entrevista exclusiva Recife, que analisa o Poder Judiciário no Brasil. O Sindicato também presta uma homenagem, nesta edição da revista, ao jornalista Vito Giannotti, falecido em julho, que deixou um legado para a democracia e a comunicação de qualidade. Boa leitura e boa luta na Campanha que está começando!
memoriabancariospe.org.br Mais de 80 anos de história a um clique de você 2
Revista dos Bancários
LUTO Vito Giannotti: uma aula de democracia e de comunicação Página 10
CAPA Campanha Nacional dos Bancários coloca a proteção ao emprego em primeiro lugar
04
ENTREVISTA Francisco Cavalcanti, Diretor da Faculdade de Direito do Recife, analisa o Judiciário
BANCÁRIO DE TALENTO João Nascimento, da Caixa, se realiza na música e na poesia Página 15
AGENDA Veja nossas dicas de cultura e lazer Página 14
Página 7
CONHEÇA PERNAMBUCO Serra Talhada encanta pela natureza e história Página 16
MÚSICA E HISTÓRIA João Pernambuco, o conterrâneo que revolucionou a MPB Página 12 Agosto de 2015
3
Campanha Nacional 2015
Proteja o
seu emprego! Sindicato lançou a Campanha Nacional em Pernambuco no dia 13 de agosto
O emprego dos bancários corre sérios riscos diante das políticas de RH dos bancos e dos projetos que regulamentam a terceirização ilegal. Lutar contra as demissões imotivadas e por mais contratações é a prioridade da Campanha deste ano 4
Revista dos Bancários
C
erca de 20 mil bancários perderam seus empregos no Brasil no primeiro semestre deste ano. As contratações não acompanharam o ritmo das demissões e os bancos encerraram o semestre com 2.795 vagas a menos. Para piorar a situação, o Bradesco acaba de comprar o HSBC. E as experiências de fusões e aquisições no sistema financeiro brasileiro não são boas para os bancários. A fusão do Itaú com o Unibanco, em 2008, resultou no fechamento de 15.701 postos de trabalho. Um ano antes, a compra do Banco Real pelo Santander ceifou 2.969 empregos. Fora o problema interno dos bancos, o emprego dos bancários ainda corre riscos diante de uma série de projetos que tramitam no Congresso Nacional e que regulamentam a terceirização ilegal no país. Se aprovados, acabariam com o emprego com carteira assinada e transformariam o Brasil num país de terceirizados. E quem são os principais lobistas no Congresso que pressionam pela aprovação desses projetos? Os bancos.
O Sindicato está cotidianamente nos bancos para mobilizar os bancários
“Por tudo isso, a proteção ao emprego será o grande mote da Campanha Nacional dos Bancários deste ano”, destaca a presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues.
Mobilização A Campanha dos Bancários 2015 já está nas ruas. Além da proteção ao emprego, a categoria quer reajuste de 16%, valorização do piso salarial no valor do salário mínimo calculado pelo Dieese (R$ 3.299,66 em junho), PLR de três salários mais R$ 7.246,82, combate às metas abusivas e ao assédio moral, melhores condições de trabalho, fim da terceirização e vales-alimentação e refeição
maiores. As negociações com os bancos começam agora, em agosto, e se estendem durante o mês de setembro. O Sindicato já está percorrendo as agências, postos e departamentos dos bancos para esquentar as turbinas da mobilização dos bancários. “Sabemos que as negociações com os bancos nunca são fáceis e que sem pressão não vamos conseguir ampliar as nossas conquistas. Por isso estamos convocando todas as bancárias e todos os bancários para virem lutar com a gente, participando das assembleias, reuniões e, sobretudo, das atividades de pressão que o Sindicato está realizando cotidianamente”,
explica Suzi. Para o secretário de Políticas Sindicais da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Gustavo Machado, que participou das atividades de lançamento da Campanha em Pernambuco, no último dia 13, como a conjuntura político-econômica do país neste ano é mais adversa do que nos anteriores, a mobilização da categoria precisa ser reforçada. “Precisamos que os bancários de todo o país estejam unidos para alcançarmos os objetivos que traçamos para essa campanha. Esperamos que a resposta às metas abusivas e ao assédio moral dos bancos seja dada em Agosto de 2015
5
Campanha Nacional 2015
Mídia da Campanha deste ano aborda os sete pecados do capital
forma de uma grande mobilização dos bancários. E, dessa forma, consigamos incluir novos direitos na nossa convenção coletiva”, ressalta Gustavo. O bancário do HSBC Pedro Francisco é um dos que está disposto para participar ativamente da Campanha Nacional. “Queremos defender nossos empregos e o melhoramento de nossas carreiras. Nós, bancários, precisamos ser mais valorizados”, afirma Pedro, que está preocupado com a situação dele e dos colegas após a venda do HSBC para o Bradesco. No interior, a disposição de luta também é grande. Uma bancária do Bradesco de Serra Talhada, diz que a redução das metas e a valorização da mulher no ambiente de trabalho são prioridades. Já Glewbber Klécio Morato, do BNB de Serra Talhada, destaca a luta por mais contratações. Para ele, “com mais companheiros, o trabalho flui melhor”. Ele acredita na importância de se buscar o diálogo para avançar nas conquistas. A bancária do Bradesco garante: se for necessário, “estou disposta a lutar e a me juntar com os colegas de outras agências e outros bancos”.
Acompanhe Confira como andam as negociações com os bancos, as atividades de pressão e mobilização organizadas pelo Sindicato e todo o dia-a-dia da Campanha Nacional em www.bancariospe. org.br.
6
Revista dos Bancários
“As negociações com os bancos nunca são fáceis. Por isso, convocamos todas as bancárias e todos os bancários para virem lutar com a gente” Suzineide Rodrigues
Entrevista: Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti
Todos os Poderes têm corrupção Diretor da Faculdade de Direito do Recife analisa o Judiciário brasileiro e o coloca em perspectiva com outros poderes
N
esse contexto de crise política no Brasil, a atuação do Poder Judiciário tem gerado grande repercussão social, principalmente em relação aos julgamentos de casos de corrupção no poder público. A Revista dos Bancários conversou sobre o assunto com Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti, desembargador federal aposentado, doutor em Direito pela Universidade de Lisboa (Portugal) e diretor da Faculdade de Direito do Recife (UFPE). Como você avalia a atuação do Poder Judiciário no Brasil? Ele teve sua atuação muito ampliada, depois da Constituição Federal de 1988. Poucos países no mundo atribuem uma competência tão ampla ao Poder Judiciário. Em países como os Estados Unidos, nem todas as questões estão sujeitas ao controle judicial. A legislação deixa que apenas as agências reguladoras disciplinem as questões que não são constitucionais. A relação juiz/processo no Brasil não encontra similar em nenhum país desenvolvido. Por exemplo, em 1993, quando fiz meu doutorado, mostramos que o Tribunal Constitucional Alemão, desde a sua criação em 1954 até 1993, tinha julgado menos processos do que o Supremo Tribunal Federal do Brasil em apenas um ano. Isso significa que aqui temos um número abarrotado de processos que faz com que os
julgamentos não tenham a mesma qualidade. Se tivéssemos mecanismos de solução de conflitos, teríamos um caminho melhor. Quais seriam possíveis formas de diminuição desse elevado número processos judiciais? Um dos caminhos que países europeus, como Alemanha e Espanha, trilharam foi melhorar a qualidade do que se faz na administração. Estruturar a administração, criar um sistema de procedimentos capaz de resolver boa parte desses conflitos. Porque o ideal é uma sociedade com menos demandas. Por exemplo, uma questão muito comum: acidente de veículo. Existe um seguro Agosto de 2015
7
Entrevista: Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti obrigatório chamado DPVAT [Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres]. No Brasil, são centenas de milhares de ações discutindo esse seguro. Se a Susep [Superintendência de Seguros Privados], que é o órgão regulador setorial, funcionasse muito bem, teríamos um número pequeno de demandas. Ela deveria verificar se as seguradoras estão agindo corretamente e se há abusos dos segurados. Como o Judiciário tem atuado nesse contexto de crise política no Brasil? Parte da discussão que está vindo agora é como se fosse um terceiro turno eleitoral, mas tirando isso temos problemas de corrupção grave. E tínhamos no passado. Na década de 1970, ninguém ousava dizer que, em uma empresa pública em que os generais eram diretores, estava tendo corrupção. Mas era óbvio que havia. Houve, de fato, uma certa ampliação da corrupção. Esse mecanismo de se utilizar dinheiro público para que as empreiteiras repassem para políticos está vinculado a uma série de fatores. Financiamento de campanha é um problema sério, que precisa ser resolvido, com o fortalecimento do financiamento público. Isso possibilitaria candidaturas de quem não está aparado por uma estrutura empresarial. O Judiciário está fortalecido. A autoridade policial está podendo atuar, o Ministério Público podendo denunciar... E mesmo no segmento que está nas mãos do
8
Revista dos Bancários
ministro do STF, do Teori Zavaski, as apurações estão acontecendo. E é isso que está, de certo modo, incomodando. Porque no passado seria inimaginável o presidente da Câmara estar sendo objeto de apuração.
“O grande problema do Brasil não é especificamente o Judiciário, mas o fato de termos uma pirâmide social absolutamente injusta” Em estudo publicado, recentemente, no site “Outras palavras”, o jurista Fábio Konder Comparato fala do Poder Judiciário como um poder, historicamente, corrupto e a serviço das elites. Qual a sua opinião sobre isso? O grande problema do Brasil não é especificamente o Judiciário, mas o fato de termos uma pirâmide social absolutamente injusta. Todos os Poderes têm problemas de corrupção. As pessoas que vão para o Judiciário são recrutadas no mesmo barro das que vão para o Legislativo e para o Executivo.
Elas, na base, passaram por um concurso. No topo, tiveram indicação política. Como é que alguém vai ser indicado politicamente para um tribunal superior e vai estar absolutamente desvinculado de quem o indicou? Atualmente, fala-se muito em politização do Judiciário, da utilização dele como instrumento político, para defender interesses de grupos específicos. Qual a sua opinião sobre isso? É evidente que, em função de certas circunstâncias, em textos não tão precisos, há interpretação com uma certa carga política, sobretudo nas cortes superiores. Um dos melhores professores de Direito Constitucional português, Jorge Miranda, catedrático da Universidade de Lisboa, diz que as cortes constitucionais são jurídico-políticas. Elas não podem ser predominantemente políticas, mas o elemento político, no sentido de ter a visão do reflexo que aquela decisão pode ter sobre o conjunto da sociedade, deve existir. O Mensalão é citado como um julgamento mais político do que técnico? O senhor concorda? No caso do chamado Mensalão do PT, houve um entendimento de que todos deveriam ser julgados em conjunto no Supremo. Houve outro Mensalão – na verdade, o mensalão pega a maioria dos parlamentares – Tucano, do [Eduardo] Azeredo, lá de Belo Horizonte. Ali o Supremo decidiu separar os que tinham foro privilegiado, e mandou os outros para
“Sou otimista sobre o Brasil. Se a gente ainda não está lá, já evoluiu muito. Hoje, temos possibilidades de acesso social” a Justiça Federal de Minas Gerais. Houve uma diferença em função de relatoria. Temos ministros com posições diferenciadas. Se o mensalão de Minas Gerais fosse para o Joaquim Barbosa [ex-ministro do STF], o desfecho seria o mesmo. Mas foi para outro ministro com uma posição mais liberal. Então, esse jogo acontece. Talvez, as provas – não conheço os dois processos –, no caso do mensalão do PT, fossem mais contundentes. O julgamento do Mensalão do PT foi técnico. Não aceito a tese do julgamento político. Talvez, a política, nesse caso, tenha sido resolver julgar e punir. Essa é uma posição que o Supremo deveria manter. Como se trata de uma indicação política, não é esperado que os ministros do STF favoreçam o presidente que os indicou? A vitaliciedade é garantia contra isso. Veja um exemplo simples: quem foi um dos mais duros no Mensalão? Barbosa, indicado por Lula. Uma boa indicação para o
STF não é garantia de que o ministro indicado será procurador de quem o indicou. Talvez, no início da atividade, o indivíduo possa ter certa reverência pela indicação, mas com o passar do tempo isso se dilui. Gilmar Mendes ter pedido vistas do processo de financiamento empresarial de campanha, inviabilizando a aprovação dele, não é um bom exemplo da defesa de interesse de um grupo político dentro do STF? A capacidade técnica do Gilmar é indiscutível. A indicação foi política. Ele era AGU, quando FHC era presidente. Todos tiveram algum viés político. Alguns, viés político de coalizão, como é o caso Fachin. Por que a Dilma demorou tanto para indicá-lo? Porque se ela tivesse mandado um nome que ela achasse que deveria ser, o senado rejeitava. E não rejeitava por técnica, rejeitaria por política. O caso de Gilmar Mendes, a posição política dele é muito mais próxima
do FHC. Entendo que o STF deve ser o tribunal de mescla. Porque, se o Supremo fosse um tribunal de uma posição só, seria muito perigoso. Se em um tribunal, todo mundo pensasse igual, não precisava ter tribunal. O que não pode é o indivíduo continuar ali como um agente político de quem o indicou. Quais seriam formas eficazes de controle do Judiciário? O controle é muito mais social do que formal. Não é que só seja social, mas o controle mais importante é o social. Em todas as vezes em que tivemos a sociedade pressionando, as coisas aconteceram. Ainda sou otimista sobre o Brasil. Se a gente ainda não está lá, já evoluiu muito. Hoje, temos possibilidades de acesso social, acesso aos cargos públicos pelos concursados, a interiorização das universidades – que dão mérito às últimas gestões do governo federal. As coisas estão acontecendo, com dificuldades, claro, mas estão. Porque quem tem poder não abre mão dele. Agosto de 2015
9
Memória
Adeus, professor! O jornalista Vito Giannotti, falecido em julho, deixa um legado para a esquerda e ensinamentos para todos que desprezam a necessidade de produzir comunicação de qualidade
“E
les têm rádios, TVs, jornalões, revistas, editoras e toda a mídia eletrônica. E fazem bem feito. Fazem bonito. Nós precisamos fazer mais e melhor”. A fala era repetida exaustivamente, às vezes seguidas de uns bons palavrões, pelo militante, sindicalista, escritor e comunicador popular Vito Giannotti. A partida de Vito, que morreu de causas naturais no dia 24 de julho, causou comoção entre os que fazem os movimentos sociais, sindicais e populares em todo o país. Seu velório, no dia 26, transformou-se em um ato político que reuniu a esquerda, pelo menos por um momento. Estavam lá partidos como o PT, Psol, PCdoB, PSTU, PCB. Estavam lá movimentos sociais como o MST e Levante Popular da Juventude; movimentos sindicais, de favelas, de comunicação popular. O depoimento da historiadora Virgínia Fontes resume um pouco da personalidade deste homem, cuja ausência enche de tristeza os movimentos de esquerda: “Vito foi o intelectual orgânico da classe trabalhadora do qual fala Gramsci, o intelectual inteiro, íntegro, persuasor permanente, duro na análise e compreensivo na vida. Era um comunista no sentido pleno da palavra: o homem que experimentava o prazer de estar vivo, que sabia o valor sem preço do ser humano. Vito cozinheiro, Vito professor, Vito dos sindicatos, Vito jornalista, Vito pesquisador, Vito escritor, Vito militante, Vito amigo, Vitão”. Desde que abraçou a causa do socialismo, no final dos anos 50, tornou-se um guerreiro incansável na luta por um mundo mais justo. Filho de italianos, chegou ao Brasil
10
Revista dos Bancários
em 1964, aos 21 anos. Atuou na resistência à ditadura e empregou-se como metalúrgico, para estar mais perto dos operários. Participou ativamente do movimento sindical; publicou livros onde resgata a memória de luta dos trabalhadores e propõe estratégias para uma comunicação de qualidade. Todos os anos, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco - seus diretores e a equipe de comunicação - marcava presença nos cursos anuais do Núcleo Piratininga. “Vito sempre nos provocava para que os sindicatos construíssem sua própria comunicação e para que a classe trabalhadora fosse protagonista da história”, lembra a presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues. Criado por Vito e pela sua companheira Cláudia Santiago, o núcleo formou várias turmas de comunicadores populares, que se espalham pelas favelas e associações do Brasil. Nos cursos anuais, debates intensos se estendem durante quase uma semana. Este ano, por exemplo, ele acontece em novembro e a programação inclui temas como A mídia e o fortalecimento do
conservadorismo; A mídia alternativa na luta dos trabalhadores; Arte e cultura na periferia; Democratização da Comunicação; entre outros. “Saímos do curso renovados; cheios de esperança e de vontade de fazer uma comunicação melhor”, conta o secretário de Administração do Sindicato, Geraldo Times. Além de participar dos Cursos Anuais, o Sindicato já organizou atividade de formação com Vito Giannotti. E participou de oficina promovida pela CUT. Em todas as atividades, o material produzido pela equipe de comunicação do Sindicato era elogiado. Mas, junto com os elogios, vinha também uma provocação: “Só falta ter um jornal diário”, dizia Vito.
Temos que fazer bem feito Vito se foi sem ver realizado seu sonho de ter vários jornais diários alternativos circulando nas ruas, nos ambientes de trabalho, nas favelas do país. “Já tivemos isso no Brasil em 1905, 1919, 1946. Só que, agora, não é só de jornal que precisamos.
É de toda a mídia: jornal, revista, TV, rádio, blogs, redes sociais. Precisamos encarar o desafio de disputar a hegemonia com nossos inimigos. E o primeiro passo para isso é o convencimento, isto é, a comunicação”, afirmou ele no ano passado para a TV dos Bancários de Pernambuco, durante o curso anual no Rio de Janeiro. Outro ponto que ele prezava era a linguagem e o layout. Se alguém chegasse para ele com um jornal cheio de matérias imensas e herméticas, com muito texto e quase nenhuma imagem, podia estar certo que a resposta seria dura, quase sempre recheada de palavrões: “E quem vai ler esta porcaria?” Falar com frases curtas e em linguagem simples era, para ele, vital. Nada de dialetos: sindicalês, juridiquês, politiquês. Sobre isso, costumava contar várias histórias, como a do metalúr-
gico recém chegado ao movimento sindical, que vai a sua primeira reunião. De tanto ouvir falar em conjuntura, ele mais tarde pergunta na mesa do bar: “Quem é esse tal de conjuntura de quem vocês falam tão mal?” Vito destacava ainda a importância da pauta escolhida pelos movimentos sociais em seus materiais de comunicação. “Há sindicatos que são absolutamente dentro do sistema, só pensam no umbigo da categoria. Não querem saber da política geral. Não querem saber como vai a Educação, a Saúde, os serviços públicos. Não lhes interessa a luta pela Reforma Agrária, nem a situação dos índios ou quilombolas. Estes sindicatos são muitos e são ótimos para manter o sistema como está. Mas para quem quer mudar a sociedade, é preciso dosar os temas da nossa comunicação. Falar do imediato, sim. Do concreto, sim. Mas também dos interesses históricos dos trabalhadores, de uma sociedade democrática, solidária, justa”, afirmou, em entrevista à Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal), em 2012.
Agosto de 2015
11
Música e história
O desconhecido João que mudou a música brasileira Conheça o músico João Pernambuco, referência para Pixinguinha e VillaLobos e considerado a mais legítima expressão do jeito brasileiro de tocar o violão
V
ocê conhece João Pernambuco, grande compositor e violonista, referência do choro brasileiro e alvo de elogios de músicos como Pixinguinha e Villa-Lobos? Se a resposta foi não, você não precisa se preocupar. A maioria dos pernambucanos também não o conhece. Nascido em Jatobá, no sertão pernambucano, em 1883, João Teixeira Guimarães é mais conhecido como João Pernambuco. Ele aprendeu a tocar violão com cantadores nordestinos. No Rio de Janeiro, trabalhava como ferreiro, em jornadas de até 16 horas diárias, mas, ainda assim, realizava rodas de choro, na
12
Revista dos Bancários
pensão em que morava, junto com Donga e Pixinguinha, pais do samba. O erudito Villa-Lobos também era um dos frequentadores dessas rodas. João Pernambuco costumava contar histórias e cantar músicas da terra natal, daí o apelido. “Pela suas características melódicas, harmônicas e rítmicas e pela sua originalidade, a obra de João Pernambuco deve ser obrigatória para a formação dos músicos brasileiros”, afirma Marco César Brito, professor do Conservatório Pernambucano de Música e do Instituto Federal de Pernambuco. A Funarte (Fundação Nacional de Artes) produziu um LP do grupo
acordesdoradio.com.br
de choro “Nó em Pingo D’agua”, dedicado à obra de João Pernambuco. O maestro Leandro Carvalho, sob a orientação do professor Turíbio Santos, e o violonista Caio Cezar também gravaram composições do músico pernambucano. Segundo o professor Marco César, a obra de João Pernambuco é marcada por um sentimento poético da cultura do sertão do estado. “Dentre as composições dele, destaco ‘Estrada do Sertão’, que representa as estradas da região de Jatobá, e ‘Sons de Carrilhões’, que se refere aos sons das oficinas de ferreiros e de consertos de eixos de carros de boi”, afirma. O professor conta que várias músicas de João Pernambuco foram apropriadas, indevidamente, por outros músicos. O caso mais conhecido é o da música “Luar do Sertão”, cuja melodia, muitos afirmam, ser de autoria do violonista. Marco César conta, ainda, que Villa-Lobos, inspirado em João Pernambuco, realizou estudos clássicos para violão. E foi a convite dele que o músico pernambucano afastou-se do trabalho de ferreiro e foi trabalhar na Superintendência de Educação Musical e Artística. Mesmo com toda a sua grandiosidade, para Marco César, a obra do músico pernambucano não recebe o devido destaque nas grades curriculares das escolas de música, pois esse espaço é ocupado por compositores estrangeiros. “A obra de João Pernambuco está inserida, exclusivamente, no ensino de música erudita. Isso a
João Pernambuco, de pé à esquerda, Augustin Barrios, sentado, e Quincas Laranjeira à direita, na loja O Cavaquinho de Ouro. Rio de Janeiro, 1929.
distancia da música brasileira popular instrumental”, lamenta Marco César. “Além disso, as rádios e televisões brasileiras não a inserem em suas programações ”, completa. Segundo o também violonista e professor da Escola Portátil de Choro do Rio de Janeiro, Maurício Carrilho, “a obra de
João Pernambuco, ao lado da de Villa-Lobos, é a expressão mais legítima do modo brasileiro de tocar violão”. É possível conhecer um pouco dessa obra no site da Funarte: www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/discos-projeto-almirante/joao-pernambuco-1983. Agosto de 2015
13
Dicas de cultura »»Lazer
Festa do Chopp será no próximo dia 29 A 3ª Festa do Chopp, em comemoração do Dia dos Bancários, será no próximo dia 29, sábado, no Clube de Campo do Sindicato, km 14,5 da Estrada de Aldeia. Como nas edições anteriores, quem comprar a caneca da festa pode tomar chopp geladíssimo à vontade. Quem não bebe, também pode encher a caneca de água ou refrigerante. As canecas serão vendidas no próprio clube, no dia da festa, por R$ 15. O grupo de samba “Pegada de Moleque” e a banda “Interalta” animam a festa. Haverá, ainda, brindes para os bancários sindicalizados e ônibus
»»Esporte
que levarão os festeiros da sede do Sindicato ao Clube de Campo, às
10h, 10h30 e 10h45. A festa tem início às 11h e vai até 18h.
EVENTOS RECOMENDADOS
Inscrições para Campeonato de Futebol vão até dia 24 Se ligue: as inscrições para o 17º Campeonato de Futebol dos Bancários de Pernambuco vão até o dia 24. Cada equipe deve ter de 16 a 22 jogadores. Todos devem ser bancários sindicalizados. Há exceção para os goleiros, que podem, inclusive, ser de outra categoria. O início da disputa está previsto para o segundo final de semana de setembro. Os times podem se inscrever pelo site do Sindicato: www.bancariospe.org.br.
14
Revista dos Bancários
MOSTRA DE DANÇA
LITERATURA
De 5 a 15 de agosto, os principais teatros do Recife e região metropolitana abrigam a 12ª Mostra Brasileira de Dança. Estarão em cena 28 grupos pernambucanos; além de grupos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e Campo Grande. Acesse www. mostrabrasileiradedanca.com.br.
A relação entre leitura e imagem, literatura e quadrinhos é o mote da 6ª Mostra de Literatura Contemporânea, promovida pelo SESC/Laboratório de Autoria Ascenso Ferreira. Entre os convidados estão quadrinistas como Rodrigo Rosa e Lailson de Holanda; e escritores como Marcelino Freire e Cida Pedrosa.
Bancário de talento »»João Nascimento
Sonhos não envelhecem
Às vésperas da aposentadoria, bancário da Caixa faz planos para resgatar um antigo sonho: viver da poesia e da música
A
relação de João Nascimento com a música começou ainda na infância. O pai tocava violão, e foi com ele que João aprendeu a dedilhar. Nunca estudou música de forma sistemática. “Uma pessoa me ensinava uma coisa aqui, eu aprendia a tocar uma música vendo alguém tocar ali, e assim fui ”, conta João. Milton, Gil, Caetano e Chico são companheiros de João desde criança, e tornaram-se referências quando ele começou a tocar. Nas composições do bancário, as principais inspirações são a Bossa Nova e as toadas de Elomar. “Minhas composições são como meteoros, acontecem muito raramente”, brinca. Maranhense, João é empregado da Caixa desde 1982. Na década de 90, veio para o Recife com a perspectiva de trabalhar com música. Tocou em bares e participou de festivais de música. “O interesse em trabalhar na Caixa foi aumentando, enquanto o de trabalhar com música foi diminuindo. Eu já tinha família constituída, com filhos, e precisava da segurança financeira que o banco me dava”, lembra. Mas, ainda nas palavras de João, “a paixão pela música continua a fervilhar. É uma semente em fogo que pode, a qualquer momento, germinar”. O músico gosta de tocar violão quando está sozinho, pois “pode soltar as amarras da emoção”. Além de músico, o bancário é poeta. Para ele, “a poesia é a raiz da música”. Alguns de seus mestres são Ferreira Gullar, Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa. Quando ainda morava em São Luís, João chegou a publicar um poema de longo fôlego, em formato de livro. Com mais de 30 anos de trabalho na Caixa, a possibilidade de aposentaria aproxima-se. Questionado se a dedicação à música está nos seus planos pós-aposentadoria, João responde: “à música, eu não sei. Mas à poesia, com certeza”.
...estou procurando o caminho para encontrar em mim o que ainda arde íntimo e profundo como centelha atômica de doçura e afeto em um corpo obesificado pelo desencanto mas que não desiste da ancestral criança e sua ausência de disfarces implodindo as fúrias... (Trecho de um poema de João Nascimento) Agosto de 2015
15
Conheça Pernambuco »»Serra Talhada
Talhada entre serras e histórias
N
o dia 15 de agosto, os bancários, sobretudo os sertanejos, se juntam em Serra Talhada, no 4º Encontro dos Bancários do Interior. A intenção é organizar e esquentar os ânimos para a Campanha Nacional. Mas, que tal aproveitar a oportunidade para conhecer melhor a cidade? Localizada no Sertão do Pajeú, a 415 quilômetros da capital pernambucana, a cidade é talhada entre serras e encanta pelo vigor de sua cultura e por seus atrativos históricos, sobretudo os que se relacionam à história do cangaço. A natureza foi generosa com o lugar. De qualquer ponto em que se olhe, avista-se as serras que circundam a cidade. Quem se aventurar em trilhas vai descobrir paisagens maravilhosas do Vale do Pajeú, com mirantes, açudes, barragens e cachoeiras. Há grupos locais que organizam trilhas de bicicleta, como o Cangaço Bike, responsável pelo 1º Serra Bike que reuniu, em fevereiro deste ano, 320 participantes em 40 quilômetros de percurso pela região. Informações pelo (87) 99127-9689. Serra Talhada também proporciona ao visitante a possibilidade de um mergulho na história. Está lá o maior museu do cangaço do Brasil. Instalado em um prédio da antiga estação ferroviária da cidade, o Museu do Cangaço, além de abrigar peças do período, tem sala multimídia, cineclube e palco externo com apresentações culturais. Quem quiser se aprofundar na história, pode ir até o Sítio Passagem das Pedras, a 35 quilômetros do centro, local onde nasceu Virgulino Ferreira, o Lampião. Ou esticar até Serra Grande, onde aconteceu o maior combate da história do cangaço. Na fazenda Barreiros, próxima ao local,
16
Revista dos Bancários
encontra-se uma estrutura pronta para receber turistas. A cultura é outro atrativo da cidade. Encontros de poetas, grupos de teatro, produções e apresentações audiovisuais, artesanato, vaquejada, dança... não faltam opções culturais. Mas é, sobretudo, no xaxado que a cidade se reconhece. A dança, com seu arrastar de sandálias, tão apreciada pelos cangaceiros, tornou-se patrimônio imaterial do município. Com 20 anos de criação, a Fundação Cultural Cabras de Lampião, além de coordenar os principais grupos de xaxado da região, também organiza o Encontro Nordestino de Xaxado, realizado geralmente em junho; e apresenta o espetáculo ao ar livre O Massacre de Angico, que retrata a morte de Lampião, no mês de julho. Também organiza o passeio turístico ecológico Nos Passos de Lampião. Mais informações em www.cabrasdelampiao.com.br.