Revista dos Bancários 58 - set. 2015

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nº 58 - setembro/2015

Campanha Nacional dos Bancário

s 2015

é a p l u c a : e v e r G dos banqueiros!

avançam e bancários Negociações com os bancos não a possível greve. começam a se preparar para um os, entenda os motivos Categoria tem parado todos os an

ano 5


Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221

Editorial

É primavera! A primavera está chegando e, junto com ela, tem desabrochado todos os anos um grande movimento dos bancários. Com data-base em 1º de setembro, a categoria tem iniciado a estação mais colorida do ano com fortes greves e paralisações em todo o país. O resultado deste movimento, em todos os anos da última década, tem sido bem florido para os trabalhadores, que ampliam suas conquistas e direitos como nenhuma outra categoria no Brasil. Graças às fortes greves, a primavera dos bancários tem

Site www.bancariospe.org.br

tido um aroma de vitória e beleza, que perfuma, oxigena e serve de exemplo para todo o movimento dos trabalhadores do país. Este ano, a Campanha Nacional chegou novamente num mo-

Presidenta Suzineide Rodrigues

mento decisivo. Sem avanços nas negociações, os bancários já se preparam para encarar mais uma greve. E, para que ela novamente

Secretária de Comunicação Daniella Almeida

renda flores e frutos, os trabalhadores precisam se unir e partici-

Conselho Editorial Suzineide Rodrigues, Daniella Almeida, Adeilton Filho e Epaminondas Neto Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem da capa Ivaldo Bezerra Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares

Sindicato filiado a

par ativamente de todas as atividades propostas pelo Sindicato. É provável que a greve, se for realmente necessária, comece ainda em setembro. Diferentemente dos anos anteriores, a conjuntura política e econômica do país, hoje, não está das melhores. E, por isso mesmo, os problemas que devemos enfrentar nesta greve devem ser maiores. Mas o importante é manter a união e lutar até o fim pelas nossas reivindicações, que são justas e até fáceis de serem cumpridas pelos bancos, não fosse a ganância do setor mais desumano do país. Mas, com força, suor, garra e resistência, a luta dos bancários este ano deve ser novamente vitoriosa. Se os próximos dias serão difíceis e cheios de espinhos, as conquistas que a greve pode render vão florir os nossos caminhos. Precisamos proteger nossos empregos, acabar com as metas abusivas e o assédio moral que tanto nos faz mal, melhorar os nossos salários e as condições de trabalho e de saúde. Precisamos melhorar as nossas vidas, enfim... Mas para isso, precisamos lutar! Venha com o Sindicato construir mais essa primavera de conquistas para os bancários!

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Revista dos Bancários


Campanha Nacional: bancários na luta por suas reivindicações

04 ENTREVISTA Poeta Miró conta como trocou a bebida por uma nova vida Página 6

AGENDA Veja nossas dicas de cultura e lazer Página 14

INTOLERÂNCIA E ÓDIO Radicalismo na internet e nas ruas toma conta do país Página 9

BANCÁRIO DE TALENTO Conheça a dupla de músicos da Caixa que está fazendo sucesso Página 15

CONHEÇA PERNAMBUCO Do rock à vaquejada, Surubim tem atrações para todos os gostos Página 16

Setembro de 2015

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Campanha Nacional 2015

Preparados para a greve Bancos dificultam as negociações e bancários já falam em greve. Mobilização da categoria está no auge e paralisação pode começar ainda em setembro

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mês de setembro avança, e as negociações com os bancos sobre as reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários continuam em impasse. Até agora, nenhuma demanda dos funcionários foi atendida. Os bancos devem apresentar uma proposta de acordo somente nas últimas semanas do mês. A presidenta do Sindicato, Suzineide Rodrigues, que representa Pernambuco no Comando Nacional dos Bancários e participa das negociações, não está otimista. “A postura dos representantes da Fenaban na mesa de negociação tem sido péssima. O que ouvimos até agora foi um festival de negativas para todas as reivindicações discutidas. Esperamos uma contraproposta que atenda a nossa pauta. Mas, infelizmente, o resultado das negociações mostra que estamos caminhando para mais uma greve por tempo indeterminado”, diz Suzi. Apesar de todas as desculpas e

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justificativas apresentadas pela Fenaban para não avançar nas negociações, a verdade é que o setor bancário está passando bem longe da crise. Mesmo com retração econômica, somente no primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos que operam no Brasil (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa) lucraram R$ 36,3 bilhões. Um crescimento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano passado. “Ou seja, eles têm totais condições de atender as reivindicações dos bancários”, diz Suzi. Ainda assim, os bancos preferem aumentar os seus lucros a qualquer custo. Mesmo que, para isso, joguem pesado contra seus funcionários. “A Fenaban está empurrando os bancários para a greve. O Sindicato de Pernambuco, assim como as entidades do Brasil inteiro, já prepararam os trabalhadores para uma eventual paralisação. Ela, pelo visto, será inevitável, pois não vamos aceitar um acordo rebaixado de jeito nenhum”,

Suzineide Rodrigues

afirma Suzi.

Mobilização Desde o início de agosto, o Sindicato está mobilizando os bancários em todo o estado para a Campanha Nacional. Todos os dias, a entidade tem realizado reuniões em agências, departamentos e postos de serviço do Recife e do interior para dialogar com os trabalhadores sobre o desenrolar das negociações e prepará-los para uma possível greve. “Fizemos atividades de protes-


tos que chamaram a atenção da população em todas as semanas. Os bancários estão no auge da mobilização e muito dispostos a participar efetivamente de uma greve, se for o caso”, conta Suzineide. Ela destaca que, neste momento, é importante que os trabalhadores acompanhem o dia a dia da Campanha pelo site e pelo jornal do Sindicato e participem das assembleias e das atividades de pressão. “Se tivermos que entrar em

greve, precisamos construir um movimento forte desde o início para que a paralisação seja rápida e eficiente. Converse com seus colegas de trabalho sobre o andamento da Campanha e ajude o Sindicato a mobilizar os bancários. O sucesso das negociações depende de cada um”, ressalta a presidenta do Sindicato.

Reivindicações A pauta de reivindicações dos bancários foi entregue aos bancos no dia 11 de agosto. Entre os

principais pontos estão o índice de reajuste de 16% (reposição da inflação mais aumento real de 5,7%), piso salarial no valor de R$ R$ 3.299,66 e PLR de três salários base mais parcela adicional fixa de R$ 7.246,82. Os bancários reivindicam, ainda, melhores condições de trabalho, com o fim das metas individuais e abusivas. “Mas nossa principal demanda é a proteção ao emprego, que está em risco por conta da ganância dos bancos”, conclui Suzi. Setembro de 2015

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Entrevista com João Flávio Cordeiro

O renascimento do poeta Miró

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om o livro “aDeus”, João Flávio Cordeiro, o poeta Miró, questiona a existência do divino: “há Deus?” Também oferece a Deus seus poemas e sonhos. E se despede de um tempo para deixar renascer um novo momento em sua vida: “Olhei para o passado. As folhas dos calendários caindo. É preciso plantar cedo sua árvore pra mais tarde ter uma sombra que lhe agasalhe” Figura conhecida no Recife, Miró, que viu a morte de perto, decidiu abandonar o álcool e recomeçar a vida. Usufrui agora de um novo momento, em que desfruta do reconhecimento público e da possibilidade de pensar em si mesmo. Nessa sua nova fase, o poeta-cronista, que dá às palavras a poe-

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sia da voz e do corpo, conta com muito apoio: dos amigos, que o ajudam a cuidar de si; e da mão invisível de sua mãe, que deixou para ele um legado de sensibilidade e integridade. Como você está, nesse novo momento de sua vida? Muito bem. Estou conseguindo vender meus livros. Tenho sido chamado para dar entrevistas em vários jornais e revistas. Voltei agora da Bienal do Rio de Janeiro. Vou ser até homenageado da Bienal de Pernambuco (será que é porque pensavam que eu ia morrer?)... E sei que tudo isso está acontecendo comigo porque eu parei de beber. Ainda estou tentando descobrir quem é esse novo Miró. Mas durante muito tempo, andei esquecido de mim e agora estou retornando. Descobri uma coisa boa que é a dignidade de dispor do dinheiro de minha arte para comprar coisas pra mim: uma roupa, uma sandália, uma bolsa de viagem. Aquilo que, antes, eu gastava com bebida, hoje posso usar para fazer um tratamento dentário, comer melhor, viver melhor. E o que te deu essa força para resistir e recomeçar? Os amigos e, principalmente, ter visto a morte de perto. Como foi essa tua quase morte? Desde que minha mãe morreu, eu já vinha me enterrando no álcool. Mas,


desta vez eu tive delirium tremens, achei que ia morrer... Era bem cedo quando eu vomitei a bile. Aquela gosma verde no lençol branco surgiu para mim como uma rã imensa que ia me engolir. Eu tremia inteiro... Minhas mãos tremiam. Mesmo assim, consegui achar uma caixa de fósforo e, com um palito, apertar as teclas do telefone e ligar pra Wilson Freire. Ele ligou de volta e eu respondi: - Vem pra cá, que eu tô morrendo!... Ele chegou rápido e, não sei como, eu consegui jogar a chave pra ele. No caminho pro Hospital Oswaldo Cruz, ele só me disse: - Feche os olhos e só abra quando eu mandar. Ele sabia que, tendo delírio, eu atrapalharia muito a chegada no hospital. E, de fato, quando chegamos lá e ele me disse para abrir os olhos, eu achei que estava num abrigo pra menores infratores, na Funasa. Eu gritava: Wilson, eu não sou ladrão... Eu sou poeta... Tiveram que me sedar e me amarrar. E quando você decidiu retomar a vida? Foi no oitavo dia. Ainda vou escrever um poema sobre isso: O Oitavo Dia... Eu fiz amizade com todo mundo que estava comigo na enfermaria. E um deles, que tinha câncer, me chamou: - Poeta, meu soro tá no fim. Vai lá pedir pra trocarem. Eu dei um pulo e fui correndo dar o recado. A enfermeira quando me viu, comentou: - Eita, poeta! Tá bom de ter alta, né? Aí, quando eu voltei pro quarto, sentei na cama e comecei a olhar ao meu redor e me dar conta daquele universo que me rodeava. Todos os que estavam comigo não podiam

nem andar. Mas eu podia sair dali! Eu vinha me negando a usar o soro, apesar da insistência das enfermeiras... Naquele dia, decidi: - Coloca aí o soro, que eu quero viver! E tem sido difícil resistir? Eu não tenho tido vontade de beber. Wilson liga quase sempre pra mim. Pelo tom da minha voz, ele percebe como eu estou. Numa dessas ligações, ele perguntou: - Já bateu a primeira vontade? Eu disse: - Ainda não. E olhe que estou em teste porque estou morando no coração boêmio da cidade: perto do Mercado da Boa Vista e de todos estes bares cheios de malucos, conhecidos meus. Quando tem um maluco mais insistente, que fica me oferendo bebida, eu finjo que tenho que fazer alguma coisa ou que tenho que atender um celular,

desconverso e caio fora... Miró, como a poesia surgiu na tua vida? Veio com o futebol. Esse nome Miró não é por conta do artista plástico. É por causa de um ex-jogador do Santa Cruz (apesar de eu ser rubro-negro). Meu sonho era ser jogador de futebol. E eu era bom nisso. Naquela época, início dos anos 80, a classe média vivia mais perto das casas em que o povo morava. Não era como hoje, onde os ricos se isolam nos arranha-céus. Eu morava por ali, perto do Oswaldo Cruz, e um dia eu estava voltando pra casa e passei pelo campo onde os meninos, da classe média, estavam jogando futebol. Então parei pra olhar. Acontece que um deles se contundiu e teve que sair do jogo. Aí um dos rapazes me chamou pra Setembro de 2015

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Entrevista com João Flávio Cordeiro entrar. Eu fiquei de goleiro. Em um dos lances, fiz uma defesa, peguei a bola, saí driblando todo mundo e fiz o gol. Eles deliraram e eu passei a ser aceito na turma e conviver com gente como Maurício Silva, Lenine, Nena Queiroga... Fazia pequenos serviços. E jogava bola. E a poesia? Um dia, Maurício Silva estava escrevendo um poema. Eu perguntei: - O que é isso? - Uma poesia, quer ouvir? E ele leu: Farda verde/verde/verde/Praça verde/verde/verde/e o coração bate continências/a toda mulher que passa. Quando ele terminou, eu disse: - Entendi! É um policial, olhando a mulher gostosa! E aquilo ficou martelando nos meus ouvidos. Eu tentava imitar, ficava repetindo: azul, azul... vermelho, vermelho. E minha mãe: - Que é isso, menino? Tá convivendo demais com aquele pessoal! Eles são doidos, deixa disso... Então, um dia, andando pelo centro, eu vi um policial arrastando um pivete pela camisa, junto com outros quatro. E alguém, que passava, gritou: - Cor-

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re, que já são quatro horas! Eu olhei o relógio dos Correios e o ponteiro passava um pouco das quatro. Escrevi: Quatro horas/Quatro ônibus levando vinte e quatro pessoas tristonhas e solitárias/Quatro horas e um minuto/Acendi um cigarro e a cidade pegou fogo/Cinco horas/ Cinco soldados espancando cinco pivetes/filhos sem pai e órfãos de pão/Cinco horas e um minuto/ urinei na ponte e inundei a cidade/Seis horas/o Recife reza e eu voando pra ver Maria. Foi o meu primeiro poema! Começou bem, hein? Eu escrevi aquilo e depois fiquei em êxtase! Fui caminhando do centro até onde a gente morava, perto do Oswaldo Cruz, pra mostrar pra Maurício. E, no caminho todo, eu repetia cada frase. Quando eu cheguei lá e disse que tinha escrito um poema, ele pediu pra ler. Eu disse: - Não. Eu quero dizer o poema pra você. E falei. Ele ficou impressionado. Disse: - Você é um poeta, Miró! Então essa tua relação com a palavra escrita e a palavra falada

sempre existiu? Sempre. Eu sei todos os meus poemas decorados. Quando eu era criança, eu tinha uma professora que fazia uma roda de leitura. Eu sempre fui mal aluno, mas sempre gostei de ler. E toda vez ela só sorteava o meu número, 23, pra começar. Um dia eu perguntei: Professora, por que sempre sou eu quem começo? E ela disse: - Porque você tem pausa. Você lê bem... Talvez essas leituras na sala tenham me influenciado. Mas todo poema que escrevo, eu falo e repito. Primeiro pra mim mesmo. Depois para os outros. E essa virou uma marca minha. Isso me ajudou. Em vez de tentar escrever meu livro ou vender meus poemas escritos, eu achava uma brecha num show, numa atividade, e recitava. A primeira vez que subi num palco pra dizer poesia foi num show de Maciel Melo, em Petrolina, uma cidade que me abriu muitas portas. Agora fala sobre teu novo livro: aDeus a quem? São poemas escolhidos dentre vários que eu tinha escrito antes de entrar no hospital. Era um momento em que eu me perguntava: - Há Deus? Então eu digo que este é um livro feito a várias mãos, porque Wilson entregou o material para Wellington Melo, da Mariposa Cartonera. E Wellington escolheu, dentre aqueles todos, 33 poemas que casaram perfeitamente com a fase que estou vivendo agora. Então esse “aDeus” é um “para Deus”, é um “Há Deus?”, e é um “adeus” aquele antigo Miró para o nascimento de um novo.


Política e sociedade Manifestações contra o PT destilam ódio aos movimentos sociais que formam a base do partido. Indignação é seletiva. Não há protestos contra corrupção e desmandos dos partidos de direita

Tempos de intolerância

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ra domingo, 23 de agosto. Ítalo Lopes estava na praia de Boa Viagem com um grupo de amigos. Militante dos movimentos sociais há anos, Ítalo estava com seu boné da CUT, quando foi abordado por uma mulher. Depois de sugerir que ele tirasse o boné, ela passou a criticá-lo com um discurso anti-PT e anticomunismo. “Eu pedi que ela se retirasse e lembrei

Manifestações de ódio, na internet e nas ruas, atingem petistas, movimentos sociais, minorias e excluídos

que o que eu uso ou deixo de usar não diz respeito a ninguém”, conta Ítalo. A mulher se retirou. Mas voltou, cerca de quarenta minutos depois, acompanhada de um homem. “Ambos tinham um sotaque diferente. Acho que eram do Sul ou Sudeste. Começaram a me xingar. Dizer que um comunista como eu não podia tomar cerveja Heineken nem usar iphone. Eu retruquei: falei que eu trabalhava, ganhava meu salário e podia gastar meu dinheiro como quisesse”, lembra Ítalo. Os xingamentos foram se avolumando: “Fui chamado de veado safado; disseram que quem defende o governo é ladrão; que todo servidor público é corrupto. Para minha amiga, diziam que era gorda comunista. Por pouco não passou para a agressão física”, diz o militante. O fato aconteceu uma semana depois da Marcha Nacional contra Dilma. Setembro de 2015

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Política e sociedade A atividade foi realizada em vários estados do país e, com flashes ao vivo nas emissoras de TV, era descrita como uma atividade pacífica. No entanto, alguns dos cartazes e episódios registrados pela imprensa alternativa mostram que as palavras de ódio e de incitação à ruptura democrática marcaram presença. Em São Paulo, um grupo de artistas decidiu levar à manifestação a denúncia sobre os dezoito assassinatos na recente chacina de Osasco e Barueri. Foram enxotados com gritos de “Fora petistas!”. O jornalista Luciano Marra registrou o ódio em foto na qual uma professora aposentada, toda vestida de vermelho, é achincalhada pelos manifestantes. E não faltaram cartazes defendendo um golpe militar ou com frases como: “Por que não mataram todos em 1964?” e “Dilma, deviam ter te enforcado no DOI-Codi!” No dia 25 de agosto, o advogado Matheus Sathler, que foi candidato a deputado federal pelo PSDB, postou um vídeo nas redes sociais. Dizia: “Um recado à presidenta Dilma. (…) Renuncie, fuja do Brasil ou se suicide. Dia 7 de setembro, a gente não vai pacificamente para as ruas. Juntamente com as forças armadas populares, vamos te tirar do poder. Assuma seu papel, tenha humildade para sair do país porque, caso contrário, o sangue vai rolar. E vamos fazer um memorial na Praça dos Três Poderes: um poste de cabeça para baixo. Nós vamos arrancar sua cabeça e fazer um memorial”. O advogado ganhou notoriedade,

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Ítalo foi hostilizado e quase apanhou na praia de Boa Viagem porque usava um boné da CUT

no ano passado, por causa de sua proposta de criação do “kit macho” e “kit fêmea” - cartilhas, segundo ele, para distribuir nas escolas e ensinar “homem a gostar de mulher, e mulher a gostar de homem”.

O ódio na internet “Haters” é uma palavra de origem inglesa que, ao pé da letra, significa: “os que odeiam”. Trata-se de expressão bastante usada nos meios digitais para falar sobre aqueles que utilizam as redes sociais para expressar críticas, quase sempre virulentas e intolerantes, a artistas e figuras públicas. O fato é que o ódio tem encontrado guarida e estímulos nas redes. Para o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o problema do mundo virtual é a “falta do olhar alheio”, que funciona como freio social para certos impulsos. “Nas redes sociais, somos todos assim: não

vemos as expressões de nossos interlocutores, tanto pela invisibilidade como pela assincronia do diálogo. E sem esse feedback, não sofremos com a dor alheia”, escreveu o médico, no texto “Psicopata é você!”, publicado no seu blog em agosto do ano passado. A comunidade no facebook “Revoltados On Line” tem quase um milhão de seguidores. Entre suas postagens, há algumas célebres: um dossiê do pentágono que mostrava que Lula daria um golpe para implantar uma ditadura no Brasil; a notícia sobre um projeto do deputado federal Jean Willys (Psol) que pretende acabar com o ensino de biologia nas escolas; a história de um sujeito que usava o Bolsa Família para passar o dia bebendo cachaça... São postagens de impacto, mas sem qualquer relação com a veracidade dos fatos. Apesar disso,


Na manifestação de agosto, em São Paulo, uma professora aposentada foi achincalhada só porque estava vestida de vermelho

Não faltam, nas manifestações, cartazes defendendo um golpe militar ou com frases de ódio e violência

pesquisa realizada pelos professores Pablo Ortellado (USP) e Esther Solano (Unifesp), com manifestantes da atividade anti-Dilma realizada em abril, mostra que, dentre os entrevistados, mais da metade acredita em frases como: “Lulinha é sócio da Friboi”, “O PCC é o braço armado do PT”, “O PT trouxe cinquenta mil haitianos para votar na Dilma nas últimas eleições”. “A minha hipótese é que a descrença nas instituições resulta numa espécie de revolta antipo-

lítica, um pouco niilista”, analisa Pablo, em reportagem de Natália Viana, publicada em junho na Agência Pública (apublica.org). Ele completa: “É como se a utopia do faça você mesmo, do seja você mesmo a mídia dos movimentos de comunicação alternativa tivesse se convertido no seu oposto, um pesadelo no qual as pessoas se informam para reforçar ideias preconcebidas, sem verificar os fatos, sem escutar o outro lado e, sobretudo, sem refletir”.

Uma rápida passeada pelos comentários nas postagens do “Revoltados On Line” mostra a presença forte da intolerância e até a indução ao ódio. Nos comentários a uma postagem do dia 17 de agosto, que comemorava os resultados da Marcha no dia anterior, alguém, com perfil Douglas Hesion, escreveu: “Eu quero é a guerra. Eu quero o extermínio completo dessa quadrilha, dessa raça de vagabundos, negócio é ir pra guerra nem que custe a vida pra defender nossa cor verde amarelo” [sic]. Em resposta, uma outra pessoa, com perfil Michel Roberge comentou: “Sou petista e te digo: o povo, assim como você, são todos uns bundas moles... Vocês são covarde. Nós petistas somos macho de atitudes... resolvemos na porrada, na guerra civil ou com trincheiras e armas na mão... se forem na rua falar mal da titia Dilma ou do nosso rei Lula, vocês vão morrer, vamos pra rua, mataremos todos” [sic]. No entanto, bastou um clique no perfil do tal Michel Roberge e a imagem de capa da sua linha do tempo exibia: “Civis pela Intervenção Constitucional”. Outras postagens dele mostram sua posição política contra o governo e contra o PT.

A velha intolerância Embora as manifestações de ódio tenham crescido do ano passado para cá, elas estavam presentes nas manifestações de 2013 e também durante as campanhas eleitorais dos últimos anos. Militante do movimento estudantil, Setembro de 2015

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Política e sociedade Em um dos atos realizados na Avenida Paulista, em São Paulo, em junho de 2013, grupo de petistas foi agredido pelos manifestantes e recebeu até ameaças de morte

Rodrigo César sentiu de perto esta intolerância durante as mobilizações de junho de 2013. Em um dos atos realizados na Avenida Paulista, em São Paulo, naquele mês, ele e um grupo de amigos, do PT e de movimentos sociais, decidiram ir juntos, com suas camisas e bandeiras. Foram terrivelmente hostilizados. “Tivemos que fazer um cordão de isolamento para impedir ataques. Mas passamos o percurso inteiro ouvindo xingamentos e ameaças: que não sairíamos vivos dali, que comunista tinha que morrer, que iam enfiar um canivete em nossa barriga”, lembra Rodrigo. Segundo o sociólogo Sérgio Amadeu, coordenador da empresa de monitoramento e intervenção digital Interagentes, a análise da rede em 2013 revela que a atividade na Internet estava em disputa, com destaque para páginas conservadoras como o Movimento Contra a Corrupção, que hoje tem

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mais de 1,4 milhão de seguidores. Reportagem da Agência Pública mostra que o avanço deste tipo de ativismo digital continuou na campanha presidencial do ano passado, envolvendo todos os lados. A repórter Natália Viana entrevistou coordenadores e integrantes da equipe de redes sociais das três principais candidaturas: Dilma, Aécio e Marina. O uso de perfis falsos e robôs para retuitarem postagens automaticamente ou multiplicarem curtidas foram estratégias usadas pelos candidatos. Há denúncias também de postagens, com conteúdo duvidoso, com origem mascarada por meio da utilização do VPN – serviço que dificulta a identificação do IP da conexão da rede. Passadas as eleições, a maior parte das redes sociais de Dilma e de Marina foram desativadas. Mas cerca de 50 robôs usados na campanha de Aécio continuaram a operar. Tudo com suporte avassalador da mídia

tradicional, constata a reportagem da Agência Pública. A intolerância, nas ruas e nas redes sociais, deixou uma vítima fatal. Hiago Augusto Jatoba de Camargo, de 21 anos, foi assassinado com uma facada no dia 19 de setembro de 2014. Ele era responsável pelos cavaletes das candidatas à presidência, Dilma Rousseff, e ao governo do estado do Paraná, Gleisi Hoffmann (PT). O crime aconteceu na Praça da Ucrânia, em Curitiba, onde há uma Feira Noturna frequentada pela classe média e alta da cidade.

Um mundo dividido Para Ítalo Lopes, a explosão dessas manifestações de intolerância são reflexos do ódio de classe e de uma possibilidade de ascensão e visibilidade para as pessoas de classes inferiores, a partir dos governos populares na América Latina. “A elite não se conforma que um negro, morador da periferia, estude


Fotos: Danilo Ramos/RBA

nas mesmas universidades que eles e possa ter acesso a bons empregos. O homem que me agrediu fazia questão de falar a todo instante que era empresário de multinacional, como se isso o fizesse melhor que eu”, lembra Ítalo. No mesmo dia em que Ítalo foi xingado na praia, mais de cem jovens cariocas, a maioria da periferia do Rio de Janeiro, foram retirados dos ônibus e impedidos de chegar aos seus destinos pela Polícia Militar. Nenhum deles portava drogas, armas ou cometeu qualquer atitude suspeita que justificasse a intervenção. Mesmo assim, foram levados para o Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente. O crime: iam à praia, se misturar com os ricos. A atitude foi “justificada” pelo governador do Rio de Janeiro,

Luiz Fernando Pezão, como forma de “prevenir arrastões”. Para o sociólogo Manuel Castells, em depoimento à Agência Pública, “hoje em dia, tudo se expressa na internet. Portanto, é normal que haja fortes campanhas da direita, financiadas por grupos internacionais conservadores. É normal que esse tipo de campanha ocupe espaços na internet e, como tem mais dinheiro, tenha mais atividade”, diz. No Brasil, nos últimos dez anos, várias entidades de formação de lideranças com ideologia neoliberal foram criadas. É o caso do Instituto Millenium, Mises Brasil e Estudantes pela Liberdade – responsável pela criação do Movimento Brasil Livre. Todos eles contam com financiamento de instituições de

outros países, sobretudo Estados Unidos, como o Atlas Network, e tem parceria com grandes corporações nacionais e internacionais. Entre os parceiros está a Fundação Koch, pertencente à família Koch, uma das mais ricas dos Estados Unidos e que tem interesses na área de petróleo. Para a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues, “a extrema direita saiu do armário. Vemos nas ruas e nas redes sociais manifestações nazistas, golpistas, favoráveis à ditadura... sem contar as homofóbicas, racistas ou machistas. As máscaras estão caindo: as divisões, de classe e de ideologia, estão mais claras. O problema é que existe uma máquina que está arregimentando o ódio para um dos lados”, conclui. Setembro de 2015

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Dicas de cultura »»Campeonato de Futebol dos Bancários

EVENTOS RECOMENDADOS

len-k-a/FreeImages

A bola vai rolar

dos e domingos, a partir das 8h30. “Todos os bancários, mesmo os que não vão jogar, estão convidados a participar dessa festa”, convida o secretário de Cultura, Esportes e Lazer, Fábio Sales. Confira a tabela do Campeonato no site do Sindicato: www.bancariospe.org.br.

SARAU Mais um Sarau da Boa Vista acontece no próximo dia 26, no Restaurante Maremoto, em frente ao antigo Teatro do Parque, a partir das 19h. Na edição deste mês, o evento presta homenagem ao poeta Juareiz Correia. Divulgação

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partir do dia 19, todo fim de semana é dia de futebol no Clube de Campo do Sindicato, em Aldeia. Trata-se da 17ª edição do Campeonato de Futebol dos Bancários de Pernambuco. Oito equipes estão inscritas. Os jogos são realizados aos sába-

»»Soledad Barrett Viedma

A terra é fogo sob nossos pés Depois de 42 anos da morte da militante de esquerda, Soledad Barrett Viedma, a história da sua vida e luta política está nos palcos do Recife, terra onde a guerrilheira paraguaia viveu os últimos dias de sua vida e foi assassinada. O espetáculo, idealizado e encenado pela atriz Hilda Torres, teve como inspiração a leitura do livro “Soledad no Recife”, do escritor Urariano Mota, aposentado do Banco do Brasil. A partir daí, a atriz iniciou um período de buscas, pesquisas e encontros, que culminaram na encenação da

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Divulgação

LEMBRAR É (R)EXISTIR

peça, dirigida pela paulista Malú Bazán. A artista plástica Ñasaindy de Barrett, filha de Soledad, também faz parte da equipe técnica.

O movimento Coque (R)Existe promove um ato, no dia 20, no chamado Sítio do Cajueiro, ao lado do Terminal Integrado Joana Bezerra. Mostra de vídeos, apresentações musicais e debates fazem a atividade, que marca um ano da desocupação forçada do local, hoje abandonado.


Bancário de talento »»Rafael Neves e Rodolfo Santiago

Respirando música Dupla de bancários da Caixa, que representa Pernambuco no Festival de Música da Fenae, sonha viver apenas da arte

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futebol uniu dois bancários apaixonados por música. No ano passado, Rafael Neves e Rodolfo Santiago, ambos da Caixa, se conheceram nos jogos da Fenae. Levaram violões na bagagem. Tocaram e cantaram no aeroporto, no hotel, nas farras pós-jogos e onde puderam. Tornaram-se, então, amigos e parceiros na música. Em agosto, venceram a seletiva estadual para o 12º Música Fenae com a canção “Mudar de rádio” e representarão Pernambuco no festival de músicas compostas e interpretadas por empregados da

Caixa. As eliminatórias nacionais e a final do prêmio ocorrerão de 2 a 4 de dezembro, no Recife. “Como a etapa nacional vai acontecer aqui, nossa expectativa aumenta. Estamos representando o estado anfitrião do festival”, comenta Rodolfo. Torcida por eles é o que não falta. “Os colegas das nossas agências e de outras estão dando a maior força”, completa. Rodolfo trabalha na agência do Aeroporto, e Rafael, na de Paulista. Os bancários integram a banda “Paranozes”. O próprio nome evidencia a proposta de trabalho do grupo. “É música ‘para nós mesmos’. As músicas que gostamos de ouvir e de fazer”, conta Rafael. “É uma banda de folk rock. A utilização de instrumentos como banjo, gaita, teclado e viola caipira caracterizam o estilo”, explica. Os dois bancários vêm de famílias em que a música é muito valorizada. Aprenderam a tocar violão ainda crianças, com apoio de parentes. Rafael é o vocalista e compositor da Paranozes. Toca piano, violão, viola caipira e gaita. Todas as músicas da banda são autorais. Rodolfo é o baixista. Entrou na Paranozes a convite de Rafael. Antes disso, já tocava em boates do Recife, com a Blacklist, banda cover de rock internacional. Participou da gravação do CD e do DVD do irmão, Joel Jordão, que também é músico. Rafael trabalha na Caixa há dois anos, e Rodolfo, há cinco. Eles gostam do que fazem, mas sonham um dia poder se dedicar exclusivamente à música. “Quem respira música, sonha em poder viver dela”, afirma Rodolfo. A Paranozes gravou o primeiro CD em 2015 (https://www.youtube. com/watch?v=-TexgRBVK1c) e deve lançar um videoclipe no próximo mês. É possível acompanhar o trabalho da banda pelo facebook (www. facebook.com/Paranozes). Setembro de 2015

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Surubim Motofest é tradição desde 2004

»»Surubim

Cultura para todos os gostos

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etembro é o mês da vaquejada de Surubim. Conhecida como a mais antiga do país, atrai mais de 100 mil pessoas à cidade, com apresentações de bandas de forró e música sertaneja. Mas “a capital da vaquejada” também tem outras expressões culturais de grande notoriedade. Bandas de rock e um encontro nacional de motoqueiros, o “Surubim Motofest”, são exemplos disso. Nos anos 1990 e na primeira década dos anos 2000, a “Hanagorik”, uma banda heavy metal de Surubim, tornou-se conhecida nacionalmente, participou de grandes festivais de rock no Brasil e fez shows no exterior. “Fomos os desbravadores da cena rock em Surubim. No fim dos anos 80 e início dos 90, era chocante um homem de cabelo grande. As pessoas eram do interior mesmo. Não se sabia o que acontecia fora, pois não tinha internet”, lembra o guitarrista da Hanagorik, Tuca Araújo. O músico conta que ela foi a primeira banda de heavy metal de Pernambuco a fazer uma turnê fora do país. Gravou quatro álbuns

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e dois videoclipes, que foram veiculados na MTV. Depois de onze anos de estrada, a Hanagorik encerrou suas atividades, em 2012. “Somos respeitados Hanagorik pelo que trouxemos inspirou para cá. Os jovens cobandas de mentam que colegas Surubim de faculdade, em outras cidades, conhecem Surubim por causa da Hanagorik”, diz Tuca. Inspiradas nela, vieram outras bandas, como a “Mennarca”, que tocou de 2000 a 2010. A ideia era formar uma banda de hardcore integrada apenas por mulheres, mas ela acabou sendo formada por duas mulheres e dois homens. “A Hanagorik é a banda mãe da cidade”, conta Luanda Ferreira, que era vocalista da Mennarca e, agora, canta na “Alucionados Rock Band”. Segundo Tuca, tocar na Surubim Motofest é a nova motivação das bandas de rock na cidade.

Sobre duas rodas Em 2004, o motoclube “Cowboys do Asfalto” criou o encontro de motoqueiros. Em agosto deste ano, o XII Surubim Motofest reuniu, nos três dias de festa, mais de 10 mil pessoas, no Largo da Rua São Batista. “É uma confraternização de amigos, cuja tônica é o motociclismo”, explica Eraldo Pio, um dos criadores do encontro. Dezesseis bandas de rock animaram a festa, que foi viabilizada por doações. Os comerciantes da cidade não só contribuem financeiramente para realização do evento, como entram no clima da festa. “É muito legal ver as lojas colocando as roupas pretas nas vitrines. A cidade abraça o evento”, comenta Eraldo.

Divulgação

Danilo Leal e Thalita Rodrigues

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