KIT DEZA - SISTEMA MULTIFUNCIONAL PARA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, ARTES E DESIGN – FAMECOS CURSO DE DESIGN – LINHA DE FORMAÇÃO DESIGN DE PRODUTO

BÁRBARA DA SILVA PINTO

KIT DEZA: SISTEMA MULTIFUNCIONAL PARA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR DE DESIGN VIII

ORIENTADOR: MAURO ERLEI SCHINEIDER MARTIN COORIENTADORA: CLÁUDIA ADRIANA OLIBONI NICHETTI

PORTO ALEGRE 2020


Dedico este trabalho aos meus pais e irmã, que sempre me apoiaram e não mediram esforços para viabilizar a conclusão desta etapa em minha vida.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores envolvidos em toda minha formação, desde o Colégio Stella Maris até Marcelo Martel, Mauro Martin, Roberto Tietzmann, Stefan Fernandes, Danusa Oliveira, André Silveira, Cláudia Nichetti, Ana Cecília Nunes, Luciano Battastini, Sílvia Dapper, Lisiane Tavares, Vinícuis Mano, Leonardo Barili, Tiago Giora, Dario Eberhardt, Flávia Campos, Eduardo Seidl, Felipe Viegas, Alexandre Barros, Júlio César Caetano, Rogério Villela, Silvana Sandini, José Fazzi, Mário Ferreira, Gabriela Kurtz, Janaína Pereira e Vinícius Sittoni, pelo empenho e dedicação ao ensino do design, mostrando o poder transformador da educação. Aos familiares Zélia Maria, Ciro Carlos, Luísa Cecília, Syro Reis, Lourdes Flores, Maria Terezinha (A verdadeira Deza), César Augusto, Zaida Dias, Mariana Dias, Francisco Dias, Luiz Antônio, Valentina Dias, Zeno Diogo, Daiane Barbosa, Luiz Michel, Zeni Diogo, Iara Silva, Luiz Manoel, Zairo Diogo, Lucas Silva, Franciele Soares, Simone Soares, Jone Erick, Elias Flores, Inara Haider, Charbel Kfoury, Airton Ribeiro, Giane Silva, Leonardo Feijó, Vilson Oliveira, Elzira Wagner, Bella, Condessa, Sorrizinho, Fuzilica, Haroldo Franco, José Rocha, Leonardo Flores e Jorge Flores por todo apoio nos tempos mais difíceis. Aos amigos Lúcia Carvalho, Eduardo Rangel, Eduarda Côrrea, Luísa Zilli, Letícia Fonseca, Letícia Santos, Celine Castro, Leonardo Pinto, Isabela Martins, Henrique da Rosa, Fernando Teixeira e Vanderlei Gambatto, pela amizade e por tornarem todos os momentos mais leves e divertidos. Aos colegas de jornada Ágata Marmitt, Antônio Nunes, Zequiel Nascimento, Renata Nicolai, Júlia Chaves, Laura Pereira, Bibiana Duarte, Eduardo Soares, Thiago Spadotto, Guilherme Souveral, Giovana Sant’helena, Giovana Gomes Guilherme Campos, Júlia Canton, Júlia Achutti, Débora Zhou, Thomaz Soares, Mariana Becker, Felipe Gama, Felipe Gregianin e Victoria Sehn, pela parceria em todas as horas, dentro e fora de classe. Por último, mas não menos importante, aos funcionários da Universidade Leonardo Posser, Eduardo Pereira, Flávia Custódio, André Holtz, Gabriela Dornelles, Sheila Peixoto e Rafael Reinmann, pelo auxílio sempre disponível nos laboratórios e espaços de realização, solucionando os problemas mais inusitados e urgentes com um sorriso no rosto. Um muito obrigada a todos por participarem desta caminhada.


Os detalhes não são os detalhes. Eles fazem o Design. Charles Eames

A criatividade é a inteligência se divertindo. Albert Einstein


RESUMO

Apesar do Brasil ser um país de abundantes recursos hidrológicos, os mesmos não são acessados com facilidade por grande parte da população em variados contextos. Contudo, um contexto de grande importância é o dos desastres naturais, que causam perdas físicas e imateriais, muitas vezes fazendo com que grupos sejam deslocados para abrigos emergenciais, muitas vezes com estruturas precárias de abastecimento d’água. A água então é de suma importância para o bem-estar e saúde dos indivíduos afetados por esses eventos, garantindo higiene e prevenindo doenças relacionadas ao saneamento. Com isso, o presente projeto busca apresentar uma nova alternativa a partir da perspectiva do design de produto para que o acesso e uso da água nos abrigos seja facilitado. Para isso, uma metodologia adaptada de projeto foi elaborada e seguida, contemplando etapas de problematização, com contextualização e definição da oportunidade a ser explorada, que geraram requisitos e restrições para este novo projeto de produto, além de uma etapa analítica, na qual foram realizadas análises de similares, estrutura, função, ergonomia, entre outras, bem como entrevistas de profundidade e um experimento de imersão unindo procedimentos metodológicos de design com técnicas cientificas de coletas de dados. Na sequência, concluiu-se a etapa conceitual, com definição do conceito criativo, a etapa de geração e avaliação de alternativas, com escolha da alternativa mais adequada, e por fim a etapa de desenvolvimento, com a produção e detalhamento técnico da alternativa final de um kit multifuncional para armazenamento, filtragem e distribuição de água. Através deste trabalho, foram possíveis colocar em prática competências e habilidades técnicas aprendidas durante todo o período de estudo no curso de Design da Pontifícia Universidade Católica. Assim, evidencia-se o papel do design de produto como agente modificador de aspectos sociais e gerador de impactos positivos mesmo em contextos de emergência. Palavras-chave: Design emergencial. Água. Desastres. Abrigos. Design de produto.


ABSTRACT

Although Brazil is a country with abundant hydrological resources, these are not easily accessed by a large part of the population in various contexts. However, a context of great importance is the one of natural disasters, which cause physical and immaterial losses, frequently causing groups to be displaced to emergency shelters, often with precarious water supply structures. Water is therefore of paramount importance to the well-being and health of individuals affected by these events, ensuring hygiene and preventing diseases related to sanitation. With this, the present project seeks to present a new alternative from the perspective of product design so that access and use of water in shelters is facilitated. For this, a tailored project methodology was elaborated and followed, contemplating stages of problematization, with contextualization and definition of the opportunity to be explored, which generated requirements and restrictions for this new product project, in addition to an analytical stage, in which were realized several analysis, such as structural, functional, ergonomical, among others, as well as in-depth interviews and an immersion experiment combining methodological design procedures with scientific data collection techniques. Then, the conceptual stage was concluded, with the definition of the creative concept, the stage of generation and evaluation of alternatives, with the choice of the most appropriate alternative, and finally the stage of development, with the production and technical detailing of the final alternative of a multifunctional kit for water storage, filtration and distribution. Through this work, it was possible to put into practice technical skills and abilities learned during the entire period of study in the Design course at the Pontifical Catholic University. Thus, the role of product design is evidenced as a modifying agent of social aspects and a generator of positive impacts even in emergency contexts. Keywords: Emergency design. Water. Disasters. Shelters. Product design.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Pirâmide de sobrevivência de Maslow ...................................................... 22 Figura 2 - Metodologia de Bonsiepe .......................................................................... 27 Figura 3 - Metodologia de Baxter .............................................................................. 28 Figura 4 - Metodologia de Löbach ............................................................................. 28 Figura 5 - Metodologia proposta e comparativo com outras metodologias ............... 29 Figura 6 – Análise Denotativa ................................................................................... 41 Figura 7 – Análise conotativa .................................................................................... 42 Figura 8 – Análise diacrônica .................................................................................... 43 Figura 9 – Análise usual ............................................................................................ 46 Figura 10 – Análise morfológica e biônica ................................................................. 47 Figura 11 – LifeStraw Community ............................................................................. 48 Figura 12 – Peças do LifeStraw Community ............................................................. 49 Figura 13 – Aplicação do SODIS............................................................................... 50 Figura 14 – Pia portátil Ecoclean Nautika ................................................................. 51 Figura 15 – Máquina de lavar GiraDora .................................................................... 53 Figura 16 - Uso da máquina GiraDora ...................................................................... 53 Figura 17 – Kit de higiene UNICEF ........................................................................... 55 Figura 18 – Kit toalete Nendo minimLET ................................................................... 57 Figura 19 – Definições sobre o projeto ...................................................................... 58 Figura 20 – Painel semântico do conceito proposto .................................................. 60 Figura 21 – Texto manifesto deza ............................................................................. 60 Figura 22 – Logotipo deza ......................................................................................... 61 Figura 23 – Elementos componentes do produto ...................................................... 65 Figura 24 – Estudo de configurações ........................................................................ 66 Figura 25 – Geração de alternativas tridimensionais ................................................ 70 Figura 26 – Geração de alternativas tridimensionais ................................................ 70 Figura 27 – Desdobramento da alternativa com corte angulado ............................... 71 Figura 28 – Desdobramento da alternativa com formato cúbico ............................... 71 Figura 29 – Alternativas selecionadas ....................................................................... 72 Figura 30 – Configuração completa .......................................................................... 74 Figura 31 – Perspectiva traseira................................................................................ 75 Figura 32 – Pedal pressurizador ............................................................................... 75 Figura 33 – Ducha condutora .................................................................................... 76 Figura 34 – Interior do reservatório ........................................................................... 76 Figura 35 – Filtro embutido ....................................................................................... 77 Figura 36 – Reservatório comprimido para suporte do método SODIS .................... 78 Figura 37 – Logotipo em relevo no reservatório ........................................................ 78 Figura 38 – Alças de transporte ................................................................................ 79


Figura 39 – Empilhamento dos reservatórios ............................................................ 79 Figura 40 – Detalhe de empilhamento ...................................................................... 80 Figura 41 – Instruções do produto vetorizadas ......................................................... 80 Figura 42 – Instruções do produto............................................................................. 81 Figura 43 – Instruções de aplicação do método SODIS ............................................ 81 Figura 44 – Instruções de aplicação do método SODIS ............................................ 82 Figura 45 – Alternativas selecionadas ....................................................................... 82 Figura 46 – Ambientação de transporte conjunto ...................................................... 83 Figura 47 – Ambientação de transporte único ........................................................... 84 Figura 48 – Ambientação de uso do pedal ................................................................ 84 Figura 49 – Ambientação de uso da ducha ............................................................... 85 Figura 50 – Ambientação de uso do reservatório para filtragem solar SODIS .......... 85 Figura 51 – Detalhamento técnico do reservatório inflado ........................................ 86 Figura 52 – Detalhamento técnico do reservatório comprimido ................................ 87 Figura 53 – Detalhamento técnico do pedal pressurizador ....................................... 88 Figura 54 – Detalhamento técnico do filtro com membrana de microfilamento e carvão ativado ........................................................................................................... 89 Figura 55 – Detalhamento técnico da ducha ............................................................. 89 Fotografia 1 - Diário planificado da experiência um dia sem torneiras ...................... 36 Fotografia 2 - Brainstorm e mapa mental inicial ........................................................ 62 Fotografia 3 - Continuação do Brainstorm e mapa mental inicial .............................. 62 Fotografia 4 - Continuação do Brainstorm e mapa mental inicial .............................. 63 Fotografia 5 – Esboços iniciais .................................................................................. 67 Fotografia 6 – Continuação dos esboços com adaptação de pulverizador manual... 67 Fotografia 7 – Desdobramento dos esboços com estilo sanfonado .......................... 68 Fotografia 8 – Esboços com estilo geometrizado e orgânico .................................... 69 Fotografia 9 – Esboços com inspiração em origami .................................................. 69 Gráfico 1 - Principais desastres no Rio Grande do Sul entre 2011 e 2017 ............... 18 Gráfico 2 – Equacionamento dos Fatores Projetuais ................................................ 38 Quadro 1 - Consequências ambientais e socioeconômicas dos desastres ............... 20 Quadro 2 – Taxonomia do Produto desenvolvido ..................................................... 39 Quadro 3 – Análise sincrônica................................................................................... 44 Quadro 4 – Continuação da Análise sincrônica......................................................... 44 Quadro 5 – Análise estrutural e funcional ................................................................. 45 Quadro 5 – Análise estrutural e funcional ................................................................. 46 Quadro 7 - Análise do LifeStraw Community............................................................. 49 Quadro 8 - Análise do SODIS ................................................................................... 51 Quadro 9 - Análise da pia portátil Ecoclean Nautika ................................................. 52 Quadro 10 - Análise GiraDora ................................................................................... 54


Quadro 11 - Consequências ambientais e socioeconômicas dos desastres ............. 56 Quadro 12 - Análise de Nendo minimLET ................................................................. 57 Quadro 13 – Matriz morfológica ................................................................................ 64 Quadro 14 – Matriz de avaliação............................................................................... 73


LISTA DE SIGLAS

ANA

Agência Nacional de Águas

OMS

Organização Mundial da Saúde

ONU

Organização das Nações Unidas

PVC

Policloreto de Vinila

SABESP

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SNIS

Sistema Nacional de Informações sobre saneamento

SODIS

Solar Water Disinfection

UNICEF

Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNISDR PET PEBD

United Nations International Strategy for Disaster Reduction Polietileno Tereftalato Polietileno de Baixa Densidade


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................13 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .............................................................................14 1.2 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................14 1.2.1 Objetivos específicos ......................................................................................14 1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................15 2 REVISÃO TEÓRICA.............................................................................................16 2.1 FENÔMENOS NATURAIS E DESASTRES ......................................................16 2.1.1 Classificação dos desastres ...........................................................................17 2.1.2 Desastres no Brasil e Rio Grande do Sul .......................................................18 2.1.3 Risco e vulnerabilidade ...................................................................................19 2.2 CONTEXTO DOS ABRIGOS ............................................................................21 2.2.1 Quanto ao uso de água ..................................................................................21 2.3 DESIGN SOCIAL, PARA INOVAÇÃO SOCIAL E SUSTENTÁVEL ..................23 2.4 DESIGN PARA SITUAÇÕES EMERGENCIAIS ...............................................24 3 METODOLOGIA DE PROJETO ...........................................................................27 4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO - APLICAÇÃO DA METODOLOGIA .......31 4.1 ETAPA PROBLEMATIZAÇÃO ..........................................................................31 4.1.1 Contextualização ............................................................................................31 4.1.2 Entrevistas de profundidade ...........................................................................31 4.1.2.1 Professor e pesquisador sobre o assunto..............................................32 4.1.2.2 Funcionário da Defesa Civil .....................................................................34 4.1.3 Experiência de imersão ..................................................................................35 4.1.4 Considerações sobre a coleta de dados .........................................................37 4.1.5 Situação Inicial Bem Definida .........................................................................37 4.1.6 Situação Final Bem Definida ...........................................................................38 4.1.7 Fatores projetuais ...........................................................................................38 4.1.8 Taxonomia ......................................................................................................39 4.1.9 Síntese do projeto ...........................................................................................39 4.1.10 Requisitos e Restrições ................................................................................40 4.2 ETAPA ANALÍTICA ...........................................................................................40 4.2.1 Análise denotativa e conotativa ......................................................................41 4.2.2 Análise diacrônica e sincrônica .......................................................................43 4.2.3 Análise estrutural e funcional ..........................................................................44 4.2.4 Análise usual e ergonômica ............................................................................45 4.2.5 Análise morfológica e biônica .........................................................................47 4.2.6 Levantamento e análise de similares ..............................................................47 4.2.6.1 LifeStraw Community ...............................................................................48 4.2.6.2 Desinfecção solar SODIS .........................................................................50


4.2.6.3 Pia portátil Ecoclean Nautika ...................................................................51 4.2.6.4 Máquina de lavar portátil GiraDora..........................................................52 4.2.6.5 Kit de higiene UNICEF ..............................................................................54 4.2.6.6 Toalete portátil Nendo minimLET ............................................................56 4.2.7 Considerações sobre as análises ...................................................................58 4.3 ETAPA CONCEITUAL ......................................................................................59 4.4 ETAPA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS..........................................................61 4.4.1 Brainstorm e mapas mentais ..........................................................................61 4.4.2 Desenhos por Analogia ...................................................................................63 4.4.3 Matriz morfológica...........................................................................................63 4.4.4 Estudo de configurações ................................................................................65 4.4.5 Esboços e desenhos.......................................................................................66 4.4.6 Modelos tridimensionais .................................................................................70 4.4.7 Avaliação, critérios e escolha da melhor alternativa .......................................72 4.5 ETAPA DESENVOLVIMENTO .........................................................................74 4.5.1 Ambientações .................................................................................................83 4.5.2 Detalhamento técnico .....................................................................................86 5 CONCLUSÕES E PROJEÇÕES FUTURAS ........................................................91 REFERÊNCIAS.......................................................................................................92 APÊNDICE A - Roteiro das entrevistas semiestruturadas .................................97 APÊNDICE B - Esquematização das etapas do projeto .....................................99 APÊNDICE C - Registros do processo de modelagem tridimensional .............101 ANEXO A - Simbologias para classificação de desastres.................................104


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1 INTRODUÇÃO

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA, 2010), o Brasil detém cerca de 12% da disponibilidade de água doce do planeta, sendo este o maior índice entre todos os países. Contudo, uma parcela significativa da população sofre com a escassez de água. No Brasil, apesar do acesso à água ser considerado um direito fundamental para a qualidade de vida, conforme o relatório do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2018, são quase 35 milhões de habitantes sem o acesso básico à água. Mundialmente, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) de 2019 apontam que aproximadamente 2,2 bilhões de pessoas não possuem serviços de água potável seguros, o que equivale a um a cada três habitantes. Uma das causas evidenciadas é uma desproporção entre a localização das reservas hidrográficas e a quantidade de habitantes da região. Por exemplo, na região Norte encontra-se aproximadamente 80% da quantidade de água, mas esta região é habitada por apenas 5% da população brasileira. Já as regiões mais próximas aos Oceano Atlântico, como São Paulo e Rio de Janeiro simbolizam mais de 45% da população, mas menos de 3% da disponibilidade de recursos hídricos (ANA, 2010). Fato este que foi evidenciado com a crise hídrica nessa região no ano de 2015, gerando a necessidade de racionamentos e cortes no abastecimento. Além disso, somam-se outros problemas, como desperdício nos encanamentos devido a vazamentos na tubulação, e poluição, que piora a qualidade da água e torna este recurso ainda mais escasso. Na Região Sul, as perdas chegam a 37,14%, segundo o relatório do SNIS de 2018. Contudo, outro contexto de escassez de água a ser levado em consideração é o dos desastres ambientais, como enchentes, chuvas, vendavais e deslizamentos, que por muitas vezes causam o deslocamento de habitantes da região afetada para abrigos e locais seguros, afastados das áreas de risco, mas por vezes sem estrutura para acesso e disponibilização de recursos hídricos. Evidenciando esta situação, que pode afetar tanto os grandes centros urbanos como comunidades afastadas, traz-se à tona a realidade de uma parte da população que necessita abastecimento e acesso à água, sendo assim necessárias atitudes para economizar e estocar água, bem como recebe-la externamente ou buscá-la em outra localidade.


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Após o acontecimento de desastres e durante um período seguinte antes do reestabelecimento, a falta de água acaba tomando um espaço relevante na rotina dos habitantes afetados, que por vezes necessitam passar grandes períodos do dia buscando água de caminhões-pipa ou despender seu tempo no gerenciamento de água para atividades como alimentação, banho ou higiene das mãos.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Tendo em vista os pontos explicitados acima, evidencia-se a oportunidade de trabalhar este tema através da perspectiva do design de produto e do design social, com a concepção de um projeto que auxilie no acesso de água em situações de desastres. O presente trabalho tem, portanto, como objetivo apresentar uma alternativa de solução para a seguinte pergunta: “Como o design de produto pode auxiliar em uma alternativa de baixo custo e replicável para consumo de água por grupos afetados por desastres?”

1.2 OBJETIVO GERAL

Projetar um artefato que viabilize o acesso, filtragem e consumo de água em locais de desastres.

1.2.1 Objetivos específicos

a) Identificar, detalhar e aplicar a metodologia projetual selecionada. b) Realizar coletas de dados e entrevistas para fundamentação do projeto. c) Compreender as necessidades do público afetado pelos desastres. d) Analisar

projetos

funcionalidades,

similares além

de

e

identificar

materiais,

possíveis

componentes

atributos

e

estruturais,

dimensionamentos e inspirações. e) Definir um conceito norteador do projeto. f) Desenvolver alternativas e selecioná-las a partir de técnicas criativas. g) Desenvolver o projeto final com ambientações e modelos digitais.


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1.3 JUSTIFICATIVA

A Organização das Nações Unidas ONU definiu em 2015 uma nova agenda de desenvolvimento sustentável, com a criação de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ODS a serem atingidos por todos os países do mundo até 2030. Entre eles, estão aspectos como a fome, pobreza, educação e energia. O sexto objetivo evidenciado aqui, é o de “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. Somado a isso, a disponibilidade da água afeta em aspectos como a qualidade da saúde, alimentação e produção de alimentos, higiene e até produção de energia, no caso das hidrelétricas. No contexto dos indivíduos afetados por desastres, é ainda mais necessário o acesso a água rapidamente, para higiene e até conforto dos mesmos, devendo-se pensar em alternativas de baixo custo que possam ser transportadas até os locais de abrigo dos afetados. O design de produto pode ser então empregado a fim de auxiliar no projeto de alternativas para que os habitantes desses locais possam economizar recursos hídricos e direcionar melhor o tempo necessário na coleta e gerenciamento da água para aproveitar outras atividades e distrações nesse momento de desamparo.


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2 REVISÃO TEÓRICA

Para a fundamentação e desenvolvimento do projeto, buscou-se estudos e trabalhos que auxiliassem no entendimento do contexto dos desastres, passando desde definições dos tipos de desastres até a vulnerabilidade dos envolvidos, além de entender o contexto dos abrigos e seu acesso à água, e observando por fim teorias do Design Social e Sustentável, bem como sobre o campo do Design Emergencial.

2.1 FENÔMENOS NATURAIS E DESASTRES

Segundo a UNISDR (2009) define-se desastres da seguinte maneira:

Uma interrupção grave do funcionamento de uma comunidade ou uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais e impactos, que ultrapassa a capacidade da comunidade afetada ou da sociedade para lidar com recursos próprios.

Castro (1999) define desastres como resultado de eventos atípicos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, que causa danos humanos, materiais e ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. Para Romero e Maskrey (1993), deve-se diferenciar os fenômenos naturais de desastres. Os fenômenos naturais são caracterizados como uma manifestação da natureza de maneira previsível ou não, que pode ou não resultar em um desastre. Segundo Peres (2013), os fenômenos naturais se referem a expressões provenientes da natureza, como eventos topológicos, atmosféricos e hidrológicos que se relacionam com a dinâmica da Terra, como tempestades, tornados, enchentes, secas, terremotos, tsunamis ou erupções vulcânicas. Os desastres podem ter fenômenos naturais como causas, porem conforme a definição da UNISDR (2009), somente são considerados desastres quando interrompem o funcionamento de uma sociedade. Para Anazawa et. al (2018) os desastres podem ser entendidos como um produto do físico (combinação de ameaças) e social (vulnerabilidade).


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Fernández et al. (1996) explicita que nem todos os fenômenos naturais são perigosos aos homens, mas que só se tornam uma ameaça quando afetam o funcionamento de comunidades, causando perdas de vidas, prejuízos e danos materiais. Além disso, complementa que se esses fenômenos naturais se tornaram um desastre, é porque havia uma situação inicial vulnerável induzida ou produzida por algum tipo de intervenção humana sobre a natureza.

2.1.1 Classificação dos desastres

Conforme Castro (1999), a classificação dos desastres é feita em três aspectos: a) Intensidade, divididos a partir dos prejuízos avaliados, em pequenos, médios, grandes ou muito significativos. b) Evolução, divididos quanto a velocidade do ocorrido, em súbitos (como inundações, vendavais e tornados), graduais (como inundações lentas e secas) e somação dos efeitos parciais. c) Origem, podendo ser classificados em naturais (que não dependem da ação humana), antrópicos (que ocorrem devido a ação ou omissão humana) e mistos (combinação dos anteriores agravando os desastres).

Quanto

aos

tipos

de

desastres

desencadeados

por

fenômenos

meteorológicos, Kobiyama et al. (2006) classifica-os em: a) Inundações, caracterizadas pelo aumento dos níveis dos rios acima da vazão normal causando um transbordamento sobre a planície de inundação. Estas podem ser classificadas, segundo Castro (2003) pela magnitude (podendo ser excepcionais, de grande magnitude, regulares ou de pequena magnitude) e em função do padrão evolutivo (graduais, bruscas, alagamentos ou inundações litorâneas). b) Enchentes, caracterizam-se quando não ocorre o transbordamento, diferentemente das inundações. c) Enxurradas, definidas como uma inundação brusca devido às chuvas intensas e concentradas, afetando principalmente relevos acidentados.


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d) Escorregamentos/deslizamentos,

denominados

como

o

movimento

coletivo de material sólido por encostas, sofrendo a influência da gravidade (SELBY, 1993). Podem ser causados por chuvas intensas e terremotos, que diminuem a resistência do solo. e) Granizos, caracterizados como a precipitação de gelo, formados em nuvens de temperatura baixa, que ao se misturarem com as gotas congeladas aumentam de dimensão até se precipitarem. f) Vendavais: definidos como deslocamentos de ar devido a diferenças na pressão atmosférica e acidentes do relevo (VIANELLO; ALVES, 1992).

Além disso, uma tabela completa contendo simbologias para cada tipo de desastre, bem como a Codificação e Classificação Brasileira de Desastres, elaborada pela Defesa Civil, pode ser encontrada ao fim deste trabalho (Anexo A).

2.1.2 Desastres no Brasil e Rio Grande do Sul

Dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC, 2011) apontam que os principais eventos de calamidade são de razões hidrometereológica, sendo que as secas e estiagens prolongadas são as ocorrências mais cadastradas no Brasil, seguidas pelos desastres relacionados às chuvas. Dados coletados pela Defesa Civil entre 2011 e 2017 também apontam os principais tipos de desastres ocorridos no Rio Grande do Sul (Gráfico 1). Gráfico 1 - Principais desastres no Rio Grande do Sul entre 2011 e 2017

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da Defesa Civil (SEDEC, 2017).


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Já a pesquisa de Sausen et. al. (2018) com analises dos desastres naturais no RS entre 1985 e 2016 indica que no Rio Grande do Sul ocorrem cinco principais tipos de desastres: Vendaval, Inundação, Granizo, Estiagem e Enxurrada, sendo que os três primeiros ocorrem principalmente na primavera e os últimos dois no verão. As regiões oeste e norte são as mais afetadas respectivamente, por Estiagem, Vendaval, inundação, e Enxurrada e Granizo. A região litorânea é a menos afetada. No relatório da Universidade Federal de Santa Catarina, a Região Sul do Brasil chama atenção não apenas pela ocorrência de grandes desastres, mas também pela frequência e variedade de eventos adversos (UFSC, 2012). 2.1.3 Risco e vulnerabilidade

Com a ocorrência das catástrofes, há prejuízos além dos físicos e materiais, mas também psicológicos e socioeconômicos, pois a perda das habitações é uma perda também da estrutura psicoemocional dos indivíduos. Para Nunes et. al. (2018, p. 166) “a casa toma o corpo de seu habitante e passa a ser uma construção de emoções, desejos, anseios e, por isso, tão significativa”. Além da vulnerabilidade relacionada a perdas humanas, materiais e territoriais, há também a exposição a assédio pela imprensa e problemas dentro dos próprios abrigos, como violação da privacidade e furtos de pertences. Segundo a UNISDR (2009), risco pode ser definido como ‘‘a combinação da probabilidade de um evento e as suas consequências negativas’’. Já Davis I. (1980) define os desastres como a relação entre um risco, natural ou antropológico, e uma condição perigosa, que geram vulnerabilidade. Os tipos de risco, como inundações, terremotos, furacões, entre outros, adicionados com condições perigosas como a rápida urbanização, ou elevados níveis de pobreza, podem gerar perdas e vulnerabilidade, que são danos observados caso o risco se concretize. Além dos riscos e vulnerabilidade são percebidas outras consequências sofridas pelos afetados pelos desastres. No artigo Desastres Naturais e saúde: uma análise da situação do Brasil de Freitas et. al. (2014) propõe-se o quadro (Quadro 1).


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Quadro 1 - Consequências ambientais e socioeconômicas dos desastres

Fonte: Freitas et. al. (2014).

Há também uma relação entre a pobreza e as vítimas afetadas pelos desastres, sendo que a população de baixa renda está mais propícia a sofrer impactos causados por desastres devido as condições de moradia precárias e localizações sem infraestrutura. Para Wisner et al. (2003) vulnerabilidade é determinado tanto pelas forças naturais quanto pelos sistemas sociais. Lizarralde et al. (2010) descrevem a vulnerabilidade como resultado de condições perigosas originadas de pressões dinâmicas existentes, como fatores sociais, políticos, econômicos e culturais no sistema, e eventos naturais. Além disso, quando situações perigosas se aliam a eventos naturais, como terremotos, e inundações, um desastre ocorre.


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2.2 CONTEXTO DOS ABRIGOS

Dados do plano de contingência para emergências da Vigilância Sanitária de Santa Catarina (VSSC, 2017) definem algumas classificações sobre os abrigos temporários, contemplando definições e equipagem dos mesmos. Quanto aos tipos de abrigos, podem ser fixos, como ginásios, escolas e igrejas, ou móveis, como barracas e tendas. No documento, também são listados produtos de higienização de uso diário, sendo eles, desinfetantes, detergentes, sabonetes, escovas e pastas dentais, bem como papel higiênico, sacos de lixo e lixeiras. Sugere-se também que os abrigos possuam materiais de reparos, como ferramentas, tubos de PVC, conexões, tampas, cola, lixas, martelos, pregos, entre outros, e que nesses casos utilize-se os próprios desabrigados como mão de obra para os reparos, a fim de gerar nos mesmos um senso de importância, e coletividade, além de distrair no período de desabrigo. 2.2.1 Quanto ao uso de água

Em dados da UNICEF (2005), é apontado que a água e saneamento são críticos para sobrevivência nas situações de desastre, pois as pessoas estão ainda mais suscetíveis a doenças e óbitos por doença, como diarreia ou doenças infecciosas, causados por higiene precária, suprimentos relacionados a água inadequados e falta de saneamento. Além disso, esses aspectos se relacionam com a pirâmide de sobrevivência elaborada por Abraham Maslow (MASLOW, 1987), qual os aspectos de fisiologia são considerados os de necessidade mais básica humana, sendo essenciais para a manutenção da vida e encontram-se na base da pirâmide (Figura 1). Por isso, o principal objetivo do gerenciamento dos recursos hídricos é a redução da transmissão dessas doenças, com boas práticas de higiene, saneamento e ingestão de água potável. A Vigilância Sanitária de Santa Catarina (VSSC, 2017) define-se o uso de 80 litros de água por pessoa diariamente para usos gerias, além de 2 litros de água potável para consume. É evidenciado que os abrigos devem possuir reservatórios de água potável a fim de suprir as necessidades básicas dos desabrigados, ou receber


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de maneira externa, com instalação de reservatórios extras equipados com tampa e proteção contra mosquitos como os da espécie aedes aegypti. Figura 1 - Pirâmide de sobrevivência de Maslow

Fonte: Adaptado de Opinion Box (SCHERMANN, 2018).

Já dados da ONU (2018) define que a quantidade mínima de água necessária para cada pessoa é de 110 litros por dia. Conforme dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP, 2015), está quantia mínima pode ser atingida seguindo as seguintes medidas: O banho deve ter duração de dois minutos com válvula parcialmente aberta, ou seja, fechado enquanto ensaboa-se, totalizando doze litros de água. Somado a isso, dois litros de água para consumo e doze litros para descargas, simbolizando duas descargas diárias. Também são contabilizados 2,7 litros para escovar os dentes, utilizando água apenas no enxague, por três vezes ao dia. Por último, para lavar a louça são contabilizados 55,2 litros, ligando a torneira por quatro minutos e dezenove litros para lavagem de roupas, se lavar apenas uma vez na semana. Todos estes usos totalizam 102,9 litros, com aproximadamente sete litros que podem ser usados para cozinha e limpeza. No contexto dos abrigos, o uso diário de água é ainda menor, se desconsiderar-se aspectos como lavagem de louça ou roupas, como no exemplo citado acima, pode ser de 80 litros por dia. Dados da Defesa Civil (SEDEC, 2006), estimam que o consumo de água em abrigos temporários por pessoa é de 15 a 20 litros por dia, sem considerar a água destinada ao banho. Para beber, cada pessoa pode necessitar de 2,5 litros de água


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em dias quentes, e 2 litros para dias com clima temperado ou frio. Já para banho, estima-se o uso de 20 litros por dia, sem chuveiro, e 60 litros se o abrigo possuir chuveiro. Para a Federación Internacional de la Cruz Vermelha y la Media Luna Roja (2006), é recomendado que os abrigos possuam abastecimento de água potável de no mínimo 2 a 3 litros por dia para cada indivíduo, com finalidade de higiene e alimentação. Além disso, também ressalta que a instalação adequada de equipamentos de caráter hidrossanitário é uma medida essencial para dignidade, segurança, saúde e bem-estar dos indivíduos.

2.3 DESIGN SOCIAL, PARA INOVAÇÃO SOCIAL E SUSTENTÁVEL

No presente projeto visa-se empregar conceitos de design para colaborar na geração de soluções que utilizem recursos de baixo custo, ou com adaptação de matérias-primas já industrializadas a fim de viabilizar a escalabilidade do projeto. Para isso, neste projeto objetiva-se aprofundar o conceito de design social, design para inovação social e design sustentável. Holm, I. (2006) define o campo do design social como um processo de design que contribui para melhorar o bem-estar humano e dos meios de subsistência. Para Pazmino (2007, p. 3):

O design para a sociedade consiste em desenvolver produtos que atendam às necessidades reais específicas de cidadãos menos favorecidos, social, cultural e economicamente; assim como, algumas populações como pessoas de baixa-renda ou com necessidades especiais devido à idade, saúde ou inaptidão.

O campo do design social, é discutido desde a década de 70 no livro Design para o mundo real, de Victor Papanek (PAPANEK, 1971), no qual aponta que os profissionais de criação possuem uma responsabilidade e são capazes de causar mudanças reais por meio do design. Essas soluções buscam melhorar a qualidade de vida, principalmente dos grupos em vulnerabilidade, exclusão ou em desenvolvimento social. Para isso, Papanek também defende a vivência do designer juntos aos grupos menos desenvolvidos, a fim de atender as necessidades especificas. Com esta finalidade devem ser levados em contas 8 fatores de projeto,


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sendo eles: Funcionais; ergonômicos; culturais; econômicos; ambientais; estéticos; tecnológicos e sociais. Já o campo do design para inovação social trata de iniciativas ligadas ao design

para

sustentabilidade.

Segundo

Manzini

(2008),

inovações

sociais

significativas passam por um processo de co-design aberto, na qual não só o designer especializado participa, mas os próprios usuários que possuem experiencias de uso e insights próprios, o que gera novas sugestões e significados, com iniciativas locais que contribuem para a sustentabilidade. Manzini define os conceitos de design difuso, realizados por qualquer indivíduo, e sugere uma nova perspectiva do papel do designer, com o conceito de design especializado, realizado por pessoas com práticas em design e metodologias projetuais, assim podendo interagir com os usuários e gerar soluções com foco em mudanças sociais significativas e colaborativas. No livro Design para Inovação Social e sustentabilidade, Manzini (2008) propõe uma lista de guias e critérios a serem atendidos em projetos de inovação social, sendo estas: Minimizar o consumo de materiais; minimizar o consumo de energia; minimizar emissões toxicas; uso de recursos renováveis e bio-compatíveis; otimizar a vida útil dos produtos; aprimorar a duração dos materiais; projetar a desmontagem. Para White et al. (2004), considerando também o design sustentável, ou seja, aliado a sustentabilidade, é importante atentar a ser economicamente viável, ecologicamente correto, culturalmente aceito e socialmente justo.

2.4 DESIGN PARA SITUAÇÕES EMERGENCIAIS

Ainda relacionado ao campo de design de responsabilidade social precursionado por Papanek, pode-se considerar também como parte deste conceito de levar em consideração as necessidades humanas o campo do design para situações emergenciais. Por ocorrerem em momentos imprevisíveis, os desastres são muitas vezes inesperados nas regiões do Brasil, o que leva a um despreparo quanto a medidas de apoio emergenciais. Devido a essa imprevisibilidade dos desastres, o campo do design para situações emergenciais é ainda pouco explorado nessa região, mas sabe-se que a aplicação de alternativas projetadas especificamente para estas


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ocasiões pode auxiliar com maior eficácia os indivíduos afetados, por preparar e entender previamente as necessidades dos usuários. Segundo Martel (2011), os períodos de emergência correspondem aos períodos que sucedem imediatamente os desastres, abrangendo até seis a oito semanas após o desastre. Contudo o período de 72 horas após os desastres é considerando o mais crucial para sobrevivência (UNICEF, 2005), e o socorro e chegada

de

equipamentos

relacionados

nesse

período

são

essenciais,

principalmente visando abrigo, água, nutrição, saneamento e saúde. Para a United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UNISDR, 2009) uma crise ou emergência é uma condição ameaçadora que requer ações urgentes, sendo que medidas de emergência eficazes podem evitar o escalonamento de um evento em um desastre. Para o gerenciamento de emergência deve-se envolver planos que orientem os esforços do governo, nãogovernamentais, iniciativas voluntárias e privadas de maneira coordenada que possam responder ao espectro das necessidades emergenciais. Neste momento, também cabe analisar as diferentes características que podem e devem estar presentes neste tipo de projeto. Para as situações emergenciais, devem ser levados em consideração fatores como uso de materiais e processos produtivos que facilitem a alta reprodutibilidade do artefato, bem como dimensões compactas para otimização de transporte até o local e também portabilidade para instalação e montagem. Além disso, deve-se atentar para a possibilidade de falta de energia elétrica, por isso as soluções projetadas podem prever o uso manual. Outro aspecto interessante em produtos para situações emergenciais é a lógica de kits com itens relacionados as necessidades dos usuários nessas situações, como lanternas, capas, itens de primeiros-socorros, rádios, apitos e baterias. Nos kits de emergência, os fatores de transporte facilitado, dimensões compactas e multifuncionalidade são de suma importância, pois este último amplifica o uso das peças individuais ou em conjunto para uma gama de usos diferentes que diminuem a necessidade novas peças, e consequentemente mais materiais, peso e dimensões a serem transportadas até os locais de abrigo. Com o uso de metodologias de design, podem ser projetadas soluções que chamem a atenção e sejam memoráveis, sem causar aflição ou medo nos afetados. Somado a isso, é


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interessante que possuam uma estrutura e lógica organizacional que facilitem o uso intuitivo. Para Martel (2011), os produtos e sistemas relacionados ao socorro humanitário apresentam requisitos para alavancar sua eficácia, que podem abranger características dos produtos ou dos tipos de desastres. Esses requisitos podem ser classificados em três grupos, em ordem decrescente de importância: a) Tipo do desastre, background, funcionalidade, portabilidade/montagem e logística. b) Custo e tecnologia. c) Sustentabilidade, material e confiabilidade.

Detalhando Martel (2011), no primeiro grupo, os tipos de desastres se referem aos eventos influenciadores de socorro, podendo ter soluções diferentes para cada tipo. O background condiz as condições previas do local, sejam sociais, culturais ou físicas, e afetam os meios de socorro. A funcionalidade está relacionada com o funcionamento facilitado e flexível, respondendo as expectativas necessárias. A portabilidade e montagem se refere ao transporte compatível dos produtos, com montagem lógica e facilitada. Por último, a logística refere-se à acessibilidade de transporte dos produtos até os locais de socorro. No segundo grupo de requisitos, o custo e a tecnologia determinam a viabilidade de aplicação das soluções. Por fim, terceiro grupo, a sustentabilidade se refere ao equilíbrio entre aspectos ambientais e sociais. O material influencia a durabilidade das soluções e a confiabilidade condiz ao quanto a solução possui e transmite segurança aos usuários, com menos chances de falhas e problemas. Pode-se

afirmar

então

que

trabalhar

com

design

para

situações

emergenciais é trabalhar em um contexto de restrições, que geram requisitos ao projeto a fim de que o mesmo possa ser viabilizado e auxiliar de maneira eficaz os indivíduos em situação vulnerável.


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3 METODOLOGIA DE PROJETO

Para a concepção coerente e estruturada do projeto, definiu-se uma metodologia para criação do produto, bem como as técnicas criativas e de geração de alternativas. Após a leitura e pesquisa de diversas metodologias existentes, como Baxter (BAXTER, 1998), Löbach (LÖBACH, 2001) e Bonsiepe (BONSIEPE, 1984), decidiu-se pela aplicação de uma metodologia combinada, com elementos da metodologia de Bonsiepe e adição de aspectos das metodologias de Baxter e Löbach, visando a aplicação de um método completo, com etapas estruturadas e detalhadas. Figura 2 - Metodologia de Bonsiepe

Fonte: Adaptado de Metodologia Experimental (BONSIEPE, 1984).

A metodologia de maior importância no projeto foi a de Bonsiepe, devido suas etapas estruturadas, mas que podem ser flexibilizadas para cada projeto, além de especificidades que aprofundam as análises e técnicas criativas focadas no desenho de produtos. Esta metodologia divide-se em cinco etapas principais (Figura 2),

sendo

elas

a

de

problematização,

análise,

definição

do

problema,

anteprojeto/geração de alternativas e o projeto. Da metodologia de Baxter (Figura 3), foram incorporadas principalmente as etapas de geração de conceito norteador do projeto e os levantamentos qualitativos e quantitativos, com adição de técnicas


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criativas de geração e seleção de alternativas, além de técnicas científicas de levantamento de dados, a fim de aprofundar ainda mais as coletas e análises. Figura 3 - Metodologia de Baxter

Fonte: Adaptado de Projeto de Produto (BAXTER, 1998).

Já da metodologia de Löbach (Figura 4), foram incorporados principalmente os aspectos de avaliação e seleção da melhor alternativa. Figura 4 - Metodologia de Löbach

Fonte: Adaptado de Design Industrial (LÖBACH, 2001).


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Estas técnicas foram empregadas a fim de que a solução proposta possa ser viabilizada com maior precisão e compreensão das necessidades dos usuários do produto, sejam eles os indivíduos afetados pelos desastres, como os próprios funcionários da equipe de resgate ou Defesa Civil que realizam o atendimento aos atingidos. Assim, a partir do desdobramento da metodologia de Bonsiepe com as metodologias de Baxter e Löbach, definiu-se a metodologia final para realização do projeto (Figura 5 e Apêndice B). Figura 5 - Metodologia proposta e comparativo com outras metodologias

Fonte: Adaptado pela autora, de Metodologia Experimental (BONSIEPE, 1984), Projeto de Produto (BAXTER, 1998) e Design Industrial (LÖBACH, 2001).


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A metodologia definida compreende as etapas problematização, analítica, conceitual,

geração

de

alternativas

e

desenvolvimento.

Na

etapa

de

problematização, serão apresentados dados de contextualização, bem como situação inicial e final bem definida, definição de taxonomia e fatores projetuais, técnicas de coletas de dados como entrevistas, culminando na síntese do projeto e a definição dos requisitos e restrições do projeto. Esta etapa é de suma importância para a correta contextualização e definição do problema, com dados fundamentados em outros autores e artigos, levantamento bibliográfico, bem como entrevistas semiestruturadas de profundidade com uma amostra focada em pessoas que possuem experiência no assunto ou possíveis usuários, além de uma imersão da autora em um dia simulando a falta de acesso à água, para maior entendimento empático do cotidiano nos abrigos. Após a etapa de problematização, foi realizada a etapa analítica compreendendo variados formatos de comparação, categorização e análise, como as análises conotativa, denotativa, diacrônica, sincrônica, estrutural, funcional, usual, ergonômica, morfológica e biônica. Além disso, também foi realizada uma análise de similares e exemplos que facilitem o entendimento de características, requisitos e restrições presentes no projeto, buscando por padrões e aspectos de diferenciação. Esta etapa tem como principal finalidade de buscar e evidenciar padrões e elementos

diferenciadores,

como

materiais,

processos

de

fabricação,

e

características estético-funcionais para auxiliar no desenvolvimento do projeto. A seguir, foi iniciada a etapa conceitual, com a definição do conceito norteador do projeto, a fim de que o mesmo possua coerência em todo seu processo criativo, mantendo harmonia estética e funcional. Esta etapa é de suma importância para a garantia de um projeto bem fundamentado e coeso. A partir da definição do conceito, pôde-se então iniciar a etapa de geração de alternativas, com auxílio de técnicas criativas, como matriz morfológica, analogias, estudos de configuração, esboços e modelos. Por fim, a etapa de desenvolvimento compreende a avaliação das alternativas e seleção da melhor alternativa, culminando no desenvolvimento da alternativa selecionada e seus desdobramentos, como desenhos técnicos, documentação e ambientações, assim concluindo o projeto.


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4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO - APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

A aplicação da metodologia será seguida conforme as etapas explicitadas previamente, compreendendo as etapas de problematização, análise, conceito, alternativas e desenvolvimento, as quais serão desenvolvidas de forma detalhada seções seguintes.

4.1 ETAPA PROBLEMATIZAÇÃO

Esta etapa reunirá dados de contexto, coleta de informações, pesquisas, experimentações e todas as classificações necessárias para entendimento e fundamentação do projeto.

4.1.1 Contextualização

Apesar do Brasil ser um país de abundantes recursos hidrológicos, estes não são acessados com facilidade por grande parte da população em variados contextos. Contudo, um contexto de grande importância é o dos desastres naturais, que causam perdas físicas e imateriais, muitas vezes fazendo com que grupos sejam deslocados para abrigos de emergência, com estruturas precárias de abastecimento. A água então é de suma importância para o bem-estar e saúde dos indivíduos afetados por estes eventos, garantindo a higiene e prevenindo doenças relacionadas ao saneamento. Com isso, o presente projeto busca gerar alternativas a partir da perspectiva do design de produto para que o acesso e uso da água nos abrigos seja facilitado.

4.1.2 Entrevistas de profundidade

Para atender as demandas do contexto dos abrigos e das pessoas envolvidas, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, visando um maior entendimento das necessidades, carências e limitações. Este tipo de entrevista possui um roteiro para condução, porém este pode ser flexibilizado com adição de novas perguntas. Decidiu-se por este tipo de abordagem devido ao grande nível de


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detalhe e profundidade que pode ser obtido com as respostas, sendo viável por ser aplicada em uma amostra menor de respondentes. Foram realizadas duas entrevistas de profundidade, sendo a primeira delas com Marcelo Martel, professor de design e coordenador do curso de Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul com pesquisa de doutorado em design emergencial e a segunda com Gabriel Alves, funcionário da Defesa Civil de Viamão. As entrevistas foram realizadas entre os dias 11 e 13 de julho de 2020. Para cada entrevista, foram elaboradas perguntas-chave e outras específicas, que podem ser observadas ao final deste trabalho (Apêndice A). Além disso, as conversas foram registradas para análise posterior.

4.1.2.1Professor e pesquisador sobre o assunto

O entrevistado Marcelo Martel é professor de Design e pesquisou em sua tese de doutorado o uso de produtos destinados a emergências que as organizações internacionais utilizam. Seu vínculo principal na época era a pesquisa sobre habitações, mas em sua análise pesquisou produtos em geral, incluindo produtos relacionados à água. Durante a sua fala citou algumas referências encontradas em sua pesquisa, como o produto Watercone, peça de design alemão para filtragem de água através de luz solar. Este produto é um cone de policarbonato empilhável que possui uma base preta ao fundo, que ao ser abastecido com água imprópria para consumo e deixado sobre telhados ou exposto ao sol, esta água evapora e condensa pelas paredes do cone, purificando a mesma, sendo usado em contextos de emergência. Alguns problemas citados pelo entrevistado são, por exemplo, a demora de filtragem, e a necessidade de um cone para cada pessoa, o que se torna impraticável, além do custo elevado. O segundo produto citado foi o Hippo Roller, uma espécie de barril com alça para transporte de água, utilizado principalmente na África. Este produto modificou completamente a perspectiva dos habitantes da região, evitando o transporte de água em barris equilibrados nas cabeças principalmente de mulheres nas famílias. O Hippo Roller pode ser abastecido com água e transportado rolando no chão e além de tudo auxilia a proteger as famílias contra minas terrestres que podem existir em


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regiões da África ainda, pois como o tonel vai na frente do usuário, este recebe o impacto primeiro, e a água absorve o impacto da explosão. Segundo o entrevistado, hoje este produto é utilizado mundialmente e poderia ser aperfeiçoado de maneira relativamente fácil para ser um chuveiro portátil acionado por pedal. A seguir, o entrevistado também recomendou a atenção ao produto LifeStraw, criado por noruegueses, e funciona como um filtro de água. Uma versão deste produto foi analisada pela autora com maior profundidade na seção de análise de similares deste artigo. Contudo, este produto foi considerado caro para o entrevistado, o que dificulta sua viabilização. Um aspecto interessante levantado pelo entrevistado foi o de que esses produtos de emergências geralmente possuem inspirações nos kits de sobrevivência militar, sugerindo uma pesquisa sobre este assunto também. Outra referência citada pelo entrevistado foi o filtro de água Solar Bottle, que utiliza a técnica de desinfecção solar para consumo de água. O professor apresentou uma versão criada por um designer italiano com aspectos mais sofisticados, mas apontou que existe uma versão com materiais de baixo custo que cumpre a mesma função e é mais viável para a realidade. Esta segunda versão também foi analisada com profundidade no tópico de análise de similares. Posteriormente, o entrevistado também compartilhou sua experiência em um seminário da ONU sobre habitação e desastres assistido em Genebra e ressaltou que geralmente essas pessoas possuem muita experiência no assunto, pois convivem com a realidade. Afirmou também que muitas vezes essas pessoas não procuram por pesquisas sofisticadas, mas sim resultados práticos, por exemplo, levar água para um campo de refugiados rapidamente. O entrevistado disse que em sua pesquisa ouviu relatos chocantes de problemas evidentes que essas pessoas possuem, por exemplo, profissionais que foram montar abrigos e atacados por terroristas, então estão enfrentando de perto a realidade. Ao ser questionado sobre o funcionamento dessas organizações, o entrevistado disse que eles são muito práticos, por exemplo, os Médicos sem Fronteiras possuem uma grande logística, imediatamente quando ocorre um desastre eles mandam um médico e alguém de logística para fazer um levantamento em pouco tempo e rapidamente têm que montar um campo de apoio, em pouco tempo e sem nada de recurso, recebem ás vezes rolos de plástico preto, montam barracas, fazem buracos para latrina, e tem que ser tudo muito simples porque se for


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algo caro eles são roubados. Conversando com uma engenheira dos Médicos sem Fronteiras, ela disse já terem testado geladeiras de vacina, com abastecimento de energia solar, mas chegavam os chefes das facções e levavam as coisas. Por isso, o entrevistado ressaltou que não pode ser algo que chame a atenção, ou são roubados. No caso da geladeira, a mesma tinha que ser substituída por isopores com placas de gelo. Podem até receber coisas sofisticadas, mas eles vão resolver os problemas com o que tiverem na hora, na prática, como garrafas de plástico, entre outros. Também citou a lógica dos kits, como o toolkit para higiene feminina chamado Flo, pela designer japonesa Mariko Higaki Iwai, englobando ações de lavar, secar e carregar produtos de higiene íntima, com inspiração no brinquedo whirlgig para centrifugar o absorvente reutilizável. O entrevistado ressaltou o fato de o produto ser simples, barato, fácil de produzir, com materiais de fácil acesso, reutilizável e que faz grande diferença na vida de quem antes não tinha nenhuma alternativa. Por fim, o professor ainda citou a pirâmide de Maslow, com fatores principais de sobrevivência, além de diferentes sugestões na forma de verbos que podem ser explorados, relacionados à água, como por exemplo, purificar, transportar, acessar, higienizar, beber, lavar, aproveitar e armazenar.

4.1.2.2 Funcionário da Defesa Civil

O entrevistado Gabriel Alves é funcionário da Defesa Civil do município de Viamão e opera com a abertura de processos e confecção de relatórios para a Defesa Civil. Sobre os tipos de chamados que mais recebem, o entrevistado citou os alagamentos, ocasionados principalmente devido ao grande volume de chuvas. A seguir foi questionado sobre o contexto dos abrigos, funcionamento e logística, o qual respondeu que no município são utilizados principalmente as escolas municipais como abrigos em momentos de emergência, sendo que as pessoas atingidas são encaminhadas para a escola mais próxima. Além disso, a Defesa Civil organiza e faz a solicitação para a Secretaria da Educação, a montagem ocorre imediatamente após a solicitação. Questionado sobre a importância da água e a obtenção da mesma, o entrevistado alegou que essas informações dependem das próprias escolas e da


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assistência social, sendo que elas geralmente possuem abastecimento de água encanada. A organização das atividades como banho, louça, banheiro, alimentação e escovação dos dentes é feita pela própria administração da escola, novamente junto da assistência social. Por fim, relatou não terem enfrentado grandes dificuldades nos abrigos até o momento, devido ao uso mais raro dos mesmos, e não ressaltou nenhuma possibilidade de melhoria evidente ou referência de ações e produtos para auxílio na ocasião.

4.1.3 Experiência de imersão

Como o contexto atual no momento da realização deste trabalho não permitia a visitação de um abrigo emergencial e o contato com essas pessoas foi prejudicado, a autora deste artigo propôs-se a um desafio de passar um dia em uma situação sem torneiras ou acesso à água, utilizando apenas a quantidade de água recomendada nas pesquisas feitas anteriormente, a fim de adquirir empatia com a situação vivenciada pelos atingidos por desastres naturais e desabrigados. Este desafio traz inspirações do projeto de imersão feito por estudantes de Design no Peru, chamado SAFE AGUA PERU (SAP, 2011), que através de uma adaptação da metodologia de Human Centered Design, desenvolveu um sistema de cartas, perguntas e desafios específicos ao contexto de acesso à água, imergindo na situação dos habitantes da região e entendendo suas limitações. As observações feitas pela autora foram documentadas em um pequeno diário durante o dia para análise posterior. O experimento de um dia sem torneiras foi realizado durante o dia 12 de julho de 2020, no qual a autora documentou suas experiências ao tentar fazer ações do cotidiano utilizando uma quantidade limitada de água. Primeiramente, foi elaborada um pequeno livreto para anotações do dia, no qual foram registradas as ações realizadas envolvendo água, bem como os horários de uso (Fotografia 1). O experimento foi feito utilizando um galão de 5 litros de água, que foi esvaziado durante o dia com as ações de higienização das mãos, descarga, lavagem de louça, escovação dos dentes e banho. Contudo, este galão precisou ser reabastecido mais três vezes durante o dia, sobrando metade de um galão ao final da experiência.


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Fotografia 1 - Diário planificado da experiência um dia sem torneiras

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A lavagem de mãos e escovação de dentes foram as que menos utilizaram água, junto da lavagem de louça, que foi realizada ensaboando todas as peças primeiro e depois enxaguando-as. Para consumo, foram separadas garrafas em tamanhos menores que foram utilizadas durante o dia, totalizando 1,230 litro de bebida, simulando o recebimento de provisões das pessoas desabrigadas. Neste experimento não foi contabilizado a água necessária para preparo da alimentação, simulando novamente o recebimento de doações e kits nos abrigos. Quando o banheiro era utilizado, a descarga era feita apenas com a água do galão, que foi despejada dentro do vaso sanitário até a completa higienização do mesmo, e está foi uma das ações que mais demandaram água, imediatamente após o banho. Este foi o que mais demandou água em uma única utilização, devido à lavagem e enxague necessário. Para o banho foi aquecida a quantidade correspondente a um galão de 5 litros, que foram utilizados totalmente. Para tornar mais real a experiência, foi também lavado o cabelo durante o banho, simulando um dia comum no abrigo. Ao total, foram dadas três descargas, quatro higienizações das mãos, três sessões de lavagem de louça, contendo no total dois pratos, um garfo, uma faca, duas colheres, um copo e uma caneca, além de uma sessão de escovação de dentes, um banho e duas garrafas de 200ml, uma garrafa de 500ml e uma xícara de


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330ml com água para consumo. Ao final, foram utilizados 3,5 galões de 5 litros, além de 1,230 litro para consumo, o que totalizou 18,730 litros utilizados em um dia. Esta experiência foi de grande valia para imersão e entendimento do contexto e necessidades das pessoas em situação de emergência, no qual o gerenciamento e uso da água toma grande espaço do dia, tendo que ser previsto e organizado de antemão. Além disso, foi interessante estimar o consumo médio em um dia, e entender como a falta de água pode prejudicar tanto o funcionamento das atividades cotidianas.

4.1.4 Considerações sobre a coleta de dados

As técnicas de coleta de dados aplicadas possibilitaram um maior entendimento do contexto dos abrigos, provando-se essenciais para a obtenção de informações significativas que auxiliaram nas tomadas de decisão deste projeto de produto. Os dados obtidos sobre os desastres e abrigos relacionam-se com aqueles já apontados anteriormente na revisão teórica, comprovando ainda mais as evidências levantadas. Além disso, é importante ressaltar os conhecimentos trazidos na entrevista do professor com experiência em design emergencial, que auxiliou na expansão das referências observadas durante o projeto. Outro aspecto importante de ser evidenciado é a experiência que o desafio de um dia sem torneiras trouxe para a autora, possibilitando um melhor entendimento dos sentimentos e necessidades dos usuários e comprovando ainda mais a importância que a água possui no cotidiano, tornando-se tão imprescindível para o bom funcionamento dos abrigos, além da saúde e bem-estar dos desabrigados. Assim, a partir de todas as análises percebe-se a necessidade de atender e priorizar as necessidades dos usuários dos abrigos, mas sem deixar de atentar para os funcionários das equipes da Defesa Civil.

4.1.5 Situação Inicial Bem Definida

Projetar um kit para distribuição e utilização de recursos hídricos em situações de emergência.


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4.1.6 Situação Final Bem Definida

Kit de baixo custo, fácil montagem e transporte compacto que proporcione maior bem-estar e higiene aos afetados por desastres, possibilitando o armazenamento, filtragem e utilização de água em situações de emergência.

4.1.7 Fatores projetuais

Para melhor visualização das necessidades do projeto, também foram equacionados os fatores projetuais em ordem de importância, sendo os fatores localizados no nível 3 considerados de extrema importância, nível 2 considerados de média importância e nível 1 considerados de pouca importância (Gráfico 2), conforme propostos por Redig (2005) e posteriormente complementado por Gomes e Medeiros (2007). Segundo Redig (2005), o desenho industrial é o equacionamento simultâneo dos fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos, que posteriormente foram ampliados por Gomes e Medeiros (2007), com a proposição de nove fatores, sendo eles: Antropológicos, Econômicos, Ecológicos, Ergonômicos,

Psicológicos,

Mercadológicos,

Tecnológicos. Gráfico 2 – Equacionamento dos Fatores Projetuais

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Geométricos,

Filosóficos

e


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Para o presente projeto, definiu-se como maior importância os fatores antropológicos, ergonômicos e tecnológicos, devido a sua conexão com o uso por pessoas e necessidades básicas. Para média importância definiu-se os fatores ecológicos, econômicos, psicológicos e mercadológicos, pois ainda podem ser aprimorados e apesar de serem muito importantes não são as prioridades no desenvolvimento. Por fim, os fatores geométricos e filosóficos foram caracterizados como de menor importância, por apresentarem menor conexão com o projeto.

4.1.8 Taxonomia

A taxonomia do produto também foi definida para maior entendimento e definição do projeto (Quadro 2). Seguindo os modelos explicitados por Klafke (2003) e Garcia (2007), definiu-se a categoria, finalidade, grupo, tipo, estrutura, movimento e posições do produto. Quadro 2 – Taxonomia do Produto desenvolvido

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.1.9 Síntese do projeto

Com base em todas as pesquisas, coletas de dados e análises feitas e demonstradas anteriormente neste texto, o projeto abordará o contexto do uso da água em abrigos emergenciais, visando minimizar custos e tornar mais viável sua aplicação com a utilização de materiais de fácil acesso, criando um produto


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desmontável que possa ser transportado de maneira compacta até os abrigos e ser utilizado para facilitar o armazenamento, filtragem e distribuição de água aos desabrigados.

4.1.10 Requisitos e Restrições

A partir da síntese do projeto, pôde-se definir os seguintes requisitos e restrições do projeto.

a) Requisitos: • Otimizar o uso do espaço de armazenamento e transporte. • Apresentar fácil transporte até o local dos abrigos e dentro dos abrigos. • Facilitar o cotidiano dos desabrigados, proporcionando conforto e segurança. • Utilizar materiais de fácil acesso e baixo custo para montagem de parte do produto. • Possuir dimensões e peso reduzidos. • Possuir estrutura e montagem simplificada, para rápida utilização.

b) Restrições: • Atentar para resistência dos materiais. • Atentar para dimensionamentos ergonômicos. • Possibilidade de falta de eletricidade nos locais de abrigo.

4.2 ETAPA ANALÍTICA

Dando sequencia à aplicação da metodologia, foram realizadas análises de ordem denotativa, conotativa, sincrônica, diacrônica, estrutural, funcional, usual, ergonômica, morfológica, biônica e por fim um levantamento de similares. Estas análises contemplaram produtos, técnicas e soluções similares, além de evidenciarem possíveis inspirações e funcionalidades a serem incorporadas ao produto final.


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4.2.1 Análise denotativa e conotativa

A análise denotativa contempla a definição literal das palavras e expressões, no seu sentido dicionarizado. Para o projeto foram analisados os termos kit, socorro, água, higiene e desastre (Figura 5), termos de relevância e afinidade com o produto a ser desenvolvido. Figura 6 – Análise Denotativa

Fonte: Adaptado de Dicionário Oxford (2020).


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Para a análise conotativa, foi realizada uma busca de termos adjacentes e relacionados com o tema principal do projeto, termos que conotam e alteram o sentido denotativo dos termos pesquisados na análise denotativa. A pesquisa dos termos relacionados resultou em uma visualização de dados (Figura 6), na qual as bolhas de maior tamanho estão relacionadas com termos de maior afinidade com o tema do projeto, e as bolhas menores com termos de menor influência. Figura 7 – Análise conotativa

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

As análises denotativa e conotativa auxiliaram no melhor entendimento do tema e contexto ao redor da situação relacionada aos abrigos, uso da água e socorro de pessoas em situação de emergência.


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4.2.2 Análise diacrônica e sincrônica

Para a análise diacrônica, foi realizado um mapeamento de alguns dos mais relevantes desastres da região sul do Brasil (Figura 8) em ordem cronológica. O primeiro destacado em análise foi a enchente de Porto Alegre em 1941, que desabrigou quase 70 mil pessoas (um quarto da população da época), causando falta de luz e água potável. Na ocasião, o nível da água atingiu a marca de 4,63 metros (GAUCHAZH, 2011). O segundo desastre analisado foi o Furacão Catarina em 2004, que causou danos em cerca de 40 mil casas e destruiu mais de 1500. Além disso, causou a morte de três pessoas e ferimentos em setenta e cinco. Pelo menos

duas

mil

pessoas

ficaram

desabrigadas

após

a

tempestade

(SUPERINTERESSANTE, 2018). Por fim, analisou-se o Ciclone Bomba ocorrido em 2020, um intenso sistema de baixa pressão atmosférica que causou treze mortes, além de quase 1,9 milhão de consumidores sem energia elétrica na Região Sul (G1, 2020). Figura 8 – Análise diacrônica

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Para a análise sincrônica foram selecionados produtos preliminares que tenham alguma relação com o contexto dos desastres, abrigos emergenciais e principalmente de acesso à água, a fim de auxiliar no desenvolvimento do projeto. As análises foram feitas a partir de imagens, vídeos e descrições dos produtos, atentando para os aspectos funcionais, de diferenciação e mercadológicos. Para melhor visualização, criou-se um esquema (Quadros 3 e 4) dos produtos analisados, sendo que alguns foram analisados de maneira mais detalhada no levantamento de similares.


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Quadro 3 – Análise sincrônica

Fonte: Elaborado pela autora (2020). Quadro 4 – Continuação da Análise sincrônica

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.3 Análise estrutural e funcional

Para a análise funcional e estrutural selecionou-se um produto de maior proximidade com a ideia inicial de projeto, o chuveiro portátil Helio Pressure Shower, da empresa Nemo, e analisou-se este produto de forma detalhada atentando para sua divisão de componentes, materiais, funções, tecnologias empregadas, sistemas de fixação/união e processos de fabricação. Assim, gerou-se um esquema (Quadro 5) com descritivo técnico, estrutural e funcional do produto. Esta análise auxiliou na


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determinação dos possíveis materiais, processos e sistemas a serem incorporados no produto final desenvolvido. Quadro 5 – Análise estrutural e funcional

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.4 Análise usual e ergonômica

Para a análise usual foi elaborado uma sequência de uso do produto Helio Pressure Shower, o mesmo utilizado para observação detalhada na análise estrutural e funcional. Esta sequência (Figura 9) foi elaborada a partir de imagens estáticas capturadas de vídeos de utilização do produto selecionado, evidenciando aspectos como funcionamento, armazenagem, transporte e todo o ciclo de abastecimento até esvaziamento do produto. Ao todo foram selecionados doze passos de utilização do produto Helio Pressure Shower, desde a abertura e retirada do produto da bolsa protetora, passando pela montagem, disposição dos elementos, abastecimento com água, abertura da válvula de escape, pressurização do reservatório e acionamento através do pedal, culminando na liberação da água pela ducha e mangueira condutora.


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Figura 9 – Análise usual

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A partir dos aspectos evidenciados na análise usual, pôde-se elaborar um quadro de inadequações ergonômicas do produto a fim de identificar possíveis problemas e soluções (Quadro 6). Este quadro apresenta uma lista de inadequações observadas no uso do produto, bem como possíveis constrangimentos e custos humanos que poderiam surgir em decorrência do uso frequente do produto, e por fim foram listadas sugestões para possíveis melhorias do produto. Quadro 6 – Análise estrutural e funcional

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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4.2.5 Análise morfológica e biônica

Para as análises morfológica e biônica foram analisadas as formas geométricas base que compõe o produto Helio Pressure Shower. Este possui corpo principal em forma cilíndrica, mangueira em forma tubular, pedal pressurizador composto por dois círculos maleáveis empilhados e chuveiro com forma alongada e extremidade circular. Comparando com outros produtos similares, o produto remete a algo prático e resistente, mas ao mesmo tempo fluído e maleável. Estas características encontram-se de maneira frequente na natureza, em plantas, estruturas naturais e seres aquáticos, por isso, a partir dessas constatações, elaborou-se um painel (Figura 10) que representa esses atributos e suas aplicações na natureza, evidenciando inspirações na biologia e vida marinha. Figura 10 – Análise morfológica e biônica

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6 Levantamento e análise de similares

Uma análise de similares foi realizada com a finalidade de buscar padrões, elementos diferenciadores, materiais, processos de fabricação, e características estético-funcionais para auxiliar no desenvolvimento do projeto. Para esta análise foram selecionados produtos que tenham alguma relação com o contexto dos desastres, abrigos emergenciais e principalmente de acesso à água, a fim de auxiliar no desenvolvimento do projeto. As análises foram feitas a partir de imagens, vídeos


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e descrições dos produtos, seguindo uma tabela elaborada pela autora, contemplando sete aspectos principais, sendo eles: relação com a água, funcionalidades, estrutura (relacionado aos componentes, uniões, materiais e processos de fabricação), uso e ergonomia (relacionado aos mecanismos, posições, pegas), estética e customização (relacionada a forma, cores, acabamentos), diferenciais e por fim possíveis melhorias identificadas.

4.2.6.1LifeStraw Community

A marca LifeStraw possui diversos produtos focados em purificação de água, com variações para uso individual, em acampamentos, trilhas entre outros. O produto LifeStraw Community (Fotografia 11), foi desenvolvido com a perspectiva de uso humanitário e emergencial, sendo a versão de maior capacidade e durabilidade. Figura 11 – LifeStraw Community

Fonte: Adaptado de LifeStraw (2012).

Seu sistema de purificação remove vírus, bactérias, parasitas e micro plásticos. Possui capacidade de 50 litros por vez, sendo 25 litros filtrados e 25 litros em espera no pré-filtro, com uma validade de uso de aproximadamente 100.000 litros, o que simboliza o abastecimento de 100 pessoas de 3 a 5 anos, avaliado e aprovado pelos principais protocolos de purificação de água mundiais. Possui montagem facilitada (Figura 12), e não necessita de baterias, energia, peças extras ou produtos químicos.


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Figura 12 – Peças do LifeStraw Community

Fonte: Adaptado de LifeStraw (2012).

O produto inclui um kit de adaptador para uso em torneiras e mangueiras, com fluxo de 12 litros/hora. Suas dimensões totais correspondem a 57x57x62cm quando montado e um peso de 8kg sem estar abastecido com água. O cartucho de purificação pode ser substituído e todas suas peças são recicláveis (Quadro 7).

Quadro 7 - Análise do LifeStraw Community Produto:

LifeStraw C ommunity


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Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6.2Desinfecção solar SODIS

Este método consiste na desinfecção de água através da ação solar, sendo conhecido como SODIS (Solar water disinfection). Esta ideia foi primeiramente aplicada em 1984 por Aftim Acra. Este processo simples, sustentável e de baixo custo possibilita o tratamento de água para uso doméstico (Figura 13). Figura 13 – Aplicação do SODIS

Fonte: Adaptado de SANDEC (2002).

A técnica consiste em colocar a água contaminada em garrafas de plástico transparente e posicioná-las expostas ao sol durante seis horas. Com esta exposição solar a maioria dos microrganismos são eliminados. Para aumentar a eficiência do processo ainda mais, recomenda-se colocar as garrafas em ângulo sobre uma superfície que reflita a luz, como telhas de zinco, o que aumenta a temperatura e acelera o processo (Quadro 8). Além disso, o processo é mais eficaz com menores quantidades de água, por isso as garrafas PET de 2 litros são ideias para o processo.


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Quadro 8 - Análise do SODIS Produto:

SODIS

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6.3Pia portátil Ecoclean Nautika

Este produto foi idealizado para campings, trailers, canteiros de obras, eventos e atividades ao ar livre (Figura 14). Possui acionamento por pedal e reservatório de 17 litros, com 180ml dispensados em cada uso do pedal. Figura 14 – Pia portátil Ecoclean Nautika

Fonte: Adaptado de Nautika (2019).


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Possui mangueira sanfonada para drenagem e reservatório para reutilização da água utilizada em outras tarefas (Quadro 9). Além disso, também possui dispenser de sabonete, base para toalha, rodinhas para transporte e dimensões de 50x33x105cm, com peso aproximado de 4,5 Kg. Seu preço médio é de R$500,00. Quadro 9 - Análise da pia portátil Ecoclean Nautika Produto:

Pia portátil Ecoclean Nautika

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6.4Máquina de lavar portátil GiraDora

GiraDora (Figura 15) é uma máquina de lavar e secar roupas portátil de acionamento humano que foi projetada em uma imersão dos designers Alex Cabunoc e Ji A You no Peru em 2011.


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Figura 15 – Máquina de lavar GiraDora

Fonte: Adaptado de SAFE AGUA PERU (2011).

Durante essa experiencia, os designers observaram os habitantes da região, entendendo as necessidades e problemas passados ao lavar roupas, como problemas posturais e de tendinite, criando então um produto que pode ser acionado por pedal enquanto está sentado em cima máquina (Figura 16), aliviando os problemas anteriores. Figura 16 - Uso da máquina GiraDora

Fonte: Adaptado de SAFE AGUA PERU (2011).

Além disso, possui custo de produção de US$40,00, utilizando matéria-prima já existente de toneis de plástico, que já eram utilizados para coleta de água na região (Quadro 10).


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Quadro 10 - Análise GiraDora Produto:

G iraDora

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6.5Kit de higiene UNICEF

Este kit elaborado pela UNICEF (Figura 17) tem itens especificamente selecionados para o auxílio no contexto de higiene, dignidade e prevenção de doenças relacionadas ao saneamento. O kit é composto por 12 produtos diferentes, com quantidades variadas, além de um panfleto com dicas de uso. Um kit contém os itens necessários para uma família e versões para até cinco famílias, facilitando a logística.


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Figura 17 – Kit de higiene UNICEF

Fonte: Adaptado de UNICEF (2014).

Cada kit para uma família contém: Dois contenedores de água fabricados em PVC e Polietileno, com capacidade de 10 litros e desmontáveis; um balde em Polietileno de alta densidade, com tampa e capacidade de 14 litros; doze barras de sabonete de 110g; seis pastilhas de purificação de água de 33mg; uma lanterna de recarregamento manual; um penico infantil de plástico; duas mantas de algodão com 1x1,5m; dois conjuntos contendo dois porta-absorventes, dois absorventes reutilizáveis sem abas, dois absorventes reutilizáveis com abas e uma bolsa para armazenamento; dois pacotes de absorvente descartáveis com abas, contendo 20 unidades cada; uma conjunto com 3 calcinhas femininas tamanho pequeno, 3 médias e 3 grandes; um apito de metal com corda; um pacote de 1,5Kg de sabão para roupas concentrado; um folheto explicativo (Quadro 11). Os kits podem ser comprados para doações pelo público em geral ou distribuídos em ações coordenadas com o governo da região afetada.


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Quadro 11 - Consequências ambientais e socioeconômicas dos desastres Produto:

Kit de higiene U NIC EF

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.6.6Toalete portátil Nendo minimLET

O escritório de Design Nendo criou este kit de montagem de uma toalete portátil (Figura 18) para auxiliar no enfrentamento dos desastres ocorridos no Japão devido à terremotos. Os principais fatores explorados neste kit foram a diminuição do peso e tamanho dos elementos necessários, valendo-se da lógica de multifuncionalidade para as peças poderem ser utilizadas de mais de uma maneira.


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Figura 18 – Kit toalete Nendo minimLET

Fonte: Adaptado de Nendo (2017).

O kit proposto contém: Uma bolsa para carregamento dos itens; canos de alumínio para suporte do assento; um assento de plástico; um tecido em nylon para montagem de uma tenda; lenços compactos; sacos de lixo. Além disso, foi pensado o uso de matérias de fácil acesso para montagem do banheiro portátil, como garrafas de plástico ou latas de alumínio para os pés e um guarda-chuva para a estrutura da tenda (Quadro 12). Quadro 12 - Análise de Nendo minimLET Produto:

minimLET


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Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.2.7 Considerações sobre as análises

A partir das análises elaboradas, algumas definições puderam ser feitas sobre o produto a ser projetado (Figura 19). Suas funções principais serão conter, filtrar e distribuir a água nos ambientes de abrigo, podendo ser utilizado tanto para higiene de objetos e alimentos, como para higiene de mãos e banho. Quanto aos materiais, serão utilizados principalmente plástico Polipropileno e Polietileno de baixa densidade, além de peças em metal, mangueira de plástico e outras peças gerais em plástico. Figura 19 – Definições sobre o projeto


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Fonte: Elaborado pela autora (2020).

O produto será desmontável para transporte possuindo lógica de kit. Quanto à capacidade, propõe-se que o produto contenha até 20 litros de água, conforme averiguado sugestões dos principais órgãos mundiais e comprovado através de experiência individual. Além disso, seu acionamento deve ser por pedal, pressurizando o reservatório e possibilitando a distribuição da água através de uma ducha. Por fim, o produto poderá ser utilizado em diferentes configurações, para armazenamento, transporte e filtragem da água. Para isso, será possível realizar a filtragem da água através de um filtro embutido no kit, e o produto poderá viabilizar a aplicação da técnica SODIS de filtragem solar, para uso quando possível.

4.3 ETAPA CONCEITUAL

Após a reunião de todos os dados coletados nas etapas anteriores de contextualização, problematização e análises, alguns fatores puderam ser percebidos e priorizados para criação de um conceito criativo norteador. A criação de um conceito é de suma importância para manutenção da coerência e lógica durante todo o projeto. Um dos aspectos mais importantes a serem evidenciados no projeto é a importância da água como motor da sobrevivência e manutenção da vida, sendo um dos aspectos mais básicos e importantes para socorro em situações de desastres e emergências. Por isso, a partir das inspirações nas análises, principalmente na análise biônica, buscou-se a criação de um conceito que represente a resistência e praticidade do produto, mas ao mesmo tempo a proteção e fluidez presente na vida marinha, como no exemplo das medusas, crustáceos e dos peixes. Uma grande inspiração foi a do peixe baiacu, ou peixe-boia, que utiliza a água ao seu redor para se proteger. Este peixe infla seu estômago utilizando água em emergências para se proteger de ameaças. Assim como o peixe baiacu, o produto desenvolvido também se infla com água e protege em situações de emergência. Assim, foi gerado o conceito de “a água como proteção”, colocado de forma visual em um painel semântico para melhor entendimento (Figura 20).


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Figura 20 – Painel semântico do conceito proposto

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A partir da criação do conceito, foi elaborado um texto manifesto (Figura 21), que explica a intenção e propósito do projeto, que culminou na criação do naming e logotipo do produto Deza, que através de uma tipografia geométrica e arredondada, transmite os valores de sutileza e certeza, possuindo ao mesmo tempo formas estruturadas, mas amigáveis. Figura 21 – Texto manifesto deza

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 22 – Logotipo deza

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Assim criou-se o conceito de viabilizar a proteção através da água, pensando nos resgatados, resgatistas e natureza. deza leva pureza, destreza e certeza para quem utilizar o produto ter a confiança de que a água está limpa. Além disso, a leveza, sutileza e gentileza do fácil transporte e uso para quem atende e socorre em momentos de emergência. Por fim, a correnteza, natureza e profundeza do mar como inspiração de fluidez e proteção. Este é deza.

4.4 ETAPA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS

Com a definição formal do conceito e a extensa fundamentação prévia em análises e pesquisas, o caminho para a etapa de geração de alternativas foi facilitado, possibilitando ter em mente os valores e atributos a serem transmitidos pelo novo produto. Ainda assim, algumas técnicas puderam ser utilizadas durante o processo para maior experimentação e variedade de alternativas.

4.4.1 Brainstorm e mapas mentais

O processo de geração de alternativas começou com esboços através das técnicas de brainstorming e mapa mental (Fotografias 2 e 3), propostas tanto na metodologia de Bonsiepe como na de Baxter e Löbach. Estes primeiros rascunhos auxiliaram na liberação e abertura para um processo de criação mais fluído e sem julgamentos.


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Fotografia 2 - Brainstorm e mapa mental inicial

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Fotografia 3 - Continuação do Brainstorm e mapa mental inicial

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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4.4.2 Desenhos por Analogia

Além disso, também foram aplicadas as técnicas de desenhos por analogia, propostas no livro A Invenção do Projeto, de Gildo Montenegro (MONTENEGRO, 1987). Nestes esboços (Fotografia 4), puderam ser observadas inspirações em outros sistemas, mecanismos de acionamento e produtos com relação com a água, englobando desde foles e pedais, até mecanismos encontrados em brinquedos. Fotografia 4 - Continuação do Brainstorm e mapa mental inicial

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.4.3 Matriz morfológica

Contudo, uma das técnicas que mais auxiliou no processo de geração de alternativas foi a criação de uma matriz morfológica (Quadro 13), ou caixa morfológica, como proposta na metodologia de Bonsiepe. Esta técnica consiste na criação de uma tabela ou matriz, relacionando elementos necessários em um determinado produto, seja este físico ou digital, e preenchê-la com possíveis soluções ou alternativas para cada elemento, possibilitando futuras combinações e novas soluções.


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Para os tópicos divisores da matriz, definiu-se os quatro principais elementos componentes do produto, sendo eles os elementos filtrantes, pressurizadores, contenedores e pressurizadores (Figura 23). Os elementos de maior destaque na matriz e que contribuíram para a configuração final do produto desenvolvido estão sinalizados com um asterisco ao lado de cada imagem, para sinalização e acompanhamento. Quadro 13 – Matriz morfológica

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Das soluções encontradas através da técnica de matriz morfológica, cabe-se destacar o filtro de carvão ativado e membrana de microfilamento, bem como a técnica SODIS, já estudada anteriormente e ambos foram aplicados no produto final. Quanto aos elementos pressurizadores, os maiores destaques foram os foles, encontrados em sistemas de colchões infláveis e os pulverizadores agrícolas, que possuem acionamento por manivela e reservatório embutido. Quanto a categoria dos reservatórios, foram selecionadas inspirações nas técnicas de origami e abertura sanfonada, presente em produtos como baldes e embalagens. Contudo, um dos maiores destaques foi a descoberta do formato Cubitainer, um contenedor cúbico utilizado na indústria alimentícia, com possibilidade de expansão e empilhamento. Por fim, na categoria de duchas, o destaque foi a ponteira para mangueiras de jardim, que possuem diversas regulagens e encaixe universal. Figura 23 – Elementos componentes do produto

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.4.4 Estudo de configurações

Com a criação da matriz morfológica, foi possível também realizar um estudo de configurações (Figura 24), com combinações entre elementos de cada categoria. A primeira delas compreende uma alternativa de acionamento por gravidade, reservatório sanfonado e filtragem por método SODIS, sem pressurizador ou filtro embutido. Na segunda configuração, foi imaginada a utilização de um tambor já industrializado, junto de uma bomba manual, filtro embutido e ducha de mão. Na terceira configuração crida, o reservatório teria inspirações em origami, pedal


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pressurizador e ducha com filtro embutido. Por fim, a quarta configuração gerada exclui a necessidade de um reservatório, imaginando apenas um kit com pressurizador, filtro e ducha, que poderia ser acoplado em diversos recipientes, como garrafas, galões e tambores, possuindo apenas um acessório para recolhimento de água, como uma bacia flexível. Figura 24 – Estudo de configurações

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.4.5 Esboços e desenhos

A partir das técnicas e estudo empregados, foram gerados os primeiros desenhos

de

alternativas

formais.

Os

primeiros

esboços

(Fotografia

5),

correspondem a variações nas composições criadas previamente no estudo de configurações, principalmente a configuração número quatro, com possibilidade de acoplamento em diversos contenedores e utilização de uma bacia recolhedora de água. A seguir, foram pensadas alternativas que ressignificassem os pulverizadores manuais agrícolas (Fotografia 6) já comercializados no mercado, com a troca do bocal dispersor por uma ducha comercial e adição de suporte para uso por gravidade, além da adição de um filtro na parte interna do reservatório. Neste esboço também foram contemplados a adição de um fole ou pedal sanfonado ao produto.


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No próximo esboço (Fotografia 7), elaborou-se mais a ideia de um kit com pedal, filtro e ducha unificado, podendo ser acoplado em um reservatório sanfonado disponibilizado junto com o produto, ou em galões industrializados. Fotografia 5 – Esboços iniciais

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Fotografia 6 – Continuação dos esboços com adaptação de pulverizador manual

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Fotografia 7 – Desdobramento dos esboços com estilo sanfonado

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A seguir, foram gerados desdobramentos formais com a ideia de um contenedor com formato mais orgânico, remetendo aos corais e esponjas marinhas (Fotografia 8), além de uma versão mais geometrizada com formas facetadas para uso inclinado, prevendo o uso do reservatório para realização do método SODIS. Por último, foram gerados esboços com inspiração na técnica de origami (Fotografia 9) para criação de um reservatório sanfonado, com pedal embutido e embalagem. Por fim, um desenho digital de uma alternativa em formato cúbico foi gerado (Figura 25), com inspiração no formato Cubitainer, podendo ser colapsado e empilhado. Cabe-se destacar o potencial do uso desta alternativa como suporte para viabilização do método SODIS, já que o método não é recomendado para grandes quantidades de água, o produto poderia ser utilizado em sua versão vazia para acomodar garrafas PET.


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Fotografia 8 – Esboços com estilo geometrizado e orgânico

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Fotografia 9 – Esboços com inspiração em origami

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 25 – Geração de alternativas tridimensionais

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

4.4.6 Modelos tridimensionais

A partir destes esboços, foram então gerados modelos tridimensionais (Figuras 26, 27 e 28) de algumas das alternativas, para uma melhor visualização do volume geometrizado, bem como da proporção final e para facilitar o processo de seleção da melhor alternativa. Figura 26 – Geração de alternativas tridimensionais

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Na figura 26, no sentido de leitura ocidental da esquerda pra direita e de cima para baixo estão dispostos renders dos modelos tridimensionais da alternativa expansível estilo balde retrátil, alternativa flexível com inspiração em origami, alternativa octogonal sanfonada, e alternativa com inspiração orgânica nos corais e esponjas marinhas. Figura 27 – Desdobramento da alternativa com corte angulado

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Na figura 27 estão explicitados alguns desdobramentos da alternativa com corte angulado, imaginando seu uso em diferentes posições e com adaptação de peças para uso em um galão de água de 20 litros industrializado. Figura 28 – Desdobramento da alternativa com formato cúbico

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Por fim, a figura 28 ilustra as diferentes possibilidades de uso da alternativa com formato cúbico, em sua forma inflada com água, forma colapsada para empilhamento e para suporte do método SODIS, além de possibilidade de uso do pedal, filtro e ducha em outros recipientes.

4.4.7 Avaliação, critérios e escolha da melhor alternativa

Com um extenso volume de alternativas gerada, selecionou-se as mais alinhadas com o conceito e análises anteriores para a realização da escolha final. Para organizar o processo de decisão optou-se pelo uso da técnica de matriz de avaliação, avaliando as alternativas selecionadas através de uma série de critérios definidas pela autora, com a designação de uma pontuação de 1 a 5, sendo que 1 representa menor alinhamento com o critério proposto, e 5 representa o atendimento excepcional do critério proposto. Figura 29 – Alternativas selecionadas

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Para esta avaliação foram selecionadas 6 alternativas (Figura 29), as quais foram avaliadas através dos critérios de transporte, agrupamento, compressibilidade, montagem, fabricação, adaptabilidade, filtragem e forma. O critério transporte está relacionado com a portabilidade do produto e facilidade de locomoção do mesmo. O critério de agrupamento corresponde à facilidade de agrupamento de diversas unidades, com possibilidade de empilhamento, entre outros. Já o critério de


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compressibilidade se refere a possibilidade do produto de reduzir suas dimensões, por exemplo com o recurso de material maleável ou sanfonado. O critério de montagem representa a facilidade de dispor todas as peças para o uso intuitivo e facilitado. Já o critério de fabricação representa a facilidade de fabricação do produto, levando em consideração materiais, tecnologias empregadas e acabamentos necessários. O critério de adaptabilidade está relacionado com a possibilidade de troca de peças e adaptação de componentes para outras funções. Por fim, o critério de forma relaciona-se com a composição, geometria, proporção e harmonia estética do produto. Após a aplicação da matriz de avaliação (Quadro 14), selecionou-se a alternativa de formato cúbico, número 6, devido sua maior pontuação e adequação aos critérios propostos. Esta alternativa recebeu boa pontuação por possuir alças de transporte, possibilidade de empilhamento, compressão da parte transparente, pouca montagem necessária, fácil fabricação, levando em consideração formas similares no mercado como o Cubitainer, além de grande adaptabilidade para outras peças e reservatórios, forma esteticamente agradável e principalmente pelo seu filtro embutido e a possibilidade de aplicação da técnica SODIS com apoio do produto. Quadro 14 – Matriz de avaliação

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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4.5 ETAPA DESENVOLVIMENTO

Com a definição da alternativa final nas etapas anteriores, iniciou-se o processo de refino da modelagem 3D da alternativa final (Apêndice C), com detalhamento das peças, encaixes e componentes. Apresenta-se então o resultado final do produto. A configuração completa do produto (Figura 30) apresenta o reservatório em forma cúbica com parte rígida em PP e parte flexível transparente em PEBD com filtro embutido, a ducha, o pedal pressurizador e as mangueiras. Figura 30 – Configuração completa

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Conectadas a parte traseira do reservatório principal (Figura 31) estão duas mangueiras de 2,5 metros de comprimento e meia polegada de diâmetro. A primeira delas conecta o pedal pressurizador ao reservatório, para entrada de ar, e a segunda conduza a água do reservatório até o filtro e posteriormente até a ducha. O pedal pressurizador (Figura 32) possui um orifício para entrada de ar e outro conectado à mangueira de meia polegada de diâmetro. Possui acabamento em plástico Polipropileno com textura para maior aderência do pé no momento de acionamento, além de Vinil transparente para o fole de pressurização.


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Figura 31 – Perspectiva traseira

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 32 – Pedal pressurizador

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

A ducha dispersora (Figura 33) conectada na outra mangueira possui acionamento por alavanca e padrão já industrializado de PP, para fácil reposição e


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uso intuitivo. Na parte interna do reservatório (Figura 34), as duas mangueiras alcançam o fundo do recipiente para aproveitamento máximo do volume de água. Figura 33 – Ducha condutora

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 34 – Interior do reservatório

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Além disso, a parte interna do reservatório possui um filtro embutido à mangueira conectada à ducha. Este filtro (Figura 35) possui duas formas de atuação, sendo uma delas uma cápsula de carvão ativado que remove chumbo, elementos químicos e metais pesados, e a outra uma membrana de microfilamentos de 0.2 mícron de diâmetro (nas ambientações tridimensionais essas dimensões estão hiper dimensionadas para melhor visualização). Esta membrana filtra bactérias, parasitas e micro plásticos. O filtro possui vida útil de 200 litros, sendo recomendada sua reposição após este período. Figura 35 – Filtro embutido

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Além do filtro embutido, também desejava-se contemplar a técnica de filtragem solar SODIS ao produto, para maximizar sua função e utilidade. Contudo, conforme demonstrado nas etapas de análise, a técnica SODIS necessita de condições específica, funcionando melhor em garrafas transparentes apoiadas de forma angulada em superfícies prateadas ou pretas para aumento da temperatura e funcionamento mais eficiente. Assim, propõe-se um uso secundário do produto como suporte para a técnica SODIS, através da compressão da parte flexível transparente do reservatório (Figura 36). As garrafas disponibilizadas pela Defesa Civil no momento do socorro ou de doações podem então serem utilizadas futuramente para filtragem SODIS nos abrigos. O produto também possui um


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detalhe de aplicação do logotipo em relevo no corpo do reservatório e alças para transporte facilitado (Figura 37 e 38). Figura 36 – Reservatório comprimido para suporte do método SODIS

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 37 – Logotipo em relevo no reservatório

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 38 – Alças de transporte

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 39 – Empilhamento dos reservatórios

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Devido a sua geometria e capacidade de compressão da parte flexível, o produto pode ser empilhado (Figura 39 e 40), otimizando o espaço de transporte e agrupamento de peças. Figura 40 – Detalhe de empilhamento

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Detalhando mais a parte traseira do reservatório, também estão aplicados por pintura dois conjuntos de ilustrações instrucionais de uso do produto. Na parte superior, encontram-se instruções quanto ao à configuração final completa e o acionamento do pedal e da ducha (Figuras 41 e 42). Figura 41 – Instruções do produto vetorizadas

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 42 – Instruções do produto

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Já na extremidade inferior do produto, estão instruções para a correta aplicação do método SODIS com suporte do produto (Figuras 43 e 44), apresentando indicações de como comprimir a parte flexível do reservatório e apoiar garrafas PET para realização da filtragem, bem como indicações de duração do processo em diferentes condições climáticas. Estas ilustrações foram criadas com a intenção de explicar o processo de forma facilitada e universal, sem ser necessário o uso de texto escrito, pensando em um contexto de utilização mundial. Figura 43 – Instruções de aplicação do método SODIS

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 44 – Instruções de aplicação do método SODIS

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Por fim, também foi contemplada a possibilidade de uso do produto com adaptação de peças. Para isso, a tampa traseira do reservatório foi dimensionada com as mesmas medidas de uma tampa de tambor de 200 litros (Figura 45) padronizada mundialmente, podendo ter seu mecanismo utilizado de forma escalonada em recipientes compatíveis. Figura 45 – Alternativas selecionadas

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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O reservatório original de formato cúbico possui capacidade estimada de 27 litros máximos. Com utilização ininterrupta da ducha, estima-se que o tempo de uso total do reservatório seja em torno de 5 a 7 minutos, em comparação com outros produtos similares.

4.5.1 Ambientações

Para contextualização do uso do produto deza, foram geradas ambientações simulando algumas etapas importantes na utilização do produto. As Figuras 46 e 47 mostram simulações do transporte do reservatório, aspecto facilitado pelo fato do produto possuir alças de carregamento e poder ser empilhado. Figura 46 – Ambientação de transporte conjunto

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Também foram elaboradas simulações em detalhe da utilização do pedal pressurizador (Figura 48) e da ducha dispersora (Figura 49).


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Figura 47 – Ambientação de transporte único

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 48 – Ambientação de uso do pedal

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Figura 49 – Ambientação de uso da ducha

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Por fim, também foi gerada uma simulação do posicionamento e uso do reservatório como suporte para a filtragem solar SODIS (Figura 50). Figura 50 – Ambientação de uso do reservatório para filtragem solar SODIS

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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4.5.2 Detalhamento técnico

Para fins de documentação e dimensionamento, foram gerados os detalhamentos técnicos dos elementos componentes do produto deza. Todas as dimensões nas figuras estão registradas e padronizadas em milímetros, com vistas superior, inferior, frontal e lateral esquerda, além de uma perspectiva em cores para melhor entendimento. O reservatório principal (Figura 51), possui dimensões gerais externas de 300 milímetros, com cantos arredondados e alças de transporte de 116 milímetros por 38 milímetros. Seus materiais de fabricação incluem Polietileno de Baixa Densidade para a parte flexível e Polipropileno para as partes mais rígidas, alças e tampa. Figura 51 – Detalhamento técnico do reservatório inflado

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Quando comprimido (Figura 52), o reservatório pode ser empilhado devido a redução de suas dimensões gerando um espaço interno, que também pode ser utilizado para o suporte do método SODIS. Nesta visualização, é também possível observar as dimensões da tampa, que possui furos para saída de ar e entrada de água condizentes com o diâmetro de meio polegada da mangueira utilizada. Já a tampa em si possui diâmetro de 88,9 milímetros, podendo ser utilizada em outros reservatórios padronizados industrialmente, como galões e tambores de 200 litros. Figura 52 – Detalhamento técnico do reservatório comprimido

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Quanto ao pedal de pressurização (Figura 53), este também possui dois orifícios, sendo um deles para condução do ar de diâmetro de meia polegada, e


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outro para entrada de ar. Além disso, possui inclinação de 15° para acionamento do pedal e dimensões gerais aproximadas de 23 centímetros por 12 centímetros. Figura 53 – Detalhamento técnico do pedal pressurizador

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Quanto ao elemento filtrante embutido (Figura 54), este possui dimensões gerais de 105 milímetros, com conectores para encaixe na mangueira de saída de água. Além disso, em seu interior possui uma cápsula de carvão ativado na extremidade superior e uma membrana de microfilamentos na extremidade inferior. Por fim, a ducha dispersora de água (Figura 55), possui dimensões gerais de 163,8 milímetros de altura por 174,6 milímetros de comprimento, sendo um componente já industrializado e de fácil reposição.


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Figura 54 – Detalhamento técnico do filtro com membrana de microfilamento e carvão ativado

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Figura 55 – Detalhamento técnico da ducha

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


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Por fim, o kit final incluirá duas mangueiras de 2,5 metros, com diâmetro de meia polegada, sendo este um padrão industrializado mundialmente. Esta medida do comprimento de 2,5m de cada mangueira foi assim definida, para alcançar desde o interior do recipiente reservatório até a altura média de uma pessoa em pé com braço esticado para cima em situação de enxague, além de também ter uma distância suficiente para o pedal poder ser acionado sem problemas pelo usuário ou até por uma segunda pessoa fora do box ou barraca de abrigo, como familiares ou resgatistas.


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5 CONCLUSÕES E PROJEÇÕES FUTURAS

A água é o requisito básico da vida, sendo essencial para sobrevivência das plantas, animais e seres humanos. Em uma situação de emergência, o acesso rápido e de qualidade ao abastecimento torna-se ainda mais imprescindível para a garantia do socorro bem-sucedido dos atingidos. Através deste projeto, foi possível mostrar competências e habilidades aprendidas durante todo o curso de Design, desde procedimentos metodológicos, até habilidade técnicas, e retribuir toda essa longa jornada de quatro anos de ensino com um projeto que possa ser aplicado para melhoria da sociedade. As maiores dificuldades observadas durante o projeto foram na etapa geração de alternativas, devido a alta complexidade e número de componentes e funções do produto desenvolvido, mas a aplicação das técnicas de criatividade foi amplamente facilitadora do processo criativo. Além disso, alguns percalços surgiram para a materialização da alternativa final em modelo tridimensional, mas felizmente sempre houve o apoio de todos os professores e colegas, sempre demostrando disposição para auxilio e resolução de dúvidas. Por fim, prova-se também a importância do planejamento e seguimento de uma metodologia para criação e organização de um projeto, que através de uma ampla base de pesquisa e análises fundamentadoras, bem como um extenso processo de geração e seleção de alternativas, garantiu um processo estruturado, logico e coeso, facilitando a geração de uma proposta final adequada aos requisitos necessários do projeto. Como projeções futuras seria de grande valia realizar um modelo ou protótipo de alta fidelidade do projeto, com testes de materiais e processos de fabricação, para verificar ainda mais a viabilidade do produto, o que infelizmente não pôde ser realizado plenamente devido ao contexto de pandemia mundial no momento da elaboração do trabalho. Mesmo assim, tendo todos estes fatores em vista,

acredita-se

fortemente

na

contribuição,

relevância

e

potencial

de

implementação e transformação social que pode ser atingido pelo projeto. É um momento de grande alegria e honra para a autora poder encerrar sua trajetória no curso de Design de Produto, e contribuir mesmo que de maneira ínfima para um mundo melhor por meio do Design.


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APĂŠNDICE A - Roteiro das entrevistas semiestruturadas


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Professor: 1) Nome 2) Qual sua função, o que faz, como opera? 3) Qual sua experiência com Design Emergencial? 4) Como funcionou sua pesquisa? 5) Quais referências de outros autores, pessoas, ou projetos pode recomendar? 6) Quais pontos aconselha e acha importante focar, requisitos, etc?

Funcionário da Defesa Civil: 1) Nome completo? O que faz, onde e como opera? 2) Quais os tipos de desastres/chamados mais atendem? 3) Como funciona a montagem dos abrigos, para onde as pessoas são levadas geralmente, quem organiza, qual o tempo médio de preparo? 4) Sobre a água, qual a importância da água nos abrigos, quanto recebem, de quem recebe, é dividido por pessoa? 5) Como funciona o banho, alimentação, banheiro, escovação de dentes, lavagem de louça? 6) Quais as maiores dificuldades encontradas? O que precisa ou poderia melhorar? 7) Alguma referência ou produto interessante que já viu sendo usado, ideias para complementar?


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APÊNDICE B - Esquematização das etapas do projeto


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101

APĂŠNDICE C - Registros do processo de modelagem tridimensional


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104

ANEXO A - Simbologias para classificação de desastres


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