MILÃO
glamour
Rigor formal combinado à liberdade de expressão. Em contraposição a cores atrevidas, tons de ouro em móveis e coleções. De um jeito particular, a arquiteta Barbara Falanga traduz a alma dos clientes, homens da moda e da beleza, com mãos seguras e muita ousadia
Por Annalisa Rosso | Fotos Filippo Bamberghi
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pop
Protagonista do living, o pilar revestido com pequenos crocodilos de aço é obra de Andrea Salvetti – couro dourado reveste as bergères dos anos 1940, na Robertaebasta, e, sobre a mesa de centro de laca preta e bronze, de Gabriella Crespi, dos anos 1960, acomoda-se a coleção de bules de ouro. Na pág. ao lado, abaixo, os moradores: Marco Mastroianni (à esq.) e Giovanni Iacono
Grandes aberturas conectam os ambientes na área social, com pufe dos anos 1930, da galeria Robertaebasta, revestido de couro creme – sobre o piso, tapete multicolorido da Futur Balla, com motivos futuristas realizados com base em pintura de Giacomo Balla. Na pág. ao lado, na sala, o sofá em capitonê, de Paola Navone para a Baxter, fica sob painel laqueado atribuído a Pierre Dunant, de 1940, em harmonia com o tapete Corneille, francês, dos anos 1960
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Ao lado, a cozinha com armários em verde-ácido recebeu refrigerador rosa da Smeg – um móvel-vitrine dos anos 1920, de metal e vidro, guarda a coleção de acessórios de mesa da Hermès –; abaixo, à esq., o banheiro negro, das louças aos mosaicos de pastilhas, tem fotos de grandes atores do passado e luminárias da Catellani & Smith; e, à dir., o lilás faz contraponto ao verde aceso na cozinha. Na pág. ao lado, um tributo a Piero Fornasetti na sala de jantar: são dele os pratos, as cadeiras e o armário de laca chinesa (com desenho de Gio Ponti); a mesa de folha de ouro foi feita sob medida
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Tradução: Susie Fercik Staudt
O roxo predomina no quarto principal, como se vê na cabeceira de veludo, acompanhada de abajures italianos de bronze, dos anos 1970, e espelho francês da déc. de 1940. Na pág. ao lado, no dormitório de hóspedes, com armário espelhado, o papel de parede que interpreta a antiga Roma é o grande destaque, ao lado da dormeuse francesa dos anos 1950 – abajur Bourgie, da Kartell
O
segredo? “Não faço mais aquilo que os donos da casa querem”, diz Barbara Falanga, a arquiteta e designer de interiores que assina a restauração deste apartamento cenográfico e elaborado, em Milão. Nem mesmo quando os proprietários têm gosto e caráter fortes, como Marco Mastroianni, especialista em tecidos da Louis Vuitton, e Giovanni Iacono, dono de um centro de beleza. Ela se ocupou de cada detalhe: desde as grandes aberturas que fundem em um só os ambientes da área de convivência durante o dia até as toalhas com monogramas nos banheiros. O imóvel de 200 m² foi transformado completamente. Um imponente totem acolhe os visitantes, “blindando” ligeiramente o grande living: é um pilar de sustentação recoberto com um mosaico de crocodilos estilizados, feito de aço fundido, obra do artista Andrea Salvetti. Hoje, é o ponto focal da casa. Como base elegante, o piso de parquets de ébano. Em cena, a vida cotidiana e as paixões dos moradores. Os tapetes policromáticos pertencem ao período futurista, e ter achado exemplares raros da Futur Balla foi um golpe de sorte. O bar, de 1939, é acompanhado de banquinhos revestidos com pele de crocodilo. As bergères localizadas à frente do sofá em capitonê, de Paola Navone, receberam tecido cor de ouro – tom apreciado nesse território. Durante a pesquisa de objetos e móveis, é dedicado a Fornasetti um belo tributo na sala de jantar, onde só a mesa folheada a ouro, feita sob medida, foge ao tema. “Eu me diverti muito ao conduzir este projeto”, afirma a designer de interiores, que já viveu em Nova York e adora open-spaces. A cozinha é uma explosão de cores pop com desenho racional e ousado, se comparada com o contexto. As associações livres permitiram que fosse instalada ali uma encantadora vitrine dos anos 1920 que compensa o rigor frio do vidro e do aço com a delicada decoração de uma cortina surpreendente. É guardada ali a coleção de acessórios de mesa da Hermès pertencente aos proprietários. O apartamento é uma homenagem aos anos 1900, com linhas enxutas e a beleza das peças selecionadas com extremo bom gosto. Os volumes e a harmonia determinados pela luz e o refinamento formal dos espaços obtidos com uma especializada intervenção arquitetônica fizeram o resto. A personalidade dos moradores, entendida e interpretada pela arquiteta, emerge em todas as situações. O quarto de hóspedes, por exemplo, vem ao encontro do amor deles por cores e tecidos. Nesse ambiente quase dramático, o papel de parede com desenhos que evocam a antiga Roma, a cortina leve emoldurada de vermelho e o azul-royal da dormeuse francesa da década de 1950 são atenuados com a presença irônica do abajur Bourgie, da Kartell. Para terminar, os banheiros, completamente decorados em tons de negro, com mosaicos de vidro, escondem uma surpresa: as fotos de grandes atores do passado, assinatura disfarçada de Barbara Falanga. l | conteúdo extra no ipad |