Registros Exposição 2 | Bruno Baptistelli

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2 Bruno Baptistelli



















2 “Structure without life is dead. But life without structure is un-seen. Pure life express itself within and through structure.” 1 John Cage

Foi através do silêncio, a interrupção momentânea da música, que o compositor John Cage, em meados dos anos 50, apontou para uma possível potência poética dos sons cotidianos – basta ouvi-los. Procedimento da mesma qualidade é tentar saber o que se revela quando cobrimos de branco uma superfície na tentativa de anulá-la. O branco comunica tudo o que há nele pela luz, é o silêncio cromático que revela todos os ruídos da matéria, suas pequenas pausas e ritmos percebemos então que a textura da parede atrás da tela muito se assemelha ao tratamento da tinta sob a própria tela. Da escuta reduzida à escuta total, não apenas os sons do mundo dialogam com as notas na pauta, como as notas são parte deste mesmo mundo, there’s no such thing as silence (como diria Cage), cria-se uma terceira paleta de cor.

Bruno Baptistelli procura um possível magnetismo entre um objeto e outro, entre o objeto e o espaço, entre arte e vida, mantendo a memória como o fio condutor. Porém, não se trata de uma memória nostálgica que vem arrebatar o sujeito do presente e levá-lo a um outro lugar, mas algo que revela a presença mesma do passado nas coisas: existe algo que habita os objetos e silenciosamente se revela quando olhamos para eles, mas o importante é olhar. As telas, objetos e recortes de Baptistelli estão ali para olharmos o que sobra deles no mundo, ou as próprias sobras do mundo neles. São compostos pelos mesmos elementos e formas do espaço que habitam, apropriam-se de sua estrutura e repelem qualquer olhar que se detenha apenas ao que está lá.


O peso, qualidade emprestada do tridimensional, aparece nas estruturas que seguram algo muito mais pesado e que já não se encontra mais ali. Das instruções de como organizar os pesos das caixas no espaço à sugestão de um piso em que um dia nos apoiamos discretamente marcando a presença da rua na arquitetura neutra do espaço. É um peso desmedido, bidimensional, são os pilares que uma vez sustentam a pintura na tela. Peso Comum, por exemplo, já não faz referência apenas à beleza da composição geométrica dos encaixes das lajotas na calçada, vai além e instala-se nos vincos e furos deste mesmo chão: seria a geometria uma estrutura comum à arte e à vida? É neste conflito entre forma e vida, geometria e organicidade, que Baptistelli tenta entender em que momento o orgânico e o geométrico convivem em perfeita harmonia e o que há para sustentar quando o objeto mesmo que sustenta foi deslocado. Percebemo-nos então num espaço real, orgânico, pulsante, e vemos que o silêncio de fato não existe. Através da frágil arquitetura das coisas é que Baptistelli busca as estruturas que fundam a vida, porém elas não estão ali para assumir uma autonomia bela e formal, mas para mostrar como a geometria e os objetos criados pelo homem podem ser corrompidos pela vida – orgânica, fluida, errônea, imperfeita.

Isabella Rjeille

1 “Estrutura sem vida é algo morto. Mas vida sem estrutura passa despercebida. A vida pura se expressa dentro e através da estrutura” Tradução do autor.


novembro 2013 Galeria Pilar Fotos por Sรกri Ember


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