ANO 34
nº 39
2009
ATUALIDADE Como escolas e famílias convivem com períodos de instabilidade econômica
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ENTREVISTA Rosemary Jimenez fala sobre os desafios do professor ao enfrentar os conflitos familiares que os alunos trazem de casa
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Editorial
Amigo Educador, Julho é mês de férias, descanso, tranquilidade e viagens, certo? Nem sempre. Infelizmente, ou felizmente, o professor nunca tem férias. Ele está sempre atento, seja para algum artigo que gere uma dinâmica em sala de aula, para filmes cujos conceitos possam ser analisados em provas, seja para cursos de atualização e para atividades que enriqueçam sua vida pessoal e profissional. Esse é o perfil do professor comprometido a melhorar a educação de crianças, jovens e adultos em todo o nosso país. Para ajudá-lo em seus trabalhos, aqui está mais uma edição de Páginas Abertas, produzida com nossa total dedicação para apresentar a você um material de qualidade, capaz de cooperar em sua rotina de ensino e aprendizagem. O projeto gráfico da revista também merece destaque, pois continua moderno e criativo, com cores e imagens que proporcionam uma leitura leve e agradável, tornando Páginas Abertas cada vez mais atraente aos olhos do leitor. Nesta edição, a professora Rosemary Jimenez, mestre em Educação pela PUC-SP, fala sobre um assunto merecedor de muita reflexão e atitude: como o professor deve agir quando um aluno leva seus conflitos Foto: Divulgação
pessoais para a escola? No Ano Nacional de Euclides da Cunha, este autor é o nosso protagonista. Rememoramos sua vida, sua obra e suas percepções para colocá-lo em lugar de grande destaque: em nossa matéria de capa. “EDUCAÇÃO: UM BEM LEGADO AO FUTURO” convidou especialistas a falar sobre a relação da crise econômica com a educação e o que pode ser feito para amenizar os seus efeitos. Para dar um colorido especial à revista, o livro Cinderela Brasileira, que reconta a história sob a perspectiva da nossa cultura, foi o escolhido para a seção “ESPECIAL FORMAÇÃO DE PROFESSOR”. Reflexões filosóficas, crônicas, sugestões de produtos PAULUS e muito mais recheiam esta edição, preparada com muito carinho para as pessoas empenhadas em construir um mundo melhor por meio da educação. Desejamos a todos ótima leitura!
Equipe Páginas Abertas
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Especial formação de professor A autora Marycarolyn France conta, neste livro, a conhecida história de Cinderela e agrega, no enredo, os costumes e hábitos da tribo indígena Tenetehara, existente no Estado do Maranhão. Ana Maria Ferreira propõe, por meio desse projeto pedagógico, atividades criativas que buscam aliar o gosto pela leitura e a importância das raízes da cultura brasileira.
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Ano 34 – nº 39 – 2009 ISSN 141446339 Diretor Presidente Valdecir Antônio Conte Diretor Geral Manoel Conceição Quinta Diretor de Difusão Valdêz Dall’Agnese
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Diretor de Produção Arno Brustolin
Sertão: terra de homem que luta
2009 é o Ano Nacional de Euclides da Cunha, homem genial, de inteligência invejável e de muitos amigos, mas de temperamento difícil e demasiadamente preocupado com sua reputação. Essas são algumas características de quem marcou a nossa literatura com a frase: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Foi ele quem descreveu Canudos e transformou seu relato em uma das mais expressivas obras brasileiras: Os sertões. Nesta edição, rememore a história de Euclides da Cunha.
Diretor de Redação José Dias Goulart MTB 20.698 Conselho Editorial Carolina Piepke, Dílvia Ludvichak, Simone Maximo, Tom Viana e Ricardo Aretini Colaboradores Rubem Alves, Douglas Tufano, Chantal Rangel, Claudiano Avelino, Pedro Serico Vaz Filho, Maria Isabel Landim, Ana Maria Pereira, Assessoria de Imprensa do Instituto Unibanco Projeto Editorial e Gráfico Bruno Cavini Capa Bruno Cavini Coordenação de Arte Bia Araujo
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Cento e cinquenta anos de A origem das espécies: existe razão para comemorarmos?
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Charles Darwin foi um dos pensadores mais importantes da história e sua teoria da evolução dos seres vivos representou grande mudança no pensamento biológico, influenciando outras áreas do conhecimento. 2009 é o ano em que comemoramos 200 anos de seu nascimento e 150 anos de sua obra A origem das espécies. Páginas Abertas também presta sua homenagem em artigo de Maria Isabel Landim, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
6. Entrevista
34. Sala de Aula
9. Filosofia
36. Ouvi, Gostei e Recomendo!
10. Tempus Fugit
38. Páginas Abertas Indica
12. Cultura
46. Crônica
Reportagem e Edição de Texto Assessoria de Imprensa da PAULUS Revisão Chantal Rangel Redação Rua Francisco Cruz, 229 – 04117-091 São Paulo – Tel: 11 5087.3742 FAX: 11 5579.3627 paginasabertas@paulus.com.br Atendimento ao Leitor Tel: (11) 3789.4000 assinaturas@paulus.com.br A revista PÁGINAS ABERTAS é uma publicação da Pia Sociedade de São Paulo. Nenhum material dessa publicação pode ser reproduzido sem prévia autorização. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas dessa obra e sua editoração. Entre em contato conosco caso queira citar algum artigo. A assinatura da revista PÁGINAS ABERTAS é gratuita. Sugere-se a contribuição para despesas de correio no valor mínimo de R$ 15,00. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a posição da revista. paulus.com.br
21. Atualidade
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Entrevista | Por Carolina Piepke, da redação
A pedagogia dos conflitos Conviver com problemas e dificuldades pessoais não é tarefa fácil para os adultos, sobretudo quando tais desordens atingem as crianças, circunstância que torna a empreitada bem mais complexa. Dessa forma, no momento em que os conflitos pessoais presentes na vida dos pequenos atravessam o ambiente familiar e vão para a escola, diversas manifestações psicológicas, emotivas e comportamentais podem sinalizar que essa criança necessita de auxílio. Nesta edição, entrevistamos a professora Rosemary Jimenez, mestre em Educação pela PUC-SP, especialista em Psicopedagogia, Neuropsicologia e Psicanálise, que explicará os desafios do professor ao vivenciar, em sala de aula, situações decorrentes de conflito familiar.
Os conflitos que as crianças enfrentam em casa se refletem em suas condutas em sala de aula. De que forma o professor caracteriza um aluno em tal situação? Convivemos com afetos, sentimentos e emoções o tempo todo. A ideia de que seria possível realizar uma cisão entre razão e emoção, postulada por Descartes, na prática, não é bem assim que acontece. Somos influenciados por situações da vida cotidiana, seja na família, na escola ou até na relação com os amigos, e respondemos, de alguma forma, àquilo que aconteceu, não só com o nosso pensamento (razão), mas principalmente com as nossas emoções, parte indispensável da nossa vida racional. Dessa forma, a criança que presenciou um desentendimento entre os pais, sofreu maus-tratos ou até viveu a perda de um animal de estimação certamente fará uma leitura dessas experiências, sejam elas boas ou ruins; porém, tais vivências sempre terão um sentido. Sendo assim, é impossível não carregarmos nossas tristezas, medos, dúvidas, entre outros sentimentos. É impossível deixar fora dos muros da escola tudo o que se viveu em casa. Penso que uma boa forma de caracterizar esses alunos seja vê-los como alguém que está precisando de auxílio. Há várias maneiras de manifestar um pedido de ajuda quando não se conse
gue verbalizar aquilo que se sente: sintomas como desatenção, desinteresse pelos estudos, agressividade verbal ou física, dificuldades na aprendizagem e na relação social, todas essas são demonstrações que a criança utiliza para ser vista de alguma maneira. A partir do momento em que o problema é constatado, qual deve ser a conduta do professor em aula? Os professores são os maiores especialistas em diagnosticar, os primeiros a perceber que algo está acontecendo, especialmente quando a criança não responde da forma que se espera. Entretanto, ao detectar que algo não vai bem, o professor escolhe, às vezes como primeira opção, realizar algum tipo de encaminhamento para fins de diagnóstico. Não se trata de desmerecer a necessidade de encaminhar; porém penso que o professor, antes dessa escolha, poderia se aproximar da criança, procurando escutá-la e compreendê-la para saber quando e com quem ela se envolve em situações conflituosas. Essa atitude pode abrir espaços para que se manifestem, participem e percebam que há um lugar para elas, seja numa conversa com o próprio professor ou no grupo de colegas. Enfim, para que perceba que está sendo incluída, e não marginalizada.
Muitas vezes, alunos conflituosos provocam desarmonia em sala, criando problemas com os demais colegas. Como o professor deve agir com esses alunos que se sentem atingidos? Existe uma forma de gerenciar esses conflitos em sala? É possível entender e compreender que os alunos que passam por fases difíceis não conseguem lidar com esse momento, criando conflitos com os colegas até como forma de tentar entender a própria situação. Entretanto, não seria essa excelente oportunidade para trabalhar questões ligadas à vida, normalmente conhecidas como “currículo oculto”? Não será a vida permeada de conflitos? Muitas vezes, não deparamos com adultos despreparados para lidar com eles? Num mundo em que se tenta o tempo todo evitar o conflito por entender que ele é negativo, penso que essas crianças nos oferecem uma oportunidade para aprendermos a avaliar e lidar com situações relacionadas ao âmbito social. A meta é abrir espaços para que se possa falar e pensar sobre os problemas. Dessa forma, estaríamos criando situações de aprendizagem em que as crianças seriam encorajadas a pensar por si mesmas, avaliar as próprias ideias e, com o professor, encontrar soluções para os problemas. E, sem dúvida, aprenderiam a pensar que existe mais de uma solução, a con-
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siderar as consequências de seus atos e a tomar decisões, responsabilizando-se por elas. Creio que todos sairiam ganhando – professores, alunos e agressores – ao exercerem uma das funções fundamentais da escola: a socialização. A escola deve disponibilizar estruturas psicopedagógicas para enfrentar tais situações. Dessa forma, existe algum tipo de preparação para que o professor esteja capacitado para lidar com alunos que tenham esses conflitos pessoais e familiares? É imprescindível que existam momentos específicos de encontro entre os professores e a equipe pedagógica e educacional, conhecidos como “encontros de formação”, a fim de que se possa discutir sobre os conflitos que permeiam o espaço da sala de aula. Também é preciso haver espaços em que o professor compartilhe suas preocupações e angústias, possa ser igualmente escutado e encontre abertura para refletir interdisciplinarmente sobre a sua própria formação, à luz das teorias psicanalíticas, sociológicas, linguísticas e psicológicas, além daquelas oriundas da educação. E, diante de perguntas sem respostas, reconheçam suas faltas, seu não saber. Somente assim é que poderão se desencadear processos de aprendizagem que fornecerão respostas aos seus enigmas.
de valores que norteia suas escolhas. Assim, permeados pela ética, tanto a escola como a família, conhecendo as particularidades de cada um, saberão o limite que se estabelecerá, visando, sobretudo, ao bem-estar do aluno, do professor, da escola e da família. Todos precisam estar de acordo e, efetivamente, sentir que houve justiça nos encaminhamentos e nas decisões tomadas. Atualmente, percebe-se que muitos pais transferem a responsabilidade da educação dos filhos para a escola, justificando sua ausência pela falta de tempo para cuidar deles. Quando o professor nota o desinteresse dos pais pela educação dos filhos e também pela resolução desses conflitos que as crianças trazem para a sala de aula, como ele deve agir? Temos todas as condições para otimizar o nosso tempo e facilitar a nossa vida, seja em casa ou no trabalho; com isso, pode “sobrar tempo” para experiências mais significativas. Entretanto, falta-nos
tempo para estar com nossos familiares, ouvir nossos filhos, contar nossas histórias, cuidar de nós. Mas, para isso, é preciso “perdermos tempo” (no bom sentido!). Esse é um momento paradoxal em que temos tudo para ganhar, porém acabamos perdendo. Ter filhos implica tempo, sim, mas também disponibilidade, paciência e tolerância para ensinar praticamente tudo a quem chega sem saber nada. Penso que a escola tem um papel importantíssimo quando instrumentada por uma consciência crítica e social; ela pode problematizá-la junto às famílias, convocando-as a assumir os seus lugares nessa viagem que é a educação de seus filhos. Contudo, é importante lembrar que existem limites. A escola, por ser herdeira de uma posição detentora do saber, muitas vezes acredita ser possível dar conta de tudo e assume o que é da ordem do impossível. Porém, num lugar em que há espaço para o diálogo e para uma escuta atenta, certamente as crianças serão beneficiadas, ainda que seja apenas para serem ouvidas.
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Qual limite a escola e o professor devem respeitar para não interferirem no ambiente familiar do aluno? Entendo que existem decisões que somente a escola pode tomar por exemplo, as relacionadas ao seu projeto político. É importante ressaltar também que cada família possui seu próprio conjunto Páginas Abertas
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Entrevista | Por Carolina Piepke, da redação Em que momento o aluno precisa de um acompanhamento psicológico? Como o professor detecta que a criança necessita de tais cuidados? O natural da vida é que nossas crianças cresçam, aprendam, fiquem felizes, às vezes se entristeçam, brinquem e briguem com seus colegas, ganhem e percam, vibrem e se frustrem, fiquem agitadas e no “mundo da lua”, convivam com o “sim” e com o “não”, se alimentem e tenham horas de sono suficientes para o seu bem-estar. Mas, se em algum momento qualquer um desses movimentos se cristalizar além do que o bom senso indica e já tiverem sido criadas diversas oportunidades para que essa cristalização retroceda, é hora de pesquisarmos. E isso não significa necessariamente o encaminhamento para um psicólogo ou algo do gênero. Pesquisar, em princípio, significa compreender as diversas variáveis que compõem a história de uma criança, ou seja, sua família, seus valores, seus ideais, suas crenças, suas perdas, suas necessidades, suas possibilidades. Em algum momento, pode ser necessária a ajuda profissional, mas é preciso cuidado, pois rapidamente queremos nomear algo que não entendemos e dar-lhe um sentido. O perigo está em transformarmos o João, a Ana ou o Mateus em simples rótulos genéricos que não nos levam a lugar nenhum, como “o hiperativo”, “o desatento” ou qualquer outra denominação. Os papéis que a família e a escola têm na resolução desses conflitos apresentam focos de atuação distintos? Ou essas ações devem ter pontos em comum? Partindo do pressuposto de que tanto a escola como a família desempenham
funções importantíssimas na educação de uma criança, entendemos que algumas atuações dizem respeito somente à escola e outras à família, de maneira independente. Há ações que só poderão ocorrer se houver boa conversa e significativa parceria, em que cada parte revise seus atos e contribua com algo. Trata-se de um grande jogo de acordos, concessões e novas aprendizagens.
(...) a escola é o lugar propício para que as diferenças sejam exteriorizadas e acolhidas; afinal, estamos falando de um ambiente especial onde o desejo pode brotar e ser vivido.
Quais seriam as singularidades dos conflitos em sala de aula? Existem similaridades que poderiam constituir determinado perfil de situações que desencadeariam esses problemas? E, dessa forma, seria possível delinear um perfil das crianças que vivenciaram tais conflitos? A escola é um espaço privilegiado para que as relações interpessoais aconteçam. Sair do ambiente familiar, em que se tem determinada posição como filho (por exemplo, o “esperto”, a “inteligente”, o “bagunceiro”, a “desorganizada” etc.), para ingressar num espaço coletivo exige adaptações. Porém algumas crianças, pela impossibilidade de realizá-las, acabam por gerar desconfortos, como provocar os colegas, desrespeitar as regras coletivas, provocar a autoridade do professor, não se responsabilizar
pelas tarefas. Em contrapartida, professores que não conseguem se distanciar desses falsos ataques (crianças que não conseguem se defender das provocações, que se sentem desprotegidas e amedrontadas) criam condições propícias para que ameaças, abusos e injustiças aconteçam. O paradigma que ainda rege as práticas escolares baseia-se nos modelos positivistas, que se ancoram na ideia de normalidade. Ou seja, qualquer manifestação de diferença que o sujeito apresentar em relação a determinado padrão já basta para que tal ato seja considerado como doença, desvio. Obviamente, se há desvio, se há doença, como entende essa concepção, é necessário haver cura e amparo. Ainda há muito que discutir nesse campo de ideias oferecidas como verdades científicas e, portanto, absolutas e inquestionáveis para o imaginário popular, sobretudo quando os mais respeitados pesquisadores sabem da incompletude de seus saberes e conhecimentos. É preciso estranhar o cotidiano em que está presente uma prática excludente, produtora de estigmas e rótulos que favorecem a exclusão social. Nesse sentido, é preciso considerar que ser diferente da maioria não significa necessariamente uma doença; pode ser apenas uma forma encontrada pela criança para se manifestar, já que a escola é o lugar propício para que as diferenças sejam exteriorizadas e acolhidas; afinal, estamos falando de um ambiente especial onde o desejo pode brotar e ser vivido. * Rosemary Jimenez graduou-se em Pedagogia pela Universidade Mackenzie, especializando-se em Psicopedagogia pelo Instituto Sedes Sapientiae, em Neuropsicologia pela UNIFESP e em Psicanálise pelo Instituto de Psicologia da USP. É mestre em Educação pela PUC-SP. Atualmente atua como professora universitária, psicopedagoga e psicanalista.
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Filosofia | Por Claudiano dos Santos*
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Reaprender a ver o mundo
* Claudiano Avelino dos Santos é coordenador da coleção Como Ler Filosofia, da Paulus. E-mail: filosofia@paulus.com.br
É bastante divulgada a frase do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty segundo a qual a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. Reaprender talvez porque, quando temos a presunção ou a pretensão de já ter aprendido, deixamos de ter a abertura fundamental de quem é apaixonado pelas descobertas, pelo conhecimento. A quem deseja progredir no conhecimento de si e do mundo, é necessário reeducar o olhar, de modo que ele busque a novidade a todo momento e não se vicie com as paisagens fáceis e superficiais. Não se trata de inventar novidades ou rechaçar ideias, simplesmente as tachando de antiquadas ou ultrapassadas pelo fato de serem da década, do século, do milênio ou da era anterior. Significa, sim, aguçar o sentido para ver, tanto no novo quanto no antigo, o que não se via antes. Trata-se de encontrar caminhos onde as barreiras parecem intransponíveis, descobrir fórmulas que derretem o que parece cristalizado, cruzar fronteiras. A reeducação do olhar, ou o reaprendizado do olhar sobre o mundo,
há que se iniciar de preferência a partir de dentro, de si mesmo. Olhar-se sem amarras, respeitando sempre o espaço de dúvida que existe em cada certeza afirmada. Tal percepção livre, solta, leve é a porta de entrada para a criatividade. Ainda que seja fascinante, reaprender a olhar o mundo não é tarefa fácil, pois se trata de abandonar o aparentemente firme terreno das convicções de sempre e aprender a arte do equilibrista ou daquele que navega em “mares nunca dantes navegados”. Mas em tudo isso não há somente medo ou insegurança. Há também a alegria e o sabor da aventura, da novidade, da criatividade, de sentir-se criando caminhos e respirando novos ares, contemplando paisagens diferentes, mesmo quando não se pode sair do lugar. Há a alegria de criar novas conexões, descobrir novas relações, misturas inusitadas, possibilidades mil. Mesmo que seja tão necessária, a reeducação do olhar não é tudo. É apenas o começo para que se reeduquem as ações humanas.
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Tempus Fugit | Por Rubem Alves*
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Namorados * Rubem Alves é mineiro de Boa Esperança, bacharel e mestre em Teologia, doutor em Filosofia e psicanalista pela Associação Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Possui várias publicações, como crônicas, livros infantis, de Teologia e Filosofia da Ciência e Educação.
Shakespeare poderia ter encontrado outro fim para a estória de Romeu e Julieta. Mas não quis. Foi cruel. Preferiu matá-los. Um final feliz, como as novelas, não teria sido melhor? “Casaram-se e foram felizes para sempre…”. Mas das novelas ninguém se lembra mais. E de Romeu e Julieta ninguém se esquece. Porque Romeu e Julieta é uma estória escrita em nossa própria alma. Nós. Parece que o amor só é eterno quando sacrificado ainda jovem. “Infinito enquanto dure” por não “ser eterno, posto que é chama”. Depois de apagada a chama, fica a memória da sua luz. Como o crepúsculo. O amor é entidade crepuscular. Seu dia é curto. Como aquela flor que tenho no jardim, “glória da manhã”. Abre-se quando o sol nasce, azul celeste, mas ao meio-dia já está sulcada de listras roxas, anunciando que às 2 da tarde já terá anoitecido. O namoro tem vida intensa e breve. E é por isso que é tão belo e a sua memória - saudade - mora e dói em nossos corpos. Fica como nostalgia de um amor que durasse sempre. Romeu e Julieta tinham de morrer, para que sua estória dissesse a nossa verdade e quiséssemos sempre ouvi-la de novo. Ah! Como seria bom se fôssemos sempre jovens, puros e ardentes! Então o mundo inteiro seria luminoso e viveríamos a cada dia a promessa suprema da religião: a ressurreição do corpo. Corpos enamorados são corpos ressuscitados. Mas o namoro está ficando coisa cada vez mais rara. Porque ele só existe no espaço rarefeito da distância. É a distância, representada no drama de Shakespeare pela morte, que o torna eternamente belo. Há a estória da menina e do pássaro encantado.
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E de Romeu e Julieta ninguém se esquece. Porque Romeu e Julieta é uma estória escrita em nossa própria alma.
dobra por dobra. Não foi por acidente que Mallarmé e Debussy tenham preparado o poema e a música mais cheios de neblinas e brumas para, neste espaço, acontecer a dança erótica do fauno e das ninfas… E me veio uma estranha hipótese sobre as relações entre o namoro e a política. Rilke, falando da arte, sugeriu que ela era um suspiro utópico que apontava para o objeto último e inalcançável do nosso desejo. Mas não será isso mesmo que se encontra na experiência fugidia do namoro? A utopia de que o universo inteiro venha a se amar. No 1984, de Orwell, quando todos os quartos do apartamento estavam permanentemente vigiados eletronicamente pelos olhos sempre abertos do “Grande Irmão” (noutros tempos eram os olhos sempre abertos do “Grande Pai…”), o que impedia que Winston pudesse abraçar a mulher amada - crime supremo! -, eles foram para o campo e, sob o céu aberto, entregaram-se um ao outro. E ele compreendeu que aquele tinha sido um ato político. Todo ato de amor é uma denúncia do absurdo do poder. O mundo poderia ser bom… E fui, então, assaltado pela curiosa sugestão de que o que está em jogo é uma troca de namoradas. Os que se entregam à volúpia do poder é porque não mais são capazes da volúpia do amor. Quem sabe maridos teoremáticos, esposas paradigmáticas. Mas namorados? Duvidoso. Quem está possuído pelo amor não se move bem nas coisas do poder…
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“Preciso ir”, dizia o pássaro. “Não vá”, respondia a menina, ingênua. E ele respondia: “Vou para que o amor retorne. Você não entende que só sou encantado por causa da saudade?” O namoro acontece somente na dor da distância, quando os dedos se tocam de leve. “Os amantes”, dizia Rilke, “não estivesse o outro a ofuscar-lhes a visão, sentiriam a obscura presença e se espantariam…”. O amor desesperado de Fiorentino Ariza pela Firmina Daza, de Gabriel García Márquez. Não, não era na erótica do toque onde o amor crescia. Era na dor da distância, onde a saudade mora. O erótico precisa da presença fugidia de quem se ama. Quem tem perdeu… Que teria sido do amor eterno de Abelardo e Heloísa se não fosse o seu fim, os dois perdidamente apaixonados, eternamente separados pelas paredes de pedra dos conventos? Roland Barthes diz que o erótico é o pedacinho de pele que aparece entre o fim da manga e o princípio da luva, a nesga de carne que se mostra entre o fim da calça e o começo da blusa. Quase nada é mostrado. Tudo é sugerido. Por essa fresta estreita se abre o mundo infinito da fantasia. No namoro fazemos amor com nossas fantasias, encontramos o fugidio objeto da nossa busca inconsciente. Fernando Pessoa: “Ninguém a outro ama senão o que de si há nele ou é suposto…”. Ouvi pintores chineses explicarem as razões da presença constante de brumas e neblinas em suas telas. Porque é ali que se aloja o mistério (a nesga de pele entre a calça e a blusa…). A fantasia se mostra no não dito, no não mostrado. Ante a fundura sombria dos bosques (Frost) a imaginação se ergue, erotizada, e sente que ali mora a beleza. O que não acontece com a arte que diz tudo, pornográfica, ofuscando a imaginação com os seus detalhes: realismo. O que também não acontece com a linguagem científica, pornográfica por vocação, incapaz de conviver com as neblinas, em busca permanente de visibilidade total, abrindo prega por prega,
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Cultura | Por Chantal Scalfi Rangel*
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Ela deveria contar uns 25 anos. Pele alva, cabelos ao vento, singela touca para recobri-los e delicado seio à mostra completavam sua indumentária, enriquecida pelos aparatos que sustentava em cada uma das mãos: na direita, erguia-se uma bandeira tricolor; na esquerda, os dedos entrelaçavam-se em torno de uma baioneta. Logo atrás, uma horda de homens parecia louvar tal postura: alguns se lhe atiravam aos pés, em sinal de agradecimento, enquanto outros a seguiam, como se ela os conduzisse para o tão sonhado Éden. De fato, era o que acontecia. A imagem que acaba de ser descrita nos remete a uma das mais importantes obras-primas do pintor francês Ferdinand Victor Eugène Delacroix, nascido em Charenton-Saint-Maurice, em 26 de abril de 1798, e morto em Paris, no dia 13 de agosto de 1863. La liberté guidant le peule, 2 nome da pintura, nada mais é do que a personificação da liberdade, esculpida num corpo feminino em alusão à mãe que conduz a prole – no caso, o povo francês – em direção à sonhada igualdade de direitos, ideia tão sufocada na época que antecedia a Revolução Francesa. Hoje os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade constituem um déjà vu 3 que grande parte das democracias contemporâneas deseja seguir. O Brasil, de sua parte, homenageia, em 2009, o país que presenteou o mundo com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: a França. Com uma superfície de 543.965 km² que serve seus 63,5 milhões de habitantes, a França vai muito além do croissant, 4 da Torre Eiffel e dos dribles de Zinédine Yazid Zidane. O “hexágono” (em francês l’hexagone, nome dado ao país por conta de seu formato) é verdadeira colcha de retalhos cultural, a começar pela própria capital, Paris, cidade que irradia erudição, esplendor e história. Centro
** 1. Obrigada, Brasil! / 2. A liberdade guiando o povo. / 3. Forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por extensão, já ter vivido) alguma coisa ou situação de fato desconhecida ou nova para si. / 4. Pãozinho de massa fina e leve, em forma de meia-lua.
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das discussões iluministas, a cidade viu suas ruas e vielas serem lavadas com o sangue daqueles que não concordavam com a tríade Liberté, Egalité, Fraternité; 5 presenciou a execução, na guilhotina, do casal real Luís XVI e Maria Antonieta; ouviu, em 1944, o célebre discurso que marcou sua libertação do domínio nazista, proferido pelo general Charles de Gaulle, então presidente da V República Francesa; emprestou sua majestosa catedral, Notre-Dame, para ser o cenário que envolveu o amor platônico de Quasímodo por Esmeralda, personagens do romance O corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo. A todas as glórias da França, como bem nos mostra a inscrição que figura ao alto de um dos edifícios que compõem o Palácio de Versalhes, alia-se esta homenagem que o Brasil lhe oferece: o Ano da França no Brasil (www.anodafrancanobrasil.com.br) visa aperfeiçoar e consolidar a relação franco-brasileira, valorizando a competência e o know-how (ou savoir-faire 6) da França contemporânea, condições sobre as quais deve se fundamentar a parceria estratégica entre os dois países. Nesse espírito, a programação é construída em torno dos três perfis que caracterizam o berço de Robespierre, a saber: a “França de hoje”, que se distingue pela criação artística, pela inovação tecnológica, pela pesquisa científica, pelo debate de ideias e pelo dinamismo econômico; a “França múltipla”, marcada pela diversidade regional e sociocultural de seus habitantes; a “França aberta”, que busca fortalecer ainda mais a já bem consolidada parceria franco-brasileira. O Ano envolve as principais cidades brasileiras e atinge públicos diversos. Está prevista a organização de manifestações itinerantes e de alguns grandes eventos populares. A existência de um comitê misto de organização, composto, pelo lado francês, de representantes designados pelos Ministérios dos Assuntos Exteriores e da Cultura e, pelo lado brasileiro, de representantes indicados pelo governo brasileiro, assegura a coerência da programação e dos compromissos orçamentários. O comitê se reúne alternadamente na França e no Brasil para aprovar a programação, o plano de comunicação e o financiamento do evento, cujas reuniões são transcritas em atas aprovadas e assinadas pelas duas partes. Os projetos escolhidos pelo comitê misto são incluídos na programação oficial, alicerçada em uma campanha de comunicação auxiliada pela mídia brasileira, que permite conferir a visibilidade necessária ao evento. Magnifique! 7
Os espetáculos que São Paulo recebeu desde o primeiro dia do evento, em 21 de abril, contemplam as mais diversas áreas culturais; entre elas, artes cênicas, artes plásticas, cinema, fotografia, intervenções urbanas, moda, multimídia e música. E assim será até o dia 15 de novembro deste ano, data em que se encerram as comemorações. Entre as opções, vale a pena conferir, em outubro, O Pequeno Príncipe na Oca, no Parque do Ibirapuera, exposição que homenageia Antoine de Saint-Exupéry, criador do personagem, e traz réplicas de Paris do início do século XX e do deserto do Saara, onde o personagem desapareceu. No último dia do evento, Lenine canta ao lado de nomes como Salif Keita e Arthur H no Parque da Independência, e o badalado clube de jazz Bourbon Street Music Club recebe as cantoras Jane Birkin e Yael Naim. Mas atenção: reparem que nenhum dos cantores mencionados possui um nome tipicamente francês, como “Charlotte”, “Jacques”, “Pierre” ou “Nicolle”. São nomes cuja origem está muito distante das margens do rio Sena... e qual seria a razão?
A francofonia pelo mundo A francofonia é o ato linguístico correspondente às comunidades que têm em comum a língua francesa, chamadas de “francófonas” (“francofalantes” também é uma grafia aceita). Integradas a esse costume estão também aquelas que têm o francês como segunda língua estrangeira, como é o caso de alguns países do Magreb, região situada ao norte do continente africano que engloba a Argélia, o Marrocos e a Tunísia, nações cuja língua oficial é o árabe. Esse idioma, aliás, é que deve ter servido de inspiração para os nomes dos artistas citados há pouco. Alguns momentos da história da França foram decisivos para a configuração do quadro contemporâneo e da sua política atual, caracterizada por uma relação delicada com seu passado colonial e por questões raciais que desenharam a nação na modernidade. O primeiro ponto que merece relevo refere-se ao período de hierarquia social que legitimava a escravidão nas colônias francesas. Essa clara manifestação de barbárie fundamentava-se na construção de um discurso científicoeconômico do século XVIII, defensor da seguinte tese: à nação francesa caberia ter suas bases muito bem consolidadas numa matriz branca única. Homens e mulheres negros
5. “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, lema da república francesa. / 6. Conhecimento de normas, métodos e procedimentos em atividades profissionais, especialmente nas que exigem formação técnica ou científica. / 7. Magnífico!
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Cultura | Por Chantal Scalfi Rangel*
eram claramente inferiores aos seus senhores brancos, de sangue verdadeiramente europeu. A nova hierarquia classificava, ainda, os homens negros como inferiores às mulheres brancas (que já não desfrutavam de muitos privilégios pelo simples fato de pertencerem ao sexo feminino). As mulheres negras, por sua vez, foram posicionadas num nível sub-humano; eram-lhes atribuídos instintos e capacidades próximos aos dos animais. A explicação ideológica da escravidão nas colônias passou, então, do argumento religioso (defensor da “purificação das almas” que se entregavam a outra religião que não a católica) à justificativa científica de que tais indivíduos eram portadores de uma condição precária por natureza, argumento incontestável (naquela época) que os colocava à margem da sociedade. E, sendo a cultura francesa afirmada como superior, a justificação da dominação colonial se fez por meio da “valorização” dos territórios conquistados, que deveriam receber a cultura para os seus povos atrasados, incapazes de fazer sua própria história. Prova disso é a quantidade de departamentos e territórios ultramarinos que a França mantém desde o século XVII espalhados pela América do Sul, Caribe, África e Oceania. Guadalupe, Martinica, Guiana Francesa e as Ilhas Reunião são os mais importantes e valorizados nomes dessa lista – que, no entanto, é longa e complexa, hierarquizada de acordo com os diferentes tipos de ligação político-administrativa que esses territórios mantêm com a metrópole. Exatamente! Quando se fala em territórios, a relação volta-se para a França continental como “metrópole”. DOM-TOM (département et territoire d’outre-mer 8) é, portanto, a denominação sutil que os franceses escolheram para substituir a verdadeira condição dessas regiões: a de colônias! Dessa forma, é possível estar em território francês mesmo sem ter de atravessar o Atlântico para ir até a Europa. Os haitianos, por exemplo, sabem muito bem disso. Essa “diáspora” provocada pelos falantes iniciais do francês fez com que o idioma se espalhasse pelo mundo e marcasse presença no Egito, na Itália (Vale de Aosta), na Mauritânia, no Reino Unido (ilhas do Canal da Mancha), nos Estados Unidos da América (especialmente Luisiana, Nova Orleans e Nova Inglaterra), no Canadá (Quebec) e em muitos outros países do globo. Segundo o site da Organi-
À nação francesa caberia ter suas bases muito bem consolidadas numa matriz branca única.
zação Internacional da Francofonia (www.francophonie.org, em francês), nosso planeta conta, hoje, com mais de 200 milhões de pessoas que arredondam com mestria os lábios para fazer o famoso “biquinho”, enquanto outros 90 milhões se dedicam ao estudo da língua nos cinco continentes, fato que lhe assegurou o estatuto de idioma oficial nas organizações internacionais, como a ONU e a Otan.
Uma amizade em cor-de-rosa É evidente que França e Brasil nutrem uma relação verdadeiramente fraternal, caracterizada por laços centenários de muito afeto. Mas, como acontece em qualquer amizade, os dois países também enfrentaram algumas rusgas durante a História, sobretudo nos anos subsequentes à descoberta do Brasil. Exemplos claros de desavença foram as incursões de corsários (piratas) franceses em nosso território: a primeira delas deu-se no Rio de Janeiro, em 1555, e resultou na instalação da “França Antártica”; já a segunda ocorreu no Maranhão, em 1594, e estabeleceu a “França Equinocial”. Essas tentativas de colonização, apesar de terem conseguido a fixação em terras brasileiras por certo período, foram erradicadas posteriormente por tropas portuguesas. Incidentes à parte, visitemos o século XIX, com enfoque no ano de 1808, época em que a Família Real portuguesa chegou ao Brasil. Esse acontecimento contribuiu e muito para a vinda de grandes artistas franceses, graças à intenção da própria Coroa portuguesa em fomentar a cultura no país, visto até então como uma terra longínqua, absurdamente quente e destinada aos “deportados e bandidos portugueses, além de negros e índios”. Ledo engano! Dentre os habilidosos “artistas-viajantes”, destaquemos o francês Jean-Baptiste Debret, o pintor mais requisitado e
8. Departamentos e territórios ultramarinos, de além-mar.
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competente naquilo que pretendia revelar por meio da sua arte. Convocado pelo príncipe regente de Portugal, D. João VI, em 1816, Debret foi incumbido de retratar em suas pinturas a realidade dos colonos e nativos da nossa terra. Contudo, é preciso assinalar que seu intuito não era apresentar “imagens fiéis” da escravidão no Brasil, tampouco os “exóticos” momentos da monarquia lusa instalada no Rio de Janeiro. Debret, sem dúvida, foi mais do que um pintor oficial da nobreza e atuou com muita competência na fundação da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. A “missão artística”, como ficou conhecida a vinda dos pintores “oficiais” designados para retratar o cotidiano brasileiro, fez Debret pôr em prática tudo o que havia aprendido nos melhores ateliês italianos. Mas não seriam franceses? Não! Afinal, é impossível deixar de mencionar a cultura italiana, que, por muitos séculos, formou grandes artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Caravaggio, entre tantos outros. A Itália dominou, de forma soberana, o cenário artístico até meados do século XVII. E foi somente a partir do final desse mesmo século e início do XVIII é que a França passou a revelar grandes talentos do mundo da arte, graças ao sensível avanço dos ensinos acadêmicos, reunindo, desta forma, condições para competir com a qualidade artística italiana e até superá-la. Tendo bebido dessa riquíssima fonte, Debret ficou conhecido por retratar momentos gloriosos de Napoleão Bonaparte. A qualidade do seu trabalho ecoou em terras lusitanas, o que proporcionou sua ida ao Novo Mundo e o fez mundialmente famoso sob a alcunha de “o principal retratista do Brasil Imperial” e “o artista oficial da Corte”. Em todos os campos da cultura e da arte, a França tem uma presença marcante em nossas vidas. Na Pinacoteca do Estado e no Museu de Arte de São Paulo (Masp), ambos situados na capital, podemos contemplar as telas e esculturas originais dos franceses Auguste Rodin, Claude Monet, Édouard Manet, Eugène Delacroix, François Clouet, Henri Matisse, Paul Cézanne e Pierre-Auguste Renoir. Os traços e influências da arquitetura francesa podem ser notados em importantes construções históricas da cidade de São Paulo, como o Mercado e o Teatro Municipal, a própria Pinacoteca, a Catedral da Sé, o Palácio das Indústrias, o Viaduto do Chá, a Estação Júlio Prestes, a Casa das Rosas e o Palácio
dos Campos Elíseos (qualquer semelhança com o ChampsÉlysées, a residência oficial de Nicolas Sarkozy, presidente da França, não será mera coincidência!). No dia 11 de maio deste ano, nossos amigos europeus receberam, no Museu da Língua Portuguesa (www.museulinguaportuguesa.org.br), a exposição O Francês no Brasil em Todos os Sentidos, primeira mostra binacional do museu e também a primeira que não tem por tema uma obra literária ou autor (Guimarães Rosa, Machado de Assis, Clarice Lispector e Gilberto Freyre já foram nomes homenageados pela instituição). O objetivo é levar ao público o diálogo entre as duas culturas e os pontos de contato na moda, na culinária, na ciência e na dança. A mostra poderá ser vista até o dia 13 de setembro. Revisitar a história da França é conhecer o patriotismo do povo, que guerreou bravamente os exércitos nazistas; é ouvir Édith Piaf e emocionar-se até a alma com um estilo todo próprio que conferia vida às suas mãos à medida que avançava nos refrãos; é reconhecer que maio de 1968 foi o momento crucial para que acontecesse um giro decisivo na história da cultura. Relembrar os feitos franceses é ressaltar o pioneirismo dos padres operários, que plantaram, no submundo das minas, a semente do evangelho para os pobres; é passear no bairro de Montmartre, eternizado nas pinturas de Toulouse-Lautrec; é ter em mente que o filósofo JeanPaul Sartre já constatava, no início dos anos 40 do século XX, que o ser humano precisa da aprovação do outro para o reconhecimento e a aceitação social da própria identidade. Uma incômoda medida para os nossos atos... É por essas e outras razões, em meio ao domínio imperialista das ideias banais que já nos vêm mastigadas, das filas feitas em cinemas e não em museus e do idioma pobre imposto pelo computador, que devemos, sim, homenagear o país que tanto enriqueceu e influenciou a nossa cultura. Do outro lado do oceano, a França acena e nos agradece com todo o seu glamour! 9 Au revoir! 10 * Chantal Scalfi Rangel é formada em Letras Português-Francês pela Universidade de São Paulo, leciona francês e é revisora do Departamento de Marketing da PAULUS Editora. ** Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
9. Atração, charme pessoal; encanto, magnetismo. / 10. Tchau, até logo.
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Sertao: terra de homem que luta Cem anos após a sua morte, Euclides da Cunha continua inspirando pessoas a conhecer sua trajetória. Homem de personalidade forte, de temperamento ardente disfarçado em discreta timidez; ser humano inigualável, incomparável, incansável; viveu intensamente seus dias de jornalista, escritor, sociólogo, engenheiro e historiador; fez amigos, amou, viajou e construiu sua história pelo Brasil, país onde nasceu, viveu e morreu. Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em 20 de janeiro de 1866 no município fluminense de Cantagalo. Ficou órfão de mãe muito cedo, aos 3 anos de idade. Estudou em bons colégios, integrou o exército e foi expulso por um ato de indisciplina: lançou aos pés do ministro da Guerra, conselheiro Tomás Coelho, a sua espada de cadete em uma época da história marcada por governantes rígidos. Mudou-se para São Paulo e iniciou a escrita de alguns artigos para o jornal O Estado de S. Paulo. Quando voltou ao Rio de Janeiro, foi reintegrado ao exército e se formou primeiro-tenente. Casou-se com a filha de um dos líderes da República, Ana Ribeiro. Em novembro de 1896 explodiu em Canudos, município baiano, o conflito civil que rendeu a mais expressiva obra de Euclides da Cunha: Os sertões. Liderado pelo religioso Antônio Conselheiro e formado por sertanejos fanáticos e miseráveis, que lutavam contra as diferenças sociais em prol da liberdade numa condição de extrema pobreza vivida no sertão da Bahia, o movimento ganhou proporções grandiosas, dificultando o controle por parte do governo local, que pediu a intervenção das forças governamentais. O escritor julgava Canudos um ato de rebeldia dos revolucionários – pobres e famintos – a favor da monarquia e contra a república, mas, com a sua ida ao sertão como repórter do jornal O Estado de S. Paulo, Euclides muda seu parecer e escreve sua obra-prima. Segundo a professora Vilma Lemos, mestre em Língua Portuguesa e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, “o que movia Antônio Conselheiro era a paixão e o respeito pelo outro, e não o interesse monarquista. Era uma questão de dar condições sociais e humanas para aquela gente. Euclides da
Cunha acaba mobilizado por tudo o que vê. A obra, apesar de todas as dificuldades de vocábulos, jargões e palavras, é um libelo a favor da liberdade do ser humano e contra a opressão de governos extremamente autoritários, que não sabem enxergar a miséria das pessoas que sofrem e padecem”.
A linguagem “Difícil!” É assim que muitas pessoas definem a obra, principalmente os jovens do século XXI. De acordo com Antônio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras, “Os sertões é algo vertiginoso, sofisticado e opulento, bem o avesso das tendências minimalistas de hoje”, compara. Secchin ressalta que há muitos fatores que dificultam a leitura dessa obra atualmente, como o desconhecimento do quadro social e cultural do Brasil na passagem do século XIX para o XX, o vocabulário euclidiano e a diminuição do hábito da leitura entre os mais novos. “São duas coisas distintas, e não alternativas: a intelectualidade reconhece Euclides; boa parte da juventude o ignora”. A estudante de jornalismo Rebeca Borges, 24, começou a ler a obra na época em que fazia cursinho, mas não chegou a terminá-la. Ela diz que se interessou pela famosa frase de Euclides sobre a força do sertanejo. “Na época do colégio, aprendi sobre um escritor que certa vez havia dito que ‘o sertanejo é, antes de tudo, um forte’. Essa frase me deixou intrigada, pois naquela época a minha ideia de sertanejo era muito diferente da que tenho hoje. Assim que terminei o colegial, encontrei a obra de Euclides da Cunha, o autor da tal frase, no escritório da minha casa e então comecei a ler Os sertões. Não pude terminar, pois logo em seguida comecei a fazer cursinho e, infelizmente, a obra não era leitura obrigatória para o vestibular”, conta. Dácio de Castro, professor supervisor de Literatura no cursinho pré-vestibular Anglo, explica que dificilmente Os sertões será escolhido para esse tipo de exame classificatório: “Não é uma obra obrigatória para o vestibular, mas é para a vida. PoPáginas Abertas
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Literatura | Por Simone Maximo, da redação
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rém, para compreendê-la, é preciso uma preparação, noções de Geografia, Geologia, Antropologia, e as escolas não têm um currículo do Ensino Médio mais ou menos comum; cada uma faz o que quer. Logo, Os sertões não é lido no colégio, dificilmente é estudado na graduação, sendo assunto de estudo somente na pós-graduação por exigir maior maturidade”. O autor fluminense valoriza a língua em sua essência: utiliza palavras quase desconhecidas, vocábulos complexos, jargões científicos e evidencia a exuberância do idioma português. Segundo José Renato Nalini, presidente da Academia Paulista de Letras, a epopeia sertaneja é um dos mais expressivos livros já escritos no mundo: “Para quem precisa de vocabulário, é um exercício interessante ler Os sertões e procurar no dicionário as palavras utilizadas por Euclides. Há mais de 400 mil verbetes! E pensar que Machado de Assis usou apenas 4 mil para escrever toda a sua obra”, enfatiza. O gênero literário da obra sempre esteve em discussão. É possível encontrar versos alexandrinos, líricos, satíricos, épicos, metáforas, aliterações, entre outros detalhes enriquecedores da língua portuguesa. Além disso, o livro nasceu da experiência de um repórter, ou seja, há o olhar crítico de quem precisa mostrar a verdade dos fatos às pessoas que não podem presenciá-los. Euclides editou Os sertões várias vezes e assumia que os erros cometidos eram seus, não de revisão. José Leonardo do Nascimento, autor e organizador do livro Os Sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos, da Editora Unesp, e coorganizador de Juízos críticos - Os Sertões e os olhares de sua época, das Editoras Unesp e Nankin, explica que as controvérsias sobre o gênero do livro apareceram junto com a sua publicação, em 1902: “O crítico José Veríssimo, numa resenha publicada no jornal Correio da Manhã, quase simultânea ao lançamento do livro, referiu-se a uma espécie de invasão do vocabulário técnico-científico no gênero literário com Os sertões. Euclides respondeu-lhe imediatamente numa carta, dizendo-lhe que a literatura daqueles tempos deveria expressar as verdades científicas. Ele o definiu como um livro de ciência e arte”, afirma.
O amigo
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Pessoa sempre preocupada com sua reputação, perfeccionista, inquieto, briguento, mas um amigo inquestionável e presente nas relações com seus companheiros. Para José Renato Nalini, “Euclides era uma personalidade multifária, exuberante. Aparentemente ciclotímico, ao entusiasmo sobrevinha um desalento. Hoje o chamariam de bipolar, pois alguma depressão também transparecia. Mas era uma pes-
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São duas coisas distintas, e não alternativas: a intelectualidade reconhece Euclides; boa parte da juventude o ignora.
Antônio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras soa generosa, amável, interessava-se pela sorte dos demais, protegia os desvalidos. Comprava as brigas dos amigos. E não hesitava em voltar atrás, como o fez em relação ao livro Os sertões. Começou por acreditar que os jagunços eram ‘primatas’ e chegou à conclusão de que a luta de Canudos era insuscetível de uma singela visão maniqueísta”. Nalini acrescenta que Euclides gostava de escrever cartas aos amigos e familiares, pois sentia necessidade de se comunicar com aqueles que lhe eram queridos: “Ele possuía inúmeros amigos. Interessava-se por eles, por suas famílias, por suas vicissitudes. Cobrava notícias e lamentava não recebê-las com frequência maior”. Euclides da Cunha escrevia para muita gente: para seu sogro, o general Solon Ribeiro, para seus tios, cunhados e amigos que conquistou ao longo da vida – entre eles Francisco Escobar, intendente municipal que o incentivou a escrever sua grande obra –, para Machado de Assis e para outros que, provavelmente, nem chegaremos a saber.
A tragédia do matrimônio Em 1889 Euclides da Cunha viu, pela primeira vez, a mulher com quem se casou, Ana Ribeiro. A união ocorreu em 10 de janeiro de 1890, mas Ana não foi feliz no casamento. Luiza Eluf, autora do livro Matar ou morrer – o caso Euclides da Cunha, informa que Ana confidenciou à sua filha Judith que o marido não era carinhoso nem atencioso, e sim muito distante. “Ela sentia falta de companhia e amor”, conta. Com as frequentes viagens do marido, Ana conheceu Dilermando de Assis, um jovem de 17 anos com quem passou a se relacionar. Quando Euclides retornou de suas viagens, ela entregou-lhe uma carta, dizendo que o tinha traído “espiritualmente” e pedindo que prolongassem a separação com uma nova viagem ou até mesmo com o divórcio, mas não revelou que estava grávida de três meses do amante. Ele não deu ouvidos ao pedido da esposa, e, com a partida de Dilermando para a Escola Militar no Rio Grande do Sul, onde se destacou como campeão de tiro, a vida do casal ficou ainda mais difícil. Mauro, o primeiro filho de Ana com Dilermando, foi registrado por Euclides, mas faleceu sete dias após o seu nascimento. Luiza Eluf explica que há duas versões sobre a morte do
menino: “Existe a versão de que Euclides afastou o recém-nascido da mãe, impedindo que ela amamentasse a criança, que sucumbiu à inanição. Há outra versão, segundo a qual a criança teria morrido de má-formação congênita, devido a supostas tentativas de abortamento”. Quando Dilermando retornou ao Rio de Janeiro, Ana decidiu sair de casa e viver com o homem que a fazia feliz. Mas Euclides não aceitou ser trocado e resolveu matar o amante de sua mulher. No duelo, seis tiros foram disparados por Dilermando e sete por Euclides, que faleceu em 15 de agosto de 1909. De acordo com Luiza Eluf, a repercussão da morte do escritor causou grande impacto na sociedade, que na época era muito machista e encarou mal as desavenças do casal Ana e Euclides. “Ana foi sincera com ele, pois pediu a separação, insistindo que já não o amava; mas Euclides se negou a aceitar que a mulher o deixasse. Depois que ele morreu, Ana se casou com Dilermando, porém o preconceito e a discriminação contra ela e toda a sua família persistiram”, explica. A tragédia passional que acabou com a vida de um dos maiores escritores brasileiros também fez Ana e Dilermando sucumbirem ao sofrimento causado pelas consequências de um triângulo amoroso. Mais tarde, Ana foi traída por Dilermando, que parece nunca ter ficado em paz depois da morte da ex-mulher. Foi ele quem encerrou o último capítulo da “tragédia de Piedade”, doloroso caso de crime passional que levou uma das figuras mais importantes deste país, deixando ao seu povo um sentimento de saudade e admiração. Hoje, cem anos após esse trágico acontecimento, Euclides da Cunha continua sendo uma personalidade enigmática, digna de análises, estudos, debates e discussões. Sua obra ultrapassa fronteiras de tempo e espaço, emociona, espanta, vislumbra... 2009 é o Ano Nacional de Euclides da Cunha, momento de reler a história de quem mostrou ao mundo a força existente no coração de um sertanejo. Visite Casa de Cultura Euclides da Cunha Rua Marechal Floriano, 105 – São José do Rio Pardo, SP Telefone: (0**19) 3681-6424 casa.euclidiana@bol.com.br www.casaeuclidiana.org.br
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Literatura | Por Simone Maximo, da redação
Interior de Euclides Mais do que fluminense, Euclides da Cunha era do Brasil. Viajou por diversas cidades e deixou sua marca por onde passou. Em São José do Rio Pardo, cidade do interior de São Paulo, o autor não só fez história: ele a reconstruiu. A casa onde Euclides morou com a família enquanto reconstruía a ponte sobre o Rio Pardo, que na época desabou, é hoje a Casa de Cultura Euclides da Cunha – ou Casa Euclidiana –, tombada pelo Decreto-Lei 15.961 de 14 de agosto de 1946, promulgado pelo interventor federal do Estado de São Paulo, José Carlos de Macedo Soares. De acordo com Marly Terciotti, diretora da Casa de Cultura Euclides da Cunha, “o objetivo da casa é cultuar a memória e as obras do escritor, além de realizar anualmente a Semana Euclidiana. Trata-se de uma demonstração pública do amor que a cidade devota ao escritor. Há 97 anos ininterruptos se organizam e realizam Semanas Euclidianas”. O evento, iniciado com um desfile no dia 9 de agosto, promove ciclos de estudos diariamente, além de oficinas e outras atividades culturais. A Semana Euclidiana, como é chamada, termina sempre no dia 15 de agosto, com uma maratona e romaria cívica. Além de realizar essas atividades, a casa mantém um acervo com estante, livros, cadernetas, anotações e cartas que pertenceram a Euclides. A cidade também abriga o Recanto Euclidiano, conhecido por Herma, onde fica o mausoléu do escritor e a cabana
de zinco onde Euclides da Cunha escreveu Os sertões. Em São Carlos, também no interior de São Paulo, crianças e adolescentes participam anualmente da Mostra de Literatura Infantojuvenil, evento realizado desde 2007 pelo Sistema Integrado de Bibliotecas do Município de São Carlos (Sibi – São Carlos), com o apoio da prefeitura da cidade por meio da Secretaria Municipal de Educação, em atuação conjunta com a Coordenadoria de Artes e Cultura. Durante a III Mostra de Literatura Infantojuvenil, em abril deste ano, ocorreu também a Abertura do Ano Municipal de Euclides da Cunha, promovido pela Fundação Pró-Memória de São Carlos. De acordo com Claudete Cury Sacomano, “houve vários momentos dedicados a ele. Foi apresentada uma exposição de pirogravuras do artista plástico Rodolfo Peñachámul sobre Os sertões, sobre Antônio Conselheiro e também sobre o próprio Euclides. O público também pôde apreciar a peça Verás que um filho teu não foge à luta, adaptação de Os sertões apresentada pelo grupo Teatro Poronga, e também o cordel Euclides da Cunha e outros sertões, pelo artista Tárcio Costa”. Além dessas comemorações, a cidade, assim como São José do Rio Pardo, realiza todo mês de dezembro, desde 2001, a Semana Euclidiana. O evento é para rememorar a passagem do escritor por São Carlos, em 1901, quando foi acompanhar a construção do edifício do fórum como engenheiro do Estado de São Paulo.
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Atualidade | Por Carolina Piepke, da redação
Educação: um bem legado ao futuro
Imagem: Bruno Cavini
Em tempos de crise mundial, instala-se um cenário de cautela e de contenção de gastos que atinge os mais diversos setores. Dessa forma, diante da turbulência econômica atual, gerenciar riscos torna-se um desafio em potencial para escolas e famílias.
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Em um panorama econômico desfavorável, é comum deparar com denominações e conteúdos norteados pelo anseio de designar propósitos para tal momento, uma vez que os períodos de crise não implicam somente restrições financeiras, diminuição de crédito e recessão, por exemplo. Esse desequilíbrio abrange, além do sistema econômico, tanto a esfera social quanto a política. E tais problemas acabam gerando transformações nas condutas, nos posicionamentos, nos processos empresariais e organizacionais, aspectos que refletem, diretamente, nas finanças de cada cidadão. 21 Páginas Abertas
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Atualidade | Por Carolina Piepke, da redação Entenda a crise O que era uma crise no pagamento de hipotecas nos Estados Unidos transformou-se em uma crise no mercado de ações, afetando o crédito, o câmbio e contaminando a economia mundial, como explica Naércio Aquino Menezes Filho, professor titular (cátedra IFB), coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e doutor em Economia pela Universidade de Londres. Naércio esclarece que essa crise acometeu bruscamente o crédito bancário, atingindo fortemente a economia, dele dependente. Com o crédito estagnado, as empresas não puderam pagar suas contas e tiveram de demitir parcela significativa de seus funcionários. Nessa conjuntura de incerteza global, grande parte das companhias cancelaram os investimentos programados, fato que reforçou a crise. Os efeitos dos tempos de instabilidade financeira têm provocado uma desaceleração na economia, afetando, primeiramente, pessoas e organizações que se endividaram no período de crescimento econômico. E agora, neste momento de incertezas, essas dívidas se tornam mais onerosas. Naércio ainda analisa: “As pessoas acreditavam que o crescimento duraria para sempre e assim se endividaram excessivamente. As empresas fizeram apostas erradas nos seus investimentos financeiros. De forma geral, muitos acabaram tendo uma percepção errada do risco que corriam com suas decisões financeiras”.
Famílias Diante desse contexto, o desafio consiste em enfrentar tais períodos de instabilidade econômica, gerenciando todos os riscos que envolvem uma crise – e não são poucos! Para as famílias,
por exemplo, uma crise financeira demanda, além de uma administração mais cautelosa das finanças, atenção para com abalos emocionais e psicológicos que restrições financeiras podem provocar nos filhos. Muitas vezes, cortes no orçamento alteram a rotina familiar, o que implica a redução de compras, passeios e viagens, decisões que crianças e adolescentes não sabem gerir com facilidade. Assim, é fundamental explicar-lhes que tais empreendimentos são necessários para que o futuro de todos seja garantido. É o que aponta Marino Menossi Junior, diretor-presidente da Acerplan Consultoria e Assessoria Educacional: “O cotidiano pessoal não é tão diferente do empresarial. Temos de orientar o consumidor no esclarecimento do cenário atual e de sua real importância no contexto entre a demanda por necessidade e a demanda por impulso”. Ao evitar compras supérfluas e gastos desnecessários, as famílias se previnem contra as dívidas e minimizam a inadimplência, ao mesmo tempo que ensinam seus filhos a administrar melhor o dinheiro em tempos adversos, priorizando gastos que são indispensáveis: com educação, saúde, moradia, transporte e alimentação. Órgãos de defesa do consumidor dão orientações sobre o orçamento familiar em períodos de corte nas finanças: “[O consumidor] deve comprar somente o necessário, pesquisar preços, evitar financiamentos a longo prazo, pois os juros geralmente são altos. A crise aumenta a possibilidade de desemprego, e consequentemente o consumidor terá dificuldade em honrar suas dívidas. Além disso, ele deve cortar gastos com itens supérfluos (como TV por assinatura) e reduzir despesas com cartões de crédito. Quanto ao celular, caso esse não seja um item primordial para o exercício da profissão, deve-se evitar sua utilização ou procurar um plano mais barato”, instrui Márcia Christina Oliveira, técnica de defesa do consumidor do Procon-SP.
Quando você proporciona uma educação de qualidade para seu filho, está deixando uma herança que ninguém poderá lhe tirar.
Benjamim Ribeiro da Silva, professor e presidente do Sieeesp
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Desse modo, priorizar certos gastos, mesmo em períodos de crise, é investir em valores que resultarão, muitas vezes, em bens perenes a serem legados para o futuro dos filhos. Segundo a análise do professor Benjamim Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), “a educação é [um item] primordial [para a família], pois não é um custo, mas um investimento. Quando você proporciona uma educação de qualidade para seu filho, está deixando uma herança que ninguém poderá lhe tirar”.
Escola x Família Para as instituições de ensino, o entendimento desse panorama familiar pode proporcionar um relacionamento financeiro mais saudável. Um dos possíveis posicionamentos da escola, primeiramente, é a orientação sobre a administração do orçamento familiar, a fim de minimizar problemas de inadimplência. Para Marino Menossi Junior, o setor educacional já está preparado para agir preventivamente em situações de aconselhamento junto aos pais com dificuldade para cumprir suas obrigações contratuais. Ele ainda acrescenta que “a relação escola-cliente é um vínculo comercial de longo prazo. Nos casos de dificuldade financeira e de cobrança de inadimplentes, a escola deve ter como objetivo principal o recebimento do maior valor possível da dívida, no menor prazo, mantendo sempre o cliente. Nesta relação, pais, alunos e escola precisam sempre de informações claras e precisas para estabelecerem, juntos, os processos de ajuda compartilhada”. Benjamim Ribeiro da Silva ainda ressalta que essa orientação deve também servir de alerta às famílias para as consequências que os níveis elevados de inadimplência trazem às instituições de ensino. “Quem financia essa situação são os bons pagadores, pois a escola é somente uma prestadora de serviços e tem de repassar estes custos para os demais pais de alunos. A escola deve conversar com as famílias para esclarecer essa situação”.
Caminhos Um norte a ser seguido para minimizar os danos provocados por situações de incerteza econômica é a adoção de uma postura proativa por parte das instituições de ensino, como explica Benjamim: “As escolas devem estar muito atentas à inadimplência e fazer uma cobrança sistemática e proativa, porque, em relação às demais contas, os pais deixam a mensalidade escolar para pagar por último, devido à não cobrança de juros pela escola. No momento em que esta situação acontece, a escola passa a ter um grande problema de fluxo de caixa, pois essas dívidas vão para o sistema financeiro da instituição a juros altíssimos”.
Segundo Marino Menossi, para manter um equilíbrio sustentável no fluxo de caixa, visando também à redução de impostos, são necessários elementos estatísticos preditivos, ou seja, o acompanhamento de indicadores como a evasão escolar e os índices de inadimplência, além do estabelecimento do melhor perfil tributário e jurídico. Marino afirma ainda que as instituições de ensino devem “acompanhar o comportamento dos custos diretos e indiretos, manter sua situação financeira e capital de giro em ordem, proteger sua liquidez, reexaminar seus empréstimos e financiamentos e monitorar o cumprimento de cláusulas contratuais e acordos financeiros e não financeiros”.
O melhor investimento Se períodos de crise podem ser nocivos tanto para escolas quanto para as famílias e o caminho para reduzir possíveis prejuízos é o gerenciamento dos riscos abrangentes, a reeducação financeira torna-se mais uma opção de valor. A partir do momento em que os pais obtiverem uma orientação adequada sobre o orçamento familiar, priorizando gastos que sejam ações de investimento, boa parcela das dificuldades acarretadas por instabilidades econômicas será minimizada. Muitas vezes, os problemas financeiros surgem da combinação de alguns fatores, tais como formas equivocadas de pensar sobre dinheiro e investimento, eventos e despesas fora de controle e falta de informação transparente e precisa, como explica Marino. Por outro lado, “os maus investimentos consistem em investir e não aumentar renda ou faturamento; investir e não melhorar a qualidade, seja de vida, dos produtos ou dos serviços; e investir sem otimizar custos”, complementa. Com isso, gerir as finanças, tanto em tempos prósperos como em momentos críticos, é redirecionar valores para algo que trará um retorno garantido, um lucro pressuposto. Ao priorizar a educação como investimento, por exemplo, os pais constroem para seus filhos um bem perene, indestrutível, além de abrir uma gama de oportunidades futuras, resultado de todo o valor aplicado.
Sabedoria em tempos “bicudos” Desse modo, gerir as finanças em tempos de incertezas envolve aspectos implícitos nas relações humanas, familiares, políticas, econômicas, os quais muitas vezes concorrem com sentimentos, valores, condutas e leis. Momentos de crise perpetuam-se além das definições e alertam para a sinalização de riscos, para a indicação de novas projeções e investimentos e, acima de tudo, para mudanças de paradigmas. Páginas Abertas
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Especial formação de professor | Por Ana Maria Pereira*
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Sempre comprometida em difundir a cultura brasileira, a equipe de Páginas Abertas escolheu para essa edição o projeto pedagógico do livro Cinderela brasileira. O livro reconta a tradicional história da Cinderela em uma versão bem brasileira. Confira nas próximas páginas as dicas de Ana Maria Pereira e mostre aos seus alunos as raízes do nosso povo.
Título: Cinderela brasileira Autoria: Marycarolyn France Ilustrações: Graça Lima Projeto Pedagógico: Ana Maria Pereira Formato: 21 cm x 27 cm Número de páginas: 32
* Ana Maria Pereira é mestre em Educação e licenciada em Língua Portuguesa e Língua Francesa pela Unisantos. É promotora de leitura pelo Proler na Baixada Santista e diretora de escola municipal em Cubatão/SP.
Justificativa O conto de fadas Cinderela é conhecido em muitas versões. A autora de Cinderela brasileira nos traz uma versão desse conto com uma singularidade: sua origem advém da cultura indígena brasileira – dos índios Tenetehara, que vivem na região da floresta amazônica. O projeto procura aliar o prazer da leitura à busca de novos conhecimentos sobre a diversidade cultural do Brasil. Com essa proposta, elaboramos atividades em que os alunos protagonizem momentos de reflexão, conhecimento e ação, tendo como objetivo a conscientização e o respeito às diversas manifestações culturais. Os trabalhos contemplam momentos individuais, em pares, em grupo. O sucesso do projeto torna-se realidade com a ação coletiva, já que integra as atividades desenvolvidas nas diferentes áreas do saber em um único produto final. As atividades caracterizam-se pelo aspecto interdisciplinar; portanto, são correlacionadas e interdependentes. O projeto inicia-se com a leitura do texto e das imagens, formando o universo a ser interpretado e recriado. Posteriormente, os alunos interpretam o texto e o analisam em relação à cultura popular, regional e geográfica, aspectos que caracterizam a brasilidade do texto. Os conhecimentos referentes às ciências exatas são explorados no aproveitamento de materiais recicláveis e em atividades em que cálculos e medidas se fazem necessários. Os recursos tecnológicos são utili-
zados em pesquisas na internet, bem como para a apresentação dos conhecimentos adquiridos na elaboração e execução das atividades do projeto. Embora as atividades apresentem indicações e sugestões para sua execução, o professor é livre para adaptálas aos interesses educacionais de sua turma, bem como para propor novos desdobramentos para o tema. Informações gerais Projeto interdisciplinar: a diversidade sociocultural no conto de fadas – releitura que se faz na tradição oral. Conteúdos abordados: estruturas textuais: da narrativa à dramatização; aspectos socioculturais, econômicos e geofísicos; uso de material reciclável; cálculos e medidas. Temas transversais: Ética, Cidadania e Meio Ambiente. Público indicado: alunos do Ensino Fundamental II. Objetivos Levar o aluno a: • estabelecer relações entre a leitura e a realidade vivida; • promover o trabalho e a colaboração entre grupos; • conhecer manifestações culturais diferentes do seu contexto social; • respeitar as diferenças socioculturais; • protagonizar projetos escolares; • integrar o conhecimento advindo das diferentes áreas do saber; • valorizar suas produções por meio da socialização do conhecimento adquirido.
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Obras correlacionadas As aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi. A leitura deste e de outros contos de fadas poderá incentivar o trabalho de recriação de histórias tradicionais de acordo com aspectos socioculturais. Coleção (Re) fabulando (vol. I ao VII), de Elias José. Essa coleção apresenta narrativas herdadas da rica cultura popular brasileira, encantadas pelo tempo, reescritas de maneira poética e simples. Meu Brasil de A a Z, de Ulisses Tavares e Maria Galas. Neste livro o leitor tem um panorama da diversidade cultural brasileira em versos e em obras de arte. Sugestões de atividades por área do saber Diálogo com a classe sobre o projeto: explique aos alunos que o objetivo principal da leitura da obra será a elaboração e apresentação do texto em dramatização teatral. Para tanto, várias atividades serão desenvolvidas, principalmente em grupo. Entre as atividades, estão leituras, interpretação, pesquisas sobre a origem do texto e adaptação para a linguagem do gênero dramático.
Linguagem 1. Leitura do livro: antes da leitura da obra, recorde com os alunos a história de Cinderela. Explique-lhes que há muitas versões para esse conto de fadas. Informe-lhes que, ao escrever Cinderela brasileira, a autora se baseou numa versão da tradição indígena Tenetehara, tribo que vive na floresta tropical do Estado do Maranhão, parte da Bacia Amazônica. Portanto, os costumes, a cultura e o modo de vida dos índios Tenetehara são retratados no livro. Disponibilize um tempo para que façam a leitura individual do texto. Em seguida, proponha a leitura expressiva (em voz alta). Distribua as “falas” das personagens; ou seja, na leitura expressiva, cada aluno lerá o texto que corresponde a uma personagem, procurando entoar a voz de acordo com a situação vivida. Um aluno lerá todas as “falas” do narrador da história.
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2. Correlação entre ilustração e texto: divida a classe em sete grupos. Distribua duas ilustrações da obra para cada grupo. O trabalho de cada grupo consistirá em: a) descrever a ilustração (aspectos que caracterizam o ambiente e as personagens); b) relacionar a situação ilustrada à passagem de texto correspondente; c) nomear a ilustração (ou seja, intitulá-la). Incentive-os a reproduzir ou a fazer uma releitura das ilustrações em guache ou usando lápis de cor. Ao término dos trabalhos, os grupos deverão apresentar seus resultados aos colegas de sala. 3. Caracterização das personagens: como seriam as personagens da história? Novamente em grupos, solicite que os alunos caracterizem os aspectos físicos e psicológicos de cada personagem textual. Como são as roupas? O comportamento? A apresentação física? Os sentimentos íntimos? O tom de voz? O andar? Oriente-os para que fiquem atentos aos detalhes. 4. Caracterização do ambiente em que se passa a história: peça aos grupos de trabalho que descrevam os espaços e a ambientação da história. Quais objetos, quais paisagens fazem parte de cada ambiente? Se puderem, sugira que apresentem o trabalho com os dados escritos e ilustrados. Explique-lhes que servirá para compor o cenário da peça. Criação de diálogos: na obra há muitas situações narradas que podem ser expressas em “falas” das personagens. Divida a classe em grupos de trabalho e solicite aos alunos que criem diálogos para as diversas situações narradas. Por exemplo: o diálogo entre Maria e seu pai; o diálogo de Maria com as irmãs ao conhecê-las, tentando ser gentil e sendo desprezada. Estipule um prazo para a apresentação escrita e oral dos diálogos. 5. Reescrita coletiva do texto com os novos diálogos: proponha que a turma forme um novo texto que incorpore os diálogos criados pelos grupos. Em trabalho coletivo, selecionem os melhores diálogos dentre os apresentados, para que possam formar um texto único de recriação da história com diálogos. De acordo com a situação narrada, conforme os alunos forem indicando as falas das personagens, escreva-as na lousa e peça que façam o mesmo nos cadernos.
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6. Mudança de gênero -- do narrativo para o dramático: agora que o texto foi acrescido dos diálogos criados e selecionados pelo grupo, o professor poderá iniciar os trabalhos de mudança da estrutura narrativa para a estrutura dramática. Para tanto, explique aos alunos que no texto dramático não há narrador. As rubricas e os diálogos entre as personagens substituem o texto do narrador. O ambiente em que se passa a cena é apresentado no texto para indicar o cenário da peça teatral. A fala de cada personagem é precedida do seu respectivo nome. A indicação de suas ações, sentimentos e emoções aparece entre parênteses no texto (rubricas). Com a turma, reescreva o texto, incorporando as indicações de cenário, de mudança de cena e de fala das personagens, de ações, sentimentos e emoções. Oriente-os para o uso da rubrica. 7. Atividade integrada: dramatização O texto teatral está pronto. É hora de distribuir os papéis para a montagem da peça. Além dos “atores”, o grupo precisará eleger a equipe de cenografia (responsável pela elaboração do cenário), de sonoplastia (que selecionará as músicas de fundo para as cenas), de direção, a equipe responsável pela caracterização física das personagens (roupas e maquilagem). Alguns alunos podem ficar responsáveis pela divulgação da apresentação teatral, cuidando da elaboração de cartazes e convites. Faz-se necessário o agendamento de ensaios, desde a leitura dramatizada do texto à encenação. Os professores de Língua Portuguesa, Arte e Educação Física podem se unir na orientação aos alunos. 8. Gravação das falas: como um exercício de verificação da entonação adequada da voz e clareza na fala, sugiro que, em um dos ensaios de leitura dramatizada, o texto seja gravado e ouvido pelos alunos, a fim de corrigir possíveis falhas. Ciências Humanas 1. Origem do conto: essa versão do conto de fadas traz elementos característicos da cultura e do modo de vida dos índios Tenetehara. Para compreender as situações narradas, bem como os aspectos que diferem do original – por exemplo, a substituição do encontro de Cinderela com seu príncipe no baile realizado no palácio, como consta do original, pelo encontro com o soldado na igreja –, os alunos devem conhecer melhor a história da catequização dos índios. Ao final do conto, a autora disponibiliza (In: Nota da Autora) dados pertinentes ao seu contexto de origem sociocultural. Peça aos alunos que leiam essas informações e procurem formar um panorama da cultura dos índios Tenetehara.
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Vários sites da internet disponibilizam mais dados sobre o assunto. Solicite que os alunos complementem as informações do livro com pesquisas nesses sites. Estipule uma data para a apresentação dos resultados e para a realização de um debate. O debate terá como objetivo relacionar a versão do conto ao contexto sociocultural e econômico dos índios Tenetehara. 2. Formação de material explicativo sobre a origem indígena do conto: ao divulgar a apresentação da peça teatral, os alunos também podem divulgar informações sobre a origem do conto. Sugiro a confecção de cartazes e/ou folhetos explicativos sobre a cultura e o modo de vida dos índios. Após a apresentação da peça, poderão reservar um momento para o debate sobre a sua origem sócio-histórica, compartilhando o conhecimento adquirido. Ciências Exatas Os professores desta área poderão auxiliar na elaboração dos cenários, no que diz respeito à sua estruturação arquitetônica, bem como no uso de materiais recicláveis.
Temas Transversais Diversidade cultural: proponha momentos de reflexão e debate sobre o contexto sociocultural do grupo indígena que originou o conto. O objetivo do debate centraliza-se na apreciação da diversidade cultural brasileira e no respeito às suas manifestações. O debate, ao final da apresentação teatral, deve refletir o alcance desse objetivo junto aos alunos participantes do projeto. Avaliação: proponho que a avaliação seja desenvolvida com comentários qualitativos e críticas construtivas, formuladas com o objetivo de melhorar o que foi apresentado. Abra espaço para a autoavaliação e para sugestões de reelaboração das estratégias de trabalho.
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Ciência | Por Maria Isabel Landim
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Cento e cinquenta anos de
origem das espécies:
existe razão para celebrarmos? Em novembro de 1859 foi publicado o livro que se tornaria um marco no pensamento ocidental sobre a diversidade biológica. Mesmo abordando um tema circunscrito ao domínio das ciências naturais, a obra causou desconforto e controvérsia aos setores mais conservadores da sociedade europeia do século XIX. O motivo girava principalmente em torno da questão sobre a origem do homem, que, de filho predileto do Criador, passou a ser visto apenas como mais uma espécie entre as milhões que habitam este planeta. O que causa espanto é que a polêmica em torno da obra de Darwin parece perdurar até os dias atuais. Assim, se não temos motivos para real celebração, temos fortes razões para nos valer dessa oportunidade e esclarecer mal-entendidos históricos em torno de temas ditos darwinianos, reforçando a validade das muitas descobertas do cientista britânico.
Até meados do século XIX, a visão predominante a respeito da biodiversidade era a de que as espécies de seres vivos eram criadas por Deus e permaneciam inalteradas ao longo de suas existências. Esta visão nós chamamos atualmente de “criacionismo”. As poucas pessoas que, por meio de observação cuidadosa da natureza, acreditavam que as espécies poderiam sofrer algum tipo de transformação não apresentavam um mecanismo capaz de explicar tal fenômeno. Ao menos até aquele momento. Os preceitos criacionistas foram a base da educação formal do jovem Charles Darwin, recebida no Christ College, em Cambridge, Inglaterra, sobretudo ao estudar a obra de um dos pais do que se denominaria, quase dois séculos depois, de “Design Intelligence” (DI), William Paley. Ele sugeria que as espécies desempenhavam um papel específico em uma natureza harmônica e planejada. Logo, tal ordem
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não poderia ser fruto do acaso, e sim resultado do trabalho todas as demais espécies do planeta, de maneira gradual, de um projetista. Esta visão ficou conhecida como “Teopor meio da descendência com modificação, promovida logia Natural” e seduziu completamente Darwin e outros pelo processo de seleção natural – e aqui residia a sua “henaturalistas daquele período. Semelhante ponderação, na resia”. Darwin bania do estudo dos fenômenos naturais época de Darwin e na Inglaterra, funcionava como uma as respostas sobrenaturais e, desta forma, fundava novo teoria do conhecimento sobre a natureza. e próspero campo do conhecimento, que deu origem à Aos 21 anos, Darwin embarcou no navio da coroa bribiologia do século XX e início do XXI. As ideias centrais tânica, o HMS Beagle, em sua viagem ao redor do mundo, propostas por ele eram simples: o seu livro A origem das eslevando consigo as ideias da Teologia Natural. Esta viagem pécies apresentava um número convincente de evidências e representou para o jovem uma oportunidade de observar fenômenos que poderiam ser claramente compreendidos padrões na natureza que o levaram a questionar a visão traà luz da nova teoria. dicional da diversidade, para, assim, elaborar a sua própria. Entretanto, podemos observar que a revolução daMuitas questões ocorreram ao jovem Darwin, como: “Por rwiniana, que pretendia suplantar a visão criacionista, que as espécies de animais relacionadas são substituídas não se deu por completo nestes 150 anos. Neste ano de num dado ambiente?” Darwin chamava esse padrão celebração, observamos que o maior destaque dado de “substituição geográfica”. E mais: “Por que pelas matérias de jornais e revistas versa sobre Charles Darwin haveria o mesmo padrão de substituição das a falsa polêmica entre evolução e criacionisespécies no decorrer do tempo?” Em ramo (mesmo que travestido em DI). Este zão da substituição temporal. Por fim: fato, por si só, já é espantoso; e, como “Por que espécies proximamente apase não bastasse, ele vem acompanharentadas são observadas quando existe do de outro, não menos assustador: alguma barreira geográfica (oceanos, levantamentos superficiais ou mais cadeias de montanha etc.) entre elas?” profundos indicam grande desconheGraças ao fator conhecido como isocimento dos conceitos básicos da telamento geográfico. oria evolutiva, seja a de Darwin, seja Aos poucos, essas e outras pondea contemporânea, enriquecida pelos rações que Darwin continuou a fazer dados dos novos campos do conhecom base em suas observações o lecimento, como a genética, a genômica, varam a propor que todas as formas de a biologia molecular e a biologia evoluvida teriam surgido a partir de um ancestral tiva do desenvolvimento. Essa constatação e divergido pelo processo de descendência aponta para a necessidade urgente de promocom modificação. Mas o mecanismo que promover a atualização dos currículos e da formação dos veria as mudanças estruturais no decorrer do tempo só foi professores de ciências. Os principais equívocos repetidos elaborado por ele após tomar conhecimento do livro do são os relativos à natureza das teorias científicas (mesmo reverendo Thomas Malthus, Ensaio sobre a população. De que isso não faça os criacionistas questionarem todas elas, tal leitura, Darwin depreendeu que a natureza é pródiga mas centrarem o foco apenas na oposição à evolução), à em gerar novos seres, mas os recursos para mantê-los são natureza da própria teoria evolutiva e ao papel da adaptarestritos. Dessa forma, a batalha dos mais fortes com os ção. Além disso, mesmo com os atuais avanços na área da mais fracos ocasionaria uma luta pela sobrevivência, hibiologia evolutiva, os exemplos estudados em sala de aula pótese que possibilitou ao cientista uma teoria com a qual são os mesmos há décadas. pudesse trabalhar, chamada de “seleção natural”. Não é incomum ouvir de defensores do criacionismo Ao tratar da diversidade biológica, Darwin não teve que a teoria evolutiva é apenas uma teoria. Na verdade, isso dificuldade para, alguns anos mais tarde, aplicar a sua reflete o baixo grau de cultura científica que se tem em gecompreensão na explicação da própria origem do homem. ral. Confundir teoria científica com o sentido que a palavra Para ele, a nossa espécie teria surgido da mesma forma que “teoria” assume na linguagem coloquial é desconhecer que 32 Páginas Abertas
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esse léxico se tornou, no âmbito científico, jargão com sentido muito específico. Se no dia a dia usamos “teoria” como sinônimo de “palpite”, no jargão científico ela assume uma definição e rigor específicos. Para a ciência, “teoria” é uma explicação muito bem sustentada por inúmeras evidências a respeito de algum fenômeno natural. Neste aspecto, a teoria da evolução é uma explicação sobre a diversificação da vida na Terra corroborada por evidências de diversas áreas do conhecimento, tais como geologia, paleontologia, biogeografia, biologia evolutiva do desenvolvimento, genética etc. Cento e cinquenta anos desde a publicação de A origem das espécies não parecem ter sido suficientes para que a natureza do processo apresentado por Darwin em seu livro – a evolução por seleção natural – fosse compreendida pela maioria das pessoas, mesmo as escolarizadas. Um estudo recente (Tidon e Lewontin, 2004) mostrou que professores do Ensino Fundamental de Brasília julgavam fácil ensinar as teorias de Darwin, assim como as do naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck. Caberia esperar, como consequência, que diferenciar Darwin de Lamarck também poderia ser visto como trivial. Mas a pesquisa qualitativa nos aponta outra realidade, pois um dos equívocos mais comuns sobre as ideias de Darwin, entre professores ou não, é que a evolução, para ele, visaria a perfeição. As ideias relacionadas ao propósito, à direção e ao fim do processo evolutivo se aplicam bem ao pensamento de Lamarck, mas não ao de Darwin e muito menos ao da teoria evolutiva contemporânea. A seleção natural, como proposta pelo britânico, é um processo bastante simples que dá conta, de forma surpreendente, da origem da complexidade observada entre os seres vivos e não tem uma direção predeterminada. Para Darwin não existia um melhor absoluto (ou perfeição) para determinada espécie porque ela estaria inserida em um ambiente extremamente complexo. A seleção, por sua vez, atua segundo parâmetros que variam continuamente, como a disponibilidade de alimento, os predadores do entorno e a temperatura. O que é selecionado hoje em determinada população poderá não ter valor adaptativo se ocorrido em outro momento e/ou local, seja com exemplares da mesma espécie ou de outra qualquer. A seleção natural é, em última instância, o processo que privilegia a transmissão de atributos que garantem a sobrevivência e a reprodução em maior escala dos indivíduos que os possuem. Com o tempo, esses atributos, raros de início, acabam tendo maior representação nas gerações futuras. E, se para Darwin não
fazia sentido falar em ótimo absoluto para uma espécie, fazia menos sentido ainda tomar uma espécie (Homo sapiens) como parâmetro ótimo para as demais. Outro mal-entendido comum é sobre a natureza da adaptação. Na teoria darwiniana, adaptação seria o resultado do processo evolutivo. Sua equação fundamental seria: dado qualquer sistema que apresente variabilidade hereditária capaz de garantir sua replicação como resposta às pressões seletivas, este variará sua composição no tempo, resultando em maior adaptação do sistema ao meio. Porém um equívoco muito comum é supor que o processo adaptativo é a resposta de um indivíduo ajustando-se a novas circunstâncias. Novamente a linguagem do dia a dia dificulta a compreensão de um conceito. Além disso, tal interpretação seria uma aproximação ao pensamento de Lamarck, defensor de que uma força intrínseca aos indivíduos os levaria a modificar seus hábitos para, mais tarde, sofrerem mudanças estruturais capazes de ser transmitidas à prole. Hoje sabemos que esse tipo de adaptação individual, geralmente, afeta apenas o fenótipo (expressão gênica) dos organismos, que não é transmitido para as gerações seguintes. O que essas considerações nos indicam é que a celebração dos 150 anos de A origem das espécies é uma oportunidade muito bem-vinda para realizarmos um diagnóstico da cultura geral sobre a teoria no mundo. O quadro negativo observado não diz respeito apenas ao nosso país; devemos nos perguntar o que houve de errado com o ensino dessa teoria ao longo dos anos, pois, como dizia o geneticista russo Theodor Dobzhansky, “nada faz sentido na biologia a não ser à luz da teoria evolutiva”. Desta celebração devemos partir para atitudes concretas em torno da divulgação científica e implementar novas propostas de ensino e formação continuada dos professores, para termos, de fato, verdadeiros motivos para comemoração. E, no futuro, certamente as sociedades com cultura científica sólida estarão protegidas contra o avanço das condutas obscurantistas assistidas recentemente com o fortalecimento do fundamentalismo religioso. Assim como nos soa risível questionar, hoje, o heliocentrismo, pôr em xeque a validade da teoria evolutiva deveria ser visto, no mínimo, como uma atitude pueril.
* Maria Isabel Landim, Museu de Zoologia da USP.
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Sala de Aula | Por Instituto Unibanco
Instituto Unibanco: projetos para
Jovem de Futuro Entre os projetos de destaque voltados para a educação estão o Jovem de Futuro e o Entre Jovens. A proposta do Jovem de Futuro é oferecer às escolas públicas de Ensino Médio regular apoio técnico e financeiro para a concepção e implantação de um plano de melhoria da qualidade de ensino. Com duração de três anos, a ação visa a aumentar o rendimento dos alunos nos testes padronizados de língua portuguesa e matemática e diminuir os índices de evasão escolar. O projeto baseia-se no princípio de que pequeno investimento de recursos técnicos e financeiros, posto à disposição de qualquer
escola pública, pode causar um impacto significativo nos resultados dos alunos, desde que respeite a autonomia da escola, mobilize a comunidade escolar em torno de metas e estratégias pactuadas, reforce a gestão para resultados e ofereça incentivos e melhoria das condições de trabalho para professores e alunos. Estão inseridas no Jovem de Futuro 88 escolas públicas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Em 2009, mais 20 escolas no Vale do Paraíba e outras 20 na região metropolitana de São Paulo foram incluídas. Uma avaliação finalizada este ano por um grupo de pesquisadores coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea, mostrou uma melhoria bastante significativa no rendimento escolar, em português e matemática, de alunos atendidos pelo Jovem de Futuro, apenas um ano após a sua implantação, em 2008, comparativamente a outros não beneficiados pelo projeto. A pesquisa, feita com alunos de escolas de Belo Horizonte e Porto Alegre, mostrou que o efeito causado na aprendizagem de um aluno que frequenta por um ano o projeto Jovem de Futuro equivale ao esforço de cinco anos, em uma escola que não tenha adotado o projeto, para aumentar na mesma proporção a porcentagem de alunos com proficiência em português e matemática, tal como requer a 3ª meta do Todos pela Educação, segundo a qual o Brasil deve ter, em 2022, 70% de seus alunos com proficiência acima do mínimo recomendado pelo Saeb. Isso significa que as escolas que têm acesso ao Jovem de Futuro podem reduzir muito o número de anos necessários para ter 70% de seus alunos dentro da 3ª meta do Todos pela Educação. O projeto investe, ao ano, 100 reais por aluno do Ensino Médio nas escolas beneficiadas. “Esse recurso corresponde a Foto: Divulgação
Braço social do conglomerado Unibanco, o Instituto Unibanco atua, há 27 anos, em iniciativas nas áreas de educação, trabalho e responsabilidade socioambiental. Seus esforços são especialmente dirigidos a jovens em situação de vulnerabilidade social nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Os projetos implementados, sempre em parceria com os governos locais e nas escolas públicas, visam à melhoria da qualidade da educação, a fim de estimular a permanência do jovem em sala de aula até a conclusão do Ensino Médio. Com as iniciativas, o Instituto Unibanco quer aumentar as oportunidades de inserção no mercado de trabalho dos estudantes atendidos. A evasão escolar entre os jovens, aliada ao baixo rendimento na escola, provoca o já chamado “apagão” de capital humano. “Hoje faltam profissionais para uma série de postos de trabalho. Isso tende a se agravar futuramente se não houver ações para enfrentar o problema, pois a qualificação de um profissional exige, no mínimo, o Ensino Médio completo. Para um país como o Brasil, que pretende crescer, esse é um sério entrave”, analisa a superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel.
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reduzir a evasão escolar entre jovens apenas 10% do que o sistema aplica nas unidades, ou seja, é apenas um ‘fermento’. Mas, com o envolvimento da comunidade e com bom plano de trabalho, a melhoria acontece”, afirma o coordenador nacional do Jovem de Futuro, Vanderson Berbat. Segundo ele, o resultado do estudo indica que a organização está no caminho certo. “Desta forma, toda metodologia do projeto poderá ser incorporada à prática da escola, para que ela dê continuidade ao trabalho quando passar o período de três anos em que o Instituto Unibanco lhe dá apoio.”
anos para o indivíduo ser incluído. Se a sociedade é industrial, são necessários pelo menos oito anos de ensino. Em uma sociedade do conhecimento, ou o cidadão termina o Ensino Médio, ou não tem entrada no mercado de trabalho. O Ensino Médio é passaporte para qualquer tipo de inclusão.” A coordenadora nacional do Entre Jovens, Graciete Nascimento, explica que a relação de jovem para jovem é um sucesso. De acordo com os resultados da última avaliação, no ano passado, os universitários conseguem conquistar os alunos e, assim, ajudá-los a melhorar seu desempenho. “Só no primeiro ano do projeto, 32% dos alunos conseguem alcançar o nível adequado de aprendizado em português e em matemática. Esse percentual é de 11%”, afirma Graciete.
Entre Jovens Já o projeto Entre Jovens oferece atendimento educacional complementar a alunos da 1ª série do Ensino Médio regular com dificuldades em português e matemática por meio de um programa de tutoria com universitários licenciados nessas disciplinas. Os universitários desenvolvem nos jovens alunos de 1ª série do Ensino Médio competências e habilidades não adquiridas no Ensino Fundamental que são pré-requisitos fundamentais para seu bom desempenho. Participam também alunos de pedagogia que auxiliam os coordenadores de cada escola na gestão administrativa e pedagógica do projeto. Se, para os alunos de 1ª série do Ensino Médio, o Entre Jovens é um auxílio importante para superar suas dificuldades atuais, para os jovens universitários o projeto representa uma oportunidade de pôr em prática os conhecimentos teóricos adquiridos na faculdade, fator que auxilia a formação desses futuros educadores. Garantir à juventude mais oportunidades no campo da educação é, segundo Wanda, imprescindível para reduzir os índices de pobreza. “Se a sociedade é agrária, bastam quatro
Investimentos O Entre Jovens receberá, em 2009, R$ 5,130 milhões em investimentos. O projeto vai beneficiar 171 escolas e mais de 25 mil alunos no Rio de Janeiro, Viória, Juiz de Fora, Brasília e Campinas. Só no Rio de Janeiro, os investimentos chegam a R$ 2 milhões em 68 escolas públicas da cidade, beneficiando 17 mil alunos e 400 tutores. A entidade ampliou sua abrangência no Rio, levando o projeto para 33 escolas de municípios da Baixada Fluminense. Para o Jovem de Futuro, foram reservados R$ 11,311 milhões. A iniciativa atenderá mais de 119 mil jovens de 87 escolas nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Investir em direitos, serviços e políticas que garantam mais oportunidades para os jovens é fundamental para inverter o quadro agudo de pobreza que permeia a sociedade. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas e patrocinada pelo Instituto Unibanco, há, a cada ano de estudo, um aumento médio de 15% na renda do trabalhador. Foto: Divulgação
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Texto produzido pela Assessoria de Imprensa do Instituto Unibanco.
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Ouvi, Gostei e Recomendo! | Por Pedro Serico Vaz Filho*
Liberte-se Imagem: Divulgação
do nervosismo e das tensões
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Preguiçosos, sedentários e pessimistas, que vivem anunciando o começo, na segunda-feira, de um modo de vida saudável, mas não chegam nem a tentar, atenção! O impulso para uma ação de mudança pode ser encontrado num livro que transmite significativa mensagem de reforma comportamental, intitulado Liberte-se do nervosismo e das tensões, escrito por Víctor Manuel Fernández e publicado pela PAULUS. Em 73 páginas, o autor proporciona verdadeira terapia, que cumpre também o papel de ombro amigo. Essa demonstração de amizade fica mais próxima quando, além da leitura, se ouve a versão deste trabalho em audiolivro, narrada pela voz incomparável do padre Tom Viana. A interpretação do religioso não é apenas uma leitura ou reprodução de palavras; o texto é apresentado com sensibilidade, explorando a linguagem que sai dos olhos e ruma em direção aos ouvidos, acompanhada de adequada sonorização musical. Esta conduz a apresentação, que percorre o imaginário do ouvinte, proporcionando, assim, a visualização de um retrato sonoro. Tal abordagem convida ao exercício de enxergar situações do cotidiano, da vida em casa, no trabalho, na relação com os amigos, gerando uma autoavaliação sem teor de culpa, com sinais de vida, conforme a temática explorada pelo livro. Esta produção indica, por meio de simples movimentos e leves exercícios físicos e mentais, como a nossa vivência pode ser agradável. Padre Tom realça, com a fala, os aspectos que merecem destaque nas iniciativas básicas que visam à melhora de conduta e postura. Logo no início do texto, uma amostragem dessa orientação: “Quem resiste a algo e se sente frágil diante de uma agressão acaba enfraquecendo, porque, ao
perceber-se indefeso, de alguma maneira, deixa-se morrer”. Entre as atividades físicas propostas nesse projeto, há algumas bem fáceis de ser realizadas: “Podemos sair e caminhar sem pressa, mas sem parar; com rapidez, mas sem forçar-nos demasiadamente. Evitar todo pensamento inútil, toda lembrança, todo projeto. Estar só aí, no caminho. Se surgem pensamentos e distrações, não lutar contra eles nem odiá-los. Só afastá-los serenamente e voltar ao contato com o caminhar, sentindo que tudo é maravilhoso”. Este trabalho possui nítida relação com a linguagem radiofônica, remetendo ao que o livro indica: o movimento. Tal ato também está representado no som que dá vida às palavras, as quais saem do papel e podem ser escutadas de diversas maneiras, seja enquanto realizamos alguma atividade doméstica ou simplesmente fazemos aquela parada necessária para nos dedicarmos exclusivamente à audição e à realização da sequência de exercícios de relaxamento proposta pelo autor. A relação entre corpo e mente é muito clara neste livro, sempre com uma referência espiritual para a libertação do nervosismo e da tensão. A palavra “consciência” surge constantemente. A firmeza da voz do padre Tom, no audiolivro, fortalece a ideia necessária de que é preciso substituir o verbo “enfrentar” pelo “saborear” a vida. Já a palavra “renovação”, certamente, é mais presente no pensar do ouvinte desta produção, a qual nos convida a perceber nossas possibilidades físicas e mentais para um aproveitamento prazeroso de nossa existência. * Pedro Serico Vaz Filho é jornalista, professor de Radiojornalismo da Faculdade Cásper Líbero, especialista e mestrando na área de Comunicação.
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Páginas Abertas Indica Ciências sociais na atualidade – tempo e perspectiva
Indivíduo e comunidade na filosofia de Kierkegaard
Vera Chaia e Eliel Machado (orgs.)
Marcio Gimenes de Paula
Os organizadores Vera Chaia e Eliel Machado reuniram, nesta obra, textos que são resultados de pesquisas e de dois seminários, O Brasil Pós-Transição Política e As Ciências Sociais no Atual Processo de Articulação entre o Global e o Local, realizados em conjunto por professores da PUC-SP e da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 2006 e 2007, por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad/Capes).
Filósofo dinamarquês nascido em 1813, Kierkegaard foi um crítico da religiosidade institucional e estatutária, assim como da inteira cena cultural europeia do final do século XX. Um dos pensadores mais importantes e fecundos do cristianismo contemporâneo, Kierkegaard deixou a vida, marcada por dramas pessoais, exercer profunda influência em suas obras.
Formato: 13,5 cm x 21cm
Formato: 16 cm x 23 cm
Por que ler?
Por que ler?
Esta obra conta com a participação de 14 autores que colaboraram, por meio de seus artigos, com as análises e discussões sobre as Ciências Sociais e seus desdobramentos. O intuito é formar o futuro sociólogo, antropólogo e cientista político de modo aprimorado, ou seja, dotando-o de autonomia e capacidade de fazer escolhas com lucidez.
O livro, escrito por Marcio Gimenes de Paula, analisa a questão do indivíduo e da comunidade no interior da crítica kierkegaardiana à cristandade. Essa polêmica revela uma face religiosa ou teológica, mas, primeiramente, reflete uma crítica filosófica, mais bem observada na óptica da filosofia da religião.
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Ética em movimento
As ambiguidades do prazer
Anor Sganzerla; Ericson S. Falabretti;
Francisco Bravo
Francisco V. Bocca (orgs.)
A humanidade atravessa, de tempos em tempos, períodos de grandes turbulências sociais, econômicas e psicológicas, que provocam mudanças de paradigmas e transformações culturais. Neste livro, organizado por Anor Sganzerla, Ericson S. Falabretti e Francisco V. Bocca, são apresentadas as considerações que incidem nos pensadores e ideias advindas do universo ético-filosófico, desde a Antiguidade até o presente.
O que é o prazer? Qual é seu lugar na vida humana? É o prazer a causa do desejo ou, ao contrário, o desejo é a causa do prazer? Questionamentos relevantes sobre o prazer na filosofia de Platão suscitaram uma série de artigos do autor Franciso Bravo, que, reunidos, constituem este ensaio, pertencente à coleção Philosophia, coordenada por Rachel Gazolla.
Formato: 16 cm x 23 cm
Formato: 13,5 cm x 21 cm
Por que ler? O livro aborda temas éticos analisados na perspectiva da filosofia, dividindo-se em três blocos distintos. Além disso, os autores disponibilizam, ao final de cada temática, questões para debate com os alunos e sugestões de leituras sobre o autor estudado. Alguns textos trazem também indicações de filmes ilustrativos que ampliam a especulação filosófica iniciada pelas leituras.
Por que ler? Na obra, os aspectos do prazer são considerados na perspectiva da cultura grega, vista como uma cultura do prazer. Já a semântica do prazer é outro tema analisado pelo autor, assim como o ser do prazer nas esferas física, fisiológica, psicológica, ontológica e, por fim, epistemológica.
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Páginas Abertas Indica Darwin, Teilhard de Chardin e Cia. – a Igreja e a evolução
Os lusíadas
Jacques Arnould
de Lino de Albergaria)
Desde os trabalhos de Charles Darwin, a Igreja demora em situar-se perante as teorias sobre a evolução do ser vivo e perante os avanços da pesquisa nesse domínio. Embora o papa João Paulo II tenha proposto, no passado, uma reavaliação dessas teorias, é indiscutível que o autor do livro A origem das espécies, publicado há 150 anos, continua a gerar polêmica.
Considerado o maior poema épico da língua portuguesa, Os lusíadas, publicado em 1572, é um clássico no qual Camões canta as conquistas de Portugal, as glórias dos navegadores e as histórias dos reis do passado. Na apresentação do livro, Lino de Albergaria, responsável pela adaptação, afirma que a rigorosa construção poética da obra reflete uma visão de mundo que procurava exprimir a simetria e a ordem presentes na arte clássica.
Formato: 14 cm x 21 cm
Formato: 12 cm x 18 cm
Por que ler? O autor Jacques Arnould analisa, neste trabalho, as discussões acerca da posição da Igreja e as consequências que o impacto das descobertas científicas pode trazer para a linguagem da fé. No ano em que se comemoram os 200 anos de Darwin, este livro é excelente ferramenta para compreender os ideais do estudioso e de sua obra e a posição da Igreja.
Luís de Camões (adaptação
Por que ler? Os lusíadas é uma obra que atravessou gerações e continua sendo referência para as pessoas. Nesta adaptação, Lino de Albergaria escreve com uma linguagem simples, acessível às novas gerações, motivando a leitura e incentivando os jovens ao aprofundamento cultural.
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Tarsila, menina pintora Lúcia Fidalgo
A Terra sem Males – mito guarani Jakson de Alencar
Figura inspiradora, suave e delicada, Tarsila fez história com seu olhar cuidadoso e seu pincel, que buscava cores cada vez mais brasileiras. Menina nascida numa fazenda em Capivari, interior de São Paulo, tornou-se uma das artistas mais importantes no Brasil e no mundo. Neste livro, Lúcia Fidalgo apresenta, de forma poética e criativa, Tarsila do Amaral às crianças.
Guirapoty parte com sua família em direção ao mar para escapar do incêndio que vai acabar com a terra, mas prevê que logo aconteceriam enchentes e, para proteger os seus, constrói uma casa. A água vinha tão forte, que a família precisou subir no telhado. Desesperado, Guirapoty entoou o Nheengaraí, o canto solene guarani, pedindo ao grande pai que os levasse para uma terra sem males.
Formato: 18,5 cm x 27,5 cm
Formato: 21 cm x 27 cm
Por que ler? O livro conta sobre sua família, seus estudos, suas viagens, seus casamentos e suas influências. Além disso, procura explicar, de forma simples, o objetivo de alguns de seus trabalhos, como o Abaporu, considerado o quadro mais importante feito no Brasil, além de abordar, de forma breve, a relação de Tarsila com a Semana de Arte Moderna de 1922.
Por que ler? A obra, que pertence à coleção Mistura Brasileira, fala do profundo anseio do ser humano por um mundo melhor, mais feliz, sem guerras e sem maldades. Além disso, apresenta uma seção informativa, na qual o leitor tem a oportunidade de conhecer o sentido do mito, bem como os elementos da história e da cultura indígena no Brasil.
Páginas Abertas
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Páginas Abertas Indica Como envelhecer bem? Denise Rodrigues Yuaso e Matheus
Escola de valor – significando a vida e a arte de educar
Papaléo Netto
Maria Helena Marques Rovere
Diversos fatores colaboram com o aumento da expectativa de vida do ser humano: avanço da medicina, recursos para práticas de exercícios físicos e grande esforço das pessoas para viver mais e melhor. Com essa temática, a obra elucida alguns pontos relacionados a esse processo natural da vida do ser humano.
Em uma sociedade marcada pela indiferença entre as pessoas, com os animais, o meio ambiente e o espaço público, há quem deseje um mundo melhor e lute por ele. A educação é uma das ferramentas que podem colaborar nesse processo, ajudando as pessoas, desde crianças, a entender e a praticar o exercício da cidadania.
Formato: 10,5 cm x 18 cm
Formato: 13,5 cm x 21 cm
Por que ler? Escrito por Denise Rodrigues Yuaso e Matheus Papaléo Netto, o livro aborda temas que interessam a um público grande e diverso, como estudantes e profissionais da área da saúde, pessoas em idade madura que se preparam para uma nova fase da vida e jovens interessados em praticar hábitos promotores da longevidade.
Por que ler? A autora propõe uma reflexão acerca dos valores humanos, ou seja, da ética, do respeito, do amor, entre outros, e suas implicações práticas na educação. Para colaborar com o educador em seus trabalhos, a autora ainda oferece textos de apoio de grandes escritores, como Cecília Meireles e William Shakespeare, sugestões de exercícios e dinâmicas para o professor realizar em sala de aula ou em alguma atividade educativa.
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Bullying e suas implicações no ambiente escolar
Uma espiritualidade para nosso tempo à luz do apóstolo Paulo
Sônia Maria de Souza Pereira
Valdir José de Castro
O bullying é uma manifestação que se caracteriza por atos agressivos, repetitivos e deliberados entre alunos no ambiente escolar. Inserida nesta problemática, a obra trata das ações maléficas do bullying e de sua complexidade, das implicações e consequências para os agressores e suas vítimas, dos danos causados à escola e dos efeitos provocados na família.
Diante de tantos anseios presentes no íntimo de cada ser humano, como encontrar a verdadeira felicidade? Este livro apresenta uma proposta sólida para os dias de hoje a todos os que almejam encontrar sentido na vida e buscar respostas concretas aos problemas. Valdir José de Castro, autor da obra, oferece um conteúdo enriquecedor sobre a relação entre a espiritualidade, que conduz à verdadeira realização humana, e os anseios do homem moderno.
Formato: 13,5 cm x 21 cm
Formato: 13 cm x 20 cm
Por que ler? No livro, são propostos modelos de prevenção e intervenção que visam à redução da violência, assinalando também as condições em que o fenômeno se desenvolve, suas manifestações, efeitos, personagens e situações características.
Por que ler? O livro reflete sobre a espiritualidade cristã à luz do apóstolo Paulo, abordando o novo sentido que teve sua vida após o encontro com Jesus. A obra oferece ainda, a exemplo de Paulo, vivências e direcionamentos palpáveis que auxiliarão o leitor nas diversas circunstâncias da vida, conduzindo-o a uma espiritualidade cristã transformadora.
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Páginas Abertas Indica Sertão – cem anos de um retrato do Brasil - Gereba Em 2002, ano em que a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, completou cem anos, a música popular nacional ganhou um presente: Sertão – cem anos de um retrato do Brasil. Idealizado pelo estudioso, compositor e músico baiano Gereba, o CD é recheado de versos que contam a saga de personalidades ilustres e os interiores nordestinos antes de Canudos.
Por que ouvir?
Faixas: 15 Duração: 44 min 03 s
O CD convida o ouvinte a conhecer o sertão nordestino e a força de um povo que sofre com seus problemas, mas é forte, assim como Euclides da Cunha o descreveu em sua grande obra. Sertão apresenta grande riqueza poética e evoca a lembrança dos tempos em que o rio Vaza-Barris, hoje quase sempre seco, era fonte de água e proteção dos seguidores de Antônio Conselheiro.
Braços livres – Masé Pimentel A capixaba Masé Pimentel expressa, com este seu trabalho de estreia, suas experiências de vida na busca por maior fraternidade, paz e cidadania, transmitidas por meio de mensagens que exaltam os ensinamentos de Deus. Ela consegue aliar suas principais virtudes poéticas e musicais, tudo em nome da valorização do ser humano e da importância dos sentimentos de bondade e compaixão.
Por que ouvir?
Faixas: 14 Duração: 41 min 49 s
A expressão da cultura e do ritmo afro é o alimento deste CD, e um dos traços peculiares do trabalho é a sensibilidade. Em quatro faixas (Evangelho, Colheita, Negra Mãe, Zimbabuê a Zumbi), o ritmo, a batida e a percussão nos fazem recordar o Quilombo dos Palmares, e em algumas letras, como Maria, és tu, é possível sentir a preocupação com os menos favorecidos.
Musical memories II – Perez Dworecki – Viola Apaixonado pela viola, Perez Dworecki apresenta, em seu novo CD, melodias expressivas que mostram a capacidade desse antigo instrumento em seduzir o ouvinte. Schubert, Johann Sebastian Bach, Camargo Guarnieri, entre outros renomados artistas da música erudita, contribuem com a qualidade deste trabalho.
Por que ouvir?
Faixas: 13 Duração: 1h 05 min
Depois de Musical memories - J. S. Bach, Mozart e Brahms, Perez Dworecki, aos 88 anos, mostra que continua ativo e dedicado aos seus projetos e à sua grande paixão: a música. Neste CD, o músico apresenta um repertório parcialmente novo e, assim como em seus outros trabalhos, contribui com a difusão da música nacional erudita.
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Coleção Os Quatro Pilares – Rubem Alves A educação não deve ser analisada à parte da sociedade, pois integra a profundidade do ser humano, que vive em um mundo globalizado. É com essa proposta que Rubem Alves, renomado educador brasileiro, analisa o papel da escola, o qual deve estar inserido no contexto social do homem e de suas relações.
Os Quatro Pilares Aprender a aprender (vol. 1) Catálogo: Música e Vídeo Duração: 28 min Áudio: Português
Os Quatro Pilares Aprender a fazer (vol. 2) Catálogo: Música e Vídeo Duração: 43 min Áudio: Português
Os Quatro Pilares Aprender a conviver (vol. 3) Catálogo: Música e Vídeo Duração: 30 min Áudio: Português
Os Quatro Pilares Aprender a ser (vol. 4) Catálogo: Música e Vídeo Duração: 33 min Áudio: Português
Por que assistir? Novos caminhos e posturas nos campos da história, da religião e da filosofia são apontados por Rubem Alves por meio de histórias, poesias e analogias. Movendo-se nesses domínios, o educador ainda polemiza, concilia e cobra posturas práticas. A coleção apresenta conteúdos dinâmicos e ricos, capazes de auxiliar professores, educadores e demais interessados em se aprofundar nas abordagens educacionais.
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Crônica | Por Douglas Tufano*
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“Jeitinho brasileiro”
* Douglas Tufano é professor de Português, Literatura e História da Arte, formado em Letras e Pedagogia pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em História e Filosofia da Educação. É autor de livros didáticos e paradidáticos nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura. E-mail: dgtufano@terra.com.br
Dizem que nós, brasileiros, somos peritos na arte de “dar um jeitinho”. Usando criatividade e esperteza, conseguimos contornar os mais diferentes obstáculos para obter o que queremos. Mas isso que poderia ser visto até como uma qualidade do nosso modo de ser já está se transformando numa praga. No fundo, temos jeito até demais. É só abrir os jornais. Há sempre um jeitinho para negociatas, suborno. Há jeito para enganar a fiscalização, o radar, o guarda de trânsito. Há jeitos e jeitos para burlar normas de segurança, desrespeitar as leis, colar nos exames, comprar trabalhos escolares. E parece que quem não sabe ou não pode “dar um jeitinho” faz papel de bobo. Será que é assim que se constrói uma sociedade civilizada e mais justa? Será que é assim que se formam cidadãos? Acho que precisamos nos preocupar um pouco mais com essa questão, porque certos valores estão se perdendo. O esforço contínuo, a dedicação, o empenho em fazer bem uma tarefa, parece que isso tudo está fora de moda. Para que tanto trabalho se, no fim, sempre se “dá um jeito”? Infelizmente, muitos professores, sempre dispostos a ajudar os alunos, acabam por reforçar esse comportamento, aceitando trabalhos fora do prazo, relevando faltas injustificadas, sendo condescendentes demais nas avaliações. Não percebem que os que dão duro e se esforçam estão observando para ver o que acontecerá ao pessoal folgado. E ficam com cara de tacho quando veem que, no fim, realmente, “deu-se um jeitinho” e todo o mundo ficou bem. O que vocês acham que esses alunos esforçados estão aprendendo? Estão aprendendo que a escola trata da mesma forma quem se esforça e quem não se esforça, quem se dedica e
quem não se dedica. Não estou falando de alunos com dificuldades ou problemas de aprendizagem. Estou me referindo àqueles que poderiam, sim, produzir mais e melhor e não o fazem porque se acomodam, porque sabem que, no fim, “dá-se um jeito” e se consegue uma avaliação positiva. E essa é uma péssima lição que estamos ensinando, pois não só desestimula os que se esforçam, como também reforça a ideia de que, no fim, tudo se resolve com uma conversinha, um jeitinho, uma chance a mais. Dar oportunidades para a recuperação de um aluno é mais que justo. Mas aceitar qualquer desculpa e facilitar as coisas só para não parecer rigoroso (como se isso fosse um defeito) me parece uma atitude equivocada, além de ser tremenda injustiça com aqueles que cumpriram o combinado. Acho que é assim que vai se desenvolvendo o nosso “jeitinho”. Começa com a criança aprendendo que a falta de rigor permite não cumprir o combinado, que na última hora o pai ou a mãe vai falar com a professora e dará “um jeitinho”, livrando-a de assumir o ônus de sua falta de responsabilidade. Aliás, muitas vezes são os próprios pais que inventam desculpas para tirar o filho de uma situação dessas, mostrandolhes, na prática, como funciona o famoso “jeitinho brasileiro”. Depois, em casa, vão comemorar a tapeação... Não, não podemos concordar com isso. A escola deve ser firme e fazer a criança compreender que, para os professores, a dedicação séria, o empenho e o cumprimento dos deveres são atitudes positivas que vão ser levadas em conta. Acho que isso seria uma forma de combater a praga em que está se transformando o “jeitinho brasileiro”.
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Tarsila, menina pintora
Carlos, menino poeta
O livro fala sobre a família, os estudos, as viagens, os casamentos e as influências de Tarsila do Amaral, artista que participou ativamente da renovação da arte brasileira.
De forma leve, a história do escritor Carlos Drummond de Andrade nos é contada com muita poesia, razão que moveu a existência e a produção de um dos maiores nomes da literatura brasileira.
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C l ã Brasileirinhos Coleção B il i i h Que tal nos inspirarmos nos brasileiríssimos Carlos Drummond de Andrade, Tarsila do Amaral, Chico Mendes, Paulo Freire, Cândido Portinari e Machado de Assis? A autora, Lúcia Fidalgo, apresenta o ambiente e as temáticas que inspiraram a vida de cada uma dessas personalidades, comprometidas com o enriquecimento e o progresso da cultura brasileira. Isso é que é alegria!
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Criação PAULUS. A PAULUS se reserva o direito de alterar ou retirar o produto do catálogo sem prévio aviso. Imagens meramente ilustrativas.
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PAULUS: 29 livrarias distribuídas por todo o Brasil.
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