Fotofagia [n. 4]

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CiUBE DE COLECIONADORES

mam FOTOGRAFIA

O CLUBE MUDOU DE ENDEREÇO VENHA VISITAR PARQUE IBIRAPUERA PORTÃO 3 TEL 11 5549 9688

MUSEU DE ARTE MODERNA

mam

DE SÃO

PAULO

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LEI MENDONÇA

FAUSTO CHERMONT, UM PASSEIO PELO CENTRO, (DETALHE)

5 FOTOGRAFIAS POR ANO DOS MELHORES FOTÓGRAFOS BRASILEIROS. ASSOCIE-SE.


EDITORIAL Quarta edição. Começa a ficar mais claro o que antes era pura intuição:

FOTOfAGIA é terreno fértil para sementes de processo. O que nos interessa não são fins. Ao contrário, caminhamos pelos meios. Gostamos de cutucar intencionalidades. Assumidas ou ocultas, são elas as pimentas da vida, as armadilhas, o aprendizado. FOTOfAGIA convida a quem queira abandonar certezas para deixar guiar-se por um tempo não linear. Pelos olhos, sentidos e sentimentos de outros, diferentes na forma mas iguais em essência.

Para quem embarcou, ou venha a embarcar nessa nau que segue seu rumo em estado de atenção flutuante, aviso aos navegantes: o acaso é entidade primordial. Sem ele as trocas não são. Sem ele paredes.

E já vivemos encapsulados demais ultimamente. Fechados em nós mesmos, como se o mundo não fosse.

Como se nada fosse..

Que os processos cruzados sejam anti-vírus das certezas, que muitos mais olhares se misturem, que se dê a FOTOfAGIA. Boa luz! de todo o conselho editorial-

foto de capa: marcelo kraiser


Cídio Martins - S ão Paulo, SP


Alexandre Wittbold t-S ão Paulo, SP




de Minha Casa de Vidro nais Julia Margar

AMINHOS

et Cameron

...é com esforço que eu contenho o transbordamento do meu coração e simplesmente constato que minhas primeiras (câmera e) lentes me foram dadas pela minha querida falecida filha e seu marido, com as palavras: “Pode te entreter, mamãe, tentar fotografar durante sua solidão em Freshwater.”

O presente daqueles que eu amava tão ternamente acrescentou mais e mais impulso ao meu profundo amor pela beleza e, desde o primeiro momento em que manuseei minha lente com ardor, esta se transformou em uma coisa viva, com voz e memória e vigor criativo. Por muitas e muitas semanas, no ano de 1864, eu trabalhei infrutiferamente,

mas

não

sem

esperanças.

Eu ansiava por aprisionar toda a beleza que se mostrava diante de mim e, no fundo, o anseio havia sido satisfeito. Sua dificuldade realçou o valor da busca. Eu comecei sem qualquer conhecimento da arte. Eu não sabia onde posicionar minha câmera escura, como focar meu modelo e, para minha consternação, destruí minha primeira fotografia esfregando minha mão sobre o lado emulsionado do vidro. Era um retrato de um fazendeiro de Freshwater, que me lembrava Bollinbroke. Os camponeses de nossa ilha são muito bonitos. Dos homens às mulheres, donzelas e crianças, eu tenho obtido adoráveis temas, como todos os patronos de minha fotografia o sabem.

Uma multidão de esperanças Que buscavam semear a si próprias como mentiras aladas Nascidas de tudo o que ouvi e vi

A crowd ofhopes That sought to sow themselves like winged lies Born out of everything I heard and saw

Palpitavam sobre meus sentidos e minha alma

Fluttered about my senses and my soul.

A este fazendeiro eu paguei meia coroa por hora e, após muitas meias coroas e muitas horas gastas em experientações, obtive minha primeira fotografia, e foi esta a que destruí quando a segurei triunfantemente para secar. Transformei meu depósito de carvão em meu quarto escuro e o galinheiro envidraçado, que eu havia dado aos meus filhos, tornou-se minha casa de vidro. Os frangos foram libertados e, espero e acredito, não comidos. O lucro dos meus meninos sobre os ovos cessou e todas as mãos e corações compartilharam do meu novo trabalho, desde que a sociedade dos frangos e galinhas foi logo transformada em uma de poetas, profetas, pintores e adoráveis donzelas, os quais todos, cada qual em seu momento, imortalizaram a humilde edificação da pequena fazenda. Tendo sucedido com o fazendeiro, em seguida tentei com duas crianças. Meu filho Hardinge,

estando

em

casa

por ocasião de suas férias de Oxford, ajudou-me na dificuldade em focar. Eu já estava a meio caminho de uma linda fotografia quando uma explosão de risadas de uma das crianças me fez perder aquela foto e, menos ambiciosa, fotografei apenas uma criança, apelando para seus sentimentos e dizendo-lhe sobre o desperdício dos químicos e do esforço da pobre Sra. Cameron se ela se movesse. O apelo teve seu efeito e eu produzi uma chamei de Meu Primeiro Sucesso.

foto a qual

Fui arrebatada por um deleite. Corri por toda a casa procurando presentes para a criança. Sentia-me como se ela uvesse feito inteiramente a foto.

tamanho

11 x 9 polegadas.

Imprimi, tonalizei, fixei e a emoldurei, e presenteei seu pai naquele mesmo dia,

Doce e pequena Annie dos cabelos dourados! Nenhum prêmio posterior apagou a memória desta alegria e agora

*

essa mesma Annie tem 18 anos. Quanto eu anseio em reencontrá-la e experimentar minha maestria sobre ela! Tendo, portanto, realizado meu começo, não deterei meus leitores com outros detalhes de menor interesse...

Trecho extraído do ensaio Annals of'my glass house, publicado pela primeira vez na Inglaterra em 1889. Tradução: Patrícia Casoy e Valentine Moreno


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São Paulo 2004

Declare seu amor à cidade. No próximo dia 25 de janeiro, a cidade de São Paulo completa 450 anos. Uma grande comemoração está sendo preparada, tão inesquecível quanto a festa realizada no IV Centenário de São Paulo. Participe você também e deixe sua marca na história da cidade. Informações: www.anhembi.com.br/450anos


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MARCELO KRAISER



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FOTOfAGIA entrevista

“Claudia Andujar

E

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FOTOfAGIA: É sabido que você se iniciou na fotografia

uma identidade com o que eu deixei para trás quando

quando chegou ao Brasil. Como se deu esse início e qual a relação com sua condição de estrangeira?

era criança. Desse ponto de vista, encontrei o que

Claudia: Passei os primeiros anos da minha vida na Hungria. Na verdade, a cidade em que me criei é na Transilvânia. Fica quase na divisa; uma vez fez parte da Hungria, uma vez fez parte da Romênia. Aliás, minha primeira nacionalidade era romena; durante a Segunda Guerra Mundial, na Hungria. porque

família,

pelos

em

nazistas.

grande

uns anos nos Estados Unidos, onde estudei, mas ainda não tinha nada a ver com fotografia. Eu tinha vinte anos quando cheguei

ao Brasil.

jovem.

Vim

Era bem

por

razões

familiares e gostei muito,

logo

me senti em casa e fiz minha vida

aqui.

Toda

a

dificuldades que encontrei,

por causa da minha

infância, já eram conhecidas por mim. Tentei superar

os problemas que já eram bem antigos. O interesse pela fotografia surgiu justamente por querer conhecer o Brasil e as pessoas. E a melhor maneira foi através da máquina

parte,

entrosamento com as pessoas e me deu uma razão

Refugiei-me

onde nasci, mas nunca tive essa nacionalidade. Depois, passei

maioria da minha vida estou passando no Brasil, as

refugiada

Eu fui embora de lá como

minha

exterminada

essa cidade foi colocada

estava buscando. Através de todos esses anos, e a

foi

na Suíça,

fotográfica,

que

facilitou

para viver.

O interesse pela fotografia surgiu justamente

por

querer conhecer o Brasil e as pessoas.

ENTOfAGIA: Você tem 13 anos de fotoreportagem para

importantes nacionais

aulas

no

programa

publicações

e estrangeiras,

deu

MASD,

fez

na

Cultura

entrevistando

TV

um

fotógrafos

e

sempre foi extremamente ativa

no meio fotográfico brasileiro, influenciando

minha

muita

trajetória de vida, também na fotografia, está muito

o meu

o trabalho

de

Qual

a

gente.

particularidade dessa ferramenta que a moveu tanto?

ligada a todos esses primeiros vinte anos. Até hoje, não consegui explicar totalmente por que eu me senti tão bem no Brasil. Sem dúvida, do ponto de vista do contato humano, me deu algo que não encontrei nos Estados Unidos. Fiz meus estudos lá e isso me abriu os horizontes porque, em Nova Iorque, onde morei,

Claudia: O contato com as pessoas é o que realmente me ligou à fotografia. Antes, inclusive, eu pintava. Só que a pintura é uma atividade muito solitária, tem dimensões que não me satisfaziam; enquanto

esse

muitos

contato com as pessoas é o que prevaleceu na minha

museus e todas as oportunidades do mundo para você

escolha pela fotografia. Na verdade, a câmera é um

se conectar à arte. Mas eu não consegui fazer uma

meio que agride. Digo isso porque eu não gosto de

ligação humana como fiz aqui. Então, chegando ao Brasil, eu quis conhecer o povo brasileiro, e quando eu falo o povo brasileiro eu falo do interior, do pessoal

ser fotografada. [risos]. Talvez seja exatamente o fato

há uma

abertura cultural muito

grande:

do interior, um pouco mais longe. Como vocês sabem, eu tenho um trabalho muito extenso sobre os índios. Eu quis me situar, ver se

realmente eu encontrava um segundo lar aqui, enfim,

de poder conversar e penetrar dentro da alma das pessoas que me permitiu fazer esses primeiros contatos sempre

antes de levantar a máquina.

Eu

nunca

trabalharia em um jornal por essa razão: não me sinto à vontade de chegar a um lugar e começar a fotografar.


FOTOfAGIA: E a sua relação com as revistas? Claudia: De uma certa maneira, tive muita sorte porque trabalhei no Brasil essencialmente para a Editora Abril. Não sei como é lá hoje, mas, quando comecei a fotografar para a Revista Realidade, que não existe mais, havia umas pessoas que me deram a liberdade para poder fazer o tipo de trabalho que me dava tempo de realizar as matérias, sugeridas por mim ou por eles. Tivemos um entrosamento muito bom, mas era uma coisa excepcional, acho. Há uns dez dias, eu estava em uma palestra onde se falou muito do começo da fotoreportagem, das revistas no Brasil que deram muita liberdade para o fotógrafo, na opinião do palestrante, o Cruzeiro e a Manchete. Bom, eu nunca trabalhei para eles, mas eu me lembro de que, quando comecei a fotografar, até procurei umas pessoas no Cruzeiro. Por ser mulher e também por ter interesses em áreas um pouco fora do comum, fui muito maltratada. Eles simplesmente me fecharam a porta no nariz, enfim, nunca fizemos nada; enquanto na revista Realidade fui muito bem tratada e consegui fazer esses trabalhos. Até hoje, uma boa parte do meu arquivo vem desses tempos, essencialmente de fotoreportagem. Nunca fui empregada de revista nenhuma, trabalhava como free-lancer e se eu

fizesse uma matéria por mês estava bom, não queria fazer mais do que isso. FOTOfAGIA: Nesse período, você não trabalhou com pautas fáceis, dedicou-se a matérias DeRje tra (SST

como o trabalho dos jagunços no nordeste do Brasil, as prostitutas no interior de São Paulo, Martin Luter King em Washington, na segunda metade da década de 60... O que se percebe é que a sua fotografia é permeada pelo interesse humano. Um olhar que

busca e revela a presença do outro e se mostra imensamente influenciado por este. De que maneira esta relação ultrapassa os limites da fotografia? Claudia: Eu acho que deve ser uma busca minha, uma busca humana. O que realmente quero é poder entender as pessoas, as situações e ambas juntas, porque as pessoas são como são, suas trajetórias, histórias... Para mim, o mais importante é entender para compreender o sentido da vida. É isso, não há dúvida de que é minha grande preocupação. A fotografia foi um tipo de álibi para poder me aproximar desse jeito das pessoas e de situações inusitadas, enfim, o que se chama de inusitado. Estou interessada em tudo que se refere ao ser humano e suas relações. Aliás, ultimamente, estou tentando retrabalhar o meu arquivo. Estou nesse processo agora e comecei a rever o material produzido desde o fim dos anos 50. Encontrei dificuldades para selecionar porque ele é muito extenso e tentei reduzir a certos temas. Por exemplo, fiz várias reportagens, sugestão minha à Editora Abril, fotografando famílias brasileiras. Famílias de várias origens, situações sociais e lugares do Brasil. As vezes, tenho a impressão de que estou vendo um filme, e não só fotografias, que realmente há todo um desenvolvimento, peculiaridades de situações. Agora, selecionar algumas fotografias de um trabalho inteiro para, vamos dizer, uma exposição, é muito complicado. Cheguei à conclusão de que nesse trabalho eu não consigo O tube ovo) Po Soto: |] Pogt ot TRT ne t2aoso Do) LET FTA SS


de informação e que, ao mesmo tempo, ultrapassem os limites da fotografia. Bom, quais são os limites da

o outro. Não há dúvidas, você participa da vida do outro,

mas

sem

querer

influenciá-la.

O

mais

perguntei

importante é ser um testemunho do que você vê e ter

quando vi essas reportagens. Vou pegar o global de cada família? Há quase um livro sobre cada uma, onde vou parar? Não sei, não posso responder. Acho que

a compreensão do outro. Mas eu não sei se dentro

minha fotografia, a partir dos anos 70, começou a

se fecha no dele. O que tentei foi justamente quebrar

mudar um pouco. Depois de 72, eu não quis mais

Isso.

fotografia?

Foi

exatamente

isso que

me

dessa solidão de cada um, sem

aproximação,

uma

tentativa de

você se fecha no seu mundo e o outro

trabalhar para revistas. Decidi fazer trabalhos mais aprofundados e mais autorais, apesar do fato de que

FOTOfAGIA:Como

aqueles da Editora Abril também o eram, mas eu quis

processo

de

me dar ainda mais tempo com cada tema. Isso, por

Yanomami

e o envolvimento

exemplo,

questões políticas delicadas, utilizando a fotografia

resultou

no

trabalho

dos Yanomami,

que

ultrapassa, eu acho, o aspecto cotidiano. Eu tentei interpretar a parte religiosa, cultural deles. Talvez essas primeiras

reportagens

anos 60 não

me

dos

permitiam

chegar ao ponto onde cheguei em

trabalhos

vários

anos

em

que

para

tive

em

dois

foram,

interação

ambientes

para

uma

mulher,

nos

rituais

xamânicos

em

causa

de

uma

clara

o

com

predominância

masculina? Os

limites

t [om

estao

dentro de você e não dentro da fotografia.

poder

Claudia: Primeiro temos de separar as duas coisas, que são muito

diferentes.

muitos

anos,

fotografar,

Durante além

de

dediquei-me

realmente aprofundar na cultura das pessoas. Acho

também a conseguir o reconhecimento do território

que hoje me interessa justamente tentar ultrapassar,

dos Yanomami pelo governo brasileiro. Depois, demos

mas

início a projetos que estavam ligados à sobrevivência

ultrapassar

o

quê?

Entrar

talvez

mais

profundamente na parte cultural, que define, dá mais que só a história de uma família, insere-a em um

deles, que é a terra, a saúde,

a educação.

Encontrei

muitas dificuldades politicamente, mas não tanto por

aspecto universal. Talvez seja isso, eu não sei explicar

ser mulher. No meu caso, isso ficou em segundo plano,

melhor. Hoje busco o universal, o imortal. Eu faço

porque em primeiro lugar havia a questão de não ser

isso por meio da fotografia, então, onde estão os

nativa deste país. Isso foi usado continuamente contra

limites? Acho que não há limites. Os limites estão

mim nessa luta. Acho que se eu tivesse nascido aqui, então eles teriam utilizado o fato de ser mulher ou, sei

dentro de você e não dentro da fotografia.

lá, teriam achado uma outra coisa. Estou falando FOTOfAGIA : Às vezes, a fotografia pode ser um meio de

especificamente da situação política local onde

expressão extremamente solitário. Como

trabalhei em Roraima

você lida

com isso?

e no Amazonas.

Era uma

maneira de combater o alvo da luta, então qualquer coisa servia, e no meu caso o mais óbvio era que sou

Claudia: Eu sou uma pessoa solitária, mas, dentro

uma

dessa solidão, eu busco a aproximação. É por isso que eu me dei melhor na fotografia do que na pintura. À

Amazônia aos americanos, coisas desse tipo. No fim,

gente realmente passa muito tempo sozinho, mas você

conseguimos o

se busca quando deseja se aproximar e compreender

desse trabalho que coordenei, o trabalho da Comissão

estrangeira, que estava lá, que não sabia o que

estava fazendo, provavelmente querendo vender a território para os Yanomami por meio


Foi muito difícil: levou 22 anos.

uma agressão, para eles ainda é muito mais. Eles vêem

Talvez o que interessa a vocês saberem é que parei,

trabalho de defesa da vida dos Yanomami. Não dava.

a fotografia como tirar alguma coisa da sua essência como pessoa. Então, isso sempre depende também do momento de contato, do que eles entendem da nossa sociedade e da nossa atuação lá, do que nós

Não dava em lugar nenhum. Politicamente, estava fora

queremos deles, enfim, há momentos

Pró-Yanomami.

quase parei de fotografar durante muitos anos. Senti que não dava para combinar

a fotografia com

o

e momentos.

de cogitação porque não tinha tempo para isso;

Quando

fotografar

para

eles não sabiam o que era a fotografia. Não sabiam o

é muito

envolvente,

não

cheguei

pela primeira vez nos Yanomami,

compartilhar com outro trabalho tão intenso. Era para

que era imagem. À única imagem não olhando para

mim uma escolha e então houve esse momento em

outro que eles conheciam era a de se verem espelhados

que escolhi defender os Yanomami. Parei. Quase parei

na água. Quando

de fotografar. Inclusive, por essa mesma razão, usei

pegavam de todos os lados, viravam de cabeça para

muito pouco meu

cima,

material até uns cinco anos atrás.

Mesmo nos meios científicos, na antropologia, minha fotografia não foi aceita

uma

por

não

ser

fotografia

de

pura documentação. Com

esse trabalho,

ultrapassei

para

se mostrava uma fotografia, eles

baixo;

não

representava

coisa,

jogavam fora, não tinham interesse na imagem, no papel. A representação

Fotografar é muito envolvente,

em duas dimensões era

não dá para compartilhar com

desconhecida. A meu

pouco as normas de um trabalho documentário e isso não foi entendido,

uma

coisa

ver, era mais a agressão

outro trabalho tão intenso.

um

muita

de

uma

lente,

que

também é um tipo de olho que persegue. Era uma situação desagradável e

não foi bem visto, foi utilizado contra mim por várias

tinham uma resistência contra isso. Fiquei lá muitos

camadas da sociedade, então deixei de lado. Uns cinco

anos, levou um tempo para a gente se conhecer. Eles

anos atrás, quando

se acostumaram com

fui convidada para fazer uma

minha presença e também com

exposição na Bienal de Curitiba, decidi abrir os meus

a presença da lente. Foi só depois de alguns anos que

arquivos. Aceitei

senti que podia

participar e foi a primeira vez em

fotografar,

que

tinha bastante

muitos anos que retornei à fotografia. Assim: fotografia

entendimento

mesmo, fotografar ou utilizar o material do jeito que

xamanismo,

eu queria e entendia como deveria ser utilizado. Bom, havia também os próprios índios. Eu tinha toda

a reação quando viram as fotografias foi surpreendente.

a abertura,

convivência

Eu mostrei as fotografias especialmente para os xamáãs.

Yanomami

para fazer aquele

momento

em que comecei

e intimidade

para saber o que

fotografar

nesses rituais religiosos.

Não

no

foi no

primeiro ou no segundo ano que eu fui lá e fiz. Depois,

com

os

Mas,

no

Eles tinham uma compreensão imediata das imagens,

a trabalhar a questão

política sensível, não era interessante para os próprios

mais do que as pessoas da nossa sociedade. Inclusive, foram justamente pessoas ligadas à antropologia que

índios me dedicar a esse trabalho mais voltado ao

ficaram chocadas com meu trabalho como fotógrafa,

trabalho.

sobrenatural, ao xamanismo. Eu senti que as coisas

com essas imagens e movimento com entrada de luz.

não

sociedades

Não entendiam o que eu estava querendo fazer, mas

indígenas, não é normal ser fotografado e há uma

os índios sim, entendiam que eu estava tentando representar o mundo dos espíritos através dessas

conviviam

nem

com

eles.

Nas

prevenção contra a fotografia em geral. Se para nós é


invasões de luz. Para isso, eu tinha de entender como eles estavam visualizando, fazendo esse contato com

o mundo dos espíritos para poder fotografar. Mas eu só quero dizer mais uma coisa: há momentos em que eles não querem ser fotografados. Eu sempre respeitei isso. E isso envolve muitos rituais mortuários,

então, fotografar um xamã que está trabalhando, pelo menos na cultura Yanomami, não é considerado desrespeito. Nunca fotografei nos momentos em que tratam o morto: eu sabia que eles não queriam. Não fiz. Eles confiavam em mim. FNTOfAGIA:Como você encara o bombardeio de imagens e a superficialidade com que são tratados temas de grande relevância para o mundo nos dias de hoje? Isso de alguma maneira diminui o impacto de trabalhos importantes como o que você vem fazendo? Claudia: Eu acho que sim, claro. Tem uma vulgarização enorme que dá muitos mal entendidos. É uma coisa muito perigosa. Hoje em dia, até nas artes tem uma proliferação de imagens que só daqui uns anos a gente vai poder julgar se realmente sobrevivem ou não. Não é porque é feito no computador ou por técnicas especiais que é bom. Para fazer um trabalho para valer, você já tem de carregar uma bagagem dentro de si. Senão, isso vira uma superficialidade, sem dúvida. Isso existe, como sempre existiu, porque, através dos séculos, algumas pessoas se destacaram

e muitas

sumiram.

Mas

hoje a

comunicação mudou muito. Com a comunicação de massa, você está bombardeado de informações e imagens, muito mais do que no passado. Há essa proliferação de mais lixo também por causa da técnica, eu acho. Hoje, a técnica oferece uma multiplicação

das coisas que simplesmente não existia no passado. No passado, para pintar ou fazer trabalhos mais

manuais,

levava um bom tempo; enquanto hoje se

cria uma imagem em segundos. Você acha que tudo é bom, mas não é. É uma questão dos nossos tempos que mudaram. À tecnologia mudou muito. Não acho que seja a extinção dos processos mais demorados. Isso não é importante. O que você carrega dentro de si que é importante. Isso você não adquire assim em dois segundos. Eu posso, hoje, por meio dessas facilidades técnicas, criar imagens mais rapidamente. Mas, se não tenho alguma coisa na cabeça, não vai ter muita profundidade. Quer dizer, acho que mudou um pouco também, mas esses processos internos não são mágicos. Obviamente, a gente hoje absorve muito mais, recebe muito mais e há uma massa da população que é muito mais informada do que no passado, mas como você digere isso é outra coisa. Você ainda tem de processar as coisas dentro de si. E isso, acho que não mudou tanto como a agilidade técnica de fazer as coisas.


Cásdésad

Abreu Araújo, Guilherme Henrique Tonolli dos Santos, min Gomes Monteiro, Júlio César Mota Ferreira, s Santos Cré e Thaís Ribeiro de Oliveira.


Projeto Câmera de Orifício No primeiro semestre de 2002,

as Faculdades Integradas Rio Branco tiveram, no curso de Comunicação Rojo uma aluna surda. A fotógrafa Simone de Campos (Wicca) traba

do como

[oiço ct Ro ava ETR oia tos RO a fotógrafa desenvolveu uma oficina para crianças surdas estudantes do ensino

O “fundamental, cursando entre a 52e a 8º séries, em que foram transmitidos os rincípios básicos da fotografia da forma

assistente pedagógica

mples e lúdica.

aluna e passou a ter diversas conversas

pertar o interesse

com Roberta Almeida, intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).

o Rojo Tea o Oi seis crianças RT aop linguagem para se expressarem. Durante dois dias, aprenderam sobre alguns aspectos físicos e químicos envolvidos no processo fotográfico; questões relacionadas

Após a discussão de muitos assuntos relacionados ao aprendizado de alunos surdos, destacou-se a dificuldade que a maioria tem para assimilar a técnica em

contraponto à extrema facilidade na atuação prática.

à luz, à sensibilidade de materiais,

Enquanto a prática exige grande capacidade de concentração e organização, a técnica

demanda um grau de abstração, o qual Wicca reconheceu como possível causa da dificuldade dos alunos e também como um ponto de partida para sua proposta de uma oficina de fotografia utilizando câmeras de orifício. Com o apoio de Sabine Vergamini, coordenadora da EECS (Escola Especial para Crianças Surdas) e de Márcia Holland,

diretora do ITAE (Instituto de Tecnologia Avançada em Educação), firmou-se uma

- Este espaço de ações sociais s comunitárias, vis

à captura e fixação da imagem através de câmeras de orifício e puderam presenciar a transformação de um conceito (no princípio, distante e abstrato) em

matéria física (palpável e visível). No final, o interesse pela experiência foi maior do que pela imagem em si; a possibilidade de entender todos aqueles conceitos e fazer boas fotografias mexeu com a auto-estima e disponibilizou uma excelente ferramenta de expressão pessoal para aqueles que têm a linguagem visual como primeira língua.

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Mande-nos seu projeto. Teremos o maior prazer em divulgá-lo. comuni

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É


PALAVRAS é uma foto premeditada como um crime ori!

reparar no arranjo das roupas os cabelos a barba tudo adrede preparado

— um gesto e a manta equilibrada sobre os ombros cairá — €

especialmente a mão com a caneta detida

acima da

Fotografia

de

Mallarme

4

folha em branco: tudo à espera fo Monog nitat- talo sabe-se: após o clique a cena se desfez na rue de Rome a vida voltou a fluir imperfeita mas isso a foto não captou que a foto é a pose a suspensão

do tempo agora meras manchas no papel raso Edo ERejio teu olhar encontra o dele (Mallarmé) que

el! do fundo da morte olha


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MARCELO KRAISER- ARTISTA APURA GS

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PESQUISA AS RALAÇÕES ENTRE AS ARTES. RE : ii ES)

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conselho editorial elaine galdino, eric rahal,

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josé dos santos preto e valemtilié moreno is

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produção valéntine moreno e

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arte e projeto gráfico a “eric fahal s

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“edição de texto «josé dos santos preto revisão

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luciana den júlio

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distribuição elaine galdino

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E

colaboraram nesta edição alexandre wittboldt, benedito viçó, cídio martins, claudia andujar, is

aco neves, ferreira gullar,

francisco lopes filho, kenji ota, julia margaret cameron?, pi malzoni, marcelo kraiser, marcelo schellini, de patrícia casoy, patricia yamamoto, paulo xero; priscila vilarinho, simone de campos (wicca).

er

é Fá é

fotolito e impressão: laser press. “tiragem: 3000 exemplares distrib Lição gratuita- venda proibida À

Arevista FOTOfagia não'se responsabiliza pelas opiniões

ENTOFAGIA editora eólica. tda. editor responsável: eric rahal

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