FS Revista da Imagem [Fotosite n. 21]

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REVISTA DA IMAGEM

JANELA INDISCRETA

OUTRO LADO A câmera áf dois o da frente e o de trás. No mr fi m o de trás e deixam o da ce quando um fotóÓgrafo cria coragem », como índio, morre de utros, mas encara em uma S vezes coa nudez

to-entre

fa João Wainer Flávia Lelis fava Denis von Brasche siepix & Be vc Tomar Gomes Mario O Ha Adrana Bortoloto

Doar Ariane Stipp Fernando Gimenes Anderson dos Santos L ET Paloma Avendanho Fernando Reis R Andréa Vidal Alé Cestac. nSchneider, Antônio Gaudério, Armando Prado, Autumn Somnichsen, Bruno Miranda, Cia de Foto, Cláudia Stelia, ie Blerenbach Daria Klajmic, Débora Castillo, Fernanda Cerávolo, Fotosalada, Guilherme Maranhão, Helga Stein, Hélio Campos Mello, Wei, Luiz Braga, Marco Scavone, Marcio mi Paulo Veras, Roche Cost, Rose Nakagawa, Talos oq Trigo, Thomaz Farkas, Tiago Santana, Toni Pires, Tuca Vieira, Wang Qingsong e Yara Schreiber Dines Mofarrej, Estúdio Chico Design 1200, Mezanino Norte, Complexo Empresarial BIC, Vila Leopoldina, CEP 05311-000, São Paulo, SP; Brasil Seda Chico Max e Chico Cerchiaro 3641-2656 Nas jojás Fase (são Pião RR Ene Câm Leandro D' Faustino. wnvewefotosite. com.br Eskenazi Indústria Gráfica wiivichicode

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Fotos Ricardo Nogueira

POR

FOTÓGRAFOUM DECIDE

Arte é beleza. A beleza é a harmonia entre todas as partes de um Composto e entre aquelas e este. O objeto da beleza e da arte é agradar, excitar , diria o professor de Filosofia de Frankfurt-sura Oder, Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), muito tempo antes dea fotografia ser inventada, quanto mais de auto-afirmarPP se como uma vertente artística. Desde a declaração, um longo período se estendeu, sem que as obras de arte subsequentes deixassem de nascer com o mesmo propósito sugerido pelo filósofo germânico, acrescidas de um novo sabor: provocar. Provocações E conteúdo, ousadia na forma.

Atendo-se à fotografia, antes utilizada para registrar momentos, ao longo destes anosa arte ganhou o privilégio de também ser compreendida como instrumento de reflexão e mudanças sociais. No fotojornalismo, por exemplo, ela amplia o flagra; no docult ela sedimenta a crítica. Mas e quando o fotógrafo não está olhando para o mundo, mas para as realidades que lhe ocam o ombro? Qual seria a força da fotografia? A mesma, ou um pouco mais.

Espectadores acostumaram-se com os fatos que ocorrem em odo o planeta exibidos pelas câmeras desses profissionais, muitas

vezes sem refletir a respeito de como se EO fo Reis te to) pessoas, que, como eles, reagem às situações que transcorrem em seu dia-a-dia. A questão é: Como? A americana Nan Goldin, celebrada em todo o cenário fotográfico por registrar o universo, da moda, expôs sua intimidade em diários imagéticos, mais tarde transformados em livros, que reuniam cenas de uma mulher real vítima de violência, dependência química e solidão. Ela, logo ali, atrás da câmera.

Já a jovem Francesca Woodman, que consumia o corpo O od repetidas experiências e a cada novo retrato aprofundava seus níveis de tristeza, foi mais longe, chegando ao suicídio, cometido da janela de seu apartamento e antecipado por sua série de autoretratos. No Brasil, em 2006, a fotógrafa Vilma Slomp consolidava uma carreira de 30 anos com a exposição Vísceras em Vice-Versa, que acolhia uma cena particular. As imagens falam de um tempo que passei, um auto-retrato, ocorrido por um erro médico que: provocou profundas cicatrizes, estabelecendo um paralelo e um duelo com o poder. Minha fotografia não é uma história inventada de inferno e céu; é o meu poder, é controle de sanidade sem nada a esconder" disse Vilma na época da mostra.

Assim, se antes os auto-retratos permitiram que as pessoas identificassem o ser humano por trás do equipamento que roubava almas , possibilitando deixar às sociedades o conhecimento da estrutura física e da expressão de mestres como Richard Avedon, Edward Steichen, Diane Arbus, Jacques-Henri Lartigue, Robert Mapplethorpe, Helmut Newton, Lee Friedlander, Cindy Sherman, Lucas Samaras, Martin Parr, atualmente, a face e todo o resto do corpo se prestam a outros fins = de críticas sociais a dramas pessoais. Uma nova corrente de fotógrafos reafirma ao mundo essa realidade, ao protagonizar ensaios de histórias ácidas que alimentam e sufocam o globo terrestre. Posicionando-se à frente de suas respectivas lentes, eles, provenientes das Américas, Ásia e Europa, enca-

LIWEI

Entre o real e o imaginário. Esta é a melhor expressão para definir a obra de Li Wei, um dos destaques da nova geração chinesa. O estilo interativo e flutuante do fotógrafo pode ser conferido em sua série de auto-retratos, na qual estabeleceu uma conexão inovadora entre imagem e espaço.

Que tipos de assuntos você aborda?

A condição pulsante da incerteza, da instabilidade, do desequilíbrio, da suspensão, do perigo e da flutuação

ram o desafio de partilhar com todos o próprio corpo, independentemente de aí residirem imperfeições ou pequenos segredos. Destacam-se os fotógrafos Li Wei, que brinca com a hiper-realidade; Wang Quingsong, abrangendo em grandes ampliações os dramas de seu país; Deborah Castillo, que na nudez critica a condição da mulher atual; além de outros nomes, como Daniel Muchiut, Liliana Parra, Helen Zout e Sérgio Tantanian, indicados pela curadora do Festival de la Luz, Elda Harrington.

Rememorando as palavras iniciais deste texto, entende-se que nas produções contemporâneas a beleza não está na intenção de desenvolver obras bonitas, mas reais, próximas de mim e de você, independentemente de onde estejamos.

O que o motiva neste tipo de trabalho?

Ser o protagonista da minha arte Toda vez que eu termino um trabalho deste tipo, minha experiência pessoal se funde a ele. Meu objetivo é mostrar na sociedade atual. a condição do ser humano

Você tem necessidade de se mostrar, de se ques- tionar, através do auto-retrato?

Sim, eu tiro auto-retratos Porque sinto prazer em criar. Eu me torno o elemento principal d a minha fotografia. Além disso, este trab; alho sempre me inspira com novas idéias e conceitos. >

DEBORAH CASTILLO

O questionamento dos estereótipos femininos. Este é o maior alvo das lentes da venezuelana Deborah Castillo. A fotógrafa vem realizando séries de auto-retratos há mais de uma década, utilizando seu corpo como meio de expressão ativo do papel da mulher na sociedade.

a do você decidiu trabalhar com autoretratos?

Trabalho com auto-retratos há 10 anos, desde que comecei a estudar na Escola de Bellas Artes. Tive essa necessidade de me expressar por meio do meu corpo Meu corpo é como um lenço em branco, um suporte que utilizo como meio de expressão

O que motiva os seus auto-retratos? que me rodeia, a vida neste mundo de hiper-r dades, de simulacros que se difundem por meio das imagens publicitárias, pelos ícones impostos pela TV. e pelo marketing internacional que fazem do mundo um grande teatro de estereótipos

Depois de ver uma série de seus auto-retratos, qual é a sua sensação? Afinal, você abandona a imaginação e passa a encarar a si mesma. A primeira sensação de finalmente ter finalizado mi nhas idéias, depois de meses ou anos em minha mente é de alívio. Surpreende-me ver como uma idéia pode se transformar em imagem, e isso me enche de prazer uma felicidade que não se pode descrever. Digamos que o eu passa a segundo plano e, como uma atr me desdobro de minha personalidade para encarar outras realidades >

WANG QINGSONG

Nascido na pequena província de Heilongjiang, Wang Qingsong se tornou um dos grandes fotógrafos chineses da atualidade, apresentando um trabalho baseado na relação entre os sentimentos humanos e as mudanças da sociedade. Suas imagens ganharam fama mundial, com exposições realizadas na acer Ásia, na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.

A partir do momento em que você mostra seu rosto na imagem, sente que abre parte da sua intimidade? Qual o porquê dessa decisão?

No começo, não tinha dinheiro nem modelo para as minhas fotos. Quando imprimi as provas, tive a sensação de que a figura nas fotos não era eu, o que foi muito impressionante. Continuamente, fiz tableaux de larga escala para os quais contratei vários modelos de filme e também me fundi ao cenário. Atualmente a minha aparência é bem típica do povo chinês. Portanto, não sinto como se estivesse entregando minha intimidade

Você concorda que os fotógrafos, além de olharem para o mundo, voltaram seu olhar para si próprio e para as realidades que os cercam? Isso é verdade. Em todo o mundo, há tantos artistas que voltam seu olhar devido ao fato de a câmera ser uma fiel gravadora de realidades. Em particular, na China desde o começo dos anos 90 até agora. Em um país com 1,3 bilhão de habitantes, cada um é importante e mínimo ao mesmo tempo. Cada pessoa é cheia de histórias em sua vida. Entretanto, cada um se preocupa com suas realidades.

Ea

ia em português significa "outono", estação do ano em que as folhas caem deixando nuas as árvores. De certa maneira, esse nome previu o destino da fotógrafa norte-americana Autumn Sonnichsen, que se tornou especialista em tirar a roupa de mulheres bonitas e agora se mostra nua na série de auto-retratos que a FS publica com exclusividade nesta edição.

Essa californiana de 23 anos, morou em Los Angeles, Berlim, Cape Town, Cairo, Washington, Nova York, Paris e desde 2005 adotou o Brasil como casa. Ex-editora de fotografia da revista Ele Ela, autora de ensaios para publicações como Playboy, Maxxi, Nylon e Nico, no dia em que concedeu entrevista a FS havia acabado de chegar de viagem. Clicou as funcionárias da revista Trip nuas numa praia do Rio para a tradicional edição de dezembro em que a revista vira sua câmera para dentro da própria redação. O que os leitores da Trip não sabem, é que atrás daquela câmera que leva os homens ao delírio existe uma fotografa obstinada, que adora a arte da pornografia, gosta de mulheres bagunçadas e, que quando quer fotografar uma mulher nua, sempre consegue.

entrevista

Como é possivel você ter vivido em tantos lugares e falar tantas línguas aos 23 anos?

Saí de casa aos 16 anos. Nunca tive nada que me prendesse aos lugares. Ainda não tenho; sou uma pessoa sozinha. Trabalhava em Paris como assistente em um estúdio; fui para Berlim, Nova York. Trabalhei como assistente na África do Sul, mas me sentia meio mal. Queria aprender alguma coisa difícil, queria prender árabe. Conheci um menino que me convidou para ir para Egito. Fui com ele, mas é difícil trabalhar lá do jeito que eu trabalho, e acabei vindo para o Brasil

Eo lance de clicar mulheres nuas?

Eu sempre fotografei mulheres. Era meu tema desde as primei ras fotos. comecei trabalhar sério fotografando mulheres nuas aqui no Brasil. Antes eu fazia muito mais moda, mas agora ficou mais difícil fazer, porque as pessoas acham que eu quero fotografar todo mundo pelado. complicado isso nas revistas. Quando eu só fazia moda, antes de toda essa famade fotografar mulheres peladas, eu trabalhava mais. Acho que as pessoas me levavam um pouco mais a sério.

E essa fama de que você se envolve com as mulheres que você fotografa é verdadeira?

Tudo mentira (sorri ironicamente). As pessoas falam isso para vender revista. Eu não sou idiota. Sei que faço um bom trabalho sto do que faço e faço bem. Mas eu sei também que para a Playboy é mais legal ter uma menina de 23 anos que fica lá com as modelos tirando a roupa. Puro marketing Eu gostaria de ser levada mais a sério, mas também não vou brigar por isso. Se é desse jeito que as pessoas querem me dar trabalho, ótimo; eu preciso trabalhar. Essa fama me atrapalha em parte, mas também me dá muita coisa.

Depois de clicar tantas mulheres nuas, como foi se auto-retratar assim? Quando você começou com isso?

Fiz alguns durante o meu primeiro curso de fotografia, aos 16 anos, do tipo "eu pelada no banheiro" etc. Não eram muito interessantes. Era mais para entender a máquina sem. a vergonha de fazer fotos ruins de outras pessoas nuas. Hoje faço quando vejo algo bonito, uma luz, uma situaçãoe não tenho modelos por perto

O que te atrai na nudez?

Eu gosto de ver o povo em situações íntimas, íntimas de pro. posta. umafoto de paisagem sempre fica mais interessante uma pelada lá no meio de tudo. Helmut New quando tem al ton falou isso, No meu trabalho, em geral, eu quero fazeruma coisa que tenha uma linha universal, que todo mundo possa entender. Quero fazer uma arte que até o cara que trabalha no posto de gasolina possa entender por instinto, mas que ao mesmo tempo curador de um museu possa levar a sério.

De qual tipo de mulher você gosta?

Gosto de mulher bagunçada, com cabelos ondulados e olhos árabes

Como você as convencea tirar a roupa?

Fácil. só pedir. Pede com educação, pede "por favor!

Toda mulher quer ser fotografada nua

Ser mulher ajuda nessa hora?

Acho que não. Se eu fosse homem teria mais sucesso. Tipo aqueles fotógrafos de verdade, de jaqueta de couro, seduzindo todas as meninas. Tem muita sedução. Quando você faz uma »

uburbia or ernanda

PARA BOM ENTENDEDOR, "rEBS MEIA IMAGEM BASTA

Fé: 55, Depois de fazer um auto-retrato g e postá-lo no site, Titi Scatena nd Kakas, editor do Fotosalada, resolveu convidar os colaboradores a enviarem (coa suas fotos. O sucesso foi total e recebemos de tudo um pouco: cenas engraçadas, confusas e outras para fazer pensar. Na coluna desta edição editamos o que de melhor chegou no email do www.fotosalada.com.br. Aproveite!

Câmera, ação... NE a luz perfeita para sua produção você encontra aqui !

Com 34 anos de experiência em ão de equimentos de iluminaçã túdios e geradores, atendemos o mercado nacional e Tera Tn deprodução de cinema, TV documentários, fotografia, show, campanhas...

SÃO PAULO CURITIBA BRASÍLIA (55 11) 3645.1070

Entre tantas, auto-retrato é uma das mais intrigantes modalidades foto gráficas. Ao longo da história da fotografia, ele foi e continua sendo um exercício contínuo, prolongado e de importantes consequências. Quando a Flávia Lelis, nossa redatora-chefe me pediu um texto sobre auto-retrato não pude deixar de pensar no que me disse a brilhante Mara Freire: O auto-retratoé ainda mais transgressor que o sonho, pois o sonho pode ficar em segredo, o auto-retrato é a quase publicação, é uma mea culpa de nossos pecados e desejos

Desde a década de 1840, logo no início da história da fotografia, o foafo e inventor francês Hippolyte 1801-18 gens positivas a partir tóg Bayard 7) já produzia ima da câmera fotográfica. Usava seu sistema para auto-retratar conteúdo artístico, por exemplo, seu retrato como afogado. Mas, muito antes dafotografia, desde a Antiguidade, essa arte já era praticada. A indagação sobre como sou ou quem sou deve ser antiga, talvez existindo desde a primeira visualização por reflexão do rosto humano. Uma conseqiiência natural é o desejo da

Auto-retrato

produção do auto-retrato. Na história da pintura, grandes artistas produ ziram 1471

auto-retratos -1528 Albrecht Diirer os produzia desde sua

adolescência; Van Gogh (1853-1890) e

Frida Kahlo (1907-1954) nos deixaram umregistro autêntico de suas angústias e dores

Na fotografia contemporânea, a nor te-americana Cindy Sherman (1954é um expoente. Ela desenvolve um tra! balho variado e criativo com seus auto retratos. Para ela, o uso de manequins nas produções não faz sentido; o corpo humano é que pode ser moldado como ela deseja. Ela atua como seu próprio modelo com eficiência máxima

Do ponto de vista da técnica, o au to-retrato foi desenvolvido a partir de câmeras de grande formato e longos tempos de exposição. Novos equipamentos e filmes câmeras em tripé e disparadores de tempo, objetivas normais ou teleobjetivas curtas tor naram a produção mais simples, mas o ponto de vista permaneceu quase sempre distante

A fotografia digital, com suas facili dades rapidez, custos desprezíveis, facilidade de transmissão e controle

zeral sobre a im em vai forma, mudar o mundo maneira como as enxer gam. Nunca foi tão fácil e rápido sc auto-retratar. Milhares de pessoas que á pouco tempo nunca tinham tido a oportunidade de fotografar pulam para uma nova instância, o auto-retrato

de certa Muda pessoas se

Usam a modalidade como instrumento de autoconhecimento, projeção de desejos, perpetuação de uma imagem ou apenas brincadeira não importa

À câmera d igital (telefone é o aparato usado para a mudança. À perspectiva desses retratos também é inovadora exagerada. O fotógrafo, quase sempre, tem a câmera em suas mãos, fotografa a curta distância, inclui parte do mundo à sua volta rafa Fotos apaga, grava envia, apaga, monta e brinca

A fotografia digital pode tornar auto! retrato uma grande brincadeira pessoal e mundial. Se essas imagens forem preservadas ao longo do tempo, o futuro deverá ter uma visão mais clara e abrangente do que fomos no passado. n

Rochelle Costi, artista nascida no Rio Grande do 3
Egiógrafos exibemyo que para eles á , edgar a à fatesdeste país
POR FLÁVIA LELIS

e depois de ler esta matéria você pesquisar no Google a expressão Cara do Brasil, encontrará entre teses de doutorados, guias de viagem, lojas programas culturaise músicas cerca de 2,5 milhões de pos sibilidades. Afinal, ela é uma expressão clássica entre pro fissionais de diversas áreas que buscam incessantemente especular ou traduzir em letras qual é a verdadeira face cara, rosto, expressão, semblante, fisionomia da terra da pluralidade. Pelo mundo, a versão que se constrói deste povo concentra estereótipos cansados manifestados no carnaval, no sexo travestido de sensualidade, na figura que com uma bolinha de gude faz mais um espetáculo futebolístico, cercados de pobreza por todos os lados Superficialidade óbvia deixada de lado, que imagem poderia compendiar um país que convive ordenadamente no de um lado representado pelo filme que se orgulha caos

por evidenciar a polícia que atira antes de perguntar de outro por uma gente que diante de tantos dissabores se anima com o dia de amanhã? Relembrando os versos da canção A Cara do Brasil, de Celso Viáfora e Vicente Barreto, interpretada por Ney Matogrosso: Brasil é uma foto do Betinho/ Ou um vídeo da Favela Naval2/ São os Trens da Alegria de Brasília Ou os trens de subúrbio da Central?/ Brasil-Globo de Roberto Marinho?/ Brasil-bair ro, Carlinhos-Candeal?2/ Quem vê, do Vidigal, o mare as ilhas/ Ou quem das ilhas vê o Vidigal? Incentivados por esse cenário e representando as cinco regiões brasileiras os fotógrafos Anderson Schneider, Luiz Braga, Rochelle go Santana edificaram o en Costi, Thomaz Farkas e Ti saio a seguir, o qual abriga, segundo análise deles, uma pequena síntese da verdadeira cara dos 190 milhões de filhos deste país

Thomaz Farkas, nascido em Budapeste e morador de São Paulo

"A cara do Brasil são as pessoas que o apresentam tão bem!

O meu Br dentro je fundo. Um Bi

Tiago Santana, fotógrafo do Ceará

Anderson Schneider, fotógrafo de Brasília

A cara do Brasil é a cara da maioria dos brasileiros; uma cara de quem, depois de derramar opróprio suor em busca de um futuro digno, descobriu que, aqui, suor é coisa que pouco vale

sente a pressão

ESTTioR o fe ORE aiii do [o) Alessandra Cestac, que volta suas lentes para a própria nudez, ora surpreendendo, ora intrigando. Antes vista no Projeto Nua na Rua, que primava pela colocação de lambe-lambes que a ilustravam nua em lugares públicos da cidade de São Paulo, a fotógrafa, ali, encontrava a E-Mailjp do Rijo pot tg ao público a intimidade que move a relação entre o artista

"Fantasias sem máscara Na intimidade das fraquezas Livres sensações Explícito auto-retrato De dentro para fora Vestida sem roupas"

O que motiva o seu trabalho?

Viver

O que a nudez representa para você?

Tudo

Qual a proposta desta foto? e sua obra. Aqui, numa cena Intrigar. produzida especialmente para a FS, a fotógrafa traz o naturalismo da imagem do corpo nu em contraste com

Para você, o que é uma foto sensual?

Que elementos ela tem?

Uma imagem sensual é aquela suscetível ao toque

toda a sujeira do espaço. O local pouco importa aí ou na rua. Cestac explora as possibilidades da fotografia e da manipulação digital, desinibindo a pele e conduzindo os olhos do observador a um jogo de imaginação. Acostumada a encarar as linhas de seu corpo, seria um desafio se auto-retratar e afrontar a própria intimidade? A fotógrafa não quer se entregar. Assim como na [pie geRS TES poucas (e definitivas) palavras mais escondem que revelam. Fazem pensar.

Levamos um scanner para o centro de São Paulo e, inspirados na obra do chileno Pepe Guzman, 7 convidamos os habitantes da maior metrópole da , |. América Latina a se auto-retratarem com a cara no vidro

NOVA SEÇÃO DA REVISTA FS SAI À CAÇA E COMPILA O QUE É DESTAQUE DENTRO DO MUNDO DA FOTOGRAFIA

THE HISTORY GOES

ISBN 9780300114119

Editora: Yale Univessity Press

Autora: Katherine A. Bussard

Preço: £16.00

N sta obra estão reunidas séries de cinco fotógrafos consagrados que mostram os caminhos que estruturam suas experiências diárias no cenário da imagem. Barney traz representações de seus amigos e familiares em séries como Jill and Polly in the Bathroom , enquanto Goldin

enfatiza, no ensaio Self-Portrait , os dissabores quando era vitimada pela violência Sally Man divide a intimidade do cotidiano de seus filhos e Sultan alcança algo similar nos registros de seus pais. Por fim diCorcia abre a sua história ao leitor em fotos que abarcam quase vinte anos

IMAGE MAKERS,

IMAGE TAKERS - THE ESSENTIAL GUIDE TO PHOTOGRAPHY BY THOSE IN THE KNOW

ISBN 0500286620

Editora: Thames&Hudson

Autor: Anne-Celine Jaeger

Preço: £17.95

(O e desta obra é fazer um exame minucioso do que inspira os fotó grafos da atualidade e do que constrói o sucesso deles. Para desenvolver essa idéia, ele se apóia nos trabalhos de profis sionais da arte, do documen

tarismo, da moda, da publicidade e do retrato. Estende sua pesquisa a editores, curadores, galeristas e diretores de agência, questionando os elementos que eles buscam na hora de escolher uma fotografia Imperdível

REGENERATION

50 PHOTOGRAPHERS OF TOMORROW

ISBN -10: 0500285829

ISBN - 13: 978-0500285824

Editora: Thames&Hudson

Autor: William A. Ewing, Nathalie Herschdorfer, Jean-Christophe Blaser

Preço: £18.95

AR apresenta fotografias daqueles que, por sua ousadia e criatividade, representam a próxima geração de grandes profissionais. O livro reúne 50 fotógrafos vindos das mais conceituadas escolas de fotografia

do mundo e selecionados por curadores durante uma premiação organizada pelo prestigiado Musee ['Elysee em Lausanne, na Suíça A contribuição mais significativa da obra é mostrar que a arte fotográfica permanece viva!

THE PHOTOGRAPHER'S EYE

ISBN -10: 087070527X

ISBN - 13: 978-0870705274

Editora: The Museum of Modern Art, New York

Autor: John Szarkowski

Preço: US$ 24.95

Ww: clássico indispensável bascado em uma exposição realizada no Museum of Modern Art, em Nova lork. Originalmente publicado em 1966, olivro explora todo o processo da fotografia abordando desafios comuns a profissionais e amadores. A

proposta é ensinar o leitor a visualizar uma imagem antes de disparar o clique da câmera Um texto enxuto e preciso acompanha 172 trabalhos de diversos artistas, incluindo nomes como Cartier-Bresson Walker Evans chen e Paul Strand Edward Stei

rata-se de uma revista | on-line, publicada em inglês, que celebra a fotografia contemporânea, a arte, as mídias e as culturas mundiais O espaço é interessante por privilegiar o trabalho de fotógrafos de todos os continentes que produzem imagens para diferentes seg

Lp: DJS ARTE DE SãO PAULO COLEÇÃO PIRELLI

COLEÇÃO PIRELLI-MASP

site.pirelli.1 4bits.com.br

Ape coleção de foto yrafias do país agora tam bém pode ser vista on-line. No site estão dispostas informa ções sobre o acervo, que reúne obras de expoentes como Bob Wolfenson jar, Otto Stupakoff, Gustavo Claudia Andu

Moura, Pedro Martinelli, Fer nando Lemos, German Lorca Rochelle Costi, entre tantos outros. A página disponibiliza ainda dados técnicos de cada afos selecio obra, os fotó nados em cada edição e um campo de busca

LENS CULTURE

mentos da fotografia. Uma das seções indispensáveis é Photographers , que reúne gerações de Richard Ave don a Martin Parr e exibe além de texto sobre o autor uma lista de suas criações em um breve portfólio. A página ainda abriga ensaio, entrevistas e artigos.

SAIS DE PRATA E PIXELS

saisdeprata-e-pixels. blogspot.com

este blog fica imerso em in-senvolvido pela portuesa Madalena Lello, formações que cercam a área da imagem, explorando as relações da fotografia com o cinema, o mercado, as agên Cias e as galerias. Superatual, a blogueira destaca-se por abor

dar desde festivais espalhados pela Suíça, México, Espanha e Itália até suas impressões sobre exposiçõese fotógrafos, transitando entre as obras de Lee Friedlander, Joel Meyerowitz, Sophie Ristelhueber Jan Dibbets, John Szarkowski entre outros.

Ex os artistas influenciados por Cindy Sherman está a estrela pop Madonna que adquiriu a série Untitled Film Stills cinou a exposição das fotos À cantora patro realizada no MoMa de Nova lork mente doando-as ao acervo em 1997, posterior do museu. Diversas referên cias ao trabalho de Sherman também podem ser encon tradas nas imagens do livro Sex, assim como em vários figurinos utilizados por Ma donna, com conceitos visuais explicitamente baseados no trabalho da fotógrafa

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cuture: contemporary photography magazine

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ser lembrados, têm que ser fotografados. Algumas viagens de trabalho também se transformam em sonhos, als outras em pesadelos. Como fotojornalista já experimentei

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preso no Iraque e, por uma semana, tudo o que acontece RES ATO TETOSUR ro rear CO

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Esquadrão de Demonstração Aérea da FAB, foi um sonho TRAPAÇA PENN TORTO DUO

de um Tucano, da Força Acrea Brasileira. Fotc FAR IRDIO PENIS TATI FOR PS RR PORT IRS POR Pa PR aérea executadas pelos oficiais. Convivendo com gente FOUR RR RR TETO RE da Esquadrilha. Muitos deles hoje meus amigos preciosos Viajando boa parte do Brasil. Amazonas, Roraima, Pará Maranhão. viagens privilegiadas, com onze acronaves POOR TOO SORO NA AV PTOS RO DS PREV

ASATRASO DERA ro TUA LATO CE COR CETTE NUTS

EO DD DRA FS RETO [SUOR TU COR TS RICO RUE] página, mesmo que a situação fosse pouco confortável

Hélio Campos Mello, fotógrafo, diretor de redação e sócio da Revista Brasileiros

Quando o técnico pericial e a cena do crime são colocados num mesmo enquadramento

[14 RES gente pisa em sangue, respira sangue, PAN cheiro podre. A declaração é de Paulo Veras, 56, fotógrafo técnico pericial. Endurecido pelos longos anos dedicados à captura de momentos em que posam algumas das piores atrocidades cometidas pelo ser humano, Veras ainda se apóia na olhar estrangeiro EUR E RT li Te Re E TEC ERC TETO RETA que, segundo ele, incluem fatos que nem valem a pena publicar na revista .

Acumulando 35 anos de carreira no Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo, o fotógrafo, acostumado a registrar corpos resultantes de atos da fúria humana que variam de perfurações a dilaceramentos , recebeu a proposta de cobrir uma auta que, depois de tantos anos, deixaria de trazer ER So EI ST TC IS Te RR Ur A VD drama que pudessem advir do desafio, Veras A escolheu criar uma cena que o colocaria próximo, DE íntimo, no mesmo enquadramento de um de seus | p! ZAeb , AR! E ex a objetos de trabalho. F $ PRM EL etc EOTTS TEST TE TeTTTSTTTOAV L A a f N »' » considerou uma grande empreitada ficar diante de sua'.. A E)

As própria lente, vê-la encará-lo. Foi bem mais difícil [é k 4] A produzir essa foto do que as que faço normalmente. N - Pois Po Apesar de ter bolado tudo antes, tinha de me lembrar' N dos detalhes, como o facão e o ferimento, e ainda+ , participar da cena. Quando estou trabalhando, é muito mais fácil, já está tudo pronto; daí os ângulos de tomada são comuns. Eu só tenho de me virar com a iluminação. há Após o clique, o fotógrafo (eleito pelos colegas o bas melhor do departamento ), que faz questão de revelar o Piso filme, mostra-se satisfeito com o epílogo desta E * história. Nossas fotos têm de mostrar a realidade dos & + fatos. Tentei mostrar o que eu faço no dia-a-dia. Quis passar, com sensacionalismo e um clima sinistro, um pouco da minha vivência, aquilo que a gente enfrenta diante de uma cena de crime , explica. E Rs a Ernie ato re oe io pao Roo ita tro tre RATE a] E à , R para Paulo Veras ela funciona de maneira inversa: Você á DS ERESia TA ELI LER EORE 1] o , o t k ' E O ha y às

ENTREVISTA ANDROS HERTZ pediu

Pis U meioret / Stein se reinventa FTA com isitge ro Auto-entrevista PTE TES E a fotografia como atestado fiel da realidade

A versão em português do Flickr Iwww.flickr.com.bri, portal de compartilhamento de imagens mundialmente conhecido, que anteriormente registrava 800 mil usuários brasileiros, passou a contar com dois milhões. Assim, motivados pela facilidade da língua, esses internautas se habituaram a utilizar intensamente a ferramenta mais celebrada da pós-modernidade - a internet -, somada a uma arte centenária. Observando esse universo da fotografia digital, que recebe novas contribuições a cada segundo, a artista Helga Stein estruturou um projeto que, amparando-se num pequeno exército de figuras ora insólitas, ora belas, discute a identidade, a auto-representação em comunidades irtuais e a fotografia como representação fiel da realidade. Criado entre alterações da proporção dos olhos, do nariz e da boca, nasceu Andros Hertz [www. lickr.com/photos/helgastein], série que compila uma extensa variedade de auto-retratos da artista . E minuciosamente manipulados por ela da cor da pele à estrutura óssea -, com o auxílio do Photoshop. Exibida na inauguração do projeto Portfólio do Itaú Cultural, em 2006, a coleção de seres humanos possíveis desperta a curiosidade por impossibilitar saber qual se assemelha » à sua matriz. Afinal, como será a real Helga Stein?! Nesta edição especial da FS, tal segredo não é revelado. No entanto, a criatura volta seu olhar para a criadora, e a Andros Hertz se permite entrevistar Helga Stein.

Que tipos de pergunta você acha pertinente?

Aquelas que dizem respeito ao processo criativo do projeto. Algo um pouco além da tradicional O que te inspira? . Por que a tal inspiração, ao meu entender, é coisa de artista que não reflete sobre sua própria produção.

Preguiça de pensar?

Talvez. Acredito que o melhor é perguntar sobre as referências motivações, porque o termoinspiração vem carregado de uma concepção errônea de que as idéias simplesmente aparecem como mágica, quando, na verdade, elas são construídas através de pesquisas de todo tipo, desde leituras, visitas a espaços culturais e passeios urbanos, por exemplo

Sendo assim, quais são as referências do projeto?

Procuro entender, ou pelo menos apontar, as mudanças propiciadas pela cultura digital. O que muda na forma como fazemos e percebemos as imagens produzidas por novas tecnologias? Gosto de questionar a vocação da fotografia como atestado da realidade. A fotografia digital tem na manipulação uma das suas principais características, gerando uma dúvida a respeito da autenticidade da imagem. Como são auto-retratos manipulados essa dúvida se estende à própria noção de identidade

E o narcisismo, faz parte das motivações?

Não exatamente. Prefiro pensar na construção da identidade em culturas de redes de relacionamento e compartilhamentode ns, como Orkut e Flickr, respectivamente. narcisismoe também exibicionismo são traços desse processo de construção de representações de nós mesmos em ambientes digitais. lror o consumo passivo de imagens e ideais de beleza através de pessoas que não existem. Ideais de beleza que, em sua maioria sãoirreais e inatingíveis, mas que, mesmo assim, são forteso suficiente para dominar nosso desejo.

O que as comunidades virtuais têm a ver com o projeto? Com a popularização das câmeras digitais, a circulação de imagens digitais aumentou consideravelmente (vide o fenômeno dos fotologs). Cada membro de uma comunidade normalmente procura imagens que tenham algum significado em sua vida Mais especificamente, existe um esforço para aparecer bem na foto. os auto-retratos são os mais emblemáticos: gente se desdobrando para conseguir bons ângulos e poses criativas. Você provavelmente será o seu melhor fotógrafo , costumo dizer

Falando nisso, como é, na prática, a produção de uma imagem? Escolho um dia mais trangúilo para fa ro auto-retrato. Cuido da maquiagem, do figurino, da locação e da luz (dou preferência a espaços com luz natural). Passo as imagens em média 60 a 100 disparos) para o computador. Escolho uma ou duas para a manipulação. Fico de a horas trabalhando cada uma e crio várias versões envolvendo contraste, deformação, reforço de maquiagem. Depois, dou um chá de gaveta , ou seja, não olho mais para elas escolho a melhor de cada versão. Esse por alguns dias. D: processo gera um resíduo de imagens muito grande. Tenho meus discos rígidos lotados

Você procura semelhanças ou traços de pessoas famosas?

Sim. Madonna, Debbie Harry (vocalista do Blondie), Cher Maitê Proença, Marlene Dietrich. Outras não tão famosas mas que representam estados de espírito ou mulheres possíveis daquelas que você jura já ter visto em algum lugar: a louca, a ingênua, a drogada, a santa, a vadia, a madame, a glamourosa

E se pudesse ser uma, qual de mim escolheria ser? Pensativa] Gosto dessa com olhos de libélula

VAYNVD
Fetal

pa compor as seis edições que chegaram a sua casa ao longo: destes doze meses, a FS - Revista da Imagem contou com a ajuda de diversos colaboradores espalhados por todo o Brasil. E, para fechar este ano, por que não desafiá-los com mais uma de nossas loucuras? Depois de alguns e-mails trocados, bateu à porta de alguns desses profissionais um kit com adereços suficientes para construir um autoretrato à moda do bom velhinho. O resultado que você vê nas páginas seguintes soma humor e criativile, e traduz um outro lado dos Antônio Gaudério, Bruno ia de Foto, Cris Bierren"bach, Mauricio Lima, Tuca Vieira, Daniel Klajmic e Guilherme Maranhão, que, acostumados com o conturbado dia-a-dia da cidade, as guerras eomundo da moda, permitiram-se aventurar-se apenas pela diversão. Esta é a nossa última edição de 2007, inalizada com os votos de 200: jegue cheio de boas real ções etodo aquele blá-blá-blá, que, acima de tudo, no ano que vem e m todos os seguintes, você dia sua intensidade para exp esse cenário incansável da , provocando novas leituras, irando outras possij ilidades Claro, divertindo-se! Bom Natale. Seja bem-vindo a 20

Daniel Klajmic
Antônio Gaudério e Roberto Donask Cia
EISUE [oge)
Brigitte Lardinois De Por
Loo es
Pearl Jam
Rolling Stones
ue ou

Até pouco tempo, a sociedade Kirdi, localizada no lado norte do continente africano, mantinha- se intacta, retraída em seu próprio círculo social, desenvolvendo sua estrutura econômica e cultural, ignorando o que acontecia no restante do mundo. Para eles, era indispensável evitar o contato com elementos de outras sociedades. Segundo especialistas, o comportamento arredio dos Kirdi pode ser explicado como uma espécie de psicose coletiva, uma forma aterrorizada de promover a manutenção de seus valores e interceptar as modernidades ocidentais. Estudando a forma de pensar dos Kirdi e analisando a realidade que cerca os modelos sociais pós-modernos nos quais expor-se é uma ferramenta em busca de reconhecimento -, impossível não se questionar sobre os porquês desse tipo de proteção cultural. Seriam eles tão primitivos? Resposta difícil de se determinar. Afinal, em que momento abrir sua intimidade tornou-se sinônimo de evolução? Dúvidas e questionamentos à parte, a atualidade determinada pelo advento da Internet induz, a cada dia mais, as pessoas ao compartilhamento de suas vidas com o resto do globo. Blogs acolhem a escrita diária. Fotologse Flickrs, ambos sites de hospedagem de imagens, permitem conhecer rostos dos mais distantes destinos, mesmo que haja sempre a certeza de que nunca poderá encontrá-los face a face. Mais que cenas dos arredores, esses personagens exibem seus rostos em auto-retratos, e, embora separados pela rede e invariavelmente pela distância física, conservam o seu anonimato. Desbravando algumas dessas incontáveis páginas de fotos, o resultado identifica que, apesar de EB ualtiços grande parte os registros residir em 15 minutos de brincadeira ou descontração, os populares Fotologs e Flickrs acolhem material fotográfico interessante, ou simplesmente agradável, aos olhos de quem aprecia a imagem.

POR FLÁVIA LELIS

A convite da revista FS, três especialistas analisaram a febre dos fickers e fotologs, construindo um texto crítico sobre este universo

www.fotosite.com.br/ianaefgen DO SRS A! N

www.fotosite.com.br/isabelalyrio

AILUSÃO DE UM EU VISÍVEL

O auto-retrato sempre foi uma expressão do artista sobre si em uma imagem costruída para olhar alheio. espelhamento da identidadeem uma obra artística pode ajudar artista a se conhecer e reconhecer pelo olhar do outro. Contudo, hoje vivemos em uma sociedade do espetáculo, na qual vere ser visto ganham destaque Nesta sociedade narcisista o que importa é o belo, o tempo presente, a ausência da dor e da morte, aspectos constantemente influenciados pela realidade ficcional da televisão e pela lógica capitalista da publicidade, que reconhece o sujeito não em sua ação política, mas no ato de seu consumo. Os ídolos e líderes, que antes eram pessoas com atuações públicas para o desenvolvimento de uma comunidade, hoje foram substituídos pelos corpos formatados pela indústria do consumo. Assim, a loira siliconada e o rapaz sarado tornam-se ídolos, por meio de um discurso que tende a ser tão raso quanto universal para que um maior número de pessoas possam se identificar com eles e pautar aspectos de suas identidades no modelo de um outro ficcional. A lógica cartesiana ("Penso, logo existo") tem sido aos poucos substituída pela lógica da visibilidade: Eu sou porque o outro me vê, Com influência desse sentimento primário, que começa quando o bebê se reconhece como filho no meio do olhar da mãe, uma pessoa que não tem olhares direcionados para si corre um grande risco de não ser ninguém. A solidão permeia todo esse processo, já que não podemos compartilhar a dor de não saber quem somos e de não conseguirmos atingiro modelo de felicidade ilusoriamente imposto. Assim, no estabelecimento de identidades nos identificamos com imagens corporais apresentadas pela mídia sem sofrimentos, histórias e falhas. Na atualidade o auto-retrato deixou de ser a expressão individual em busca da identidade e foi capturado de uma forma adversa pela sociedade, pois passou a ser uma luta desesperada de alguém para se tornar visível. Com a ajuda da tecnologia (blogs e páginas do Orkut), as pessoas se autoretratam não em sua totalidade, mas em aspectos distorcidos e photoshopados da realidade: a ilusão de um "eu visível"

Cláudia Stella é graduada em Psicologia pela Universidade

Metodista de São Paulo, mestre em Psicologia Social e doutora em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente, é professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

DE FAYUM

Os célebres retratos de Fayum foram encontrados no cemitério deste distrito, um oásis à beira de um canal que corre paralelo ao Nilo, no Egito. Eram enco mendados pela elite local, formada por egípcios e romanos. Na tradição funerária egípcia, a imagem idealizada do defunto já existia há 2 mil anos representava a vida após a morte. No deserto, a conservação dos corpos mumificados pela areia e o calor foram fatores favorecedores da idéia de vida depois da morte. Em 2100 a.C foi introduzido o uso de uma máscara pintada sobre a cabeça da múmia, numa mescla da representação realista, uma for te tendência greco-romana a uma versão idealizada do rosto do defunto. Imagem retrato do morto

AUTO RETRATOS, ALTER RETRATOS

Da Vinci, Rembrandt, Goya, Velasquez Mona Lisa, um auto-retrato de Da Vinci?

As Meninas de Velasquez , o auto-retrato em um intrigante jogo de espelhos. O óleo e sua transparência introduz tridimensionalidade. Auto-retratos cons truindo uma identidade.Nadar, Émile

Zola, Picasso, David Hockney, Francis Bacon, Lucien Freud, Duane Michels apaixonados por retratos e auto-retratos A expansão dos territórios, as guerras e o contato com outras culturas. Alter-retratos na pintura, literatura e fotografia num exercício de compreensão do outro!

RETRATOS EM CENA E FORA DELA

A facilidade de produção de imagens e a proliferação geram auto-retratos em sites, flickers e blogs e a inundação de self -portraits, (assim mesmo em inglês, pois na busca de um site se digitarmos auto retrato nada será encontrado). Nenhum aprofundamento da questão, projeto ou provocação. Alguém sabe de onde vem a palavra fotografia? Retrato? Auto-retrato? Self-portrait? Self> O resultado da busca nestes sites, blogs e fotologs mostra um acúmulo de imagens que ultrapassam o limite do que precisa ser visto: uma de finição clara de obscenidade (no sentido amplo do deve ficar fora de cena

Rosely Nakagawa é arquiteta, fotógrafa e curadora independente

www.fotosite.com.br/rafaelgasperazz:

AERAEM

E ANDY WARHOL

A famosa frase de Andy Warhol ...no futuro, toda a gente será célebre durante quinze minutos está completamente obsoleta, pois, na atualidade, na aldeia global as pessoas ficam famosas por poucos minutos ou segundos. O sentido de celebridade encontra-se completamente modificado e esvaziado. Perante este cenário, como pensar o sucesso de sites como Flickr, Fotolog, MySpace ou mesmo Picasa? O que significa a adesão em massa de fotógrafos amadores e usuários? Como compreender sua produção e seu consumo?

Apresentando-se como sites de armazenamento, compartilhamento e organização de fotos, essas janelas virtuais são reflexo do modo de organização de uma sociedade complexa que passou a produzir intensamente imagens, com o auxílio de câmeras digitais, reg istrando o mais banal dos atos do cotidiano, buscando enaltecê-los e atribuir-lhes um caráter de distinção ao torná-los públicos por meio da visibilidade da fotogra-

fia em sites de imagens

Além de fotos do cotidiano, viagens e festas, por exemplo este tipo de site abriga também imagens de família e de crianças. Ele revoluciona significado dos antigos álbuns de sua memória, como espaço de registro de momentos especiais da história familiar e de caráter privado, que na Internet passam a ser públicos, na maior parte dos casos colaborativos e voltados para o tempo presente, negligenciando e deletando a dimensão da memória. Assim podemos entender que a fotografia digital amadora na Internet é um passe para a comunicação e, principalmente para a interação cibernética e, formação de grupos de interesse. Porém, nesse espaço de comunicação em que os flickers, uma nova tribo internáutica, por exemplo, dialoga basicamente por meio de pseudônimos, pode-se questionar o tipo e, qualidade de experiência social , como comenta Walter Benjamin, de sociabilidade e formas de interação que estão sendo realmente vivenciadas =

Yara Schreiber Dines é doutora em Antropologia Social pela Pontifícia Universidade Católica e docente do curso de fotografia no Senac São Paulo. Além disso, é pesquisadora iconográfica da editora Companhia das Letras para a Coleção História da Vida Privada no Brasil.

breves como o tempo inexato, xistimos em nós simplesmente...

olhar convidado
POR TONI PIRES

AUTO RE-TRATO

afirmação da persona, antes de ser um

Os olhos, condicionados, perdem-se por entre as cores e as formas impressas nestas páginas. Um estranhamento diante do que o tema da edição sugere. Sem um rosto, escancarase aquilo que foge à vista. Um nome? Toni Pires, editor de fotografia da Folha de S.Paulo, é a resposta: Estava recebendo um amigo portenho, o artista plástico Hernán Lagos, e resolvemos fazer auto-retratos. Revelamos, vimos os resultados e trocamos as fotos. Um tempo depois, ele pegou o meu retrato, estilizou, 'transformou em uma escultura em ferro e deu-me de presente. Aí então eu refotografei a escultura. Achei mais interessante, porém, fazer um recorte de partes da escultura, pois, quando você faz um auto-retrato, pega pedaços seus. E algumas partes da escultura eram muito mais eu, tinham muito mais a minha alma do que o conjunto inteiro. Nestas partes ele captou bem a minha essência, meus traços mais marcantes - roubou um pedacinho da minha alma em cada um destes cantos da obra . O resultado de todo esse processo que você vê aqui é tudo o que sobrou daquela sessão. O auto-retrato original perdeu-se, assim como sempre perdemos um pouco do que éramos.

as por desejos secretos e pela simples vontade

O auto) retrato nada mais é do que a mero exercício formal ou uma manifestação narcisista. Ele se mantém como forma de reivindicar IDENTIDADI Sua representação está na produção de um estranhamento de um (re)descobrimento da alma. O encontro de um fotógrafo com a sua lente nada mais é do que o desfrute do mais delicioso passatempodo Planeta: desfilar para o mundo as criações íntimas e reveladoras dos próprios SONHOS, ou então aquelas inspirad de criar, de (SE) EXPRESSAR

POLEGAR DIREITO

O AUTO-RETRATO

No retrato que me faço traço a traço as vezes me pinto nuvem, as vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco pouco a pouco minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança.. Corrigido por um louco!

Quintana

Mário

CG: o que fica é a passagem do homem pela História, contada através da imagem, tornando o auto-retrato uma poderosa fonte de comunicação. 99

por marcio iscavone

Vo: tudo muito bem. Nesta página faço retratos e escrevo Tudo caminhava bem até que arevista pediu um auto-retrato. Fui sempre um colecionador de auto-retratos, uma análise visando ao autoconhecimento O espelho e o exercício de manipulação da nossa fisionomia. A própria palavra fisionomia se encarrega de explicar: vem do grego physis ('natureza ) e gnomon ( intérprete ), ou seja, discernir a natureza mais profunda das almas através de um traço

do rosto. O fotógrafo experiente é o decifrador desse código sofisticado de expressões e sutilezas da face humana O que os cirurgiões plásticos estudam exaustivamente as proporções e as distâncias dos traços em um rosto o fotógrafo simplesmente sente Mas a revista pedia um auto-retrato novo. Por essa não esperava. Mandei dizer que estava difícil marcar com o modelo. Iria entregar a matéria no último dia do prazo xtra que eles me dariam. la dar um jeito de pegar

MARCIO SCAVONE

o homem desprevenido e surpreendê-lo. Pediria até a ajuda de um belo rosto de mulher. Algo que justificasse a entrega. Alinne seria o espelho A lente entre nós dois seria o poço negro, onde pularíamos numa queda abismal, sem tempo nem espaço para dentro do mundo das imagens. Assim tentaríamos resolver essa encomenda

E eu ali, olhando para mim mesmo, estaria me interrogando sobre a minha estranha obsessão de olhar no fundo dos olhos de quem fotografo E

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66 A Pós-graduação na área de Comunicação, Artes e Design do Senac conta com docentes de destaque na produção cultural de São Paulo. 99

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