CRIS BIERRENBACH ENTREVISTA JULIA MORAES, QUE COLOCA TODA FAMÍLIA NUA EM ENSAIO ee De e aa DD TD Tre GM RS e Julia Moraes, Marcio Scavone, Marina Person, Nina Lemos, Renata Ursaia e Thales Trigo ano IV- SET/OUT 2007
POR Imagens e histórias que fazem entender o clima na hora que o bicho pega ão, SKATE ORDIE Inspirado na obra de Shin Shikuma, Flávio Samelo,Fernando Moraes e Fábio Bit Paulo Lima traz o universo da fotografia de skate
à ai Mensagem original-----
De: Julia Moraes [mailto:curumimieieO yahoo.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 27 de julho de 2007 21:31
Para: João Wainer (FS) [mailto;joaowainerQuol.com.br]
Assunto: As Mulheres da Minha Vida
Fotografei minha avó, minhas primas, minha mãe e minha tia nuas em Assis, no Natal passado. São todas as mulheres da minha família materna. Em maio deste ano, minha avó morreu. Não a fotografei tanto quanto eu planejava e imaginava, mas fiz essa foto e fiz outras que ganharam mais força do que eu acreditava que elas de fato teriam. Talvez por serem as últimas. Talvez por negarem que dentro daquela pessoa havia um câncer que devorava seu próprio corpo enquanto ela posava nua para sua neta destrambelhada. Achava que esse trabalho acabaria, mas percebi que deveria continuar, tendo agora meu avô viúvo como protagonista. Decidi utilizar a própria fotografia para me aproximar de meu avô e ajudar meus primos a se aproximarem dele. E decidi agora mesmo. Daqui a 3 horas sai o meu ônibus para Àssis...
A fórmula do infinito.
bj) Lu intercambiáveis. Versatlidade que oferece liberdade, criatividade e possibilidades infinitas. Some a isso 10,2 MP Super StendySho, sistema antipoeira no CCD e bateria de longa duração e você vai entender que, a partir de hoje, você é o seu único limite. Supere-se com a DSLR Sony OC [eEEE AUD EIZAD
editorial q
EXISTE fotógrafo de gente, de coisa, de bicho; de planta, de arte, de rua, de casamento, de 3x4. Todos são igualmente esqui-. sitos: vêem, registram, mostram e, de tanto prestarem atenção, enxergam de modo especial, de um jeito diferente que apénas os olhos treinados conseguem. A revista FS, nesta nova fase, quer mostrar o mundo do ponto de vista dos fotógrafos, com suas loucuras, surpresas e belezas. Belezas como afoto de Júlia Moraes, que ilustra a capa desta edição e na qual ela derrama seu olhar poético sobre a'própria intimidade registrando nuas a avó, a mãe, a tia e as primas. Surpresas cómo as fotos de skatismo,-que revelam um. universo pouco conhecido e riquíssimo. em estilo, atitude e qualidade fotográfica. Loucuras como as fotos de pancadaria, que, deslocadas de seu-contexto jornalístico, nos fazem pensar nos motivos gue levam os homens a-se agredirem tanto desde que o mundo é mundouImagens para fazer pensar, rir, para excitar, indignar, assustar e concordar com as inquietações do donosdo Olhar Coônvidado desta edição, Cristiano-Mascaro;sobre os rumós:da fotografia atual, a chatice do conceituale da arte em-detrimento da emoção, do espanto e da'intuição. Para isso, servem os fotógrafos, comséus olhares diferenciados..E"para isso serve a FS. Para discutir e encarar a fotografia côm'a leveza com que ela deve ser encarada.
João Wainer Editor
FOTO DA CAPA: Imagem pertencente ao ensáio
"Mulheres da Minha Vida" projetó pessoal desenvolvido pela fotojornalista Júlia Moraes
Publisher Bob Wollheim www.sixpixcom.br
Chico Max e Chico Cerchiaro www.chicodesign.com.br
João Wainer joã Redator
elisQs n.br Repórter Carol Patrocinio Assistent Mário Ito marioOsixpix.com.br
Colabora diç To) Steigbigel, Christian Gaul, Cia de Foto, Cris Bierrenbach, Cristiano Mascaro, Felipe Hellmeister, Fernanda Cerávolo, pemaNdo Nalon, Fotosalada, Guilherme Maranhão, Júlia Moraes, Marcio Scavone, Marina Person, Nina Lemos, Paulo Lima, Renata Ursaia e Thales Trigo Negócios Adriana Bortolotto pixcom.br, Tatiana Tavares tatianaQsixpix.com.br e ArianeStipp arianeQsixpixcom.br Financeiro Anderson dos Santos ander xpix.c tária Tânia MazzeiExped Fernando Reis Endereço Av. Mofarrej, 1.200, Mezanino Norte, ComplexotEmpresarial Bic, Vila: faspofáina) CEP 05311-000, São Paulo, SP, Brasil Tel/Fax: 55 11 9641-2656 Dis ção Nas lojas Fnac (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília e Campinas) A e www.fotosite.com.br d Clarof Escura! npre Fo nal Indústria Gráfica O: da REVIS FOTOSITE, public bime d: SSN: 1806-853)
Cenas revelam o momento em que úria Pa idos pela f POR JOÃO WAINER ao mov os seres humanos s porrada
ma fagulha é capaz de desencadear em qualquer lugar
Us briga envolvendo duas ou mais pessoas. À presença de fotógrafos, a testosterona e os nervos à flor da pele acirram os ânimos e transformam qualquer conflito em espetáculo de mídia.
Num flagrante de violência a tensão do fotógrafo transborda sobre a própria foto e revela instintos primitivos na expressão de terrore raiva dos retratados. É uma tensão justificável
Quem acha que a adrenalina está em esportes de ação como o rafting, o rapel ou o bungee jump, nunca correu sob uma chuva de pedras tijolos, tiros, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral ou "borrachadas" da Tropa de Choque, como fazem os fotojornalistas em sua rotina de rua
Calma e sangue-frio são fundamentais para clicar, sair vivo e ainda ter tempo de enviar a foto para a redação antes do fechamento da edição. Afinal, como dizem os editores foto boa é foto na página. Quando a chapa esquenta, to-
mar uma decisão errada significa virar notícia, e para um fotojornalista nada pode ser pior do que isso
Em 2000, durante uma manifestação de professores na Avenida Paulista, o fotógrafo Alex Silveira, do jornal Agora
São Paulo, levou no olho esquerdo um tiro de bala de borracha, disparado pela Polícia Militar, e perdeu a visão
Muitos já foram presos ou atingidos por pedradas, garrafadas e afins. Em 2003, o fotógrafo La Costa, da revista Época foi assassinado durante uma ocupação de sem-tetos em São Bernardo do Campo
O risco é enorme, mas o perigo real serve de combustível a muitos fotógrafos. A sensação de sair de uma situação de extrema dificuldade com uma bela foto é comparável à de fazer um gol numa final de campeonato. À foto impressa na primeira página do jornal do dia seguinte cura qualquer hematoma ou dor restante da confusão
Se houvesse patente no fotojornalismo, Jorge Araújo seria
um general daqueles cheios de medalhas. Com trinta anos de profissão e incontáveis quebra-paus fotografados desde a época da Ditadura, decreta: "Quando você é jovem, quer estar perto da confusão, pôr uma grande angular e ir pro olho do furacão. Com o tempo, você começa a perceber que as melhores imagens são feitas de longe, com teleobjetiva. Isso ajuda você a se expor menosea fazer a foto com mais tranqiilidade Nenhuma foto vale a sua integridade física". A máxima do fotojornalismo "8 and be there" ("f:8 e estar lá!) parece ter sido criada para a fotografia de conflito. Para conseguir uma boa foto, o fotografo tem de estar na rua, atento e contando sempre com o imprevisto. À violência do ser humano explode fácil, e quem estiver por perto vai fazer a foto. Soco, chute garrafada, cuspida, paulada, pedrada, isto é, qualquer tipo de agressão devidamente fotografada é o tema deste ensaio Fotógrafos malucos registrando sem medo o que há de pior no comportamento humano. Protejam-se
Fotógrafo Alexandre Silveira momentos após ser atingido por uma bala de borracha
TOMEI PORRADA!
Depoimentos de fotógrafos [o FUI To polg=Tua ae o [HE RU gt Ma anta tg ET] Barzaghi
Uma favela na marginal estava sendo desapropriada. Os moradores interditaram a marginal Pinheiros e a polícia foi para lá. Houve um conflito com a polícia e os moradores começaram a jogar pedras nos policiais, que jogavam bombas de gás. Eu estava do lado da polícia, tentava me proteger, mas, num momento de descuido, tomei uma pedrada na cabeça. Acho que tive sorte. Podia ser pior.
Caio Guatelli
Foi uma manifestação de camelôs ao lado do Mercado da Lapa. Eles estavam sendo retirados pela Guarda Municipal. Eu trabalhava na Folha de S.Paulo e estava indo embora quando me mandaram para lá. Cheguei quando. as coisas já estavam quentes e entrei bem no meio do conflito, entre polícia e camelôs. Eu não sabia de onde vinha pedra, bala de borracha, nem a gravidade do conflito. Uma hora olhei para o ladoe vi Keiny Andrade no meio da confusão levando uma bronca de uma camelô. Ele revidou e ela partiu para cima dele com um pau, e várias pessoas acompanharam. Eu fui tirá-lo da confusão, que virou para o meu lado. Eles começaram a me hostilizar, uma, mulher rasgou minha camisa, puxaram minha câmera e quebraram meu flash. Nos dez minutos em que eu fiquei lá, levei uma pedrada. Eu estava olhando como estavam minhas coisas quando ouvi um barulho. Ao olhar para à frente só vi um tijolo voando na minha direção. Eu comecei à procurar um abrigo. Alguns colegas me levaram para o carro da polícia, que queria me levar para um hospital público, mas eu consegui ir para um que meu convênio cobria. Quando cheguei, levei três pontos na cabeça e o médico me mandou embora. Mas antes de ir, eu quis fazer uma tomografia e ver se estava tudo certo de verdade.
Niels Andreas/Folha Imagem - Brasil
MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA
EQUIPAMENTO
Carregue sempre pouco equipamento. Quanto menos peso mais fácil a locomoção e sua vida pode depender disso. Uma câmera com bateria carregada, uma 16-35mm, uma 70-200mm e 3 cartões são mais do que suficientes. Alça de neoprene ajuda acaso você precise correr coma câmera no pescoço.
GAS LACRIMOGENEO
Qualquer contato com os olhos potencializa o efeito do gás. Não coce e nem jogue água. Respire fundo e espere a ardência passar.
TIROTEIO
Tente identificar de onde vem os tiros. Corra para perto de uma parede e mantenha-se abaixado diminuindo o angulo de exposição aos disparos. Se não houver parede, protejase atrás de um carro, um poste, ou na ultima hipótese atrás de um soldado ou policial armado.
TROPA DE CHOQUE
Quando eles batem seus cassetetes no escudo significa que vão atropelar quem estiver na frente. Procure as laterais, fuja do fogo cruzado e dê preferência a um lugar alto. (O ISA age Ric [cido o ANA
FERIMENTO
Em caso de ferimento, use uma camiseta ou parte da roupa para estancar o sanguee saia de cena.
EXPLOSAO
Curve o corpo para dentro. Proteja seu peito cabeça e coração. Procure abrigo o mais rápido possível.
PREPARO
Conhecer bemo conflito que você fotografa é primordial. Preparo físico para sair correndo caso precise também pode salvar sua vida.
CONSULTORIA DE MAURÍCIO LIMA
CONTRA RISCOS
Outra medida preventiva para quem intenta fotografar em áreas de risco é o curso Jornalismo em Zona de Conflito , oferecido pela Sociedade Interamericana de Imprensa, que objetiva educar os jornalistas sobre a melhor forma de se portarem cobertura de diferentes tipos de conflitos. Durante o curso são estudadas situações de risco comuns, onde o jornalista se expõe de forma desnecessária e até negligente, apenas por não ter informações sobre a forma correta de agir. Para saber mais informações, acesse: www.sipiapa.org
espaço om Folhapress
A Folhapress é a agência de notícias do Grupo Folha. Comercializa fotos, textos, colunas e ilustrações a partir do conteúdo editorial do jornal Folha de S.Paulo.
O site contém um Banco de Imagens on-line com um acervo de mais de 250 mil imagens digitalizadas. Imagens que foram notícia e também que retratam a realidade brasileira. Para contratar o serviço da Folhapress ligue 011 3224-3123 ou acesse www.folhapress.com.br
COMO ESCOLHO UM FOTOGRAFO
AMY STEIGBIGEL
Desde 2004, Amy Steigbigel, mestre em Fine Arts pela School of Visual Arts, é Diretora de Fotografia da Getty Images em Nova York, onde lidera um time de diretores de arte, editores de fotografia e fotógrafos freelancers. Antes disso, passou pela direção de fotografia da revista Details, e, em 2002, tornou-se uma das co-fundadoras da Galeria Wallspace. A seguir, Steigbigel conta o que costuma avaliar em um fotógrafo:
O que você busca em um portfólio?
Eu procuro um portfólio claro e único. À consistência estética é muito importante para mim. Comumente, encontro fotógrafos que acham que é uma vantagem mostrar um pouco de tudo, fazer uma compilação das diversas áreas. Mas, como se cos-
tuma dizer, uma compilação pode ser um grande nada. Então, quando o estilo do trabalho é mostrado em excesso, isso me diz que a voz criativa do fotógrafo não está totalmente desenvolvida.
Você prefere que o trabalho seja apresentado em que formato? Não tenho problemas em olhar um site. Entretanto, devo dizer que não há nada como um belo portfólio impresso à moda antiga, em formato 28 em x 36 cm. Também não tenho problemas em olhar impressões soltas numa pasta.
O que não deve ser colocado em um portfólio?
Acho inapropriado mostrar material demais. Um livro bem editado fala por volumes. Mostre não mais de vinte imagens: inclua apenas seus trabalhos mais for-
um avião? Não!
E o Super-Homem!
Jogo virtual coloca você como fotógrafo do Homem de Aço
Ele veio do planeta Krypton e fez história na Terra, dividido entre eee o romance com a bela Lois Lane e a luta contra o crime e Lex Luthor, seu arguiinimigo. Interpretado pelos atores Christopher Reeve (no passado) e Tom Welling (nos dias atuais), o Homem de Aço é a verdadeira personificação da força, da velocidade e da invulnerabilidade. Se tal criatura de fato existisse, qual fotógrafo não gostaria de voltar aos anos 30 e registrar suas ações heróicas em diversas partes do mundo? Enquanto as máquinas do tempo não se tornam realidade, uma opção é divertir-se com o jogo virtual Stop Press Game, no qual você é o fotógrafo do Planeta Diário mirando sua câmera para os céus de Nova York, Sidney, Estados Unidos e de outros países, à medida que vai avançando nas fases do jogo. A convite da FS, o fotógrafo Guilherme Maranhão [http://refotografiablogspotcom] desbravou o game e, apesar de um pequeno desentendimento com o mouse, obteve boas imagens na capa do jornal (ao lado). Embora satisfeito com sua atuação, o fotógrafo afirma que faltou o vento gelado no rosto, como se estivesse no topo de um edifício . Para você que procura um furo de reportagem o esquema é sentir o vento gelado que vem da sua janela e dedicar-se ao game. [CP]
tes. Pense no fluxo, na narrativa visual que você está criando.
Quais são as características fundamentais que um fotógrafo precisa ter para integrar o time da Getty?
Busco os fotógrafos com uma visão única e clara. Olho as habilidades de composição e! procuro surpresas, É bacana ver quando o fotógrafo tem o controle dos ambientes e da iluminação. Pessoalmente, gosto mais de ver fine art ou trabalho autoral, mas no campo comercial em que estou preciso de fotógrafos que consigam pensar de forma conceitual.
Como os fotógrafos podem entrar em contato com você?
Se você está interessado em trabalhar conosco, visite o site http:// corporate.gettyimages.com/source/ contributors para saber mais sobre o processo de envio de seu trabalho.
(O imp://hk.promo.yahoo.com/movie /superman/Stop. Press. Game/. all Claro Refotog RefotogSite Porifa SiteDani Fotosite Planet =
Superman Returns(TM): Stop! Press! Game o PR E a PureMac DepCalvin
À seguir, o fotógrafo Fernando Nalon dá a ficha do making of da imagem utilizada no anúncio das sandálias Havaianas Slim. A foto foi premiada com o Leão de Ouro, na categoria Press, durante o Festival de Cannes de 2007
Anunciante: São Paulo Alpargatas
Produto: Havaianas Slim
Fotógrafo: Fernando Nalon
Assistente: Daishi Pais
Agência: Almap BBDO
Conceito da campanha: Produzir algo que fosse bastante feminino e, ao mesmo tempo, explorasse o diferencial do produto: as tiras mais finas. Os layouts foram pensados para que, além das tiras, também ganhassem destaque as cores e os padrões do produto.
Câmera: Canon EOS 1DS Mark II digital
Lentes: 100 mm
Iluminação: Tungstênio
Locação: Estúdio Almap BBDO
Dificuldade: Obter uma imagem gráfica (mas fotografar as sandálias Havaianas é sempre bacana!).
Elaboração: Para conseguir esse resultado fizemos tudo separadamente: uma foto com um fundo de madeira rústico, uma foto com sombra, uma foto das tiras e uma foto de uma base pintada de dourado para a ilustração.
Diretor de criação: Marcello Serpa
Redator: Renato Simões
Diretor de arte: Bruno Prosperi
Produtor gráfico: José Roberto Bezerra
Ilustradores: José Cortizo Jr. e Daniel Moreno
Art buyer: Teresa Setti
Mensagem a Moda Antiga
Cartão-postal personalizado une elementos tradicionais à praticidade da internet
Já parou para pensar qual foi a última vez em que você recebeu um cartão-postal? Talvez isso tenha acontecido há muito mais tempo do que você imagina. De origem ainda controversa, os cartõespostais começaram a ser utilizados em meados do século 19 como uma forma concisa de trocar correspondências. Contudo, com o advento da internet, essa troca passou a ser realizada somente em ambiente virtual, e o sistema via correios saiu de moda. Com o intuito de unir um aspecto ao outro, o fotógrafo Kin Dias e o empresário Fábio Itapura criaram o Postalweb [www.postalweb. com.br], portal que permite enviar cartões-postais para o mundo todo, à moda antiga. Nosso projeto visa recuperar a intimidade e a nostalgia do cartão-postal, ligando-o a um veículo contemporâneo e fácil, que é a intemet , diz Itapura. A diferença é que, em vez de lançar mão das cenas tradicionais, como o Pão-de-Açúcar, o Rio Amazonas e a Avenida Paulista, o usuário pode criar um postal personalizado com suas fotos favoritas e enviá-lo para onde e quem ele quiser. Segundo os idealizadores do projeto, o aspecto mais impressionante é que, invariavelmente, o serviço é requisitado para comunicação entre moradores de um mesmo bairro. No Brasil as
postagens custam R$ 3,99 e nos demais países, R$ 4,99. [CP]
Fernando Nalon. fotos
PERSONAGEM
Jeitinho "Uai"
Fotógrafo de rua fala das artimanhas para continuar a sobreviver em meio à falta de filmes e de espaço
Ele tem nome de cantor e compositor, mas talvez seu maior talento não esteja na arte de encantar o público com a sonoridade de suas canções. Mineiro de articulação rústica, do alto de seus 52 anos de idade João Bosco é uma figura que, por 28 anos, sustentou a família trabalhando como fotógrafo de rua e empunhando uma antiga câmera Polaroid. Hoje, praticamente em extinção, a atividade sofre em razão
estabelecimentos banem a prática e, de outro, a era digital torna-a dispensável. Para piorar a situação, a Polaroid parou de fabricar filmes. O que fazer? Traçar uma estratégia para se manter no mercado, através da prospecção de novos clientes e da conversão de todo o esforço em dinheiro? Ou, no caso do João, simplesmente explorar o badalado bairro paulistano da Vila Madalena, pólo de diversos bares e restaurantes, agitado pela presença de jovens casais (ou não!) de classe média, dispostos a comprar o registro de um instante de felicidade = é esse, segundo Bosco, o objetivo da sua atividade e por fim render-se à digitalização, na forma de uma Canon Power Shot. Com a receita na cabeça, o talento na lábia e o Je fala a seguir das fórmulas que encontrou para integrar-se nho uai de ser, o fotógrafo, que traz a Polaroid no boné,
à realidade pós-moderna. Só a título de curiosidade: seu cartão de visita consiste em um envelope para carta que traz carimbados seu nome e números de telefone.
Como é o seu trabalho hoje?
Tenho uma câmera digital e ando com uma impressora da Polaroid. O problema é que ela é pesada e depende de energia elétrica para funcionar. Mas não dá para ficar pedindo aos donos de bar para ceder energia também [alguns comerciantes impedem a ação dos fotógrafos de rua]. Então, nós desenvolveremos uma bateria para facilitar.
O senhor tinha alguma relação com a [empresa] Polaroid?
Utilizo o resto dos filmes Polaroid que tenho, pois está cada vez mais difícil de encontrá-los para comprar. A minha relação com a empresa começou quando a minha câmera deu
com mais descontos.
Quanto o senhor cobra por foto? Qual é o seu faturamento?
Isso D ria entre R$ 8e R$ 10. Calcular o faturamento é difícil, baixo, R$ 400, no alto R$ 800. E a concorrência áquinas digitais ficou mais difícil. D
Como o senhor analisa o mercado de fotografia? É um pouco trabalhoso, mas dá para sobreviver. Às vezes eu faço uns bicos, mas é com a fotografia que eu ganho o meu sustento.
O senhor é um bom negociador? Sim, eu sou. Aprendi com o trabalho fotográfico. Fiz um curso na Frente de Trabalho do Governo e lá eles ensinam mais sobre vendas, sobre como montar a sua empresa. Sabem que ninguém vai ter emprego mesmo, então, ensinam você a fazer tudo por conta própria. [FL]
BY CIA DE FOTO www.ciadefoto.com.br "Por que me fotografar tanto?" João deixou essa no ar, durante o ensaio. No momento, ele queria se ver livre daquele incômodo. Foi um quebra-gelo. Mas a pergunta é pertinente: hoje fotografa-se muito, todo mundo, a toda hora. Quem tem a resposta? E o que responder se, afinal, publica-se apenas uma imagem?
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De um lado, uma sociedade indígena poligâmica. Do outro, uma fotógrafa admirada. Separados pelas distinções culturais durante alguns instantes, o olhar curioso confronta os mistérios de um povo que, até pouco tempo, permaneceu intacto, no anonimato de uma floresta silenciosa. Encravada no interior do Estado do Pará está Renata Ursaia, enfronhando-se no cotidiano dos Zo'és, uma aventura que ela descreve nas linhas seguintes
D sis de meia hora voando numa espécie de "Fusca alado começamos a descer. Antes mesmo de pousarmos na minúscula clareira no meio da mata, já dava pra vê-los lá c cima: umas cabecinhas pretas como as de formigas correndo na direção da pista de terra cos por um raio de trezentos quilômetros demarcados e vigiados pela Funai, no interior do Pará, vivem os índios Zo'és: uma sociedade poligâmica composta de duzentos e poucos índios, distribuídos em sete aldeias no meio da Amazônia. Fui convidada para, com um repórter, documentar o trabalho de um casal de antropólogos que preparam os Zo'és para uma inevitável aproximação dos brancos
Quando desci do avião, crianças pulavam no meu pescoço ou tentavam levantar minha blusa. Mulheres mexiam no meu cabelo. Falavam e riam. Eu não entendia nada. Os Zo és adam nus, falam uma variação do tupi e casam-se com mais de um parceiro. Não elegem caciques, nem gostam de guerrear. Não têm nenhuma comemoração específica m festas quando dá vontade. Alimentam-se principalmente de antas, pacas macacos, que caçam e preparam em fogueiras próximo às moradias coletivas
As fotos foram feitas em cromo, praticamente todas com te de 50 mm. Não sou da escola bressoniana, que acredita na mínima intervenção do fotógrafo. Pelo contrário. Apóio todo tipo de manipulação. Pra mim, o trabalho, quanto mais pessoal, mais verdadeiro. Mas nesse caso eu me sentia perdida. Por ter apenas dois dias e por causa da intensidade da experiência, eu ia fotografando sem conseguir elaborar direito o que via. Fui tentando cercá-los mesmo, bem à mod dos brancos
Voltei me sentindo estranha, arrastando um pedaço de borracha colorida sob os pés, com o pulso amarrado por uma pulseira de ponteiros. E o que é pior: com aquela sensação incômoda de que as fotos não davam conta do que eu tinha visto. Lamentei pertencer a uma cultura que atropela qualquer coisa que não se pareça consigo, em que o conceito de progresso é no mínimo contraditório
Renata Ursaia já fotografou desde retratos, ensaios de moda até matérias de viagem.Para achá-la acesse Wwww.ursaia.com.br
C Fuje
ARTE 30 GRAUS
ICE, trem-bala alemão, deixa Berlim para trás. No mp3, Jane Birkin assina a trilha sonora. Foi minha segunda viagem à capital alemã. Na primeira, em 1993, fazia quatro anos que o muro tinha caído. A cidade parecia estar sob o efeito de alguma droga da incredulidade . Dezoito anos após a queda do muro, Berlim floresce magnânima. Hoje o percurso beirando o muro cenário da cruel divisão alemã que perdurou trinta longos anos é uma ciclovia. Ás ruínas foram propositalmente preservadas para manter viva na memória dos berlinenses e do resto do mundo uma história que, segundo os próprios alemães, não pode se repetir. Prenzlauer, o Soho berlinense e um dos bairros mais descolados da cidade, está localizado na área antes ocupada pela Berlim Oriental. Suas ruas exalam modernidade. No verão europeu, sob um sol de 30 graus, o peso de sua história fica mais leve. Conhecer o cenário artístico da cidade foi um dos pretextos da minha viagem, que incluiu passagens pela Documenta de Kassel e a Bienal das Artes de Veneza. Em Berlim, a indiferença às formalidades quando o tema é expressão artística me encantou. As cores e as formas cobrem os muros, as galerias de arte, a fachada dos prédios e o interior dos bares e das casas noturnas. Artistas e designers de todas as
partes do mundo aportam na cidade o tempo todo, criando um verdadeiro fluxo migratório das artes. Um dos projetos artísticos que mais me chamaram a atenção foi a criativa mostra Schmerz ( dor , em português), no Museu Hamburg Bahnhof. Executado de modo harmônico, ele expressa a busca da materialização da dor por meio do confronto entre trabalhos artísticos, religiosos, médicos e de objetos cotidianos. Alguns temas em destaque são ocaráter contraditório da dor, o fato de ela nos acompanhar quase o tempo todo em menor ou maior intensidade e as reviravoltas que ela pode provocar na vida das pessoas.
O sentimento de dor pode ser altamente contraditório. Apesar de em geral ele ser percebido como algo insuportável e intrusivo, em algumas esferas é considerado necessário ou pelo menos suportável. A dor transmite intensidade como nenhum outro sentimento e pode ser um meio para novas experiências , frisa um dos textos da exposição.
Dias antes de ir à Berlim, estive em Kassel para visitar a Documenta, exposição de arte internacional que ocorre a cada cinco anos na Alemanha e está na sua 12º edição. Sobre a cidade, organizada e tediosa, não há muito que dizer, mas a Documenta vale a pena. Além de abrigar obras de artistas
consagrados, há nela um espaço significativo para aqueles que não fazem parte do circuito oficial das artes, com obras frescas e propostas ousadas. É o caso do taiwanês Tseng-Yu-Chin, com a vídeo-instalação Who listening?Ao exibir cenas de uma mãe brincando carinhosamente com seu filho em um sofá durante vários minutos, a obra fala de modo singular sobre a memória da infância perdida e a preocupação com temas recorrentes no universo infantil, como a inocência, a vulnerabilidade e a intimidade.
O primeiro destino de minha viagem-relâmpago à Europa foi Veneza e sua Bienal. Também sob um calor de mais de 30 graus. Embora o volume de turistas e o odor dos canais constituam um anticlímax, Veneza sempre tira o fôlego. O Arsenale e o Giardini della Biennale, espaços que abrigam as exposições da Bienal, são impressionantes. A disposição das obras as valoriza, mas elas, em sua maioria, não me provocaram. Saí de lá com a sensação de déjá vu. Valeu o óbvio de visitar a Peggy Guggenheim Collection, na casa onde a colecionadora morou com seus cachorros durante trinta anos À exposição traz um acervo de obras de clássicos sempre obrigatórios: Magritte, Miró, Calder, Picasso, P Brancusi, Pollock, e por aí vai.
O quente verão europeu transpira Pp arte. Para todos os gostos. Para todos os sentidos.
Arrivedercci. H
FERNANDA CERAVOLO
por thales trigo
ntes da Segunda Guerra Mundial, Ã.. países da Escandinávia não tinham uma indústria de equipamentos fotográficos a maioria desses equipamentos era importada da Alemanha. Com o início do conflito, em 1939, o governo da Suécia encomendou a Victor Hasselblad, jovem fotógrafo e projetista óptico, o projeto de uma câmera aérea, para uso em aviões.
A primeira Hasselblad, apresentada em 1940, fazia imagens em grande formato, de 9 x 12 cm. Ao final da guerra, Victor Hasselblad desenvolveu o projeto de uma câmera para imagens de médio formato, de 6 x 6 cm. Era o modelo 1600 F que se tornaria um clássico. A câmera, com uma objetiva e um obturador de plano focal, tinha tempos de exposição variando entre Is e 1/1600. Além disso, contava com um magazine para filmes independente do corpo da câmera, característica ímpar e que constituía um notável avanço técnico para a época.
Com esse novo equipamento, usando vários magazines, o fotógrafo podia escolher o melhor tipo de filme para cada situação, expor cada grupo de imagens da maneira mais apropriada e depois revelar os filmes de forma controlada. Desse modo, um único corpo de câmera e suas várias objetivas tinham ampla utilização.
Os projetos foram sendo modificados até que, em 1952, a série 500 C foi introduzida. O equipamento apresentava obturador central Compur e tempo de exposição de 1/500 s, além de uma objetiva Zeiss Tessar de f 2.8. Por questões de padrão, a empresa batizava seus novos modelos de acordo com o tempo de exposição mais curto (500, por exemplo) e do tipo de obturador (F para focal e para Compur). Foi graças à excelência do projeto e às características técnicas da Hasselblad que ela se tornou uma das câmeras preferidas entre os fotógrafos.
Quando, em meados da década de 1990, os sistemas digitais começaram a ser desenvolvidos, a Hasselblad de médio formato era a opção mais
Bons Projetos Resistem ao Tem
inteligente e viável: tratava-se de uma câmera com magazine removível, além de excelentes qualidades óptica e mecánica. Por essas qualidades, tornou-se o principal suporte para os backs digitais produzidos pela Leaf, Sinar, PhaseOne e Dicomed. Foi assim, e ainda é.
A Hasselblad da foto é uma 500 CM (M de modificação), com pequenas variações em relação à 500 C. A câmera está acoplada a um back digital Leaf Aptus 75 com um sensor do tipo CCD full-frame de 33 megapixels (6726 x 5040 pixels) e medindo 48 x 36 mm. O back digital tem um visor de 6 x 7 cm touch screen, isto é, seu controle é feito a partir de toques no visor, e produz arquivos em TIFF com 95 megabytes em 8 bits, ou arquivos de 190 megabytes em 16 bits.
Como todos os corpos de câmeras e magazines, as Hasselblads também têm
um código formado por um conjunto de letras que identificam o ano de sua fabricação e seu número de série. Aqui vai o código Hassel:
Vil PHerxiuúwuRrRAEaS tl 2 34 56 7890
Uma câmera com o código TE 54328 foi produzida em 19 (69) com número de série 54328. Como o código foi introduzido em meados do século 20, o prefixo é sempre 19. Para as câmeras do século 21, naturalmente o prefixo é 20. m
THALES TRIGO
Thales Trigo
SPAOLHADES
ornatos
revolução
fome se alastra por todo o país. Em breve A srotesios tomarão a cidade. Em Odessa marinheiros de um navio gigante, atormentados pela situação extrema de terem de consumir alimentos podres, revoltam-se contra seus oficiais, jogando-os ao mar e mirando para a cidade uma série de canhões. Com lances como esses, em pretoe-branco e sem som, foi composto O Encouraçado Potenkim, filme de Sergei Eiseinstein que baseia seu roteiro na crise vivida em solo russo, a partir de 1905. Maniqueísta ou não, a obra de Eiseinstein retrata um período desesperador que finda em um dos momentos mais rememorados pelas sociedades do mundo todo: a Revolução Russa. À ação, ocorrida em novembro de 1917 e liderada por Vladimir Ilich Lênin, poria fim ao domínio dos czares e lançaria a história a uma nova era, já que naquele instante nascia a primeira república socialista do mundo e a futura União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Aí, camponeses e operários vibravam com a utopia de participar das decisões governamentais. O princípio do marxismo, defendido por Karl Marx e Friedrich Engels, plantava suas sementes em território russo e, em pouco tempo, se alastraria. Nove décadas após os gritos da revolução, com pausa em 1991 para a dissolução de toda a União - S
7 Soviética, o cenário russo acolhe no poder um noE vo Vladimir, ex-membro da KGB, de olhar gélido,
que, entre acusações de tentativas de assassinato e cerceamento da liberdade de imprensa, conduz seu país aum crescimento econômico acelerado, com aprovação da maioria dos cidadãos, embora não consiga impedir as críticas furiosas sobre sua relação instável com os chechenos. Como em todas as épocas da História, as inquietações diante dos acontecimentos políticos ganham destaque e são convergidas em arte. Na terra das Matryoshkas não é diferente, e a transição se estende à fotografia. Na Rússia, além dos tradicionais Boris Mikhailov e Gueorgui Pinkhassov, somam-se os desconhecidos Ivan Kurinnoy, Igor Moukhin, Serguei Chílikov, Vikénti Nílin, Serguei Tarásov, Oleg Dou e Katerina Belkina, que pensam o mundo apoiados em tecnologia e tradicionalismo, abrigados num mercado que ainda enfrenta o peso da peculiaridade clássica da fotografia russa. Englobando esse momento de mudanças, mesmo separados por limites geográficos e socioculturais, três fotógrafos brasileiros buscaram entender essa sociedade pós-socialismo, encravada em Moscou e São Petersburgo, através de sua narrativa visual. O resultado é a mostra "Cosmos - Três Olhares sobre a Rússia", que compila cerca de 190 imagens concebidas por Maurício Nahas, Paulo Mancini e Ricardo Barcellos. Nas páginas que seguem você vê, entre olhares russos e brasileiros, as faces de uma Rússia atual, em fase de reconstrução e
MAURÍCIO NAHAS
www.mauricionahas.com.br
A sociedade européia ainda é uma realidade extremamente distante da nossa sociedade. Essas diferenças são evidentes no cotidiano russo?
tecnológica, no cotidiano vê-se uma cle
Se compararmos a Rússia com a Europa, notaremos que a presença do Estado ficou impregnada no inconsciente russo, o que é mais próximo do nosso do que do inconsciente europeu. Apesar da evolução sse média muito reprimida. Poucos privilegiados tiveram ascensão financeira. A maioria vive em situação precária. Se compararmos essa realidade com a do Brasil, nossa
classe média vive melhor. Por isso é difícil compará-los com o restante da Europa, já que a Rússia é tido como um país de Primeiro Mundo, embora apresente muitos aspectos de Terceiro Mundo.
O que é mais chocante ou mais marcante na sociedade russa?
O mais chocante é ver o medo que eles têm do terrorismo. À presença subliminar dos separatistas chechenos causa muito medo nos russos.
RICARDO BARCELLOS
www.ricardobarcellosfoto.com.br
O que você encontrou no território russo? Qual é a realidade por lá?
Percebi uma sociedade que passa por uma transformação violenta, por um conflito de gerações absurdo. De um lado você tem os velhos órfãos de seus ideais e de outro, a juventude seduzida pelo hedonismo capitalista, sem filtros e, acima de tudo, sem a tradicional culpa católica. Décadas de ateísmo abriram um espaço sem precedentes no país.
O que é mais chocante ou mais marcante na sociedade russa?
O fato de as mulheres terem a cabeça muito mais aberta que os homens.
PAULO MANCINI
www.paulomancini.com.br
Você identificou algum grupo da sociedade que resiste às mudanças sociais e econômicas pelas quais a Rússia está passando?
O que tem de mais evidente na sociedade russa é precisamente a contradição. Há pessoas que consomem tudo em exc talvez por terem fácil acesso aos bens; de outro lado, há pessoas que mal conseguem se sustentar. Como nos sso bebidas, cigarros, roupas, carros ,
edifícios não há síndicos nem porteiros, as instalações comuns estão se deteriorando. Os edifícios mais novos e modernos entram em conflito com a personalidade das construções mais antigas. As coisas ainda funcionam, mas percebe-se um certo caos.
O que é mais chocante ou mais marcante na sociedade russa?
De modo geral, as diferenças de opinião. Procurei retratar um pouco disso, fotografando pessoas que residiam em casas típicas de um jeito bastante simples. Em contrapartida, fotografei jovens skatistas, a grande maioria fumante e com um visual americanizado. O que percebi foi uma grande disparidade de gêneros. Tudo está se transformando, e algumas tradições estão se eternizando.
EPE ACRE) am aeee
KATERINA BELKINA
[www.belkina.ru], 33 anos
Com formação em Artes Plásticas pelo Samara Art Institute, Belkina funde seus conhecimentos em pintura com fotografia Na a russa atual existem
a no mundo é em ger Nosso mercad o oportun dades, mas fotógrafo de arte é muito mais complicado, porque o tradicional. [Sobre a obra] Às vez otos; outras desenho
OLEG DOU Iwww.douart.ru], 23 anos
Apoiando-se em ferramentas tecnológicas, Dou, formado em Economia pela Steel University, contrói uma série de réplicas que questionam a manutenção cultural
Segundo o fotógrafo o objetivo de sua obra é discutir a auto-expressão e a individualidade humanas, duas caracterís as que, ao seu ver, deveriam permanecer imutáveis. O último século foi um período de uma intensa globalização. Claro que isso trouxe muitas coisas boas para a humanidade, mas também consigo ver o lado negativo disso.
Hoje é muito difícil manter uma cultura. Nós nos esquecemos de que cada cultura tem seu jeito de ver e estabelecemos padrões de beleza universais.
Se você for aos Estados Unidos, à Rússia, à Europa e à China, verá os mesmos cortes de cabelo, as mesmas roupas. Considero-os todos clones, e quero falar sobre isso , dispara. A série de ensaios dos clones nascidos a partir de técnicas do Photoshop já viajou a países como a Bélgica, os Estados Unidos, Paris e a cidades da própria Rússia.
PARA VIAJAR PELA RÚSSIA
Para Ler: The Commissar Vanishes, David King, um livro encontrado nos arquivos secretos do Kremlim
Para Ouvir: Confira neste aqui - wwwfotosite.com.br/russia - música típicas da região russa
Para Navegar: Moskóvski Dom Fotográfii - wwwmdf.ru
Já que os preços dos equipamentos não são - na verdade, nunca foram - compatíveis com o bolso dos fotógrafos, o jeito é apelar para a boa e velha gambiarra na hora de se virar numa pauta. A criatividade é a palavra de ordem quando falta aquele acessório essencial para passar a matéria, iluminar a cena ou aproximar o foco. Ela pode ajudar a economizar bons trocados e a salvar a situação... Ou não!
1. Quem não tem cão...: Fiel tenta dar uma melhorada no zoom na horade fotografar o Papa. Se funcionou foi um milagre!; 2. Invenção brasileira: proibido no estádios gringos, nem sempre os guarda-chuvas resistem ao vento; 3. Resolvendo o problema na raça: fazendo seu próprio pára-sol e economizando um trocado no lugar do original (HK-30 Lens Hood for 200-400mm f/4 & 300mm f/2.8 VR Lense - U$ 279,95); 4. Stanley Kubrick deve estar se revirando na tumba com o colete Steadcam de guidão de bicicleta com aparelho de abdominal adaptado pelo colega cinegrafista; 5. Difusor original da Nikon SW-10H nos States: 12,95 dólares (sem o frete). Garrafa PET vazia e fita | crepe: menos de 1 real. Ver que seu flash funcionou assim mesmo: não tem preço!
Obras de Daniel Augusto Jr. mostram que carinho e intimidade também podem ser características do universo machista
POR NINA LEMOS
omem que é homem adora futebol. E gosta de futebol porque é o momento em que ele pode mostrar o amor maior que sente no mundo: pelos outros machos, é claro! Eles até fingem, no meio-tempo, na entressafra dos campeonatos, que gostam de mulher. Mas nada como uma final de clássico para revelar a verdade: homem ama homem, dentro e fora do campo.
Enquanto Tévez coloca a mão no peitinho de um colega, num gesto parecido com o das moças siliconadas que correm ao banheiro a fim de exibir seus mililitros para as amigas e gritam: Coloca a mão", os amigos torcedores fazem uso de outros tipos de declaração de afeto.
Todo mundo sabe que homem, em geral, não gosta de telefone, nem para falar, nem para usar mensagens de texto. Para a gente, eles não ligam
mesmo. Mas tudo muda na final do campeonato. Meus amigos mandam uma média de dez mensagens de texto por minuto enquanto assistem aos jogos. Nessas ocasiões, eles passam a amar o aparelho, instrumento que possibilita a comunicação com outros homens. Além disso, dão lindas provas de paixão, como telefonar de dentro do estádio para o amigo que não pôde irao jogo para que ele ouçao grito da torcida ou a nossa música de amor, a nossa canção . A paixão leva-os até a realizar um feito do qual em geral são incapazes: fazer duas coisas ao mesmo tempo! Assim, eles vêem e escrevem, apertam e enviam...
Não surpreende, em meio a tantas manifestações de carinho, que dentro do campo os machos improvisem uma almôndega (se você é macho e não sabe do que se trata, almônde-
ga não é um bolinho de carne que você come enquanto vê o jogo, mas uma espécie de agarração coletiva na qual vale de tudo e que era um clássico nos clubes gays da década de 1990). E ai da mulher que tentar se meter no meio de uma almôndega futebolística! Nem que essa mulher seja a bandeirinha Ana Paula de Oliveira (para quem, inclusive, ninguém deve olhar durante uma partida): se ela se enfiasse no abraço coletivo dos jogadores ou num de torcedores no estádio, provavelmente ouviria um sai para lá" ou seria solenemente ignorada, porque, como todos sabem, o amor cega. Ainda mais um amor tão intenso, como o dos homens pelos outros homens, que se manifesta em grande estilo graças aos jogos de futebol, esporte que deve ter sido inventado só para isso!
Esta é uma obra de ficção que não tem por objetivo insinuar a sexualidade nem ridicularizar qualquer um dos personagens envolvidos. A idéia é estimular a diversão tendo como ponto de partida o ensaio realizado por um fotógrafo profissional
olhar estrangeiroCAN
A convite da FS o fotógrafo de publicidade e moda
Felipe Hellmeister sai do estúdio e se aventura como fotógrafo do jornal Diário de São Paulo, perseguindo um ladrão de calcinhas pelas ruas de Barueri
POR FELIPE HELLMEISTER
heguei ao jornal às 14h30, e lá estavam dois editores k6 e alguns fotógrafos que esperavam as pautas. Isso, para pras ada poa mim, já é muito louco! Como frila, antes de qualquer coisa preciso correr atrás de trabalho! O editor Marcão sugeriu advootimeo. > que eu fizesse a pauta sobre um pedreiro que acabara de ser preso por roubar calcinhas de uma vizinha. Lá fomos, eu e Estuprador tem Ladrão de calcinhas preso o repórter, para o Jardim Flórida, em Barueri, a uma hora de nomes das filhas ao atacar varal da vizinha distância do jornal (uma hora na ida e duas horas na volta!). À tatuados no peito Sumiço de peças de roupa íntima de dona-de-casa já ocorria havia seis meses vizinha e seu marido concordaram em nos deixar fotografar Expresidiário violentou pelo menos ane cinco mulheres em menos de um mês o varal com as calcinhas roubadas e recuperadas. Do ladrão na regiãodeSanto Amaro, diz polícia roms não foi possível fazer um retrato. À história é ótima e dá um bom curta-metragem. A mãe, o marido e a dona das calcinhas estavam superconstrangidos, são evangélicos, mas as peças eram todas bem sexy, tipo de oncinha ou fio dental preto O marido da dona das calcinhas fez uma primeira edição pedindo que fosse apagada qualquer imagem em que a casa pudesse ser identificada e permitindo que eu mantivesse no cartão apenas fotos fechadas nas calcinhas. Achei isso muito
Furto quaiicado curioso, pois dificilmente alguém edita meu material. Porém ali, vi que qualquer imagem que identificasse a casa ou a família poderia, se publicada, trazer sérias consegiências aos envolvidos. A edição, usualmente estética e técnica, cedeu lugarà responsabilidade. Em comparação com o meu dia-a-dia
Po E E Mais de 20 peças íntimas já haviam sumido adorei a autonomia. Também é do cacete a agilidade com que Pa emp. qe trocas ro tudo acontece: sair, fotografar, ver o editor sair literalmente correndo para o andar de cima, mostrar aos outros editores as opções, já fechar a foto que vai ser usada, mandar tratar e a pi md ai e Da deixar a imagem pronta para O diagramador usá-la. O cotidi- Polícia invade casae Nove carros roubados Enfermeiracai Empresárioé ano do fotojornalista é pedreira, correria total. Então lá se vai idosa sofre derrame em estacionamento Mies eefeiro a o romantismo de fazer uma puta foto ou produzir um grande Moradora morreu após a ação policial |» Bando usava local havia dois meses omecam PO ção Cri ensaio. Uma coisa que achei esquisito é que a foto não é, a priori, o mais importante. Já na foto publicitária, a imagem em si é supervalorizada, é o que mais importa, e o texto é usada para ilustrar a imagem . No dia seguinte compro o jornal e lá está a matéria, com a foto impressa em um quarto de página Agora, o melhor de tudo é acabar o trabalho, tomar uma cerveja gelada saboreando um belo sanduíche de pernil, sabendo que publicitárias ou jornalísticas, o destino de nossas fotos é o mesmo: virar embrulho de peixe no dia seguinte
[SAIBA MAIS:
Leia a íntegra do texto que detalha esta aventura em EESESE CEE SOUSA www.fotosite.com.br/hellmeister
sente a pressão
'ossedla & IuBI/DIpojN Sp eg eu eosng enb ogdeudsui e essedsuem oyesbojo| o 'nu oJBou odiod tn Sp seaino se weuiopeid enb we oresus un WJ3 'Zn| Sp eIugsne esenb eu Jnsixo apod anb apepijensuas e 23049 [Nes uei|suyo
epeue Jeyjnu ejod ogóeItupe e Jeziuisjo wo ejsise! anb 'oueuibeu! oudoJd ou quod Lusa
Et Mm sensualidade sem culpa.
O que não pode faltar na imagem que tem a proposta de trabalhar com sensualidade? [HAIR
Com um tema desses nas mãos, o que costuma ser sua inspiração?
Eu me deixo levar pela arte, por pinturas que marcaram a História, como as de Amedeo Clemente Modigliani, Balthus e Pablo Picasso. Mas tão importantes quanto as obras dos outros artistas que você admira são seus próprios sonhos e experiências. Nada inspira mais do que a mulher que você ama e admira. Nada mais lindo do que vê-la acordar, vê-la dormir, ver como ela respira enquanto também sonha. Costumo transportar essas lembranças para o set quando estou fotografando, [RE rita UA Tolo air To Ri PereT que aínda gostaria de ver. À inspiração vem de muitos lados.
O que vemos na foto? Um ensaio de moda em que as roupas foram minuciosamente descritas num texto de ficção maravilhoso, escrito por Luciana Peçanha. A idéia era vestir a modelo com a descrição feita pela autora.
Fotografia é...
guardar imagens, sejam elas representativ as de momentos pessoas ou épocas
Não sai de casa sem sua câmera?
Uso muito a minha câmera, que eu adoro, mas hoje em dia eu uso um celular que é praticamente uma câmera que fala. Tem 3.2 megapixels, mais do que a primeira câmera digital que vi. Adoro fotografar encontros, coisas das quais eu quero me lembrar depois
Quem está nos seus porta-retratos?
Não tenho porta-retratos, mas um mural com algumas fotos de infância, dos meus pais e da minha irmã
Curte quais fotógrafos?
Pierre Verger, Cassio Vasconcelos, Annie Leibovitz, Robert Mappelthorpe, Lachapelle, Helmut Newton, Sebastião Salgado... São tantos!
Quem gostaria de clicar?
John Lennon. Dos vivos, acho que uma banda de rock Sempre tive essa vontade de registrar os momentos de uma banda. Fotografaria o John Casablancas dos Strokes
E gostaria de ser clicado ao lado de... David Bowie, meu ídolo!
MARINA PERSON
Na web: www.pitchforkmedia.com, para música, e www.imdb.com, para cinema.
Na TV: David Letterman. É meio óbvio, mas gosto da maneira como ele entrevista as pessoas. No Ipod: Boy From School , do Hot Chip, Nine Out of Ten , do Caetano Veloso
No desktop: a foto de um igarapé, que eu tirei na Amazônia, a coisa mais impressionante do mundo.
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Graffiti mostra desde os extraordinários extremos criativos gerados em meio a depravação urbana do piche aos murais mais elaborados,
Zeitgeist O líder e vocalista Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, está'de volta à cena musical após sete anos, juntamente com seus parceiros, no sexto disco da carreira da banda intitulado Zeitgeist . O CD tem como primeiro single a faixa Tarantula , além dos hits Doomsday Clock , United States e Far.God And Country. ak - Dar Br! :f Y
Bob Gruen Grandes bandas como The Clash, New York Dolls, Ramones, Iggy Pop & The Stooges e muitas outras estão presentes com fotos nesse livro.
Território de poucos reportagem traz o universo da
texto por PAULO LIMA er r FLÁVIA LELIS E CAROL PATROCINIO
ES PIE EE ESET fotografias. Nesse longo período, tive o privilégio de conhecer, conviver, trabalhar, interagir e até brigar com alguns dos mais glamorosos famosos, respeitados e competentes fotógrafos do Brasil e de outros países. Os de moda, os especializados em retratos, em nus femininos, em arquitetura, stills... os fotojornalistas... os do esporte. Ao longo desse tempo, nunca parou de crescer minha admiração pelos profissionais desses últimos dois grupos, destacadamente pelos fotógrafos de skate e muito especialmente pelos brasileiros. O motivo é simples: ao contrário de muitos outros subgrupos de artistas da fotografia, os fotógrafos de skate brasileiros fazem uma escolha muito clara (e talvez definitiva) em suas vidas: ficam com a paixão em detrimento do resto. Escolhem sem medo um campo árido e rodeado de quase nada. Sem dinheiro, sem reconhecimento fora do cercado do esporte, sem glamour e, na opinião de muita gente, sem futuro. O fotógrafo de skate, assim como os editores, os jornalistas e, em boa medida, os atletas desse esporte, é absolutamente cego para o canto da sereia que aponta todos os dias, 24 X 7, na direção do consumo, da fama, da ostentação como o modelo supremo de felicidade, como a fórmula perfeita para a supressão de todas as tensões e inseguranças da vida. De certa forma, esses profissionais nascem com um tipo de sabedoria que os impele na direção de valores ainda não perceidos pela maioria. A liberdade, por exemplo. Explorar o corpo e uas possibilidades de interação com as forças do planeta como uem desvenda os mistérios da vida. Relacionamentos humanos uradouros e sinceros. Alegria e êxtase aqui e agora... Quem tem se dedicado a esse campo da fotografia aqui no Brasil opta por lidar com um esporte absolutamente extraordinário, mas que, por algum motivo ou por uma série deles, vive uma espécie de eterna pré-adolescência no país. E, como todo préadolescente, alterna momentos da mais admirável maturidade om manifestações absolutamente infantis, criando em torno
STE ERES ETC intrigante.
Há quem diga que os empresários que vivem do skate são a grande trava de ignorância e exploração que impede o avanço e o amadurecimento. Não sei dizer. E acredito que, se isso for verdade, há boas exceções.
O fato é que as condições relatadas pelos próprios profissionais, assim como os depoimentos e as fotos que você vê aqui na FS, deixam claro que esse ambiente de poucos recursos funciona de certo modo como uma espécie de motor, de estímulo extra para que a paixão pelo esporte se transforme num combustível superpoderoso que faz aflorar um olhar original, um tipo de crueza criativa que diminui a dependência dos equipamentos supermodernos, das produções que tudo fazem para congelar momentos artificiais que podem ser repetidos até a exaustão, dos computadores mirabolantes que podem tratar as imagens até transformá-las no que não são. O fotógrafo de skate brasileiro transforma seu ambiente árido em recurso criativo, em personalidade. Como não tem muletas em que se apoiar, sai voando o vôo livre de quem, por não ter nada, pode tudo.
Há uma verdadeira escola desses profissionais no Brasil. Cito alguns nomes da geração de fotógrafos de skate dos anos 80, talvez a primeira a tentar realmente viver de fotografia de skate. São os nomes daqueles que conheci melhor e que me vêem à cabeça agora... Daniel Bourqui, que até onde sei vive no Havaí; Jair Borelli, que se tornou designer industrial; Petrônio Vilela, advogando pelos tribunais nacionais; Annibal Neto, hoje empresário do ramo têxtil; Helio Greco, Diorandi Nagao e outros com quem infelizmente perdi o contato.
Todos eles alguns ainda fotografando viram-se obrigados a buscar outras fontes de renda e de vida, embora não tenham deixado de lado a paixão pelo skate. Eles certamente taparam parte das crateras da estrada ainda esburacada pela qual trafegam os artistas convidados pela FS para a matéria que segue.
Um deles merece destaque especial. Shin Shikuma é um mestre. De alguma forma, apesar de um pouco mais novo que a galera mencionada acima, fez parte dessa primeira geração de fotógrafos dedicados ao skate no Brasil (ou segunda, talvez, se quisermos nos lembrar de que nos anos 70 Klaus Mitteldorf, Cesinha, Roberto Price, entre outros, abasteceram de fotos a revista Brasil Skate, e de que havia um certo Sergio Moniz, que documentava o esporte no tempo do skate a carvão...).
Apesar do talento que podia tê-lo levado além dos limites dos halfs e bowls, Shikuma optou por permanecer no território onde se sente mais feliz. Gosto especialmente de seu olhar preciso, de seu modo
sereno - para não usar o clichê jeito PA) ond [AI O o mundo. Sua fotografia em preto-e-branco era e ainda é sempre marcante. Lembro-me de que, dos fotógrafos de skate com os quais trabalhávamos, era um dos que não se satisfazia em observar apenas a ação... Conseguia capturar também o entorno, num olhar tão simples e exato quanto poético. E aí está ele, até hoje, eternizando o que vê com sua arte. E possivelmente fazendo escola. Assim como Bitão, Samelo e Moraes. Shin, passa lá na Trip para a gente tomar um drinque! Nossas revistas precisam do seu olhar... mesmo mais de vinte anos depois.
Todo mundo reclama, mas não larga a fotografia de skate. Vocês têm essa visão romântica da profissão?
Fernando Moraes: Acho que se fosse só romantismo nós já teríamos pulado fora faz tempo! Na minha época, as pessoas me criticavam, diziam que eu não era skatista, que era meio intruso, mas eu gostava muito daquilo. Quem não gosta pega malinha e se arranca!
Fábio Bitão: tipo um vírus do qual você não consegue se livrar. Só faço skate porque eu gosto para caralho. Todos os meus amigos fazem isso. É um estilo de vida. Não adianta qualquer pessoa vir tentar fazer esse tipo de fotografia
Shin Shikuma: É uma família. Para mim não existem dificuldades. Você passa alguns perrengues nas ruas, mas gosto disso.
Tem que ter o skate no pé para entender o que é
Flávio Samelo: E uma lição de vida... é difícil explicar. Por
exemplo: se tem um campeonato de vertical no Ibirapuera e sabem que o Bob Burnquist vai vir, vêm a Globo, os coletinhos [fotógrafos dos variados meios de comunicação que utilizam coletes nas coberturas]... É engraçado para cacete, porque o skate não faz parte da realidade deles
Esse esporte movimenta cerca de 300 milhões por ano, mas vocês não ganham nem 5% disso. Como vocês lidam com isso?
Shikuma: Essa é a minha maior tristeza... [risos] Mas eu continuo apaixonado por isso!
Existe uma concorrência?
Shikuma: A concorrência normal... Esse mercado é muito ueno. À parte comercial das marcas se perdeu um pouco,
PAULO LIMA, PUBLISHER E FUNDADOR DA TRIP EDITORA, CRIOU E EDITOU A PRIMEIRA
REVISTA DE SKATE DOS ANOS 80, A OVERALL, LANÇADA EM DEZEMBRO DE 1984
e está aceitando qualquer coisa. O próprio mundo da marca está aceitando o que for mais barato.
Samelo: Não existe concorrência entre a gente. Nossos nomes já são sinônimos de estilo, da marca. Fotógrafo virou peça de marketing
Bitão: Mas também tem as marcas que procuram o fotógrafo não pelo estilo nem sabem qual é o trabalho do cara , mas por notarem que ele está saindo em várias revistas e acharem que, por isso, ele deve ser bom
Quem fica rico com o skate?
Shikuma: É o empresário das marcas
Samelo: E um ou dois skatistas
Bitão: As pessoas acham que vamos à Califórnia a passeio e, por acaso, fazemos umas fotinhos! Mal sabem elas o que fazemos para sobreviver nessas viagens... que muitas vezes dormimos na praia, comemos na casa dos amigos... O negócio é correr por fora, ralar com pouco e minimizar as necessidades
Fernando: Por que eu trocaria uma coisa que gostava de fazer, que me dava prazer, que era bacana, em que tinha liberdade de ação por algo que me limitava? Porque eu não conseguia sobreviver! Você chegava na casa do cara para vender uma foto... O cara tinha três carros na garagem o que ele tinha todo o direito de ter , mas na hora de comprar a foto queria sempre que a gente facilitasse, baixasse o preço. Não dá para fazer duas por 1007 À gente sabe que o skate movimenta muito dinheiro, mas não vê
essa grana, não vê isso voltar para gente O que é mais difícil na fotografia de skate?
Samelo: Para mim, as coisas mais difíceis são o lugar e o cara. O que mais me preocupa é se o cara está lá disposto a fazer o trabalho, se vai andar de skate porque gosta ou só porque quer fazer marketing Se você precisa fazer a entrevista dele, a propaganda e muitas outras coisas, tornase uma coisa que vai além do skate, da verdade do skate
Depois vem a questão da sincronia, da velocidade. Hoje as coisas estão mudando. O skate virou um negócio de uns cinco anos pra cá. Os profissionais já entenderam que se trata de um trabalho, então aceitam esperar um pouco até o flash armar, até a foto ser tirada. E isso é bom para ele, para o fotógrafo e para o patrocinador
Moraes: O mais difícil foi fazer a galera aceitar aquele equipamento novo dentro do universo do skate. Alguns já estavam acostumados com aquilo, mas não naquela modalidade. Antes os skatistas não tinham paciência para fazer a foto... ficavam perguntando: Ai, você não feza foto ainda? . Era difícil fazero cara ver que aquilo que a gente estava fazendo era para ele
Existe estrelismo na fotografia de skate, como nas outras vertentes? Existe alguma restrição do tipo Só faço Bob Burnquist ou Sandro Dias ?
Moraes: Eu acho que não
Shikuma: Se rolar, o cara vai ser tão tirado ... Não tem essa de ficar fazendo tipinho ou muita linha!
Samelo: No Brasil não tem como fazer isso. Nos
Estados Unidos acontece, e muito! Aqui não dá para ficar se fazendo . Senão, você vai ser tido como estrela.
Antes a fotografia de skate já era levada a sério, ou mudou agora, com este boom?
Shikuma: O que falta no universo do skate é profissionalismo. Enquanto skate não virar esporte não vai dar certo Samelo: É por isso que acredito no nosso trabalho, que é feito de dentro para fora... pessoas do skate fotografando skate, que sabem da situação do esporte.
Como vocês analisam o reconhecimento da fotografia nacional no exterior?
Samelo: À experiência que tive nos Estados Unidos foi muito boa. As pessoas se interessaram muito eme chamaram para colaborar com as revistas! O mercado de lá é bem diferente, é 100% comercial. Você pode fotografar as melhores manobras do mundo, mas, se o patrocinador do skatista não é anunciante da revista, eles te descartam. Fotografia de skatista amador eles não publicam
Como vocês trabalham com a questão da inovação? Como fazem para sair da mesmice das fotos aéreas? Ou as revistas não querem inovar?
Shikuma: O skate chegou a um ponto em que as coisas começaram a ficar muito iguais. Eu exijo muito, até de mim mesmo, que se busquem coisas diferentes É próprio do skate inovar. Não podemos ser conformistas em nada a
essência do skate é essa! O skatista, quando está nas ruas, quer quebrar barreiras, ser diferente... não quer regras! O fotógrafo tem que acompanhar isso, não pode perder essa essência. À questão é o que fazer de diferente.
Samelo: Vamos combinar que somos fotógrafos de revista de skate, que é um negócio segmentado. Se não tiver manobra de skate, ferrou! O que nós tentamos é agregar nossas experiências. O Shin traz um pouco do jornalismo, eu venho da História da Arte. O skate comporta isso.
No Brasil, há algum tempo, surgiu uma crítica ao fotojornalismo, sobre mais do mesmo. A resposta para a crítica foi falta de espaço . No skate existem revistas segmentadas, tem espaço. E a qualidade?
Shikuma: Está muito boa, mas chegamos a um ponto em que não conseguimos assimilar mais ninguém. Chegamos a um ponto de estagnação.
Samelo: As revistas, aqui, são independentes. E tem cara que largou tudo para fazer revistas com fotos de qualidade. 8
E as marcas anunciam?
Samelo: As que investem pesado patrocinam os skatistas o que eu considero mais importante, já que, sem skatista, o mercado pára. Eles investem no objeto do negócio
A fotografia de skate chegará ao nível da arte, a ponto de invadir as galerias?
Samelo: Já está. Skate está ligado a isso, tem todo
o lance de composição. O que eu faço é colocar a minha experiência em História da Arte dentro desse universo. As pessoas começaram a olhar isso e me propuseram levar os trabalhos para as galerias
Shikuma: Temos de fazer muito mais trabalhos como o do Samelo
Vocês têm a intenção de fazer um livro?
Shikuma: Eu estou fazendo um, mas no meu caso isso é um pouco mais complicado, porque são trinta anos de trabalho. Estou no processo de edição, que é superdifícil
Acho que no ano que vem rola
Bitão: Tenho vontade de publicar meu livro ainda este ano
Mercado editorial ruim, todo mundo fotografando. Qual seria a saída para vocês, na fotografia de skate?
Samelo: Continuar fazendo fotografia de skate sem precisar viver dela
Shikuma: Quero dar outro upgrade na minha trajetória.
Quero continuar o meu trabalho com a Tribo, continuar no universo do skate, que foi onde cresci e evoluí. Mas também quero buscar outros caminhos com essa escola do skate , sem me esquecer de onde eu vim
Bitão: Não faço só skate. Uso isso como base para outros trabalhos, como a música, por exemplo. Acho que é um bom momento para a street art. Hoje há mais incentivo para exposições, por isso quero lançar meu livro
E você, Fernando? Você voltaria?
Moraes: Não, por incrível que pareça. Às vezes tenho uns flashbacks. Acho que não é o momento... não emplaquei onde estou. Ainda não chegou a hora de decidir voltar a fazer outra coisa que eu adorava, que eu curtia. Não é o momento.
DOACONDIÇÃO ESPORTE
O mercado do skate faturou R$ 300 milhões em 2006. No ano de 2001, o faturamento foi de R$ 90 milhões.
A movimentação é atribuída à produção de games, à fabricação de peças para o skate, de vestuário e calçados, com revenda no atacado e no varejo.
Segundo uma pesquisa do Datafolha de 2006, cerca de 3 milhões de domicílios brasileiros agregam um morador que possui skate.
O Guia de Pistas da revista 100%, editado em 2006, informa que no Brasil há mais de mil pistas distribuídas pelos Estados brasileiros, representando um crescimento de 210% em 4 anos.
Algumas marcas do mercado de skate exportam para a França, a Alemanha, os Estados Unidos, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, o Chile, a Venezuela e o Japão.
Flávio Samelo, 31 anos
O skate permitiu que Samelo ultrapassasse fronteiras nacionais e mundiais. No cenário das publicações, o fotógrafo, formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Anhembi-Morumbi e Pós-Graduado em História da Arte pela Universidade São Judas, passou pelas revistas Tribo e 100%, além de contribuir para a alemã Lodown e a canadense Adbusters. Tendo lançadoo livro Skate Arte e com algumas exposições em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Los Angeles (para o lançamento de uma marca), Samelo é, desde 2005, parceiro da Nike SB Brasil, onde auxilia na evolução do departamento de skate da empresa, prestando consultoria. Da parceria nasceu um modelo de tênis que leva o nome do fotógrafo e está avaliado em cerca de US$ 500. Atualmente, Samelo é fotógrafo [oERES RIR
ELES ER LET
Shikuma é graduado em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado. Iniciou sua trajetória no universo do skate nos anos 1970, descendo as ladeiras da zona norte da cidade. Da paixão pelo esporte emergiu o interesse pela fotografia, que o levou aos extintos jornal Notícias Populares e revista Yeah!, assim como à revista Trip. A experiência fez dele fotógrafo exclusivo da banda de rock Charlie Brown Jr., famosa por sua relação com a prática de skate. DAVA paLciaicA trabalha na cobertura de eventos esportivos, como a Stock Car, é diretor de fotografia da revista Tribo e há pouco tempo finalizou, ao lado de André Modugno, a fotografia still do filme O Magnata.
Fernando Moraes, 34 anos
O interesse pela fotografia foi desperto aos 17 anos, motivando-o a participar de cursos técnicos no Senac e no Sesc, em São Paulo. Daí passaria à cobertura de microeventos para a revista Tribo Skate, tornando-se editor de fotografia da publicação em 2000. Reconhecido no cenário do skate como um dos fotógrafos pioneiros na utilização de quatro flashs em campeonatos, Moraes desiludiu-se e abandonou esse mercado há cerca de sete anos. Desde então, já passou pelos jornais Notícias Populares e Folha de S.Paulo e pela revista Época. Hoje, faz parte do time de profissionais da revista Veja São Paulo.
Fábio Bitão, 33 anos
Começou a fotografar skate em 1992 e, por causa desse trabalho, viajou para a maioria dos países do Leste Europeu, vivendo algum tempo na Califórnia. No universo do skate, Bitão já colaborou para a revista Tribo Skate, além das revistas Trip, Rolling Stonese Venice. Desde 1997 tomou-se frila fixo da revista 100%. Hoje divide seu tempo entre a paixão pelo skate, as produções musicais e o desenvolvimento de projetos pessoais, como olivro 365º.
olhar convidado de cristiano mascaro
Inspirado pelas palavras de Carlos Heitor
Cony, o fotógrafo
Cristiano
Mascaro reverte suas indagações sobre a condição e os caminhos da fotografia atual em texto e imagens de Danilo Grimaldi, Marcos Piffer, Nelson Kon e Tuca Vieira.
São tantas as preocupações dos fotógrafos que durante alguns dias não conseguia me fixar neste ou naquele aspecto que nos aflige. No entanto, Carlos Heitor Cony, em sua crônica publicada na Folha de S.Paulo no dia 20 de julho, me acudiu. Escrevendo a respeito de teatro, ensina como é fácil adaptar sua peça futura e mesmo sua obra pregressa [grifo meul - ao gosto da situação. Tire as referências à reforma agrária, à autodeterminação dos povos, à remessa de lucros ao clamor pela liberdade e enxerte um pouco de meio ambiente, psicanálise e, se possível, um analista. [..] Antigamente, um drama sem marido, mulher e amante não era levado a sério, nem ao palco. Hoje, o amante foi substituído pelo analista. [...] Com habilidade, você será capaz de criar uma confusão no público e na crítica. Por mais estranho que isso possa parecer, o que Cony escreveu tem muito a ver com alguns aspectos da fotografia atual. Em poucas palavras: trocaram-se os fatores emoção, espanto, encanto e intuição pela chatice, na tentativa de ser arte , de ser conceitual. Consolo-me admirando os trabalhos de Marcos Piffer, Nelson Kon e Tuca Vieira, que, ao ignorarem um tal caráter redutor da fotografia , citação equivocada de um antigo fotógrafo, hoje artista plástico, criam imagens que nem mesmo as mais incríveis limitações impostas pela banal e cruel realidade impedem de serem surpreendentes e poderosas. A ilustração perfeita do que quero dizer a respeito de alguns caminhos que a fotografia está seguindo atualmente está no trabalho Guia prático do fotógrafo pós-moderno, de Danilo Grimaldi, aluno da Faculdade de Fotografia do Senac.
Nelson
Kon
Marcos Piffer
De preferência a locais que não remetam a conteúdos sócio-históricos. Dessa forma não correrá o risco de interpretarem o trabalho como crítico e/ou politicamente engajado.
À tendência do retrato contemporâneo é de que os modelos apareçam nus. Assim, é passado ao espectador a "transcedentalidade" entre o corpo e o universo ao seu redor.
A pose
Escolha uma pose em que as expressões faciais não fiquem tão evidentes. Lembrese: esconda qualquer indício de conteúdo histórico da imagem. Do contrário, corre-
Se O TISCO de contaminá-la com o ranço da fotografia sociodocumental
Mude a cor
Se você ainda não estiver satisfeito com o efeito estático causado pela cor, mude-a. Vermelho ou azul devem servir. Qualquer artifício que remeta a isolamento temporal e espacial será bem-vindo.
Coloque em cena objetos que nem você nem ninguém sabe por que estão lá. Isso aumentará as múltiplas interpretações , extremamente importantes e necessárias às obras de arte.
Desfoque ou borre
Imagens muito focadas tendem a denunciar os tão temidos indícios históricos. Desfoque a imagem final. Além de evitar o problema você fortalece as múltiplas interpretações citadas no item anterior. Lembre-se: uma boa obra pós-moderna deve ser considerada uma janela aberta para uma viagem de muitas experiências
Títulos e considerações finais
Deveser escolhido um título que não tenha qualquer relação com a imagem oua obra como um todo. O importante é valer-se de palavras e/ou termos rebuscados, mesmo que inexistentes. Com isso daremos um toque cult à obra e os espectadores ficarão embasbacados com sua erudição. Alguns mn: :, nu RR RUE = senado Rana E DA RÉ exemplos: Viceralidades deszeláveis , Intranscendências necromânticas . Se você seguiu corretamente os passos acima PARABE Tornou-se um retratista pós-moderno com êxito garantido nas mais prestigiadas vitrines da arte. BOA SORTE! Você está inserido no mercado
Escolha um lugar neutro
Tire a roupa
Seja ousado
O 0DIVIDIDOS
EDIÇÃO FLÁVIA LELIS ENTREVISTA CRIS BIERRENBACH FOTOS JÚLIA MORAES
fodinha pela fodona
Dizem que sonhos não têm idade, nem prazo de validade. É verdade. Pelo menos foi essa a sensação transmitida no encontro que reuniu, de um lado do sofá, Cris Bierrenbach, uma das mais influentes artistas da atualidade, e, de outro, a jovem fotojornalista Julia Moraes [www .flickr.com/photos/julia moraes], que vem despontando na área por desenvolver a arte primeira da fotografia: o retrato. Com experiências profissionais iniciadas no jornal paulistano Folha de S.Paulo, as duas contaram, ao longo de uma tarde, como é o dia-a-dia no jornal e falaram de sua paixão por seus respectivos trabalhos pessoais, em que Cris pende para a entrega e intensidade, enquanto Julia busca refúgio na intimidade familiar. Duas figuras passionais, de gerações diferentes, mas com muito em comum. Mulheres com dificuldades para se concentrar naquilo que não as toca; que, no som de suas próprias vozes, respiração e risadas, se refletem através de seus sonhos. >
As imagens que ilustram esta entrevista pertencem ao trabalho pessoal desenvolvido por Julia Moraes, que pode ser encontrado no Flickr da fotógrafa. Imersa na intimidade familiar, a obra de Julia mostra, com delicadeza e poesia, cenas cotidianas, auto-retratos e encontros de gerações. Seu trabalho autoral destaca uma mulher capaz de encontrar beleza em lugares incomuns, como em meio à urbanidade de São Paulo.
Há quanto tempo você está na Folha de S.Paulo?
Entrei em agosto de 2006.
Mas você está num esquema todos os dias?
É um frila fixo. Três pautas por dia todos os dias.
Eu adorei trabalhar lá. Quanto tempo você ficou?
Fiquei, no total, uns 6 anos. Eu adorei, porque fiz muita coisa diferente na Folha. Eu vejo direto o seu nome. É> Onde?
No caderno "Dinheiro". Logo que
você começou.
É era o que eu mais fazia. Hoje eu ainda faço bastante, mas já produzo retrato para o jornal inteiro. Tem pessoas que estão focadas em fazer algumas coisas, que fazem melhor. Então tem o cara do "Esportes", o cara do "Cotidiano", tem a pessoa do retrato
Você sempre gostou de fotografia?
Eu comecei a fotografar aos 14 anos Minha mãe é jornalista, tinha o equipamento em casa, mas não fotografava. Sempre teve bastante contato com imagens, fotografou minha infância inteira. Em 1998, ela ganhou uma bolsa de estudos e nos mudamos para a Espanha. Minha mãe foi trabalhar
com restauração de papel. Chegando lá, ela me disse: Você está aqui para aprender espanhol, se divertir, curtir. Desencana . Fiz seis meses de escola, mas teve uma hora em que fiquei entediada e desisti. Aí entrei em um curso de pintura e minha mãe me perguntou: Vamos tentar fotografia .
E aí você voltou e foi direto para o Senac?
Não, quando eu voltei estava no primeiro colegial. Quando terminei o colégio, fiquei um ano sem fazer nada aqui em São Paulo. Depois trabalhei na Ímã Fotogaleria durante um ano. Foi lá que eu decidi fazer a faculdade de Fotografia... na época pensava em Biologia.
E como você chegou à Folha de S.Paulo?
Foi legal! Cheguei por meio do Orkut do Toni Pires, atual editor de fotografia da Folha. Ele tinha feito Orkut havia pouco tempo e estava fazendo amigos, sabe? Um dia, ele entrou no Orkut do Leo Wen, que é meu amigo estudamos juntos no colégio , e viu uma fotinho minha.
E aí, ele gostou?
Gostou da foto, entrou e fez o seguinte comentário: Gostei da sua foto . E eu respondi: Entra no fotolog . Ele foi super-rápido e respondeu: "Já entrei, já vi, adorei . Até então, eu nem imaginava que aquele Toni era o Toni Pires, editor Eu, totalmente desatualizada, ainda pensava que o editor era o Éder Chiodetto. Depois de um tempo, deixei pra ele um scrap do tipo: Se souber de um trampo, me avise . Eu estava desesperada. Ele me respondeu no dia seguinte: Eu queria mesmo falar com você . Vinte dias depois, já estava tudo resolvido e eu estava lá, como frila fixo
Como você fotografava?
Só filme. Digital eu comprei faz menos de um ano, para trabalhar na Folha. Fiz dois dias de frila para o jornal. Hoje eu olho e penso: Como é que eles acreditaram? . Porque era ruim, muito ruim! Agora mesmo... estou achando que o nível das minhas fotos está caindo
E normal. Acho que, às vezes, o
nível cai mesmo, porque é muita produção. Eu, pelo menos, sinto isso. Meu cérebro frita. Uma hora não dá nem para pensar. Você ainda faz plantão?
Trabalho de fim de semana. Um sim, um não. No meu caso é muito ruim, porque faço retrato. Aí chega fim de semana e eu lá, de stand by. Já fiquei muito fim de semana sem fazer nada.
Você nunca foi fotografar esporte?
Até hoje nunca.
Quando a gente fazia futebol, sempre tinha um infeliz que precisava correr o campo inteiro para pegar os filmes e levar para o motorista no primeiro tempo. Adivinha quem era? A fofa aqui, que fazia a volta olímpica . É engraçado, mas eu tenho saudades da Folha.
Isso é legal... as coisas diferentes que você consegue fazer lá dentro. Eu faço retrato, mas é claro que dentro disso sempre acabam rolando umas coisas diferentes
Mas nem cobertura você pega?
Muito pouco. Eleições eu fiz as duas.
Você leva dos cinegrafistas. Eles não são muito legais com a gente. E tem mais, menina: não sou nenhuma Marlene Bergamo. Os cinegrafistas vêm e eu tento, mas sou muito pequena
Eu passava por debaixo das pernas.
É o que acontece comigo. Minhas fotos, nesses casos, são sempre de baixo para cima.
E você não tem vontade de fazer publicidade, por exemplo?
Não sei. Precisava fazer para ver se é a minha cara, mas tenho um grupo com mais cinco pessoas para fazer fotografia de moda.
São todos fotógrafos?
Não, tem duas produtoras. São amigos da faculdade. Uma turma que fechou assim, que se entende.
Mas você decidiu que quer o fotojornalismo?
Não, não quero fotojornalismo. Eu
sabia disso desde o começo, mas trabalhar na Folha é escola para qualquer um que queira ser fotógrafo.
E qual é o seu negócio?
É retrato. Um pouco de cidade. Alguns dos meus trabalhos pessoais vão girando por São Paulo, mas sempre tem alguma coisa ligada a pessoas. Tenho vários projetos, mas a maioria não deslancha
A redação da FS me mandou o endereço do seu flickr, e lá edição é uma coisa muito séria. Vi uns dois trabalhos e realmente me cansei.
Ah, não, ali não tem edição. Eu não sei fazer.
É a coisa mais importante!
Você escolher o que é bom e o que é ruim.
Concordo plenamente. Eu sei fazer melhor do que aquilo, mas é um portfólio que agora existe online. Já passei pra várias pessoas.
Tem que focar, não é?
Mas não dá tempo. Você tem as idéias, a vontade, mas no seu único sábado livre você não vai fotografar. Vai ao cinema, vai namorar.
Olha, eu já finalizei trabalho de exposição em cima da mesa, chorando. Aquela coisa do tempo acabando e você ter de fazer. Com certeza. Agora que estou sentindo meu fracasso de perto quero ver
como é que vai ser. Será que eu vou voltar? Todo mundo diz que é uma fase. Quero passar por isso.
Mas no começo é cruel...
Eu fico desesperada, pensando que sou péssima, que a minha criatividade acabou, que não posso ser fotógrafa.
E quanto tempo mais você pensa em ficar na Folha?
Tem muita coisa acontecendo. Quando entrei na Folha, era muito cansaço, mas muito tesão também. Hoje percebo que eu resolvo a foto, sabe? Eu me lembro do Érico, amigo da faculdade, que dizia Antes de dizer que você não quer ser fotógrafa, experimente , Porque fazer faculdade é diferente de exercer a profissão. Preciso acabar a faculdade pra ver como vai ser trabalhar para a Folhae ter um tempo livre. Tem fim de semana que eu não saio... À câmera descansa. =
Cris Bierrenbach (á esq.) posa ao lado de Julia Moraes
crônicas fotográficas
por E marcio scavone
fotografia sempre est relaAm a escolhas o assunto gulo, a lente, a distância, a cor ou o filme, o corte ou o visor é determinante final do enquadramento? No entanto, todas as fotos apontam para uma grande decisão: o modo de pensar o assunto escolhido.
A multidão, muda e anônima, tem uma coisa em comum rocura um ângulo através de ombros e cabeças (que é o que fazemos, metaforicamente ou na prática, com a câmera em punho) para ver melhor o que está acontecendo em uma conhecida imagem de Campos Mello feita na República de São Bernardo, nos anos 1980 la o fotógrafo faz o impensável dá as costas à cena principal e aos nobres , e fotografa os súditos, correndo o risco de tornar-se o próprio assunto aos olhos deles.
Hélio conta que, como tantos da nossa geração, foi atingido no peito p pelo Blow up de Antonioni e seu personagem fotógrafo de moda. Depois de assistir ao filme, não sabia se queria dirigir um Bentley com belas modelos ou fotografar a guerra do Vietnã. Essa escolha foi a própria vida que fez. Hélio Campos Mello é um fotógrafo-diretor de redação. Este escrever com luz assume uma dimensão inusitada quando se admite que a máquina fotográfica, em sua evolução digital, exige cada vez menos preparo de seu operador, título atribuído ao fotógrafo no princípio de tudo, lá em meados do século 19 E, ao exigir menos, exige mais. O texto torna-se acessório da síntese visual que perseguimos, e o "fazedor de imagens , em vez de coadjuvante, volta à luz como a única testemunha pensante do evento. H