Paisagens

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P A I S A G E N S

R O B R I G O

B R A G A


Leito | performance realizada na zona rural do município de Glória do Goitá-PE, Brasil | fotografias de Clarissa Diniz | edição de Rafael Cortes | 2008





Paisag em | fotografia | 120 x 180 cm | 2 0 0 8

Mina | fotografia | 120 x 180 cm | 2008


SAMAM BAIA | fotografia | 120 x 180 c m | 2 0 0 8

Magma | fotografia | 120 x 180 cm | 2008


S egr ed o | fo to g raf ia | 1 8 0 x 1 2 0 c m | 2 0 0 8

Fato | fo to g raf ia | 1 2 0 x 8 0 c m | 2 0 0 8


Terra | fotografia | 80 x 120 cm | 2 0 0 8

Ha bitat | fotografia | 120 x 180 cm | 2008


N o v as f an t asias d e c o m pensa ç ã o Juliana Monachesi

Artista de títulos herméticos [Fantasia de compensação, 2004; Da alegoria perecível, 2005], Rodrigo Braga intriga na presente exposição a partir do título — Paisagens. O nome singelo de sua mostra individual na galeria Amparo 60 mascara uma intervenção ostensiva na paisagem que o artista retrata: de uma erosão em um barranco brotam frutas e legumes em abundância; em uma queda d’água, camuflado entre as pedras, estendese um couro de boi; no meio de uma mata fechada, pendendo de uma samambaia, um pequeno cardume se insinua; do caule de uma árvore desprende-se uma serra dentada, meio bicho, meio máquina.

Entretanto, uma vez que as discussões da arte não são incorporadas, necessariamente, pelo meio cultural – por vezes, nem mesmo pelo meio artístico; vejam-se, por exemplo, os discursos contra a figuração na pintura —, e considerando que a apreensão da fotografia segue ligada a uma fé cega na fixação do real, as imagens da exposição tendem, sim, a surpreender. O que teria acontecido para brotarem peixes da terra em Fato? Qual estranho Magma faria eclodir do seio da terra centenas de ovos na obra homônima? Estes acontecimentos bizarros que o olhar tenta desvendar pressupõem uma ação do artista, uma performance que, desta vez, permanece escondida.

Assim como a arte conceitual tornou toda a arte, retroativamente, puro conceito, e assim como, do mesmo modo, a pintura abstrata transformou, retrospectivamente, toda a história da pintura em uma história da abstração, também a fotografia digital lançou luz sobre os procedimentos fotográficos, convertendoos em uma constante construção. Se toda a representação da natureza na arte, ou seja, toda paisagem (pictórica, fotográfica etc.) puder ser considerada hoje conceitual e abstratamente, ou seja, como uma construção, então a série de fotografias que Rodrigo Braga nos apresenta não deveria surpreender pelo caráter fabricado das paisagens que temos diante de nós.

Do corpo à paisagem, a trajetória de Rodrigo Braga se confunde com as discussões mais acaloradas em torno das mutações biogenéticas possibilitadas pela revolução tecnológica: um cyborg dotado de pulsões caninas e um ambiente suspenso em suas determinações naturais pela inserção de um corpo estranho surgem, na pesquisa do artista, em inegável sintonia com o espírito de nossos tempos. Mas por que paisagem? — e por que agora? O artista responde com sua própria produção anterior: a comunhão com a natureza, com o lado mais primordialmente animal do homem, o levou a uma comunhão também com o ambiente onde se davam suas performances mediadas pela fotografia.

Uma destas performances, intitulada Leito, integra a exposição, fazendo lembrar que homem e animais são parte incontornável de qualquer idéia de “paisagem”. A série de fotografias preto-e-brancas, organizadas em um slideshow, mostra a interação com o cadáver de um porco; entretanto tudo se passa em um tom rebaixado, dentro de uma caixa, sussurrado, sugerindo que a etapa de mitologias pessoais ritualizadas pode estar dando lugar à alegorização de fantasias de compensação coletivas na produção do artista. A paisagem construída que o olhar teima em não enxergar comprova o alcance desta nova empreitada de Rodrigo Braga.

N e w c o m pensa t ion f an t asies Juliana Monachesi

Artist of hermetical exhibition titles (Compensation Fantasies, 2004; Perishable Joy, 2004), Rodrigo Braga puzzles spectators from the very title of his most recent exhibit— Landscapes. The simple name of his individual exposition at Amparo 60 gallery hides an ostensible intervention made by the artist in the represented landscape: in erosion of a ravine, grow an abundance of fruit and vegetables; in a waterfall, hidden between rocks, there is a piece of bull leather stretched; in the midst of dense woods, hanging from ferns, a small shoal appears; from a tree trunk, hangs a half-animal, half-machine saw.

As well as conceptual art turned retroactively every art into pure concept and as well as, by the same token, abstract painting transformed retrospectively the whole painting history into a history of abstraction, digital photography shed light on photographical procedures, converting them into a constant work in progress. If every representation of the nature of art, that is, every landscape (pictorial, photographical, etc.) can be considered today from a conceptual and abstractive point of view—that is, as a construction—, then the photography series presented to us by Rodrigo Braga should not be a surprise for the manufactured character of the landscapes in front of us.


However, since the debates art proposes are not always incorporated by cultural segment— sometimes, not even by the artistic segment; and discourses against figuration in painting is an example of that—, and considering that apprehension of photography is still closely connected with a blind faith in fixing what is real, Braga’s exhibition images can, in fact, be surprising. What could have happened to make fish grow out of earth as depicted in Fact? What strange magma could make hundreds of eggs burst to surface from the depths of earth as shown in the homonymous work? Such bizarre events, which the eye tries to unfold, assume that an artist’s action, which this time remains underneath. Going from the body to the landscape, Rodrigo Braga’s trajectory blends with the most heated discussions about biogenetical mutations made possible by the technological revolution: a cyborg with canine instincts and an environment suspended in its natural determinations by the insertion of a strange body emerge, in this artist’s research, in an undeniable harmony with our epoch spirit. But why landscapes? Why now? The artist answers these questions with his previous work: communion with nature, with the most primordial animal side of man took him also to a communion with the environment where his performances achieved through photography happened.

One of such performances, called Bed, is part of the exhibit. It makes us remember that man and animal alike are an indispensable part of any idea of “landscape”. This series of black and white photographs, organized into a slideshow, shows interaction with a pig’s dead body; however, everything happens in a low tone, inside a box, whispered, suggesting that the stage of ritualized personal mythologies can be losing space to allegorization of collective compensation fantasies in Braga’s work. The built landscape that the eye resists to see assures the reach of Rodrigo Braga’s new venture.


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