Revista Fotosite [n. 2]

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Anunciados os dois primeiros nomes da Bolsa EEE io de Fotografia

Richard;Avedon la ER

ERG ER ER o Marcio Stavone; a E FR ZORRO] ERR Alcântara;'o melhor-da RESTO e as Do mundo E EE ; is

Banco Santos.

Seu próximo b está cada vez

35 anos de Banco Santos. Visite nosso banco, conheça as novidades e comemore.

Prepare-se para ser cliente de um banco que tem o seu estilo de vida.

Lorena Calabria

anco mais próximo.

Talento expandido

A indústria fotográfica começa a experimentar o dilema do excesso. Essa questão foi um tema recorrente em setembro nos correhotokina, a mais importante feira do mercado fotográfico mundial, realizada bienalmente na Alemanha. Um exemplo cnológica, são as câmeras amadoras de 3 megapixel, substituídas pelas de 5 megapixel antes mesmo que os dores da P dessa corrida te usuários percebessem sua existência. Nesse vaivém tecnológico, fica a pergunta: afinal, será que os consumidores querem mesmo todo esse avanço? Enquanto a indústria tradicional investe no aumento de pixel, uma nova indústria, ainda chamada de não tradicional, entra no jogo representada pelos celulares de alta resolução, aparelhos cada vez mais próximos de abocanhar a preferência do consumidor em busca de simplicidade na hora de fotografar. A mesma guerra parece acontecer no conceito, a outra ponta desse novo paradigma vivido na fotografia. Enquanto o mercado discute o avanço tecnológico, a 26º Bienal de São Paulo faz um manifesto de desconfiança ao mundo high tech, abrindo o maior espaço de sua história para a fotografia convencional. Se não bastasse, há ainda um outro ponto de inquietação, que pôde ser sentido em uma série de encontros realizados em São Paulo. Nessas ocasiões, fotógrafos e acadêmicos gastaram um bom tempo discutindo temas como fotografia expandida e fotografia ela E mesmo . Tentaram chegar a um consenso dos prós e contras das possibilidades cada vez mais amplas da produção fotográfica. a. Editar uma revista sobre fotografia nestes tempos de tormenta no mercado e no conceito é tarefa estimulante e que nos mantém | e alertas, empenhados em valorizar o que realmente importa nisso tudo o talento, independentemente de qualquer processo. Sem isso, não há avanço tecnológico ou conceito purista que nos salve da mediocridade. Boa leitura!

Os editores

= EB E BOLSA

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CONCEITO

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O [AVESpree foro ee Nas ae nes Cor AS o Dele e ooo No ici[op] e declara uma aversão ao high-tech

CONTATO

Bob Wolfenson escreve sobre Richard Avedon. Os destaques do fotojornalismo, câmeras de scanner, superdigitais, Photokina e outros frames

NR

Cinco curadores importantes falam sobre os critérios de escolha de nomes para exposições e discutem os rumos da fotografia

REPORTAGEM

ooo locoaie EMO aaa jo JEM ERES de incentivo no mundoe as dicas de quem já chegou lá

LIVRO E

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PORTFOLIO

Eustáquio Neves, vencedor do Prêmio Porto Seguro 2004, mostra, com exclusividade, anona edição de ensaios temáticos

da SRTA

Como-trabalham-ese organizam as cooperativas ER + sao) Lo] Lc LDO RIA ij(o dassip(oo mercado europeu

Om RT ro algumas oiço [SE Elec (on ao CENA

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Quando você trabalha com outra gráfica, E oseu anúncio pode ser a vítima.

Formatos diferenciados, cores especiais e tudo mais que você pensar. Quem entende de gráfica não quer saber de outra. pancromQpancrom.com.br - www.pancrom.com.br - Tel.(11) 3340-6900 - (21) 2275-4145 - (19) 3213-9677 - (61) 326-5947.

Indústria Gráfica
GIOVANNI PCN

[Eiçe To DR Bob Wollheim e Pisco Del Gaiso

Pocos eso it Rol [Selic Pisco Del Gaiso

Editor de Fotografia

[Elçe io StoTo]

Chefe de Reportagem

Guilherme Maciel Reportagem

DER eps o acid GEE cidiiçera

Estagiária Senac*

[Eri ip cosa] [SS Sidney Cerchiaro

[lctops çel Teto No p=] (ogia DOS Ad e Ui ga og

Diretor de arte

Eine po(oito to titN Log peA Ei)

Consultor de Design Rodolfo Rezende www.tostex.com

Pesquisa de Imagens agenciaBfotosite.com.br

[Ng RE feio ot

Colaboraram nesta edição

Foto Gal Oppido, German Lorca, Cem paga od leio go oN CTT ga

Marcio Scavone, Pedro Motta, Pio Figueiroa e Rui Mendes

Texto - Ana Maria Guariglia, Bob Wolfenson, Eder Chiodetto, Érica Rodrigues, RIP at A to (oo aFigo pa]

fot/o 2ifo iitM oo io Gerente de Negócios Bia Granja

Lips leraiço efe toi ev ao Rose Cerqueira

Petro Eto ol SET (o

Rua Pensilvânia, 1136 casas 06/08 - Brooklin CEP: 04564-003 cod geiRdie! PABX: 55 11 5505-0405

Edo Ad o [di odio Es ipi Oiii SD [oie sto (Rocio)

Somente pelo site www fotosite.com.br onde tudo começou

Pancrom Indústria Gráfica Ltda. Os artigos assinados não

[USOS Tr Tia (AE state 06] ASI do o IA publicação bimestral da FS Fotografia Ltda. ISSN: 1806-8537

*O Fotosíte mantém um programa de estágio com alunos das Faculdades Senac de Comunicação e Artes

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ALEXANDRE ÓRION e MELINA RESENDE

Dao a são 05 dois primeiros nomes selecionados

Melina, 20 anos, e Alexandre, 25, ambos de São Paulo, já garantiram suas vagas entre os 12 nomes que irão concorrer a R$ 34 mil em prêmios na Bolsa Banco Santos de Fotografia.

O comitê de seleção da BOLSA BANCO SANTOS DE FOTOGRAFIA, parte do PROGRAMA DE ESTÍMULO À FOTOGRAFIA FNAC/FOTOSITE, se reuniu no final de setembro para selecionar os dois primeiros fotógrafos finalistas. Os trabalhos de Alexandre e Melina estão publicados nas páginas a seguir. A cada próxima edição, mais dois fotógrafos serão escolhidos. Quem não se inscreveu nessa primeira rodada pode aproveitar o segundo prazo, que se encerra no dia 27 de novembro de 2004.

MELINA RESENDE A fotógrafa de 20 anos entrou na seleção da Bolsa Banco Santos de Fotografia graças a um projeto ousado. Nos últimos tempos, ela vem realizando ensaios fotográficos com prostitutas de São Paulo. Essas profissionais do sexo estão no imaginário das pessoas, principalmente no dos homens, que as vêem como mulheres degradadas, mundanas e de má vida , afirma Melina. Por isso, escolhi retratá-las de uma forma sensual e bonita , completa ela, que está em busca de recursos para concluir e divulgar o projeto. Melina começou a desenvolver o ensaio no trabalho de conclusão de curso de fotografia do Senac. No momento, ela está cursando o 8º semestre do bacharelado em fotografia pela mesma instituição.

R$ 34 mil em prêmios, uma viagem para a França e suas fotos publicadas na REVISTA FOTOSITE

SEGUNDA SELEÇÃO

Prazo de entrega dos trabalhos: 27/11/2004

Regulamento completo e ficha de inscrição: www.fotosite.com.br

ALEXANDRE ÓRION Questionar de forma sutil e inquietante o limite entre a ficção e a realidade, tanto do ponto de vista formal quanto conceitual. Esse é o objetivo do fotógrafo e artista plástico Alexandre Órion, 25 anos, um dos selecionados para a Bolsa Banco Santos de Fotografia. Em seu projeto, Metabiótica, ele instala em locais movimentados de São Paulo grafites com figuras como a de uma mulher com lingerie ou a de um homem voando. Depois disso, fotografa as reações das pessoas diante das telas. E aí que está a provocação , explica Alexandre. As pinturas, as pessoas e os cenários existem de verdade, não foram manipulados, estão ali diante da câmera. Iniciado com recursos próprios, o projeto já conta com 16 imagens produzidas e foi exposto recentemente na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Caso seja o vencedor, o fotógrafo pretende usar o dinheiro da Bolsa para completar o trabalho. Segundo a idéia do autor, embora cada imagem tenha um discurso próprio, o conjunto deve contar uma história, como se fosse uma peça de literatura fotográfica.

A BOLSA

Esta premiação visa oferecer suporte financeiro e acompanhamento editorial para fotógrafos em início de carreira. Se você tem menos de 30 anos (nascido a partir de 1/10/1975) e um projeto fotográfico em mente ou já iniciado, participe.

Realização Realização Patrocínio Apoio Cultural Co-patrocínio

Naquela época, Avedon já era um Deus para todos s primeiras fotografias que vi do fotógrafo americano Richard Avedon, nos anos 70, quando comecei a me interessar por fotografia de moda, fascinaram-me de tal forma que, subitamente, passei a pertencer à legião de seus seguidores e a receber sua influência de

uma forma indelével, até os dias de hoje. que, de alguma forma, transitavam pelo mundo da fotografia de moda e de retratos. Reinava absoluto e era tão célebre quanto as celebridades registradas por sua câmera. Fundou a figura do fotógrafo glamouroso, com livre acesso ao mundo chique e elegante de então. Sua carreira durou 60 anos. Fotografou de Marlene Dietrich às divas de hoje, inclusive nossa Gisele Bundchen. No eixo Paris, Londres, Nova York, quem importava passou por suas lentes. Marilyn Monroe, Bob Dylan, John Lennon, top models que assim se tornaram ao ser fotografadas por ele, gerações de presidentes americanos, famosos, pseudofamosos, ativistas anti-stablishment, vítimas da Guerra do Vietnã e anônimos ilustram as páginas de seus oito livros publicados. Nos anos 50, no auge de sua fama, foi retratado no personagem Dick Avery representado por Fred Astaire no filme Cinderela em Paris, estrelado também por Audrey Hepburn. Foi eleito, em 2002, como o mais influente fotógrafo de todos os tempos, engrossando a fileira de seu séguito de admiradores. No entanto, a ambiguidade de seu trabalho se fazia sentir a cada livro ou publicação sua. De um lado, suas fotos cosméticas comprometidas com os valores da beleza e do bom gosto vigentes; de outro seu ativismo político e sua alma artística produziam imagens chocantes, invasivas e perturbadoras. Mas o rigor e controle absoluto, suas marcas registradas, impunham a todas essas contradições um estilo forte e muito particular. Suas fotografias eram encenações. Dirigia tudo. Teatralizava tudo. Dizia que um retrato era sempre uma opinião do fotógrafo, nunca uma representação absoluta do real ou do sujeito fotografado. A tensão entre esse controle absoluto e a promoção do acaso fotográfico, tão cortejada por ele, o tornou único. Suas fotos não pareciam lhe pertencer e, sim, a uma cooperação quase mágica entre ele e seus retratados. Avedon foi um dos que elevou a fotografia de moda à categoria de arte e ajudou a varrer do mapa grande parte do preconceito intelectual que havia sobre ela. Seus limites transcenderam os pressupostos comerciais de seus clientes, suas imagens tornaram-se ícones e habitam um sem-número de museus e coleções mundo afora. O dilema da construção artificial, subjacente às fotografias de moda, e a autenticidade menos fabricada de seus retratos foram temas polêmicos entre seus seguidores e detratores, mas nada disso arrefeceu seu ânimo. Avedon morreu no dia 1º de outubro, aos 81 anos, trabalhando no Texas, onde realizava um ensaio fotográfico sobre as eleições americanas para a revista The New Yorker, da qual era contratado havia mais de dez anos. Deixou um legado monumental e inscreveu seu nome no seleto grupo dos grandes artistas do século XX.

Por Bob Wolfenson

texto publicado originalmente na edição 213 da Revista Quem

Sucata de scanner vira máquina digital

O fotógrafo Guilherme Maranhão [www.coisasdavida.com], 29 anos, entrou na onda digital quando conheceu os estudos de Andrew Davidhazy [www.ritedu/-andpphJ, professor de Tecnologia Fotográfica do Instituto de Tecnologia de Rochester, nos Estados Unidos. O especialista criou um processo muito engenhoso para registrar imagens. Ele desmonta de um scanner uma peça chamada de CCD. Trata-se do capturador de imagens da máquina. A peça tem um jogo de lentes e a saída com cabos que a conectam ao computador. Andrew utiliza o CCD como uma câmera digital. As fotos são feitas a partir do comando de scan no computador (confira o passo-a-passo da montagem no www.fotosite.com.br/revista2). Fascinado com a invenção, Guilherme Maranhão iniciou um projeto científico no Senac para desenvolver por aqui uma cópia da engenhoca. Paralelamente ao projeto, ele dá oficinas de montagem das sucatas eletrônicas em seu ateliê, no ltaim, em São Paulo, por meio do grupo de estudos Rever [www.rever.fot.br]. Guilherme aceita doações de materiais usados, quebrados ou vencidos e retira as quinguilharias no local. acompa novimento

Megapúblico!!

O site inglês Digital Photography Review, ou simplesmente dpreview, o mais importante site sobre fotografia digital do mundo, bateu a incrível marca: de 12 milhões e meio de visitantes só no mês de setembro, segundo o próprio site. Isso representa cerca de 50% de visitantes novos em relação ao mesmo período do ano passado. O site [wmww.dpreview.com] é o mais completo centro de informação sobre fotografia digital na rede, com destaque para os testes de câmeras digitais dos mais variados tipos.

Fotografia trash

Digital e descartável

A novidade nos Estados Unidos é a digital singleuse camera, as digitais descartáveis, comercializadas nas lojas Ritz [www.ritzcamera.com] e nas farmácias CVS. Elas têm um visor LCD de 1,5 polegada, fazem até 30 fotos e custam; em média, US$ 20. Depois de cheia, o usuário troca o aparelho por um CD com as imagens em um quiosque especializado.

Bodas de ouro em preto e branco

O velho e bom Tri-X, filme P&B preferido da maioria dos fotógrafos, completa 50 anos em novembro. A Kodak estampou um selo comemorativo na caixinha do cinquentão.

O fotógrafo americano Terry Richardson, que aparece pelado na home de seu site Imww.terryrichardson.com], acaba de lançar seu mais novo livro, Kibosh. Segundo ele, o mais importante de toda sua carreira trash. Para quem ainda não o conhece, saiba que se trata de uma grife. De acordo com alguns de seus amigos mais próximos, Terry e sua snapshot amadora transformaram a estética da fotografia pornô. Para seus inimigos, ele não passa de um oportunista, uma cópia barata do célebre fotógrafo Japonês Nobuyoshi Araki [www.arakinobuyoshi.com]. Na dúvida, acesse os dois sites e prepare-se!

uuui Ol

Qual o livro de cabeceira de um fotógrafo?

Aquela publicação que é sempre consultada antes de um trabalho ou para apreciar uma técnica inspiradora? O vencedor do Prêmio

Porto Seguro de Fotografia de 2003 e da Bolsa Vitae de Artes em 1996, Luiz Braga 1, de Belém do Pará, selecionou e comentou os três volumes essenciais em sua estante.

Este ensaio expandiu os limites da fotografia em cores e se transformou numa referência, influenciando toda uma geração que se aventurou pelos caminhos da cor. É uma aula de sofisticação.

Em pleno morro de Santa Marta, com vista privilegiada para o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, o fotógrafo Vincent Rosenblatt formou a ONG Olhares do Morro ]. Desde 2002, o projeto capacita fotógrafos para entrar no mercado, vende as imagens para clientes - as revistas Capricho e Vizoo e a empresa de energia Furnas - e pretende formar um acervo online. O trabalho ecoou em terras estrangeiras, na exposição da Unesco, Olhares do Morro- Um Manifesto Visual, de 19. a 29 de outubro, em Paris. O Manifesto Visualé uma ponte entre os cidadãos do morro e os do asfalto e resgata a auto-estima e a cultura de quem mora na favela e não tem a ver com o tráfico , comenta Vincent.

World Press Photo no Brasil

Um ensaio primoroso em P&B, produzido em grande formato, abordando essencialmente a vida doméstica em torno da autora. Parada obrigatória para quem gosta de fotografar o cotidiano.

Robert Frank é fundamental. Neste livro, revela as linhas da fotografia do companheiro de Jack Kerouac em suas andanças americanas e vai muito além.

Esta foto, feita no Al Zahawi Cafe, em Bagdá, Iraque, foi eleita a campeã na categoria Daily Life Singles do World Press Photo 2004 rldpressphoto.n!]. Ela fica exposta em São Paulo, de 5 de novembro a 5 de dezembro, com outras 200 imagens premiadas no WPP. A mostra inclui a fotografia campeã, Jean-Marc Bouju, da Associated Press, e as imagens de Yuri Kozyrev [www.yurikozyrev.com], da Time, eleito o melhor na categoria News/History.

ONDE: Sesc Pompéia - Rua Clélia, 93, Pompéia, São Paulo QUANDO: 5 de novembro a 5 de dezembro

VISITAÇÃO: de terça a sábado, das 9h às 22h, domingo, das 9h às 20h INFORMAÇÕES: (11) 3871-7793

Fotografia de cinema Como escolho um

Adriano Goldman, diretor da fotografia da 02

Fotógra Fo Filmes, [yy com.br] assinou produções como o seriado da Globo, Cidade dos Homens, os clipes do disco Kaya N'Gandaya, de Gilberto Gil, e os filmes Surf Adventures, de Arthur Fontes, e Casseta & Planeta: A Taça do Mundo É Nossa. Tento passar um toque realista para minhas produções. O Terminal, de Steven Spielberg, por exemplo, tem uma boa

No papel de art buyer da agência de propaganda Almap BBDO [www.almapbbdo.com.br], Teresa Setti é a responsável por selecionar os fotógrafos e negociar com os escolhidos a realização de trabalhos de publicidade. No ramo desde 1993, ela já trabalhou na agência DPZ e com o fotógrafo Cássio É Vasconcellos [www.cassiovasconcellos.com.brd. fotografia, mas não me atrai muito , comenta Adriano. Ele dá dicas das películas que mais o inspiraram recentemente.

Nessa minientrevista, Teresa fala sobre as qualidades que fazem um fotógrafo ter sucesso no mundo da propaganda.

RALPH STRELOW.

Um filme com muita sujeira e com as imagens bem elaboradas, pensadas com

REVISTA FOTOSITE: QUAL SEU IDEAL DE FOTÓGRAFO? antecedência. Acho que o Cláudio e o Ralph misturam as cores propositadamente, TERESA SETTI: Não existe, não tem como ser pontual. com vários tons de azul e amarelo, para dar esse efeito de diferença. Parece uma Cada trabalho tem características próprias, e o história em quadrinhos. ideal varia conforme as necessidades de cada um.

RODRIGO PRIETO.

O Rodrigo Prieto é um fotógrafo mexicano de publicidade que estourou para o cinema

O fotógrafo talentoso, de alma aberta e olhar atento tem o poder de emocionar, mesmo na publicidade. depois desse filme. É cheio de ruídos, escuro, mas dá um efeito muito bom. É muito elaborado, ele fez essas escolhas pensando muito e com bastante antecedência.

QUANTOS PORTFÓLIOS VOCÊ VÊ POR MÊS? DECLAN QUINN.

Esse filme foi feito com muita coragem. Os ambientes do cenário são escuros, o que Vejo dois por semana com agendamento e mais quatro ou seis que são mandados para a agência. passa a impressão de ser bem realista, quase documental. Me passa a impressão de Muitas vezes nós mesmos pedimos os portfólios. que foi feito com poucos recursos, apesar de ser uma produção britânica.

QUAIS TRABALHOS OS FOTÓGRAFOS NÃO DEVEM COLOCAR NUM PORTFÓLIO?

A o M era CO N C| dên E d Trabalhos datados, que não acrescentam, ou com estética antiquada, mesmo que sejam peças premiadas em festivais. Mas, com critério, os clássicos

Segundo a revista PDN [uu pon-pox.com], uma das mais importantes publicações devem permanecer. A propaganda é ágil e os portespecializadas em fotografia nos Estados Unidos, Catherine Ledner é a nova queridinha fólios precisam ter a mesma característica. dos editores americanos em busca de bons retratos para suas revistas. A foto em questão, publicada na capa da edição de agosto da PDN, traz o olhar especial da fotó- O QUE É UM BOM PORTFÓLIO? grafa para um de seus personagens, o ator Jack Black. Não parece uma solução genial Menos é mais é um conceito que e surpreendente fazer com que uma pessoa conhecida por interpretar papéis explosivos vale também para a fotografia. O) seja retratada de uma forma tão meiga? Pois a idéia não é nova. A mesma coisa já foi bom portfólio tem um layout feita pelo menos uma vez no Brasil há dez anos, quando a revista Placar publicou uma criativo, é bem editado e orgacapa com o jogador Edmundo. O retrato do Animal é de autoria de Bob Wolfenson. nizado em uma sequência ES= Nosso intrépido repórter Pepe Navas, que captou a casualidade, desafia: quem tiver lógica, mas não pode ficar E uma dica de plágio fotográfico inconsciente (parece ser o caso de Ledner...) ou feito na monótono. É importante caradura mande um e-mail para cartaDfotosite.com.br. ainda que o fotógrafo mostre um segundo portfólio com traPDN, 2004, CATHERINE LEDNER

balhos pessoais.

ALEXANDRE

Para ser publicada num jornal, uma imagem deve ter um grande poder de concisão. Muitas vezes, porém, é preciso recorrer a uma sequência de fotos para explicar e chamar a atenção para uma determinada realidade. Ricardo Hantzschel, professor do curso de fotografia do Senac, selecionou das páginas dos jornais dos últimos dois meses três imagens que exemplificam essa diferença. Duas cenas fazem parte da mesma reportagem. Confira a seguir quais são as imagens escolhidas por ele.

Uma Ótima imagem pode narrar visualmente um acontecimento que durou horas. O autor da foto em questão fazia uma pauta no aeroporto de Congonhas quando viu sinais de fumaça e redirecionou sua prioridade, chegando ao local junto com os bombeiros. Na ocasião, o fogo con- sumiu 250 barracos da favela do Buraco Quente, em São Paulo. O enquadramento em primeiro plano dos poucos pertences da moradora é um resumo do estrago provocado e do desespero diante da tragédia.

Autor: JF Diório/Agência Estado

PRE VER

O fotógrafo Carlos Moraes, do jornal O Dia, passou por um grande apuro quando estava sobrevoando num helicóptero da polícia a favela do Morro da Previdência, no Rio de Janeiro. Os soldados do tráfico começaram a atirar para afastar dali a aeronave e foi necessário chamar reforço para combater os bandidos. A primeira foto de Moraes faz parte de uma segiiência que mostra os PMs acuando na favela alguns suspeitos. Momentos depois, mesmo sem saber, o fotó- grafo registra o instante em que os mesmos policiais carregam alguns corpos de pessoas mortas para fora da favela. Comparando na redação do jornal as duas séries de imagens, os profissionais da editoria de fotografia de O Dia chegaram à conclusão de que Moraes havia feito o flagrante de uma execução. Depois da publicação da reportagem, os policiais que participaram da ação foram afastados de suas funções.

Autor: Carlos Moraes/O Dia

A revolução tecnológica na fotografia digital foi reproduzida em seus mínimos detalhes na grande feira alemã de imagem, a Photokina [mww.photokina.de], mo mês de setembro, na cidade de Colônia. Apesar da euforia, os mais de mil expositores de 46 países, silenciosamente, deixaram entrever uma questão crucial: para onde vai tanta tecnologia e para que tantos megapixels? A resposta não é simples nem para o analista italiano de novas tecnologias Marco Chiavanni: A indústria fotográfica precisa determinar um padrão de pixels para não continuar caindo nos exageros tecnológicos. Mas isso ainda vai demorar, porque a concorrência é acirrada e ela trabalha em função do quem pode mais . Quem pode menos nessa história é o consumidor, que não tem condições de pagar por tantos recursos oferecidos a cada ano. Ainda segundo Chiavanni, a tecnologia também custa caro para a indústria. Por esse motivo, a maioria dos equipamentos está sendo confeccionada na China e Taiwan, onde a mão-de-obra é mais barata. Outro meio para tentar baratear o custo dos aparelhos é a parceria. As indústrias fotográficas e as não fotográficas estão trocando tecnologia, como a Sony, que forneceu sensores CMOS para a leitura de imagens para a Nikon e a Canon, e a indústria Cosina, que fez parceria com a Epson, fornecendo objetivas.

riglia esteve em Colônia a convite da Konica Minolta, al e T. Tanaka

Making of

LOCAL: Porto Seguro, BA. EQUIPAMENTO: câmera Minolta 9xi, lente 28 mm, um tripé pesado para resistir ao vento cons- EDUARDO QUEI tante do local e um disparador. TEMPO DE EXPOSIÇÃO: abertura 22 e obturador em B por cerca de 10 minutos. FILME: Fujichrome Velvia 50. MELHOR ÉPOCA DO ANO: a foto foi feita no verão, no mês de dezembro de 2000. HORÁRIO: por volta das 18 h, horário em que ainda há um resquício de luz do dia, responsável pelos vários tons de azul no céu, captados pela longa exposição. DICA: o fotógrafo aproveitou a iluminação vinda do cais, onde estava posicionado, para dar mais contorno ao primeiro plano da imagem. As luzes ao fundo vêm do vilarejo de Arraial d'Ajuda. A opção pelo slide, segundo o fotógrafo, foi para garantir uma boa saturação das cores.

www.lumiarfoto.com.br

Veja a lista das superdigitais lançadas na última Photokina.

As câmeras devem chegar ao Brasil nos próximos meses e podem ser encomendadas pelos telefones abaixo, confira.

MAMIYA ZD: Arquivo de 21.5MP (RAW e JPG). Sensor de 48x36mm. Velocidade de 1/4000 e sinc de flash em 1/125. Sosecal: 0800-7030214

CANON 1D5 MARKII: Arquivo de 46 16.4MP (RAW, TIFF e JPG) fé

Sensor de 36x24 mm. A câmera cria arquivos de até 100 mega bites e passa a ser a principa concorrente para as digitais de médio formato.

Mart: 11 3646-1818

NIKON D2X: Arquivo de 12.4MP (RAW, TIFF e JPG). Sensor de 23.7x15.7 mm. Sistema de transmissão de dados WiFi. A câmera faz até cinco fotos por segundo na resolução mais alta.

T. Tanaka: 11 3825-2255

FINE PIX 53 PRO: Arquivo de 12MP (RAW e JPG). Sensor 23x15,5 mm. A câmera da Fuji usa lentes Nikkor. Fuji: 0800-128600. (a partir de dezembro)

FOTOS:
DIVULGAÇÃO

O que acontece quando seis grandes fotógrafos brasileiros abandonam suas câmeras profissionais por um dia para clicar

com o V710, o mais moderno celular da Motorola?

Novo Congonhas
Reservatório
Primavera em Bichinho Tiradentes
Auto retrato
Restaurante da Angela Bichinho - Tiradentes
Antifachada - Belô
Niemeyer - Belô
Cláudia - Tiradentes
Sibipiruna flowers Tiradentes
Gabi nos camarins
V710, UMA EXCLUSIVIDADE VIVO

Motorola V710

Vídeo

a e reproduç eos de ER anhAQÃO

Memory Stick

Cartão de memória expansivo de 128Mb

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Todos os usuáriosplanos Vivo-Pré e Vivo-Póspodem enviar Foto Torpedos através do site www.vivo.com.br. Mesmo quem não possui telefones celulares com o serviço Foto Torpedo pode resgatar e visualizar as mensagens recebidas no site da Vivo.

OSaiba quem são e o que pensam os profissionais especializados em garimpar novos talentos da fotografia, editar livros, organizar exposições e indicar trabalhos para engordar o acervo de coleções públicas e privadas

Por Eder Chiodetto

elos olhos deles passam a mais expressiva fatia da produção fotográfica contemporânea brasileira. Pesquisadores incansáveis, desbravadores do universo infinito de imagens, que são produzidas em velocidade cada vez maior, eles possuem uma obsessão em comum: encontrar novos talentos que os surpreendam pela originalidade da expressão e pelo uso apropriado da linguagem fotográfica.

Esse grupo de articuladores da fotografia é composto por Rubens Fernandes Junior, 53 anos, diretor da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, Eduardo Brandão,

46, professor e sócio-proprietário da galeria Vermelho, de São

Paulo, Rosely Nakagawa, 50, arquiteta e pesquisadora de fotografia, Diógenes Moura, 47, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Tadeu Chiarelli, 48, professor do departaUniversidade de São Paulo, ECA.

De uma forma ou de outra, esse seleto grupo, entrevistado pela REVISTA FOTOSITE, esteve à frente das mais importantes manifestações que ajudaram a impulsionar a fotografia nacional nas últimas duas décadas. Seja na universidade, numa galeria, numa instituição pública ou em publicações diversas, esses amantes da fotografia foram aos poucos construindo seus currículos, que hoje os credenciam a emitir opiniões que findam por direcionar e trazer à tona a produção da maioria dos fotógrafos brasileiros da atualidade que estão no mercado editorial ou de artes visuais. Entre outras atividades, eles fazem curadoria de exposições, orientam novos fotógrafos ou trabalhos de profissionais que estão na ativa, editam livros, escrevem e sugerem textos, indicam trabalhos para publicação, exposição e aquisição de coleções privadas e públicas, além de pesquisarem o tempo todo. Pesquisar, aliás, foi o verbo mais conjugado ao longo de todas as entrevistas. Cada um falou sobre o seu foco de interesse na fotografia praticada nos dias de hoje, quais os parâmetros que utilizam para desvendar e entender um novo trabalho, o exercício de garimpagem dentro da quantidade de imagens a que estão expostos diariamente e, sobretudo, o que é ser um curador de fotografia, e se esse papel efetivamente existe hoje no Brasil. Veja os principais trechos dos depoimentos e o resultado do trabalho dos fotógrafos escolhidos pelos entrevistados para retratá-los.

O joioeo trigo

A leitura de portfólio ou a curadoria de uma mostra pressupõe a tarefa de conseguir um grau de profundidade diante de um trabalho a ponto de fazer observações com o intuito de sugerir caminhos para o fotógrafo. Trabalho dos mais delicados, posto que, inevitavelmente,

Se trata de um exercício calcado parte em dados técnicos mas, principalmente, na impressão subjetiva e na sensibilidade de quem observa as fotografias pela primeira vez. Os cincos entrevistados contam um pouco como se dá esse processo.

Iate le!!! Para mim é muito importante perceber as conexões do trabalho do artista com o momento que ele vive. A capacidade que esse trabalho tem de responder e, ao mesmo tempo, transcender ao seu tempo. Isso pode tornar um artista mais vibrante em felleleslo) e) fojuiiro;s, O curador deve mergulhar profundamente na produção do artista para perceber possíveis propulsores de uma nova conceituação.

MESEOP SS! Gosto do trabalho que tem uma certa emoção e consegue se identificar com o desejo mais íntimo da pessoa. Fruto de uma necessidade, uma vontade interna de expressão. Oriento no sentido do fotógrafo conseguir de fato alcançar essa expressão. É nesse momento, também, que eu o abandono para que ganhe vida própria. Faço uma leitura de interpretação do trabalho e não da pessoa. Senão vira uma sessão psicanalítica. O artista se manifesta pelo seu trabalho e é nele que devem residir as discussões. Não posso misturar as coisas: |NEss=) (oglsinelectos ojroteibiço) reforçar a informação do fotógrafo indicando trabalhos fo [EMO oco go sato pe Se ecc EO ento de parada para reflexão. É muito gratificante ver depois as pessoas alçarem vôo com segurança. Dinfoa ES lol! A emoção que o trabalho consegue expressar e o grau de subjetividade com que o fotógrafo consegue conduzir essa emoção são dados muito importantes quando vejo um ensaio fotográfico. l=nsisistojto vejo pela primeira vez e não paro de pensar até conseguir expor ou dar algum outro encaminhamento. |: ojlliços que acabo trabalhando durante anos até chegarem no ponto que julgo amadurecido. auto; 11711) Quando estou fazendo uma curadoria, consigo entrar em profundidade nos trabalhos para fazer as ligações que julgo pertinentes. Sem dúvida, é uma leitura particularizada que tento de alguma forma enconramo condutor Gsi anto Res orl late cite niinlata Rotasia) as imagens com as quais vou trabalhar na montagem para ter um convívio intenso com elas. As vezes, as coloco nas paredes do meu quarto e as vejo logo que abro os olhos pela manhã. Vou 'conversando' com as fotografias e tecendo relações. Nisso me sinto muito bem, pois Cs

acredito que auxilio o artista, trago à tona algumas inquietações.

Quando trabalho com uma nova produção, tento encontrar ecos dessas imagens em algum trabalho já realizado, busco contextualizála na história da arte e da fotografia para ver o quanto de contemporaneidade tem ali, mas sempre em relação a algum trabalhojá feito.

Sou um apaixonado por imagem no geral e por fotografia em particular. Sempre que vejo um trabalho novo, abro espaço para a pessoa baixar a guarda e falar sobre o que fez (...) é um ajuste de paralaxe entre a intenção da pessoa, o trabalho dela e a minha visão desse trabalho (...) o caminho que persigo é o da absoluta franqueza.

Gosto da fotografia ruidosa, que me provoca, me salta aos olhos, que é instigante, que me causa estranhamento, tenha dissonâncias e por vezes faça eu me perguntar: isso é uma fotografia?

No processo convencional também é possível achar trabalhos que causem essas sensações, como na fotografia documental brasileira, uma das melhores do mundo: é um documental humanista que vai

O exercício de curadoria em fotografia está em xeque, ao menos nas palavras de parte dos entrevistados. Quanto O curador ajuda ou atrapalha ao intervir numa obra?

Como deve se dar essa intervenção e a importância dela?

O curador tem um papel que precisa ser bem cuidado. Ele pode interferir demais na obra do autor, apontar caminhos que não interessam para o artista, fazer uma intermediação além do trabalho. Não gosto muito dessa palavra curador". Acho que o curador é o responsável por uma determinada coleção ou por um determinado trabalho. Não é a palavra adequada como usamos normalmente. porque os museus ou coleções de fotografia ainda não têm essa configu-

ração. A pessoa que escolhe algumas obras em torno de um tema não é curador. Em [MM relação ao que faço, prefiro assinar como ff coordenadora de projetos.

O que tento fazer é ter & uma interferência como uma enciclopédia, abastecendo o artista de informações, leituras e referências novas para ele se desenvolver. Vivemos num meio de muita carência de acesso a informação e de interlocutores (...) não podemos pecar pelo purismo de não querer interferir nisso ou naquilo. A manteiga que o cara come de manhã já é uma interferência, por que tenho que me eximir disso? Tenho a consciência de que sou honesto e sincero e que aquele não é o meu trabalho, mas tenho que buscar minha identificação com a obra| para poder pensar correlações possíveis.

A palavra curadoria só surgiu nos anos 90. Resisti muito a assinar uma curadoria, achava que era uma responsabilidade muito grande. Até hoje esse nome é usado muito mal.

É um diálogo constante com o fotógrafo. Tem que conceder, criar uma narrativa, um discurso visual (...) A palavra 'curadoria' empobreceu com o tempo, virou nada, todo mundo cura e todo mundo é curador. Falta às pessoas que assinam como curador um estofo, uma carga teórica e de pesquisa que acaba sendo visível no trabalho que está sendo mostrado. Geralmente sou um coordenador, poucas vezes consegui ser, de fato, um curador. É muito diferente fazer uma curadoria para uma galeria e para um museu público, como é o meu caso na Pinacoteca. Não estou a serviço do meu olhar, estou a serviço do olhar do outro. Tenho que abrir janelas para o público.

Seria perverso e egoísta. Não gosto de imagens manipuladas em computador, mas não posso negar o acesso do público a trabalhos que utilizam esse recurso. A fotografia para ser inesgotável tem que manter sempre a capacidade de surpreender. Tenho talvez até essa estranha capacidade de não me levar a sério, não perder a criança que mantém acesa a possibilidade de me espantar.

Não vejo a curadoria como uma profissão. A curadoria de uma exposição deveria ser uma forma de expressar uma determinada pesquisa. Acho um absurdo eu ser o curador e chamar outra pessoa para escrever sobre o trabalho, por exemplo.

Desde que a imagem digital virou domínio público, toda conversa sobre fotografia inevitavelmente acaba na discussão sobre o impacto das novas tecnologias e o futuro do P&B. Nossos entrevistados estão longe de chegar a um consenso sobre esse assunto.

Há ainda muito conservadorismo e resistência no meio quanto à fotografia contemporânea. Moramos numa cidade como São Paulo em que EM

NTE

Acho que quem conhece bem matemática, por exemplo, pode estar mais apto a produzir imagens digitais que um fotógrafo

DIÓGENES MOURA Discordo que fotografia e imagem digital sejam diferentes. É tudo processo fotográfico

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Primeiro era desfocado e grande, agora focado e grande, como vários trabalhos que estão na Bienal. É uma fotografia papo-cabeça, que tenta fugir dos clichês e cai num vazio.

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tipo de fotografia, quando bato o olho nela, já sei qual é o discurso. É a mesma coisa que ela dizia a 80 anos atrás. Tudo mudou e a fotografia não? Estranho isso

ROSELY NAKAGAWA

A imagem digital está provocando um quase abalo sísmico na produção e circulação de imagens, mas aos poucos teremos uma acomodação e, tenho certeza, veremos surgir com mais vigor uma fotografia outra, tão ou mais celebrada quanto esta que vigora há mais de 160 anos.

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Uutras palavras

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Hoje em dia, um público muito restrito se interessa por uma o? < simples mostra de fotografia. Por isso, creio que o livro hoje seja o melhor caminho para a divulgação de um trabalho.

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RUBENS FERNANDES TN
Edu Brandão por Eder Chiodetto

Galerias Fnac Fotógrafos brasileiros em destaque

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As imagens de cores saturadas das feiras de Açaí, das festas do Círio, dos brinquedos de Meriti, das moças de Ananindeua, dos vendedores do Ver-o-Peso, dos banhistas do Mosqueiro, identificam-no integralmente com sua cultura. Luiz Braga descobriu tonalidades de um entar- decer que não dura mais de vinte minutos, debaixo de nuvens densas e chuvas pesadas (...) Imagens em preto e branco que mostram, à primeira vista, cenas bastante comuns. Observando com cuidado, no entanto, vemos que é uma simplicidade de quem conhece detalhes de comportamento do povo e da terra. É uma abordagem pessoal, na qual Luiz Braga entra no universo íntimo, onde os personagens são registrados cada um com seu tempo. Ele tem a calma de quem sabe que pode voltar quantas vezes for necessário ao local e encontrar a mesma pessoa, a situação levemente modificada.

Por conhecer muito bem seu território, ele mergulha na Amazônia Profunda revelando pequenos gestose atitudes, captando cenas fugidias. Suas imagens compõem uma complexa mescla cultural que pode ser apreciada em silêncio E em delicadas tonalidades de cinza. (Rosely Nakagawa)

Brasília, o Tempo, 0 Brasil - Thomaz Farkas

Nesta exposição, especialmente montada para as Galerias Fnac, 30 fotografias de Thomaz Farkas, divididas em dois períodos: a Brasília dos anos 60 ea Brasília do ano 2000.

No primeiro momento, Thomaz Farkas registra cenas da construção, dos edifícios da Esplanada ainda em estrutura de ferros, detalhes da inauguração. No segundo, a ênfase está na população. Presente no primeiro momento como detalhe dos espaços monumentais, hoje mostra sua cara mestiça, resultante da mistura das populações oriundas das mais diversas regites do Brasil. Homens e mulheres que nasceram e cresceram na cidade que, apesar de todos os problemas políticos e sociais, consagrou-se como referência internacional de arquitetura e urbanismo.

Thomaz Farkas, com 80 anos, produziu continuamente como autor, de 1940 a 1960, participando de exposições nacionais einternacionais, formando grupos de fotografos no MASP com artistas como Flávio Mota e Marcelo Grassmann. Ao lado de José Medeiros, Chico Albuquerque, Geraldo de Barros, fez parte da primeira geração de fotógrafos brasileiros mais reconhecidos e que influenciaram as gerações posteriores de diversos profissionais desta área.

Escape - Reflexos do quase nada- Pedro Karp Vasquez

Em O artista perfeito, Clarice Lispector observa com muita propriedade que arte é purificação, é libertação, não é inocência, é tornar-se inocente , E termina louvando os artistas que souberam aprender a pintar como crianças. Ou seja: que se deram ao trabalho do aprendizado da inocência.

A presente exposição é resultado de semelhante aprendizado. Quando comecei a expor, na década de 1970, meu trabalho oscilava entre o conceitual e o experimental, numa vertente de clara e deliberada orientação metalinguística. Além de me permitir todas as ousadias conteudísticas, tentei um pouco de tudo, das seguências narrativas aos polaróides, das colagens aos fotogramas, empregando os mais diversos suportes e equipamentos. Nada renego e de nada me arrependo. Mas, hoje, o que me interessa sobretudo em fotografia é a procura do despojamento e da simplicidade do registro direto de alumbramentos sutis e pessoais, dos reflexos daqueles preciosos momentos em que o mundo externo e o mundo interior entram em sintonia. Um pouco como quando, nos visores de imagem partida, vemos duas imagens desfocadas se sobrepondo para formar uma única imagem nítida e perfeita

(Pedro Karp Vasquez)

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Ilha de Paquetá (cavalo)
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Praia Vermelha (estátua)

Conseguir uma bolsa é o caminho mais curto para viabilizar um projeto de fotografia autoral. Ter acesso a esses programas, sobretudo os do exterior, no entanto, sempre pareceu um sonho inacessível aos brasileiros. Os casos bem-sucedidos de pessoas que emplacaram seus projetos mostram que, com disciplina, uma apresentação profissional e uma boa idéia, o financiamento pode se tornar uma realidade. Não é nenhum bichode-sete-cabeças , afirma André Cypriano, fotógrafo paulistano radicado em Nova York e dono de uma respeitável lista de trabalhos feitos com recursos provenientes de grandes bolsas de fotografias concedidas no Brasil e no estrangeiro.

Seu primeiro trabalho, Caldeirão do Diabo, que disseca as relações humanas dentro do extinto presídio da Ilha Grande (RJ), foi feito inicialmente com recursos próprios e acabou ganhando dois prêmios/bolsas que permitiram sua finalização. Com auxílio da Mother Jones Fundation for Documentary Photography, que antes de ser incorporado pelo fundo FiftyCrows era um dos maiores programas de incentivo do mundo na área da fotografia, documentou a Rocinha, trabalho exposto em 2002 na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Com o dinheiro vindo de outras bolsas, registrou em profundidade mais dez favelas do Rio de Janeiro e passou seis meses desenvolvendo um projeto sobre a cultura das favelas de Caracas, nas Venezuela. Os resultados são portfólios de alcance educacional, registros históricos, com expressão artística e fundamentos antropológicos e sociais , diz o fotógrafo. Submeter um projeto ao crivo das instituições nem sempre é tarefa fácil. De pouco vale ter uma boa idéia na cabeça, se não se sabe justificar e formular as idéias no papel, evidenciando sua coerência temática. Comprometimento com causas de valor social, relevância histórica e cultural, originalidade e adequação ao orçamento da bolsa são aspectos levados em 3

da bolsa, ele está identificando 68 personagens de uma foto que tirou na Passeata dos Cem Mil, ocorrida no fatídico ano de 1968, no Rio de Janeiro, e vai traçar suas histórias de vida. O projeto se chama 68: destinos. Com PIO FIGUEIROA / CIA DE FOTO os recursos, farei as viagens necessárias para ir atrás

dessas pessoas, além de formatar o livro e a exposição.

Uma das únicas alternativas do momento é a recémlançada Bolsa Banco Santos de Fotografia, um dos E

pilares do Programa de Estímulo à Fotografia Fnac- E

Fotosite, que visa incentivar jovens profissionais com E

idade até 30 anos. O vencedor será agraciado com R$ 14 mil em dinheiro, R$ 12 mil em produtos (livros e equipamentos) e uma viagem à França, além de orientação para execução do trabalho. Há instituições governamentais que concedem bolsas para pesquisas, como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São consideração pelos jurados na hora de decidir quem leva o prêmio. Paulo). Mas, para concorrer a esses programas, os Com a colaboração de Cypriano, a REVISTA FOTOSITE elaborou | candidatos devem estar vinculados formalmente a dez dicas para quem está querendo tentar a sorte nesses pro- órgãos públicos ou universidades. As informações gramas [ver quadro na página seguinte). podem ser obtidas diretamente nos departamentos de Como a maioria das alternativas são bolsas estrangeiras, dominar ensino das faculdades. a língua inglesa é desejável, muitas vezes imprescindível. Um financiamento de porte para um projeto autoral Algumas funcionam como uma espécie de cooperativa, como a pode mudar a vida de um fotógrafo. É o caso de Blue Earth Alliance, em que fotógrafos e interessados pagam Claudia Andujar, reconhecida hoje internacionalmente mensalidades, custeando os trabalhados premiados. Contam por sua luta em defesa do povo yanomami. Nos anos com suporte de voluntários e geralmente a inscrição está vincu- | 70, ela recebeu duas bolsas da Fundação John Simon lada a uma taxa, também revertida ao sustento da entidade. Guggenheim, de Nova York, e uma da Fapesp. Os O FiftyCrows International Fund for Documentary Photography prêmios foram essenciais, já que neste período Claudia tem como forma de arrecadação a venda de portfólios de fotó- deixou para trás sua rotina de fotojornalista freelancer grafos renomados, que emprestam seus negativos para a institui- | para realizar o trabalho que se expandiu além da ção fazer edições numeradas. Já no Concurso de Fotografia | documentação e se confunde com sua própria traLatino-Americana Josune Dorronsoro, da Venezuela, o trabalho jetória de vida. Graças às bolsas, pude me dedicar aos premiado fica para o acervo do Museu de Belas-Artes de Caracas. índios integralmente, de corpo e alma , afirma ela. A história da Fundação Alexia é bastante peculiar. Criada e mantida pela família milionária de uma jovem fotojornalista morta em 1988, no ataque terrorista do Pan Am Flight 103 em Lockerbie, Escócia, a instituição concede bolsas para fotógrafos documentaristas e destina uma verba específica para estudantes. O prêmio para o primeiro colocado é de US$ 15 mil. O Santa Fe Center for Visual Arts, dos Estados Unidos, patrocina o The Center for Photography Projects e é uma das poucas alternativas para trabalhos de longa duração na área de fine arts.

Algumas fundações de fomento ao ensino e à pesquisa da fotografia no mundo foram criadas em memória de profissionais que fizeram história. É o caso da Aaron Siskind Foundation, que leva o nome do mestre americano da fotografia abstrata, morto em 1991, e o The W. Eugene Smith Memorial Fund, inspirado no trabalho da célebre fotojornalista [ver quadro com links para os principais programas na página seguinte).

Atualmente, os programas brasileiros que atendem fotógrafos são raros. Um dos maiores programas, a Bolsa Vitae, chegou à sua última edição premiando projetos como o de Evandro Teixeira, veterano fotógrafo do Jornal do Brasil. Com os R$ 3 500 mensais

Começar a desenvolver um tema por conta própria às vezes é necessário para criar um portfólio de apresentação. A iniciativa dá respaldo a futuras ações.

Pense a longo prazo, mas não deixe passar o momento. Fotografe o objeto de interesse, mesmo que seja para revelar ou fazer as imagens no papel futuramente.

Raciocínio sobre o trabalho é fundamental. Organize suas idéias por escrito, formule seu plano de ação.

Não deixe os portfólios parados. Mesmo trabalhando sozinho, é necessário ter disciplina e criar métodos para a execução do trabalho.

Procure os programas adequados ao seu perfil profissional. É muito importante conciliar sua proposta com a linha de atuação da bolsa, principalmente nos programas de causas humanísticas, muito comuns em instituições européias e americanas.

6. Analise detalhadamente requerimentos, critérios de julgamento e especificações como formato do portfólio e prazo. Muitas bolsas têm regras complicadas, por isso não hesite em ligar para a entidadee tirar todas as dúvidas.

Ser original, tanto na escolha do tema quanto na idéia do produto final, conta pontos que podem ser decisivos.

8. Atenção especial na justificativa: mostre o porquê da proposta e evidencie a relevância do tema. Não esqueça que os resultados deverão estar de acordo com a idéia apresentada e, via de regra, os programas exigem relatórios durante a execução do trabalho. Por isso, capriche na elaboração da proposta e tenha metas definidas para o seu desenvolvimento.

Mesmo que sua proposta tenha uma intenção grandiosa, cuidado com os planos quixotescos, pois sua viabilidade financeira deve estar de acordo com os recursos disponibilizados pela bolsa.

10. A labuta é essencial, mas a sorte também conta nessas horas. Cada jurado tem seus valores pessoais e suas preferências de estilo. Por isso, arriscar também é preciso!

Quando alguém pensa na assinatura de Araquém Alcântara, logo com a atualidade , diz o fotógrafo. surge a lembrança do belo retrato da onça-pintada do Pantanal ou A história de Brasileiros começou quando o escritório de uma paisagem intocada de uma reserva florestal. Poucos de advocacia Shearman & Sterling empreendeu a sabem que o mais conhecido fotógrafo de natureza do Brasil idéia de abrir uma filial no Brasil. O projeto inicial de começou a carreira nos anos 70 produzindo retratos de promoção da empresa seria um livro sobre os 50 anos prostitutas no cais de Santos, cidade no litoral do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. No enpaulista. Desde aqueles tempos, a ERÊ Ds tanto, um dos sócios, André Janszky, pedra fundamental de seu tra conheceu o trabalho de balho são as grandes reporta- Araquém e decidiu patro gens fotográficas. Ele se notabili- cinar o Brasileiros. A seleção zou por sua sensibilidade em captar as de imagens dos 34 anos de sua cores, texturas, formas e ritmos da fauna e da carreira consolida a busca por grandes flora brasileiras. Mas nunca deixou de se interessar reportagens fotográficas, iniciada com os retratos q das prostitutas de Santos nos anos 70 e consolidada hecida do trabalho de Araquém surge com a publicação de com as fotografias de natureza. A REVISTA FOTOSITE Brasileiros, o 17º livro de sua carreira. É uma crônica em preto e publica algumas das imagens do trabalho que será pela natureza do bicho homem. Essa parte menos conbranco do povo do Brasil, um livro atemporal, sem compromisso lançado em dezembro, em Salvador.

TERRITÓRIO FOTOGRAFIA

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BIENAL DE SãO paulo

Atual mostra em São Paulo bate recorde em espaço dedicado às imagens e reafirma a fotografia tradicional como arte independente.

Por Juan Esteves

O namoro da fotografia com a Bienal de São Paulo não é de hoje, e vem sendo representado de inúmeras maneiras. Segundo a professora Helouise Costa, em 1953 o artista Geraldo de Barros articulou a participação do Foto Cine Clube Bandeirante, que teve como resultado uma sala especial para os fotógrafos paulistas. Esta 2º Bienal ficou conhecida como a Bienal de Guernica , em referência à obra de Pablo Picasso, uma das preciosidades expostas. Após meio século, a 26º Bienal de São Paulo mantém estreitos os laços com a fotografia ao apresentar 27 fotógrafos, oriundos de 18 países, responsáveis por 25% do total das obras expostas. Com suporte tradicional na confecção da maioria das imagens, eles estão distribuídos entre representações nacionais, artistas convidados e salas especiais. A escolha dos artistas valoriza, nitidamente, a estética e abre mão da importância dos processos construtivos, deixando de lado uma abordagem mais sociológica da arte, que orientou diversas versões anteriores. Grande parte das imagens está exposta no segundo pavimento.

É nesse andar que está uma sala dedicada à fotografia africana, representada por oito fotógrafos vindos da África do Sul, Togo, Nigéria, Gana, República Democrática do Congo, Camarões e Senegal. O fotógrafo Thomas Struth, da Alemanha, terá uma sala especial, e Caio Reisewitz, com cinco grandes imagens, é o único fotógrafo brasileiro convidado.

O alemão Alfons Hug, curador da Bienal, ratifica, de maneira saudável, o ceticismo atual em relação à sociedade industrial e ao mundo digital. Entretanto, a opção pelo suporte mais tradicional não revela uma retomada ao meio mais clássico da fotografia, apenas o confirma definitivamente como autônomo e independente.

A tendência ao pictórico, notada ma mostra, sugere uma predileção de Hug nas escolhas do brasileiro Reisewitz, da americana Carol Opie e do alemão Struth.

O mesmo se pode dizer da curadoria feita por Simon [> |

ICRANIA VICTOR MARUSHCHENKO,
ABDERRAMANE SAKALY, SENEGAL
WWww.revuenoire.com
THOMAS STRUTH, ALEMANHA

annonne, a fotografia

de desvendar um sentimento poético intenso, tamb e esse pensamento. Elas utilizam a técnica de pinhole, ei ar ao outro, U veículo em movimento constante, que registra a cada moment lecionado, cria uma metáfora de Fácil assimilação com imagens pictórica imagem imobilizada poéticamente no papel de grande dim

CHRISTINE FELTEN E VÉRONIQUE MASSINGER, BÉLGICA seita análi

07.199b; impressão direta em papel colorido reversível; 102x2b5cm; cortesia Mi

Njami com os fotógrafos africanos. Felizmente, essas opções, apesar de discutíveis, passam ao largo do maniqueísmo que gera o debate estéril sobre o uso ou não das tecnologias digitais. Afinal, não são esses processos que definem se a fotografia é boa ou ruim. A Bienal é hoje um dos mais importantes eventos do gênero no mundo, rivalizando com a Bienal de Veneza e com a Documenta, de Kassel. No total, traz obras de 136 artistas, de 63 países, mescladas numa área de 25 mil metros quadrados. Historicamente, a fotografia sempre esteve em evidência. Em 1967, a 9º Bienal pre: mia os fotógrafos poloneses Pawel Pierscinski e Z.Lagocki, e a na 11º Bienal, de 1971, o baiano Mario Cravo Neto ganha o prêmio especial dedicado à fotografia. Em 1973, o fotógrafo Marcio Mazza também recebe um prêmio especial da 12º Bienal, o último dado a um trabalho fotográfico, pois na década seguinte a premiação deixou de existir.

O uso da imagem fotográfica como suporte para outras mídias tam-

bém vem sendo pródigo na Bienal. Em 1981, na 16º Bienal, a dupla Gilbert and George ganhou uma sala especial. Na 22º edição, de 1994, o americano Gary Hill monta uma instalação com fotos. As serigrafias de Warhol formaram uma parede na 23º Bienal, de 1996, e na 24º Bienal, de 1998, Vie Muniz e Rosângela Rennó mostraram suas fotografias apropriadas. Mesmo distante de uma aprovação unânime na escolha de seus representantes, a fotografia tradicional sempre teve seu espaço. Igualmente, não se pode dizer que o uso da fotografia como suporte para outros tipos de arte é resultado de uma crise criativa ou de uma falta de repertório. Para Alfons Hug, a opção sugere apenas um retorno aos meios menos tecnológicos, expressa em procedimentos mais simples, mais artesanais. Sem dúvida, uma desconfiança do high tech e suas promessas.

CAIO REISEWITZ, BRASIL

A expansão dos formatos na fotografia encontra no brasileiro Reisewitz algo mais que uma justificativa de momento e modismo. Calcado em uma pesquisa séria e extensa, 0 fotógrafo apresenta imagens de grande formato, entre 100x80 cm e 160x238 cm, ampliadas manualmente a partir de negativos 4x5 polegadas. Reise) interfere na filtragem das cores para que suas imagens fenham o resultado procurado. Suas paisagens se aproximam muito do romantismo alemão, movimento que o fotógrafo assume como uma das referências, mas ao mesmo fempo fazem um contraponto com a questão ambiental brasileira por meio da ausência de personagens, a solidão dos espaços, a valorização da distância do caos da cidade. Próximas de suas Fotografias, que sugerem pinturas, estão as pinturas que parecem fotografias, do equatoriano Pablo Cardoso, o que para o curador Alfons Hug representa um diálogo pertinente buscado na Bienal Paúba, 2004; c-print; 180x275 cm; Coleção do artista- Cortesia Galeria Brito Cimino [www.britocimino.com.br]

Eustáquio Neves

BOA APARÊNCIA

Desde o início dos anos 90, o mineiro Eustáquio Neves vem construindo uma obra explosiva e surpreendente. Ele se encaixa no grupo de profissionais que utilizam seu talento para colocar o dedo na ferida das desigualdades do Brasil. Mas sua maneira de retratar esses problemas sociais é única. Eustáquio acaba de concluir sua nona série de ensaios temáticos. As imagens que aparecem ao longo desta matéria são inéditas e foram finalizadas especialmente para a REVISTA FOTOSITE. Elas compõem a série intitulada Boa Aparência. Eustáquio utilizou retratos de seus documentos pessoais e frases retiradas da imprensa em dois momentos históricos bastante diferentes. Na primeira seleção, colheu trechos de jornais ingleses do século XIX que noticiavam a fuga de escravos negros. Juntou a esse material uma série de recortes de classificados de empregos publitados nos últimos anos na imprensa brasileira. Escolheu apenas os que exigiam boa aparência dos candidatos. O resultado dessa sobreposição de textos e imagens forma uma visão perturbadora sobre o tema discriminação. Nas páginas deste Portfólio, veremos uma evolução que vai além da estética. O tom de crítica social das imagens de Eustáquio vem se tornando mais forte a cada trabalho. É essa inquietação permanente com as grandes mazelas do país que fornece a matéria-prima para um dos nomes mais originais da Fotografia brasileira. Em tempo: consultados pela REVISTA FOTOSITE, os departamentos de publicidade de alguns dos grandes jornais do país informaram que não aceitam mais anúncios de empregos que exijam boa aparência dos candidatos. À expressão foi curiosamente trocada por boa apresentação

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Por Pisco Del Gaiso Fotos Pedro Motta

Badalação não é o prato predileto do mineiro Eustáquio Neves, 49. No intervalo de alguns compromissos profissionais numa tarde quente de setembro, ele está sentado à mesa do Sujinho Bisteca de Ouro, tradicional boteco de São Paulo. A janela do restaurante começa a receber as primeiras gotas de garoa e, de tempos em tempos, a conversa é interrompida por uma freada brusca dos carros que circulam pela avenida que fica em frente ao estabelecimento. Embora tenha morado na cidade entre 1999 e 2002, Eustáquio não está mais acostumado a esse movimento. Há quatro anos, em companhia da mulher, Lílian, e dos dois filhos, ele se mudou para Diamantina, cidade histórica do interior de Minas Gerais. Criou por lá a Galeria Maria, ambiente que abriga suas obras e ponto de encontro de pessoas interessadas em fotografia e, principalmente, em conviver com o artista, comprar suas imagens, fazer um workshop ou simplesmente tomar um café.

Apesar do aparente isolamento físico em Diamantina, Eustáquio não está longe do mercado. A boa fase atual de sua carreira o obriga a

levar uma vida quase nômade. Em outubro, embarcou para um compromisso em Maputo. A capital moçambicana sedia até novembro o lançamento do Photofesta Maputo 2004, que dedicou parte da sua programação à fotografia feita nos países de língua oficial portuguesa. A convite da organização do evento, Eustáquio foi acompanhar o lançamento de sua exposição. Sua agenda é bastante movimentada. No ano que vem, irá participar da Mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea, em Salvador. Entre fevereiro e março de 2005, Eustáquio Neves, Mario Cravo Neto e outros nomes ainda não definidos farão parte do núcleo de artes visuais. No processo de pesquisa em busca de artistas significativos para representar o Brasil, o nome de Eustáquio surge de forma natural , afirma Solange Farkas, curadora do evento.

Podemos dizer que ele é mais que um fotógrafo na concepção tradicional da palavra. Químico por formação, ele utiliza seus conhecimentos e memórias para recriar realidades. Para entender sua preciosa obra, é preciso recorrer ao passado, um caminho inevitável quando se trata de um fotógrafo que reconstrói sua memória com polaroids, emulsão fotográfica e ácido sulfúrico. Eustáquio éo filho mais velho entre cinco irmãos. Teve uma relação conturbada com o padrasto moçambicano e a família passava dificuldades. Minha mãe pedia para dormirmos para esquecer a fome , lembra. Naquele ambiente, encontrava-se a combinação que no Brasil costuma condenar um grupo de pessoas ao limbo social: família negra e pobre. Essa origem explica em parte a carreira de Eustáquio, que procura despertar uma reflexão sobre as mazelas do Brasil.

Até o final dos anos 80, Eustáquio ganhava a vida trabalhando como químico numa fábrica de Niquelândia, no interior de Goiás. Munido de uma Yashica FXD, reforçava o orçamento registrando casamentos, produzindo books para modelos e confeccionando cartões-postais. Aos poucos, a fotografia virou sua atividade principal e Niquelândia ficou pequena para um jovem cheio de inquietudes. Em 1986, mudou-se para Belo Horizonte onde manteve um estúdio. Nessa época, teve duas conversas que mudariam para sempre os rumos de sua carreira. Numa viagem rápida a São Paulo para participar de um curso, ficou tocado pela palestra do professor Eduardo Castanho. Fotografia de Autor era o tema do encontro que despertou em Eustáquio a vontade de alçar vôos maiores na fotografia experimental. Tempos depois, o fotógrafo tomou contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, um dos mais importantes artistas brasileiros, que fazia suas obras a partir de sucata, lixo e diversos objetos recolhidos na Colônia Juliano Moreira, o mais antigo manicômio do Rio de Janeiro, no qual viveu durante quase 40 anos. Eustáquio enxergou ali a possi-

bilidade de usar a fotografia para reconstruir a realidade. Para criar coragem de mexer em uma cópia, precisei ver a obra do Bispo , conta Eustáquio. Essa fonte de inspiração o animou a iniciar seu experimentalismo visual, hoje reconhecido internacionalmente. Remontar realidades bidimensionais, buscando emoções mais fortes do que a fotografia documental lhe causava até então, era o caminho a ser seguido. Seu conhecimento de química facilitava muito as coisas dentro do laboratório. Levou um tempo até eu que tomasse coragem para expor os primeiros trabalhos. As pessoas mais próximas torciam o nariz para o que eu fazia , diz.

Fotografia expandida

Sua primeira série, Caos Urbano, rendeu uma exposição individual no Palácio das Artes, durante o Festival de Inverno de Belo Horizonte de 1992, com curadoria de Beatriz Dantas. Nessa mesma época, o professor e pesquisador de fotografia Rubens Fernandes Junior tomou contato com a obra de Eustáquio e tornou-se um de seus maiores incentivadores. Quando vi as imagens, fiquei louco , afirma Rubens, criador da expressão fotografia expandida um novo conceito onde o trabalho de Eustáquio se encaixa perfeitamente. O pesquisador passou a acompanhar a carreira do fotógrafo desde então. Rubens está preparando a publicação de sua tese de doutorado sobre fotografia expandida, que inclui uma profunda pesquisa da obra de Eustáquio e mais três fotógrafos.

No final da década de 90, o artista mineiro mudou-se para São Paulo e passou a viver de seus trabalhos autorais. Nos últimos anos, garantiu boa parte do sustento de sua família graças aos prêmios que rece-

beu. Entre os mais importantes estão a Bolsa Marc Ferrez de 1994, o Prêmio Nacional de Fotografia de 1997 da Funarte e o prêmio do banco JP Morgan em 1999. O mais recente deles foi o Prêmio Porto Seguro de 2004, categoria especial, que lhe rendeu 20 mil reais. Em outubro de 2002, Eustáquio abdicou de São Paulo eseguiu com a mulher para Diamantina. A sua ida para o interior de Minas acabou potencializando as vendas de seu trabalho. Segundo ele, já foram vendidas mais obras em Diamantina do que nos quatro anos em que viveu na capital paulista. Eustáquio atribui isso ao caos da cidade e ao excesso de ofertas de artistas.

A galerista Maria Inês Sicardi, diretora da Sicardi Gallery, que representa Eustáquio nos Estados Unidos há cerca de seis anos, afirma que o artista sempre teve uma boa aceitação no mercado internacional e já conta com uma carteira de clientes privados com interesse permanente em sua produção. A obra mais valiosa de Eustáquio foi vendida em 2000 por cerca de 4 mil dólares, nos EUA. A imagem faz parte da série Outros Navios Negreiros, produzida em 1999.

Atualmente, o artista faz experimentações em vídeo.

Eustáquio está demorando muito a deixar a fotografia , brinca um de seus irmãos, fazendo referência à inquietação do fotógrafo da família. A busca por novos desafios pode, em breve, revelar um novo talento para o cinema, uma das paixões do fotógrafo. A instalação que o artista prepara para o ano que vem, em Salvador, pode ser a avant-premiére.

Eustáquio deixa o restaurante e a garoa de São Paulo, rumo a Salvador. Diamantina, só depois, enfim...

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EUSTÁQUIO EM SÉRIE

ooo(e= Mo apare L EMIe Ea E e po E fotógrafo desde o começo dos anos 90

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Eustáquio utiliza um retrato de sua mãe, Tereza Catharina, como pano de fundo para suas interferências. Do Museu do Escravo, no município de Belo Vale, em Minas Gerais, vêm as outras fotos que compõem o trabalho. O artista clicou antigas máscaras de ferro que eram usadas para punir os escravos e as guardou em seus arquivos. Olhando para o retra- É to da mãe na parede de sua casa, percebeu que havia uma semelhança de ângulos entre o retrato e as fotos das máscaras. A junção dessas imagens fez nascer a série temática.

OUTROS NAVIOS NEGREIROS, 1999

Esse ensaio classifica os prontos-socorros, presídios e lotações de subúrbio como navios negreiros modernos. A obra mais valiosa do fotógrafo, que foi vendida em 2000 nos EUA por 4 mil dólares, pertence a essa série.

[a des eua io o RR EEE

Com essa série, Eustáquio levou o prêmio do banco JP Morgan, que oferecia na época o maior valor já pago a um fotógrafo 25 mil reais. Segundo Isabel Amado, curadora da única edição do projeto, a qualidade técnica e o acabamento das imagens de Eustáquio Neves impressionaram os jurados.

[o]:) apa o fofo) EE Traz como principal personagem a esposa do fotógrafo, Lílian. O questionamento sobre a ausência da figura do negro na publicidade e a exploração excessiva do corpo feminino para vender produtos de toda a espécie são os motes principais desse trabalho.

FUTEBOL, 1998-1999

Marca o início do uso dos textos em suas fotografias. Inicialmente, ele registra algumas cenas dos campos de várzea nos arredores de Belo Horizonte, durante o trajeto do trem até a sua casa. Reunindo vários negativos interpolados uns aos outros, e usando referências de pôster de futebol, folhinhas e calendários, ele passa a incluir dobras e volumes que não são vistos nas séries anteriores.

UNIPAR EEE EER

Segundo o professor Rubens Fernandes Junior, profundo pesquisador da obra de Eustáquio Neves, essa série constitui uma das grandes novidades da estética fotográfica brasileira dos anos 90. É aqui que Eustáquio inicia um processo de posicionamento social e político mais evidente. O artista busca nessas imagens uma volta a suas raízes negras e levanta questionamentos sobre conflitos raciais usando a fotografia como instrumento.

VÊNUS, 1993-1994

O objetivo era construir um clima renascentista. Alguns ícones da sociedade moderna, como garrafas de Coca-Cola e caixas de chicletes, foram adicionados sobre as fotos de personagens anônimas, fotografadas pelo autor na cidade de Contagem, Minas Gerais.

[oi [oERD: ORE EPA Primeira experiência de Eustáquio Neves com a fotografia experimental. Como fonte de inspiração para as cenas de caos urbano, Eustáquio assistiu inúmeras vezes aos clássicos do cinema Blade Runnere Apocalipse Now. O fotógrafo também cita como referência a música Fora da Ordem, de Caetano Veloso, cuja letra diz: Aqui parece que ainda é construçãoe já é ruína . As imagens iniciais foram feitas nos arredores da cidade industrial de Contagem, Minas Gerais, onde o artista vivia na época. As fotografias foram publicadas na revista Íris Foto e formaram a primeira exposição de Eustáquio Neves na capital paulista, durante o 1º Mês Internacional de Fotografia de 1993, evento que abriu caminho para o fotógrafo fora das Gerais.

Levou um tempo até que eu tomasse coragem para expor os primeiros trabalhos. As pessoas mais próximas torciam o nariz para o que eu fazia

Eustáquio durante o processo de criação da série Bow Aparência. Máscaras de papel, transparências e muita pesquisa
arfe do acervo francesa

VAMOS LODPERAR

As cooperativas de fotografia sempre pareceram uma maneira meio ingênua de tentar disputar espaço com as grandes agências profissionais. O cenário remetia ao da batalha entre Davi e Golias, mas sem o final feliz da Bíblia. A novidade é que as coisas estão mudando, sobretudo na Europa. No Velho Continente, o trabalho dessas associações alcançou um peso inédito no mercado a ponto de merecer neste ano um espaço exclusivo para a exibição de sua produção no principal festival de fotojornalismo do mundo, o Visa Pour "Image 2004, realizado em Perpignan (França). O evento recebeu tantas inscrições de cooperativas que precisou restringir o número de participantes a 16.

As cooperativas que estão fazendo sucesso na Europa funcionam em moldes semelhantes aos das primeiras associações do tipo que surgiram no início dos anos 90. A idéia é trocar idéias, experiências, mão-de-obra, contatos e materiais. Agora, porém, as associações atuam de um jeito mais focado e profissional, incluindo um esquema de prospecção e de venda de trabalhos muito mais agressivo. Em função disso, elas estão se multiplicando no Velho Continente e se tornaram uma das melhores opções para absorver a mão-de-obra de jovens fotógrafos em busca de um lugar ao sol no mercado. Nas cooperativas, as pessoas se ajudam, dão idéias, encaminham o projeto dos colegas a algum editor conhecido e também fazem o papel de advogado do diabo , explica o fotógrafo brasileiro Eduardo Martino, da Documentography, um dos primeiros grupos com essa característica na Inglaterra. O embrião dessa associação surgiu há quatro anos na forma de um website produzido por um casal Guilhem Alandry, francês e pós-graduado em multimídia, e Anna Kari, dinamarquesa e com mestrado em fotojornalismo. Em 2002, o grupo aumentou e se transformou [> |

numa cooperativa. Martino e Magali Corouge, ambos colegas de classe de Anna no mestrado em fotojornalismo, entraram para O clube em 2002. Muzi Quawson, fotógrafa comercial de publicidade e moda, chegou nos meados de 2004. Até hoje, a sede da cooperativa continua sendo a residência do casal fundador. O coletivo é um funil com fotógrafos que estão montando suas carreiras e unem suas forças. Cada um traz seus recursos pessoais, seja experiência, contatos ou equipamentos. Quando se adiciona essas partes, todo o grupo sai fortalecido , afirma Eduardo Martino, que é também o contador e o assessor para assuntos da América Latina da Documentography.

Um de seus produtos mais conhecidos é a revista online /ssue, que divulga trabalhos de fotojornalistas do mundo inteiro. Possivelmente, um de seus próximos projetos é a cobertura das eleições dos Estados Unidos em novembro, por um grande veículo de comunicação da Inglaterra, com cada fotógrafo acompanhando uma família americana no dia da votação. Pretendemos produzir um material de diferentes estrátos sociais e, com o know-how multimídia do Guilhem, divulgar o resultado em boletins audiovisuais online , conta Martino. Recentemente, o grupo fechou uma parceria com a agência Alamy para distribuir fotos de arquivo. Queríamos uma alternativa à Corbis e à Getty, que são dois monstros imperialistas , comenta o fotógrafo.

Cada cooperativa tem uma lógica própria, dentro de suas possibilidades financeiras e estruturais. A francesa Tendance Floue, composta por 13 fotógrafos, não tem parcerias com nenhuma multinacional de distribuição de fotos. Fomos sondados pela Corbis, mas preferimos manter nossa autonomia , afirma sua produtora cultural, Fany Dupechez. Fundada em 1991, a Tendance já tem uma infra-estrutura mais complexa do que a da Documentography. Possui um escritório em Paris com quatro funcionários uma representante geral, uma produtora cultural, um tratador de imagens e um contadéb dor. A França, aliás, é o país onde o conceito das cooperativas é mais difundido. Dos 16 grupos inscritos para o Festival em Perpignan, 11 eram franceses. Uma cooperativa é, sobretudo, uma estrutura que pertence aos fotógrafos. Cada um trabalha de acordo com seus enfoques pessoais, mas todos participam de projetos comuns , diz Fany. Mas talvez o grande trunfo das cooperativas seja o tratamento mais flexível que dispensam para as relações de trabalho, seja entre os membros do grupo ou com os editores que as contratam. A interação funciona no meio-termo entre um projeto = == ES Ea Ea s =) = fe) s Ss = -<ES E z E < individual e o trabalho de uma

são. Há também a troca de informações como em uma empresa, mas sem a burocracia típica das grandes estruturas. As conversas com os editores das revistas ficam mais no bate-papo, as pessoas ligam e conversam, perguntam se temos algum trabalho para lhes mostrar , diz Martino. Todas aderem a um formato descentralizado, sem chefes, quase anarquista. Não há uma direção nominativa. Todas as semanas há uma reunião com a equipe, quando as decisões são tomadas. No caso de uma opinião dividida, a decisão é da maioria , completa Fany.

O dia-a-dia de quem segue a vocação de clicar a natureza bruta pode envolver corridas, com o peso do equipamento nas costas, atrás do animal em disparada, horas caminhando na mata em busca de uma paisagem ou dias de espera para que uma ave pouse no galho certo. Além de espírito de Indiana Jones e as doses certas de coragem, paciência e técnica, o ofício requer um bom condicionamento físico. Fiz um supertreinamento para ir às Ilhas Geórgia do Sul, pois em uma outra viagem para a Antártida havia sentido falta de resistência para trabalhar naquelas condições , lembra Maristela Colucci, em ação entre os pingúins, na foto que abre esta reportagem. A REVISTA FOTOSITE ouviu alguns dos principais fotógrafos de natureza para que eles comentassem os detalhes de uma verdadeira caçada em busca de uma foto.

A Geórgia tem a maior pinguineira do mundo, com 600 mil pingúins-reais. É uma enseada de uns 2 quilômetros, difícil de desembarcar, por causa das ondas grandes. E para chegar onde estavam as aves, tinha que atravessar a pé uma corredeira de uns LO metros com água pela cintura. Ela queimava o corpo, de tão fria. Minhas botas viraram dois aquários. Fotografei de perto o. Usei uma Nikon F 4, com a bateria grudada no corpo e ligada na e deitada, com uma lente de 20 mm, para ter esse ângulo. câmera por um fio, para não ter problema de defasagem. A velocidade era i25 era um Ektapress 125 e, como lá é tudo branco, trabalhei com o negativo em vez do positivo. Na volta, fui sem as botas, mas escorreguei e caí de cara na água, para não danificar o equipamento. Foi um o. No ano seguinte, fiz a exposição Polares, 80 Dias de Veleiro entre a abertura 2.8, porque tava nublado. O filme stress e cheguei no barco roxa de fri a Antártida e a Geórgia do Sul, com 100 imagens, no Sesc Pompéia, em São Paulo.

Adriano Gambarini, Parque das Emas, Goiás, 2000

Viajei com um grupo de biólogos e veterinários para fazer uma pesquisa de campo sobre onças. Fomos com um caçador com balas de anestésico e mais dez cachorros. Acordávamos às 4 da manhã e andávamos O dia inteiro na selva atrás de rastro de onça, às vezes sem nenhum resultado. Eu levava mais de 20 quilos de equipamento nas costas. No quarto dia, os cães farejaram um vestígio e foram mata adentro. Corremos em disparada atrás. O felino estava na copa da árvore, desprevenido, cansado, nervoso e rugindo forte. O som era emocionante! Eu estava com uma Nikon F 90, lente 200 mme filme Fuji Provia 100. O céu azul tava per- feito, deixei a abertura entre 5.6 e 8 e a velocidade em 250. O caçador não achava um ângulo para atirar e subiu num galho. A onça veio para cima. Felizmente, ficou apenas na ameaça do ataque. A movimentação rendeu uma ótima foto de ação. Acabei usando a imagem na capa do meu livro, Natureza, Conservação e Cultura Ensaio sobre a Relação do Homem com a Natureza no Brasil, e saiu também na National Geographic internacional.

Luis Cláudio Marigo, riacho da Melancia, sertão da Bahia, 1990

Fiz uma expedição, com dois Toyota Bandeirante e cinco participantes, para tentar achar a ararinha-azul-de-spix, dada como extinta na natureza na década de 80. Tínhamos recebido uma dica de que ela ainda existia na Chapada das Mangabeiras, no Piauí. Depois de um mês no meio do mato, achamos uma última arara no sertão da Bahia, na região E entre Juazeiro e Petrolina. Quando a descobrimos, montei um esconderijo perto de uma árvore onde ela costumava pousar, uma caraíba, tipo um ipêamarelo. Fiquei escondido cinco dias em um mocó, quente, apertado e desconfortável, para ela se acostumar e pousar perto. Foi uma foto históri- pe x ca , como disse o editor do Handbook of the Birds of the World, livro em que foi publicada. Na Austrália, Joseph Forshaw, autor do livro Parrots of the World fez um pôster. A imagem ficou conhecida como o último registro desse animal, extinto da natureza em 2002. Na época, eu tinha uma Nikon F 3 e usei uma lente de 800 mm.

Fábio Colombini, estação ecológica de Seridó, Rio Grande Norte, 2003

Queria fazer umas fotos da caatinga verde, que só desabrocha no sertão do Nordeste depois da época de chuva, em julho. A estação de Seridó, a 300 quilômetros de Natal, é um dos melhores pontos para ver essa vegetação. Parei o carro na estrada e caminhei até um mirante. A trilha estava cheia de galhos com espinhos caídos no chão e com sol forte. Mas, chegando no topo, a vista não era boa. Resolvi voltar e me perdi. Tinha que cortar os galhos no braço não tinha levado um facão = e fiquei todo arranhado. Vi uma jararaca e a água no ps cantil estava terminando. Parei e rezei. Ainda bem que a cobra foi embora sem me incomodar. Alguns minutos depois, me deparei com um rochedo inclinado e vi um jardim de cactus chique-chique. Embaixo, via a caatinga verde. O lugar não tinha trilha, provavelmente ninguém havia andado por lá e a vista era ótima! Peguei minha Pentax 6x7, com filme Fujicromme Provia 2 220 e uma lente 135 mm, armei o tripé e fiz as fotos, com uma abertura de 22 e uma velocidade de 1/30. Apesar do sol, a luminosidade estava ruim, então esperei uma nuvem passar para quebrar a luz. As imagens saíram no livro Wilderness, da Conservation International.

brada apenas por uma figura de mulher de guarda-chuva negro levemente tremida. Vem de onde? Vai para onde? Uma imagem carregada do mistério do porvir. Seduzido à distância por um cartão-postal enviado a si próprio e que no verso trazia um branco e preto, talvez de Hildegard Rosenthal. O fotógrafo trouxe para o Brasil o seu passado inabitável, a sua luz e a sua sombra para que em suspensão, própria da química, habitássemos nós por instantes, em solene admiração, suas imagens.

que sejam

história da arte Foto: Paulo Asano, diretor de arte, aluno do bacharelado em Fotografia no Senac. texto crítico

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