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Livros de bolso

A edição de livros de bolso de fotografa foi um dos muitos achados verdadeiramente brilhantes de Robert Delpire, que eu, pessoalmente, considero o nome mais importante da edição fotográfca de todos os tempos. Além de ter editado The Americans, de Robert Frank, quando o livro estava sofrendo boicote das editoras americanas, e de ter lançado alguns dos nomes mais importantes da fotografa internacional, Delpire teve papel primordial na afrmação da fotografa entre o grande público leigo. Com as edições especiais da revista Le Nouvel Observateur, ele criou uma coleção de monografas de capa dura e formato quadrado, que foi retomada por algumas editoras estrangeiras, dando início à difusão massiva da fotografa. Pouco depois, Robert Delpire criou uma coleção de livros de bolso na mesma linha, a Photo Poche, com livros de 12,5 × 19 cm. Estava no processo de prepará-la quando foi convidado a dirigir a Fondation Nationale de la Photographie, de modo que cedeu os direitos para a fundação, permitindo, assim, a maior aventura editorial do campo da fotografa. Na ocasião, em 1982, os livros de fotografa ainda eram raros e caros  geralmente obras de grande formato, capa dura e sobrecapa , o que fez com que as obras da coleção Photo Poche fossem os primeiros livros de imagem adquiridos por milhares de estudantes, pesquisadores e fotógrafos. O segundo exemplar da coleção, dedicado a Henri Cartier-Bresson, se tornou de imediato o livro de fotografa mais vendido em todos os tempos, atingindo a casa dos 50 mil exemplares apenas na edição original francesa. No Brasil, as duas coleções monográfcas criadas por Robert Delpire serviram de modelo para que André Boccato e Lily Sverner lançassem, em 1987, a coleção As Melhores Fotos, pela Sver & Boccato Editores, e Milton Guran e Chico Neiva lançassem a coleção Antologia Fotográfca em coedição da Agência Ágil e da Livraria Dazibao. Boccato e Lily se inspiraram

na coleção quadrada da revista Nouvel Observateur, publicando livros de Nair Benedicto, J. R. Duran, Cristiano Mascaro, David Zingg e Sebastião Salgado, ao passo que Guran lançou, em 1989, livros de fotografas de Walter Firmo, Juca Martins, assim como um trabalho de cunho histórico: Fotógrafos pioneiros do Rio de Janeiro, de minha autoria (Vasquez, 1990). Infelizmente, ambas as experiências tiveram vida breve, mas por sorte existe agora no mercado brasileiro uma coleção de livros de bolso bem-sucedida e que tem qualidade bastante superior às precedentes, com impressão impecável, capa dura e formato de 13 × 16,5 cm. Lançada pela Terra Virgem Editora, a coleção Fotógrafos Viajantes é coordenada pelo editor Roberto Linsker e pelo crítico, curador e ensaísta Diógenes Moura, e trabalha basicamente com imagens de arquivo de grandes nomes da fotografa brasileira, já tendo lançado livros de Pedro Martinelli, Cássio Vasconcellos, Maureen Bisilliat, Loren McIntyre e Pierre Verger, entre outros. Mestre Verger foi, inclusive, quem inaugurou a coleção, em 2009, com um livro de título encantador, como tudo o que diz respeito ao grande babalaô: Pierre Verger. Fotografas para não esquecer, uma coletânea de 73 imagens sobretudo das décadas de 1940 e 1950. Todos os livros da coleção Fotógrafos Viajantes são excelentes e merecem atenção, de modo que vou me limitar a citar apenas mais um exemplo que tem certa semelhança com o de Verger por ser obra de um fotógrafo estrangeiro que também se apaixonou irremediavelmente pelo Brasil: Loren McIntyre. Norte-americano, nascido em 1917 e falecido em 2003, ele foi o descobridor da nascente mais distante do rio Amazonas, a laguna McIntyre, no Peru, e esteve no Brasil diversas vezes fotografando para a revista National Geographic, conhecendo o país melhor do que muitos brasileiros. Seu arquivo pessoal poderia dar ensejo a diversos livros dentro da tradicional perspectiva do ensaio fotográfco clássico, mas o que torna Loren McIntyre: na foresta uma tarde (Linsker, 2012b) um livro exemplar no que diz respeito ao uso criativo de acervos fotográfcos foi a opção do editor de fugir ao espetacular e ao pitoresco para construir uma narrativa sobre o melancólico cotidiano dos habitantes da foresta. O livro retrata tristes personagens trânsfugas entre duas culturas igualmente condenadas  a indígena e a “moderna” , entre dois territórios identicamente amaldiçoados (a foresta e o simulacro de civilização representado por casebres de madeira que começavam a substituir desfavoravelmente as aldeias indígenas). Trata-se de uma tarde inesquecível de amores pagos e promessas traídas, de sonhos apenas esboçados que foram registrados por Loren McIntyre e perenizados nas promessas inconclusas das películas diapositivas Kodachrome, Ektachrome e Fujichrome.

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