ON INVISIBLE PAIN
Being a mother is something that tears through the skin, leaving deep scars. It means to inhabit one’s own history, while living outside oneself. Some of the most painful stories in the history of humanity are those of the ‘Black mothers’: enslaved women who became wet nurses tasked with offering society its primal nourishment – enslaved women turned into pure Black milk. When looking at images of wet nurses from visual archives on Brazilian slavery, it becomes clear that what separates us from them is more than a lapse of time: it is a bloody red wound of extreme violence. For every gesture of affection between the wet nurse and her white charge, there is a Black child who would have been torn away from her mother’s breast and placed in a baby hatch or left to die. The more fortunate ones might have had the privilege of their mothers’ embrace until they were old enough to be sold or even rented as a premature pair of potential lactating breasts. Women born from free wombs1 may have been able to envision life with freedom, at least by decree. However, we are all too aware of the consequences of decrees on Brazilian women’s bodies. /// The artistic research and exhibition project Mãe Preta (Black Mother) began in 2015 with an invitation to create a new piece for a group show in a gallery located in Rio de Janeiro’s colonial centre. On the gallery’s door, we found a fragment of a print by travelling painter J. M. Rugendas called Negresses of Rio de Janeiro (1835), which portrays a Black woman carrying her baby using an African wrap-cloth. At this time, the debate around intersectional feminism in Brazil was beginning to dominate the public sphere, and in light of new archaeological evidence found during urban regeneration in preparation for the 2016 Olympics, the city of Rio de Janeiro confronted its own past as the largest slave port in the world. The uncovering of major landmarks related to slavery brought forth a renewed interest in the memories and legacies of our slave past, which had been buried beneath successive layers of urban modernisation. These findings have provided channels to access memories of great value to Black populations, even
DAS DORES INVISÍVEIS isabel löfgren & patricia gouvêa
Ser mãe é algo que rasga a pele e inscreve cicatrizes profundas. É habitar sua própria história e, ao mesmo tempo, viver fora de si mesma. Uma das mais dolorosas histórias da humanidade é a história das mães pretas, as amas de leite que a escravidão criou por necessidade do alimento primordial, tornaram as mulheres escravizadas em puro leite negro. Há, nas imagens de amas de leite encontradas nos arquivos visuais sobre a escravidão no Brasil, um lapso que não é só de tempo; existe nelas uma fenda de sangue vermelho que é da ordem da violência extrema. Para cada afeto consentido entre uma ama e sua pequena filha branca, houve uma bebê negra arrancada do seio materno, depositada na roda dos expostos1 ou entregue ao azar para morrer. Aquelas que foram mais afortunadas puderam, talvez, conhecer o colo da mãe antes de serem lançadas ao mercado como mais um par de seios lactantes em potencial. As mulheres que já nasceram de ventres livres puderam almejar, quiçá, uma vida em liberdade, ao menos por decreto; sabendo que os decretos ainda não têm poder de conferir à mulher brasileira soberania completa em relação a seu corpo. //// O projeto de exposicão e pesquisa Mãe Preta nasceu em 2015, quando fomos convidadas a criar uma obra para uma exposição coletiva em uma galeria no centro colonial do Rio de Janeiro. Na porta da galeria, nos deparamos com um fragmento de imagem do pintor-viajante J. M. Rugendas, datada de 1835, retratando uma mulher negra que carrega seu filho em um pano-da-costa, em contraponto a outra mulher negra, sentada ao lado de um baú e de um livro aberto. Naquele momento, o debate público sobre o feminismo interseccional se intensificava, assim como o enfrentamento do passado da cidade 7