Dedico este livro aos meus quatro irmãos mais velhos, deixando impresso para sempre todo o amor que tenho por eles. I dedicate this book to my four older brothers, leaving printed forever all the love I have for them.
OS MUNDOS DE CECILIA PAULO MARCOS DE MENDONÇA LIMA
Os olhos da menina de oito anos ficavam na altura da bancada em que estavam as bacias com os líquidos mágicos. Com movimentos precisos e repetitivos, seu pai balançava lentamente a bandeja do revelador, fazendo com que esse agente acariciasse o papel, transformando-o em fotografia. Estas imagens entraram, pelos poros e pelos olhos, de Maria Cecilia de São Thiago e nunca mais saíram: o pai, a fotografia – companheira de toda a vida –, as imagens se apresentando à sua frente, o calor reconfortante do quarto escuro com uma luz vermelha acesa, o amor. A partir do elo inquebrantável que a une a Mario, seu pai, sempre jovial em suas lembranças, Cecilia faz, neste livro, um resgate memorial de um tempo que não viveu. Visitando fotos feitas por Mario entre 1928 e 1940, Cecilia imprime um novo tempo a essas imagens que registram a aventura particular e familiar dos seus quatro irmãos mais velhos. Usando as mais modernas ferramentas e os mais atualizados aplicativos de manipulação e de tratamento de fotografias digitais, a artista desloca os significados das imagens originais, trazendo-as para o campo da arte contemporânea, em que muitas vezes se dá a fronteira iconográfica entre o vernacular e o universal. Identificação. São fotos de família. De muitas famílias. De todas as famílias. Partindo das histórias mais particulares e oferecendo-as a todos, a fotógrafa cria uma nova identidade para as imagens maceradas pelo tempo.
Camaleonicamente, Cecilia plasma novas visões do que se passou há quase 100 anos. Seus olhos não viram, mas, mergulhada nos olhos dos seus irmãos e nos registros feitos por seu pai, a artista nos conecta ao mundo encantado dos grilos, dos bichos, das festas juninas, da fantasia, do mar sem fim, do transcendental. Com as imagens desta obra, ficamos próximos a tudo o que a aconchegava nas histórias que Mario lhe sussurrava, na beira da sua cama de menina, para embalar seu sono e seus sonhos.
CECILIA'S WORLDS PAULO MARCOS DE MENDONÇA LIMA
The eight-year-old girl's eyes were just high enough to see the counter where the basins with the magic liquids were. With precise and repetitive movements, her father slowly shook the developer tray, causing the agent to caress the paper, turning it into a photograph. These images entered, through the pores and eyes, of Maria Cecilia de São Thiago and never left: her father, the photograph - a lifelong companion -, the images presenting themselves in front of her, the comforting warmth of the dark room with a red light on, the love. Based on the unbreakable bond that unites her to Mario, her father, always jovial in her memories, Cecilia makes, in this book, a memorial rescue of a time she did not live. Visiting photos taken by him between 1928 and 1940, Cecilia gives these images a new time that records the private and family adventures of her four older brothers. Using the most modern tools and the most up-to-date applications for manipulating and processing digital photographs, the artist shifts the meanings of the original images, bringing them to the field of contemporary art, where the iconographic border often occurs between the vernacular and the universal. Identification. They are family photos. Many families. From all families. Starting from the most private stories and offering them to everyone, the photographer creates a new identity for the images macerated by time.
Chameleonically, Cecilia shapes new visions of what happened almost 100 years ago. Her eyes did not see, but, immersed in the eyes of her brothers and in the records made by her father, the artist connects us to the enchanted world of crickets, animals, June festivals, fantasy, the endless sea, the transcendental. With the images of this work, we are close to everything that huddled her in the stories that Mario whispered to her, on the edge of her little bed, to lull her sleep and dreams.